AUXILIAR DE MÉDICO VETERINÁRIO Módulo IV
Características do Cão e do Gato, Anamnese e Exame Físico
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ÍNDICE DO MÓDULO 4 OBJETIVOS
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1. Características Básicas do Cão
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1.1. Longevidade
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1.2. Alimentação
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1.3. Constantes Vitais
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1.4. A dentição
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2. Características Básicas do Gato
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2.1. Longevidade
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2.2. Alimentação
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2.3. Constantes Vitais
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2.4. A dentição
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3. Anamnese
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3.1. Anamnese geral
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3.2. Anamnese Dietética
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3.3. Saúde Preventiva
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3.4. História Médica Pregressa: Doenças e Cirurgias Anteriores
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3.5. Queixa Primária
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4. Exame Físico
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4.1. Cabeça
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4.2. Olhos
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4.3. Cavidade Oral
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4.4. Nariz
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4.5. Orelhas
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4.6. Pescoço
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4.7. Linfonodos e Massas subcutâneas
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4.8. Pele
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4.9. Toráx
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4.10. Abdómen
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5. Ficha clinica
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AUTO-AVALIAÇÃO
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No final deste módulo o aluno deve ser capaz de : Saber o que são as constantes vitais Obter as diferentes constantes vitais para a espécie felina e canina Escrever a fórmula dentária do cão e do gato Realizar de forma correta uma história clinica Executar o exame físico completo
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1. Características Básicas do Cão 1.1. Longevidade Um cão vive em média 12 a 13 anos apesar alguns exemplares atingirem excecionalmente os 20 anos de idade. A plenitude psíquica e física são alcançadas entre os 3 e os 5 anos. Neste período o seu corpo está completamente desenvolvido, o seu vigor atinge o pico máximo. A partir dos 7-8 anos começa o seu lento declínio, iniciando-se a fase geriátrica, com esta idade, o cão procura a tranquilidade, gosta de dormir mais e no Inverno procura os lugares mais abrigados. Começam a engordar, perder pelo, perder faculdades visuais e auditivas e surgem doenças associadas à idade. A boa saúde do cão durante a sua velhice depende fundamentalmente de como foi alimentado e tratado durante a sua juventude. A seguir mostramos uma tabela que compara a idade dos cães à dos humanos, para que seja possível compreender qual a faixa etária em que esta espécie se encontra.
Cães
Humanos
Mini
Médio
Grande
Gigante
6 meses 12 meses 18 meses 2 anos 4 anos 6 anos 8 anos 10 anos 12 anos 14 anos 16 anos 18 anos 20 anos
17anos 22 anos 25 anos 27 anos 29 anos 36 anos 46 anos 55 anos 62 anos 68 anos 76 anos 87 anos 99 anos
8 anos 12 anos 20 anos 23 anos 39 anos 51 anos 63 anos 75 anos 85 anos 95 anos
6 anos 8 anos 12 anos 16 anos 22 anos 40 anos 55 anos 75 anos 94 anos
8 anos 12 anos 16 anos 22 anos 40 anos 55 anos 75 anos 94 anos
Tab. 1: Esquema sobre a idade dos cães/humanos
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Se o animal sofrer de uma doença dolorosa e incurável é conveniente recorrer à eutanásia. Caso o cão morra em casa pode solicitar a recolha do cadáver e sua posterior inceneração ao Serviço de Higiene e Limpeza da Câmara Municipal. É aconselhável sempre que possível a incineração o corpo, tanto para promover uma boa saúde pública, como para preservar o ambiente. No entanto se tal não for possível, o corpo deverá ser enterrado cavando uma fossa de aproximadamente 1 metro de profundidade. Conselhos para manter o seu cão geriátrico em forma Acompanhamento veterinário A partir dos 7 anos, o animal deve realizar check-ups anuais (estes deve incluir os seguintes exames: electrocardiograma, hemograma, bioquimicas renal e hepática). Também será importante promover uma boa higiene oral, removendo o tártaro através da destartarização por ultrassons sempre que necessário. Alimentação regulada e sempre à mesma hora A alimentação a oferecer ao seu animal deve ser adequada para animais geriátricos (sénior), para que esta tenha na sua constituição todos os nutrientes adequados à idade. Normalmente estas rações são suplementadas com protetores articulares e são mais ricas em fibra de forma a prevenir problemas articulares (artroses) e de obesidade, relacionados à perda de mobilidade. Passeios diários e descansos prolongados Para combater a inercia e os problemas comportamentais relacionados com a idade deve manter a rotina diária do seu cão, obrigando-o a movimentar-se, mas de forma a que não se esforce, especialmente se apresentar problemas cardíacos. É importante fornecer ao seu animal uma cama bem acolchoada e quente, já que o animal passará grande parte do seu dia no seu local de descanso. 56 1.2. Alimentação A boa saúde do cão está diretamente relacionada com uma boa alimentação. Alimentar bem o cão é fornecer-lhe os nutrientes necessários e de forma equilibrada, os quais se encontram numa boa ração sem ser necessário recorrer a outras fontes ou complementos. No ser humano a alimentação será tanto mais rica e completa quanto mais variada ela for. No regime alimentar do cão a situação é completamente diferente, porque o seu organismo não aceita facilmente essas variações.
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Adotada uma ração, esta deve manter-se sempre. Se por qualquer motivo houver necessidade de mudar de ração, não se deve passar de uma para a outra bruscamente, mas ir misturando gradualmente uma na outra. Com este cuidado evita-se que o cão venha a sofrer de distúrbios digestivos.
Fig.1: Prato com ração
Se o cão não for habituado desde tenra idade à ração, ou seja logo quando deixa de alimentar-se do leito materno e inicia a sua alimentação com produtos sólidos, dificilmente mais tarde aceitará comer apenas ração. O cão prefere sempre o alimento húmido. Regime alimentar O cão adulto deve fazer duas refeições por dia no mínimo, sendo a da noite a mais substancial. Um princípio a ter em conta é o de não forçar o cão a comer. Tal como as pessoas eles também têm dias em que não têm apetite e isso não significa que tenham adoecido. Se passarem um ou mesmo dois dias sem comer, não lhes faz mal nenhum e esse jejum até pode ser benéfico. Se a falta de apetite persistir, claro que é conveniente consultar o veterinário. Outro cuidado a ter tem a ver com o excesso alimentar, especialmente se o cão tiver uma vida muito sedentária. Muita comida e pouco exercício é meio caminho andado para se tornar obeso, com as consequências prejudiciais daí resultantes. Óleo na ração Uma forma de o cão tolerar melhor a ração seca é temperá-la com um pouco de óleo ou de azeite. Os óleos mais aconselhados são o de milho, o de soja e o de peixe devido à presença de ómega3, que vão promover uma pelagem mais saudável.
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Guloseimas As guloseimas são produtos naturais ou fabricados que servem para o presentear. Seja num regime de aprendizagem como recompensa, ou muito simplesmente por gentileza do dono que quer ver o seu cão satisfeito. Ossos Os ossos artificiais (enrolados de pele de vaca) são os mais adequados para os cachorros pela necessidade que têm de roer, devido à erupção da dentição. No entanto os animais adultos também os apreciam tendo a vantagem de os entreter, aliviando-lhes o stresse e dando-lhes um enorme prazer. Não é aconselhável dar ossos longos de aves, como por exemplo de peru, porque ao partir estilhaçam em forma de farpas que podem perfurar o tubo digestivo.
Fig.2: Osso couro
Alimentação Caseira Apresentamos de seguida uma tabela que indica as proporções e tipo de alimentos que pode utilizar de forma a executar em casa um alimento adequado para esta espécie. Alimentos (g) Carne (g) Arroz (g) Legumes Verdes (g) Óleo (g) Cálcio (g) Sal (g)
5Kg 110 56 60 2 2 1
Peso do Cão (kg) 15Kg 250 125 120 6 5 3
30Kg 400 200 200 10 8 6
50Kg 530 270 270 13 11 10
Tab. 2: Fórmula para poder realizar a alimentação do seu cão
Alimentos proibidos: chocolate, todos os produtos que contenham açúcar (bolachas), enchidos, salgados, conservas, batata, pão, leguminosas (feijão, grão, ervilhas).
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Alimentos aconselhados: carne cozida, peixe cozido, ossos cozidos, arroz, massa, cenoura, fruta. O requeijão ou queijo fresco podem ser dados moderadamente. 1.3. Constantes Vitais Para realizar um bom exame físico é necessário conhecer as constantes vitais da espécie animal a tratar, falamos de parâmetros que nos indicam qual o estado de saúde do animal. Ao obtê-las podemos realizar uma monotorização da sua condição clinica. Frequência respiratória Pode oscilar entre as 10 e as 40 respirações por minuto (rpm) segundo o tamanho, idade e raça do cão, o mais frequente é uma variação na frequência respiratória de 15 a 20 rpm. É determinada através da observação direta dos movimentos respiratórios (alargamento e estreitamento do tórax), colocando-se o examinador por detrás do animal. As inspirações correspondem ao alargamento do tórax e as expirações correspondem ao estreitamento. Frequência cardíaca A frequência cardíaca ou ritmo cardíaco corresponde ao número de batimentos cardíacos por minuto (bpm). no lado esquerdo Obtém-se através de auscultação com o estetoscópio ou então simplesmente colocando a mão sobre o coração (tórax do lado esquerdo). A frequência cardíaca normal de um cão oscila entre 60 e 120 batimentos por minuto (bpm). Quanto menor é o tamanho do cão, maior número de pulsações apresenta. Nos cães Toy (Yorkshire, Pincher) a frequência cardíaca é aproximadamente de180 bpm. Nos cachorros, independentemente do tamanho que tenham, consideramsenormais até 220 bpm. Pulsação arterial A pulsação ou pulso arterial é detetado através da expansão e relaxamento das artérias, é síncrono com o batimento cardíaco. Pode-se obter por palpação na artéria femural, localizada na extremidade posterior do cão. Colocam-se os dedos polegar e indicador perto das virilhas, desta forma podemos sentir o pulso. Uma forma mais assertiva de o fazer é através de um esfingomanómetro, cujo cuff deve ser colocado num dos membros anteriores do animal.
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A temperatura Normalmente oscila entre 38-39ºC. Mede-se com um termómetro que deve ser introduzido aproximadamente 2 cm e mexer com suavidade até um dos lados para que toque as paredes do reto durante 3 minutos.
Fig. 3: Verificação da temperatura rectal com um termómetro.
Antes de introduzir o termómetro, este deve ser lubrificado com vaselina, ou deve-se aplicar uma pomada gordurosa de forma a não causar dor. Ao entardecer a temperatura pode aumentar até um grau sem que signifique existir alguma doença. 59 1.4. A dentição A fórmula dentária de um cão adulto é composta por 42 peças dentais representadas pela seguinte fórmula: 2(I 3/3 C 1/1 P4/4 M 2/3) =42 I= Incisivos C= Caninos P= Pré-molares M= Molares O numerador refere-se ao maxilar superior, o denominador à mandibula inferior. O número “2 “ está a multiplicar com o que está dentro do parêntesis, porque considera-se só os dentes de um lado (direito ou esquerdo).
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Arcada dentária do cão vista de frente
Arcada dentária do cão vista lateralmente Fig. 4: Dentição do cão
Os dentes carniceiros do maxilar superior são os últimos pré-molares (PM4), enquanto que os da mandibula inferior são os primeiros molares (M1). A partir do momento em que a dentição definitiva se completa, pode-se reconhecer a idade com alguma certeza até aos 7-8 anos de idade, estudando o grau de rasamento ou desgaste dos incisivos. O dente jovem, recém-nascido, tem forma de flor-de-lis. Com a idade, e com o desgaste natural do dente, a flor-de-lis desaparece dos incisivos de forma progressiva e por determinada ordem, o que permite calcular aproximadamente a idade do cão adulto, através da observação da sua dentição. O quadro seguinte representa a idade do animal em que surge a dentição. Erupção da dentição canina: 1º 4 a 5 semanas incisivos
2º 4 a 5 semanas 3º 5 a 6 semanas
Dentes decíduos
caninos
3 a 4 semanas 2º 4 a 6 semanas
prémolares
3º 4 a 6 semanas 4º 6 a 8 semanas 2º 4 a 5 meses
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1º 4 a 5 meses incisivos
2º 4 a 5 meses 3º 4 a 5 meses
caninos Dentes permanentes
5 a 6 meses 1º 4 a 5 meses
prémolares
2º 5 a 6 meses 3º 5 a 6 meses 4º 5 a 6 meses 1º 4 a 5 meses
molares
2º 5 a 6 meses 3º 6 a 7 meses
Tab. 3: Erupção da dentição canina consoante a idade
Para além de ser possível determinar a idade do animal através da observação da erupção dentária também conseguimos determinar, ainda que com menor precisão, a idade de um animal adulto apos a erupção de todos os dentes definitivos. Estes dentes vão sofrendo um desgaste progressivo, adquirindo portanto determinadas características consoante a idade do animal. Guia de reconhecimento da idade através da observação da dentição: 1º Ano: Todos os incisivos apresentam flor-de-lis 2º Ano: A flor-de-lis desaparece dos incisivos centrais, da mandíbula inferior. 3º Ano: A flor-de-lis desaparece dos incisivos médios inferiores. 4º Ano: Os incisivos centrais superiores ficam gastos 5º Ano: Os incisivos médios superiores ficam gastos e desaparece a flor-de-lis. 6º Ano: Os incisivos laterais superiores ficam gastos 7º Ano: Todos os incisivos e caninos ficam totalmente rasos.
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2. Características básicas do Gato 2.1. Longevidade A longevidade de um gato depende muito do tipo de raça e do estilo de vida, geralmente vivem entre 11 e 20 anos. Os gatos castrados e os que não costumam sair à rua, têm tendência para viver mais tempo porque têm menos desgaste físico do que os gatos que saem à rua. A seguir mostramos uma tabela que compara a idade dos gatos à dos humanos, para que seja possível compreender qual a faixa etária em que esta espécie se encontra. Gatos Humanos 2-3 meses 2-4 anos 4 meses 6-8 anos Filhote 6 meses 10 anos 7 meses 15 anos 1,5 anos 21 anos Júnior 2 anos 24 anos 3 anos 28 anos 4 anos 32 anos 5 anos 36 anos Jovem 6 anos 40 anos 7 anos 44 anos 8 anos 48 anos Adulto 9 anos 52 anos 10 anos 56 anos 11 anos 60 anos 12 anos 64 anos 13 anos 68 anos Sénior 14 anos 72 anos 15 anos 76 anos 16 anos 80 anos 17 anos 84 anos 18 anos 88 anos 19 anos 92 anos 20 anos 96 anos Idoso 21 anos 100 anos 22 anos 104 anos 23 anos 108 anos 24 anos 112 anos 25 anos 116 anos Tab. 4: idade dos gatos/humanos
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2.2. Alimentação O gato é mais sensível que o cão à qualidade da sua comida (cheiro, gosto, textura) ou seja têm um paladar mais apurado. Um gato pode estar em jejum bastante tempo se uma comida não for do seu agrado. O ideal será sempre alimentar esta espécie com uma fórmula preconcebida, quer seja ela seca (ração) quer seja húmida (lata). Atualmente sabemos que ao contrário do cão, o gato não deve ser alimentado em exclusivo com ração pois caso isso aconteça existe mais tendência para o desenvolvimento de doenças do trato urinário. Um gato alimentado “ad libitum” (sem restrição de quantidade e tempo) faz entre 10 e 20 refeições diárias, repartidas indiferentemente entre o dia e a noite. Ao contrário do cão, o gato não tem preferência pelo sabor doce.
Fig. 4: Gato a ingerir comida
Alimentação caseira Apresentamos de seguida uma tabela que indica as proporções e tipo de alimentos que pode utilizar de forma a executar em casa um alimento adequado para esta espécie.
Alimentos (g) Carne (g) Arroz (seco g) Legumes verdes (g) Óleo +levedura+suplemento vitamínico (g)
Peso do Gato (kg) 2.5Kg 50 20 20 10
4Kg 7.5 30 30
4.5Kg 8.5 35 35
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Tab. 5: Fórmula para poder realizar a alimentação do seu gato
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2.3. Constantes Vitais Frequência respiratória A frequência respiratória do gato oscila entre 20 e 60 respirações por minuto (rpm). É sempre maior nos gatos jovens do que em animais adultos. Podemos contá-la colocando os dedos à frente do nariz ou colocando – nos por detrás do animal, para não o assustar. Tal como no cão, conta-se somente o número de inspirações ou de expirações. Frequência cardíaca e pulso arterial Oscila entre 110 e 240 bpm. É sempre maior nos gatos jovens do que nos gatos adultos. Verifica-se, colocando o estetoscópio por detrás do terceiro espaço intercostal, no lado esquerdo do animal.
Fig.5: Medindo a frequência cardíaca.
O po66 O pulso arterial obtêm-se da mesma forma do que na espécie canina. A temperatura Oscila entre 38º e 39ºC. Observa-se colocando um termómetro no ânus do animal (tal como se faz com os cães). Introduz-se só a ponta metálica depois de ser lubrificada com vaselina e espera-se 3 minutos para proceder à leitura. 67478
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2.4. A dentição A erupção da dentição decídua ocorre aos 15 dias de vida do animal e está completa aos 45 dias de vida. A dentição definitiva surge dos 3 meses e meio aos 4 meses e fica completa dos 5 aos 6 meses de idade. A fórmula dentária de um felino adulto (dentição definitiva) é composta por 30 peças dentais representadas pela seguinte equação 2 (I 3/3 C1/1 P3/2 M1/1) = 30 I = Incisivos C = Caninos P = Pré-molares M = Molares O numerador refere-se ao maxilar superior e o denominador à mandibula inferior.79 O 2 está a multiplicar, porque dentro do parêntesis só se consideram os dentes de um lado (direito ou esquerdo).
Fig. 6: Dentição do gato
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3. Anamnese Os veterinários deparam-se com muitos desafios quando tentam chegar ao diagnóstico de uma doença no animal alvo de consulta. Torna-se imprescindível para os veterinários a capacidade de fazer a anamnese e exames físicos complementares. Esta informação, quando precisamente interpretada estabelece o fundamento para um diagnóstico e um plano terapêutico adequados. No entanto, se a anamnese ou o exame físico forem realizados ao acaso, o clínico pode desviar-se do problema pertinente e do diagnóstico apropriado do paciente. Na clínica moderna, o veterinário pode realizar uma série de testes de diagnóstico, que poderão fazer com que o dono do animal gaste muito dinheiro, podendo não se chegar ainda assim a um diagnóstico definitivo caso resolva “tomar atalhos” na recolha de dados iniciais. A capacidade de recolher informações (fazer um bom exame físico) constitui uma arte e deve ser realizada sistemática e completamente. 3.1. Anamnese geral Os dados objetivos consistem na identificação, ambiente, dieta e história clínica. Caso se trate da primeira visita de um paciente, deve-se incluir o local de origem e há quanto tempo se tem o animal. Os dados subjetivos incluem descrição da queixa inicial primária e revisão da saúde geral do paciente. O cliente frequentemente pode não perceber o quanto uma observação aparentemente não importante pode se relacionar ao problema primário. Identificação A identificação consiste na idade, espécie, raça e género do paciente. Deve observar-se se o paciente está intato ou castrado. Deverá também verificar-se se os dados anteriormente registados estão corretos e atualizados. Como por exemplo, o paciente pode ter sido castrado desde a sua última consulta veterinária e o respetivo exame físico pode indicar que a idade registada é questionável. Ambiente Será necessário reunir as informações ambientais como parte da rotina do paciente. Em muitas circunstâncias, o conhecimento onde o animal de estimação é mantido poderá tornar-se uma pista vital no diagnóstico.
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No caso de um paciente dispneico avalie a possibilidade do animal ter sofrido um traumatismo, o que será improvável de ocorrer num animal de estimação que viva dentro de casa e que esteja sempre acompanhado, neste tipo de ambiente a hérnia diafragmática posiciona-se em primeiro lugar na lista de diagnóstico.
Deve determinar-se a origem geográfica do animal de estimação e qualquer registo de viagens recentes. Esta informação é de extrema importância, uma vez que o paciente pode ter estado exposto a doenças endémicas de determinadas regiões mas não prevalentes no ambiente atual (como por exemplo as micoses sistémicas e as doenças rickettsiais).
Deve determinar-se qual a fonte de água que o animal ingeriu dado que o paciente pode ter ingerido toxinas ou corpos estranhos. A fonte de água pode ser importante se o animal de estimação tiver acesso à água da sanita tratada com desinfetantes. Esta informação não é pouco relevante se a queixa apresentada não sugerir intoxicação ou ingestão de corpo estranho.
3.2. Anamnese Dietética Inclua sempre as informações dietéticas nos dados rotineiros básicos. Questione o proprietário acerca do apetite do paciente e das alterações relativas ao ganho ou perda de peso. Bem como se o proprietário do animal observa a forma como o animal se alimenta. Os seguintes fatores são relevantes na anamnese dietética:
Tipo de dieta, como por exemplo, se o animal se alimenta de ração seca, ração húmida, ração semi-húmida ou restos de comida; Marca da ração; Tipo de petiscos; Método de alimentação, ou seja, livre escolha ou refeições individuais; Quantidade.
3.3. Saúde Preventiva Avalie os cuidados de saúde preventiva do paciente. Reveja o registo médico do paciente antes de realizar a anamnese. Registe as vacinações anteriores e as datas de cada uma delas. Evite perguntar simplesmente se o paciente está em dia com as vacinações, dado que muitos clientes desconhecem o plano vacinal a que o animal foi sujeito. Informe o cliente acerca de quais as vacinas que se encontram disponíveis bem como das respetivas indicações e dos intervalos de reforço de cada uma delas.
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No caso do paciente felino, discuta o assunto “vírus da leucemia felina “(FeLV) incluindo datas e resultados de testes anteriores, bem como a probabilidade do animal ter contactado com animais portadores do vírus. No caso do paciente canino, registe as datas e os resultados de teste da larva do coração (Dirofilariose). Se existir alguma probabilidade do animal estar infetado não se deve administrar a medicação preventiva, sem que o animal faça o despiste da doença. 3.4. História Médica Pregressa: Doenças e Cirurgias Anteriores Frequentemente, os problemas de saúde anteriores ou contínuos do paciente exercem um papel importante na doença apresentada: portanto, reveja as informações anteriormente registadas no boletim de saúde do animal e discuta os problemas anteriores tratados por outro veterinário. Caso considere necessário o veterinário deve pedir o historial clinico do animal ao centro veterinário onde o animal era seguido até à data. Registe as datas das doenças ou cirurgias anteriores, seguidas de breve descrição do problema, como ele foi tratado e que nível de resposta foi observado. Identifique a relevância desses problemas antes de obter um relato detalhado de cada um dos eventos, caso contrário, a anamnese pode tornar-se desnecessária longa e confusa. 3.5. Queixa Primária Utilize a anamnese para identificar e localizar o problema primário. Grande parte da informação transmitida pelo proprietário é subjetiva, baseada predominantemente na interpretação do cliente dos sintomas clínicos e comportamento dos seus animais de estimação. Deve-se estar ciente de que alguns clientes são extremamente observadores dos seus animais de estimação e que outros não são. O clínico perspicaz deverá colher todos os dados e analisar objetivamente as informações transmitidas pelo cliente, utilizando a seguinte metodologia:
Estimule o cliente a descrever o problema do paciente desde o seu início, de forma que se obtenha um quadro cronológico. Evite conduzir as questões de forma a evitar uma anamnese enganosa, Por exemplo, pergunte se existe qualquer alteração na frequência da defecação. Em vez de perguntar se o paciente está defecando com maior frequência do que aquilo que é habitual.
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Determine o último período de normalidade. Essa informação tem influência sobre o grau de rapidez e agressividade com que se aborda o problema.
Determine o início (agudo versus crónico) do problema. Por exemplo, a invaginação intestinal constitui um diagnóstico diferencial provável para um cachorro que apresente um episódio agudo de vómito frequente. Por outro lado um corpo estranho é mais provável ocorrer num paciente com sintomatologia semelhante mas com vómito intermitente crónico.
Determine tratamentos e resposta a esses tratamentos. Por exemplo, um cão que apresente um prurido que não responda a um tratamento anterior com corticosteroides é um candidato com mais probabilidade a ter uma dermatite alérgica alimentar do que um cão que melhore apos a toma deste tipo de medicação.
Determine a duração e a progressão dos sinais clínicos. Um animal com história clinica de ataques convulsivos deve ser tratado mais agressivamente quando estes aumentam em frequência e duração do que quando têm sido estáveis por meses ou anos.
Determine os sinais ocorrentes que também podem proporcionar uma pista para o diagnóstico diferencial mais provável. Por exemplo, um gato com diarreia crónica e episódios intermitentes de febre é considerado um candidato mais provável a uma doença infeciosa do que a uma doença dietética.
Defina e localize o problema, caso seja possível. Como por exemplo no caso de diarreia, é possível caraterizar-se a mesma como tendo início no intestino delgado ou grosso antes de se proceder a um plano diagnóstico ou terapêutico, pela aparência das fezes (cor e consistência) e presença ou ausência de esforço.
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4. Exame Físico O exame físico deve seguir o mesmo padrão lógico que a anamnese. Faz-se uma abordagem consistente, para que não se deixe de lado nenhuma parte do exame. Analise um sistema corporal de cada vez, começando pela cabeça do paciente e prosseguindo até à cauda. Muitas partes do exame podem envolver a verificação do que o cliente relatou, dai que alguns dos dados recolhidos possam parecer repetitivos. 4.1. Cabeça Examine a cabeça cuidadosamente quanto a qualquer evidência de assimetria ou inchaços localizados. Pode ser necessária a palpação dessas áreas para que se descubram inchaços ou massas sutis (aparentemente desprezáveis). A palpação serve também para avaliar a natureza de qualquer inchaço ou massa (firme/aderente ou móvel/flutuante). Avalie a postura da cabeça e do pescoço. Pode-se observar uma ventroflexão da zona cervical nos gatos com hipocalémia, intoxicação por organofosforados, deficiência de tiamina e poliopatias. Um cão com hérnia discal na zona cervical, demonstra relutância e dor ao levantar a cabeça. Desta forma o exame físico pode ser valorizado ao manipularse suavemente a cabeça dorsal e ventralmente e para cada lado, de forma a procurar evidências de dor ou resistência. 4.2. Olhos Determine inicialmente se estão presentes anomalidades uni ou bilateralmente. Caso apenas um olho esteja afetado, examine o olho normal primeiro.
Fig. 7: Observação ocular
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Observe o tamanho e a simetria dos olhos. Na microftalmia congénita um dos olhos é de menor tamanho do que o normal. Enquanto no glaucoma crónico o olho afetado adquire uma dimensão maior do que o normal. Examine a posição dos olhos quanto a evidências de enoftalmia, exoftalmia ou estrabismo. A enoftalmia pode ser secundária a microftalmia, perda da gordura orbital (como por exemplo em animais caquexia), síndrome de Horner, desidratação ou dor ocular aguda (provocada por uveíte anterior). A exoftalmia pode dever-se a lesões que ocupam espaços da órbita (neoplasia, abcesso e celulite), glaucoma, miosite ou predisposição racial. Procure evidências de descarga ocular e caracterize qualquer descarga como serosa, mucoide ou mucopurulenta. Observe qualquer inchaço ou massa que envolva as pálpebras bem como distriquíase, entrópio ou ectrópio. Avalie a conjuntiva quanto a hiperémia, quemose, palidez ou icterícia da esclera subjacente. A conjuntiva superior é mais fiável para a avaliação da hiperémia do que a conjuntiva inferior, que pode normalmente aparecer avermelhada. Observe qualquer pigmentação anormal ou massas que envolvam a esclera ou a conjuntiva.
Fig. 8: Anatomia do olho
A protusão da terceira pálpebra pode ser um reflexo de enoftalmia. Observe quaisquer massas associadas à membrana nictitante ou prolapso da glândula da membrana nictitante. Aplique uma pressão suave no globo superior para auxiliar na exposição da membrana nictitante.
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Aplique anestesia tópica e segure a terceira pálpebra suavemente com uma pinça, de forma que se possa examinar a superfície posterior da terceira pálpebra quanto à presença de corpos estranhos ou hiperplasia folicular. Examine a córnea quanto a embaçamento, pigmentação, vascularização ou defeitos óbvios. Avalie a camara anterior quanto à presença de inflamação aquosa, hipópio, hifema ou massas anormais. Caso não se encontre disponível uma lâmpada de fenda, utilize lente de aumento de luz pontual para produzir um feixe de luz estreito de forma que se possa detetar inflamação aquosa sutil quando se observa a camara anterior a partir da face lateral. Avalie o tamanho e a simetria da pupila e os reflexos luminosos pupilares consensual e direto. Uma sala escura ajuda na realização deste exame. Também se podem identificar membranas pupilares persistentes. Avalie a íris quanto a alterações pigmentares, inchaço ou sinequia. Pode-se observar qualquer uma dessas alterações no caso de uveíte anterior. Para um exame fúndico completo, dilate a pupila com um midriático de curta duração (atropina). Tornando-se desta forma possível avaliar o fundo quanto à vascularidade, áreas de hemorragia, alterações pigmentares, displasia ou hipoplasia coriorretinianinas ou deslocamento retiniano. Avalie a visão deixando cair uma bola de algodão na frente do paciente ou rolando essa bola na mesa ou no chão. Avalie a resposta de ameaça. Lembre-se que os cachorros e os gatos jovens normalmente não respondem a esses estímulos. Tente ser metódico ao realizar todos estes exames, pois a prática e a experiência são as chaves para exames oculares. 4.3. Cavidade Oral Realizamos um exame oral completo se o comportamento do animal permitir. No entanto caso não se consiga realizá-lo, devido à agressividade do paciente, sugere-se a sedação.
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Observe cuidadosamente as membranas das mucosas quanto à cor, humidade e tempo de repleção capilar para avaliar o estado de hidratação. A presença de hiperemia, congestão, cianose, icterícia, palidez ou petéquias pode proporcionar pistas vitais acerca do problema do paciente. Observe massas, ulcerações ou alterações pigmentares gengivais. Examine os dentes quanto à presença de cálculos ou de exsudato na margem da gengiva. A aplicação de pressão digital na gengiva pode auxiliar na revelação de exsudato quando se suspeita de abscesso na raiz dentária.
Fig. 9: Exame cavidade oral
Examine a língua quanto a evidências de traumatismo ou massas quando se observa hemorragia oral inexplicada. No caso de um paciente felino que se apresente com queixa de vómito persistente, examine a área sublingual quanto a evidências de corpos estranhos lineares, utilizando um dos dois métodos seguintes:
Abra a boca do paciente e, com o dedo médio da mão que deprime a mandíbula, aplique uma pressão entre os ramos mandibulares a partir da face ventral. Desta maneira, eleva-se a língua de forma que se possa observar a superfície sublingual.
Ocasionalmente, pode não se perceber de um fio no primeiro método. O tecido sublingual pode cobrir o fio fino esticado de forma que não seja visualizado.
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O segundo método consiste em segurar a língua, com uma esponja 10 x 10 cm, por exemplo, puxa-se a língua para fora e para cima, de forma que se possa observar melhor.
Fig. 10: Exame sub lingual
Examina-se o palato duro no recém-nascido quanto a fissuras. Avalie o palato mole quanto a alongamento ou massas. Examine a região faríngea quanto à simetria, massas ou corpos estranhos e quanto à evidência de inflamação ou traumatismo. Examine as amígdalas quanto ao aumento de volume. Deprima a face caudal da língua para observar a faringe caudal. 4.4. Nariz Examine o nariz quanto à simetria ou inchaço. Caso se encontre presente massa ou inchaço, apalpa-se cuidadosamente o nariz para determinar se é firme ou flutuante. Observe quaisquer evidências de corrimento nasal. Examine as narinas proximamente para determinar se o corrimento é uni ou bilateral e caracterize-o como seroso, mucoide, mucopurulento ou hemorrágico. Pode ser benéfico passar suavemente um cotonete nas narinas externas para detetar corrimento. Caso encontre inchaço ou corrimentos nasais, avalie a desobstrução de cada uma das narinas através da limpeza da mesa de exame com um cotonete com álcool e posicionando o nariz do paciente próximo à mesa para observar a condensação da respiração do paciente na superfície. Alternativamente, coloque um tufo de
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algodão na frente de cada uma das narinas para observar os movimentos do fluxo aéreo. 4.5. Orelhas Inspecione tanto as superfícies externas como as internas, perda de pêlos, eritema ou inchaço. Examine os canais auditivos externos quanto ao eritema, corrimento e odor anteriores ao exame por otoscópio. Palpe as cartilagens do canal auditivo quanto a massas, dor ou outras anormalidades. Um exame com otoscópio torna-se valioso para avaliar um problema relacionado com o ouvido. A técnica otoscópica requer prática para se obter sucesso. Pode ser necessária a sedação do animal de estimação. Levante o pavilhão auricular e coloque suavemente o cone do otoscópio no canal vertical a partir de uma abordagem dorsal e direcione-o ventralmente. À medida que se orienta o otoscópio mais profundamente no interior do canal vertical, puxe o pavilhão auricular e o otoscópio horizontalmente para visualizar o canal auditivo e a membrana timpânica. Examine ambos os canais quanto a massas, corpos estranhos, corrimentos e parasitas (sarnas de ouvido e carraças). Avalie a membrana timpânica quanto a rutura ou evidências de otite média (eritema ou protrusão). 4.6. Pescoço Palpe a área paratraqueal da laringe à entrada torácica. Nos gatos de meia-idade a idosos, essa palpação é muito importante devido à incidência elevada de hipertiroidismo. Coloque os dedos ao longo da traqueia e deslize-os para baixo na extensão da traqueia para detetar um nódulo tiroideo. A tiroide normal não é palpável. Nos cães, a palpação pode detetar um carcinoma tireóideo. Palpe a traqueia quanto a colapso, cartilagem mole ou achatamento. Tente provocar tosse envolvendo suavemente a traqueia com uma das mãos e aplicação de pressão dorsal no músculo traqueal.
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Caso se produza tosse por meio deste método, esta sugere colapso traqueal ou traqueobronquite. Realize essa parte do exame após auscultar o tórax. Avalie as veias jugulares quanto à distensão ou pulso jugular que se estende em mais de um terço até ao pescoço. Pode ser necessário humedecer esta área com álcool ou depila-la para detetar essas anormalidades. 4.7. Linfonodos e Massas subcutâneas Palpe todos os linfonodos externos, se possível. Uma linfadenopia generalizada geralmente indica doença sistémica (infeções fúngicas sistémicas, doenças imunomediadas, neoplasias), enquanto o aumento de volume linfonodal local geralmente indica infeção regional (abcesso). Os linfonodos mandibulares localizam-se no ângulo da mandíbula. São ligeiramente craniais e ventrais em relação às glândulas parótida e submaxilar. Os linfonodos são geralmente lisos e ovoides em contraste com a textura irregular das glândulas salivares. Pode ser necessária prática para distinguir esses linfonodos das glândulas salivares. Os linfonodos cervicais ou pré-escapulares superficiais podem ser geralmente palpados bem em frente da borda craniana da escápula. Pode-se segurar esses linfonodos por meio de palpação por baixo da borda escapular. Eles podem ser difíceis de palpar no paciente obeso ou musculoso. Os linfonodos axilares nem sempre são palpados devido à sua forma semelhante a um disco e à musculatura circundante. Os linfonodos inguinais superficiais localizam-se na junção da parede abdominal e da coxa medial e podem ser difíceis de palpar no paciente obeso. Os linfonodos poplíteos são geralmente palpados caudalmente à articulação da coxa. A gordura subcutânea circundante pode fazer esses linfonodos parecerem maiores do que o tamanho real, especialmente no caso dos gatos.
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Palpe o tronco e as extremidades quanto a massas ou inchaços anormais. Se verificar a existência de uma massa, observe a sua localização, tamanho e consistência. Determine quais os tecidos que se encontram envolvidos (tecido dérmico-epidérmico, tecido subcutâneo, tecido subjacente). Observe se a massa é livremente móvel ou se está presa ao músculo, à fáscia ou aos ossos subjacentes.
Fig. 11: Palpação paratraqueal da tiroide.
4.8. Pele Inspecione a aparência geral da pelagem quanto ao brilho, ao volume e ás áreas de perda de pelos. Observe quanto ao padrão alopécico simétrico como o observado no caso de endocrinopatia. Inspecione as áreas de alopécia quanto a restos de pelos quebradiços como os observados em casos de afeções pruriginosas ou psicogénicas. Observe a presença de eritema. Quando abordar um animal de estimação com problemas dermatológicos, não negligencie áreas interdigitais e das almofadinhas plantares . Examine as junções mucocutâneas (lábios, ânus, vulva, prepúcio e assim por diante) quanto à evidência de doenças imunomediadas. Indique todas as lesões cutâneas e classifique-as como primárias ou secundárias. As lesões primárias incluem pápulas, máculas e vesículas. As lesões secundárias comuns incluem escamas, crostas, úlceras, escoriações, liquenificões, hiperpigmentações e as hiperqueratoses. Observe quaisquer evidências de parasitas externos. Maioria das vezes no Cão, não se observem pulgas. Investigue o paciente quanto a fazes de pulga, especialmente na região da base da cauda- Um pente de pulgas é frequentemente útil na descoberta de pequenas quantidades de fezes de pulga.
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4.9. Tórax Conforme anteriormente descrito, avalie a frequência, ritmo e esforço respiratórios. Palpe o tórax quanto a evidências de costelas fraturadas, malformações congénitas (peito escavado), enfisema subcutâneo e massas. Palpe as áreas entre o quarto e o sexto espaços intercostais em cada lado do tórax quanto ao ponto de intensidade máxima (PIM) do batimento cardíaco e quanto aos frémitos cardíacos. Realize a auscultação numa sala sem ruído. Tenha o cuidado de avaliar o coração independentemente dos pulmões. Deve-se reconhecer e descartar os ruídos artificiais. Esses ruídos incluem roncos provocados pelo estetoscópio ao esfregar no pêlo. Feche a boca do paciente por curtos períodos de tempo para reduzir os ruídos respiratórios superiores. Ausculte o coração inicialmente sobre o PIM e identifique o primeiro e o segundo som cardíaco. Caracterize o ritmo cardíaco. Tipifique as arritmias sinusais através dos aumentos na frequência cardíaca durante a inspiração e das reduções durante a expiração. Avalie o pulso femoral quanto à qualidade e aos deficits enquanto auscultar o coração. Ausculte todas as áreas valvulares cardíacas, pois alguns murmúrios são localizados (como o mitral, aórtico e pulmonar) no hemitórax esquerdo e na tricúspide direita. Tenha atenção aos ruídos cardíacos abafados que se podem dever à obesidade, a derrame pleural, a derrame pericárdico, a uma massa torácica ou hérnia diafragmática. A auscultação pulmonar requer prática e persistência. Os ruídos broncovesiculares normais podem se intensificar no paciente nervoso ou taquipneico. Esses sons são ouvidos igualmente em ambos os lados do peito. As áreas anormalmente quietas ou surdas são sugestivas de derrame pleural, pneumotórax, massa torácica e consolidação pulmonar. Os estalidos ou estertores são produzidos pela passagem aérea através de brônquios parcialmente obstruídos devido ao acumulo de fluido ou muco ou ao espessamento da parede brônquica. A percussão é uma técnica para a avaliação da ressonância (altura e timbre) do som produzido por uma série de batimentos rápidos de força uniforme em pontos variados na parede torácica utilizando-se um dedo ou um martelo de percussão.
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O aumento da ressonância (timpanismo) indica pneumotórax, e redução da ressonância (som surdo) sugere derrame pleural, hérnia diafragmática, grande massa pulmonar ou área de consolidação. 4.10. Abdómen Examine a aparência externa do abdómen quanto a distensão ou assimetria. Se aparecer uma distensão, realize uma percussão para determinar se resulta de derrame peritoneal, de ar (dilatação gástrica ou vólvulo), de obesidade ou de uma massa.
Fig. 12: Palpação abdominal
Palpe o abdómen sistematicamente na direção cranial-caudal de forma que não omita nada. No caso dos pequenos animais, utilize a técnica de uma mão. No caso dos pacientes maiores, precisa das duas mãos, uma em cada lado do abdómen. Em ambos os casos, posicione o paciente de pé. Uma pressão suave, mas constante, produz os melhores resultados. Palpe o abdómen cranial quanto a evidências de distenção gástrica. O estômago normal é raramente palpável. O timpanismo indica a presença de dilatação gástrica ou de vólvulo. A superingestão pode resultar em estômago flácido ou preenchido por fluido na região média esquerda do abdómen cranial. O fígado pode ser difícil de palpar no paciente normal. As bordas caudais são claramente palpáveis, lisas e bem-definidas. A hepatomegalia resulta de um fígado que se estende depois do arco costal. As bordas podem ser arredondadas em vez de pontiagudas. A palpação com o animal em decúbito lateral ou em pé sobre as pernas traseiras pode ser útil.
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O baço localiza-se no abdómen médio e nem sempre pode ser palpável. Caso esteja presente uma esplenomegalia, normalmente é palpável. Determine se o baço é irregular ou se está presente uma massa palpável. Outros órgãos no abdómen médio incluem-se, os linfonodos mesentéricos e os intestinos. Os linfonodos mesentéricos não são geralmente palpáveis, a menos que se encontrem acentuadamente aumentados de volume (como no caso de linfosarcoma). Palpe a espessura da parede intestinal e a presença de gás, fluido, corpos estranhos ou massas. Pode-se sentir o pregueamento e amontoamento dos intestinos no caso de presença de um corpo estranho filiforme. 5. Ficha Clinica Para anotar os dados recolhidos através da Anamnese e do Exame físico utiliza-se sempre uma ficha clinica onde são anotados os dados quer do paciente, quer do proprietário. Essa ficha pode existir em formato papel ou em formato digital, recorrendo a programas de software concebidos para os centros de atendimento veterinários.
Fig. 13: Sofware médico-veterinário
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Referências Bibliográficas: Bichard, S. J. Sherding, R. G. (2006) Saunders manual of small animal practice. Third edition. USA: Saunders ISBN-10: 0721604226 Hand, Thatcher, Remillard, Roudebush. (2000) Small Animal Clinical Nutrition, 4th Edition. USA: Mark Morris Institute. ISBN-10: 0945837054
Kahn, C.M. (2007).The Merck/Merial Manual for Pet Health (home edition). Massachusetts, U.S.A.: Merck & Co., Inc. ISBN-10: 0-911910-22-0 Nelson, R.W. Couto, C.G. (1994) Fundamentos de Medicina Interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. ISBN: 85-2770280-0 Royal Canin. O seu cão. O seu gato. Acedido em Julho 07, 2014, disponível em: http://royalcanin.pt
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AUTO-AVALIAÇÃO MÓDULO 4: 1- Qual a longevidade média de um cão? a) 9 a 10 anos; b) 10 a 11 anos; c) 12 a 13 anos; d) 13 a 14 anos. 2- Os cães iniciam o seu declínio ao nível da sua saúde a partir de que idade? a) 5 a 6 anos; b) 7 a 8 anos; c) 9 a 10 anos; d) 10 a 11 anos. 3- A partir da idade referida na questão anterior, quais são os exames que são recomendáveis? a) Eletrocardiograma, hemograma, bioquímicas renal e hepática; b) Eletrocardiograma, hemograma, analise de fezes e urina; c) Hemograma, bioquímicas renal e hepática, analise de fezes e urina; d) Nenhuma das afirmações anteriores esta correta. 4- Em relação à alimentação do cão geriátrico: a) A alimentação deve ser especialmente formulada para animais geriátricos (sénior), de forma a que esta tenha na sua constituição todos os nutrientes adequados a esta fase; b) A refeição deve ser dada sempre a mesma hora; c) As rações para animais geriátricos são suplementadas com protetores articulares e são mais ricas em fibra de forma a prevenir problemas articulares (artroses) e de obesidade, relacionados com a perda de mobilidade; d) Todas as respostas anteriores estão corretas. 5- O passeio do cão geriátrico deve ser: a) Prolongado e o animal deve movimentar-se de uma forma rápida; b) Devemos obriga-lo a movimentar-se mas sem implique um esforço excessivo ao animal; c) Não devemos forçar o animal a movimentar-se; d) Nenhuma das alíneas anteriores está correta. 6- Quantas refeições diárias devem os Cães fazer? a) Apenas uma; b) Apenas duas; c) Duas no mínimo;
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d) Devemos deixar a ração ao dispor do animal e encher a taça sempre que esta esteja vazia. 7- Que tipo de óleos podemos utilizar para suplementar a alimentação dos Cães? a) Óleo de milho; b) Óleo de soja; c) Óleo de peixe; d) Todas as afirmações anteriores estão corretas. 8- Que tipos de ossos não são aconselháveis aos cães? a) Vaca; b) Galinha; c) Couro; d) Búfalo. 9- Qual dos seguintes alimentos não se devem administrar aos cães? a) Chocolate; b) Arroz; c) Peixe cozido; d) Carne cozida. 10- Em que consiste a Anamnese? a) No exame físico que se realiza ao animal; b) Num questionário detalhado que se faz ao dono do animal de forma a recolher dados acerca do seu estado de saúde; c) Na recolha das constantes vitais do cão; d) Nenhuma das respostas anteriores está correta.
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SOLUÇÔES AUTO-AVALIAÇÃO MÓDULO 4: 1-C 2-B 3-A 4-D 5-B 6-C 7-D 8-B 9-A 10-B
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