GESTÃO DAS FINANÇAS PESSOAIS MÓDULO IV
Gestão das Finanças Pessoais
O ENDIVIDAMENTO www.nova-etapa.pt
ÍNDICE Módulo IV – Endividamento
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Objetivos Pedagógicos
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Conteúdos Programáticos
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1. Processo de concessão de crédito
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2. Endividamento – dívida corrosiva vs dívida geradora de valor
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3. Taxa fixa versus taxa variável
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Mód. IV: Endividamento
Módulo IV – Endividamento
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS No final deste módulo deverá ser capaz de: Compreender as linhas gerais do processo de concessão de crédito Conhecer o significado de spread e os fatores que o influenciam Analisar a sua estrutura de endividamento Identificar o significado de scoring / rating Perceber o que é o LTV Compreender as vantagens de um crédito a taxa fixa e a taxa variável.
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
Processo de concessão de crédito; Endividamento – dívida corrosiva vs dívida geradora de valor Taxa fixa versus taxa variável
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1. Processo de concessão de crédito
Conceder um empréstimo tem um certo nível de risco associado, que consiste na eventualidade de não virmos a recuperar o montante emprestado. Quem nunca emprestou dinheiro? Regra geral, emprestamos a amigos próximos ou a familiares, porque à partida sabemos que nos irão devolver o dinheiro. Ou seja, não corremos o chamado risco de incumprimento.
Se atentarmos à história da atividade bancária, constatamos que no inicio, e até à década de 90, o princípio era o mesmo. Na altura, concedia-se empréstimo a quem era considerado como tendo um bom nível de risco. Caso contrário, era muito difícil qualquer disponibilização de fundos.
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Com um enquadramento mais favorável e a atividade económica a crescer a níveis nunca vistos, assistiu-se a um aumento da concessão de crédito. Paralelamente, foram desenvolvidos mecanismos que permitem aferir com maior precisão qual o nível de risco efetivo do cliente. E é precisamente a análise do processo de concessão de crédito a um particular e à forma como a instituição financeira calcula o custo a cobrar a um cliente que iremos devotar esta série de artigos.
Contrariamente ao que é considerado, o processo de análise e concessão de crédito não é tão linear como aparente. Na realidade, a instituição financeira teve de desenvolver métodos para se assegurar que domina e percebe os riscos em que incorre (apesar de, por vezes, estes métodos serem relegados para segundo plano), resultando, entre eles, no processo de scoring/rating.
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O que é o scoring e por que é tão importante?
O scoring ou o rating é uma classificação dos clientes em classes de risco, atribuindo a cada classe uma probabilidade de incumprimento específica. Naturalmente que a esta notação é associado um custo determinado, que será suportado pelo cliente, materializado no spread.
Quando falamos de clientes particulares, existe um conjunto de elementos a ser ponderados, nomeadamente variáveis qualitativas e comportamentais:
Ciclo de vida do risco de crédito Dados Financeiros
Cálculo dos factores de
Análise do crédito;
risco; Informações Qualitativas
Aprovação ou rejeição do
e Comportamentais
Análise técnica;
Dados em relação ao
Conclusões.
pedido.
sector, negócio, empresa
Recolha de dados
Cálculo e análise do risco
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Aprovação do crédito
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As variáveis comportamentais visam medir, não só o grau de envolvimento do cliente com a instituição financeira, mas também a posição do mesmo no sistema bancário, que passa pela análise de saldos médios ou descobertos bancários, entre outros. A estabilidade de saldos, e neste caso de rendimentos, acabam por ter um peso determinante na avaliação do risco do cliente.
Quando
falamos
em
variáveis
qualitativas,
no
fundo
pretendemos aferir a relação comercial com o cliente (como sendo créditos, seguros, depósitos e outros serviços contratados) e eventualmente detetar sinais de risco, materializados em atrasos no pagamento das prestações, por exemplo.
Convém salientar que cada instituição financeira dispõe de um modelo próprio, com ponderações diferentes por cada variável, muitas vezes dependente do desenvolvimento da base de dados do próprio banco. Assim, nem sempre é verdade que o banco com o qual temos um histórico favorável seja o banco mais interessante em termos de custo.
Aliás, não é invulgar que uma instituição com a qual não temos envolvimento seja capaz de nos fazer uma proposta de crédito mais vantajosa. Contudo, são necessários alguns cuidados, que passam pela leitura cuidada do contrato, nomeadamente no que toca a produtos/serviços que teremos de subscrever para obtermos o crédito (situação que aumenta o custo do crédito, por via indireta).
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O que se recomenda, como em qualquer caso, é fazer uma análise cuidada entre os custos e os benefícios. Será que vale a pena subscrever este crédito e suportar os custos adicionais com mais produtos? O ganho compensa o custo? Os modelos para a atribuição de uma notação de risco têm vindo a ficar mais sofisticados, em resposta ao forte processo de inovação financeira das últimas décadas. Esta sofisticação foi intensificada com a introdução do conjunto de medidas de capital conhecido como Basileia ou Acordo de Capital e posteriormente Basileia II ou Novo Acordo de Capital.
Qual o impacto que a atual crise teve nas politicas de risco de crédito das instituições bancárias?
Diminuição da concessão de crédito - Durante 2008, fruto de uma maior prudência, foi desencadeado um processo de solidificação dos balanços dos bancos, cuja consequência foi a diminuição do rácio de transformação e por conseguinte a diminuição da concessão de crédito. Esta prudência é visível, por exemplo, em menores rácios Loan to Value, ou seja, numa maior exigência ao nível da colateralização das operações.
Subida dos spreads de crédito - Maior aversão ao risco e mais exigências na concessão de crédito levam ao aumento dos spreads, ou seja, aumenta o custo de financiamento.
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Outros fatores a ter em conta quando contraímos um empréstimo estão relacionados com o tipo de empréstimo e com o montante, assim como com as garantias prestadas.
No crédito habitação é frequente ouvir a expressão LTV – Loan to Value. Este Loan to Value estabelece a relação entre o montante do empréstimo (Loan) com o valor da garantia prestada (Value). Quanto menor este LTV, menor a probabilidade da instituição não reaver o seu dinheiro. Por exemplo, a instituição terá tendencialmente maior probabilidade de reaver o seu dinheiro em caso de incumprimento das prestações se o LTV for 50% face a uma situação em que o LTV é 90%.
Ponderado no seu scoring está também a sua capacidade de pagamento face ao seu endividamento visível na sua taxa de esforço. Quanto menor a sua taxa de esforço, maior será a sua facilidade de adaptação a uma situação inesperada de subida de taxas. Se a sua taxa de esforço for superior a 50% quer dizer que metade do que ganha está a ser levado em prestações. Quanto maior a taxa de esforço menos sobra para si e para poupança.
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Outra questão importante a considerar são as garantias, ou seja, se tiver algum tipo de poupança pode oferece-lo em garantia do empréstimo, como colateral, ou seja, o empréstimo é de EUR 100,000 mas tenho uma conta poupança de EUR 10,000 que posso usar como colateral. Esta situação pode baixar o spread que lhe exigem porque diminui o risco.
Outra questão é a figura do fiador, uma garantia que lhe pode ser exigida. Por diversas razões algumas instituições optam por pedir que exista um fiador no empréstimo, ou seja, alguém que em caso do incumprimento da prestação devida se substitua ao devedor. Esta situação tem vantagens para quem tem um fiador mas pode ser problemático para o fiador. Isto porque a posse do ativo em caso do incumprimento não se altera, mas a obrigação de efetuar o pagamento passa a pertencer ao fiador.
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Por outras palavras, imagine que eu contraio um crédito à habitação oferecendo um fiador. Se por qualquer motivo eu não efetuar o pagamento da prestação, a casa continua a ser minha, mas quem tem de pagar é o fiador.
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2. Endividamento – dívida corrosiva vs dívida geradora de valor Ter dívida não é, por si só, mau. No entanto, há que atender à qualidade da mesma, como é costume, aliás, em tudo. A divida geradora de valor é a dívida contraída em algo suscetível de gerar ganhos no futuro. Nesta categoria temos o crédito à habitação e o crédito contraído para estudar, por exemplo. Para tomar qualquer decisão devemos aplicar as cinco regras ou lições da gestão financeira exploradas no Módulo II. Estes tipos de empréstimos, caso o nosso orçamento o permita, são empréstimos que vão aumentar o valor do nosso património no futuro, e portanto serão quase sempre boas opções.
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A divida corrosiva é a divida em que uma fatia substancial dos pagamentos está relacionada com o pagamento de juros e cujo objeto não é suscetível de gerar valor acrescentado ao longo do tempo. Nesta categoria encaixamse
os
cartões
generalidade
do
de
crédito, crédito
a ao
consumo, crédito pessoal, etc.
Os
cartões
de
crédito,
por
exemplo,
tem
responsabilidades associadas (como anuidades) e mesmo quando não têm, a taxa de juro exigida pode ser superior a 30%. Ou seja, por cada EUR 100 que utilizar com o meu cartão e pagar a crédito, pago EUR 130.
O mesmo principio se aplica no crédito ao consumo. As taxas do crédito ao consumo e pessoal podem atingir taxas ainda maiores do que as do cartão de crédito. Por duas razões – primeiro porque ao contrário do crédito à habitação o colateral desvaloriza rapidamente ou seja, somos nós, o que para a instituição financeira não é muito relevante. 13 www.nova-etapa.pt
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Depois porque é tendencialmente maior a taxa de incumprimento nestes créditos do que no crédito à habitação, logo o risco em que a instituição financeira incorre é maior. Adicionalmente existem algumas instituições focadas no crédito ao consumo que vão subindo a taxa de juro em caso de incumprimento ou atraso nas prestações, tornando quase impossível uma gestão racional dos mesmos.
Um fator adicional que não convém esquecer é que o crédito à habitação tem um impacto favorável na sua declaração de IRS enquanto que os outros não têm.
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3. Taxa fixa versus taxa variável
De uma forma muito simples, créditos contraídos com uma taxa de juro fixa têm prestações constantes ao longo de um determinado período de tempo enquanto que os contraídos com uma taxa variável têm um indexante que varia. Mas afinal qual é o melhor? Enquanto consumidor qual devo escolher?
A primeira coisa a considerar é que as pessoas que optam pela possibilidade de terem um crédito com taxa fixa ao longo de um determinado número de anos, o fazem ou pela facilidade de terem uma prestação que não oscila ou porque têm expectativa que as taxas subam e portanto acham que beneficiam com esta opção.
Há que atender que também as instituições financeiras compreendem isso e por isso quem contrai o crédito tendo subjacente uma taxa fixa incorre tem um custo adicional, ou seja, a taxa é fixada num valor superior ao da taxa atual. Além disso, dadas as variáveis que influenciam a evolução da taxa de juro é preciso que o cliente detenha alguns conhecimentos técnicos para divagar sobre as possíveis evoluções da mesma.
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A taxa variável tem a vantagem de permitir que a prestação se adeque ao estado da economia real.
Quando
situação económico, melhores,
de os há
se
vive
uma
crescimento salários mais
são
emprego,
tendencialmente as taxas são mais altas. O oposto também é verdade.
No entanto, em situações de crise, é comum não ver grandes ajustamentos na prestação bancária. Há que ter em atenção o momento em que o empréstimo é contraído. Por exemplo, quem contraiu um empréstimo ao longo de 2010, em que as taxas estiveram historicamente baixas, pode ter contraído esse empréstimo com um spread acima do que aconteceria noutra situação.
Assim, temos duas situações distintas no que concerne à taxa variável. Quem tem um empréstimo nestas condições já há algum tempo, viu o seu rendimento disponível ao fim do mês aumentar, porque as taxas diminuíram. Nos próximos meses, se as taxas aumentarem a prestação volta a ajustar e quem contraiu um empréstimo recentemente vai ver a sua prestação subir para níveis para os quais pode não estar preparado. Sumariamente, pesquise e planeie o seu empréstimo, veja se prefere ter uma prestação com taxas fixas, embora com um custo eventualmente superior, ou uma prestação variável e com risco de flutuações grandes, embora adaptável ao estado da economia.
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Em resumo:
O processo de concessão de crédito passa por uma recolha de informação e por uma análise quantitativa, qualitativa e comportamental do credor. Ainda vivemos a crise o que se nota bastante nas políticas mais restritivas de concessão do crédito dos bancos.
O grau de alavancagem muitas vezes condiciona a qualidade de vida das pessoas, pelo que nunca se deve ter mais de 50% do montante auferido mensalmente afeto ao pagamento de dívidas. Aliás, o cenário ideal seria que 50% do nosso vencimento nos permitisse fazer face a todas as despesas mensais e os remanescentes fossem para poupança.
A decisão de optar por um crédito a taxa fixa ou variável vai depender das expectativas e do conhecimento de cada um.
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