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Jornalismo que estรก na alma
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Revista laboratório dos alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário 7 de Setembro
Na Matéria Prima #21, você encontrará registros de histórias 2018.1 1 em pleno processo de de invenção e construção dos 15 anos do curso de comunicação da UNI7. Leia em quintoandar.uni7.edu.br
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Reitor Ednilton Soárez VICE-REITOR Ednilo Soárez PRÓ-REITOR ACADÊMICO Adelmir Jucá PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Henrique Soárez Coordenador do Curso de Jornalismo Magela de Lima
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Coordenadora do Curso de Publicidade e Propaganda Nila Bandeira
issuu.com/npjor/docs Editor Chefe Ana Márcia Diógenes Miguel Macedo
Projeto Gráfico Humberto de Araújo & Julia Havt Direção de Arte Diego Henrique Estagiário da brado Aldemir Neto Editorial Karine Serpa COLABORARAM NESTA EDIÇÃO texto Andrei Markus, Athila Nepomuceno, Beatriz Mendes, Cleisla Falcão, Fátima Belarmino, Igor Thawen, Karine Serpa, Lisandra Sousa, Matheus Barbosa, Matheus Nunes, Rayanne Aragão, Regina Soares, Victoria Nogueira, Virna Magalhães & Vitória Yngrid diagramação Aldemir Neto, Cadu Franco, Isabela Gomes, Ítallo Alcântara, Júnior Santiago, Lucas Bruno, Natali Brandão & Vinícius Braga
Caro leitor, Jornalistas são pessoas que concluem o curso de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo. Profissionais que contam histórias por meio de matérias, entrevistas, reportagens, fotos, artigos etc. Independente da forma, eles trabalham a comunicação na sua essência e trazem, dentro de si, uma curiosidade, uma busca pelo conhecimento, inerente a quem decide ser jornalista. Cada um escreve, a seu modo, o roteiro da sua trajetória profissional. O fato é que, ao se aposentar, tem registrado, num cantinho da memória e no coração, momentos importantes da sua carreira; seja em linhas tortuosas ou simples retas, não importa. O jornalista, quando encerra sua missão, tem muito a dizer sobre perdas, conquistas, vitórias e desafios vividos. E, naturalmente, tanto a ensinar. Experiências de vida que ganham destaque nesta edição da revista Memória em Pauta. Nas próximas páginas você vai mergulhar na vida de profissionais da comunicação cearense. O que eles têm em comum? A formação em jornalismo. Mas, cada um trilhou um caminho diferente, único e pessoal. Aqui, cada entrevistado tem uma história para contar. O espaço é deles: Antônio Geraldo, Conceição Rodrigues, Eduardo Cantarino, Lúcia Galvão, Márcia Vidal, Rita Célia Faheina, Ronaldo Salgado e Souto Paulino. A vocês, nosso agradecimento e respeito. E nós, alunos da disciplina de Jornalismo Especializado II, do Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7), aprendemos, ao escrever estas páginas, entre outras coisas, que o contar histórias está na alma do jornalista e, mesmo quando não mais formos obrigados a trabalhar, levaremos conosco a arte de narrar a história dos outros e a nossa! Seja bem-vindo!
Nossa c apa Concepção & design Aldemir Neto Publicidade e Propaganda
Produção Aldemir Neto Ilustração Aldemir Neto
6 A N T Ô N I O G E R A L D O Soldado da Diagramação
10 C O N C E I Ç Ã O R O D R I G U E S Uma trajetória de desafios e conquistas
14 E D U A R D O C A N T A R I N O Telejornalismo: paixão, luta e aprendizado
18 L Ú C I A G A L V Ã O Bordando grandes histórias
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22 M Á R C I A V I D A L Informação como ferramenta para transformação
26 R I T A C É L I A F A H E I N A Informação como ferramenta para transformação
30 R O N A L D O S A L G A D O Angústias e prazeres de um repertório
32 S O U T O P A U L I N O Jornalista de grandes criações
Entrevista Antônio Geraldo odlareG oinôtnA
Soldado da diagramação O diagramador que começou como entregador de jornal aos 13 anos e viu a inovação do projeto gráfico colorido implantado no Rio de Janeiro chegar às redações da imprensa cearense Texto Cleisla Falcão e Matheus Barbosa Diagramação Vinícius Braga
↔ O diagramador faz um relato da chegada do projeto gráfico colorido a Fortaleza
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Entrevista Antônio Geraldo Colunista de cinema e esporte, torcedor do Ferroviário, Antônio Geraldo iniciou sua trajetória nos jornais ainda muito jovem. Passou por diferentes periódicos como: O Jornal, O Estado, Democrata, Unitário, Correio do Ceará e O Nordeste, mas destaca os 26 anos dedicados à Gazeta de Notícias assim como no jornal O Povo. Lembra com carinho de jornalistas da sua época que chegaram a se tornar chefes do departamento em grandes empresas nacionais, como o Grupo Globo. Memória em Pauta Como iniciou a sua vida no jornal? Antônio Geraldo Comecei entregando jornal na casa do assinante. Era distribuidor de jornal. Minha rota era da Aldeota. Iniciava pela manhã e quando eu terminava, ia direto para casa. Era pela Gazeta de Notícias. Surgiu uma vaga de contínuo e fui ser. Tive a oportunidade de ver o jornal por dentro. Depois, fui ser auxiliar de linotipista, isso no ano de 1948. MP Quando começou a trabalhar com a paginação do jornal havia a linotipo. Como ela funcionava? AG A linotipo foi uma das maiores invenções. Era uma coisa fantástica, e é até difícil de explicar. A linotipo [máquina inventada pelo alemão Ottmar Mergenthaler, em 1884, nos Estados Unidos] tem um componedor [utensílio no qual o tipógrafo dispõe com a mão, um a um, os caracteres que irão formar as linhas de composição – caracteres móveis] que tem uma matriz, como se fosse uma máquina de escrever. O profissional batia, batia, até formar as palavras. Havia uma alavanca que era puxada e, a partir daí, toda a peça entrava em evolução. O ajudante ficava atrás, em cima de uma bancada, olhando que ela imprimisse. A caldeira encostava-se ao chumbo. Levei várias chumbadas, e meu corpo era todo marcado. Quando ela terminava, descia uma prancha de madeira, com uma alavanca que abria em cima. As matrizes, que estavam embaixo, subiam e fechavam, na primeira alavanca. Depois, as matrizes eram distribuídas em magazines [depósitos]. A letra “a” caía na caixa do “a”, o “b” na caixa do “b”, e tudo caía no seu lugar, nada saía errado. Olha, só pode
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falar de linotipo se você vir uma máquina e tiver uma pessoa para explicar. MP O senhor foi auxiliar de linotipista antes de se tornar diagramador. Como era sua função? AG A composição de frases era de chumbo, quando terminava, nós soltávamos com uma faca. Colocava na mão, cortava e limpava toda a matéria. Depois pegava um rodo com a tinta de imprensa e molhava uma folha de papel de jornal, que já estava cortado no tamanho. Após isso, molhava com um pano e esperava escorrer. Colocava na parede para secar, ficava quase transparente. Passava uma escova e saía quase toda a composição de chumbo. Enrolava-se com o original e mandava para a redação. O revisor, conforme houvesse erro, anotava. A linha que estivesse errada era refeita e emendava no lugar no certo. Era assim o espírito do negócio. Era a minha função. MP Qual a principal evolução da diagramação? AG O projeto gráfico, porque ele disciplinou mais. Antigamente, o paginador era o projetista. Ele pegava o jornal e montava de acordo com as ordens. O projeto só existia na primeira e última página, no interior do jornal, não. Além disso, a marca principal era a definição do tamanho da fonte. Não poderia haver diferença. MP Como era a rotina do senhor como diagramador? AG Chegava de manhã e não sabia que horas ia sair. Já cheguei a ficar quase dois dias no jornal. O jornalista era como um soldado. E quem era diagramador ficava mais tempo. Perdi as contas de quantos domingos trabalhei. Quando chegava um carro à noite aqui [em casa], já sabia o que era: voltar para o jornal para diagramar alguma coisa. MP Como o senhor avalia a diagramação de hoje? AG Hoje há uma valorização do branco. Mas, deve ser pensado como valorizar, não deixar por deixar. Nada contra mas existem algumas mudanças que para mim não são inovação. Uma boa diagramação convida você a ler. Existe uma diferença entre inventar e criar. A diagramação não se inventa, se cria.
↔ Aos 85 anos, Antônio Geraldo relembra sua trajetória nos jornais cearenses
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Entrevista Conceição Rodrigues
Uma trajetória de desafios e conquistas Formada pela Universidade Federal do Ceará, em 1976, a jornalista fala sobre sua vida profissional, momentos difíceis, desfiguração da profissão e futuro Texto Karine Serpa e Victoria Nogueira Diagramação Cadu Franco
Há exatos 43 anos, Conceição Rodrigues vive uma simbiose com o jornalismo. Logo que se formou, começou a trabalhar na editoria de economia do impresso Tribuna do Ceará, onde ficou por uma década. Na sequência, foi para o jornal O Povo, mas pediu demissão quando foi convidada a fazer parte da assessoria de comunicação da Companhia de Eletricidade do Ceará (Coelce), onde ficou por » quase trinta anos.
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↑ Aposentada, Conceição Rodrigues ainda mantém o hábito de ler jornal diariamente [Foto: Karine Serpa e Victoria Nogueira]
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Entrevista Conceição Rodrigues Memória em Pauta Vamos começar falando sobre sua trajetória na comunicação, onde você começou e quais os primeiros desafios que o Jornalismo lhe colocou no mercado de trabalho? Conceição Rodrigues Meu primeiro emprego foi na Tribuna do Ceará e depois fui trabalhar no jornal O Povo, ambos na editoria de economia. Na sequência, fui convidada para assumir a chefia na comunicação da Coelce. Então, deixei o impresso e fui para a assessoria. O fato é que era anos 80 e a diretoria do órgão estava começando a preparar o ambiente interno para os novos desafios que estavam por vir com a privatização. Outro momento importante, foi na época do racionamento de energia, perdi até a voz de tanto dar entrevista, pois era porta voz da empresa. Diria que foi a época da privatização, pré-privatização e do racionamento de energia foram meus maiores desafios. MP Como você vê o futuro do jornalismo? CR O jornalismo é uma profissão que tem muito futuro, em especial para um profissional comprometido com o ofício. É importante seguir valores profissionais, sem se corromper e sem se deixar levar pela vaidade que a profissão nos oferece. Acredito que o jornal impresso sempre vai ter o seu espaço, até porque, você vai ler em diferentes blogs, canais e meios de comunicação, porém, o jornal impresso, sempre será um testemunhal. MP Que dica você daria a um estudante de jornalismo para que ele seja um profissional de sucesso? CR O jornalismo é uma profissão difícil porque ela é desvalorizada no mundo inteiro. De fato, é uma profissão que exige muito sacrifício. Se você quer ser um jornalista, precisa ter conhecimento, assim terá sua liberdade profissional. Agora, como profissão para ganhar dinheiro, o estudante deve pensar duas vezes, porque não é isso que aconselho. Eu me aposentei bem, mas não foi como jornalista de redação e, sim, como gerente de comunicação corporativa. Aí você ganha dinheiro.
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MP Como você vê a importância do diploma para o exercício da profissão de jornalista? CR Acho de grande importância que a categoria lute por essa formação. Porque você não vê, por exemplo, um médico não precisar de diploma. Por que é, então, que eu, para prestar um serviço de comunicação, não preciso ter diploma? Olhando para o futuro da nossa profissão, penso que precisamos fazer um grande debate e uma reestruturação das atividades do profissional da comunicação. Porque mudou muito. E daí está cada vez mais difícil entrar neste mercado, que, aliás, está encolhendo. O pior é que as oportunidades que surgem, não se contratam profissionais com formação específica. Buscam um “faz de conta” que toma o lugar de um profissional.
MP Você passou 28 anos trabalhando na assessoria de comunicação da Coelce, um órgão público que foi privatizado. Então, como avalia a importância da comunicação numa empresa estatal e numa empresa privada? CR A Coelce, após a privatização, passou a ser Enel, e a comunicação ficou muito mais valorizada, do ponto de vista institucional. A gerência de comunicação passou a fazer parte do conselho da empresa, se reportando diretamente ao presidente. A gente participava das decisões, do planejamento estratégico da companhia e também da diretoria. Com a privatização, a comunicação ganhou mais estrutura e credibilidade, porque a gente trabalhava a comunicação corporativa, como uma ferramenta importante para os negócios. MP Depois de quase 40 anos de jornalismo, o que você ainda admira no Jornalismo? E o que a decepcionou? CR Houve um processo de mudança do jornalismo, de desfiguração do jornalismo, e, confesso, que me deixou um pouco decepcionada. Hoje o profissional faz assessoria, o trabalho digital, a entrevista, vai para rádio e para o youtube, sendo que ganha apenas o piso salarial. É isso que considero desfiguração.
↑ Depois de 40 anos de profissão, Conceição Rodrigues acredita no futuro do jornalismo [Foto: Karine Serpa e Victoria Nogueira]
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Entrevista Eduardo Cantarino
Telejornalismo: paixão, luta e aprendizado Foi ao ver as imagens transmitidas pela TV em cores que a paixão pelo audiovisual se consolidou, afinal, a TV já o encantava a tempo. O que parecia distante de sua realidade, o tornou protagonista Texto: Athila Nepomuceno Diagramação: Lucas Bruno
↔ Para Eduardo, o jornal Gósson é um exemplo de co fazer jornalístico
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lista Agostinho onduta ĂŠtica no
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Entrevista Eduardo Cantarino Cearense de coração e carioca de nascimento, Eduardo Cantarino chegou a Fortaleza em 1985. O motivo para se estabelecer em terras alencarinas, na verdade, foi o jornalismo. Desde criança, considerava-se um apaixonado por arte, cultura, esporte e leitura. Por influência do pai, tomou cedo o gosto por jornais, revistas e pelos telejornais. A sede por informação, a boa escrita e desenvoltura na fala o fizeram destaque durante o ensino médio e, em uma conversa após a aula com o seu professor de português, descobriu o jornalismo como a sina de vida. De lá pra cá, sua história e seus feitos o elevam como um grande nome do jornalismo cearense. Foi um dos integrantes da equipe que programou a mudança de TV Educativa para TV Ceará, um dos primeiros diretores de jornalismo da TV Jangadeiro e marcou o telejornalismo da TV Manchete, TV Verdes Mares e TV Cidade. Memória e m P a u t a telejornalismo?
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Eduardo Cantarino Sempre tive interesse no audiovisual de modo geral e, isso tudo da TV, me fascinava muito. Até porque vivi a era do apogeu da TV. Vivi a transição da tv preto e branco para a tv em cores. Durante a faculdade, cheguei a participar de programas de TV, por conta da minha atuação no coral e, a cada visita, me encantava. Sobre o telejornalismo, era a forma que me via atuando: aliar a paixão pelo audiovisual com o fazer jornalismo. MP O jornalismo já o decepcionou? De que forma?
EC O que me fez desacreditar da minha profissão foi a cobertura do atentado ao Rio Centro. Ainda estávamos na Ditadura Militar. Nas redações, vi militares e dirigentes da Rede Globo reunidos para omitir a real história do caso. Isso me fez pensar e repensar se era isso que queria para mim. Tanto é que nem passei muito tempo. Tão logo saí da Globo e muito decepcionado. Foi um momento difícil, mas também de aprendizado.
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MP Qual cobertura telejornalística mais marcou a sua história como repórter?
EC Na TV Educativa fui escalado para fazer a cobertura da morte de Luiz Gonzaga, o Gonzagão. Viajamos a Juazeiro, preparamos uma pauta muito bem produzida, conversamos com familiares, amigos, fizemos a cobertura do velório, fomos conhecer a casa onde morou, enfim. Com esta reportagem, chegamos a ganhar o prêmio da ACI (Associação Cearense de Imprensa), muito merecido inclusive. MP Qual(is) o(s) maior(es) legado(s) você acredita ter deixado no telejornalismo cearense?
EC Ter feito parte do projeto da fundação da TV Ceará foi um marco para minha história profissional. Ter dirigido o jornalismo da TV Jangadeiro em seus
primeiros anos de existência, também. De forma especial, posso dizer que, na TV Cidade, deixei um legado após minha saída. Miguel Dias, quando me convidou para dirigir o jornalismo de lá, aceitei com muito prazer. Porém, o que sempre me incomodava era a falta de estrutura. Quando decidi sair da TV Cidade, já para me aposentar na profissão, deixei uma carta ao Miguel dizendo que no dia que ele tratasse a TV com o mesmo cuidado que ele tinha com as miniaturas de carros importados, muita coisa iria pra frente. Ele se chateou comigo, mas depois me agradeceu e, em seguida, reestruturou toda a TV e isso foi um grande marco. MP Quem você considera uma referência de profissional no jornalismo cearense?
EC Agostinho Gósson. Um exímio profissional.
Exemplo de conduta ética no fazer jornalismo, além de uma pessoa de boa conduta. Ele já é falecido, trabalhou como professor, foi escritor, radialista e se tornou um grande amigo meu. MP Com a aposentadoria, já tem em mente o que pretende fazer?
EC Já contribui com 40 anos de atuação no jornalismo. Ainda está muito recente para dizer o que fazer e meus planos, afinal, me aposentei está com três meses. Mas já agendei minha viagem ao Rio de Janeiro e vou passar uma boa temporada por lá, matar a saudade da minha família. Além disso, vou me dedicar a leituras, a cozinha. Amo cozinhar. Quem sabe escrevo um livro também. O momento agora é descansar e aproveitar o que não pude muito enquanto me dedicava ao jornalismo
↑ Ter feito parte do projeto da fundação da TV Ceará foi um marco na carreira de Cantarino
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Entrevista Lúcia Galvão Lúcia Galvão
Bordando grandes histórias Jornalista aposentada, bordadeira atuante e admiradora da arte popular, uma mulher de várias histórias, relata sua experiência profissional e pessoal dentro e fora do mercado de trabalho
↔ Jornalismo para Lúcia é captar a realidade e divulgar, mostrando as diversas faces de uma determinada realidade, ouvindo pessoas e pesquisando
Texto Rayanne Aragão e Vitória Yngrid Diagramação Ítallo Alcântara
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Entrevista Lúcia Galvão Lúcia Galvão abriu as portas de sua casa para mostrar sua história com a comunicação e a arte. Ela convida a uma viagem no tempo, em meio a quadros bordados e jornais antigos de matérias que fez; a um passeio nos casos de sua vida no jornalismo até a história de como se tornou bordadeira. Com sua trajetória, inspira a que se ande em um caminho de sensibilidade constante no jornalismo e na vida. Memoria em Pauta Como o jornalismo surgiu na sua vida? Lúcia Galvão O começo da história foi quando ainda era estudante na escola e o meu pai perguntou: - O que você quer ser, menina? - Jornalista!- falei. Então, ele começou a procurar emprego para mim. Disse que precisava trabalhar para saber se era isso mesmo que queria. Até que viu um anúncio no jornal O Estado para jornalistas. E consegui a vaga.
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MP Quais matérias você mais gostava de escrever quando trabalhava no jornal? LG Gostava muito de fazer reportagens no interior. Trabalhei na área de Cidades e nessa época costumava ir ao interior fazer matérias sobre o clima e outros eventos que aconteciam. Também fiz alguns especiais falando sobre os municípios, o SOS Ceará, para conhecer a cultura, o artesanato e a economia do local. Fazia todo esse levantamento. Era maravilhoso apesar de ter pouco tempo às vezes. MP Quais motivos a levaram escrever um livro-reportagem sobre os as pinturas do forro da igreja matriz de Aquiraz? LG Sonhava em fazer vários livros-reportagem quando me aposentasse, sobre as cidades que viajei fazendo matérias. Meu marido é artista plástico [Roberto Galvão] e nós íamos muito à missa na igreja de Aquiraz. Observávamos os painéis no teto da igreja, alguns tinham manchas de chuva e lasquinhas que caíam nas pessoas durante a celebração. Ele já havia feito um trabalho de restauração dos painéis na igreja de Viçosa,
que estavam em uma situação mais desgastada e fiquei inquieta, pois ninguém falava das obras da igreja de Aquiraz. Então, comecei a conversar com pessoas que entendem sobre o assunto, e percebi a desvalorização que existe com a arte popular. A partir disso, me incomodei e comecei a pesquisar sobre os painéis de Aquiraz. MP Quais benefícios à aposentadoria lhe proporcionou? LG Logo que me aposentei, comecei a estudar literatura em um curso de extensão na Universidade Federal do Ceará (UFC). Logo, soube de um grupo de estudos que iria iniciar na universidade sobre Guimarães Rosa, um autor que gosto muito, e o trabalho final seria um bordado. Não sabia bordar. Aprendi com outras colegas do curso e em algumas oficinas que participei. Achei muito ruim o meu primeiro bordado. Meu esposo também não gostou. O mais interessante foi que a partir disso perdi o medo de errar. Aquele bordado não iria me fazer tirar zero, me impedir de passar no curso, não ia ser demitida, não ia sofrer nada, então, entendi que tudo bem errar.
MP Você consegue ver no jornalismo uma forma de representação artística? LG Existe a possibilidade. Gosto muito da comunicação. Para mim, o jornalismo é captar a realidade e divulgar, mostrando as diversas faces de uma determinada realidade, ouvindo pessoas e pesquisando. Já a arte escancara a realidade e consegue repassar as coisas com mais eficiência, mas talvez seja porque nas artes existem mais autonomia e sensibilidade, e seria muito bom se esse casamento da arte com o jornalismo fosse cada vez mais frequente. MP Q ua l s ua v i são s o b r e o f u t u ro d o jornalismo? LG Acho que o avanço da tecnologia permite que o jornalista seja cada vez mais autônomo tenha mais opções de escolha, e que os jornais de papel diminuam. Quando comecei minha carreira existiam muito mais jornais impressos do que hoje. Meu pai assinava vários deles. Mas, hoje, vejo muito os blogs e jornais independentes.
↔ Lúcia: “Não sabia bordar. Aprendi com outras colegas do curso e em algumas oficinas que participei”
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Entrevista Márcia Vidal
Informação como ferramenta para transformação À frente da sala de aula por 35 anos, a professora universitária Marcia Vidal fala sobre a decisão pelo Jornalismo e o amor pela Comunicação Comunitária Texto Fátima Belarmino e Igor Thawen Diagramação Júnior Santiago
Márcia Vidal Nunes, 57, se formou em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1983. Ela sempre quis ser escritora e cineasta, e usar a Comunicação como impulsor de questionamentos. Hoje, aposentada pela UFC, está focada em pesquisas e em entender o âmbito da internet. »
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← Márcia Vidal afirma que a vocação para o magistério sempre foi presente [Foto: Luiz Figueira]
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Entrevista Márcia Lúcia Galvão Vidal
Memória em Pauta Há 36 anos, você se formava em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará. O que motivou a escolha do curso? Márcia Vidal Sempre gostei muito de escrever e estudar. O que queria na realidade era ser escritora. Mas, uma série de contingências da vida concreta me levou ao jornalismo, à comunicação. Sempre tive interesse por todas as formas de conhecimento. Então, entrando para o mundo da comunicação, particularmente para o jornalismo, estaria contemplando a minha vontade de escrever, todos os dias, e, ao mesmo tempo estaria em contato com os mais diversos campos do saber. A minha escolha do jornalismo se deu por essa razão. Também por motivos políticos, pois sempre
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acreditei que o jornalismo é uma área que poderia dar uma contribuição à sociedade para transformar a realidade em que vivemos para melhor. MP Logo no início da carreira, você atuou como repórter do Caderno 3 - hoje Verso -, do Diário do Nordeste. O seu primeiro contato com a produção jornalística foi com a arte e a cultura? MV Não. Desde o ensino médio tive outras experiências na área do jornalismo. Participei da edição de um jornal ligado à astronomia, O Aldebaran, que era editado pelo cientista cearense, Dr. Francisco Coêlho Filho, que trabalhava com física e astronomia e tinha um observatório. Comecei fazendo matérias para este jornal. Depois tive
gisse a oportunidade na UFC. E isso aconteceu logo depois que me graduei em Comunicação. Em 1984, o processo de seleção era diferente dos dias atuais. O indivíduo poderia entrar na UFC para lecionar apenas com graduação por meio da vaga de Auxiliar 1. Ou seja, não havia a exigência do mestrado e doutorado. De início houve certo estranhamento por parte de alguns alunos que eram contemporâneos e que acabaram passando por minha sala de aula. Mas não era novidade para ninguém, pois sempre fui conhecida como alguém que gostava de estudar e de pesquisar. Tudo que vivi foram experiências importantes que me permitiram traçar uma carreira voltada à pesquisa e extensão. Eu me sinto muito gratificada e feliz com a contribuição significativa na área da comunicação. Não apenas na cidade de Fortaleza, como no Estado do Ceará, quiçá o País.
outras experiências, por meio da fundação de um jornal intitulado O Redator, ainda no período do ensino médio, no colégio Nossa Senhora das Graças. Foi uma experiência muito interessante e introdutória à prática de comunicação, porque era um jornal informativo e opinativo. Mas, também, era voltado para literatura, ciências e artes em geral. Já no período da universidade, antes de entrar para o Diário do Nordeste, trabalhei na Tribuna do Ceará, TV Ceará e TV Manchete. MP Qual foi a sensação de entrar na sala de aula como professora logo após sair como aluna? MV O meu plano era me inscrever em um concurso público para o magistério assim que sur-
MP Ainda dentro da UFC, como começou o amor pela Comunicação Comunitária? MV A escolha pelo rádio foi muito consciente. Eu fui fazer um curso de Especialização em Produção de Programas Radiofônicos no Equador. Naquela ocasião, nos anos 80, havia um processo grande de efervescência de organização política em toda a América Latina. Quando voltei para Fortaleza, pensei que a gente poderia adaptar a ideia das cabinas radiofônicas usando a experiência das rádios difusoras no interior, que eram muito comuns, que quase toda igreja tinha aqueles alto-falantes para chamar os fiéis para as missas, festas, atividades da igreja. E pensei que a rádio difusora, os alto-falantes, poderiam ser usados para organizar a população. Em torno das suas reinvindicações, dos seus interesses. MP Hoje, aposentada, quais os próximos passos? Pois sabemos que uma jornalista nunca para. MV Continuo no programa de Pós-graduação em Comunicação, vivendo novas perspectivas tanto no campo da pesquisa, como da sala de aula. Continuo também atuando no meu grupo de pesquisa mídia, cultura e política. No momento estou envolvida com essa pesquisa, área de interesse que está voltada para análise das redes sociais. Então, os projetos podem aparecer nessas direções. Estou aberta a novas experiências, tanto no campo da docência, como na prática jornalística.
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Entrevista Rita Célia Faheina Entrevista
Uma vida entre o jornalismo e a religião Católica assumida, ela teve, nos 30 anos de exercício do Jornalismo, a oportunidade de se tornar especialista na área. Trabalhou em TV, rádio e jornal, tendo passado a maior parte da profissão no impresso Texto Beatriz Mendes e Lisandra Sousa Diagramação Isabela Moraes
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← Rita: “Não tem mais gratificante do
que fazer uma matéria no interior, sentar em uma calçada, conversar com a pessoa e ver a casa que mora”
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Entrevista Rita Célia Faheina Entrevista Rita Célia Faheina
Rita Célia Faheina , natural de Fortaleza, formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), trabalhou por três décadas com atuação no Jornalismo Religioso. Ocupou inúmeras funções na redação do jornal O Povo e foi responsável por fazer a cobertura da morte do arcebispo dom Aloísio Lorscheider, em 2007. Além de cobrir matérias religiosas, vivenciou momentos árduos, divertidos e pôde escrever e se aprofundar em histórias marcantes. Memória em Pauta como foi o início da sua carreira? rita célia faheina quando me formei, ainda muito jovem, a professora adísia sá ligou para mim e disse assim: “minha filha, tem uma vaga
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no jornal o povo, você vai disputar essa vaga. você quer ir?” quero né, estou sem fazer nada, me formei... era um projeto novo no jornal, e me deram uma pauta sobre lentes de contato. mp em quais outras áreas do jornalismo atuou? qual a que mais lhe atraiu? rcf trabalhei no jornal impresso, na rádio, na tv manchete durante quatro meses e como assessora do estado e ministério da agricultura. mas, nada me satisfaz mais do que ser repórter. mp você trabalhou como ombudsman. por quanto tempo e como foi sua volta para a redação? rcf não era minha praia, mas foi uma experiência boa.
MP Qual foi o maior aprendizado dos tempos de convivência com o arcebispo dom Aloísio? RCF Ele tinha uma relação muito grande com o jornal O Povo; era muito amigo da família. Então para conseguirmos matérias com ele era muito mais fácil do que com os outros que vieram depois. MP Durante sua jornada sentiu em algum momento que devia seguir outro rumo na carreira jornalística? RCF Tive vários momentos e foi exatamente nesses momentos mais difíceis. Mas, ao ponto de me deixar decepcionada, e não de deixar a profissão. Não tem nada mais gratificante do que fazer uma matéria no interior, sentar em uma calçada, conversar com a pessoa, ver a casa que a pessoa mora. Fiz muita matéria assim em época de seca, por exemplo. MP Como foi a sua experiência em relação à escrita sobre religião? RCF Eu sou católica, mas minha opinião não iria interferir de jeito nenhum. É tanto que fiz matéria com todas as igrejas. Não deixei jamais que minha opinião entrasse em conflito com as pessoas. ← Para Rita Faheina, nada mais lhe satisfazia do que ser repórter
Você sai da redação e analisa o jornal como leitor. Mas, só quis ficar um ano, porque para mim já era o bastante. Eu tinha saudade da Redação. Quando voltei, pedi para ser de novo repórter. MP Quais dificuldades passou no meio jornalístico e qual história mais marcou sua trajetória? RCF Dificuldades passamos muitas. Você recebe processos em cima de você, cheguei a ir à Polícia Federal prestar depoimento e passei por julgamentos. É muita aventura. Mas o que mais me marcou foi cobrir o sepultamento de dom Aloísio. Eu tive uma ligação muito forte com ele por causa da rádio. Tínhamos ele como uma pessoa de casa.
MP A sua especialização nessa área interferiu ou influenciou no seu trabalho como jornalista ou seu texto em si? RCF Sempre procurei detalhar nas minhas matérias. A gente tem que ter um cuidado muito grande, a não ser que você escreva um artigo porque é uma coisa sua que passa e atingirá aquele público que você quer atingir. Mas, na matéria em si, você deixa que o público forme sua opinião. Você tem que mostrar aquilo que é, independente do que pense sobre religião. MP Há espaço atualmente para quem quer cobrir o jornalismo sob o aspecto da religião? RCF Sim, claro que tem. Atualmente, sou da Pastoral da Comunicação. É um trabalho que ganhou muito mais sentido com o papa Francisco, mas já vinha sendo feito pela igreja. É um trabalho importante. Acho que todas as igrejas devem fazer isso. E se você quer pregar a palavra, para que coisa mais importante do que as redes sociais?
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Entrevista Ronaldo Salgado
Angústias e Prazeres
de um reporteiro Recém-aposentado, o professor e jornalista revela suas paixões, passado, presente e futuro do jornalismo. Levando uma vida calma em Fortaleza, ele separa seu tempo para acompanhar esportes e praticar leituras diárias
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Texto Matheus Nunes e Virna Magalhães Diagramação Isabela Gomes
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Ronaldo Salgado é jornalista e professor aposentado da Universidade Federal do Ceará. Apaixonado pelo jornalismo impresso tem como suas inspirações as histórias em quadrinhos e seu pai. Cratense, fã de futebol e sem esquecer sua cervejinha, Ronaldo aproveita a aposentadoria para descansar e refletir sobre o jornalismo atual. Memória em Pauta Qual a diferença do jornalismo de quando você era repórter para o atual? Ronaldo Salgado São várias diferenças. A gente poderia falar que a principal, por exemplo, é o jornalismo colaborativo. Comumente me deparo nas redes sociais com jornalista pedindo informações para ajudar na construção da pauta. Na minha época não havia isso. Tinha que extrair sangue de pedra para encontrar boas pautas, boas matérias, para investigar boas histórias. É uma tradição do jornalismo americano. A gente extraía pauta de fontes em trabalho de campo com outros jornalistas. Hoje, com as redes sociais, a multiplicidade de meios de comunicação e informação, o acesso a essas novas tecnologias, os novos aparatos, transformam completamente essa realidade. Outra diferença é o espaço do jornal impresso que diminuiu, encurtou, com a concorrência muito forte dessa diversidade de meios de comunicação.
M P Quais são os rumos do jornalismo impresso? Ele vai acabar ou se modificar? RS Existe um livro chamado “Os jornais podem desaparecer?”, do pesquisador americano Philip Meyer, que já vem se preocupando e estudando essa questão há algum tempo. Na Europa também já existem pesquisadores se preocupando com isso. É uma questão que não só diz respeito ao jornalismo; é ao campo da comunicação, abarcando a área editorial. Os livros, há mais de 600 anos, resistem por aí. Não tenho certeza, nem me sinto seguro de que daqui a 50 anos os jornais impressos estarão circulando. Por mais que estejam reduzindo a tiragem e o tamanho, ainda é uma grande incógnita para mim que ele acabe.
MP Vimos que você é um grande apreciador do jornalismo literário. Qual a importância da leitura
para a construção do ser humano? RS Vejo que a atividade jornalística, essencialmente, se move pelos eixos técnico, ético, cultural e teórico. Não acredito em jornalismo que se restringe a ter uma formação somente técnica. Acredito que o estudo, a leitura e a pesquisa agregados a essas ferramentas de lastro cultural teórico - com acesso à literatura, arte, cinema, teatro e a outras vertentes - são fundamentais para a transformação deste profissional. Para mim, o jornalista tem que ser essencialmente humanista. Desde estudante me interessei pelo jornalismo e a literatura. Inclusive no meu mestrado em literatura estudei sobre uma figura chamada João do Rio. Um jornalista que se preocupava em unir a sintaxe literária com a sintaxe jornalística através das reportagens e das crônicas que ele publicava na imprensa carioca. Estudando sobre ele, criei o conceito de crônica reporteira do João do Rio, que é levar elementos da literatura para a reportagem.
MP Por que escolheu fazer jornalismo? RS Veio das histórias em quadrinhos, especificamente o Super-Homem. O Clark Kent, jornalista, que se transformava em super-herói numa mudança de roupa, de vestimenta. Isso me enfeitiçava e criava em mim fantasias. Movimentava meu imaginário infantil. Por outro lado, a relação com meu pai é uma relação com livros, revistas e muitos jornais impressos. Esse incentivo indireto que meu pai me proporcionava me influenciava muito, pois aquela época era a áurea do jornalismo impresso. Então, essas duas coisas: de um lado aquela fantasia infantil, e do outro a influência do meu pai, que me permitia tirar das bancas de revistas o que eu queria ler; essas paixões me dominaram por completo.
MP Você acredita que ainda hoje a missão do jornalismo é mudar o mundo? RS Não diria a missão do jornalismo como atividade corporativa, empresarial. Diria mais como uma definição pessoal, de uma pessoa que tem um sonho, que almeja contribuir com transformações que mudem a realidade cotidiana. Não só de uma cidade, uma comunidade, um país, mas de um mundo.
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Entrevista Salgado Entrevista Ronaldo Souto Paulino
↔ Souto Paulino destaca a Agência da Boa Notícia e a criação do prêmio Gandhi [FOTO: Andrei Markus]
Jornalista de grandes criações
Ao compartilhar a paz na comunicação, ele se tornou professor de jornalismo, escritor, presidente da Agência da Boa Notícia e idealizador do prêmio Gandhi Texto: Andrei Markus e Regina Soares Diagramação: Natali Brandão
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Formado em Jornalismo em 1972, na segunda turma da Universidade Federal do Ceará, Souto Paulino é escritor, lecionou na Comunicação, escreveu livros e há doze anos é coordenador da Agência da Boa Notícia e do prêmio Gandhi, da qual promove a cultura da paz e inspira estudantes e professores. Em entrevista, Souto Paulino compartilha sua história e fala sobre as criações. Memória em Pauta Como o senhor ingressou no jornalismo? Souto Paulino Na Universidade, o reitor deu um curso de comunicação. E, então, fiquei animado em saber sobre jornalismo. Naquele tempo, não havia exigência profissional. Fiz parte da segunda turma. Simplesmente queria saber o que era jornalismo. Quando terminei a faculdade quis ser professor do curso. A responsabilidade era maior. Estagiei no jornal Correio Ceará, captando a notícia, redigindo a matéria, corrigindo e descia a notícia. MP Qual a diferença do jornalismo da sua época de estudante, para o jornalismo atual? SP A resposta para isso: tecnologia! Jornalismo nunca se perdeu. Muitos dizem ‘televisão vai acabar com isso e aquilo’, na realidade não acaba, se transforma, se adapta com a tecnologia que nos impõem. E hoje a insegurança com a comunicação é por não sabermos o que é mentira e o que não é nas redes sociais. Temos que ter cuidado com isso. A internet facilita que as mentiras sejam mais compartilhadas do que a verdade. MP Como surgiu a Agência da Boa Notícia? SP Foi um processo que ficou dentro de mim, na minha caminhada que fiz pela universidade. Nós nascemos de uma proposta de que poderíamos dar uma contribuição para que os meios de comunicação social no Ceará se transformassem em meios de comunicação social. Apesar da tecnologia e outros meios, a predominação do jornalismo tem sido achar que um meio de comunicação é melhor do que o outro. Todos os meios são eficientes. Nós só temos bom jornalismo se tivermos boas cabeças que possam gerar os conteúdos. A Agência da Boa Notícia foi uma inquietação. Quando me aposentei conversei com outras pessoas e até que um dia resolvemos criar. Então, a
Agência Boa Notícia saiu, justamente em acreditar que nós poderíamos colocar para disposição de vocês, os profissionais de comunicação. A nossa missão, sentimentos que temos e continuamos tendo: contribuir com a passagem de vocês pelas escolas, com bons professores. Este ano a Agência da Boa Notícia fez 12 anos. MP Qual foi o seu objetivo ao criar o prêmio Gandhi? SP Para que possamos discutir uma boa comunicação é preciso que a gente tenha bons produtos e o produto que criamos foi justamente o prêmio Gandhi. Colocar ao alcance de vocês ao longo da educação, de professores e dos empresários das empresas de comunicação, o veículo que pudesse de certa forma orientar cientificamente, o que é uma boa notícia. Há momentos em que deveríamos nos transformar, nós, professores, nós, alunos, todos os educadores. Já andamos pelo Brasil inteiro e nossa intenção é que um dia deixaremos de ser cearense e passaremos a ser regional. Hoje, temos um caminho diferente de quando éramos jornalistas. No jornalismo, acreditava-se naquela época que o instrumento muito essencial para o futuro seria a paz. Só temos, geralmente, a palavra paz quando surge em função de outras palavras. A guerra sempre se contrapôs a paz. Ou fazemos guerra ou fazemos paz. MP O que o Mahatma Gandhi representa para o senhor? SP É um homem que, resumidamente, fez a guerra sem arma. Foi castigado para o bem ou para o mal, foi morto por ele mesmo, no sentido figurado. Ele não queria fazer a guerra e preferiu ser morto. Então, por ele, uma das formas do prêmio Gandhi, é que nenhuma palavra seja ofensiva ou letal. E reforçar aquilo que é correto. Espero de vocês que sejam os próximos trabalhadores da paz. MP Para encerrar, qual o perfil do novo jornalista? SP Que seja sempre um bom jornalista e trabalhe para criar. Um bom jornalista não deve ser isso ou aquilo, deve criar. Os momentos, os eventos, as oportunidades, tudo isso vai criar sua mente, deixar mais humano e se espalhar por sua proposta de vida.
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