Papiro 2012 2

Page 1

papi ro

MEMÓRIAS DAS RUAS DE FORTALEZA Conheça as histórias dos cinemas de rua da Capital. Págs. 9 e 10

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA FACULDADE 7 DE SETEMBRO - AGOSTO A DEZEMBRO DE 2012

WASHINGTON SOARES

Obras prometem melhorias para trânsito na região


2

papi ro *EDITORIAL

Diversos temas, múltiplos olhares A

cidade tenta respirar. Buscar novos caminhos. Garantir idas e vindas. Fortaleza, como outros centros urbanos do Brasil e do mundo, busca desfazer os enigmas da mobilidade urbana: por onde andarão tantas pessoas, carros, bicicletas? Esta edição do Jornal Papiro coloca o tema em pauta a partir de um caso específico: o da avenida Washington Soares, uma das principais vias da cidade que tem a oitava maior frota de automóveis do país – cerca de 731 mil. Você vai entender, nas páginas 4 e 5, como é a rotina de quem usa a avenida e o que se planeja para o seu futuro. Nessa mesma cidade que carece de mobilidade, há muita gente engendrando outros movimentos. Que o diga os atletas que sonham com um lugar ao sol no mundo do Olimpo esportivo. Esse desejo é retratado na matéria de André Cavallari, na página 12. Ele também mapeia os investimentos estatais e privados na preparação

de atletas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Das praças esportivas para os espaços da arte, o Papiro recupera a moda e o desaparecimento das salas de cinema de rua. Não muito distante de nossa memória, esses equipamentos movimentaram o centro da cidade e ocuparam espaços arquitetônicos de valor imaterial para Fortaleza, como o Cine São Luiz, inaugurado em 1958. A matéria das páginas 16 e 17 convida as gerações mais jovens, acostumadas aos cinemas de shopping, a visitarem esta época, a partir dos relatos de quem frequentou e trabalhou nas salas de projeção. Uma boa notícia para quem está na faixa dos 20 anos e anda perdendo cabelos antes do previsto aparece na matéria de Alexandre Almeida. Um novo tratamento capilar garante suspender a queda de cabelo e ajudar no aparecimento de fios novos. O tratamento, encontrado em pelo menos cinco clínicas da cidade, é o assunto

da página 8. O repórter também descobriu casos entre mulheres, o que põe fim à falsa verdade de que calvície é coisa de homem. Reduto de ambos os gêneros, a gastronomia também é assunto nesta edição. O vasto número de blogs sobre o assunto instigou a curiosidade de Diana Valentina. A repórter entrevistou gente que não se contentou com a posição de cliente ou chef de cozinha na própria casa e transformou a paixão culinária por motivos de blogs na internet. A paixão também bordeja a matéria de Caio Túlio Costa sobre plastimodelismo. A atividade de nome pouco conhecido e, digamos, estranho para o grande público é desvendada na página 15. Os leitores conhecerão como são feitas, quem faz e coleciona as pequenas peças que mais parecem coisa de criança. A diversidade de temas e abordagens nas páginas deste Papiro reflete questões imprescindíveis à atividade jornalística: a

procura do que é notícia e o exercício de buscar informação em cada canto da cidade, mesmo que esta seja ofuscada pela pressa cotidiana. A pulsação de repórteres, designers, editores e fotógrafos atravessa as várias matérias, produzidas para todos os gostos e interesses. Esperamos que os leitores se contaminem e sintam esta pulsação durante a leitura. Até a próxima edição! Edma Góis e Rafael Rodrigues Editores-chefes *Esta publicação é resultado do trabalho dos alunos da disciplina Jornal Laboratório, semestre 2012.2, porém editado apenas no começo de 2014. Agradecemos a todos os envolvidos nesta edição pelo apoio no fechamento, mas, sobretudo, aos alunos das duas turmas daquele ano pela espera e compreensão. Edma Góis

*EXPEDIENTE O jornal Papiro é uma produção laboratorial do curso de Jornalismo da Fa7. Coordenador do curso: Dilson Alexandre. Editores-chefes: Edma Góis e Rafael Rodrigues. Editora-executiva de planejamento Gráfico: Andrea Araújo. Editor-executivo de Fotografia: Jari Vieira. Agência de Notícias Fato: Eugênio Furtado. Agência Experimental Brado: Leonardo Paiva. Redação: Alexandre Almeida, André Cavallari, Caio Túlio Costa, Diana Valentina, Eduardo Almeida, Gabriella Maciel, Giuliano Vandson, Lucas Mota, Mimosa Pessoa, Priscila Feitosa, Rodrigo Barros, Samara Melo, Thiago Daniel. Designers: Caio Paiva, Erick Ferraz, Guiliano César, Jovilson Júnior, Lívia Beleza, Renato Mendes, Samuel Sena, Miqueias Mesquita e Diana Valentina, em ordem alfabética. Infografia: Miqueias Mesquita. Monitores de fotografia: Cynthia Nogueira e Humberto Mota. Finalização: Guilherme Paiva Tiragem: 500 exemplares. Impressão: Expressão Gráfica.


papi ro

Maternidade: Amor à Toda Prova CONCILIAR O TEMPO COM OS ESTUDOS, TRABALHO, FAMÍLIA E FILHOS NÃO É FÁCIL, MAS ELAS FAZEM ISSO MUITO BEM E COM MUITO AMOR Texto: Giuliano Vandson Design: Caio Paiva

É

como num conto de fadas: elas são jovens, bonitas e sonhadoras. Como nos filmes, conhecem aqueles que serão os seus príncipes encantados. Apaixonadas, passam a desenhar, ao lado de seus namorados, noivos e maridos, uma nova história. Tudo é aparentemente perfeito até ficarem grávidas. A verdadeira “love history”, com final feliz, vira às avessas quando, no relacionamento, surgem ciúme, intolerância, desrespeito e agressão. É quando as princesas acordam para a realidade. O relacionamento fracassou. Para muitas mulheres, o capítulo seguinte desta história é criar sozinhas seus filhos. Os perfis encontrados são bem parecidos: mulheres jovens, estudantes e trabalhadoras. O senso comum nomeia esse perfil social de “mãe solteira”, o que é um equívoco de acordo com o advogado Pedro Teixeira Neto. Segundo ele, o termo é utilizado “para descrever a mulher que deu a luz a um filho e não teve o reconhecimento espontâneo da paternidade. Utiliza-se também o termo para descrever a mulher que optou pela “produção independente”, ou seja, a inseminação artificial e desconhece o doador do sêmen”. Se utilizando do senso comum, as mamães Socorro, Roberta, Letícia e Lílian, assim se definem: mães solteiras. Elas não se conhecem. Mas a realidade uma das outras é bem parecida. Trabalham, estudam e criam seus filhos com muitas coisas em comum. Uma delas, a ausência física e muitas vezes financeira, dos pais. Todas elas têm a mesma resposta quando questionadas porque se consideram mãe solteira. “Por causa de um relacionamento que não deu certo”. Para a funcionária da Secretaria de Justiça, Socorro Matias, 38, mãe de três filhos, vinda de três casamentos, os motivos foram varia-

dos. O primeiro casamento foi traumático, seu marido faleceu de um câncer, quando o filho tinha apenas três anos de idade. “Após a morte do meu primeiro marido, minha mãe pediu que eu voltasse a morar com ela enquanto eu me restabelecia.”, lembra. Depois de quatro anos, Socorro teve uma filha, mas o segundo casamento não deu certo. Tentou mais uma vez com outro marido, engravidou, mas posteriormente se separou. A professora Roberta dos Santos, 33, largou tudo para ir morar com o marido, fora do Ceará. O clima era diferente, os costumes eram diferentes. A volta era inevitável, e para a surpresa de Roberta, o marido não quis voltar e por lá ficou. “Ele pensava pequeno, queria criar nosso filho em uma cidadezinha atrasada, não pensava em crescer, tudo isso fez a relação se desgastar”, explica. As duas reclamam que os ex-maridos são pouco presentes na vida dos filhos “Em determinadas situações, é necessária a figura paterna. Este ano, na escola do meu filho mais velho teve uma homenagem para os pais, e quando cheguei em casa me disseram que ele estava chorando. infelizmente essa falta eu não tenho como suprir”, relata uma emocionada Socorro. Já Roberta diz que é muito difícil dividir as responsabilidades.“ Você acaba tendo que assumir muitas tarefas”, pontua. Outra dificuldade dessas mães solteiras é a falta de compreensão dos empregadores. Segundo a professora Letícia Martins, 29, mãe de três filhos, a maior dificuldade de ser mãe solteira é trabalhar. “Não há um emprego em que a profissional é tratada como mãe antes de ser considerada empregada”, afirma. O tempo escasso é motivo recorrente de conversa entre a mãe e os três filhos. “Tento mostrar a ne-

cessidade de pagar as coisas que necessitamos. No caso deles, os brinquedos, os lanches da escola. Assim, eles sabem que para possuírem algo, eu preciso trabalhar”, afirma Letícia.

““É necessária a figura paterna. Este ano, na escola do meu filho mais velho teve uma homenagem para os pais e, quando eu cheguei em casa, me disseram que ele estava chorando.” Já o caso da estudante Lílian Rodrigues, 17, é mais agravante. A menina que engravidou aos 12 anos conheceu o ex-companheiro quando ele tinha 15 anos. “Pouco tempo depois eu engravidei. Minha família ficou em choque. Meu pai mandou abortar. Eu não quis. Lutei para ter minha filha”, lembra. Quando cursava o 9º ano, Lílian parou os estudos para ter a filha. “Fiquei três meses sem estudar, só cuidando dela, mas aí voltei aos estudos, e reprovei de ano.” Além de cursar o 3º ano do ensino médio, Lílian também faz curso técnico de enfermagem e reclama que o tempo para a filha é muito pouco. “Hoje tenho o apoio dos meus pais que bancam a creche dela e cuidam quando eu não estou. Ela reclama, chora e diz pra eu não ir pro curso, mas sento e explico. Dói demais, eu fico pra chorar quando ela pede pra eu ficar”, diz. A situação de Letícia e Lílian tem muito mais em comum do que serem mães solteiras. As duas terminaram seus rela-

* A VIOLÊNCIA EM NÚMEROS

70% mulheres a procurarem a

Delegacia da mulher mensalmente. São ameaças, lesão corporal dolosa e violência doméstica

940 ocorrências são abertas

mensalmente na DDM, ou seja, em média 31 por dia cionamentos por terem sofrido violência doméstica. Segundo a assistente social e advogada, Ângela Maria Nóbrega, há 15 anos na Delegacia da Mulher (DDM), mulheres que procuram a delegacia são direcionadas para a mediação de um conflito. No entanto, quando não há conciliação, os casos são direcionados para a área policial.

“SOFRI VIOLÊNCIA” De acordo com Ângela Maria Nóbrega, o perfil da mulher que procura a DDM varia entre 22 e 55 anos, tem grau de instrução baixo e forte dependência financeira do companheiro. Além disso, é comum terem sofrido agressão mais de uma vez. “Muito dificilmente elas nos procuram da primeira vez. É como uma panela de pressão. Só quando a relação está para explodir elas nos procuram”. A assistente social destaca que a violência contra a mulher está presente em todos os níveis sociais. A agressão contra mulher não é só física, também é psicológica e moral, sendo segundo a assistente social, “bem mais danosas que a física”. Com a lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) “a coisa mudou e que a eficácia da será maior no futuro, devido a cultura machista no Brasil ser secular, este homem de seus 50, 60 anos entende ainda que a mulher é dele, e que ele não consegue entender que a mulher tem os mesmos direitos dele”. Letícia e Lílian procuraram a DDM e receberam uma medida protetiva de urgência, prevista pela Lei Maria da Penha, com o objetivo de garantir a integridade física e/ ou psicológica das mulheres vítimas de violência. A mais comum delas é o distanciamento mínimo do agressor. Hoje o contato dos filhos com os pais é feito por intermédio dos avós. Para essas mães dedicadas, pode faltar tempo, pode faltar quem fique cuidando de seus filhos, pode faltar dinheiro, pode faltar apoio dos ex-cônjuges, mas amor, carinho e dedicação aos filhos jamais faltará.

3


4

papi ro

Pedestres não se sentem seguros com passarela improvisada e se arriscam atravessando pela via

Caminhos para sair do sufoco

UMA DAS VIAS MAIS IMPORTANTES DA CIDADE ESTÁ PASSANDO POR UMA SÉRIE DE INTERVENÇÕES PARA O MELHOR ACESSO E TRÁFEGO DE CARROS NA REGIÃO. PEDESTRES NÃO SE SENTEM BENEFICIADOS. Texto: Rodrigo Barros Design: Jovilson Junior Fotos: Cynthia Nogueira

A

venida Washington Soares, 7 horas da manhã. O bancário Pedro Silva, 28, enfrenta um trânsito caótico para chegar ao trabalho. O fluxo de carros é enorme e, em dias em que há muito congestionamento, ele chega a passar 40 minutos parado na via. Ele é apenas um entre centenas de cidadãos que, na tentativa de chegar na hora certa em seus compromissos, per- de muito tempo e a paciência no trânsito de Fortaleza. O fortalezense vive constantemente com os problemas ocasionados pelo grande fluxo de veículos e pela falta de uma

estruturação melhor das vias. E não só os motoristas. Muita gente esquece, mas o trânsito não é feito somente por carros, ônibus e motocicletas. Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), “considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga”. Ou seja, o trânsito é feito de pessoas e de outros tipos de transporte. A estudante Aline Alencar, 18, moradora da Cidade dos Funcionários, utiliza o ônibus como meio de transporte para ir ao

colégio no bairro Papicu. Invariavelmente demorar a chegar ao seu destino por conta dos engarrafamentos. “É inadmissível, uma avenida grande e larga como essa viver assim”, conta. Os problemas da via não estão a cargo apenas dos órgãos responsáveis pelas reformas e manutenções da via. Também dizem respeito aos pedestres, motoristas e um quesito fundamental: educação no trânsito. Não é difícil encontrar pedestres que abrem mão da passarela para atravessarem pelas ruas. O estudante Lucas Moreira, 15, diz que cruza de um lado para outro da avenida pela rua para

ganhar tempo. “Atravessar pela passarela demora demais, além disso, o sinal logo na esquina facilita nossa travessia”, argumenta. Para queimar etapas, Lucas põe em risco a própria segurança e a de motoristas que podem ser surpreendidos pela travessia do estudante em local inapropriado. Outro problema observado pela reportagem do Papiro está na passarela em frente ao Centro de Eventos do Estado. A grandiosidade do novo edifício e as benfeitorias da Washington Soares contrastam com a fragilidade do improviso. A sua fragilidade chama a atenção até mesmo de


papi ro

Vista do alto da via quem não a utiliza para atravessar. “Passei uma vez por essa passarela para nunca mais”, reclama a arquiteta Marcília Vitorino, 30. Segundo ela, a estrutura balançava bastante, razão pela qual decidiu não mais utilizá-la. Hoje, mesmo sabendo que é perigoso, ela prefere arriscar- se atravessando por entre os carros, pela própria avenida.

A VIA

A Washington Soares é uma via Estadual (CE 040). Ela é uma das principais vias da cidade. Com um total de 13 quilômetros somente em Fortaleza (a via estende-se para outros municípios do estado, alguns com acesso as praias do litoral leste), ela liga a região sul à região central/norte da cidade. Somente nela, circulam 23 linhas de ônibus urbanos, e cinco de transporte alternativo, as topics. Se falarmos de carros, os números são ainda maiores: 90 mil veículos chegam a trafegar na via diariamente. Com as dificuldades de tráfego e acesso à via, e com eventos importantes batendo à porta (Copa das Confederações em 2013 e Copa do Mundo em 2014), a rodovia está passando por uma série de reformas. Um túnel foi construído próximo ao Centro Eventos do Ceará, para um melhor acesso à Universidade de Fortaleza (UNiFOR) e ao próprio Centro de Eventos, facilitando a vida de quem vem pela Washington Soares nos

dois sentidos e pela rua Desembargador Manuel Sales Andrade. Outros dois túneis estão sendo construídos. O primeiro sairá da avenida Rogaciano Leite passando por baixo da avenida Washington Soares e seguindo em direção à Engenheiro Santana Júnior, eliminando o semáforo atualmente existente neste sentido. O segundo sairá da avenida Engenheiro Santana Júnior, desabocando no Shopping Iguatemi, também eliminando o semáforo existente. Segundo a assessoria de comunicação do Departamento Estadual de Rodovias - DER, a construção dos túneis custará R$ 30 milhões, sendo R$ 25 milhões do tesouro estadual e R$ 5 milhões de recursos privados. Ainda está prevista a implantação de uma terceira faixa nos dois sentidos no início da via. A área total de intervenções corresponde a 1,2 km. O prazo para encerramento das obras é de oito meses. Porém, a Secretaria de infraestrutura e o DER querem finalizar as obras até novembro. Segundo o urbanista André Lopes, o alargamento da via só servirá para desafogar o trânsito naquela localidade, empurrando o problema para um local mais a frente. “Não acho que as grandes obras vão dar mais qualidade ao trânsito”, diz. Ele afirma que a maioria da população fica a

mercê da vontade dos governantes, que por sua vez, dão prioridade a minoria dos motoristas de carros particulares.

QUESTÃO DE EDUCAÇÃO

Se muitas vias da capital estão congestionadas e com uma acessibilidade complicada, muito se deve à falta de educação no trânsito. Trabalhando em cima disso, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) promove vários projetos. Um deles é o “Educação no Trânsito se aprende desde criança”, com o objetivo é despertar na criança o senso de cidadania no trânsito e familiarizá-la com as diversas situações que possam ocorrer. Outra campanha em vigor é a “Década Mundial de Ações para a Segurança do Trânsito – Não exceda a velocidade, preserve a vida”. Ela é desenvolvida desde a Semana Nacional de Trânsito de 2011. A temática foi escolhida pela Organização das Nações Unidas – ONU, com a adesão de todos os países. “No Brasil, morrem 110 pessoas por dia em acidentes de trânsito, o que significa a queda de um avião a cada dois dias”, afirma Paulo Ernesto, assessor de comunicação do Detran-CE. O órgão cearense participa da campanha desde o seu lançamento, no ano passado. A meta é reduzir pela metade o número de óbitos até 2021.

A VIA EM NÚMEROS

13

Km é sua extensão em Fortaleza

90

mil veículos trafegam diariamente na via

30

milhões custará a construção dos túenis

1,2

Km é a área total de intervalos

5


6

papi ro

Quando ser criança não é brincadeira AA

Retirar crianças e adolescentes das situações de trabalho ilegal permanece como um dos desafios dos gestores públicos

TRABALHO INFANTIL DIMINUI NO CEARÁ, MAS 19% DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES AINDA EXERCEM ALGUMA ATIVIDADE ILEGAL Texto: Eduardo Almeida Design: Samuel Sena Crédito: Eduardo Almeida

O

s dados do levantamento divulgado em 2012 pelo Ministério Público do Trabalho (MP/CE) colocaram o Ceará como o 15° estado brasileiro no número de crianças que exercem alguma atividade ilegal. Esses dados tiveram como base o último censo divulgado pelo instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que identificou que de um total de 847.465 crianças cearenses, 58.825 ou 7% do total de crianças exercem algum tipo de atividade ilegal. Quando se incluí adolescentes até os 17 anos, esse número sobe para 19 %, totalizando 160.885. Segundo o IBGE, crianças do sexo masculino, que moram em áreas urbanas e com idade entre 10 e 14 anos ainda são perfil majoritário entre os trabalhadores infantis. Porém o relatório também divulga que de 2000 a 2010 houve um declínio de 51.507 crianças que exerciam algum tipo de trabalho infantil.

PODER PÚBLICO

O Governo Federal possui o Programa de Erradicação do Trabalho infantil (PETI), que em Fortaleza fica subordinado à Secretaria de Assistência Social. A prefeitura trabalha com várias frentes de combate à

exploração do trabalho infantil. Um desses exemplos são os Centros de Referência e Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência Especializados de Assistência Social CREAS. Segundo Ricardo Oliveira de Souza, coordenador do CRAS Serviluz, esse serviço é direcionado para crianças que ainda não tiveram seus direitos violados, pois o foco é manutenção do convívio familiar, que visa a prevenção à perda ou violação dos direitos infantis. Os CREAS fazem um trabalho mais abrangente, pois seu foco são pessoas que já sofreram violência, seja física ou psicológica, e além de crianças e adolescentes, mulheres, idosos, comunidade GLBT também são assistidos pelos CREAS. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) por meio da técnica da Coordenação de Erradicação do Trabalho infantil, Eureni Lima, informou que o ministério trabalha com duas formas de fiscalização, sempre por meio de denúncias. Na fiscalização formal, o auditor detecta a “realização de trabalho infantil” em empresas com CNPJ regular, cujo afastamento da criança é imediato. Nesses casos, todos os direitos trabalhistas e verbas rescisórias da criança são pagos

de acordo com o período trabalhado e posteriormente autuada, inclusive com multa.

“Em Fortaleza faltam vagas para suprir a demanda de crianças encaminhadas ao serviço de assistência pública” Na fiscalização informal o trabalho realizado pelos auditores acontece geralmente em feiras, mercados, praças e logradouros públicos. Os pais das crianças geralmente são os responsáveis pelo trabalho realizado, isso, segundo Eureni, infelizmente faz parte da cultura brasileira, já que embora a criança esteja trabalhando, o pai nega e justifica dizendo que a criança está no ambiente de trabalho porque não tem com quem deixá-la. Essa negativa dos pais é fator crucial para a dificuldade do Ministério em combater esse tipo de delito, já que a autuação não é permitida. É feita apenas uma conversa e um levantamento com


papi ro

Oportunidade: em Fortaleza, organização não-governamental aposta nos esportes e na cultura para inibir o trabalho infantil uma ficha cujo dados da criança são preenchidos, que são encaminhados para o conselho tutelar, que passará a acompanhar o histórico da criança e da família. Nos dois casos existe o encaminhamento da criança para algum programa de assistência ao menor, que depende de vagas disponíveis. Esse encaminhamento é outro ponto que deve ser revisto pelas autoridades, pois segundo o MTE a inserção dessas crianças no PETI, pois a quantidade de vagas ofertadas não supri a necessidade da demanda de Fortaleza.

“Ainda não existe uma sistematização fiscalizadora de Comissão da Infância e do Adolescente da Assembleia Legislativa - CE” A criança que se encontra em estado de vulnerabilidade, ainda pode contar com

a Comissão da infância e do Adolescente na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. A deputada estadual Fernanda Pessoa, por meio da sua assessora Priscila Luz, informou que a Comissão ainda não possui uma “sistematização” para fiscalizar, mas admite que esse deveria ser um dos papeis da comissão. Embora ainda não atue como órgão fiscalizador, é competência da comissão a convocação de qualquer autoridade pública ou cidadão para dar esclarecimentos sobre algum assunto relacionando a não cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Existem outros projetos que são assistidos pela comissão. O projeto “criança fora da rua dentro da escola” que visa o ambiente escolar como um fator crucial para o desenvolvimento da criança. A realização de audiências públicas, inclusive com o terceiro setor (ONGs) é também de responsabilidade da comissão.

ONGS

As organizações não governamentais (ONGs) são fundamentais no combate à exploração do trabalho infantil. Elas funcionam como uma extensão do poder

público no combate ao trabalho infantil. A Associação Curumins é um exemplo de organização que acredita na inclusão social-educativa como forma de inibir o trabalho infantil. Criada em 1991, visa valorizar as competências das crianças e adolescentes e potencializá-las, e assim construir cidadania. Segundo Gabriela Mendes, as ações da associação são desenvolvidas na sede do projeto, nas comunidades e em visitas domiciliares. Hoje 101 crianças e adolescentes entre 07 e 16 anos, a maioria meninos, são atendidos pela associação. As crianças e adolescentes são encaminhadas através da Equipe de Educadores de Rua, formada por profissionais de várias entidades com o objetivo de identificar os pontos onde existem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e encaminhá-las ao projeto. Por ter um trabalho positivo e reconhecido em todo o bairro Mucuripe, a Associação também é procurada pelas mães dos menores para que haja o engajamento de seus filhos no projeto. Gabriela informa que trabalho infantil, seja doméstico ou comercial, vendas de ali-

mentos na praia ou nos sinais de trânsito se configura como trabalho ilegal, pois não há qualquer tipo de regularização trabalhista e não se encaixa na atividade de aprendiz, que existe regularização tanto pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) quanto em políticas de inclusão profissional do governo federal. É por meio da arte e do esporte que as competências das crianças são desenvolvidas. Com um foco nas crianças entre 06 e 15 anos que trabalham em situação degradante nas ruas de Fortaleza, a associação tenta reintegrar a criança ao convívio social com a integração entre família, escola, e comunidade. Além do acompanhamento social, as famílias também contam com assistência judicial.

* SERVIÇO Associação Curumins Rua Cel. Manuel Jesuíno, 112 Mucuripe - Fortaleza Tel: 85 3263-2172

7


8

papi ro

Nova técnica combate a calvície 15% DOS HOMENS SOFREM COM A CALVÍCIE. NOVA SOLUÇÃO JÁ PODE SER ENCONTRADA EM FORTALEZA Texto e Foto: Alexandre Almeida Design: Lívia Beleza

A

calvície é mais comum em homens, pois a queda de cabelo tem como principal responsável o hormônio sexual masculino, a testosterona. No entanto é um problema que afeta também mulheres. Elas produzem testosterona, só que em menor quantidade. “A calvície já me incomodou bastante. Hoje ela me identifica. Pretendo fazer o tratamento por causa da queda excessiva de cabelo, não pela calvície em si”, conta o professor da Faculdade Sete de Setembro (Fa7), Jari Vieira, 33, calvo desde os 17. “Atualmente, os homens têm ficado cal vos mais jovens. Os sintomas começam a aparecer bem antes dos 20 anos, por volta dos 17 ou 18 anos”, afirma Marília Freitas, 36, médica especialista em doenças do couro cabeludo. A constatação de Freitas corrobora os dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). De acordo com a comunidade médica, em 15% dos homens calvos, o problema surgiu antes dos 18 anos, considerados casos mais raros, já que a calvície costuma começar por volta dos 22 a 24 anos. Uma nova técnica, já encontrada em algumas clínicas de Fortaleza, promete combater o a queda constante de cabelo, um dos fatores que resulta na calvície. Desenvolvida pela distribuidora Silva Lobo, a técnica de tratamento capilar, batizada de “Bulbo Raiz”, consiste, principalmente, na higienização do couro cabeludo, amolecendo e eliminando as impurezas formadoras da “sujeira” que impede a passagem do fio de cabelo. A fórmula abre o folículo, trata e

fortalece o fio que está nascendo. Não é raro homens e mulheres procurarem ajuda quando a calvície deixa de ser apenas um problema clínico e passa a ser estético também, comprometendo a autoestima das pessoas. Foi o caso do auxiliar administrativo, Pedro de Almeida, 25. Ele aposta no novo tratamento para evitar a perda total dos cabelos. “Sempre fui muito preocupado com minha aparência. Aos 19 anos de idade, meu cabelo começou a cair. Comecei a perceber um agravamento nas famosas ‘entradas’. Vi que estava ficando calvo e me desesperei. Minha auto-estima foi a baixo”, conta.

Atualmente os homens têm ficado calvos mais jovens Assim como Pedro, a pediatra Cristina Coelho, 46, também sofreu ao perceber que perdia os cabelos gradativamente. “Eu olhava para o espelho e já não me sentia mais a vontade com a minha aparência. A calvície chegou a um ponto em que me incomodava de forma absurda. Optei pelo implante capilar para ter uma solução imediata que pudesse disfarçar o meu problema. Mesmo com o implante, fiz o tratamento para evitar a queda de cabelo”, afirma. Cristina sofre com a calvície há mais de 15 anos. O tratamento Bulbo Raiz tem duração de, no mínimo, três meses, para calvície, e

Professor Jari Vieira brinca com sua calvície três semanas para queda de cabelo e outros problemas capilares como oleosidade e seborreia, escamação do couro cabeludo. O procedimento deve ser feito com o mínimo de dez sessões, com preços que variam entre 1300 e 3000 reais. Para alguns pacientes ainda é recomendado a aplicação de uma manutenção no valor mínimo de 150 reais. O cliente deve tomar cuidado ao adquirir o serviço, pois em algumas clinicas são adicionados procedimentos extras, ou seja, além das sessões do tratamento Bulbo Raiz, o que em alguns casos chega a triplicar o valor do serviço. Maria Gorete Lopes, 45, uma das esteticistas responsáveis pelo tratamento capilar, diz que: “Apesar do preço, o tratamento vale a pena. Já vi vários de meus pacientes, homens e mulheres, chegarem calvos e com a auto-estima derrubada e saírem daqui após um tempo, ‘cabeludos’ e com a auto-estima totalmente renovada. Não é só um tratamento para fazer crescer cabelos, é uma terapia ocupacional, também”.

ONDE ENCONTRAR CTEC - Centro de tratamento Estético e Capilar Tel: (85) 3063 6881 Maria Gorete Estética e terapia Capilar Tel: (85) 86263002 Sonia Mesquita Tel: (85) 3262 4289 Barbearia Fígaro Tel: (85) 3244 4020 Clinica Mulher Cheirosa Tel: (85) 3244 0807


O ouro está logo ali

papi ro

ATLETAS BRASILEIROS ALMEJAM GRANDES CONQUISTAS NAS OLIMPÍADAS DE 2016, MAS PRECISAM DA AJUDA DE GOVERNANTES E PATROCINADORES Texto: André Cavallari Design: Miqueias Mesquita Crédito: André Almeida

A

s Olimpíadas de 2016 estão chegando! Apesar de as Olimpíadas de Londres terem se encerrado há pouco tempo, o pensamento dos atletas olímpicos já está voltado para 2016. Além disso, as autoridades brasileiras e patrocinadores já estão focados na próxima Olimpíada, no Rio de Janeiro. Temos pouco tempo e muito trabalho pela frente. O objetivo do nosso país é conquistar entre 25 e 30 medalhas, e superar o desempenho dessa última Olimpíada, que foi o nosso melhor até aqui. O treinamento intenso e exaustivo é necessário para chegarmos ao nível dos melhores atletas do mundo. Toda preparação fica muito mais difícil se não estiver aliada ao apoio do Governo. O investimento de governantes e de patrocinadores é fundamental para podermos almejar conquistas maiores para o esporte brasileiro. Até o final desse ano, patrocínios e estatais beneficiarão modalidades como vôlei, basquete, atletismo e natação. O investimento deve chegar a 140 milhões de reais. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem desembolsar as maiores quantias juntos. Eles realização eventos e darão apoio às confederações esportivas e atletas. Haverá também um investimento em esportes menos conhecidos para os brasileiros. Os esportes individuais, muitas vezes esquecidos, também são muito importantes. O Brasil, como país mandante, precisa competir em todas as modalidades e muitas não recebem nenhum investimento de autoridades brasileiras, muito menos de patrocinadores, que preferem investir nas maiores “vitrines”. Mas os patrocinadores estão prometendo investir também nesses esportes com menos visibilidade. O grande trunfo do Brasil para a próxima Olimpíada é a competição individual, que pode trazer medalhas inesperadas. Prova disso é a Olimpíada que passou, na qual a grande maioria das medalhas

Lucas Matos: “Chegar a uma Olimpíada é o sonho de quase todo atleta. É o meu grande sonho também”. dos nossos atletas foi conquistada nesses esportes. Edgar Junior, proprietário de uma grande empresa de Fortaleza, afirmou que eles pretendem patrocinar alguns atletas cearenses. O esporte escolhido foi o atletismo, que receberá cerca de 25 mil reais da empresa. Eles pretendem ajudar principalmente os atletas desconhecidos e com poucas condições financeiras.

“Apesar do investimento no esporte cearense ainda ser muito pequeno, principalmente em esportes menos conhecidos, sabemos que uma Olimpíada é uma grande vitrine para muitas empresas do Brasil” “Muitas empresas cearenses já estão de olho nas Olimpíadas de 2016. Apesar

do investimento no esporte cearense ainda ser muito pequeno, principalmente em esportes menos conhecidos, sabemos que uma Olimpíada é uma grande vitrine para muitas empresas do Brasil”, disse o empresário. Ele destacou que muitas vezes o patrocínio serve como uma forma de ajuda ao atleta cearense. Muitos atletas têm talento, mas não tem condições financeiras para iniciar uma boa carreira. O objetivo da empresa é ajudar esses atletas, investindo em equipamentos e deslocamentos. “Os nossos atletas precisam de mais investimento. Não podemos pensar nessa parceria apenas como uma forma de divulgação para nossa empresa, mas sim como uma forma de apoio, de ajuda para os nossos atletas. É um benefício para os dois lados e será muito prazeroso poder ajudar atletas do nosso estado”, afirmou Edgar. Como as Olimpíadas serão apenas daqui a quatro anos, muitos atletas que hoje tem pouca idade, em 2016 estarão aptos a competir e a representar nosso país. Por isso, é necessário investir também em novos atletas. O jovem Lucas Matos é um

exemplo disso. Ele tem 21 anos e treina três vezes por semana na Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Mesmo sendo estudante, ele concilia os estudos com sua rotina de treinos. Ele pratica salto em distância e o seu grande sonho é disputar uma Olimpíada. O seu esporte não tem muitos custos e não necessita de nenhum tipo de equipamento, mas requer um treinamento repetitivo e exaustivo. “Chegar a uma Olimpíada é o sonho de quase todo atleta. É o meu grande sonho também. Disputar uma Olimpíada dentro de casa, com o apoio da torcida, teria um gostinho ainda mais especial”, disse Lucas. Lucas já conquistou alguns campeonatos estaduais e regionais. Para ele, sua carreira está apenas no começo. Para chegar a uma Olimpíada, um atleta precisa dedicar muito tempo se preparando e treinando pesado. “Minha rotina de treinos está se intensificando cada vez mais. Comecei treinando uma vez por semana, apenas duas horas. Depois passei para duas vezes por semana. Hoje, já treino três vezes por semana, três horas e meia a cada dia. Muitas vezes eu até falto aula pra poder treinar um pouco mais (risos)”. Os atletas mais desconhecidos, que ainda não estão garantidos na próxima Olimpíada, enfrentam muitas dificuldades para conseguir patrocínio e total apoio do governo do estado. Como o esporte que Lucas pratica não tem tantos gastos com equipamentos, os principais desafios são os patrocínios para as viagens. “Ainda não consegui patrocínios para as competições que tenho disputado. Mas, se eu conseguir conquistar campeonatos nacionais e quem sabe, uma vaga para a Olimpíada, os patrocinadores aparecerão. Tenho contato com algumas instituições e já recebi apoio financeiro de algumas delas, mas temos que ter muito mais investimento para irmos mais longe e fazermos bonito na próxima Olimpíada”, completou o atleta.

9


10 papi ro

Direito sem vocação? ATÉ QUE PONTO VALE ABRIR MÃO DA VOCAÇÃO EM RAZÃO DE UM BOM SALÁRIO? ESPECIALISTAS DAS CIÊNCIAS JURÍDICAS DEBATEM O TEMA Texto: Mimosa Pessoa Design: Giuliano César Crédito: Humberto Mota e Arquivo Pessoal

A

estabilidade e a imposição do sucesso financeiro são os critérios de maior relevância para os alunos que optam por um diploma universitário. A inserção num instável mercado de trabalho, a competição e o declínio na oferta do número de vagas na iniciativa privada faz do serviço público opção almejada para milhares de brasileiros. Segundo dados obtidos do instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) do Ministério da Educação e Cultura (MEC), foram efetuadas 20.111 matrículas no Ceará nos 17 cursos presenciais e a distancia de Direito ofertados no ano de 2010. Apenas 56.14% dos inscritos obtiveram aprovação nos exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), condição essencial para se tornar um advogado e, portanto seguir carreira jurídica no setor público e privado. Em 2012, o número de aprovados no exame da OAB foi de apenas 17,01% sendo notícia nos principais veículos de comunicação. Na visão dos universitários da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), da Faculdade Sete de Setembro (Fa7) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), o funcionalismo público proporciona bons empregos, com estabilidade, salário alto e aposentadoria integral, dentre outras vantagens que se acumulam ao longo da carreira jurídica. Este conjunto de fatores é a força motriz dos alunos que optam por ingressar neste curso. Sávio Rebouças, estudante do 8º semestre de Direito da UNIFOR, formado em Letras, cedeu aos atrativos da área jurídica, explica sua decisão: “O que me motivou foi o fato de ser um curso que abre muitas portas. Pode ser promotor, advogado, juiz. Não se pode viver apenas pelo seu gosto ao trabalho. Querendo ou não, o direito é uma área que ainda possibilita isso: conciliar aquilo que gosta se é que gosta, com a

A estabilidade dos concursos públicos leva muitos jovens aos cursos de graduação em Direito. No Ceará quase 20 cursos presenciais ou a distância são reconhecidos pelo MEC. questão financeira. No curso aprendemos como será essa convivência através do estágio. Muitas pessoas descobrem não gostar, pelo fato de a realidade ser bem diferente da teoria. Você tem que direcionar logo cedo, pegar um edital, no caso estabelecer um foco e estudar.” Na procura obstinada de alcançar estes objetivos, poucos demonstram uma centelha de vocação para serem juízes, defensores públicos, promotores, auditores fiscais, técnicos judiciários, advogados ou delegados dentre tantas opções de carreira que este bacharelado proporciona. Para os alunos de Direito entrevistados pelo Jornal Papiro, ser feliz pode ser traduzido em ter um bom salário. Os mais jovens escolhem

pela questão do bom salário e da estabilidade. Outros fazem a escolha por ter parentes na família que atuam na área jurídica. Julgam que esta proximidade parental os ajudará a atingirem mais cedo suas metas. Mara Priscila, * estudante do 8º semestre de Direito da UNIFOR, desistiu de ser médica e viu nos concursos públicos sua chance para entrar no mercado de trabalho. “Antes eu queria medicina. Não passei. Pensei em concurso público. A minha tia é juíza e tenho outros tios que são advogados. isso me fez ter na área jurídica a segunda opção. Entre optar por medicina e Direito eu escolhi o Direito devido à estabilidade.” Dentre os alunos de ciências jurídicas é comum encontrar pessoas numa faixa


papi ro 11 etária diferenciada, com profissões definidas e família já constituída. No Direito, depositam esperanças de melhores salários. George*,40, concludente de Direito da UNIFOR, afirma que sua grande paixão é a economia, trabalha no instável mercado financeiro. Explica seu ingresso no curso de Direito é sua segunda chance de continuar no mercado de trabalho. “O mundo é competitivo, não foi uma questão de vocação em si. A economia me encantou. O mercado financeiro é difícil, se sentir que não vai dar para permanecer, farei um concurso público. Você vai ficando um pouco mais velho e isso é uma barreira para a iniciativa privada te contratar. Caso necessário me esforçarei um pouco mais, além da simples formatura, para ser um juiz ou outra função que mais se adequasse ao meu perfil. Trabalhar na área do Direito é uma segunda carta na manga.”

A promotora de justiça Roberta Coelho considera salutar para o bom desempenho da atividade judicial o resgate da vocação. “Hoje, infelizmente, existe uma indiferença dos jovens à questão vocacional, o praticismo da vida moderna suprimiu este fator tão importante que, na vida prática, define a sutil diferença de no final de um dia de labuta se estar cansado ou se estar com a sensação de dever cumprido. É necessário resgatar a questão da vocação porque um operador do direito que está inserido na área errada jamais irá produzir suficientemente e colocar a alma em tudo o que faz.”

“Tenho convicção que não quero trabalhar no setor jurídico, mas não nasci para ter meu nível de conforto VOCAÇÃO: PASSO PARA A REALIZAÇÃO PROFISSIONAL material diminuído” Felipe Albuquerque, advogado e coordenador do curso de Direito da Fa7, aponta as principais causas para a procura elevada nos cursos jurídicos: “Observamos alunos com grande carência na escrita, carência de bons costumes, de modo que poucos têm vocação para assumir responsabilidade de um cargo/função que irá comprometer o futuro de pessoas ou instituições. Ainda, a própria Ordem dos Advogados do Brasil tem passado uma visão mercadológica do ensino ao criar uma espécie de “cadastro” de instituições reconhecidas, como se a aprovação no Exame de Ordem fosse o único objetivo de um curso de graduação de Direito. Talvez, os responsáveis pela elaboração dos editais de concurso (com grande conteúdo voltado para a área jurídica) sejam os responsáveis por tal mudança de concepção de ingresso no serviço público que, de certo modo, desprestigia outras áreas para dar preferência à carreira jurídica.” Alyson Cristino, assessor jurídico da OAB/CE, afirmou que a OAB/CE não tem competência institucional para monitorar os surgimentos dos cursinhos preparatórios nem supervisionar ou atestar sua qualidade. Concorda que a há neste tipo de atividade um mercantilismo exacerbado, porém não aponta soluções para sanar as questões dos editais de concurso público, nem o conteúdo ministrado aos alunos pelos cursos preparatórios.

Ter estabilidade no emprego, vencimento de juiz em vez de ser um juiz, um bom salário em detrimento da vocação exigem um alto preço. No Tribunal de Justiça do Ceará um psiquiatra (por questão de sigilo não será revelado seu nome), atende no departamento médico, revela, com bastante preocupação que as doenças psíquicas, como depressão, ansiedade, insônia, transtorno afetivo são a quase totalidade dos atendimentos feitos naquele setor. Atribui esse quadro à insatisfação no trabalho e as pressões no ambiente profissional. O aluno Raimundo* cursa Direito na UFC, conversou com nossa reportagem, na condição de ocultar seu nome. Seu depoimento é contundente: “não gosto de Direito, meu desejo e minha vocação sempre foi arquitetura. Por imposição de meus pais, ambos os juízes, tive que fazer Direito. Disseram que por ser filho de juízes, e pertencer a uma família cuja tradição é a carreira jurídica, tenho vantagens maiores que meus colegas. Dizem que será bem mais fácil conseguir manter minha qualidade de vida. A cada semestre, eu tenho mais convicção que não nasci para ser operador do Direito, mas também não nasci para ter meu nível de conforto material diminuído.” *Os nomes dos alunos são fictícios.

“ O CONHECIMENTO ME ATRAI” Criança ainda sonhava em ser juíza. O ideal de justiça que me encantava. Nunca pensei em outra opção. Com apoio dos meus pais e tendo familiares nessa área, mantive meu ideal firme. No fim do vestibular percebi que poderia ser tudo um sonho, um ideal de criança ou mesmo comodismo. Busquei me informar um pouco mais sobre a profissão e o motivo de ser tão procurada. O Direito abre um leque de possibilidades: concurso público, advocacia, defensoria, enfim uma profissão reconhecida. Dependendo da minha escolha terei estabilidade e segurança. Se conseguir trabalhar numa área que eu goste, então não será trabalho e sim realização. Na hora do vestibular me veio o choque, mil pensamentos e dúvidas. Tantas possibilidades: psicologia, arquitetura, artes, pedagogia, jornalismo, publicidade e até mesmo as engenharias. Tudo me encantava! A dúvida foi provocada pela euforia do momento e pressão do vestibular. Descobri que o que me move é a vontade de aprender. O conhecimento me atrai.

Flávia Morinigo Vieira, 19, universitária da Fa7, do curso de Direito

“POUCOS QUEREM SER ADVOGADOS” Na qualidade de advogado e professor universitário, percebo que, ao contrário do que ocorria na década de 1990, onde os alunos do curso de Direito buscavam a profissão para, em sua maioria serem advogados ou então ofícios pontuais como magistratura e Ministério Público atualmente quase não existe mais. O que se percebe é que, quase a totalidade dos alunos que ingressam no curso de Direito querem concluí-lo para prestar concurso público. A busca pela estabilidade no emprego, na minha opinião ,talvez seja o principal fator. E, por conseguinte, faz com que os mesmos ingressem em carreiras públicas sem serem vocacionados para tal. O desejo pelo emprego público os faz prestar concurso de todo nível para qualquer cargo: juiz, promotor, delegado, auditor... Resumindo, poucos querem realmente ser advogados e os concursados, hoje ingressam na carreira pública sem vocação para o cargo que exercem.

Marcelo Dias Ponte, Chefe da Assessoria para Assuntos Internacionais da UNIFOR


12

papi ro

Inclusão de jovens esbarra na educação Texto e Fotos: Priscila Feitosa Design: Lívia Beleza

N

o Ceará, o número de deficientes auditivos é de 526.838 pessoas. Essa cifra representa quase 10% de toda a população do Estado. Em Fortaleza, existem 4.968 crianças e adolescentes com algum tipo de surdez, segundo dados do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A grande maioria desses jovens ainda não conhece ou não possui assistência em sua educação. Desde 2007, com a ratificação dos Direitos das Pessoas com Deficiência no Brasil, o descumprimento dessas leis é considerado discriminação. O Ministério da Educação (MEC) desenvolve o Programa Educação inclusiva: Direito à Diversidade, que promove a formação continuada de educadores com o objetivo de incluir e atender os alunos com deficiências nas redes estaduais e municipais. Mesmo com essas garantias, a educação para pessoas portadores desse tipo deficiência ainda é difícil. O processo de alfabetização especializada é diferente do convencional. O portador de surdez

não compreende a fonética do português como aprendem na escola. Esse processo é invertido para a formação bilíngüe, portuguesas-libras. A professora de libras Glaiciane Lino, 26 anos, formada em letras pela UVA e pós-graduada em libras pela UFC, falou como foi seu processo de educação. De sua alfabetização até a formação superior, com um gesto traduzido em uma palavra “difícil”.

Com a ratificação dos Direitos das Pessoas com Deficiência no Brasil, o descumprimento dessas leis é considerado discriminação Glaiciane nasceu com rubéola, o que causou sua deficiência. Começou na escola com quatro anos. Mesmo sem escutar como os outros alunos, pagava uma escola particular para observar o que o

professor falava. Com cinco anos mudou para uma escola de educação especializada. Alfabetizou-se e aprendeu a linguagem labial. “Primeiro deve- se aprender Libras para depois reconhecer a língua portuguesa. Dessa forma, conseguem se alfabetizar.” Voltou para escolas regulares, onde como ouvinte, estudava como conseguia. Foi assim até a faculdade. Em todo esse processo de aprendizado, “passei mais tempo sozinha do que com outros alunos ou professores.” Hoje Glaiciane dá aulas de libras para alunos não surdos e é interprete do IEC. O instituto de Educação do Ceará (IEC) é direcionado ao processo de educação e inclusão especializada. Aceita alunos a partir do primeiro ano do ensino médio, com duração de quatro anos. O instituto também tem em sua grade o curso para formação continuada de professores. Uma extensão em libras para um melhor acompanhamento inclusivo com o aluno. Em todo o estado há apenas um IEC. Mesmo sendo uma escola especializada

enfrenta dificuldades. Dianaides Maria Fernandes, diretora pedagógica do instituto, diz que o nível de conhecimentos dos alunos surdos é insuficiente para o nível de suas formações escolares. “É meio delicado (fala rindo). Os alunos são bilíngües, falam a língua de sinais - Libras e aprendem o português. Justamente nessa parte do português eles apresentam certa dificuldade. O conhecimento dos alunos é deficiente. Aí que entra o papel do intérprete, para auxiliar nesse processo.” No instituto cada sala possui um intérprete. Segundo Dianaides, agora é responsabilidade das escolas regulares a inclusão especializada nas salas de aulas. Realidades como do IEC ainda não são visíveis para os portadores especiais nas demais escolas públicas de Fortaleza. A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC), para mais informações do processo de educação especializada nas escolas públicas, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta edição.


papi ro 13

O refrão da juventude

BANDAS DE E PARA JOVENS PROLIFERAM EM FORTALEZA, COM DIVERSIDADE DE ESTILOS E DESPRETENSÃO

Texto: Gabriella Maciel Design: Andrea Araujo Fotos: Gabriella Maciel e Divulgação

C

omo passar pela juventude? Segundo a lei brasileira, representada pela Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, a fase da infância termina quando se completa dezoito anos. Torna-se maior de idade perante a lei. E na bagagem vem a pressão da sociedade para que se torne adulto. Mas o que torna uma pessoa adulta? É apenas a idade, ou parte disso diz respeito aos nossos sentimentos em relação a vida? Aqui mora a conhecida juventude. É exatamente nesse momento em que o “jovem”, que ainda não é um adulto, mas também não é mais criança, começa a experimentar tudo, e fazer as primeiras escolhas sem a interferência de alguém superior. É vindo desse cenário de novas experiências dos jovens que a música, entre tantas escolhas, pode surgir. A música funciona como uma linguagem comum aos jovens, que vão usar desse universo que é a música para se expressar. As bandas formadas por jovens existem em todo o mundo e fazem sucesso desde os anos 80. Hoje, bandas jovens como a boy-band OneDirection, do Reino Unido, ou a de teen-pop Restart, do Brasil, fazem barulho por onde passam. No Ceará, temos um exemplo de música jovem que deu bem certo: a banda Arsenic, que ganhou um concurso num programa de TV e participou do Rock in Rio 2011, festival de música que foi idealizado por Roberto Medina e apresenta os maio-

res nomes da música, de vários estilos, desde 1985. A Arsenic é uma banda que acabou de ser inserida no meio midiático quando participou do “Olha a minha banda” na rede Globo e vem buscando o sucesso comercial. “Sempre é difícil começar um trabalho, principalmente nesse meio musical. Não existe truque ou algum detalhe que facilite alcançar o sucesso. O importante é sempre realizar um trabalho sério, ter muito comprometimento, tanto da banda quanto da equipe, traçar uma estratégia e mostrar o seu potencial.”, conta Felipe Muniz, produtor musical da Arsenic. Mas, e quanto às bandas que ainda não alcançaram o sucesso comercial, ou nem mesmo pensam na vida de estrelato? O que faz com que as bandas jovens de Fortaleza existam? Marcelo Freire, 24 anos, da banda Quatorze Zeromeia, que faz cover da antiga banda jovem Mamonas Assassinas, fala sobre suas expectativas em participar da banda. “A gente não cria expectativa para um futuro de sucesso. A gente toca porque a gente gosta, para se divertir, passar a diversão para a galera”. E o público corresponde. Melissa Toscano, 19 anos, é fã da Quatorze Zeromeia desde que um de seus amigos entrou na banda, há dois anos. “Eu me sinto atraída por me identificar com o estilo musical e também por ver ‘artistas’ da minha idade fazendo uma coisa tão legal”. As bandas podem funcionar para seus

integrantes, ou para quem escuta, como uma válvula de escape ou hobby, mais do que como uma carreira profissional. Também servem para passar alguma mensagem que os integrantes acreditem e queiram divulgar. É o caso de André Cavallari, 19 anos, que é integrante da Icthus, banda gospel. Para ele, a principal intenção da sua participação na banda não é a fama ou o prestígio, mas o louvor a Deus. Já a questão do mercado de Fortaleza, é contraditória. Valter Fernandes, 19 anos, tecladista da Quatorze Zeromeia, reclama sobre as oportunidades no Ceará. “O mercado do Ceará naturalmente é mais o forró. As outras bandas, de outros estilos sofrem. Mas, como a gente toca Mamonas... Quem não gosta de Mamonas? Então a gente pode chegar num baile funk, ou num “risca-faca” debaixo de um viaduto, a galera vai gostar. Mas para quem está começando um projeto autoral é muito difícil no Ceará”, fala Valter. “O espaço é pequeno, não temos muitas oportunidades. Por isso é fundamental se ter uma estratégia, para permitir que tenhamos o melhor momento e conseguir um bom espaço na mídia”, explica Felipe Muniz, produtor da Arsenic. Na banda Quatorze Zeromeia, todos os integrantes tentam conciliar a vida de dentro da esfera musical com a vida que levam fora dos estúdios e palcos, já que todos possuem empregos. “Trabalho com marketing, faço design gráfico e sou produtor de shows de humor, faço toda essa questão

que está por trás dos palcos e concilio o tempo... Só Deus sabe! É muita coisa para pouco tempo. Aos poucos e com jeito a gente vai tentando encaixar todos os trabalhos.”, fala Marcelo, que é baixista e produtor da Quatorze Zeromeia.

Quatorze Zeromeia: cover irreverente


14 papi ro passou a ser muito valorizada. A arte e o design também fazem parte da produção. Muitas vezes os plastimodelistas criam os chamados “dioramas”, montagens mais completas com vários temas assimilados em estilo de maquete. Inspiradas em batalhas, cenas de guerra,e situações diversas, as figuras de plástico chegam a transmitir emoção e outros sentimentos para quem as aprecia. A pintura dos modelos de plástico é mais um ponto curioso desse universo. O uso de pincéis variados, sprays e aerógrafos são constantes. Tintas apropriadas e específicas como as acrílicas e as de base em solventes também tem seu papel. Longos processos como detalhadas pinturas e milimétricas montagens são realizados para trabalhar com as cores. Peças mais delicadas e pequenas exigem muita cautela e as maiores e mais realistas chegam até a utilizar pintura automotiva. Toda a montagem do plastimodelismo é feita a partir de muita dedicação, concentração e paciência.

Fã de plastimodelismo transforma sua residência em verdadeiros cenários

Sonhos de plástico

UMA VIAGEM PELO UNIVERSO DO PLASTIMODELISMO Texto: Caio Túlio Costa Design: Diana Valentina Foto: Humberto Mota

A

s mais clássicas cenas do cinema e da história do mundo, o desbravamento do ser humano pelo universo e também pelo conhecimento, os ápices da ficção científica e os grandes defensores da justiça. Todas essas situações são retratadas em um belíssimo momento íntimo entre criador, apreciador e criação - essa é a principal ideia do plastimodelismo -, um hobby que consiste no desenvolvimento e produção de figuras estáticas de plástico. Construídas e customizadas para fins de exposição, os diversos moldes são montados a partir de materiais como resina, madeira, isopor

e kits de plástico tipo poliestireno. Seus criadores, os nominados plastimodelistas, possuem diferentes tipos de especialização temática, sendo os contextos de guerras históricas, militarismo e ficção científica os mais comuns do meio. Navios, automóveis, tanques, aviões etc., o leque de opções fica a critério do gosto e da criatividade. A prática começou nos anos 50, quando os primeiros kits fabricados pelas empresas pioneiras Frog e Airfix chegaram ao mercado. A partir disso, companhias do mundo todo adotaram a ideia, que se difundiu entre os consumidores e

Para o criador, isso faz parte de sua vida e retrata boa parte de sua personalidade O COLECIONISMO

A maioria dos plastimodelistas possui um lado colecionador. Modelos construídos e protagonizados por super-heróis, como por exemplo, Batman e Super Homem em situações criadas pelo modelista são consideradas rotina nesse meio. Montar uma coleção com suas próprias figuras e também ter seu trabalho reconhecido por outros colecionadores que adquirem as obras é algo no mínimo gratificante. Assim pensa o fotógrafo e consumidor de figuras de plástico Humberto Mota, 18, que por gostar muito de uma espaçonave da franquia Guerra nas Estrelas, encomendou a um plastimodelista uma réplica em grande escala para expor em sua casa. “O plastimodelismo me proporciona a possibilidade de recriar cenas de meus filmes favoritos, além é claro de poder criar minhas próprias cenas.” disse. Humberto coleciona as figuras desde os sete anos de idade e até hoje possui uma de suas primeiras peças, o “Ghostface da franquia Pânico”. Segundo o jovem, que já chegou a gastar seiscentos reais com tinturas, encaixes e caracterização dos moldes, todo investimento nessa área é sempre bem recompensado porque é como se construísse o próprio sonho e uma parte representativa de sua persona-

lidade atingisse a forma física. Humberto ainda afirma que nem precisaria pensar duas vezes caso um valor similar estivesse em jogo novamente. A residência do plastimodelista Giovane Araújo, 43, é um verdadeiro cenário com todas as suas figuras de plástico em exposição. Aeronaves, grandes encouraçados e tanques completam o ambiente, em que predominam a área naval e a ficção científica. Para o criador, isso faz parte de sua vida e retrata boa parte de sua personalidade. Há mais de dez anos nesse meio, Giovane afirma que o relacionamento com o hobby o mudou totalmente. Através do plastimodelismo conheceu grandes amigos, aprendeu, ensinou e cultivou princípios como a humildade, perseverança e alegria. Sua família é quem mais incentiva seus projetos, o que para Giovane traz uma harmonia sem tamanho. A esposa e filha do plastimodelista convivem com apetrechos e moldes pela residência inteira e dizem que a mesma se assemelha com um ateliê. Já acostumadas com todo esse estilo de vida, as duas até já arriscaram montar e pintar algumas figuras, mas deixam a cargo de Giovane, que é o verdadeiro artista.

EM FORTALEZA

O cenário do plastimodelismo em Fortaleza é bem amplo no estilo aviação. Os modelos são reconhecidos em todo o território nacional. Há eventos como o GPFor, o “Open de Plastimodelismo de Fortaleza”, que reúne modelistas do Ceará, Pernambuco, Paraíba, São Paulo e outros estados da federação e ocorrem em datas marcadas pelos próprios artistas. Todas as edições contaram com mais de 150 figuras de diversos estilos e categorias. Medalhas de ouro, prata e bronze, além de troféus para as melhores montagens, premiações especiais são dados para incentivar os participantes. Muitos se tornam modelistas e fieis consumidores. O próprio Giovane Araújo, um dos idealizadores do projeto, ministra Workshops e palestras de pintura automotiva, design e estilização em figuras de plástico. Várias turmas formadas por aficionados em modelismo já trocaram experiências e aprendizado em Fortaleza. A cada dia que passa, através dessa divulgação e do aprendizado, o plastimodelismo ganha mais adeptos, praticantes e curiosos. É uma arte que se difunde a partir da amizade, talento e muita perseverança, afinal, tudo isso é necessário para que os conhecidos sonhos de plástico se concretizem.


papi ro 15

E o kiko? BRINCALHÃO, SORRIDENTE, AMANTE DA ANIMAÇÃO E ATOR, O CEARENSE BRUNO BRAGA, 30, INTERPRETA EM EVENTOS E SHOWS O PERSONAGEM KIKO DO PROGRAMA DE TELEVISÃO CHAVES Texto: Samara Melo Design: Lívia Beleza Fotos: Divulgação

F

ilho único de Dona Florinda, Kiko, um garoto de aproximadamente 9 anos tem uma rotina comum para um menino dessa idade. Entre escola e brincadeiras, o garoto, interpretado pelo ator Carlos Villagrán, anima as tardes de segunda à sexta do SBT junto com personagens como Chiquinha e professor Girafales no programa Chaves. Bruno Braga desde criança era fã da trama e tinha uma simpatia maior pelo personagem Kiko. Hoje, além de trabalhar em um parque aquático interpretando o personagem, também apresenta em aniversários e eventos um musical com as Kiketes( bailarinas do Kiko). A idéia de interpretar o Kiko surgiu em seu aniversário de 27 anos. Era uma festa à fantasia, se vestiu de Kiko, sua mãe de Dona Florinda que na trama também é mãe do personagem e o seu pai de professor Girafales, que é o homem que corteja Dona Florinda. No outro dia Bruno começou a trabalhar em um parque aquático de Fortaleza na parte de animação. Em uma conversa casual com seu supervisor, citou ter em casa uma fantasia do personagem Kiko do programa do Chaves e, caso aceito, ele poderia se apresentar pelo complexo com essa roupa. Seu supervisor topou na hora e um dia depois Bruno já chegava com o rosto branco, passando lápis no olho e pitando as bochechas. Colocou sua bola em baixo do braço e saiu passeando pelo parque aquático fantasiado de Kiko e pedalando sua bicicleta. No começo ele não sabia fazer a voz do personagem, mas depois saiu batendo a bola e tentou falar com a boca cheia de ar. Deu certo e hoje é capaz de apresentar um monólogo com a voz do personagem. Bruno iniciou sua carreira como ator em 1997 com a peça O Corcunda de Notre Dame. Depois disso o ator foi es-

tudar teatro no instituto Dragão do Mar, onde se formou depois de um ano. Fala que o melhor de ser ator é esquecer os problemas, poder ser outra pessoa. Quando o Kiko entra em cena o Bruno sai, é como se fossem dois. O Bruno pode está com o problema que for, mas o Kiko não. Aquele frio na barriga, impressão de que esqueceu tudo, texto, marcação. Até hoje, quando vê o teatro lotado a sensação é a mesma, ele acha isso o máximo. As peças foram se tornando cada vez mais frequentes. O ator fez seis peças infantis no grupo Abre-Alas logo depois que se formou e participou de projetos culturais em escolas públicas do Estado. Daí para frente sempre seguindo em busca de seu crescimento.

A sensação é parecida até hoje na estreia de algum espetáculo no palco

Carlos Villagrán e Bruno Braga, o ídolo e o fã

Um dos pontos mais marcantes de sua carreira foi quando depois de passar pelo concurso de sósia do Kiko no Brasil, conquistando o primeiro lugar, foi participar de um concurso mundial no México. Agora tendo recebido por Carlos Villagrán o certificado de segundo melhor sósia do mundo inteiro. “Minha felicidade foi tão grande que meu sorriso estava de doer até as orelhas”. Fala entre uma gargalhada e outra. Para Bruno o Kiko é bem mais que um personagem que interpreta. Hoje o personagem é algo maior, é a porta de entrada para o seu futuro como ator. Tem planos de trabalhar em teledramaturgia e comerciais. Em novembro o ator se apresenta no teatro Via Sul com um musical da turma do Chaves. Quer se aperfeiçoar como ator e interpretar outros personagens, mas nunca deixando de lado sua paixão pelo Kiko.

Bruno Braga em seu aniversário de 27 anos fantasiado de Kiko


16

papi ro

Cinema de rua: espécie quase extinta O SURGIMENTO DOS SHOPPINGS COM SUA SEGURANÇA E CONFORTO FEZ COM QUE CADA VEZ MAIS ESSES CINEMAS FOSSEM ESQUECIDOS Texto e Fotos: Lucas Mota Design: Renato Mendes

Todos esses citados por Seu Natal já estão fechados. Em Fortaleza, os poucos cinemas de ruas que restam, sem contar os que estão inseridos em centros culturais, são localizados no centro da cidade com gênero erótico-pornográfico. O empresário Antônio Silva Neto, de Pentecoste, interior do Ceará, fazia um esforço para assistir os filmes nos cinemas de rua da capital. Ele conta que vinha numa lambreta com sua esposa de Pentecoste a Fortaleza, somente para ir ao cinema, um percurso que durava até 4 horas de viagem por conta da má condição da estrada naquele tempo. A paixão de Antônio pelo cinema era tanta que abriu o seu na cidade. Chamava-se cine Alvorada e foi uma di- versão para os moradores de Pentecoste, lembra ele. Silva Neto teve que fechar o cinema depois que seu carro foi roubado e para comprar outro vendeu o Alvorada.

J

amais vai existir um cinema como o São Luiz”, diz José Natal, mais conhecido como Seu Natal, projecionista do cine São Luiz por 42 anos. O cinema de rua, que já foi considerado a mais bela casa cinematográfica do país, está com suas portas fechadas desde 2010 para exibição de filmes. Hoje, os andares superiores do cine São Luiz abrigam a Secretaria de Cultura de Fortaleza e a Universidade Digital do Trabalho, da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior. Ao longo dos anos, os cinemas localizados em ruas e avenidas foram de um grande e lucrativo negócio a um difícil e quase extinto investimento. O cine São Luiz tinha 1.500 lugares, seus equipamentos importados eram de última geração na época. Decoração em gesso do teto e as paredes, o hall com escadarias com pisos revestidos em mármore davam elegância ao cinema. Na última análise feita pela Ancine, de 31 de dezembro a 5 de janeiro de 2012, podemos perceber a regressão do cinema de rua. Sobre a localização de salas de cinema no Brasil, 2002 (85,1%) localizam-se em shoppings e 350 (14,9%) nas ruas. Quanto à abertura de salas no Brasil, apenas 14 (7,9%) abriram na rua e 164 (92,1%) em shoppings. Fecharam 11 salas nas ruas (28,2%) e 28 (71,8%) em shoppings. “Tinha muito cinema em Fortaleza. Tinha o cine Diogo, o Majestic, o cine Jangada, o cine Fortaleza, que era o antigo Samburá. O cine Moderno na Praça do Ferreira vizinho a farmácia Oswaldo Cruz. O São Luiz foi feito de um cinema de bairro, que era o Cine Napolitano, então a empresa derrubou e fez o cine São Luiz”, descreve Seu Natal, com entusiasmo.

DECLÍNIO

Seu Natal com o prêmio que recebeu em homenagem pela contribuição à cultura cearense

Ele conta que vinha numa lambreta com sua esposa de Pentecoste a Fortaleza, somente para ir ao cinema, um percurso que durava até 4 horas de viagem por conta da má condição da estrada naquele tempo.

Os cinemas de rua foram perdendo o espaço a partir da década de 1980, com o crescimento dos shoppings e surgimento do Multiplex. A segurança já não era a mesma e afastou boa parte do público. A Praça do Ferreira era onde funcionava o cine São Luiz, localizada no centro da cidade. Centro esse, que abrigava outros cinemas, também passou por uma transformação. Hoje é considerado um lugar perigoso sem muitas opções de diversão e lazer. Junto a isso os shoppings apareceram com salas de exibições de filmes e se transformaram na melhor opção, com a promessa de conforto, segurança e melhor qualidade de projeção e áudio. “Com salas em formato de estádio, poltronas confortáveis e padrões técnicos de imagem e som muito superiores aos que imperavam até então no mercado brasileiro, esses complexos passaram a ser


papi ro 17 instalados quase sempre em centros comerciais (shoppings), onde os usuários desfrutam ainda de estacionamento e serviços de alimentação, entre outros”, descreve a Agencia Nacional do Cinema (Ancine) em seu informe de acompanhamento do mercado de 2011. Atualmente, Fortaleza conta com 9 cinemas. Nenhum deles é de rua. 8 estão inseridos nos shoppings Aldeota, Benfica, Del Paseo, iguatemi, Maracanaú, North Shopping, Pátio Dom Luis e Via Sul. O Cine Dragão do Mar está inserido no centro cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura. Esse último é o único que faz exibição de filmes independentes, com apenas duas salas. Ao todo, são 37

salas distribuídas por esses complexos. Em 2000, o cine São Luiz passou a ser administrado pelo Serviço Social de Comércio (Sesc). Dane de Jade era a gerente de cultura do Sesc Ceará na época e descreve alguns fatores que contribuíram para a queda de público naquele cinema, mas mantém a esperança para revitalização do centro. “A falta de infraestrutura e segurança no centro em contraposição ao conforto dos shoppings centers com segurança e estacionamento para o cliente. A ONG Ação Novo Centro tem atuado de forma a contribuir com a revitalização do centro da cidade, criando uma nova esperança de que no futuro muito pró-

Situação atual de abandono do cinema ximo teremos nossos equipamentos culturais funcionando ”, diz Dane de Jade.

RESISTENTES

O cinema de rua passou a exibir filmes independentes e outros que não se enquadram no conceito “blockbuster” americano. As produções que estão nas ruas têm a proposta de ser uma alternativa das produções “hollywoodianas”, dos shoppings.

Esse setor está abandonado pelo governo, os empresários só se interessam no que é novo, os centros das cidades estão esquecidos e faltam investimentos

Fachada do antigo Cine São Luiz na Praça do Ferreira

O crítico e cineasta Kléber Mendonça Filho, responsável pela organização e programação do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, descreve o mercado para o cinema de rua como complicado. Segundo ele, esse setor está abandonado pelo governo, os empresários só se interessam no que é novo, os centros das cidades estão esquecidos e faltam investimentos. Kléber conta que, para seguir no mercado, tem que realizar uma programação agressiva e afiada, com pessoas

inteligentes e curadores preparados para fazerem a divulgação dos filmes. O cinema de rua é importante, pois ele supre uma falta, aquela que o cinema dos shoppings não oferece, argumenta o cineasta. “Recife é uma cidade de cultura forte, mas há um contraste. De um lado, um circuito conservador, em que 56 salas exibem filmes “hollywoodianos”, contra 3 salas com filmes não comerciais. Filmes como da saga Harry Potter não precisam ser exibidos no Cinema da Fundação, pois esse público vai assistir nos shoppings. O público da Fundação busca um outro estilo de filmes, o de arte por exemplo.”, conta Kléber Mendonça. O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco é um dos cinemas de rua que se mantém no mercado, com um público anual que gira em torno dos 63 mil, com sua sala exibidora com a capacidade para 200 lugares.

* INVESTIMENTO O governador Cid Gomes anunciou que vai promover uma reforma nos equipamentos culturais do Estado. Entre eles está o cine São Luiz. É previsto um restauro e uma desapropriação dos imóveis da Rua Barão do Rio Branco, que vai custar R$ 9.972.000.00.


18

papi ro

Vila das artes fomenta produção de vídeos independentes EM CINCO ANOS, CURSOS DE GRADUAÇÃO E EXTENSÃO INCENTIVAM FORMAÇÃO TÉCNICA E CRÍTICA DO SEGMENTO AUDIOVISUAL NO CEARÁ Texto: Thiago Daniel Design: Lívia Beleza Fotos: Thiago Daniel e Divulgação

Natalia Viana (à direita) no set de gravação do vídeo Epifânio

A

produção audiovisual na cidade de Fortaleza ganha a cada dia mais espaço dentro dos cursos e graduações espalhadas pela cidade. O gosto pela sétima arte passou de um hobby de final de semana, para um campo profissional bastante requisitado nos últimos anos por adolescentes e adultos influenciados, tanto pela vanguarda, como pelo cinema contemporâneo. Em Fortaleza foram abertos, em um espaço de cinco anos, dois cursos de graduação, da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), e um de extensão, da Vila das Artes, além de cursos realizados por organizações não-governamentais como Aldeia, Fábrica de imagens e

Alpendre. Estas instituições há alguns anos incentivam a formação básica, técnica e crítica do segmento audiovisual no Ceará. A produção de vídeos independentes também recebe incentivo da Prefeitura de Fortaleza, por meio dos editais de produção audiovisual do Núcleo de Produção Digital (NPD). Coordenado pela professora de roteiro e criação da UNIFOR, Michelline Helena, o núcleo é um dos setores da Vila das Artes que cuida da produção audiovisual, distribuindo equipamentos gratuitos para realizadores que queiram produzir vídeos. Segundo a coordenadora, o único critério exigido nas propostas é de que seja um vídeo autoral, documentário, ficção ou experimen-

tal. Este edital, único no Nordeste, tem propiciado a realização de três a quatro projetos mensalmente. Em 2013, a Vila das Artes comemora sete anos desde o lançamento do edital da sua primeira turma de extensão em audiovisual, juntamente com os primeiros editais de realização do NPD. Com uma proposta de pensamento crítico sobre a produção audiovisual, a Vila das Artes elaborou uma grade de formação voltada exclusivamente para o cinema de ficção, documentários e experimentais. O “vestibular” da Vila recebeu por volta de 600 inscrições na sua primeira fase. Desta forma 40 alunos ingressaram na primeira turma de extensão em Audiovisual

de Fortaleza. Estes alunos passaram por uma formação de dois anos. Cerca de 30 alunos deram continuidade em sua formação em outras escolas e também se tornaram profissionais da área. A artista plástica, Natalia Viana, 29, é um dos frutos da escola de audiovisual. Aluna da segunda turma, ela já conta em seu currículo duas premiações que considera de grande importância: o prêmio de melhor fotografia no vídeo Breviário da Decomposição no Festival Cinema Mundo de Itú e também a montagem do filme Epifânio, que ganhou o prêmio de melhor filme no 14º Festival internacional de Curtas de Belo Horizonte. Os dois filmes foram produzidos durante as aulas da Escola de Audiovisual, sendo o filme Epifânio um dos três trabalhos de conclusão do curso. Para Natalia, o curso foi uma excelente oportunidade para se ter o conhecimento básico sobre Audiovisual. “É muito rico você poder experimentar teoria e prática, tendo a possibilidade de aprender e exercitar as diversas funções de uma equipe para uma produção cinematográfica”, disse. A cada turma de formação, há uma produção dentro da grade curricular de 23 vídeos divididos em ateliês que demarcam as linhas formativas do plano pedagógico, incluindo os trabalhos de conclusão ao final do curso. Para o coordenador da Escola Pública de Audiovisual, Lenildo Gomes, os programas de formação da Vila das Artes têm abrangência nacional, visto que vários alunos formados hoje moram em outras estados e desenvolvem atividades em audiovisual nesses lugares. Para além disso, a Vila formou uma nova geração de realizadores, com ampla pesquisa e experimentação estética, produzindo um sentido de ressignificação quanto a narrativa dessa produção.

Vila das Artes, antiga casa do Barão de Camocim


papi ro 19 viajar e conseguir fazer uma imersão em determinada cultura, “Não há livro que consiga explicar a riqueza de um Laksa (sopa de sabor picante muito popular na ásia), mas basta uma colherada, numa rua em Cingapura, para entender a razão da paixão dos moradores pelo prato. Comida é vida em toda sua abrangência”. Ailin trabalhou em várias revistas do país, sempre escrevendo sobre comida.

COZINHA AFETIVA

Saciando a fome e os olhos COMER JÁ NÃO ENCHE APENAS A BARRIGA, MAS TAMBÉM OS OLHOS. E HÁ QUEM DIZ QUE ISSO SÃO OS MILHARES DE INTERNAUTAS QUE VISITAM SITES E BLOGS DE GASTRONOMIA Texto e Fotos: Diana Valentina Design: Lívia Beleza

S

e você vai sair de casa para jantar e não sabe em qual restaurante ir, o que você faz? Provavelmente você pesquisar na internet qual restaurante é mais indicado para a ocasião. Não se preocupe, pois você não é o único. Na era dos smartphones, muitas pessoas se guiam por blogs e sites para escolher onde vai comer. O mesmo acontece quando você está procurando uma receita para o jantar e não tem mais o caderno de receitas da vovó para consultar. Mas pasmem, existe um blog onde você pode encontrar a sua receita. Com passo a passo, fotos ilustrando o modo de fazer e dicas preciosas de quem já fez esse prato. Gastronomia não é mais assunto de um publico público extremamente restrito e especializado, mas

A jornalista Izakeline Ribeiro bastante popularizado e a internet tem seu papel dentro dessa mudança. A jornalista Izakeline Ribeiro, escreve no blog Sabores da Cidade, onde conta suas experiências em restaurantes da cidade e de outros lugares. A voportunidade de escrever sobre gastronomia apareceu

quando ela ainda trabalhava em jornal e fazia matérias sobre restaurantes. Após um curso de jornalismo digital a ideia saiu do papel e virou realidade, “ao invés de contar pra uma ou duas pessoas que gostei de um restaurante, conto para quem quiser ler no blog”. O ritual é interessante: ao chegar o prato escolhido, a jornalista já prepara o telefone e fotografa os pratos. Em seguida ela experimenta um por um, analisando calmamente os sabores, texturas e aromas. A melhor opção para garantir que um blog tenha sucesso é escrever sobre aquilo que você realmente gosta, “a escrita do texto é só uma consequência”. Quando questionada se gosta de cozinhar, a jornalista confessa “gosto de cozinhar só quando tenho plateia. Gosto mais de comer do que fazer”. Escrever sobre comida exige dedicação e estudo. A dona do blog Gastrolândia, a jor- nalista Ailin Aleixo, com que é preciso

A decoradora e cozinheira por vocação, a paulista que mora em Salvador, Kátia Najara, é dona do blog Pitéu – Cozinha Afetiva, que como o próprio já diz, é sobre a sua relação afetiva com a comida. Ela conta que o blog surgiu da “vontade de compartilhar a minha experiência cotidiana com a comida, que tem relação com absolutamente tudo. Sempre falei de quase todos os assuntos pelo viés da comida”. Essa relação afetiva com a comida vem desde a sua infância, quando por influência da mãe e da avó, passou a entender que “o alimento agrega e conforta”. Antes do Pitéu, Kátia escrevia para o Rainhas do Lar. Ela escreve em blogs há quase dez anos e sempre sobre comida. Kátia gosta de deixa bem claro que a sua relação com a comida, e seu blog, não envolve nenhuma relação comercial. Ela não aceita falar de produtos que mão esteja de afinados com a linha editorial do blog. “Já perdi vários (patrocínios) porque não posso fazer propaganda de caldo de legumes industrializado, por exemplo, uma vez que incito os meus leitores a preparem caldo caseiro”, explica ela. Entre outras experiências, manter um blog também pode agregar outros valores. Kátia, por exemplo, consegue manter uma relação próxima com muitas de suas leitoras, algumas chegando até ao seu círculo de amizades mais íntimas. “Tenho leitoras do meu primeiro blog, são 10 anos! Nada faria sentido sem ela”, afirma.

* SERVIÇO Blog Sabores da Cidade (www.saboresdacidade.com.br) Portal Sabores da Cidade (www.portalsabores.com.br) Gastrolândia (www.gastrolandia.com.br) Pitéu (www.piteu-cozinhaafetiva.com)


20 papi ro

Policiais espancam populares em passeata de crianças ALGUNS ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS NÃO DEVERIAM CAIR NA VALA COMUM DO ESQUECIMENTO. O PAPIRO VOLTA 100 ANOS ATRÁS E RECUPERA A PASSEATA DAS CRIANÇAS, MANIFESTAÇÃO POPULAR PACÍFICA QUE TERMINOU COMO UMA DAS TRAGÉDIAS DE FORTALEZA Texto: Giuliano Vandson Design: Erick Ferraz

O

dia 21 de janeiro de 1912 jamais deverá ser esquecido pela população de Fortaleza. Luta. Intolerância. Brutalidade. Desespero. Violência. Gritos. Intransigência. Dor. Tiros. Espancamento. Mortes. E com isso a tranquilidade do fim de tarde deste domingo na Praça do Ferreira foi literalmente quebrada. Uma passeata de crianças, que promovia a campanha do candidato oposicionista Coronel Franco Rabelo ao governo do Estado, foi reprimida pelo governador cearense Nogueira Accioly. A mando do governador, a cavalaria do Batalhão de Segurança do Estado e a Guarda Cívica utilizaram de força para dissolver o movimento. Às 16h30 partiu da praça Marquês de Herval a Passeata das Crianças, seguindo pela rua da Cadeia em direção à praça do Ferreira. As crianças estavam vestidas de branco, com laços de fita verdes e dourados no peito e com uma medalha com a foto de Franco Rabelo no peito. A passeata foi seguida pelas ligas Rabelistas e acompanhada por cerca de oito mil pessoas, boa parte delas eram os pais e as mães das crianças que desfilavam. Ao chegar à Praça do Ferreira, a cavalaria do Batalhão de Segurança esperava os manifestantes. A presença policial provocou uma dispersão de parte da população, porém muitos permaneceram no local sob os olhares intimidadores de dezenas de policiais. A presença de tropas do governo e dos rabelistas no mesmo espaço gerou um clima de tensão. O Batalhão de Segurança avançou sobre a multidão e de acordo com os manifestantes, os guardas disparavam tiros contra o aglomerado. As crianças que estavam à frente da passeata passaram a ser pisoteadas pelos cavalos da polícia.

Os adultos que acompanhavam seus filhos foram de encontro aos policiais que continuavam agredindo as crianças com muita com chutes, cacetadas e tiros. O povo não se intimidou e reagiu ao autoritarismo da polícia de Accioly. Clamando por justiça e vingança o povo passou a praticar atos de barbárie e depredação. Um estabelecimento comercial na praça Marquês de Herval foi incendiado. Estátuas, jarros e bancos da praça viraram armas nas mãos dos manifestantes.

Uma das tragédias da história da capital cearense, a Passeata das Crianças completou 100 anos em 2012 Começava ali uma manifestação contrária, não só à violência policial, mas contra a política do governador. A população de Fortaleza, em fúria, iniciava naquele momento uma revolta armada popular com o objetivo principal de derrubar Nogueira Accioly. Após os conflitos, a praça foi ocupada pela cavalaria do Batalhão de Segurança e pela Guarda Cívica. A população havia se dirigido ao palácio do Governo, cercando-o. Antes da chegada da população, este já estava com sua segurança reforçada por mais de duzentos policiais vindo da sede do Batalhão localizado na Rua das Trincheiras. Grupos armados tanto no centro da cidade como nos subúrbios de Fortaleza iniciam protestos contra o governo de Accioly, além de saques, depredações e assaltos a comércios e residências. No bairro do Benfica bondes foram virados e os trilhos foram arrancados, interrompendo

o tráfego. De acordo com testemunhas, 2 crianças foram assas- sinadas, mais de 50 pessoas, entre crianças e adultos, ficaram gravemente feridas.

DE VOLTA AO PRESENTE

Para a professora e mestre em História Cultural Nágila Maia, o ano de 1912 foi marcante para a história do Ceará, pois em meio ao domínio político de Nogueira Accioly, que usava do nepotismo, utilizada indevidamente o dinheiro público, dentre outras tantas ações incorretas. O mesmo foi somando ao longo dos anos (19821912) muitos descontentamentos, os quais devemos destacar figuras políticas que discindiram do seu grupo, como exemplo, podemos citar o advogado João Brígido, também trabalhadores e comerciantes. Os descontentamentos com os desmandos de Nogueira Accioly, chamado pelos seus opositores como o Babaquara, cresceram ao ponto de ganhar forças com a adesão de muitos moradores e trabalhadores da cidade, que viviam em condições precárias. O contexto histórico de Fortaleza proporcionou o surgimento de reações contrárias ao político, e em meio ao pleito de 1912, o candidato Domingos Carneiro, apoiado por Nogueira Accioly disputou com Franco Rabelo, candidato das oligarquias dissidentes. Objetivando enfraquecer a oligarquia vigente, os oposicionistas organizaram uma série de Ligas, dentre elas a Liga das Crianças. Assim a passeata das crianças foi um ponto fundamental para a mobilização das forças políticas e até das armas para depor a oligarquia acciolina, visto que os oposicionistas queriam mostrar a força do povo que estava unido para lutar. A passeata tornou-se o estopim para uma grande disputa política no Ceará.

CURIOSIDADES As ruas do centro de Fortaleza no final do século XIX - Rua da Cadeia = Rua General Sampaio - Rua das Trincheiras = Rua Liberato Barroso - Rua da Praia = Rua Pessoa Anta - Rua do Seminário = Rua Monsenhor Tabosa - Rua do Paço = Rua Pereira Filgueiras - Rua do Córrego Pajeú = Rua Pinto Madeira - Praça Marquês de Herval = Praça José de Alencar

16 ANOS DE DOMINAÇÃO DA OLIGARQUIA ACCIOLYNA Accioly governou o Ceará a primeira vez de 1896 a 1900. Após seu mandato, indicou Pedro Borges para sucedê-lo de 1900 a 1904. Accioly voltou ao poder em 1904 permanecendo até 1908, e, se reelegeu, passando por cima da constituição nacional.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.