Política pública
Diabéticos sofrem por má distribuição de medicamentos pág.4
Divas For
Ceará inova com aplicativo de transporte para mulheres pág. 7
Número 12
d avi c o s ta m e n e z e s
Negócio
Novo modelo de barbearia atrai homens para cuidar da estética e do bem estar pág. 12
Fortaleza–Ceará • quarta-feira, 1.° de novembro de 2017
Ceará escolhido para teste de pílula anti-HIV
Em um projeto piloto, Fortaleza está entre as 12 capitais selecionadas para a primeira fase de distribuição da profilaxia pré-exposição (PrEP). A medicação entrará no plano de estratégias nacionais contra a infecção pelo vírus HIV. No primeiro ano serão distribuídos 7 mil kits pág. 3 Bruno mour a
Paratletismo
Cearense de Pindoretama ganha ouro paralímpico nacional Francisco Jefferson de Lima, 25, natural de Pindoretama, garantiu medalha de ouro no lançamento de dardo na terceira etapa do Circuito brasileiro Loterias Caixa Paraolímpico de Atletismo, realizada dia 28 de outubro, em São Paulo. Nascido com má formação nos membros inferiores, ele já é bicampeão mundial na categoria. Com a vitória, começa
agora a preparação para a competição em nível sul americano, que acontecerá em 2018. O atleta treina cinco horas e meia por dia no Estádio Municipal O Costão. Jefferson tem bolsa atleta e também conseguiu patrocínio de empresa cearense. Ele e seu técnico, Gevanildo Lima, estão confiantes no potencial do atleta para grandes títulos. pág. 19
Biometria
Diversidade
TRE quer 75% do eleitorado cadastrado até as próximas eleições pág. 10
Pabllo Vittar é destaque no primeiro festival LGBT de Fortaleza pág. 17
Memória
Ponte da Barra completa 20 anos de história e ainda divide opiniões pág. 8 coloc ar credito
Tradição Mulheres que não tiveram a oportunidade de aprender com seus parentes a bordar, procuram cursos para saber como fazer o ponto e tecer desenhos, poesias, rostos e seus próprios sonhos pág 15
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Editorial
Fortaleza–Ceará • sexta-feira, 1.° de novembro de 2017
Novo design, editorias e textos arrojados marcam esta edição do Papiro R einventar o negócio com soluções criativas e aparentemente simples tem sido a atitude de empresas de comunicação que desejam atrair leitores e manter-se no mercado. Nem sempre as mudanças estão atreladas à tecnologia, e pequenas transformações podem fazer a diferença. Apostando nisto, o Papiro lança nesta edição novo projeto gráfico. Fruto do trabalho dos monitores do Ned (Núcleo de Design Editorial) ligado ao NPJor (Núcleo de Produção Jornalística), a principal mudança diz respeito à uma nova distribuição e denominação das editorias, identificadas por cores, assim como o melhor aproveitamento de fotos e possibilidades gráficas. Inteirar-se do corre-corre frenético das redações e vivenciar as tantas emoções que antecedem a produção de um jornal, fizeram parte dos últimos meses dos alunos de Jornalismo de 2017.2. Isto, aliado ao novo projeto gráfico gerou ansiedade nos futuros jornalistas, mas também proporcionou um caos criativo, causando em todos o desejo de fazer o melhor, constituindo-se em prova de fogo para quem vai, de fato, exercer a profissão. Os bons frutos traduzem-se nas matérias produzidas, que generosamente dão identidade às editorias. Amar o chão em que se vive sempre inspira alunos a escrever para CIDADES. A saúde destacou-se nas abordagens, trazendo boas novidades como a Pílula Anti-HIV, que terá Fortaleza como cidade piloto de distribuição. Em contraponto, são também apontados os transtornos causados pela falta de materiais para tratamento de diabéticos. A fobia, que é caso sério, mas às vezes tratado como brincadeira, é apresentada em matéria de convivência e superação do medo. E superar também é exercício diário de mães que passam o primeiro dia de finados sem os filhos. A
O novo projeto
religiosidade auxilia no processo de perda. Nesse sentido, uma matéria apresenta os embates ainda existentes entre católicos e protestantes no estado do Ceará. Mas conhecer Fortaleza também traz alegrias e conhecimento. Nesta edição a Barra do Ceará se destaca. Para chegar até lá ou em qualquer outro canto da cidade, as mulheres contam hoje com um serviço de transportes, por aplicativo, exclusivo para elas. Em ano que antecede eleições difícil não pensar em POLÍTICA. Nesta edição, é tratada a importância da biometria para os eleitores, que vai agilizar a votação. Fala-se também nas reformas propostas pelo chamado Distritão e que dividiu bancadas e parlamentares. Nesses tempos de fragilidade na ECONOMIA, buscar formas alternativas de gerar renda tem absorvido muitos cearenses. Apostar em nichos específicos como as barbearias, sair do físico para o virtual – como as vendas e-commerce ou empreender em brechós são formas de driblar a crise. A editoria de CULTURA passeia pela tradição do bordado, resgatando a poesia e singeleza do artesanato, ressaltando também a consciência humana de respeito às diversidades étnicas e sexuais. E desprovidos de qualquer preconceito teremos em ESPORTE discussões interessantes acerca da união das torcidas cearenses quando o assunto é política. Mostrando toda a hospitalidade cearense, veremos a boa recepção ao futebol americano e ao wakeboard, reforçando muitos vivas ao paratleta bicampeão mundial em lançamento de dardos. O Papiro está novo de novo. É com muito orgulho que convidamos você para nos conhecer!!!
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Volkorn Black criada por Friedrich Althausen http://vollkorn-typeface.com/
Permian Sans Permian Serif
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criadas por Ilya Ruderman http://permiantypeface.ru/
“Para mim foi a melhor experiência de trabalho prático na Uni7, até agora. Desde a sugestão da pauta, a entrevista aos personagens e a edição na sala de notícias. Foi um caminho trilhado junto entre alunos e professores” Bruno Silva, 4.o semestre Jornalismo
“A experiência do Papiro foi bastante importante pois além de colocar em prática a teoria que aprendemos em sala, tive a noção da importância de apurar e escrever objetivando o compromisso com a informação” Marcela Benevides, 4.o semestre Jornalismo
8 Papiro | 10 de dezembro de 2016
Marketing digital Praticidade e rapidez da divulgação nas redes sociais Lojas virtuais e físicas buscam se atualizar nas formas de se destacar, usando Instagram e Facebook para conquistar a variação de público da Internet REPORTAGEM Camilla Rodrigues | Igor Thawen FOTOS Junior Pinheiro (Acervo Iguatemi) DESIGN Igor Thawen
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os tempos onde “likes”, comentários e compartilhamentos tomaram grande proporção, não há como negar a força das mídias sociais. Além do aumento das lojas virtuais, empresas já atuantes no mercado há anos também perceberam a importância de se manter presentes em plataformas digitais. Uma publicidade produtiva na Internet, hoje, pode ser mais eficiente e econômica que em outros meios. Tudo depende da linguagem que é usada. A marca AJ T-shirts, de Ana Júlia Pereira Cunha, 20, estudante de publicidade, só existe no virtual e já passa dos 19 mil seguidores no Instagram. Ela explica que conquistou esse número seguindo perfis que encontrou a partir de marcações de clientes usando suas camisas, almofadas, canecas e fazendo sorteios em sua conta. A iniciativa de criar a loja, em 2013, veio do seu talento para estampar e criar as estampas exclusivas. Começando com um site, ela percebeu o crescimento das redes sociais e
Temos como aliado a tecnologia, portanto as pessoas estão gostando do que está acontecendo na palma da mão, é automático Francisco Barbosa, 29 A facilidade que a divulgação por essas mídias traz, tem conquistado usuários de empresas ou lojas que vendem produtos e serviços. Uma marca que não se atualiza em rede, não acompanha o mercado. Hoje, o ideal é procurar estar presente no meio online e dar suporte ao cliente, pois a exigência é maior.
O FastFood funciona no Iguatemi e no Shopping Del Paseo
Eles possuem em comum dois aspectos: modelam e cursam jornalismo. Buscam usar da sua imagem para mostrar o que há de tendência no mundo da moda, publicando fotos em que usam coleções de roupas e colocando o nome da loja em destaque com marcações feutas na rede. Ana Lia explica que seu trabalho como modelo fez com que as empresas pedissem que ela compartilhasse o resultado da sessão de fotos na Internet. Já o modelo cita a identificação das lojas
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Economia
JuniOR PAchEcO
REPORTAGEM Camilla Rodrigues & Igor Thawen DiAGRAMAçãO Robson Marques
A marca Aj-tshirts tem parceria com o Ilustrador Flávio Wetten
Para Francisco Barbosa, 29, gerente do Restaurante Buongustaio Fast Food Fortaleza, o lado positivo de usar as redes para divulgar a empresa é a rapidez e a acessibilidade dos aplicativos.“Estando com o smartphone na mão, automaticamente lançamos na rede social alguma oferta e todas as pessoas que conseguem ver, já vão compartilhando; isso é global”, acrescentou. Os benefícios que a web traz para o crescimento e reconhecimento de uma marca são essenciais para quem deseja abrir seu negócio online ou físico. Contudo, a Internet é uma via de mão dupla, e pode trazer visão negativa à marca, pois o cliente passa a tornar-se ativo nesses meios, pela facilidade de retorno e critica que as redes sociais trazem aos consumidores.
O diferencial É comum que a maioria dos negócios, hoje, tenham suas contas no Facebook e Instagram. As duas empresas procuram colocar no mercado produtos e serviços exclusivos que possam diferenciar da concorrência. De acordo com o gerente Francisco Barbosa, o ideal é inovar. “Afinal, em todos os segmentos devemos ter algo atrativo, de boa aparência. Quando a empresa já tem certo crédito no mercado, é necessário aprimorar. Já em relação aos que estão buscando essa credibilidade, acredito que o trabalho seja dobrado, no sentido do marketing digital.” A dificuldade está em trazer novidade para essas páginas, o que pode ocasionar diversos casos de plágio. Ana Júlia explica que já passou por esse desconforto e isso pode
ser resultado da falta de conhecimento sobre os programas de criação dessas espaços virtuais e de cuidado com a ilustração dos produtos.
S E RV I ÇO : AJ T-shirtsw WhatsApp: (85) 99686.6265 www.ajtshirts.com.br Envio para todo o Brasil @ajtshirts Buongustaio Fortaleza DELIVERY Shopping Iguatemi – 2° piso (85) 3241.0676 Shopping Del Paseo – 3° piso (85) 3047.3111 www. buongustaiofortaleza.com.br
com o estilo adotado por ele no perfil, alimentando sempre o Instagram sempre com conteúdo relacionado à moda. A forma adotada por esses jovens influenciadores cearenses de propagar está cada vez mais comum. Quem acompanha as celebridades já presenciou esse estilo de propaganda. De acordo com o portal Pure People, a atriz e modelo Bruna Marquezine , 21, cobra cerca de 30 mil reais para postar uma imagem no Instagram. Lia Malveira passa dos 5 mil seguidores
@buongustaiofastfoodce
30 mil
seguidores é o total de pessoas que Ana Lia e Arthur atraem juntos no Instagram na rede, já o futuro jornalista, Arthur de Moraes, chega à marca de 25 mil internautas que acompanham seu trabalho online.
Ambos veem esse trabalho como algo profissional e acreditam que, com o passar do tempo, essa tendência só cresça. As redes sociais se tornaram um grande e eficaz comércio de comunicação. A Internet, desde o início, trabalhou também com o poder de divulgação e o surgimento das mídias sociais seguiu na mesma direção. Os números de seguidores tendem a crescer cada dia mais, valorizando o perfil de quem trabalha na web com o marketing digital.
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Fortaleza–Ceará • quinta-feira, 9 de novembro de 2017
Lojas virtuais e físicas buscam se atualizar usando Instagram e Facebook para conquistar a variação de público da Internet
Número de seguidores chama atenção de empresas para o negócio O alto alcance de seguidores conquistado por Ana Lia Malveira, 24, e Arthur de Moraes, 21, fez com que empresários visem seus perfis como forma de anunciar marcas e evidenciar produtos. Na divulgação, as postagens seguem o estilo adotado por cada um em sua conta, para que não se torne uma forma agressiva de propaganda. Além da instantaneidade para atingir o público, a web é mais acessível financeiramente e cômoda para quem precisa veicular uma publicidade.
Papiro
Marketing digital
Praticidade e rapidez promovem a divulgação de lojas nas redes sociais
migrou para elas. A estudante trabalha atualmente sozinha e, além dos pontos de entrega na cidade, ainda conta com serviço de envio para todo o país.
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os tempos onde “likes”, comentários e compartilhamentos tomaram grande proporção, não há como negar a força das mídias sociais. Além do aumento das lojas virtuais, empresas já atuantes no mercado há anos também perceberam a importância de se manter presentes em plataformas digitais. Uma publicidade produtiva na Internet, hoje, pode ser mais eficiente e econômica que em outros meios. Tudo depende da linguagem que é usada. A marca AJ T-shirts, de Ana Júlia Pereira Cunha, 20, estudante de publicidade, só existe no virtual e já passa dos 19 mil seguidores no Instagram. Ela explica que conquistou esse número seguindo perfis que encontrou a partir de marcações de clientes usando suas camisas, almofadas, canecas e fazendo sorteios em sua conta. A iniciativa de criar a loja, em 2013, veio do seu talento para estampar e criar as estampas exclusivas. Começando com um site, ela percebeu o crescimento das redes sociais e migrou para elas. A estudante trabalha atualmente sozinha e, além dos pontos de entrega na cidade, ainda conta com serviço de envio para todo o país. A facilidade que a divulgação por essas mídias traz, tem conquistado usuários de empresas ou lojas que vendem produtos e serviços. Uma marca que não se atualiza em rede, não acompanha o mercado. Hoje, o ideal é procurar estar presente no meio online e dar suporte ao cliente, pois a exigência é maior. Para Francisco Barbosa, 29, gerente do Restaurante Buongustaio Fast Food Fortaleza, o lado positivo de usar as redes para divulgar a empresa é a rapidez e a acessibilidade dos aplicativos.“Estando com o smartphone na mão, automaticamente lançamos na rede social alguma oferta e todas as pessoas que conseguem ver, já vão compartilhando; isso é global”, acrescentou. Os benefícios que a web traz para o crescimento e reconhecimento de uma marca são essenciais para quem deseja abrir seu negócio online ou físico. Contudo, a Internet é uma via de mão dupla, e pode trazer visão negativa à marca, pois o cliente passa a tornar-se ativo nesses meios, pela facilidade de retorno e critica que as redes sociais trazem aos consumidores.
O diferencial É comum que a maioria dos negócios, hoje, tenham suas contas no Facebook e Instagram. As duas empresas procuram colocar no mercado produtos e serviços exclusivos que possam diferenciar da concorrência. De acordo com o gerente Francisco Barbosa, o ideal é
inovar. “Afinal, em todos os segmentos devemos ter algo atrativo, de boa aparência. Quando a empresa já tem certo crédito no mercado, é necessário aprimorar. Já em relação aos que estão buscando essa credibilidade, acredito que o trabalho seja dobrado, no sentido do marketing digital.”
“Temos como aliado a tecnologia, portanto as pessoas estão gostando do que está acontecendo na palma da mão, é automático” Francisco Barbosa, 29 A dificuldade está em trazer novidade para essas páginas, o que pode ocasionar casos de plágio. Ana Júlia explica que já passou por esse desconforto e isso pode ser resultado do desconhecimento sobre os programas de criação desses espaços e de cuidado com a ilustração dos produtos.
SERVIÇO: AJ T-shirtsw W (85) 99686.6265 www.ajtshirts.com.br Envio para todo o Brasil I @ajtshirts Buongustaio Fortaleza DELiVERY Shopping Iguatemi – 2° piso (85) 3241.0676 Shopping Del Paseo – 3° piso (85) 3047.3111 www. buongustaiofortaleza.com.br I @buongustaiofastfoodce
A marca Aj-tshirts tem parceria com o Ilustrador Flávio Wetten
Número de seguidores nas redes sociais chama atenção de empresas para o negócio O alto alcance de seguidores conquistado por Ana Lia Malveira, 24, e Arthur de Moraes, 21, fez com que empresários visem seus perfis como forma de anunciar marcas e evidenciar produtos. Na divulgação, as postagens seguem o estilo adotado por cada um em sua conta, para que não se torne uma forma agressiva de propaganda. Além da instantaneidade para atingir o público, a web é mais acessível financeiramente e cômoda para quem
precisa veicular uma publicidade para um público segmentado.. Eles possuem em comum dois aspectos: modelam e cursam jornalismo. Buscam usar da sua imagem para mostrar o que há de tendência no mundo da moda, publicando fotos em que usam coleções de roupas e colocando o nome da loja em destaque com marcações feutas na rede. Ana Lia explica que seu trabalho como modelo fez com que as empresas pedissem que ela com-
30 mil
seguidores é o total de pessoas que Ana Lia e Arthur atraem juntos no Instagram partilhasse o resultado da sessão de fotos na Internet. Já o modelo cita a identificação das lojas com o estilo
adotado por ele no perfil, alimentando sempre o Instagram sempre com conteúdo relacionado à moda. A forma adotada por esses jovens influenciadores cearenses de propagar está cada vez mais comum. Quem acompanha as celebridades já presenciou esse estilo de propaganda. De acordo com o portal Pure People, a atriz e modelo Bruna Marquezine , 21, cobra cerca de 30 mil reais para postar uma imagem no Instagram.
Um jornal laboratório, como o Papiro, deve ser uma experiência pedagógica. Foi essa a ideia que nos norteou ao pensar o novo projeto gráfico. A Sala de Notícias, o dia em que os alunos de Projeto Integrado em Jornalismo Impresso e Design Editorial se juntam para montar o Papiro, sempre me pareceu um dos momentos mais interessantes para que os alunos tenham contato, guardadas as devidas proporções, com o modo como é feito um jornal. Então o produto final teria que parecer um jornal. E um ótimo jornal. Assim apresentamos uma nova identidade para a capa do Papiro com novo logotipo e padrão cromático ❶. Resolvemos identificar as editorias, com cabeçalhos e cores próprias ❷. Escolhemos novas tipografias para os textos, títulos, legendas, etc ❸, com tamanho adequado para uma página de jornnal. Os títulos das matérias ganharam mais destaque e a hierarquia dos textos mais clara ❹. Tudo isso para gerar uma melhor experiência para todos os alunos que produzem o Papiro e, consequentemente, para seus leitores. Aproveitem! Prof. Humberto Alves de Araújo I @humbertodearaujo
Reitor Ednilton Soárez | Vice-Reitor Ednilo Soárez | Pró-Reitor Acadêmico Adelmir Jucá | Pró-Reitor Administrativo Henrique Soárez Coordenador do curso de Jornalismo Dilson Alexandre | Coordenadora do curso de Design Nila Bandeira | Editora Chefe Ana Márcia Diógenes Projeto Gráfico Humberto Araújo | Direção de Arte Diego Henrique e Lima Junior | Editor do Núcleo de Design Editorial Humberto Araújo | Estagiários do Núcleo de Design Editorial Wesley Galdino, Thyago Diniz e Robson Marques | Editorial Ana Cláudia Lemos | Colaboraram nesta edição: [Texto] Alexia Marinho, Ana Cláudia Lemos, Bruno Silva, David Moura, Gerliane Viana, Iara Costa, Iago Monteiro, Janaína Ramos, Jeane Chaves, Léo Costa, Lisandra Sousa, Lya Cardoso, Marcela Benevides, Mirla Nobre, Pedro Saraiva, Rodrigo Garcia, Talita Chaves, Victoria Martha, Virna Magalhães [Diagramação] Aloísio Fábio, André Nogueira, Dayana Evan's, Elioenai Naftali, Ermeson Santiago, Gerliane Viana, Gerson Barbosa, Joana Kelli, Lya Cardoso, Matheus Castro, Pedro Saraiva, Robson Marques, Thyago Diniz, Vitória Yngrid, Wesley Galdino.
Papiro
Fortaleza–Ceará • sexta-feira, 1.° de novembro de 2017
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Metrópole
Saúde
Ceará está entre os estados escolhidos para projeto piloto da pílula anti-HIV
Com distribuição aprovada em maio, medicamento deverá estar disponível gratuitamente para os grupos sensíveis à infecção em dezembro deste ano: 7 mil kits serão distribuídos
REPORTAGEM Léo Costa Diagramação Thyago Diniz
Lucas Mota
F
ortaleza está entre as 12 capitais escolhidas para a primeira fase de distribuição da profilaxia pré-exposição (PrEP), medicação que entrará no plano de estratégias nacionais contra a infecção pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). No primeiro ano serão distribuídos sete mil kits destinados a grupos sensíveis, como casais soro diferentes e profissionais do sexo. Além da PrEP, em 2017 foi adotada também a comercialização do teste de farmácias para HIV. Como todo o repertório de medicamentos destinados à prevenção e tratamento do HIV e Aids, a distribuição será gratuita. No Estado do Ceará, os casos de HIV e Aids demonstram estabilidade, mas ainda são recorrentes. De acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado em 8 de julho do ano passado, pela Secretaria de Saúde do Ceará, em 2016 foram notificados 460 casos de infecção, sendo 202 deles de Aids (Síndrome da imunodeficiência adquirida) e 258 de HIV. Em comparação a anos anteriores, o Estado tem apresentado baixo declínio no número de casos. Apesar dos dados gerais serem positivos, 23 munícipios cearenses têm apresentado aumento gradativo da infecção na população feminina, o que sugere a feminização da Aids nesses locais. Segundo Marcos Paiva, coordenador da Área Técnica de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Saúde do Município, o número de infecções tem crescido por fatores como a vulnerabilidade dos grupos sensíveis e descuido da população em geral. “É preciso compreender que não apenas as mulheres apresentam esse padrão de crescimento, mas todas as populações que apresentam algum
Segundo as autoridades, o projeto piloto será destribuído em 12 cidades brasileiras. Medicamento é usado por 150 mil pessoas no mundo tipo de vulnerabilidade acrescida, tais como: jovens, mulheres, idosos, entre outros”.
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munícipios cearenses apresentam aumento de infecção em mulheres Ele acrescenta que “Se analisarmos os dados nacionais, veremos que hoje há uma tendência maior de crescimento entre jovens gays, não pelo fato de serem gays (o que levaria ao conceito de grupo de
risco há muito abolido), mas pelo fato de terem várias vulnerabilidades acrescidas, além de estarem vivenciando uma época em que o diagnóstico da infecção pelo HIV não é mais uma sentença de morte, o que leva a um certo relaxamento em relação à prevenção”. Junto à adoção da PrEP, o governo, tanto em nível municipal como estadual, tem priorizado o diagnóstico precoce ao realizar campanhas de conscientização e testagem. Até o final do semestre, a Secretaria de Saúde do Município estará em fase de finalização do material informativo que será distribuído em unidades de saúde do Município e nas atividades de diagnóstico precoce, realizadas mensalmente em pontos específicos.
Em comparação a anos anteriores, o Estado tem apresentado baixo declínio no número de casos Em nível estadual, a Secretaria planeja encerrar as atividades anuais com a realização de quatro campanhas, sendo a última em 1o de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Atualmente o tratamento em Fortaleza se dá através de uma rede de Serviços Ambulatoriais Especializados em HIV/Aids (SAE), para as pessoas diagnostica-
das com HIV/Aids, que conta com sete serviços municipais, e dois em parceria com universidades privadas do município.
SERVIÇO Sede do GRAB Rua K (Ipê Amarelo), 1022 – Itaperi www.grab.org.br/new/ Casa Sol Nascente Av. Alberto Craveiro, 2222, Boa Vista F casasolnascenteceara
Refúgios na cidade para alcançar aqueles que precisam Apesar do trabalho massivo do governo na prevenção e tratamento do HIV e Aids, grande parte da população precisa de auxílios ainda maiores, como moradia e alimentação. Buscando prover essas pessoas, lugares como o Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB) e Casa de Apoio Sol Nascente são fundamentais para a sobrevivência de muitos. O GR AB foi fundado em Fortaleza em 1989. Desde então tem trabalhado massivamente para a melhoria da qualidade de vida da população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) e também de pessoas que convivem com HIV e Aids. Dentre as diversas tarefas realizadas pelo Grupo, estão a de diagnóstico/tratamento e conscientização através
acervo c a sa sol na scente
A intituição trabalha com crianças com HIV e órfãos em decorrência da Aids de projetos como a “Prevenção, Testagem e Solidariedade” e “Formadores de Opinião Popular – FOP”. O GRAB está presente também em movimentos ativistas, lutando assim por direitos da população LGBT.
Atualmente o Grupo é mantido via editais de seleção pública e doações. A Casa Sol Nascente foi fundada em Fortaleza no ano de 2001, sendo inicialmente um espaço voltado exclusivamente para adultos con-
“Um dos itens que mais precisamos é material de limpeza, tais como, água sanitária, sabão em pó, detergente etc” Lidiane de Moura, 29
Atualmente a Casa tem 17 acolhidos, mas a capacidade é para 18. Mantida por doações, uma das maiores dificuldades da instituição é a de obtenção de materiais de limpeza. “Um dos itens que mais precisamos é material como água sanitária, sabão em pó, detergente etc. Esses itens não costumamos receber como doação”, ressalta Lidiane de Moura, Coordenadora Administrativo Fivivendo com HIV e Aids. Em 2002, nanceiro da Casa Sol Nascente. a direção da Casa acolheu também O trabalho de grupos como a crianças infectadas ou órfãos em GRAB e a Casa Sol Nascente tem audecorrência da Aids.Em 2016, a taxa xiliado diretamente a vida de pesde infectados com menos de 5 anos soas sem suporte do poder público. A foi de 0,3 casos por 100 mil habi- atuação de projetos como esses, nem tantes no Ceará, segundo Boletim sempre reconhecidos, enfrenta diaEpidemiológico divulgado em 8 de riamente dificuldades que tendem julho do ano passado, pela Secreta- a se agravar com a atual situação ria de Saúde do Ceará. política e econômica do país.
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Metrópole
Fortaleza–Ceará • sexta-feira, 1.° de novembro de 2017
Papiro
Saúde
Falta de material para medir insulina causa prejuízos a diabéticos no Ceará
Paciente relata sua rotina diária em busca de informações sobre distribuição de remédios para controlar diabetes, e como essa situação interfere no seu bem-estar físico e psicológico Reportagem: David Moura Diagramação Matheus Castro
P
acientes com diabetes, em Fortaleza, reclamam da falta de medicamentos e insulina no Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão, do Governo do Estado, localizado no bairro Aldeota. A principal queixa é a falta de regularidade na distribuição dos remédios que os portadores precisam receber diariamente para realizar exames. Eles chegam a ficar dias, e até meses, sem receber o material necessário, prejudicando o tratamento da doença. O estudante André Cavalcante, 26, relata que, semanalmente, liga para o Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão e a pergunta é quase sempre a mesma: sobre a previsão para a chegada dos medicamentos. “A falta de informações é horrível. O pior é quando perguntamos sobre a falta dos medicamentos e os funcionários não sabem responder”, relata. A ausência de informações prejudica também o equilíbrio emocional do paciente. “A pior parte é o estresse, porque preciso ficar atrás de quem tem a resposta e ninguém consegue me direcionar para quem a possui. Faz três meses que eu procuro a insulina de caneta no Centro de Diabetes, que são as análogas, e eles dizem que não têm a previsão. Então quem vai saber?”, pergunta. André destaca que seu estado de saúde tem sido muito prejudicado. “Mesmo que eu passe um período muito curto sem tomar os medicamentos, pode ser significativo, devido ao fato de, no meu caso, apresentar uma hipoglicemia séria, podendo chegar ao estado de coma”, observa ele, acrescentando que, somado a isso, a falta de fitas pode deixá-lo sem fazer a medição da glicemia e, não sabendo o nível de glicose, acaba tomando uma superdose de insulina e depois fica com hipoglicemia. “Já passei três meses sem poder medir a glicemia. E se isso vira uma rotina? Com o tempo posso vir a acumular danos em alguns órgãos, como meus olhos, que evoluem para quadros mais graves como a Retinopatia diabética. Isso afetaria seriamente a minha saúde”, reclama.
“A pior parte é o estresse, porque preciso ficar atrás de quem tem a resposta" André, 26 Ele acha que o Estado deveria incentivar a prevenção por meio do uso correto e racional da medicação, e evitar os agravos à condição de saúde de seus pacientes. “Mesmo se eu for atrás do Estado por conta desse tipo de acontecimento, para
André cavalcante
que ele se responsabilize pelo problema, eu posso já ter perdido um olho, ou um dedo, ou uma perna, por exemplo. Para mim, essas já seriam perdas irreparáveis e nada haveria que o Estado pudesse fazer para reparar, o que aumenta a minha preocupação”, afirma. Outro problema causado pela falta de medicamentos, que preocupa André, é o medo de entrar em coma. “A minha médica informou que se eu não morasse com a minha mãe, já teria entrado em estado de coma várias vezes, devido aos episódios de hipoglicemia durante a madrugada, o que também pode acontecer a qualquer hora do dia. Isso me causa uma insegurança”, confessa o paciente. Suzana de Araújo Mont'Alverne, Assessora de Imprensa do - Lacen/ CIDH / IPC, por meio do contato telefônico, disse que quaisquer informações sobre a falta de medicamentos ficam a cargo da Secretaria de Saúde do Estado. A reportagem tentou contato, mas não obteve resposta, repetindo o mesmo desafio que André vive nos últimos meses.
“A minha médica informou que se eu não morasse com a minha mãe, já teria entrado em estado de coma várias vezes” André, 26
O paciente André Moura mostra os medicamentos e insulinas que necessita tomar diariamente
Diferença entre remédios está na variedade das insulinas ofertadas
“Já mandei vários e-mails, tenho Os remédios fornecidos pela rede números de protocolos por meio da pública de saúde têm qualidade Ouvidoria do Estado. Em um e-mail igual aos de farmácia. O próprio para o Centro de Diabetes relatei André informa que a farmácia que não quero prejudicar ninguém, vende o mesmo que o Centro de mas acho útil para pacientes e fun- Diabetes. A diferença é que as farcionários irem todos atrás de res- mácias têm uma variedade maior posta, reclamarem com o poder do que os remédios fornecidos pela público. Isso é omissão. Prejudica rede pública, que se restringe a dois os dois lados”, declara o paciente. tipos de insulina, a NPH e a regular. André conta com o apoio de seus “Na farmácia tem as chamadas insufamiliares e amigos para ajudar nas linas análogas, que apresentam uma compras de comidas e medicamen- melhor absorção pelo organismo, tos. Ele também usa em sua mochila têm menor risco de causar hipoglium tipo de chaveiro com a identifi- cemia e ajudam a controlar os picos cação que tem diabetes, caso surja de glicemia”, explica o estudante. alguma emergência. Ele destaca que a questão é que a De acordo com o site da Secretaria rede pública passou a oferecer alde Saúde do Ceará, o Centro Inte- guns análogos, tanto pelo fato de grado de Diabetes e Hipertensão é algumas pessoas terem entrado com mencionado como ideal no acolhi- um processo na justiça exigindo o mento a esses pacientes. Ultima- fornecimento da medicação por mente, a unidade de saúde recebe parte do Estado devido ser real29.111 pessoas, que têm uma ou as mente muito cara, “quanto pela duas doenças. Nos consultórios opinião de alguns médicos, que dos nutricionistas do Centro são aconselhavam o uso dessas análoatendidos os doentes que, durante gas, por apresentarem um melhor a consulta médica, têm dúvidas em desempenho e serem facilmente relação à alimentação, sobre quais encontradas”. Quando André não alimentos são apropriados para consegue o medicamento pelo Escomer e o intervalo entre uma re- tado, recorre à ajuda de seus famifeição e outra. Por mês, os nutri- liares para comprar os medicamencionistas realizam em média 370 tos. O que não é fácil, pois o valor atendimentos aos diabéticos. é elevado. “Eu preciso comprar o
André cavalcante
Kit de remédios distribuidos pelo Centro de Diabetes material nas farmácias e o custo é bem alto, cerca de R$ 500 por mês. Agora imagine uma pessoa de baixa renda que tem essa doença. Custa mais do que aluguel de uma casa. É difícil ter uma boa alimentação, fazer exercícios regulamente e ter de arcar com todo esse custo para manter minhas taxas controladas”, reconhece. As fitas que estão faltando para teste glicêmico são essenciais para os portadores de diabetes mellitus tipo 1, como é o caso do André, pois é com elas que medem a glicemia. Com esse índice, é possível calcular a quantidade de
insulina a se aplicar para controlar a doença. E em hipótese nenhuma se pode reutilizar essa fita, porque ela deve ser totalmente descartada depois do uso.
SERVIÇO Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão Rua Silva Paulet, 2406, Dionísio Torres, Fortaleza - CE, 60120-021 T (85) 3101-1532
Papiro
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Metrópole
Fortaleza–Ceará • sexta-feira, 1.° de novembro de 2017
Despedida
O sentimento de mães que enfrentam a dor do seu primeiro dia de finados
B r u n o Si lva
Um pensamento que não passa pela cabeça de nenhuma mulher: enterrar um filho. O assunto é delicado até em família. Ninguém quer sepultar amigos, conhecidos e muito menos familiares Repórter: Bruno Silva DIagramador: Wesley Galdino
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data de 2 de novembro marca a despedida dos que faleceram. Famílias vão ao cemitério prestar homenagens e buscar conforto emocional ao visitar o local em que seus parentes estão enterrados. Várias histórias se entrelaçam com essa data, afinal sempre alguém já teve que enterrar um parente ou amigo. Mas a despedida se torna ainda mais pesarosa quando se trata de mulheres que perderam seus primeiros filhos quando eles ainda eram bebês. Bruna Pereira, 26, moradora no bairro Dom Lustosa é uma dessas mães. O sonho materno sempre esteve em seus pensamentos. Aos 24 anos, engravidou do primeiro filho, que nasceu no dia 20 de agosto de 2016. Era um menino, chamado Maison Levy. Tudo estava conforme os planos, até que a mãe o levou para um exame, pois percebia algumas reações estranhas. Escolheu para o atendimento o Hospital Infantil Albert Sabin. Maison tinha dois meses e meio. Os exames não demoraram e o bebê foi diagnosticado com problemas cardíacos. Quando Maison estava com 5 meses não resistiu ao tratamento e veio a óbito no dia 30 de janeiro, por choque séptico, conhecido também por infecção generalizada. A morte foi causada pelo constante uso de medicamentos e a exposição a bactérias do meio hospitalar. O grande erro, segundo a mãe, foi não atestar o problema cardíaco ainda na gestação. “Para mim, o sentimento foi de extrema tristeza. A
descoberta da gravidez foi um momento ímpar na minha vida. Começaram ali os planos: o primeiro aniversário, o primeiro dentinho, o primeiro dia de aula. Ver meu filho partir foi como perder o chão, ver o mundo desabar. ’’ Mesmo com toda a tristeza, Bruna diz agradecer a Deus pelos momentos vividos ao lado de seu filho. Para ela, a família foi um alicerce essencial que lhe ajudou e ajuda a suportar a perda. Fez questão de deixar claro que jamais o esquecerá e que, mesmo com toda a tristeza do dia 2 de novembro, estará sempre lá para prestar homenagens a ele.
“Ver meu filho partir foi como perder o chão, ver o mundo desababar.’’ Bruna Pereira, 26 Prematuro Inaê Oliveira, 17, é outra mãe que terá de visitar, dia 2 de novembro, o túmulo do filho. Aos 16 anos, a jovem, moradora de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, viu sua gravidez do primeiro filho ir de sonho a pesadelo antes mesmo dos nove meses de gestação. Tudo corria bem até os seis meses, quando o bebê, que seria chamado de Ibraimovic, nasceu. Foi muito rápido. Um nascimento prematuro sempre traz medo a uma família. Mesmo com o avanço da medicina e dos aparelhos que mantém os recém-nascidos vivos, a angústia ainda persiste. Inaê começou a sentir dores e foi preciso buscar socorro médico. A inexperiência da
Bruna preparou homenagem para colocar, dia 2, no túmulo do filho primeira gestação elevou o medo. Ao dar entrada na maternidade Jesus, Maria, José, em Quixadá, a mãe viu seu filho nascer antes do tempo cronológico de uma gravidez. O parto foi bem sucedido e a criança estava viva e respirando,
mas o alívio não durou muito tempo. Dois dias, esse foi o tempo do bebê vivo. Em uma quinta-feira, dia 2 de fevereiro, ela viu seu filho falecer. O funeral, assim como do filho de Bruna, foi simples. Para Inaê, a dor de perder o primeiro filho está
sendo um pouco amenizada porque descobriu, no mês de agosto, que está esperando outro bebê. “Me sinto um pouco confortada, mas nunca vou esquecer meu primeiro filho que chegou e saiu tão precocemente da minha vida.’’
Números mostram redução da mortalidade infantil B r u n o Si lva
O atestado de óbito do seu filho é uma dura realidade para Inaê
Os óbitos maternos e infantis no estado apresentaram, em 2015, pelo segundo ano consecutivo, uma considerável queda. A porcentagem de morte para cada 100 mil nascidos passou de 65,2 % em 2014, para 53,7% em 2015. Pesquisa realizada em 2016, e divulgada em agosto do mesmo ano, pela Secretaria de Saúde do Estado, por meio do boletim epidemiológico, mostrou que em 2015 o Ceará apresentou as menores taxas históricas para as mortes neonatais (sem 1 mês completo de vida), infantis (até 1 ano) e os óbitos fetais (falecidos ainda na barriga da mãe).
53,7%
foi a porcentagem de óbitos para cada 100 mil habitantes em 2015 Segundo o boletim, a diminuição é fruto do estudo realizado com apoio do Ministério da Saúde que, em 2006, passou a checar prontuários e a entrevistar famílias que perderam seus filhos sem causas
básicas definidas, por meio da Rede Cegonha. A Rede é um programa do governo federal, que busca acompanhar as mulheres desde o pré-natal até o nascimento.
SERVIÇO: Rede Cegonha: http://dab.saude.gov.br/ portaldab/ape_redecegonha.php Ministérios da Saúde T 136
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Vencendo limites
O difícil esforço de convivência com a fobia ou o desafio de superação
Ter receio de coisas ou situações tanto pode ser normal quanto patológico, dependendo da intensidade e das circunstâncias de sua manifestação em cada pessoa. E você, tem medo de quê? REPORTAGEM Ana Cláudia Lemos diagramação Wesley Galdino
Ana Cl áudia lemos
M
edo é coisa séria e, em muitos casos passa a ser patológico, merecendo atenção médica. De acordo com o psiquiatra Francisco Cavalcante Vale, 75, o medo é um sentimento geral, compartilhado por todos em maior ou menor grau e independe de sexo, idade, cor, classe social ou profissão. Ele afirma que é natural sentir medo de real situação, perigo ou ameaça. O medo é útil e necessário para que a pessoa se acautele e se proteja, lutando pela segurança ou sobrevivência. A ausência total de medo deixaria o homem sem noção dos próprios limites e dos perigos inerentes à vida. O psiquiatra diz que as manifestações do medo patológico – as fobias - variam, mas podem apresentar sintomas físicos, que vão desde a sensação de estar tenso e sem concentração, até calafrios, suor excessivo, insônia, incontinência urinária, palpitações, dentre outros. Quando esses fatores passam a interferir no fluxo normal de vida da pessoa, a ponto de estabelecer limites ou impedir que avance pessoal ou profissionalmente, o que ela não pode ter é medo de pedir ajuda. Todo medo é passível de tratamento, que pode ser realizado por psicoterapia ou, em casos mais extremos, com medicamentos. Há quem encare o medo como uma brincadeira. É o caso do Halloween (Dia das Bruxas), comemorado em 31 de outubro, nos Estados Uni-
“Decidi que acabaria com o medo, com tratamento de choque e me matriculei em um curso de paraquedismo” Chico Costa, 48
No Halloween, as lojas ofertam itens temáticos de decoração que ressaltam o medo dos e Inglaterra principalmente. O evento também é realizado em menor intensidade em outras localidades, inclusive no Brasil. No período que antecede a festa, as lojas ofertam itens para decoração e fantasias temáticas. Dentre as atividades e brincadeiras que são realizadas no dia há festas com assombrações e culto aos mortos, tudo tendo como máxima a exploração do medo e o desejo de assustar as pessoas.
Força de vontade Brincadeiras à parte, com muita disciplina é pos-
sível superar o medo e reverter a situação. Quem afirma é o gerente de Tecnologia da Informação (T.I.) Chico Costa, 48. Aos 7 anos de idade, em São Paulo, Costa presenciou o trágico incêndio no Edifício Joelma, que matou 191 pessoas e deixou centenas de feridos. Acompanhando o seu pai que visitava um amigo no prédio vizinho, Costa viu situações de pânico e terror, que desencadearam nele o medo de altura. Viajar de avião, ficar na varanda de um prédio ou utilizar um elevador panorâmico eram atividades que ele não realizava.
Nem sempre facilmente decifrável, todo medo tem nome específico Baseado em estudos que ainda carecem de aprofundamento, o psiquiatra Francisco Cavalcante Vale diz que algumas fobias podem ser memórias transmitidas geneticamente. A partir de experimentos com pequenos roedores, cientistas defendem que situações que causem trauma podem provocar alterações no cérebro e modificações genéticas do DNA. Desse modo, o medo é gerado a partir da vivência de algum antepassado. Pode ser este o caso da cabeleireira Ariadne Oliveira, 28, que tem medo de palhaço. Segundo ela, não há explicação para o desenvolvimento da aversão à figura infantil e até ingênua do palhaço, mas as suas reações de choro, gritos e soluços, segundo relata a sua família e as comprovações com fotos e vídeo, remontam ao seu aniversário de 1 ano. O tema da festa era circo e a mãe contratou 2 palhaços para fazer a animação. Mas toda vez que Ariadne via os animadores, chorava. Este medo ela trouxe para a vida adulta. Ir a circos, shows de humor
em dias alternados, não conseguiu saltar. Na terceira tentativa, mesmo com o descrédito dos companheiros, saltou e passou a fazê-lo de forma constante. Hoje é praticante de vôo livre – parapente, e incentiva os amigos a buscarem o prazer de voar.
Ana Cl áudia lemos
Ariadne tem medo de palhaço ou a qualquer evento que possa trazer à lembrança a figura do palhaço é algo que causa desconforto e que ela evita. Até reunião no trabalho que tem alguma dinâmica voltada para o hu-
“Não há explicação para o desenvolvimento da aversão à figura infantil e até ingênua do palhaço” Ariadne, 28
mor, para o lúdico, me traz algum desconforto, afirma Ariadne. No decorrer do tempo os medos e fobias vêm recebendo nomenclaturas. Algumas não são facilmente decifráveis à primeira vista; outras são diferentes e fogem da linguagem do cotidiano. O medo de palhaço, cientificamente conhecido como coulrofobia, também pode originar-se da dificuldade infantil de compreender as expressões de pessoas maquiadas, como é o caso do personagem, diz Vale. As crianças não conseguem decifrar o que é real e o que é fantasia, ocasionando o medo ao que foge ao padrão.
Aos 24 anos, começou a ser pressionado no trabalho, uma vez que, dada a constante necessidade de deslocamento interestadual, gastava tempo demasiado com viagens terrestres, quando poderia, de forma mais rápida, utilizar a viagem aérea. “Decidi que acabaria com o medo definitivamente, do meu jeito, com tratamento de choque, e me matriculei em um curso de paraquedismo”, disse o gestor. Ele realizou o módulo teórico, mas para o módulo prático, o medo falou mais alto. Nas duas primeiras tentativas,
E existem as pessoas que têm medo de sentir medo, por saber da desproporção entre a sua reação e a situação real, mesmo que esse medo tenha sido desencadeado por situações específicas. Na infância, por exemplo, se uma criança é submetida a algum trauma, ela adquire bloqueios. No exercício de sua profissão, a palestrante e consultora de empresas Flávia Chagas, 44, já chegou a pular muro e janela para deixar o mesmo espaço em que aves se encontravam. Quando tinha 5 anos, brincando em casa com um pintinho que ganhara em uma feira de animais, ele a bicou no pé. A partir daí o medo inexplicável de qualquer animal que tenha penas a acompanha.
NOME DA S FOBIA S
OBJE TO D O MED O
Acrofobia
Altura
Batofobia
Ficar fechado em edifícios altos
Coulrofobia
Palhaços
Dorafobia
Pele ou pelo de animais
Ergofobia
Trabalho
Filofobia
Fazer amigos
Gamofobia
Casamento
Harpaxofobia
Assaltantes
Ictiofobia
Peixes
Lactifobia
Leite
Microfobia
Pequenos objetos
Neofobia
Inovaçoes
Ornitofobia
Aves
Pedofobia
Crianças
Querofobia
Alegria
Tafofobia
Ser enterrado vivo
Uiofobia
Filhos
Xenofobia
Pessoas e coisas estrangeiras
Zoofobia
Animais em geral
Fonte: http://www.atlasdasaude.pt/lista-de-fobias
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Transporte feminino
Cearenses lançam o Divas For inspiradas no aplicativo Lady Driver
Novidade no mercado promete despontar por garantir uma maior segurança e tranquilidade, já que tanto as motoristas como as passageiras devem ser exclusivamente mulheres Reportagem: Alexia Marinho diagramação Robson Marques
O
aplicativo pioneiro Lady Driver – sistema de transporte em carros exclusivo para mulheres - foi criado em São Paulo, em março deste ano. Por conta da empatia gerada, teve repercussão internacional e acabou influenciando outros estados. Em julho, idealizado por três mulheres, o Divas For foi lançado em Fortaleza. No seu primeiro mês de funcionamento, a frota já contava com 78 carros e 1,2 mil clientes cadastradas. O receio de serem abordadas de forma inconveniente ou até mesmo grosseira, de sofrerem assédio ou piadinhas de mau gosto faz com que muitas mulheres se sintam inseguras ao pegar transportes como táxi ou Uber, já que a maioria dos motoristas são homens. Por isso, a ideia dos aplicativos femininos está se expandindo cada vez mais. De acordo com a motorista do novo aplicativo, Danielly Guilherme, a plataforma acabou também servindo para a valorização do trabalho das motoristas mulheres, que não eram "vistas" por serem minoria. “Além da luta contra o assédio, a criação desses aplicativos é um sinal do quanto as mulheres estão se empoderando, se impondo e quebrando barreiras”, declara. Para Danielly, o app surpreende mais pela proteção com as motoristas do que com as passageiras. "Muitas vezes esquecem que nós motoristas também corremos riscos da mesma forma. A gente nunca sabe a pessoa que está do outro lado. No Uber mesmo é priorizado mais a proteção do passageiro do que a do motorista. Achei esse o grande diferencial do Divas For", afirma. Segundo Danielly, a quantidade de passageiras que já foram assediadas não é pouca e é mais comum do que se
Alexia Marinho
imagina. Ela diz que costuma "sempre conversar com as minhas clientes, e posso dizer que metade delas já sofreu algum tipo de assédio, e a outra metade teme o que escuta falar". Danielly também se diz confiante com o novo negócio e pretende futuramente dirigir apenas para o Divas For. "Também sou motorista do Uber, e só não me desvinculei totalmente porque o Divas está no começo e ainda existe uma certa resistência. Mas o aplicativo tem tudo pra crescer, pois além da segurança que proporciona, diferente das taxas de 25% que o Uber cobra por corrida, o Divas cobra só uma taxa mensal de R$200", justifica.
Feedback A usuária Kamila Mariano diz que confia no recurso de olhos fechados para buscar e deixar seus filhos em vários locais, mesmo não estando presente. "Até surgir esse aplicativo eu tinha bastante cautela com os outros tipos de serviços, pois meus filhos são os meus
“Posso dizer que metade delas já sofreu algum tipo de assédio, e a outra metade teme pelo que escuta falar” Danielly, 38 tesouros e tinha bastante receio de acontecer algo com eles. Hoje, quando estou ocupada e não posso sair, peço sem medo", relembra. Kamila ainda completa dizendo que não é a única a fazer isso. Dona de um salão de beleza e de um espaço para bronzeamento, ela costuma indicar o serviço para suas clientes, e muitas das que são mães seguiram a dica. "Acho que, assim como eu, elas se sentem tranquilas em saber
A motorista Danielly Guilherme e a usuária Marcela antes de darem início a uma corrida que seus filhos estão acompanhados de uma mulher que, possivelmente, também é mãe", resume. Apesar dos elogios, também existem críticas feitas em relação ao app. As usuárias dos celulares iphones questionam porque o aplicativo só está disponível no momento para o sistema operacional Android, mesmo elas podendo solicitar o serviço via WhatsApp ou ligação. Há também usuárias que apontam dificuldades na hora de se cadastrar e certa demora das motoristas chegarem, quando comparado ao Uber.
“Elas se sentem tranquilas em saber que seus filhos estão acompanhados de uma mulher” Kamila Mariana, 32
O atendimento também é um ponto primordial do programa. Muitos consideram que as motoristas mulheres são mais atenciosas e cuidadosas, principalmente quando se trata de crianças e idosos. Maria Edênia, 73, diz se sentir mais à vontade na companhia de uma motorista mulher. "Quando a motorista é mulher eu percebo que ela é mais paciente na hora de me esperar quando preciso parar e descer em algum canto. Algumas até se oferecem para me acompanhar e abrem a porta. Elas são mais delicadas. Também gosto muito de conversar, e me sinto mais confortável", explica.
mínimo de cada viagem é de R$ 6,75. Os carros também têm suas especificidades, assim como no Uber. Devem ter data de fabricação acima de 2008, possuir quatro portas e ar-condicionado. Os dois aplicativos exigem o antecedente criminal dos motoristas. O aplicativo não impede totalmente o embarque de passageiro homem, desde que ele seja o acompanhante de uma mulher, e não o cadastrado. Já quando o passageiro é considerado criança, ele não precisa necessariamente estar acompanhado de uma passageira mulher.
Similar ao Uber As configurações e os valores das corridas são o que o Uber e o Divas For têm em comum. Cada quilômetro custa R$ 1,20 e o minuto é R$ 0,15. Já a tarifa base sai no valor de R$ 2,50 e o preço
SERVIÇO: Divas For aceita cartões de crédito e débito/dinheiro T (85) 99929 5254
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Memória
20 anos da ponte da Barra do Ceará: uma história para além do trânsito
Construída com o intuito de mobilidade e integração com o município de Caucaia, a estrutura até hoje causa impactos nos moradores e frequentadores do mais antigo bairro de Fortaleza d avi c o s ta m e n e z e s
REPORTAGEM: Lya Cardoso Diagramação: Lya Cardoso
É
sobre o rio Ceará que está localizada a ponte José Martins Rodrigues, ou como é intitulada, da Barra do Ceará, com seus 633,75 metros de extensão e 20,2 de altura. A ponte liga Fortaleza a Caucaia e tem um dos visuais mais belos da cidade. Em outubro, a ponte completou 20 anos desde a finalização de sua construção. E mesmo duas décadas após sua implantação, ainda divide a opinião de moradores e frequentadores. Muito além dos concretos de suas pilastras, a ponte possui histórias que quem passa sobre ela, todos os dias, em seus automóveis, não conhece. A Barra do Ceará é um dos bairros mais populosos da capital, com cerca de 73 mil habitantes, ficando atrás somente do Mondubim, com 76.000 . Sua história começou bem antes da ponte, há 413 anos, quando o português Pero Coelho iniciou a colonização do território, construindo o fortim São Tiago, em 1603. É justamente no encontro do rio com o mar que está localizado o bairro mais antigo de Fortaleza, a Barra do Ceará. Com um dos pores do sol mais bonitos da capital, o bairro tem muita história e vida para ser contada. O local é considerado pacato por muitos moradores, porque os barqueiros ainda saem cotidianamente pela manhã, para suas pescarias. Em termos de mobilidade urbana, a ponte trouxe benefícios para a capital cearense, principalmente para os motoristas, que puderam trafegar com mais agilidade para a cidade vizinha. Mas, para os nativos do bairro, são inúmeros os pontos negativos. Eles dizem que a ponte
“As escolas, postos de saúde são os mesmos que eu via há 20 anos, então não posso dizer que a ponte contribuiu para algo positivo no bairro” Alberto de Souza,58
Mesmo em menor quantidade, barcos ainda fazem a movimentação no cotidiano da Barra do Ceará causou danos que são vistos até hoje. Alberto de Souza, morador há mais de 50 anos, fala que o rio é assoreado, o que modificou, além do ecossistema, o panorama do bairro. Ainda segundo ele, os pescadores ficaram sem trabalho, devido a diminuição de 60 barcos para, em média, oito. Para seu Alberto, a comunidade não ganhou algo palpável.
Passeio de barco e aula sobre meio ambiente O passeio de barco sobre o rio Ceará conta um pouco da história do rio que banha o estado. A sua foz faz divisa entre os municípios de Fortaleza e Caucaia. Localizado na Região Metropolitana da capital cearense, o rio Ceará tenta resistir aos impactos do homem. Alberto de Souza, proprietário do restaurante Albertu’s, realiza passeios de barco mediante reserva durante o final de semana. Esses passeios focam a preservação cultural e ambiental tanto do bairro quanto do rio. É possível ver a riqueza que se tem na cidade. Praia, mangue, índios e natureza. Durante o passeio, de acordo com seu Alberto, são feitas algumas atividades sociais, como a limpeza do rio. O Serviço Social do Comércio do Ceará (SESC) também possui passeios mensais, sempre em alusão a
Os próprios moradores passaram a criar alternativas, como o projeto Barra Unida, que é uma junção dos movimentos dos nativos e de lideranças comunitárias que atuam na grande Barra do Ceará. Eles realizam trabalhos voltados ao social, atendendo de forma gratuita as comunidades carentes, com o objetivo de reivindicar direitos sociais e expressar as necessidades do lugar. De acordo com Davi da Pompeia, idealizador do projeto, o objetivo do coletivo é agir de maneira que todos do bairro possam ter acesso a ambientes dignos para moradia e lazer atráves de suas ações.
Junto com a proposta de cons- responsáveis para apoiar o bairro. trução da ponte para o bairro, veio “As escolas, postos de saúde são os a possibilidade de que ela traria mesmo que eu via 20 anos atrás, benefícios sociais, por conta da então não posso dizer que a ponte requalificação. A comunidade, que contribuiu para algo positivo no já tinha problemas, como sanea- bairro. E quem pode até sentir saumento, passou a receber um intenso dades, se ela não estivesse aqui, é fluxo migratório, mas aponta que quem lucrava com o pedágio, que não ocorreu na mesma proporção, foi cobrado por um bom tempo”, a assistência por meio dos órgãos observa Alberto de Souza.
Para ele, a Barra é seu cartão postal, e apreciar o pôr do sol mais bonito da capital é um dos privilégios que tem. Em sua opinião, a ponte tem seus impactos positivos e negativos. Diz que desde o processo de construção é falado em revitalização do bairro, mas até hoje isso não ocorreu. Outro fator que considera negativo é o contato dos banhistas com a Barra que, com a construção da ponte, foi quebrado e “por consequência, prejudicou os barqueiros que sustentavam suas famílias com a travessia de pessoas do rio”, conclui Davi da Pompeia. d avi c o s ta m e n e z e s
datas comemorativas, como o dia do meio ambiente, entre outros. O projeto Conversas Flutuantes possibilita a contemplação de Fortaleza através de vivências socioeducativas e visa discutir a preservação do rio e das águas do planeta.
SERVIÇO Albertu’s Restaurante Avenida Radialista José Lima Verde, 746 Valor: R$ 20 por pessoa T (85) 3485 6945 W 987533940 Projeto Sesc Conversas Flutuantes T (85) 3195 8726
Seu Alberto e Davi falam que o encontro do rio Ceará com o mar é um espetáculo que encanta a todos
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Cristianismo
Após 500 anos, persistem divergências sobre a reforma protestante de Lutero
2017 marca o quinto centenário do evento que dividiu a maior religião do mundo em dois segmentos. Católicos e protestantes ainda hoje se enfrentam em embates doutrinários S é r gi o J ú n i o r
REPORTAGEM Jeane Chaves Diagramação Gerson Barbosa
O
marco da Reforma Protestante, liderada pelo padre Martinho Lutero em 31 de outubro de 1517, ao pregar na Porta da Catedral de Wintemberg – Alemanha – suas 95 teses, questionava e discordava principalmente do comércio das indulgências pela Igreja. O documento sobre as indulgências, assinado pelo papa, tinha o poder de perdoar e/ou tirar a culpa de um pecado sobre alguém. Atualmente o costume ainda é praticado pelo catolicismo e continua causando divergência. “O cristianismo foi fundado por Jesus. A igreja católica vem dessa origem, que é de Deus e não feita por homens”, argumenta o padre católico Ricardo Sérgio de Melo, 56, da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, ao defender as práticas da doutrina do catolicismo. Segundo ele, os protestantes da época, que causaram a Reforma na religião, adulteraram a Bíblia e passaram por cima de costume da igreja. “A igreja católica é formada por pessoas com falhas. Às vezes pessoas cometem erros, mas não quer dizer que a instituição toda errou”, disse ele, sobre as insatisfações de Lutero que deram origem à Reforma. O surgimento das igrejas evangélicas não fazia parte do plano ideal na atitude do protesto. “Lutero não pretendia dividir ou causar um motim dentro da religião, mas convidar os sacerdotes à discussão e posicionamento das questões que ele considerava como erro da Igreja Católica”, afirma o pastor da Igreja Evangélica Congregacional no bairro Vila
O culto na Igreja Protestante tem momentos de oração, louvor e pregação da palavra de Deus
“Lutero não pretendia dividir ou causar um motim dentro da religião” Pr. Helyannai, 38 União, Helyannai Baptista, 38, ao destacar também que essa é uma ideia errônea de muitos, quando se fala na Reforma.
Ao longo desses 500 anos, tanto a doutrina Católica quanto a Reformada sofreram modificações, mas existem pontos que permanecem iguais. Numa perspectiva teológica, o pastor Hellyannai observa as mudanças dentro do ideal protestante como algo progressivo, que se “adequa à revelação de Deus e contextos locais, culturais e sócio econômicos que a igreja possa estar inserida”. Por sua vez, o padre Sérgio de Melo esclarece que na igreja católica
as alterações foram mínimas, mantendo os principais dogmas que são praticados até hoje, como a proibição do casamento e voto de pobreza aos sacerdotes, assim como o fio condutor da Reforma, protestado na tese 76 de Lutero: ‘As indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados veniais.’. Quanto mais grave acreditavase que era o pecado, mais caro se tornava o valor do documento, assim como a saída de uma alma
do suposto purgatório se tornava possível mediante o pagamento de um valor por uma pessoa. O padre Sérgio afirma que “para nós, como cristãos católicos, creditamos que as indulgências podem ser compradas para uma pessoa que morreu ou que está viva”. Apesar de possuir, em países como o Brasil, o maior número de seguidores, o catolicismo perdeu parte da sua influência dominante como da época. Essa situação, de acordo com Sérgio de Melo, se deve também ao Protestantismo, mas não se caracteriza como algo absolutamente ruim. “Toda mudança tem seu lado positivo e negativo. Ao longo do tempo, a Igreja Católica foi reconhecendo e ocupando o seu papel em sociedade”, argumenta. A divisão do cristianismo, mais do que debates à religião, trouxe grandes reflexos à sociedade. O missionário Jean Cláudio Alves, 43, afirma que os impactos gerados vão além de religiosos, agregando também questões sociais e até mesmo econômicas. “Antes da Reforma, os bens materiais se concentravam, apenas, nas mãos dos reis, Igreja e elites religiosas; os demais viviam em situação de extrema pobreza”. Além do mais, o evento deu força à separação de Igreja e Estado e foi um percussor do Iluminismo. “Conflitos de pensamentos sempre vão haver”, cita Helyannai Baptista. O pastor observa ainda que, apesar das diferenças e choques doutrinários, líderes religiosos acreditam que os dois segmentos têm praticado uma cultura de respeito mútuo, como a realização de práticas ecumênicas, que são ações em unidade envolvendo a diversidade de doutrinas e religiões.
Entenda a religião cristã e o contexto social da época
A religião católica teve origem na região da Palestina, com a ascensão de Jesus Cristo. Baseia-se na doutrina de vida e ensinamentos de Cristo, contidos principalmente nos evangelhos e cartas às igrejas da época, presentes no Novo Testamento da Bíblia, o seu Livro Sagrado. O Cristianismo, antes perseguido, em meados de 40 a 312 d.C, pelos Romanos, se tornou religião oficial do Império por decreto do Imperador Teodósio I. Assim, a Igreja Apostólica Romana se consolidou, tornando-se um monopólio influente, acima dos próprios poderes do Estado e deu origem ao catolicismo, absoluto na religião cristã, em países da Europa. O século XVI, em boa parte da Europa, foi um período de lutas sociais, em que o sentimento religioso se misturava com ambições materiais, populares e políticas. Nesse contexto, a Reforma Protestante, que além de Lutero teve outros envolvidos como, João Calvino, Filipe Me-
lanchton e Ulrico Zwínglio, surgiu na Alemanha, se espalhando com o tempo por demais países da Europa e outros continentes.
No séc. XVI, a Igreja Católica se tornou um monopólio influente acima do Estado Em detrimento disso, deu-se também o movimento religioso histórico intitulado como a contrarreforma, levantado por líderes católicos da época. O grupo agiu 28 anos depois como uma reação de resistência à ideologia protestante do ex-monge Martinho Lutero, que acontecera em 1517 a partir da divulgação das 95 teses, frutos da insatisfação com a Igreja. Hoje, 50% de toda a Cristandade no mundo é representado pelos católicos e 37% pelo protestantes.
Venda de indulgências foi a maior contestação de Martinho Lutero contra a Igreja Católica
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Política
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Voto 2018
TRE quer garantir segurança das eleições por meio da utilização da biometria Projeto prevê a identificação do eleitorado no dia da votação. Mais de 346 mil de 1.685.307 votantes já foram cadastrados pela iniciativa. A meta é atingir 75% até maio do próximo ano MIRLA NOBRE
Postos de atendimento pretendem acelerar a biometria na capital e no interior para atingir a meta REPORTAGEM: Mirla Nobre Diagramação: Aloísio Fábio
F
ortaleza já conta com 10 postos de atendimento para realizar a biometria de eleitores. O objetivo é coletar dados dos eleitores até atingir 75% do eleitorado no prazo estipulado, que é maio de 2018. Além da Central de Atendimento do Eleitor- CEAT, do Tribunal Regional Eleitoral – TRE, na Praia de Iracema,
outros pontos estão localizados em shoppings e em locais de grande movimentação de eleitores, como no centro da cidade e próximo aos terminais de ônibus, onde o atendimento é feito por ordem de chegada e com distribuição de senhas. O cadastramento biométrico é realizado através da captura das digitais dos eleitores. Em parceria com os shoppings, que cedem os espaços gratuitamente, o TRE res-
ponsabiliza-se apenas pela energia elétrica dos espaços cedidos, nos quais é instalada a infraestrutura adequada para a realização do cadastramento biométrico. O objetivo é facilitar o cadastramento. A estratégia empregada pretende descentralizar, segundo a coordenadora de Administração do Cadastro Eleitoral (COACE), Lorena Belo. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) iniciou o projeto Biometria
no ano de 2008. O objetivo da iniciativa é conferir a maior segurança na hora da identificação do eleitor dentro do processo eleitoral. No Ceará, os postos de coleta dos dados dos eleitores são distribuídos na capital e no interior do estado, até o prazo estabelecido. O Tribunal Regional Eleitoral do Ceará expandiu o projeto em 2009 para os eleitores do município do Eusébio e, em 2013, outros municípios, como Juazeiro do Norte e Sobral começaram a realizar o cadastramento biométrico. A meta é ter pelo menos 75% do eleitorado cadastrado até as eleições de 2018, segundo o TRE. Após as eleições de 2016, o procedimento ficou cada vez mais amplo e de fácil acesso ao eleitor. A Justiça Eleitoral criou um sistema de agendamento, onde o eleitor informa a data e a hora que pode comparecer na central de atendimento para realizar o cadastramento biométrico. O agendamento é realizado através do site do TRE-CE (www.tre-ce.jus.br/ eleitor/agendamento-atendimento-ao-eleitor).
A meta é ter pelo menos 75% do eleitorado cadastrado até as eleições de 2018 Entretanto, a regra é que o eleitor compareça para realizar a biometria no seu munícipio de origem, ou seja, o eleitor de Aquiraz não pode realizar o cadastro em Fortaleza ou em outros municípios que não seja o dele de origem.
De olho no prazo O procedimento de início foi facultativo. O eleitor tinha a opção de realizar ou não o cadastro. Entretanto, a meta é que até as eleições de 2020 todo o
eleitorado esteja cadastrado para realizar a votação no dia das eleições. Em Fortaleza, o recadastramento biométrico passa a ser obrigatório só no ano de 2020. Lorena Belo afirma que “o eleitor que não comparecer dentro do prazo estimulado no seu município para a realização da biometria, terá o título eleitoral cancelado. O eleitor ficará pendente com a Justiça Eleitoral, não poderá assumir cargos públicos, não poderá emitir ou renovar passaporte e terá dificuldades na realização de financiamentos bancários”. Para evitar que isso ocorra, o eleitor terá que procurar a Justiça Eleitoral para efetuar o seu recadastramento biométrico e regularizar sua situação.
SERVIÇOS Central de atendimento de Fortaleza (CEATE) Av. Almirante Barroso, 601, Praia de Iracema 8h – 17h T 85 3211-2693 Central de atendimento Vapt Vupt de Antônio Bezerra Rua Demétrio Menezes, 3750 8h – 17h T 85 3207-1540 Posto de atendimento do Shopping Parangaba Rua Germano Franck. 300, Parangaba 8h – 17h T: 85 3453-3615 Posto de atendimento do Shopping Iguatemi Av. Washington Soares, 85, Edson Queiroz 10h – 19h T 85 3211-2600
Cadastro para todos os públicos
ou pessoas portadoras da Síndrome O projeto biometria foi apresentado como um método para garantir maior de Nagali, que nascem sem marcas digitais - que apresentar alguma imsegurança na hora da identificação possibilidade física durante a capdo eleitor. Por conta da possibilidade tura das digitais, será identificado de alguma falha humana na hora da pelo sistema como impossibilitado votação, a adoção da biometria pode de votar através da biometria. E, por garantir que esse tipo de situação não aconteça e seja garantida a se- meio da assinatura digital, será garantido o seu cadastro eleitoral.“O gurança no processo eleitoral. sistema irá identificá-lo, sem impediPor meio da captura das digitais dos dedos das mãos, em menos de 20 -lo de realizar a votação”, afirma Lominutos o procedimento é realizado. rena Belo, coordenadora da COACE. “O sistema pareceu ser válido. O eleitor pode comparecer a um dos Entretanto, resolvi acompanhar postos de atendimento portando esse novo método, que me pareceu seu documento de identificação e o comprovante de endereço atua- seguro. Cheguei com medo de enfrentar filas, mas não tive essa surlizado, explica o Coordenador do presa. O atendimento no posto do Posto de Atendimento do Shopping shopping Del Passeo foi em menos Iguatemi, Eduardo Lopes. Na hora do procedimento, qual- de 15 minutos”, afirma a aposentada, Maria Ilza,68 quer eleitor - seja ele jovem, idoso
l u c a s m o ta
Jovem, idoso ou pessoas portadoras da Síndrome de Nagali, serão identificados pelo sistema como impossibilitado de votar A biometria será realizada até maio de 2018, na capital e no interior do estado. Logo após as eleições de 2018, o cadastramento será obrigatório para as eleições de 2020. O TRE-CE faz um apelo aos eleitores para que realizem o procedimento ainda nesse ciclo atual, evitando deixar para última hora.
O cadastro biométrico é realizado em menos de 20 minutos
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Política
Reforma
Parlamentares cearenses divergem sobre a derrubada da PEC do Distritão
O projeto, que deveria ser implantado já nas próximas eleições, dividiu opiniões entre a base e a oposição. Além de não ser aprovado, enterrou possíveis alterações no processo eleitoral REPORTAGEM Janaina Ramos diagramação André Nogueira
divulgação
P
ara vários deputados, o atual modelo político está longe de representar uma alternativa que barre os vícios do sistema eleitoral brasileiro. Para outros, o Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 77, conhecido como Distritão, poderia representar o início do resgate da voz da sociedade. Para valer já nas próximas eleições, precisaria ter sido votado pela Câmara e pelo Senado até início de outubro, um ano antes do pleito. Contudo, parte da emenda constitucional, que previa a mudança na forma de eleger deputados e vereadores, foi barrada em votação na Câmara dos Deputados, com o placar de 205 votos a favor e 238 contra. Seria necessário o apoio de pelo menos 308 parlamentares para que tivesse sido aprovada. Os defensores do modelo proposto pela PEC 77 argumentam que a principal vantagem seria a simplicidade, uma vez que os mais votados são os eleitos. A medida evitaria o que eles classificam de “puxadores de voto”, na qual um parlamentar com muitos votos elege outros deputados da mesma coligação. O deputado estadual Danniel Oliveira, 37, (PMDB), que é a favor da emenda, diz que faltaram mais explanações sobre o assunto. Ele mostra acontecimentos como o efeito Tiririca, que recebeu mais de 1 milhão de votos em São Paulo, elegendo mais 5 deputados de sua legenda. No Ceará, cita o exemplo do deputado estadual Renato Roseno que, em 2010, mesmo sendo o 5o mais votado, não conseguiu entrar por falta de coeficiente eleitoral. Diz ainda que o sistema atual não respeita o eleitor. “O importante é que o eleitor vote no Danniel Oliveira e eleja o Danniel Oliveira.”, comenta. O deputado diz que mesmo no Sistema Misto ainda há muita confusão de como será a divisão destes distritos. Porém, ainda seria uma melhor forma de fortalecer as legendas e eleger as pessoas em que a população votou. Para ele, o novo processo não impede que rostos novos adentrem no mundo político. “A dificuldade de entrar na política sempre existirá, independente da forma de voto” declara, mostrando que as redes sociais têm o poder de decidir os candidatos que mais receberão votos, não tendo como mensurar. O deputado Capitão Wagner, 38, (PR) se opõe ao Distritão. Para ele, o sistema de votação não aumentaria o sentimento de cidadania do eleitor e não traria pontos positivos para o sistema eleitoral e nem para a sociedade. O palarmentar diz que, benefício seria para quem já ocupa um cargo. E que, com isso, não ajuda um candidato novato a ingressar na política.
deputado que, mesmo dentro do partido, não compartilhe daquela ideologia. Finaliza destacando que atualmente existem 40 partidos e mais 40 na fila esperando pelo Supremo Tribunal Federal - STF, “não existe ideologia para tanto partido, existe balcão de negócios. A reforma precisa acontecer para frear esse tipo de ação.” Em comum, os dois mostraram preocupações para 2018. Danniel Oliveira fala que a próxima eleição será uma incógnita, porque vão entrar numa campanha desconhecida para todos os políticos. Ressalta que a visibilidade tanto pode ajudar como atrapalhar. Para o Capitão Wagner seria personificação de salvadores da pátria, onde a população cobra resolução rápida de todos os problemas. Ele diz que não acontece assim, pois precisa de apoio da base e oposição na aprovação de medidas.
Deputado estadual Danniel Oliveira afirma que o Distritão traria simplicidade para o processo eleitoral Relata que o modelo adotado em apenas quatro países ao redor do mundo – Afeganistão, Kuait, Emirados Árabes Unidos e Vanatu - está longe de representar uma alternativa para os atuais vícios e limites do sistema político/eleitoral brasileiro, além de trazer uma série de desvantagens no comparativo com os sistemas proporcionais, que considera mais democráticos e permeáveis à participação das minorias.
“O importante é que o eleitor vote no Danniel Oliveira e eleja o Danniel Oliveira.” Dep. Estadual Danniel Oliveira, 37
trazer a previsão para 2018. Ele diz que acabaria com a possibilidade dos partidos de aluguel se venderem às vésperas da eleição Isso acontece quando os partidos menores, que não interagem com seu eleitorado, querem eleger seus presidentes estaduais e municipais. Com isso, se coligam com outros partidos, se vendendo para conseguir o mandato para seus candidatos. “A questão ideológica é deixada de lado, poucos partidos buscam lideranças de representabilidade”, relata. Já para Danniel Oliveira, as ideologias devem ser fortalecidas. Ele fala que o jogo que os partidos de mesma proporção buscam já co-
“A questão ideológica é deixada de lado, poucos partidos buscam lideranças de representatividade” Dep. Estadual Capitão Wagner, 38 meçou para 2018. Seria a coligação para assim eleger os presidentes dos partidos. “Mesmo a manobra sendo legítima, vai contra qualquer ideologia e vontade da sociedade.” cita. Para ele, a votação deveria ser majoritária, para não eleger outro
A PROVAÇ ÃO Mesmo com a rejeição da Câmara dos Deputados à parte da PEC 77/2003, sobre o Distritão, o Senado aprovou o trecho que estabelece a criação de um fundo público para financiamento de campanhas eleitorais. O fundo será composto de 30% do total das emendas parlamentares e da isenção fiscal das emissoras comerciais de rádio e TV que veicularam, em 2017 e 2016, a propaganda partidária, exibida fora do período eleitoral. O horário eleitoral gratuito ficará mantido.
divulgação
O parlamentar explica que o sistema atual revela boas surpresas e permite aos que não possuem condições financeiras o ingresso no Legislativo, ou seja, representar uma classe e defendê-la. Na sua visão, o Distritão, atrelado à aprovação de um fundo, ajuda somente aos que possuem um mandato, perdendo total credibilidade. Ele explica que a preocupação dos partidos com o Distritão seria a não dependência do partido para se eleger. Já no Sistema Misto haveria essa participação, com os votos da legenda somados aos votos daquele partido. Com o atual modelo, é necessário o apoio das legendas para alcançar o coeficiente.
Concordâncias Capitão Wagner se diz favorável ao fim das coligações. O projeto já foi aprovado para 2020 na Câmara dos Deputados, faltando somente a aprovação da casa revisora, o Senado, que pode
Deputado estadual Capitão Wagner (ao centro) se diz contra o Distritão, mas favorável ao fim das coligações
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Economia
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Tendência
Um modelo de negócios completo para o público masculino cuidar da estética
O ramo de barbearias tem evoluído com novos conceitos de beleza, saúde e bem-estar, voltado principalmente para suprir a vaidade dos homens, que estão cada vez mais exigentes d ei s a r o c h a
REPORTAGEM Gerliane Viana Diagramação Gerliane Viana
B
ar, sinuca e televisões para transmissões de esportes. Este é o novo cenário das barbearias de Fortaleza. A preocupação em cuidar da beleza não é mais uma questão exclusivamente feminina, pois o interesse masculino por procedimentos estéticos cresceu nos últimos anos. Devido a essa demanda e desejos do público masculino, o mercado de beleza tem se adequado para ganhar espaço. Atualmente os estabelecimentos estão investindo de forma progressiva em serviços mais especializados e sofisticados, como é o caso das barbearias, que estão se tornando espaços exclusivos e diferenciados são disponibilizados para os clientes uma ampla decoração, técnicas, profissionais e produtos de qualidade, além de focar em proporcionar um momento de encontro entre amigos. Foi pensando neste mercado masculino que o barbeiro e empreendedor, Gleison Sousa 34, há um ano e meio resolveu montar a Monte Cristo Bar-bearia, que tem como diferencial o serviço de bar e seu estilo retrô, com móveis rústicos e inusitados, fugindo dos padrões das barbearias comuns. Além disso, a Bar-bearia oferece corte de cabelo, barba, bigode e está acrescentando um salão de beleza voltado para as mulheres, no mesmo espaço, contando com o auxilio de 38 profissionais até o final do ano. Para Gleison, a vaidade masculina está presente desde os egípcios, porém, o preconceito encobriu essa vertente. Ele procura desmistificar esse aspecto, convencendo seus clientes a tornarem-se adeptos dos procedimentos estéticos para ressaltar a beleza e promover o bem-estar. O seu estabelecimento também promove cursos com duração de dois meses e meio, que são ministrados por ele mesmo e divulgados nas redes sociais com valor simbólico para a inscrição. É uma forma de enfrentar o desemprego. Gleison tem como proposta ensinar futuros profissionais e dar oportunidade aos que se destacam para ingressar no mercado de trabalho, portanto, todos os funcionários que compõem a Monte Cristo foram formados por ele. Além disso, é realizado uma vez no mês show ao vivo com jogos de sinuca e bebidas, como forma de entretenimento para os clientes no próprio local. A Monte Cristo Bar-bearia também se destaca pelo número de clientes, fazendo 390 serviços em um único sábado.
539%
foi o faturamento das barbearias e comésticos entre 2012 e 2016
Pessoas de todas as idades frequentam as barbearias modernas dos diferentes bairros da cidade o que mostra que a iniciativa foi bem aceita" Kelson Moreira, barbeiro da Monte Cristo há mais de um ano, diz que a cada dia o ramo de barbearias exclusivas para cuidar da beleza masculina tem crescido muito, pois os homens tem interesse em cuidar da estética e até procuram por serviços de maquiagem, escova, sobrancelha, barba bem feita e alinhamento, entre outros procedimentos. Kelson diz que o corte mais procurado é o dégradé, de 1930, que se destaca por ter a nuca mais polida. Outro empreendedor da área é Felipe Queiroz, sócio administrador da Cavalieri Confraria, que conta com um mix de serviços além da barbearia. A Confraria dispõe de restaurante, charutaria, bar, uma adega com mais de 150 rótulos de vinhos e uma loja com produtos da marca Cavalieri. Além disso, o estabelecimento também conta com as parcerias da Tânia joias, Mercedes e Stetic class. Felipe pensou em reunir um espaço de comodidade e conforto onde o cliente tenha um mix de serviços em um mesmo lu-
gar. Ele viajou bastante e percebeu que o público cearense mudou e está mais exigente e a sua empresa busca atender esse novo perfil. Isabella Tavares, responsável pelo marketing e eventos, comenta que, atualmente, a Confraria tem uma equipe composta por 30 colaboradores e sua frequência de público é 70% masculino e 30% feminino, sendo apenas a barbearia e stetic class serviços exclusivos do público masculino; os outros são para os dois públicos. O estabelecimento dispõe de seis espaços, faz reserva e promove eventos como happy hour e ações na barbearia. Sávio Carvalho, cliente da Cavalieri, diz que a barbearia chama mais sua atenção devido à versatilidade que o ambiente proporciona, associada aos serviços de qualidade que oferecem para seus clientes. Ele geralmente frequenta o ambiente acompanhado e recomenda sem medo aos amigos. Acredita que os preços estão na média, levando em consideração o ambiente e localização.
Preços baixos e qualidade em alta Um grande medo da sociedade com a expansão das barbearias é de pagar caro, porém a maioria cobra preços alinhados com o mercado. Antigamente os preços nas barbearias antigas dos serviços mais comuns eram em torno de R$: 15,00 o corte, R$: 10,00 a barba e R$: 40,00 a escova inteligente.Atualmente nas barbearias modernas os mesmos serviços custam em média R$: 40,00 o corte, R$: 30,00 a barba, R$: 60,00 a escova inteligente. Os preços subiram, no entanto, alguns levam em conta o ambiente, profissionais e diversificação de serviços. Antônio Neto, proprietário do Toinho cabelereiro, uma barbearia tradicional localizada em Sobral, diz que os estabelecimentos modernos têm levado um pouco
da sua clientela, principalmente o público jovem, devido os serviços inusitados que possuem. No entanto, Antônio comenta que está reconquistando seu espaço novamente aos poucos, com a estratégia de preço baixo, wi-fi gratuito e atendimento rápido. Para ele é questão de tempo ter sua clientela de volta. SERVIÇO Monte Cristo Bar-bearia Av. Presidente Castelo Branco, 3706 seg. à sáb. 09h – 20h Cavalieri Confraria Rua Dona Maria Tomásia, 545 seg. á sáb. 09h – 20h
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Economia
Criatividade
Mesmo na crise, e-commerce cresce 31% no Ceará e mercado de moda é destaque
Enquanto algumas lojas virtuais optam por investir em estrutura física para ter contato com os clientes, outras preferem apenas o online, visando mais comodidade para o seu público REPORTAGEM Marcela Benevides Diagramação Wesley Galdino
D
esde 2015, a crise econômica brasileira vem atingindo o comércio cearense. Um exemplo dessa realidade é a Av. Monsenhor Tabosa, com 63 das 235 lojas fechadas atualmente. Em contrapartida, levantamento realizado pela Loja Integrada - plataforma para criação de lojas virtuais – aponta que o número de e-commerce no Ceará cresceu 31% em 2016. O comércio virtual e misto - online e físico -, tem sido uma forma criativa de vencer a crise. De acordo com a pesquisa, o segmento que mais se destacou foi o de moda e acessórios (70,24%). Em segundo lugar ficou o segmento de games (7,15%). A marca Vovó Quem fez, de Amanda Chrisóstomo, 26, formada em moda, surgiu em 2014, quando ela percebeu que não queria trabalhar para ninguém: “Eu gostava de estagiar mas, quando chegava o outro mês era o meu prazo e queria novos desafios”. Explica que só conseguiu enxergar uma forma de ter sempre novos desafios: montando seu próprio negócio. Com a ajuda da chefe e da avó, Amanda começou a modelar e a costurar. O investimento inicial foi de R$ 75,00 reais em rendas e elásticos. Apesar de a loja ter nascido online, com o crescimento da marca Amanda começou a perder muitos clientes. Como só tinha uma pessoa atendendo via WhatsApp e ela não possuía estoque de site, era preciso recontar as peças todos os dias para enviar a relação para os clientes. “Nesse caminho eu perdia muita venda”, afirma. Com o tempo, sentiu a necessidade ter algo além da loja virtual. Buscava um contato maior com o cliente, não apenas em dia de eventos, mas durante a semana também. Por isso, decidiu abrir uma loja física.
Acervo Pessoal
Com a loja virtual, Isabelle tem alcance mais rápido do seu público. Ela explica que as clientes já estão no Instagram por lazer, postando fotos para se comunicar com os amigos e, consequentemente, ela também está lá. “Me sinto próxima mesmo que a distância seja física. A internet me aproxima muito dos meus clientes”, afirma. Além da praticidade para os clientes, a loja virtual traz para Isabelle mais comodidade. Como ela é a única pessoa que administra a Sereia, precisa de horários flexíveis para criar e pensar em marketing, por exemplo.
“Me sinto próxima mesmo que a distância seja física, a internet me aproxima muito dos meus clientes” Isabelle Pertenelli, 23 Monsenhor Tabosa De acordo com Márcia Sérgia, 38, Presidente da Associação dos Lojistas da Monsenhor Tabosa (Almot), entre os motivos para o fechamento das lojas na avenida estão fatores como a alta no valor dos aluguéis e a crise financeira. Ela explica que, desde o início do ano, a Almot tem realizado um intenso trabalho para reverter essa situação.
Isabelle, proprietária da Sereia Loja, tem estilo sereia candy color e leva isso para sua marca “Temos parcerias com a Prefeitura de Fortaleza, através das Secretarias de Cultura e Turismo, Sebrae, entre outros, para fortalecer o comércio da Avenida”, diz. Complementa, informando que o trabalho Acervo Pessoal
“Eu gostava de estagiar, mas, quando chegava o outro mês eu queria novos desafios” Amanda Chrisóstomo, 26 Já para Isabelle Pertenelli, 23, formada em moda e proprietária da Sereia Loja, a loja virtual é a melhor maneira de oferecer conforto aos seus clientes: “Querendo ou não é uma praticidade para a cliente não precisar vir aqui”. Ressalta que esse é um aspecto em que as lojas da Av. Monsenhor Tabosa saem perdendo, porque deixam de atender online para atender na loja, mas, muitas clientes não possuem tempo de se deslocar até lá.
Lingeries coloridas, sem bojo e de rendas, são o foco da Vovó Quem Fez
tem surtido efeito e novas lojas estão sendo abertas na avenida e outras estão em negociação. A respeito da possibilidade das lojas virtuais virem a dificultar o retorno dos lojistas à Av. Monsenhor
Tabosa, ela afirma que, na verdade, esses novos modelos de comércio têm ajudado. “Acredito que as lojas que não estão aproveitando esse recurso para sua empresa é que podem sofrer”, diz.
Aprender a superar os revezes de empreender Quem decide montar o seu próprio marca. É saber qual é o seu limite”, negócio precisa estar preparado para diz Amanda. enfrentar as adversidades que poModismo: “O consumidor ceadem surgir pelo caminho. rense não está preocupado em consuAs empreendedoras Amanda e mir um estilo, ele quer consumir algo Isabelle listaram três pontos que as que está na moda”, diz Isabelle. De pessoas que estão planejando entrar acordo com ela, essa é uma situação no mercado vão precisar saber para complicada para quem empreende manter o sucesso no projeto. e quer trazer um produto diferente. Elas lembram que é necessário co- “Às vezes eu alcanço muito mais o nhecer o contexto da cidade onde se meu público em outros estados do vai atuar, assim como o próprio ne- que dentro da Capital”. gócio da moda. Ou seja, nada de amadorismo quando o assunto é negócio. SERVIÇO O plágio: “Fortaleza tem um problema. Quando as pessoas veem que Vovó Quem Fez seu produto está vendendo, todo Av. Barão de Studart, 2441 mundo quer vender o mesmo proAtendimento com hora marcada duto que você. Uma das maiores diT (85) 9. 8876-7373 ficuldades que eu encontro todos os I @vovoquemfez dias é a cópia”, relata Isabelle. www.vovoquemfez.com Crescer sem prejudicar a marca: “Você cresce e os problemas aumenSereia Loja tam. Crescer de forma saudável é ter Entrega por delivery uma produção alinhada, é não perT (85) 9. 9604-9484 der qualidade de produção no moF sereialoja Instagram: @ mento de crescimento, não querer sereialoja correr tanto para dar certo e aceitar coisas que não cabem dentro da sua
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Economia
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Papiro
Empreendedorismo
Estudantes conseguem faturar até R$3 mil por mês com vendas em brechó
Em cenário de crise, o novo segmento econômico oferece peças de qualidade a preços razoáveis aliados à conscientização ambiental. Os bazares acontecem tanto de forma fisica como virtual BRUNO MOURA
REPORTAGEM Virna Magalhães Diagramação Dayana Evan's
O
s bazares com viabilidade para o emp reendedorismo estão ganhando mais espaço na economia brasileira, além de ser uma alternativa sustentável e mais acessível. A estudante de Medicina Veterinária Omaira Carneiro, 22, viu a oportunidade de montar um brechó virtual como referência de negócio que está passando por uma ressignificação no Brasil. Ela decidiu vender algumas roupas antigas com intuito de arrecadar dinheiro para ajudar os pais a pagar empréstimos, tratamento ortodôntico e cirurgias após ser atropelada em agosto de 2016. Minha família zerou todas as economias para começar os meus tratamentos, o que só durou alguns meses. Um dia não tinha comida em casa e eu precisava fazer alguma coisa, apesar de ainda não estar com a mobilidade completamente recuperada. Tive a ideia de criar uma conta no Instagram para vender umas roupas antigas e algumas outras coisas. Contei minha história, expliquei a situação, e, para minha surpresa, isso alcançou o Brasil inteiro.”, explica ela.
Bazares com viabilidade para o empreendedorismo estão ganhando mais espaço na economia brasileira Omaira recebeu em doação mais de duas mil peças de roupas de diversos estados para serem vendidas e, com isso, deu início à Boutique
A primeira edição do Bebê Brechó por pouco não esgotou o estoque que as organizadoras reuniram da Ô – BDÔ. Com o dinheiro arrecadado no bazar, conseguiu ajudar os pais nas despesas e deu continuidade ao empreendimento, o que lhe possibilitou abrir uma loja. As peças do brechó são consignadas e o valor é dividido com as donas. As roupas que não forem vendidas são devolvidas. Os valores variam de R$1 a R$70. A estudante de veterinária afirma que as vendas são igualmente boas, tanto físicas quanto virtuais, e que possui várias clientes fixas.
Reutilizar roupa reduz despedício e gera lucro
Segundo o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas de São Paulo - EAESP, seria possível passar três anos sem produzir nenhuma peça de roupa e, mesmo assim, teria o suficiente para ter o que vestir com as roupas que já estão no mundo. O aumento do consumo no Brasil prejudica o meio ambiente devido ao descarte de roupas nos aterros sanitários, para que outras peças possam ser compradas e substituir o lugar das antigas no armário. O problema está nas centenas de anos que essas peças vão levar para se decompor. Para a estudante de Moda, Gabriela Tomás, 21, a reutilização de peças é importante porque dá uma nova utilidade e uma nova história
às roupas. É válido ressaltar que a moda sempre volta e que as tendências nos anos 80, 90 podem voltar nos dias atuais. Muitas pessoas ainda têm preconceito de comprar em brechó por vergonha de consumir itens de segunda mão e pela imagem errada de que só existe bagunça, mofo e roupas reviradas. Ela ainda acrescenta que com essa reutilização menos recursos naturais serão extraídos e processados. Gabriela pontua de forma negativa a falta de curadoria e a desorganização de alguns brechós que muitas vezes impossibilita encontrar as peças mais conservadas e estilosas. No mais, a estudante admira a repaginação e a reestilização pelas quais as roupas passam e aposta na mixagem das peças antigas com as novas.
O bazar está relacionado ao meio ambiente, ao reaproveitamento de roupas e à economia. “Primeiro o meio ambiente agradece. As roupas ganharam utilidade muito maior. Acredito que para a roupa ser nova
“Acredito que para a roupa ser nova ela precisa apenas de um novo dono” Omaira Carneiro,22
ela precisa apenas de um novo dono. Então ela existe por muito mais tempo antes de ser descartada no meio ambiente. As pessoas podem conseguir peças incríveis, de marcas que elas sempre almejaram, por muito menos da metade do valor original, na maioria das vezes. Sempre prezo no meu brechó a frase: + momentos – de$perdício$” No caso da estudante de Arquitetura e Urbanismo Giulia Ferrari, 22, ela decidiu desapegar das roupas, brinquedos e acessórios infantis do
filho Theo, 10 meses, junto com mais seis amigas que também são mães. A decisão de criar um bazar veio da percepção da quantidade de objetos que seus filhos não utilizavam mais, como berço, carrinho, bolsas de maternidade e enxoval. Além de vender o que não era mais útil para os filhos, elas também incluíram algumas peças que usaram durante a gestação. A primeira edição do bazar foi presencial, mas as amigas pretendem repetir quando for necessário e seguir de forma virtual no Instagram, quando mais opções forem desapegadas. O preço das roupas varia de R$5 a R$80, já os outros artigos como andador, banheira, canguru e bebê conforto custam até R$400. Na primeira edição, cada uma conseguiu faturar em torno de R$2.000. Para Giulia e as outras mães, é importante passar os objetos dos filhos adiante já que não vão ter mais utilidade para eles. “A maioria das peças foi usada apenas uma vez e outras nunca foram utilizadas. Algumas se perderam pelo fato da criança crescer muito rápido, e a maioria é de marca, de qualidade, mas não tem mais utilidade pra gente.”
SERVIÇO Boutique da Ô Rua Padre Figueira, 535, Aldeota Atende todos os dias com hora marcada. T (11) 94728-8250 Bebê Brechó Rua Henriqueta Galeno, 380, Dionísio Torres T (85) 99686-5541
O m a i r a c a r n ei r o
A maioria dos itens vendidos no brechó é de marcas renomadas, tando do Brasil quanto do exterior
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Cultura
Tradição
Aprendendo técnicas de bordado por meio de histórias escritas e faladas
Após ser relegada por algumas gerações, a arte da tapeçaria volta a ser procurada por mulheres que não tiveram oportunidade de aprender como fazer o “ponto” com suas próprias famílias reportagem: Lisandra Sousa DIAGRAMAÇÃO: Wesley Galdino
O
bordado à mão, até meados do século passado, era uma técnica transmitida de mãe para filha. Hoje, com o fim da tradição familiar, são escolas e pessoas especializadas que formam turmas de bordado para ensinar a arte. As possibilidades de aprender estão em ascendência e se transformaram em uma alternativa para desenvolver habilidades manuais e ideias criativas. Júlio Lira e Laura Moreira são dois desses empreendedores do bordado. Eles criaram escolas para dar destaque a uma cultura que estava se apagando com o tempo. A escola de bordado Jornadas Criativas existe há quatro anos e foi criada por Júlio Lira 56, que já trabalhava com projetos culturais há 14 anos. Nesse período, ele juntou ancestralidade com contemporaneidade e, assim, surgiu o espaço Jornadas Criativas. Júlio administra uma página no facebook, onde divulga as aulas de bordado e trabalha com criação de tópicos por dia como “o bordado na palestina”, “o bordado na alta costura”, “o bordado tridimensional”, dentre outras criações. Já Laura Moreira, 25, formada em psicologia, borda há três anos e começou a ensinar em 2017. Laura divulga suas aulas e seu trabalho através de uma rede social como Júlio, mas a divulgação ocorre pelo instagram. “Durante o curso eu fiquei realmente viciada em bordar. Percebi que era uma atividade desafiadora e que me tirava daquele lugar de ansiedade e pressão” diz Laura sobre seu inicio no bordado. “A página é ligada à escola de bor-
dado, porque é lá onde fazemos a divulgação de nossos cursos, mas, basicamente, é uma página de inspiração. Essa é a proposta”, diz Lira sobre a ideia original para a página que administra na rede social. O curso tem um período de três meses, onde são ensinados vários tipos de pontos, e já conta com uma turma avançada de bordado. As alunas ficam sabendo do curso pelas redes sociais. E como algumas gostariam de refazer o curso para continuar bordando, surgiu o avançado. Lira observa que elas fizeram questão de voltar, não só pelas aulas, mas pelo ambiente acolhedor que o espaço tem. A professora Lucia Ferreira, que trabalha no Jornadas Criativas, é conhecida por seu trabalho e leva a questão de ancestralidade para a escola de bordado. “Ela foi escolhida por ser uma mestra que nasceu dentro da cultura popular. Então pensamos que cumpriria bem essa função de trazer para a gente, que tem mais uma perspectiva contemporânea, um saber ancestral”, explica Júlio.
“A página é ligada à escola de bordado, porque é lá onde fazemos a divulgação de nossos cursos, mas, basicamente, é uma página de inspiração" Julio Lira, 56 A professora Lúcia tem muito orgulho quando fala de suas ex-alunas e como trabalha com algumas. Bastante organizada, gosta de ter
Bruno mour a
Julio Lira e turma de interessadas na arte do bordado estreiam o novo espaço do Jornadas Criativas tudo bem planejado para os dias das aulas, tanto o que será dado como a questão de material. Não deixa de ter contato com as alunas. Cria para cada turma um grupo, onde compartilha conteúdos, assim como estimula seus alunos para que compartilhem também. “A ideia de ensinar surgiu quando eu comecei a revisitar a minha trajetória com o bordado e vi o quanto era uma parte importante da minha vida. Dividir isso com as pessoas passou a ser um objetivo”, diz Laura sobre a ideia de ensinar. Ela faz encontros, uma vez por mês, com um grupo de pessoas para aprenderem mais sobre bordado livre e novas tecnicas. As histórias de suas alunas são divulgadas através das redes sociais além de como algumas conBRUNO MOURA
As aulas práticas para iniciantes mostram detalhes desde o ponto de contorno até linha fina
"Eu não sabia o que esperar, pois nunca tinha pegado em uma agulha e nem conhecia muito sobre o bordado" Laura Moreira, 25 seguiram superar suas perdas por meio do bordado. Apesar de estar há pouco tempo ensinando, Laura teve sete turmas e está agora indo para a 8° turma de “Vivência de bordado livre”. O instagram de Laura tem como objetivo mostrar seus trabalhos criativos e de seus alunos, não somente suas experiências antes, durante e pós aulas de bordados.
A Escola de bordado Jornadas Criativas já formou por volta de 400 alunos que estavam interessados em bordar e alguns já começaram a trabalhar no ramo. Há registro de alunas que abriram sua escola de bordado para passar seus conhecimentos para outras senhoras, jovens e crianças que têm o interesse em conhecer essa técnica. “Tem gente que está vivendo agora uma parte comercial, outros vivem como uma expressão mais artística. A questão da convivência com todos é muito forte. Eu acho que estamos criando uma série de bordado muito forte aqui em Fortaleza”, diz Júlio. A ideia de ensinar outras pessoas vem das próprias alunas que tiveram suas experiências na escola de bordado Jornadas Criativas.
No início, o bordado era uma obrigação Anos atrás as mulheres eram obrigadas a bordar. Uma tradição que todas deviam saber antes do casamento. O bordado sempre teve uma função estética e não utilitária e, por conta disso tornou-se atraente como arte e passatempo popular. O bordado existe há décadas e devido às mudanças que aconteceram durante séculos, essa arte passou a ser uma tradição familiar transmitida de mãe para filha. Mas, com o tempo, foi sendo esquecida. É a arte de ornamentar os fios de linha formando desenhos nos tecidos, executada à mão ou à máquina, com agulhas de várias grossuras. É bem mais valorizada quando feita à mão. No passado, muitas mulheres bordavam os seus enxovais de casamento. O bordado é uma referência forte
na historia da arte, não apenas como algo que as mulheres deveriam saber no passado, mas como parte da história.
SERVIÇO Escola de Bordado Jornadas Criativas F obordadovaibemobrigado Rua Isac Meyer, 199 T (55) 85 3130 1618 Responsável: Júlio Lira Escola de Bordado da Laura Moreira I Laubordando W (55) 85 9 9955 1703 Responsável: Laura Moreira
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Cultura
Fortaleza–Ceará • sexta-feira, 1.° de novembro de 2017
Papiro
20 de novembro
Ceará prepara atividades para comemorar Dia da Consciência Negra
Parceria entre Secretaria da Cultura do Estado e coletivos está viabilizando apresentações culturais e de conscientização da população em torno do tema preconceito racial
Div u l g a ç ã o / Se c u lt / F e l ipe Ab u d
REPORTAGEM Victoria Martha DIAGRAMAÇÃO Vitória Yngrid
O
Dia da Consciência Negra no Ceará contará com programação organizada pelo movimento negro em conjunto com a Secretária da Cultura do Estado do Ceará - Secult, que promove apresentações dos rappers Mano Brown e Preto Zezé, marcadas para acontecer em 20 de novembro, na Praça Verde, no Centro Cultural Dragão do Mar. Durante o evento, Mano Brown apresentará seu novo álbum, “Boogie Naipe”. A ideia dos organizadores é descentralizar as reflexões e debates sobre a temática da consciência negra, realizando atividades durante todo o ano, como é caso da segunda edição do Favela Arte Festival, realizado entre os dias 26 e 29 de julho. O evento foi desenvolvido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, por meio da Rede Cuca, em parceria com a Central Única das Favelas - Cufa.
“Necessidade de quebrar os paradigmas da ignorância e preconceito contra a cultura negra” Jackson, 34 Um dos planejadores da programação é Carlos Jackson Ferreira da Silva, integrante do movimento negro há 16 anos, professor de história e sociologia, graduado em Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Ceará-UECE e pós graduado em História da Cultura Afro-brasileira e Indígena pela Faculdade Ateneu; em Filosofia da Aprendizagem pela UECE, e Políticas Sociais pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Ele
Desfile do grupo Maracatu Naçâo, durante o IX encontro mestres do mundo, em Juazeiro do Norte, que aconteceu de 21 a 29 de novembro diz que conheceu essas articulações através das manifestações culturais como Maracatus, em desfiles do carnaval de Fortaleza. Destacou ainda que o interesse em participar se deu pela sua afirmação em declarar-se negro, o que foi estimulado ao conhecer dois professores da UFC: Ilário Ferreira e Eurípedes Fumes. Carlos Jackson afirma que o movimento negro recebe o apoio do Governo do Estado, simbolizado na atuação da Central Única das Favelas, representado por Preto Zezé, que
promove a programação do dia 20 de Novembro, além de outras programações culturais durante o ano. As atividades abordam o ato do povo negro resistir, de ser consciente, de ser forte e a história da morte de Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro, que deu origem ao Dia da Consciência Negra. O professor fala que entre os temas discutidos estão a valorização, conservação da cultura negra e o combate ao preconceito racial. Diz que a escolha do tema sempre está
de acordo com as reais necessidades de discussão, para melhor ser compreendido e assimilado pela sociedade. E, em geral, também parte da necessidade de quebrar os paradigmas da ignorância e o preconceito contra a cultura negra. Ele afirma que as relações políticas têm sua importância nas conquistas do povo negro, pois a questão de valorização das manifestações culturais perpassa também a esfera política, além de incentivos, patrocínio e apoio para divulgação do
movimento. Porém, o professor diz que tem se tornado mais complicado devido à política da atual gestão presidencial, que vem de svalorizando a educação e os movimentos sociais.
SERVIÇO: www.enegrecer.blogspot.com.br www.secult.ce.gov.br F mnuceara
Movimento Estudantil debate o tema da questão racial Div u l g a ç ã o / Se c u lt / F e l ipe Ab u d
Preparação de pintura para o desfile do grupo Maracatu Nação
O movimento estudantil Enegrecer está na organização do novembro negro, que engloba o Encontro Estadual do Enegrecer, a ser realizado de 2 a 5 de novembro, no Cetrex, rua Leticia Marques Cavalcante, 4597, em Caucaia. Nesse encontro serão debatidos temas como educação, saúde mental, segurança pública, politicas sobre drogas, estética e outros assuntos sob a perspectiva negra. O encontro será aberto para todos e serão disponibilizados ônibus para transportar os participantes. O movimento estudantil Enegrecer surgiu em 2009, após a reunião de militantes negros que sentiam a necessidade de uma organização própria, para debater questões sobre o povo negro . Hoje, o Enegrecer é um movimento social nacional, que está para além da universidade
e projeta uma sociedade guiada não só por valores antirracistas, como também contra as questões relacionadas a LGBTfobia.
Militância A integrante do movimento e acadêmica do curso de Serviço Social Samara Andrade lima, 23, que é militante do Enegrecer desde 2015, afirma que estar dentro da universidade e se aproximar dos pretos e pretas, como ela chama os militantes que fazem parte do grupo, é muito importante para fortalecer a resistência do movimento. Fala também que muitas vezes os movimentos estudantis mais amplos tratam as questões raciais como algo à parte e deslocado da totalidade, como se a classe trabalhadora, as pessoas encarceradas, as vítimas de feminicídio e as pessoas que mais
sentem o abandono do estado, não tivessem cor Samara explica que decidiu participar do Enegrecer porque, diferente desses movimentos mais amplos, o Enegrecer é um coletivo que tem as vidas negras como algo central no campo de luta. A estudante fala que em 2015 o movimento denunciou os programas policiais que promovem um discurso racista, contribuindo com o pensamento de que existem vidas que merecem ser tiradas e que vidas negras importam menos. Uma das mais recentes ações do Enegrecer aconteceu dia 13 de maio deste ano, em frente à Secretaria de Segurança, quando eles denunciaram mortes de negros no Ceará. A ideia é que todos fiquem alertas para esse tipo de caso.
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Cultura
Diversidade
Primeiro festival LGBT de Fortaleza reunirá atrações locais e nacionais
A cidade já se prepara para receber artistas de destaque da cena gay brasileira. Será uma noite de celebração e reforço na luta pelo respeito e igualdade de direitos para os homossexuais Rodolfo Magalhães/Divulgação
Com apenas 22 anos, Pabllo Vittar é uma das cantoras de maior sucesso no cenário brasileiro REPORTAGEM Pedro Saraiva diagramação Pedro Saraiva
A
drag queen Pabllo Vittar será uma das principais atrações do primeiro festival LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) de Fortaleza, o “Pisamenos”, que acontece dia 2 de dezembro , no Centro de Eventos do Ceará. A estimativa de público está prevista
para cerca de 3 mil pessoas, entre heteros e gays. O festival está sendo visto, por idealizadores e público, como mais um aliado na luta contra o preconceito e para o aumento da visibilidade da comunidade LGBT. Além de Pabllo, o evento também terá como atrações a Banda UÓ e DJs locais. Humberto Eric, 22, é o idealizador do projeto. Estudante de publicidade e propaganda, e promoter de
festas há quase seis anos, diz que o desejo por organizar esse festival é antigo, mas considerou agora o momento certo para sua realização. “Sempre vi que esses grandes festivais atraem muita gente e trazem visibilidade, então por que não fazer um voltado especificamente para o público gay e usar isso a favor de nossa luta?”, reflete. Ele considera o ano de 2017 fundamental para o movimento. “O assunto tá
bem na mídia. Vemos exemplos na novela, nos programas de TV. Temos também uma drag queen fazendo muito sucesso como cantora, que inclusive é uma das atrações do evento, com as suas músicas em número um nas plataformas de streaming”, relata, empolgado. O festival está sendo motivo de comemoração para algumas pessoas, como Juan Rocha, 21, estudante de publicidade e propaganda e que trabalha como DJ. Assumidamente gay, Juan considera importante a existência desse evento. Para ele, algo desse porte, com uma drag queen mostrando que é possível fazer sucesso sendo o que é, e uma banda formada por gays e uma transexual, é muito bom para quebrar barreiras do preconceito. “Com Pabllo Vittar conquistando cada vez mais sucesso e espaço, tá abrindo portas para que outros gays que têm talento, mas que se sentiam presos por conta da sua orientação sexual, possam sair e mostrar o que sabem fazer. Isso é muito bom”, comenta.
“O assunto tá bem na mídia. Vemos exemplos na novela, nos programas de TV. ” Humberto Eric, 22 Juan fala que nunca sofreu ataque homofóbico, mas que, por gostar de se destacar quando vai tocar numa festa, acaba atraindo olhares pre-
conceituosos. “Quando vou tocar, coloco um shortinho, uma meia arrastão e uma blusa de paetê brilhosa. Eu adoro me vestir assim, mas vejo que algumas pessoas ficam olhando e julgando. Ao mesmo tempo, vejo que abro portas pra outras pessoas se inspirarem para se vestir como desejam”, destaca.Para ele, esse evento só vai aumentar a liberdade de gays que ainda se sentem presos pelo preconceito. Para o administrador Bruno Leadebal, 22, a palavra que define o festival é inclusão. Segundo ele, hoje mais do que nunca os festivais estão em ascensão no Brasil, e mesmo a diversidade sendo grande nesses eventos, o público LGBT é bem pequeno e sofre preconceito por uma demonstração de afeto em público. “Acredito que um festival LGBT quebra barreiras e também ajuda na questão de fazer com que o público se sinta mais à vontade para agir como quiser, sem medo de sofrer uma represália”, explica. Já para o arquiteto Allan Magalhães, 25, o evento tem um grande papel na inclusão, porque mistura heterossexuais e homossexuais num ambiente de festa e ajuda a uni-los. “Os gays sofreram muito no passado, mas agora acho que eles estão cada vez mais conquistando seu espaço e respeito perante à sociedade”, completa. É obrigatória a apresentação de documento oficial, com foto, na entrada do evento. Para menores de 18 anos, é necessária autorização dos pais, autenticada em cartório.
Charlotte: dificuldades e dores para estar sempre bela
A cultura drag tomou conta de For- intimas, dói andar de salto, usar modeladores corporais, dói para taleza. Não é difícil sair no final de manter a peruca presa, dor nas semana e se deparar com uma. Neto unhas, enfim, tudo dói”, desabafa. Fabrini, 22, dá vida a uma das mais Mas mesmo com tudo isso, nunca famosas drag queen da noite LGBT pensou em desistir do que faz. da cidade, a Charlotte Killz. Tudo Uma coisa que Neto enfoca é que começou há pelo menos quatro anos, nunca sofreu preconceito estando quando conheceu outras duas drags de drag, mesmo em festas que não de Cuiabá que também estavam eram voltadas para o público gay. iniciando. Passou a acompanhá-las pelas redes sociais e o desejo de “se “Eles [os heteros] adoram! Querem tirar foto, interagem, tratam com montar” só aumentou. “Ver elas respeito. Eu adoro isso”, comenta, todo final de semana com uma nova sorrindo. O jovem finaliza contando maquiagem, uma nova roupa, um novo ‘close’ me deixou muito ins- que Charlotte Killz mudou sua vida. pirado a fazer também”, comenta. Ele saiu do interior pra cá e agora vive do que ama fazer, da sua arte. Fabrini atualmente tira da arte drag queen a sua fonte de renda. Traba- Julga muito importante o movilha como DJ em diversas festas, in- mento que está havendo no mundo atualmente em prol dos LGBTs. cluindo as voltadas para o público heterossexual, e também possui a “Quanto mais eventos, mais debate e esclarecimento, mais o preconceito sua festa própria. O maior desafio que ele enfren- vai diminuir”, conclui. tou no começo foi aprender a se maquiar. “Foi muito difícil. Eu não sabia nada de maquiagem. Aprendi vendo tutoriais no YouTube e treinando em casa”, relata. Atualmente maquiagem não é a dificuldade. O desafio agora é estar de drag. Segundo Neto, é muito doloroso estar produzido. “Dói esconder as partes
“Eu não sabia nada de maquiagem. Aprendi vendo tutoriais no YouTube e treinando em casa” Neto Fabrini, 22
Jonathan Amorim
SERVIÇO 02/12/2017 - 22 horas INGRESSOS - 6°LOTE PISTA: ❦❦ Meia: $ 60,00 ❦❦ Inteira: $ 120,00 FRONT ❦❦ Meia: $90,00 ❦❦ Inteira: $180,00 CAMAROTE 4 fichas de bebidas (4 fichas de vodka ou 4 fichas de cerveja) ❦❦ Valor único: $150,00 Vendas Online: www.tinyurl.com antecipadospisamenos Vendas Físicas: Lojas Clikks (Shopping Benfica dinheiro) ❦❦ T-Shirt in Box (Av. Joaquim Nabuco 2270 - dinheiro) ❦❦ T-Shirt in Box (Shopping RioMar Kennedy - dinheiro) ❦❦ T-Shirt in Box (Av. Dom Luis 820 cartão e dinheiro) ATENÇÃO: Festas para maiores de 16 anos
Neto nasceu em São Bento, na Paraíba, e veio pra Fortaleza aos 18 anos
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Esportes
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Resistência
Torcidas cearenses querem fim de preconceitos nas arquibancadas
Apesar de torcerem para equipes diferentes no estado, alvinegros, corais e tricolores se unem para lutar e acabar com qualquer tipo de intolerância dentro e foras dos estádios A r q u iv o P e s s o a l / Re s i s t ê n c i a C o r a l
REPORTAGEM Iara Costa DIAGRAMAÇÃO Vitória Yngrid
V
isto geralmente como um ambiente machista, homofóbico e racista, o estádio de futebol é muitas vezes deixado de lado pelas minorias sociais justamente por conta disso. As torcidas organizadas, ou denominadas Ultras, porém, vem chegando para acabar com qualquer tipo de opressão política ou social que possa haver nesses espaços. Em Fortaleza, elas são conhecidas por Ultras Resistência Coral, Ceará Antifascista e Resistência Tricolor. Surgida em 2005, após a união de dois torcedores do Ferroviário com posições políticas voltadas para o comunismo, socialismo e anarquismo, a Ultra Resistência Coral é pioneira na ideia de unir futebol com política no país. Segundo Leonardo Nunes, 35, professor e membro da Ultra, a iniciativa nasceu da necessidade de se ter um grupo que não reproduzisse os preconceitos presentes nas torcidas organizadas. “Ao visualizarmos as formas como as torcidas tradicionais se comportavam no estádio, resolvemos, como militantes políticos, fazer uma torcida que não reproduzisse preconceitos e que os combatessem. Aos poucos, foram se integrando outros membros ao grupo”, disse ele. As torcidas Resistência Tricolor e Ceará Antifascistas nasceram inspiradas na torcida do Ferroviário. Segundo membros das duas, eles sempre tiveram apoio da torcida do tricolor da Barra. O principal foco das três torcidas é politizar e combater a opressão e o fascismo das arquibancadas, assim como o capitalismo, que hoje tanto prejudica o futebol. Para unir o esporte com esses pensamentos ideológicos, a torcida do Ferrão fala com orgulho da origem
No Estádio Elzir Cabral, torcida coral exprime por meio de faixa o orgulho da sua origem operária que teve início na extinta RFFSA operária na extinta Rede Ferroviária Federal S.A.(RFFSA), e de como isso assemelha-se às ideias defendidas pela esquerda política. Já as ultras do Vovô e do Tricolor veem a importância e a necessidade de um grupo politizado graças à ideia de terem torcidas de massas. “Por que o Fortaleza, maior time do estado, não pode ter uma torcida de esquerda, antifascista?”. Foi este o questionamento feito por um dos fundadores da Resistência Tricolor durante o seu surgimento, segundo contou Nestor Ferreira, um dos participantes da torcida. As três ultras participam ativamente de atividades políticas, mas somente a Ultra Resistência Coral trabalha atualmente nas arquiban-
cadas. A ideia da Ceará Antifascista e da Resistência Tricolor é que as duas estejam ativamente nos estádios com bandeiras e camisas até 2018. Apesar disso, as ultras não deixam de atuar em atividades sociais e políticas. Segundo o estudante Mário Ítalo, 18, a ultra alvinegra contém uma frente ampla de vários movimentos sociais que integram a torcida. A mais ativa, porém, é a ultra do tricolor da Barra, que participa de debates, protestos e outras atividades políticas e sociais. O que os une, porém, não são só esses pensamentos, mas também seus enfrentamentos contra o futebol moderno. Os membros das três torcidas demonstram resistência e luta contra a elitização do futebol e
a modernização dos estádios, que O professor e membro de Ultra só fazem com que o esporte fique Leonardo Nunes reflete sobre como ainda mais limitado, enquanto deve- clubes como o Ferroviário que acaria abrir cada vez mais espaço para bam sendo atingidos e como isso as pessoas usufruírem. “A Copa do reforça a ideologia de sua torcida. Mundo, por onde passou, causou sé- “Esse futebol organizado a partir do rios danos ao futebol tradicional e de interesse de grandes empresários, arquibancada. Os valores exorbitan- que envolve interesses da mídia por tes, a criação das Arenas e o acordo conta da audiência, como o Ferroviácom a grande mídia, impediram rio não é como o Ceará e o Fortaleza; que os torcedores constituíssem fica relegado e acaba tendo que se uma bela festa nos estádios”, disse submeter por questões financeiras o alvinegro e estudante Mário Ítalo. aos interesses da mídia na questão de venda de direitos de transmissão dos seus jogos, e acaba tendo que entrar nessa lógica. Torcer para um time que sofre com esse modelo de futebol reforça ainda mais nossa luta contra a elitização e a mercantilização do futebol”, explica.
As ultras não deixam de atuar em atividades sociais e políticas
A relação dos torcedores com seus clubes e a esfera pública A r q u iv o P e s s o a l / Re s i s t ê n c i a C o r a l
Faixa da Ultra Resistência Coral do Ferroviário que já foi censurada durante uma partida de futebol
Com ideologias diferentes das torcidas mais tradicionais, Resistência Coral, Tricolor e Ceará Antifascista também têm distintos relacionamentos com seus times. Por seus ideais políticos, nenhuma delas recebe apoio financeiro, mas a Ultra Coral sempre teve a estima de membros do clube, já tendo espaço em um dos programas oficiais de rádio. As torcidas do Ceará e Fortaleza nunca buscaram apoio de seus clubes, mas também não tiveram problemas com qualquer autoridade por conta disso. Em suas lutas diárias de arquibancada e nas ruas, a Coral relata que várias vezes já teve problemas em expor seus ideais no estádio por meio de faixas. “A nossa faixa ‘Resistência Palestina’ já foi tomada
e proibida de ser exposta”. Porém, eles contam que nunca tiveram qualquer problema com o clube por conta disso. Na verdade, segundo Leonardo Nunes, membro da Ultra, o diagnóstico é um só: “Os problemas são com a esfera pública”.
SERVIÇO Resistência Coral F ultrasresistenciacoral Ceará Antifascista F cearaantifa Resistência Tricolor Fresistenciatricolorfec
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Esportes
Paratletismo
Cearense vai de Pindoretama ao ouro nas pistas paraolímpico nacionais
Nascido com má formação nos membros inferiores, o bicampeão mundial em lançamento de dardo já conseguiu alcançar mais uma marca em sua carreira Repórter: Talita Chaves Diagramação: Thyago Diniz
C
om a marca de 51,32 metros no arremesso de dardo em 28 de outubro desse ano, Francisco Jefferson de Lima, 25, natural de Pindoretama, garantiu medalha de ouro na final da terceira etapa do Circuito brasileiro Loterias Caixa Paraolímpico de Atletismo, realizada no Centro Olímpico de São Paulo. Com essa marca, ele reúne mais chances de participar do Sul América, competição que ocorrerá em 2018. Jefferson havia sido classificado em segundo lugar entre os oito melhores do Brasil em arremesso de dardo para competir na final da terceira etapa desse circuito paulista, e vinha se preparando para tentar uma boa colocação no ranking. Com uma carga horária de cinco horas e meia de treinos diários no Estádio Municipal O Costão, ele mostrou confiança e persistência na sua busca por uma boa colocação. “O meu nível de treinamento foi aumentando de acordo com a proximidade da competição. Todos os dias treinava sequências e formas diferentes para que não houvesse meu desgaste físico”, afirma o paratleta. Francisco também fala de sua alimentação restrita e as tentativas de ficar longe do excesso de frituras, doces e bebidas gástricas. “Apesar de estar falhando um pouco na minha alimentação, tento me manter longe de alimentos que não me trarão melhorias físicas”, assume o atleta. O profissional em educação física e técnico de Atletismo da cidade, Gevanildo Lima, 30, conhecido
F o t o s : Ta l i ta Ch ave s
sil, como foi em 2010. Mas Jefferson chegou ao Ouro. Por meio da Associação Edvaldo Prado, o Governo do Estado do Ceará auxilia a Secretaria do Esporte na liberação das passagens de Jefferson para as competições. “A Prefeitura Municipal de Pindoretama dá uma ajuda de custo para o atleta se hospedar e se alimentar durante os dias de competições”, afirma o secretário do Desporto e Lazer de Pindoretama, Marcelo Rocha, 44. A Prefeitura também ajuda nas compras de uma parte dos materiais necessários para os treinamentos dos atletas. Outros equipamentos são adquiridos com projetos sociais ou compras feitas pelos próprios atletas. Jefferson também é beneficiado pela bolsa atleta do Governo Federal e, por meio da Associação Edvaldo Prado, conseguiu patrocínio da empresa M. Dias Branco. Através disso, consegue se manter no esporte, garantindo permanência no atletismo e o sustento de sua família. O atleta já possui um currículo repleto de vitorias e é tricampeão cearense, Norte e Nordeste, tricampeão Circuito Loterias Caixa Brasil de Paratletismo, e bicampeão nos jogos pan-americanos de Guadalajara no México. Conquistou medalha Paratleta Jefferson exercita os membros inferiores utilizando as barras de obstáculo no estádio O Costão de ouro no Mundial de Jovens da International Wheelchair & Amputee popularmente por Washington, é Jefferson para as competições de Circuito Brasileiro Loterias Caixa Sports Federation - IWAS, ocorrido técnico de Jefferson e um dos prin- 2017 desde outubro de 2016. A pre- Paraolímpico de Atletismo”, explica na República Tcheca, em 2011, e ocupa cipais responsáveis por sua entrada paração inicial foi para a etapa do o treinador. o sétimo lugar no ranking mundial no atletismo. “Jefferson sempre Circuito Norte e Nordeste de AtleWashington já acreditava em em lançamentos de dardos F44, semostrou grande potencial em seus tismo Paraolímpico, que ocorreu em uma boa colocação de seu paratleta gundo o ranking oficial 2017 de Atlearremessos; não é à toa que che- Recife, Pernambuco. “Essa etapa foi nessa final, e estava na expectativa tismo Paraolímpico e o site Official gou até aqui com grandes títulos”, muito importante, pois, foi a par- de que ele conquistasse o segundo World Para Athletics. Para Jefferson, afirma o técnico. tir dela que o Jefferson garantiu lugar no ranking brasileiro de me- “Não importa o grau de sua deficiênWashington vem preparando vaga para as etapas brasileiras do lhor lançamento de dardo do Bra- cia, siga lutando por seus sonhos”.
O destaque para o atletismo na cidade de Pindoretama
Em 2006, Washington, junto com o técnico Antônio José, conhecido por Pesão, decidiram desenvolver e introduzir o atletismo na cidade. “A modalidade esportiva não era tão conhecida e acabava sendo pouco praticada na cidade, por conta da ênfase que era dada ao futebol e futsal na época”, comenta Washington. Posteriormente, em 2008, Washington descobriu o atletismo para portadores de deficiência, e seu primeiro aluno foi o Jefferson. Washington conheceu Jefferson em uma partida de futebol, na qual que ele era o goleiro. Percebendo que o jovem tinha potencial nos arremessos de bola, o técnico o chamou para fazer alguns testes de lançamento de disco e peso, e assim fez, conseguindo boas marcas. Logo após os resultados de Jefferson, Washington o levou para a Associação dos Deficientes Motores (ADM-CE) onde fez testes de arremessos de dardo. Apesar de não ter se saído muito bem, persis-
tiu e hoje é uma das suas melhores modalidades.
A modalidade esportiva não era tão conhecida e acabava sendo pouco praticada na cidade ” Gevanildo, 38
Jefferson participou das competições promovidas pela Universidade de Fortaleza em lançamento de dardo, o Circuito Unifor de Atletismo 2010. Competiu com pessoas sem grau de deficiência, conquistando duas medalhas, uma de ouro, em lançamento de disco, e outra de prata, em arremesso de dardo. Nessa mesma competição, Jefferson e o técnico Antônio José encontraram outros atletas com deficiência da cidade de Cascavel-CE, que lhes informaram sobre a existência de competições especificas para pes-
soas com deficiência. A partir daí, os técnicos providenciaram os procedimentos para que Jefferson tivesse apto a atuar nessas competições. Uma das maiores dificuldades que os atletas enfrentam para se manter no atletismo é a ausência de apoio, patrocínio e a falta de um local apropriado para os treinos. "Hoje treinamos em um campo gramado. Não é o ideal, porém isso nunca impediu dos atletas adquirirem bons resultados em suas competições. Isso prova que não é o local que praticamos os treinamentos que se tornará a principal barreira no caminho", afirma o técnico. “Muitas vezes nossos paratletas precisam competir fora do Ceará porque não temos competições que atendam essa necessidade dos atletas”, afirma Marcelo. Apesar das dificuldades, Washington alcançou seu objetivo de inserir o atletismo na cidade e hoje recebe jovens atletas locais e de cidades vizinhas para treinar a modalidade, através do projeto Ame Atletismo.
Washington dá acompanhamento corpo a corpo para Jefferson
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Esportes
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Bola Oval
Cresce o número de praticantes de futebol americano no Ceará
Arquivo pessoal
A prática vai deixando de ser desconhecida pelos cearenses, e passa a se destacar no cenário esportivo do estado, com dois times na Confederação Brasileira REPORTAGEM Rodrigo Garcia diagramação Gerson Barbosa
O
Ceará conta, em 2017, com duas equipes reconhecidas pela Confederação Brasileira de Futebol Americano – CBFA: o Ceará Caçadores, atual vice-campeão da Liga Nordeste, fundado em dezembro de 2013, após a fusão dos rivais Ceará Cangaceiros e Dragões do Mar; e o Roma Gladiadores, único representante cearense na Liga Nacional de Futebol Americano. Apesar do crescimento no número de praticantes, os dois times ainda se ressentem da falta de patrocínio para os que se dedicam ao esporte. “A gente pratica porque realmente gosta do esporte”, relata Guilherme Matos, 27, atleta do Ceará Caçadores, fazendo alusão à falta de incentivo financeiro por parte de órgãos públicos e patrocinadores. Hoje estabelecido como o esporte mais popular dos Estados Unidos, o futebol americano passou por muitas reformulações e adaptações para a sua consolidação atual, que o coloca como um dos esportes mais lucrativos para a indústria esportiva e publicitária norte-americana.
Como resultado deste sucesso, muitos países formaram equipes, ligas e federações para organizar e difundir a cultura do esporte. No Brasil, por exemplo, o esporte vem ganhando espaços e construindo um caminho próprio. Segundo Guto Souza, presidente da CBFA, a modalidade teve início no Brasil no começo dos anos 1990, nas praias do Rio de Janeiro. A partir daí, o futebol americano se espalhou por algumas regiões do País. Guto explica ainda que, no Sul, o esporte teve o primeiro jogo equipado na
“A gente pratica porque realmente gosta do esporte” Guilherme Matos, 27
década de 2000. Segundo a Confederação existem atualmente no País, filiados à CBFA, 150 times. Além disso, há ainda outras 60 equipes, entre masculinas e femininas, 60 times do flag football, modalidade em que no lugar de derrubar o jogador com a bola ao chão, o defensor deve retirar uma fita (flag) para parar uma descida
(down). Em campeonatos nacionais, são 30 times na Brasil Futebol Americano - BFA, 30 na Liga Nacional e 10 na Liga Nordeste. De acordo com Guto, juntando com as filiadas, através das federações que não entram no nacional, seriam em torno de 80 equipes. O número pode dobrar caso sejam contados os times que não são filiados. Ainda segundo a CBFA, não existem jogadores profissionais no Brasil, embora o esporte esteja em constante crescimento. "O esporte é amador. Ninguém recebe para jogar. Até tem alguns gringos que são 'contratados' por equipes, mas nada que considere ainda um nível profissional", informou o presidente. A popularização do esporte se destaca pela promoção de visibilidade das TVs por assinatura, uma vez que os jogos da National Football League- NFL – principal liga de futebol americano profissional do mundo – não são transmitidos pela TV aberta no Brasil. “Pra gente que gosta, às vezes é um pouco complicado acompanhar os jogos, as equipes, pela falta de visibilidade aqui no Brasil. Temos que recorrer aos canais pagos, internet...”, desabafa
Bulls Beer House se caracteriza pela transmissão de jogos e reúne fãs o estudante universitário Matheus Feitosa, 24, amante do esporte. No Ceará, bares trazem o serviço de transmissão de jogos para o público, atraindo uma grande clientela, antes órfã desse tipo de serviço, "Os esportes americanos têm um grande público aqui em Fortaleza, que até então buscava
local para assistir aos jogos e não encontrava. Então, viemos dar essa opção para os fãs de esporte e fomos abraçados", comenta Gustavo Linhares, sócio do Bulls Beer House. O bar, localizado na Parquelândia, transmite jogos da NFL e também de outros esportes americanos, como basquete e beisebol.
Fortaleza Tritões: da brincadeira ao reconhecimento arquivo pessoal
O começo do grupo se deu em consolidada e agradece aos com2016, quando amigos se reuniram panheiros de esporte. “A gente fica no aterro da Praia de Iracema, na feliz porque pegamos muita coisa já tentativa de praticar alguma ativi- desenvolvida por outros times e isso dade física. “A gente foi chamando é bom para o esporte como um todo”. amigos, conhecidos, até que a “É um esporte muito democrático, ideia foi crescendo e nos estabe- tem espaço pra todos os biotipos, do lecemos como equipe”, como lem- mais magrinho ao gordinho”, relata bra Magnum Luciano, 32, atleta e Daniel Queiroz, 25, atleta do Fortapresidente do Fortaleza Tritões. No leza Tritões. Magnum explica que o início, a ideia era difundir os con- esporte atende a um grande público: ceitos do esporte, repassar as prá- “Basta você ter mais de 16 anos e posticas e popularizar a modalidade, suir um protetor bucal. Inclusive mas com a adesão de interessados, estamos precisando muito de jogaos idealizadores resolveram dar um dores acima dos 100 kg”. passo adiante. “A gente queria dar um novo passo, tomar outro rumo. Foi aí que decidimos nos tornar um time”, explica. Ele afirma que a equipe está em processo de transição, tomando todas as providências para que seja reconhecida pela Confederação Brasileira o mais rápido possível. Segundo Magnum, o futebol americano tem crescido em popularidade Sobre a dinâmica do jogo, Magno Brasil. “Há pouco mais de sete num explica que o futebol ameriou oito anos você não encontrava cano não é um esporte violento, e venda de equipamentos e não tinha complementa que é um esporte de um espaço para treinar”. contato. “Pode parecer que existem Ele pontua que o time tem a sorte machucados, mas pelo contrário, de estar em um momento em que o raramente a gente se lesiona. Exisfutebol americano já encontra es- tem lesões, mas como em qualquer paço, uma organização bem mais outro esporte”.
“É um esporte muito democrático, tem espaço pra todos os biotipos” Daniel Queiroz, 25
Fortaleza Tritões encara Tabuleiro Carcarás no seu primeiro jogo oficial no Estádio Murilão, em Messejana
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Esportes
Adrenalina
Wakeboard, uma prática radical que merece muito mais que a sua atenção
Mesmo acumulando longos anos de história, no Ceará a modalidade é considerada recente, e seus fiéis adeptos disputam a atenção dos holofotes com outros tantos esportes aquáticos REPORTAGEM Iago Monteiro diagramação Ermeson Santiago
Thi a g o G i o r d a n i
A
pesar de não ser o mais praticado dentro da água, o Wake é um prato cheio para quem busca novidade, adrenalina e contato com a natureza. Nascido a partir do surf, o esporte com prancha se diferencia por ser puxado por lancha. Mas diferentemente do surf, enfrenta a falta de divulgação e de patrocinadores.No Ceará, esses têm sido um dos principais problemas que os atletas têm enfrentado. Mesmo assim, os adeptos têm procurado alternativas para continuar praticando o wakeboard nos seus mais diferentes níveis. O atleta profissional e instrutor Italo Alves, 23, conta que conheceu o Wake “através de dois amigos que me levaram para praticar pela primeira vez no Colosso (WakePark). Acho que em 2010 ou 2011. Na época foi puramente lazer e conhecer algo novo, mas acabei me apaixonando pelo esporte e me tornando atleta’’. Apesar de existir um calendário de competições locais promovido pela Associação de Wakeboard Cearense – AWC, o Wake enfrenta a falta dos holofotes, que muitas vezes atrasa o desenvolvimento da atividade. ‘’É um esporte relativamente novo, e também por ter um custo elevado, poucas pessoas conhecem ou praticam. Achar um sistema de Cable ou lancha também é um desafio. Embora tenhamos dois sistemas de Cable no estado, somente um é realmente voltado para a prática do esporte’’, diz o atleta. Outro problema enfrentado pela falta de popularidade é a ausência de investidores. Sem estes parceiros,
“São poucos que vivem do esporte, mesmo competindo na categoria profissional’’ Germano Nottingham, 25
Italo Alves executa um manobra aérea, chamada Tail Grab, no Colosso Wake Park, em Fortaleza o acesso à infraestrutura se torna limitado, e coloca o Nordeste na desvantagem em relação a outras regiões do Brasil, como explica Italo: ‘’Hoje, São Paulo e Goiânia são os pontos fortes de prática, o Ceará vem em seguida. Como nós temos
"É um esporte relativamente novo, e também pode ter um custo elevado" Ítalo Alves, 23
muitos esportes aqui (no Ceará), como por exemplo o Kiteboard (que possui muita semelhança com o Wake) fica difícil competir’’. Para o atleta profissional Germano Nottingham, campeão brasileiro de 2015 e presidente da AWC,
A nova modalidade, da Califórnia para o Brasil
Criado por um surfista de San Diego, na Califórnia, chamado Tony Finn, o Wakeboard se popularizou no Brasil na década de 1980, quando surfistas começaram a utilizar pranchas presas aos pés para serem puxados por lanchas e realizarem suas acrobacias. Os anos se passaram e a proliferação do esporte aconteceu, aprimorando técnicas, elevando o nível e descobrindo novas possibilidades. Do mar para a lagoa, o Wakeboard evoluía sua prática, com a chegada do sistema de cabos, nominados ‘’CableParks’’, que substituíram o uso trabalhoso de lanchas para puxarem os atletas através de cabos de aço, instalados em torres nas margens da lagoa. Apesar de o cenário não ser dos mais atrativos para quem já pratica ou pretende iniciar suas atividades, por outro lado, não falta disposição e empenho entre a comunidade que aderiu ao esporte para que o Wake-
todas as problemáticas enfrentadas por aqui, tornam ‘’o esporte ainda bem amador no Brasil’’. Ele garante que ‘’são poucos que vivem do esporte, mesmo competindo na categoria profissional’’. Apesar das dificuldades, os atletas buscam fazer a diferença e contribuir para o crescimento da modalidade, através de escolinhas e competições voltadas para o público amador que, mesmo a passos curtos, também tem crescido em volume.
R o g é r i o E s t eve s
Germano Nottingham no Sunset Wake Park, em Goiânia
board consiga alçar voos maiores. E, é claro, tem espaço para todo mundo, seja para os atletas dos finais de semana, ou para quem pretende construir carreira no esporte. Existem diversas modalidades esportivas a procura de novos praticantes, e sair um pouco do convencional pode ser prazeroso. Seja na água ou em qualquer outro lugar, o importante é inserir o esporte no cotidiano como fonte de saúde, cultura, conhecimento e diversão. "Indiferente de a pessoa querer realmente entrar para o mundo do Wake ou somente experimentar, eu indico que faça uma ou duas aulas com alguém instruído na prática. É importante o feedback de quem tem noção do que se passa na água", lembra o atleta Italo Alves. Vale destacar também, que é de extrema importância o acompanhamento médico especializado para o início de qualquer atividade física.
Após ter a oportunidade de conhecer outros WakeParks no Brasil, Germano observa ainda que ‘’...a diferença é que os cables ‘Full Size’ possuem muitos obstáculos – Naga, em São Paulo, tem uns 19 e Sunset, em Goiás, tem uns 12 - enquanto em Fortaleza temos três obstáculos. Esses cables também comportam entre oito e nove pessoas andando ao mesmo tempo, aqui em Fortaleza só pode andar um por vez’’. O certo é que as diferenças estruturais dos locais de prática afetam diretamente o treino dos atletas, que não estão acostumados a lidar com diferentes obstáculos. "Quando vamos competir sentimos a dificuldade de dominar esses outros obstáculos que não temos por aqui ’’, afirma Germano. a r q u iv o pe s s o a l
Germano: prancha é sob medida
SERVIÇO: Colosso Lake Lounge W (85) 98160088 www.colossofortaleza.com.br AWC www.awcwake.com.br
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