A última palavra

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MIGUEL TEIXEIRA / Ano: 1 / Mês: 1 / Edição número: 9 / Info: aultimapalavra@hotmail.com

NÚMERO 9: ULTRAS, COMO ERRADICÁ-LOS?

12-12-2014


A ÚLTIMA PALAVRA ULTRAS, COMO ERRADICÁ-LOS?

Faltavam cerca de 10 minutos para o início da partida. O speaker fazia-se ouvir com o habitual grito de incentivo aos adeptos da casa: “Rio Ave…”. O habitual público respondeu na também habitual forma tímida com o mesmo pregão. Entretanto, na bancada a si destinada, a

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rapaziada do clube adversário, o Boavista, acomodava-se. Eram cerca de 100 indivíduos, o que em Portugal, é um número bastante considerável tratando-se de apoiantes forasteiros. A mais um chamamento do speaker respondeu este grupo de adeptos com o seu próprio chavão: “Caxineiros filhos da puta!” ?????

Afirma Ángel Maria Villar, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, o seu intento em dissolver e eliminar permanentemente a atividade das claques organizadas afetas aos diferentes clubes. Vem a decisão na sequência da morte de um cidadão após uma rixa de rua entre dois grupos de “pessoas”. Não consegui ainda perceber qual a relação entre os dois grupos de criminosos e o futebol, mas aplaudo a intenção de Villar em tentar distanciar o futebol espanhol destes grupos de assassinos. Em Portugal, praticamente todos os clubes albergam nos seus estádios grupos organizados no apoio às equipas, as claques! As equipas sediadas em cidades pequenas ou médias, normalmente apoiadas por um número pouco significativo de pessoas (é incrível a falta de noção de “viver em comunidade”, a falta de carácter, a falta de coragem que existe em apoiar o “clube da terra”) revelam claques que por entre gritos de apoio vão lançando umas provocações e uns insultos aos árbitros e aos adversários. Os clubes sediados nas áreas mais populosas conseguem, obviamente reunir um conjunto maior de indivíduos no apoio às suas equipas. Aqui, as claques manifestam um grau de organização muito elevado. Algumas têm até líderes profissionais!!! Ou seja, o “trabalho” de meia dúzia de indivíduos neste país é:

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A ÚLTIMA PALAVRA liderar a claque! Estas claques mais “populosas” gostam de se auto-intitular de ultras, mesmo que algumas não empreguem essa denominação no nome. “Extremistas; radicalistas”! Uma pesquisa rápida num qualquer dicionário de sinónimos revela imediatamente o teor do propósito de escolha desta designação. Os grupos “ultras” e os demais equiparáveis, mais não são que grupos de indivíduos sem a mínima noção do que é o espírito do desporto. Ao longo dos anos, as suas atividades revelaram apenas atos de vandalismo, agressões, rixas de rua, e um sem número de ações criminosas que nada têm a ver com futebol. O seu objetivo de apoiar o clube é uma camuflagem para que possam aceder a locais públicos por esse país fora – neste caso os estádios e as cidades que visitam – praticando atos ilegais e prejudiciais à vida em sociedade. A postura deste grupos nada de bom trás ao futebol. Não se percebe o suporte que os próprios clubes prestam às claques, muitas vezes suporte financeiro e logístico. Nada ganham os clubes em levar atrás de si grupos organizados que lhes prestam este tipo de “apoio”. Não se percebe o comportamento das forças policiais que não investigam estes comportamentos, não evitam ataques organizados a populações, não levam a julgamento criminosos reincidentes. Não é seguro visitar os estádios dos clubes que albergam estas claques. Quem quiser acompanhar a sua equipa nos campos de Benfica, Boavista, Braga, Guimarães, Porto e Sporting (alfabeticamente ordenados) deverá fazê-lo de forma reservada, sem elementos que o identifiquem com o seu clube e sem se manifestar em favor do seu clube (não convém festejar golos!). Alguém que não cumpra à risca estes requisitos sujeita-se a ser violentamente agredido, sujeita-se a ser assassinado. Não há aqui exageros: matar é mesmo o objetivo das claques dos clubes visados. Arremesso de pedras, queima de veículos, facadas, arremesso de petardos, tudo serve para tirar a vida a alguém que não seja do seu clube! Terá isto alguma coisa em comum com o futebol e o desporto em geral? Uma palavra de apreço e consideração para com os sócios em geral dos clubes visados, os verdadeiros adeptos dos seus clubes, que não têm culpa que grupos organizados de criminosos exerçam as suas atividades encobertos pelos clubes. No fundo, são estes verdadeiros adeptos quem mais consequências sofre, pois arriscam semanalmente a vida e não podem transmitir às gerações seguintes o amor pelo futebol, pois só um louco levaria uma criança a um estádio!

ULTRAS, COMO ERRADICÁ-LOS?

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A ÚLTIMA PALAVRA Eu quero ir ao futebol e quero levar os meus filhos, mas… como erradicar os ultras?

Ao longo dos 90 minutos, poucas vezes mais se fizeram notar os adeptos boavisteiros,

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mas nas ocasiões em que deram um ar da sua graça, fizeram-no para insultar os apoiantes da equipa da casa! Nem um só grito de incentivo à sua equipa se dignou a prestar o grupo de marginais vindos do bairro do Bessa. Nem um único momento de respeito por parte dos próprios adeptos obtiveram os pobres jogadores boavisteiros. Que motivo levará aquele grupo de mal-educados a agir desta maneira? O que ganharão eles em deslocar-se a outros estádios que não o da sua equipa apenas para insultarem as pessoas que lá estão? Que alegria, benefício ou vantagem retiram estes incivilizados com este tipo de comportamento? Logicamente que, encontrando pela frente pessoais normais, a resposta que tiveram aos seus impropérios foram aplausos recheados de ironia, como se o que estivessem a dizer fosse bom, bonito ou elogioso! Boa resposta de urbanidade dada pelas gentes de Vila do Conde. Ah, isso e um “banho de bola”: 4 golos sem resposta e a possibilidade de verem um pouco de futebol, coisa rara para as suas vistas. A última palavra vai para Álvaro Braga Júnior, alto responsável da estrutura diretiva dos axadrezados, que surpreendeu tudo e todos após o jogo: “Agradeço aos adeptos por terem vindo.” Agradece? A sério?!

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