A última palavra

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MIGUEL TEIXEIRA / Ano: 1 / Mês: 1 / Edição número: 10 / Info: aultimapalavra@hotmail.com

NÚMERO 10

A LIGA A “4” 15-12-2014


A ÚLTIMA PALAVRA A LIGA A “4”

Os campeonatos de futebol europeus mais cotados em diversos parâmetros – competitividade das equipas, valor e qualidade dos jogadores, quantidade de público que assiste in loco, número de espectadores televisivos, quantidade de receita gerada, valores monetários globais envolvidos, entre tantos outros – são as ligas profissionais de Inglaterra

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(1º e 2º escalão), Espanha, Alemanha, França e Itália. Em todas estas ligas competem, em cada edição, um mínimo de 18 clubes. Na maior parte delas são 20 os participantes. Sem pesquisar a veracidade dos factos, penso que mais nenhum campeonato profissional de futebol europeu sediado fora dos países atrás enumerados é disputado por mais de 18 clubes. Facto indesmentível, é que os clubes vencedores das principais competições internacionais de clubes (Liga dos Campeões e Liga Europa) são, na sua grande maioria, provenientes dos mesmos 5 países referidos. Outra pesquisa mental rápida (poderá ser falaciosa, embora não me pareça) demonstra que os campeonatos com mais participantes são os que revelam uma história de competitividade mais rica, ou seja, de vencedor imprevisível. Mesmo em países cujos clubes muito raramente atingem glórias europeias, mas com campeonatos de 16 ou mais equipas, apresentam sempre incerteza quanto ao vencedor final, como por exemplo a Bélgica, Holanda, Rússia, Turquia e Grécia. Pelo contrário, campeonatos com 10 ou 12 clubes (seja com que modelo competitivo for) demonstram ser aborrecidamente repetitivos no que se refere ao seu vencedor – Escócia, Suíça, Croácia e Bulgária são bons exemplos. A isto acresce que os respetivos vencedores, apesar de terem vida facilitada na liga interna, nada acrescentam às provas europeias. Aliás, o ranking da UEFA é um bom indicador de toda esta analogia: os países com mais participantes no seu campeonato estão na liderança do ranking, as ligas menos competitivas aparecem na segunda metade da tabela! Parece evidente que a disputa de campeonatos nacionais longos e fisicamente exigentes, não é entrave a participações dignas (e mesmo vencedoras) nas provas internacionais. Assim, o sistema competitivo de “todos contra todos” a duas voltas com jogos em “casa” e “fora” entre todos os participantes é o mais justo e equilibrado. Sem “play-off’s”, fases finais, 4 voltas ou outro modelo qualquer.

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A ÚLTIMA PALAVRA Para que o modelo a 2 voltas seja uma realidade, são necessários, no mínimo dos mínimos, 16 participantes, número este já considerado escasso. Uma liga a 2 voltas com 16 clubes faculta 30 jornadas, 18 clubes permitem 34 jornadas, 20 clubes originam 38 jornadas. Pelo contrário, ligas com apenas 14 participantes possibilitam 26 jornadas, 12 clubes jogariam 22 jornadas e 10 clubes disputariam um número ridículo de 18 jornadas. 14 ou menos emblemas obrigam a que o modelo competitivo não seja de campeonato a duas voltas, uma vez que seria enorme o vazio competitivo existente. E tirar competição aos clubes é fazê-los regredir. Tirar competição aos clubes é tirar-lhes razão de existir. Tirar competição aos clubes é fazê-los desaparecer! Em Portugal, alguns fulanos sugerem diminuir o número de participantes da nossa liga, baseando essa premissa no facto do “nosso campeonato ser muito longo e exigente fisicamente às equipas ‘grandes’, que depois não se apresentam nas melhores condições nos jogos europeus.” Afirmam também que “a maioria das equipas em Portugal não apresenta qualidade, o que retira competitividade ao campeonato, uma vez que é fácil prognosticar o resultado da maioria dos jogos”. Propõem estes sujeitos, por exemplo, a implementação de um modelo competitivo onde 12 clubes disputariam uma primeira fase de campeonato a duas voltas (22 jogos) e uma segunda fase, também a duas voltas, com os 12 emblemas divididos em dois grupos: os 6 primeiros disputariam o título (10 jogos), os 6 últimos jogariam para a permanência (também mais 10 jogos). Este modelo, referem os entendidos, possibilitaria a ocorrência de mais jogos entre os clubes “grandes”, assim como tornaria o campeonato mais competitivo, melhorando a performance dos clubes nas competições europeias! Pena é que estes iluminados andem tão enganados! Se a preocupação destas pessoas é que o seu clube esteja fisicamente apto para disputar jogos europeus, convém que ajudem a contratar melhores técnicos para a preparação das suas equipas, pois não existiria grande diferença entre disputar 30, 32 ou 34 jogos de liga por ano. A teoria da pouca competitividade das equipas “pequenas” nacionais é também prostrada por terra pelo facto de serem estas, invariavelmente, as responsáveis pela perda de pontos das equipas mais importantes. A isto acresce a falta de expressividade que teria um campeonato de 12 clubes: os jogos concentrarse-iam nas 3 maiores cidades / regiões do país, aumentando uma centralização da competição que já é por demais evidente com 18 clubes na 1ª divisão.

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A ÚLTIMA PALAVRA O facto de haver um apuramento para uma segunda fase a meio da época obrigaria os clubes “grandes” a apostar tudo logo no início da competição, o que diminuiria o sucesso destas equipas nos jogos europeus. Por sua vez, os clubes “pequenos” limitar-se-iam a fazer figura de corpo presente, pois saberiam que seria quase uma utopia disputar os lugares cimeiros da tabela - algo que acontece com um ou outro clube quase todos os anos, embora nunca se dê o relevo merecido a esse facto – limitando-se a amealhar o maior número possível de pontos (que seriam sempre poucos…) para poderem chegar à segunda fase mais

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descansados. No entanto, nesta segunda fase, jogariam estes clubes entre si um total de 30 jogos; aquele tipo de jogos que os iluminados tanto desdenham e querem extinguir… Mesmo que um destes clubes conseguisse apurar-se para a segunda fase no grupo dos 6 primeiros, teria à sua espera 10 jogos de derrota quase certa, pois apenas defrontaria os “grandes”, e mesmo assim talvez se apurasse para a Liga Europa… Seria justo uma equipa perder os últimos 10 jogos e apurar-se para as competições europeias, enquanto outra equipa (disputando a fase final no grupo da “permanência”) poderia vencer os mesmos 10 jogos sem retirar daí vantagem alguma? Ao disputarem mais jogos entre si, os clubes “grandes” teriam um maior desgaste físico e competitivo, limitando o seu tão desejado sucesso europeu. Ao mesmo tempo teriam menores índices de imprevisibilidade no final do campeonato, pois se só esses chegam à suposta fase final, só esses a poderão conquistar… ou seja, as diferenças para o modelo atual, seriam negativas na maioria dos casos e inexistentes noutros: razões mais que suficientes para nada mudar. Em tom de ironia deixo eu uma sugestão de modelo competitivo para a liga portuguesa: a primeira divisão seria constituída por 4 participantes (obviamente os 4 estarolas) que disputariam entre si um campeonato a 10 ou 12 voltas, sem descidas de divisão. Deste modo, cada um dos estarolas disputaria 30 ou 36 jogos, sempre defrontando os adversários mais queridos. A empresa responsável pelas transmissões televisivas teria os jogos que mais gosta todas as semanas! As arbitragens seriam as melhores do mundo pois não existiriam clubes “pequenos” para prejudicar! Os tais entendidos fariam os seus comentários semanais em constante êxtase por verem futebol maravilhoso em catadupa! A imprensa desportiva nacional poderia finalmente preencher a 100% o seu espaço de divulgação noticiosa com os seus clubes favoritos! O povo português poderia finalmente apoiar um dos

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A ÚLTIMA PALAVRA estarolas com total convicção, em vez de ter de pensar no clube da terra! Teríamos a liga mais competitiva do mundo!

A última palavra vai para o futebol Sul-Americano: de todos os campeonatos deste Continente, os mais “valiosos” são o argentino e o brasileiro. Ao mesmo tempo, são estas as duas ligas da América disputadas anualmente por um número mais alargado de clubes. E são clubes brasileiros e argentinos que vencem tradicionalmente as duas mais importantes competições internacionais organizadas pela CONMEBOL (Taça dos Libertadores e Taça SulAmericana). Não serão coincidências!

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