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Avaliação do Consumo de Triptofano e sua Relação com Ansiedade em Estudantes do Curso de Nutrição
funcionais
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RESUMO: O objetivo do estudo foi avaliar o consumo de triptofano e sua relação com a ansiedade em estudantes do curso de nutrição. Trata-se de um estudo transversal, realizado em 60 estudantes de um Instituto de Ensino Superior (IES), com idade entre 18 e 40 anos, de ambos os sexos. Para determinação da ansiedade, consumo de triptofano, e consumo alimentar, utilizou-se o Inventário de Beck e Recordatório de 24 horas. Constatou-se que os valores médios e desvio padrão encontrados para ansiedade, tanto para o sexo masculino, quanto para o feminino não apresentaram diferença significativa (p>0,05). Não houve correlação positiva entre a baixa ingestão de triptofano e os níveis de ansiedade. Verificou-se que os participantes apresentaram ansiedade e baixo consumo de triptofano, porém não houve correlação entre essas duas variáveis, sendo assim a ansiedade apresentada, pode ser decorrente de fatores emocionais, e não apenas da baixa ingestão de triptofano.
ABSTRACT: The aim of the study was to evaluate tryptophan consumption and its relationship with anxiety in nutrition students. This is a cross-sectional study, carried out with 60 students in Institute of Higher Education (IES), aged between 18 and 40 years of both genders. To determine anxiety, tryptophan consumption, and food consumption, the Beck Inventory and 24-hour recall were used. It was found that the mean values and standard deviation found for anxiety, both for males and females did not present significant difference (p>0.05). There was no positive correlation between low tryptophan intake and anxiety levels. It was found that the participants had anxiety and low tryptophan consumption, but there was no correlation between these two variables, so the anxiety presented may be due to emotional factors, and not just the low intake of tryptophan.
................. Introdução ...................
A ansiedade é considerada um transtorno que compartilha características de medo e perturbações comportamentais. Os transtornos de ansiedade se diferenciam do medo ou da ansiedade adaptativa por serem excessivos ou persistentes para além do período esperado com relação à situação desencadeante. Muitos dos transtornos de ansiedade desenvolvem-se na infância e tendem a persistir na vida adulta quando não tratados (MDS-5, 2014). Cardozo et al. (2016), afirmam que a ansiedade é comum entre os estudantes universitários, devido as relações entre diversos elementos ambientais e psicológicos que envolvem fatores cognitivos, comportamentais, afetivos, fisiológicos e neurológicos onde há modulação da
percepção do indivíduo ao ambiente, provocando respostas específicas e direcionando a algum tipo de ação, o que pode favorecer o desenvolvimento de ansiedade. Estudos associam a presença de ansiedade aos sistemas neurotransmissores que aparecem em disfunção como a serotonina (5HT), decorrente da deficiência de triptofano na dieta. Sua concentração plasmática é determinada pelo balanço entre a ingestão dietética e sua remoção do plasma para síntese proteica (ROWLAND; PEDLEY, 2011; VEDOVATO et al., 2014). A quantidade de serotonina sintetizada depende da biodisponibilidade de triptofano plasmático e da atividade da enzima triptofano hidroxilase, a ingestão adequada desse aminoácido e de nutrientes envolvidos na composição dessa enzima (magnésio e vitaminas do complexo B) é fundamental no tratamento da ansiedade, uma vez que as concentrações de serotonina estão relacionadas com o humor e percepções da dor (TOKER et al., 2010). Considerando que diversas pessoas, ao longo da vida, podem ter transtornos de ansiedade devido a cargas emocionais elevadas, preocupações excessivas com o futuro entre outras situações e que os estudantes universitários estão mais propensos a desenvolverem ansiedade associada à condições inadequadas na alimentação, muitas vezes deficiente de vitaminas e minerais, especialmente no aminoácido triptofano, nos levou a concepção desse estudo que teve como objetivo geral avaliar o consumo de triptofano e sua relação com ansiedade em estudantes do curso de Nutrição. Os achados da pesquisa são de grande importância para incentivar a realização de implementação de políticas públicas que visem à prevenção do desenvolvimento de ansiedade nos universitários, o que pode favorecer a qualidade de vida deste público, além de contribuir para melhores desempenhos dentro da universidade.
............... Metodologia ....................
Tratou-se de um estudo transversal, com método de natureza quantitativa por levar em consideração a objetividade propiciando a mensuração dos seus resultados por meio da análise dos dados e ferramentas estatísticas. O cenário dessa pesquisa foi o município de Caxias, estado do Maranhão, com área territorial de 5.196,771 km², situada na região leste do estado do Maranhão, a 374 quilômetros da capital São Luís e 70 quilômetros da capital piauiense, Teresina. O cálculo amostral foi realizado com base no
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Tabela 01: Valores médios e desvio padrão do nível de ansiedade dos participantes da pesquisa. Caxias-MA, Brasil, 2018.
Nível de ansiedade 3,80 ± 1,64 3,16 ± 1,34 0,323
Diagnóstico Ansiedade moderada Ansiedade leve -
Tabela 02: Valores médios e desvio padrão encontrados da Idade e consumo alimentar dos participantes da pesquisa segundo o sexo. Caxias-MA. Brasil, 2018.
Idade (anos) 22,60 ± 2,88 21,29 ± 2,51 0,271
Proteína (%) 22,56 ± 5,11 18,18 ± 6,01 0,121
Carboidrato (%) 39,10 ± 11,78 50,90 ± 13,10 0,720
Lipídio (%) 37,09 ± 4,12 28,02 ± 9,30 0,360
Triptofano (mg) 0,21± 0,18 0,33 ± 0,31 0,420
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018. *Não houve diferença significativa (p> 0,05). Teste t de Student. Valores de referência: Kcal- (2000kcal/dia); Proteína- (10-35%); Carboidrato (45-65%); Lipídio (25-35%); Triptofano (8mg/kg/dia). DRI-Dietary reference intakes (1991).
Tabela 03. Análise de correlação linear simples entre o nível de ansiedade e o consumo de triptofano dos participantes da pesquisa. Caxias-MA, Brasil, 2018.
Parâmetros/Ansiedade r
Triptofano dietético (mg) -0,081
p
0,517
Fonte: Dados da pesquisa. *Correlação Linear de Pearson (p<0,05).
universo de 140 estudantes de nutrição com idade entre 18 e 40 anos, matriculados no centro universitário UniFacema supracitada, considerando intervalo de confiança de 95%, margem de erro de 5%, com a realização de split de 80/20 para população homogênea, o que resultou em uma amostra mínima de 90 participantes (SEBRAE, 2005). Entretanto, destes apenas 60 aceitaram participar da pesquisa e devolveram os questionários. Os critérios de inclusão foram os seguintes: ser universitário do curso de Nutrição de uma IES, ter idade entre 18 e 40 anos de idade, sendo excluídos estudantes dos demais cursos. O projeto foi submetido à plataforma Brasil para análise e parecer, conforme prevê a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e aprovado segundo o número do CAAE 68395517.0.0000.8007. Os voluntários que apresentaram os critérios de inclusão supracitados foram questionados se desejavam participar da pesquisa e após receberem informações detalhadas sobre a natureza da investigação, como os objetivos do estudo, benefícios aos participantes e entrega de orientações nutricionais. Após aceitação em participar da pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, após assinatura foi entregue os formulários para obtenção dos registros alimentares e o Inventário de Beck para obtenção do grau de ansiedade. Os dados foram organizados em planilhas do Excel®Posteriormente, os dados foram exportados para o programa SPSS (for Windows® versão 18.0) para análise estatística dos resultados. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a normalidade dos dados e a frequência das variáveis contínuas foram apresentadas em Média ± Desvio Padrão. Foi aplicado o teste “t” de Student para verificar diferenças entre os grupos estudados.
............... Resultados ......................
Os valores médios e desvios padrão do grau de ansiedade dos estudantes participantes da pesquisa estão descritos na tabela 01. Pôde-se observar que não houve diferença significativa entre homens e mulheres quanto ao grau de ansiedade, foi classificado que número 1- não apresenta ansiedade, 2- ansiedade em estado mínimo, 3- ansiedade leve, 4- ansiedade moderada e 5- ansiedade grave.
O resultado da análise do grau de ansiedade encontra-se na figura 01, pôde-se observar que apenas 5% dos participantes não apresentaram ansiedade e 92% apresentaram ansiedade variando entre leve, moderada e grave.
Os valores médios e desvios padrão para energia, macronutrientes e triptofano encontrados nas dietas consumidas pelos participantes da pesquisa estão descritos na tabela 02. Pôde-se verificar que o consumo de lipídio no sexo masculino está acima da recomendação e o triptofano encontra-se abaixo para ambos, enquanto a ingestão de carboidrato esteve elevada no sexo feminino e proteína está adequada em ambos os sexos. O resultado da análise de correlação linear entre os parâmetros avaliados encontra-se na tabela 03. O presente estudo revelou uma correlação linear não significativa (p>0,05) entre os valores de triptofano e ansiedade.
............... Discussão .......................
O presente estudo avaliou o consumo de triptofano e sua relação com a ansiedade em estudantes universitários com o intuito de verificar se a deficiência do aminoácido poderia estar relacionada esse tipo de transtorno psiquiátrico. (SCHULTZ et al., 2014). No estudo realizado por Marchi et al. (2013) foi constatado que dos 308 alunos avaliados, 30% apresentaram grau mínimo de ansiedade e 12% com ansiedade grave. Em outro estudo de Santos (2014) verificaram por meio dos scores do Inventário de Ansiedade de BECK (BAI) que 18,5% dos universitários apresentavam perfil mínimo de ansiedade e 34,1% e 13,3% ansiedade moderada e grave, respectivamente. Neste estudo foi verificado que o grau de ansiedade leve prevaleceu nas mulheres, enquanto o grau de ansiedade moderada dominou no sexo masculino. Resultados semelhantes foi encontrado por Silva et al. (2017), após verificar a presença de ansiedade em 40 estudantes de uma faculdade particular, os autores observaram que 45% dos participantes apresentaram nível de ansiedade leve para o sexo feminino, enquanto no sexo masculino, 80% apresentaram nível moderado de ansiedade. A prevalência de transtornos de ansiedade no sexo masculino pode ser explicada por diversos fatores, os homens silenciam mais sobre sua saúde, possuem dificuldade em lidar com emoções e expressar sentimentos, fato
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que demonstra impacto negativo sobre a saúde mental. Por outro lado, Gama (2017) afirma que a ansiedade tem sido mais prevalente nas mulheres quando comparada aos homens, uma vez que a mulher vive em condições de grande desafio na sociedade como ingressar em uma carreira que lhe permita maior independência social e econômica, enfrentando mais conflitos que os homens e por isso tendem a reagir com maior grau de ansiedade em condições de pressão psicológica (CARVALHO et al., 2015; MEDEIROS; BITTENCOURT, 2017). Quanto à avaliação do consumo de triptofano, pôde-se observar baixa ingestão do aminoácido em ambos os sexos, o que pode ser decorrente dos maus hábitos alimentares comuns em universitários. A falta de alimentos saudáveis ricos em vitaminais, minerais e aminoácidos, por sua vez, podem desencadear determinadas deficiências nutricionais, podendo afetar tanto o corpo como a mente. (MOREIRA et al., 2013) A deficiência do triptofano dietético encontrado nesse estudo pode em longo prazo contribuir para agravos dos sintomas de ansiedade também encontrada nos estudantes universitários investigados. Lindiseth et al. (2014) expuseram 25 estudantes universitários em períodos diferentes, a uma alimentação com baixo de teor de triptofano e outra com elevado teor de triptofano, e verificaram que o menor consumo deste aminoácido esteve associado a maior prevalência de sintomas depressivos e ansiosos. ............... Conclusão .......................
A partir dos resultados deste estudo pode-se concluir que os participantes apresentam ansiedade, segundo o inventário de ansiedade de beck, sem diferença significativa entre os sexos. Além disso, apesar da baixa ingestão de triptofano, este não se relacionou com os níveis de ansiedade encontrados nos estudantes, o que pode ser decorrentes de outros fatores como medo, insegurança, estresse e preocupações próprias da vida acadêmica. Devido a escassez de estudos na literatura que correlacione os níveis de ansiedade e triptofano sugere-se que mais estudos sejam realizados dentro dessa temática, porém com amostras maiores para que se possa saber a real associação entre outras variações. Evidencia-se, ainda, a importância da adoção de medidas direcionadas aos fatores de risco para a ansiedade nos estudantes bem como estratégias que ajudem a escuta e atendimento aos mesmos, de modo a minimizar suas consequências.
Sobre os autores
Dra. Mariana Sousa dos Santos - Nutricionista (UNIFACEMA) Dr. Walter Sousa Lima Júnior - Nutricionista (UNIFACEMA) Dra. Edinara Costa Santos - Nutricionista (UNIFACEMA). Graduanda em Tecnologia de Alimentos (UEMANET). Pós graduanda em Nutrição Funcional, Estética e Comportamental (Instituto Nutrir). Dra. Fabiane Araújo Sampaio - Nutricionista (UFPI). Mestre em Ciências e Saúde (UFPI). Doutora em Biotecnologia (Renorbio).
PALAVRAS-CHAVE: Ansiedade. Triptofano. Estudantes. Nutrição. KEYWORDS: Anxiety. Tryptophan. Students. Nutrition.
TOKER, L. et al. The biology of tryptophan depletion and mood disorders. Isr. J. Psychiatry Relat. Sci, v.47, n.1, p.46-55, 2010. VEDOVATO, K. et al. O eixo intestino-cérebro e o papel da serotonina. Arquivos de Ciências de Saúde da Unipar, Umuarama, v. 18, n. 1, p.33-42, 2014.
RECEBIDO – 5/8/21 – APROVADO – 23/8/21
REFERÊNCIAS
CARVALHO, E. A. et al. Índice de Ansiedade em Universitários Ingressantes e Concluintes de uma Instituição de Ensino Superior. Revista Cienc. Cuid. Saúde, n. 14, ano: 2015. CARDOZO, M. Q., et al. Fatores associados à ocorrência de ansiedade dos acadêmicos de Biomedicina. Revista Saúde e Pesquisa., v. 9, n. 2, 2016. DSM-5, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. In: American Psychiatric Association. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento [et al.]; Revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli [et al.]. Ed. 5. Porto Alegre: Artmed, 2014. GAMA, M.M.A. et al. Ansiedade-traço em estudantes universitários de Aracaju (SE). Rev. Psiquiatr, p.19-24, 2017. LINDSETH, G; HELLAND, B; CASPERS, J. The Effects of Dietary Tryptophan on Affective Disorders. Archives of Psychiatric Nursing, p. 102–107, 2014. MARCHI, K. C. et al. Ansiedade e consumo de ansiolíticos entre estudantes de enfermagem de uma universidade pública. Revista Eletrônica de Enfermagem, 2013. MEDEIROS, P. P; BITTENCOURT, F. O. Fatores Associados à Ansiedade em Estudantes de uma Faculdade Particular. [online]. Revista Multidisciplinar e de Psicologia: 2017. MOREIRA, N. W. R. et al. Consumo alimentar, estado nutricional e risco de doença cardiovascular em universitários iniciantes e formandos de um curso de nutrição. Rev. APS, v. 16, n. 3, p. 242-249, 2013. ROWLAND, L. P; PEDLEY, T. A. Tratado de Neurologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. SANTOS, R. M. D. Perfil de ansiedade em estudantes universitários de cursos da área da saúde. Dissertação (Mestrado em saúde pública). Campina Grande – PB: Universidade Estadual da Paraíba, 2014. SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS – SEBRAE. Como elaborar uma pesquisa de mercado. Minas Gerais, 2005. SCHULTZ, D. et al. Teorias da Personalidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Cencage Learning, 2014. SILVA, D. O. et al. Prevalência e correlação entre constipação intestinal e ansiedade. Cadernos da Escola de Saúde, v. 1, n. 7, 2017.