Nutritime Revista Eletrônica n.03 vol.16 2019

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Nutritime Revista Eletrônica www.nutritime.com.br Praça do Rosário, 01 Sala 302 - Centro - Viçosa, MG - Cep: 36.570-000 A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda, com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos e também resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br.

Editora Responsável: Juliana Maria Freitas Teixeira Brito Editor Científico: Júlio Maria Ribeiro Pupa Editora Técnica: Rosana Coelho de Alvarenga e Melo Cláudio José Borela Espeschit Evandro de Castro Melo Fernando Queiróz de Almeida José Luiz Domingues

Júlio Maria Ribeiro Pupa George Henrique Kling de Moraes Marcelo Diniz dos Santos Marcos Antonio Delmondes Bomfim Maria Izabel Vieira de Almeida Patricia Pinheiro de Campos Fonseca Rodrigues Rony Antonio Ferreira Rosana Coelho de Alvarenga e Melo É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo da NRE da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou impresso, sem a sua devida citação.

Encontrou algum erro nessa edição? Fale conosco: mail@nutritime.com.br. Ficaremos muito agradecidos!



Sumário ARTIGOS 490 - Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos......................................................................8449 Tamires Maria dos Santos, Danyane Pereira Marques, Moisés Sena Pessoa, Flávia Oliveira Abrão Pessoa 491 - Sistemas de ordenha automáticos e manejo da alimentação ...................................................................... 8463 Vanessa Amorim Teixeira, Hilton do Carmo Diniz Neto, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira , Lucio Carlos Gonçalves , Ângela Maria Quintão Lana 492 - Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura ............................................................ 8470 Cibele Regina Schneider, Monique Figueiredo, Elisângela de Cesaro, Simara Márcia Marcato 493 - Enzimas exógenas na alimentação de suínos .................................................................................................... 8477 Bruna Kuhn Gomes, Bruna Souza de Lima Cony, Laion Stella


Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos Revista Eletrônica Égua, garanhão, manejo alimentar, manejo reprodutivo.

1

Vol. 16, Nº 03, maio/jun de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Tamires Maria dos Santos 1 Danyane Pereira Marques 2 Moisés Sena Pessoa 2* Flávia Oliveira Abrão Pessoa 1 Graduada em Zootecnia pelo Instituto Federal Goiano / IF Goiano, Ceres – GO. 2 Docente pelo Instituto Federal Goiano / IF Goiano, Ceres - GO. *E-mail: flavia.abrao@ifgoiano.edu.br.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO As necessidades nutricionais dos equinos podem

NUTRITIONAL ASPECTS RELATED TO REPRODUCTION IN EQUINE

variar conforme seu estado fisiológico: manutenção, reprodução, gestação, lactação, crescimento ou

ABSTRACT

exercício. Na reprodução, a principal preocupação

The nutritional requirements of horses may vary

prende-se com a alimentação da égua, se tornando

according to their physiological state: maintenance,

essencial que a égua apresente uma boa condição

reproduction, gestation, lactation, growth or exercise.

corporal

ser

In breeding, the main concern is feeding the mare,

inseminada, dado que a taxa de concepção pode ser

making it essential for the mare to have a good body

influenciada

O

condition before being mated or inseminated, since

fornecimento de alimentos de forma imprópria, além

the rate of conception can be influenced by that body

de afetar de forma negativa o desenvolvimento

state. Improper food supply, in addition to adversely

ósseo,

affecting

antes

de

por

promove

receber esse

outras

a

monta

estado

ou

corporal.

consequências,

como

bone

development,

promotes

other

aprumos deficientes por excesso de peso e estimula

consequences, such as deficient weight loss and

a ocorrência de cólicas, bem como drásticas

encourages the occurrence of colic, as well as drastic

consequências à reprodução desses animais. A

consequences for the reproduction of these animals.

espécie equina foi considerada por muito tempo

The equine species was considered for a long time

como a de menor fertilidade entre as espécies

as the lowest fertility among domestic species, which

domésticas, o que foi atribuído a características de

was attributed to selection characteristics and

seleção

problems

e

problemas

relacionados

ao

manejo

related

to

reproductive

management.

reprodutivo, contudo o desenvolvimento de novas

However, the development of new reproductive

técnicas

inseminação,

techniques such as insemination allowed the best

possibilitou o melhor aproveitamento dos animais,

use of the animals, making it possible to accelerate

tornando possível acelerar o aprimoramento das

the improvement of breeds and their crosses.

raças e seus cruzamentos.

Keyword: mare, stallion, feeding management,

Palavras-chave: conservação de forragem, ensila-

reproductive management.

reprodutivas

como

gem, potencial forrageiro, silagem.

8449

a


Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

INTRODUÇÃO

A quantidade de alimentos ingerida por um cavalo

A indústria da equideocultura exerce relevante papel

pode oscilar conforme o teor de matéria seca (MS)

no cenário mundial, pois tem se tornado grande

dos

geradora de renda e empregos, sendo responsável

desempenho, o estado fisiológico e o nível de

pela

mil

atividade física praticada (RIBEIRO et al., 2009),

empregos diretos e 3,2 milhões de empregos

podendo variar de 1,5% a 3,0% do peso vivo do

indiretos (NRC, 2007). Sabe-se que no Brasil, o

animal em teor de matéria seca (NRC, 2007). Além

rebanho é estimado em 8,5 milhões de equinos e 1,2

dos diferentes atributos existentes entre as diversas

milhões de muares e jumentos (DITTRICH, 2009).

raças, devem-se levar em conta os níveis de

geração

de

aproximadamente

600

alimentos,

o

peso

vivo

do

animal,

o

atividade física, idade, clima, sexo, composição Os cavalos são herbívoros, não ruminantes e

corporal, dentre outros fatores (CASEY, 2002;

possuem aparelho digestório adaptado a dietas

MARQUES, 2017).

compreendendo alto nível de fibra (GOODWIN, 2002), quando livres, podem pastejar por até 16

A espécie equina apresenta algumas peculiaridades

horas

em

diárias.

Além

disso,

apresentam

forte

relação

às

demais

espécies

domésticas,

seletividade e predileção por folhas escuras, colmos

apresentando baixo índice de fertilidade (SÁ, 2017) e

e brotos de gramíneas de pequeno porte. Também

sendo pouco prolífica. Pode-se citar como fatores

ramoneiam uma ampla variedade de herbáceas,

que corroboram a esse fato, a reprodução apenas ao

ciperáceas, arbustos e árvores (DAVIDSON &

redor dos três anos, 11 meses de gestação

HARRIS, 2002).

(cruzamento com cavalo ou 12 meses, cruzamento com jumento), apenas uma cria por gestação e a

A falta de alimentação fibrosa ministrada ao longo do

ocorrência

dia pode causar obesidade, laminite, cólica, entre

excedendo 15% em alguns casos (RODRIGUES et

outras enfermidades nos equinos. Após restrição

al., 2017).

comum

de

reabsorção

e

abortos,

alimentar de 12 a 24 horas, é observado acúmulo de conteúdo

ácido

sobre

a

região

glandular

do

Considerado durante muito tempo como a de menor

estômago, acometendo os animais com gastrites

fertilidade

leves a moderadas, acompanhadas ou não de

domésticas, o que foi atribuído a características de

sangramento (CINTRA, 2010).

seleção e

problemas

reprodutivo

(LIRA

em

comparação

et

com

as

relacionados al.,

espécies

ao manejo

2009),

entretanto,

Além disso, encontram-se relatos na literatura

biotecnologias da reprodução como a transferência

científica

mais

de embrião e a inseminação artificial têm se

susceptíveis aos distúrbios estomacais do que

destacado nas últimas décadas pelo seu avanço

aqueles a campo. Dessa forma, quando realizada, a

comercial e científico, permitindo melhores índices

restrição alimentar deve ser conduzida com cautela

zootécnicos. O êxito na reprodução equina depende

e não ultrapassar 18 horas (SILVA et al., 2013).

do

que

animais

estabulados

são

conhecimento

da

anatomia

e

fisiologia

reprodutiva, endocrinologia, conduta de criação, Quando em confinamento, o volumoso deve ser ofertado à vontade, e, em maior volume ao final do

manejo sanitário e realização de um manejo alimentar correto (RODRIGUES et al., 2017).

dia. A formulação do concentrado deve considerar as exigências nutricionais da categoria e função e,

O objetivo com este trabalho é realizar uma revisão

deve ser fornecida com intervalo de pelo menos

bibliográfica

duas horas após a oferta do volumoso.

nutrição de equinos e fatores associados com a

As

mudanças na dieta devem ser feitas de forma

ressaltando

aspectos

relevantes

à

reprodução.

gradual para evitar transtornos gastrointestinais, como cólica, diarreia, e metabólicos. Os excessos

REVISÃO DE LITERATURA

alimentares além de causar obesidade podem

Fisiologia reprodutiva

promover problemas reprodutivos e problemas de

Fisiologia reprodutiva das fêmeas

cascos (CASEY, 2002). Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8449-8462, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

como

portamento do cio desaparecer. Se a inseminação

poliéstricos estacionais, por possuir sua estação

ou cobertura ocorrer de 12 a 14 horas após a

reprodutiva na primavera e no verão. Estudos

ovulação, o óvulo será muito velho para ser

apontam três fatores básicos explicam o caráter

prontamente fertilizado ou se fertilizado, falhará ao

estacional dos ciclos estrais nas éguas: a nutrição, a

desenvolver um embrião viável (LEY, 2006).

As

éguas

são

animais

classificados

temperatura e o fotoperíodo (ARRUDA, 1990). Durante o período que intermédia de 1 a 4 dias após No decorrer da transição do anestro para o poliestro

a ovulação, o estrógeno diminui e antes que o corpo

fisiológico, a égua apresenta períodos variáveis de

lúteo comece a produzir quantidades significantes de

sinais comportamentais de estro sem efetivamente

progesterona, a égua demonstra sinais equívocos de

desenvolver estruturas foliculares significantes ou

cio ou receptividade ao garanhão (MEIRA, 2007).

apresentar ovulação (LEY, 2006). A fase luteínica tem duração de 13 a 17 dias e é Em ambiente natural, períodos entre 15 e 16 horas

dominada por um corpo lúteo, pela progesterona e

de duração do dia ou de estímulo luminoso atuam

por sinais comportamentais indicando ausência de

sobre o eixo pineal-hipotalâmico-hipofisário-gonadal

receptividade à aprovação do garanhão. O corpo

para interromper a produção de melatonina. Esta,

lúteo em desenvolvimento, logo após a ovulação

quando liberada pela glândula pineal, inibe a

primária, tipicamente tem vida útil de até 85 dias. Se

produção de gonadotrofina (GnRH) no hipotálamo. A

o endométrio não liberar a prostaglandina ele

modulação da frequência e da amplitude da

continuará a produção de progesterona e não sofrerá

liberação

regressão (TESKE, 2017).

de

GnRH

pelo

hipotálamo

afeta

a

produção hipofisária e libera os hormônios folículoestimulante (FSH) e luteinizante (LH). Os receptores

Acredita-se que o reconhecimento materno da

ovarianos respondem ao FSH e ao LH induzindo ao

gestação na égua que ovula e, é coberta ou

recrutamento, à seleção e à dominância folicular

inseminada de forma correta, resulte de o embrião,

(ZAPPA, 2013).

com

livre

movimentação,

produzir

e

secretar

estrógeno que suprime a liberação endometrial de Já o ciclo estral é tipicamente definido como início

prostaglandina. Isso deve ocorrer entre os dias 12 e

com a ovulação (dia 0) e término no dia anterior a

14 após a ovulação produtiva (LOPES, 2009).

próxima ovulação. A média de intervalo entre as ovulações, para a maioria das éguas, é de 18 dias,

A égua que falha em conceber, que não foi coberta

podendo oscilar entre 12 e 24 dias. Intervalos muito

ou exposta a um garanhão ou que apresentou de

curtos ou muito longos podem ser considerados

forma precoce morte embrionária (antes de 12 a 14

anormalidade para a espécie (FARIA & GRADELA,

dias), o endométrio secreta prostaglandina que, pela

2010).

circulação sistêmica, afeta o corpo lúteo e induz à luteólise (regressão). A produção de progesterona

A fase folicular pode ter duração de 3 a 7 dias e é

declina em 4 a 40 horas seguintes e a égua começa

dominada por um ou mais folículos pré-ovulatórios

a demonstrar sinais de receptividade conforme inicia

grandes, superiores a 30 mm de diâmetro, por

o próximo ciclo estral (MEIRA, 2007).

estradiol-17β comportamentais

(estrógeno) de

cio

e ou

por

sinais

receptividade

ao

garanhão (LEY, 2006).

Fisiologia reprodutiva dos machos O aparelho reprodutor dos machos é composto pela bolsa

escrotal,

testículos,

epidídimo,

condutos

A progesterona no período do estro é tipicamente

deferentes, ampolas de vater, próstata, vesícula

menor de 1ng/mL no sangue periférico. O diâmetro

seminais, glândulas de Cowper (bulbouretral) e pênis

folicular, na ovulação varia de 30 a 70 mm, mais

(LIRA, 2009).

comum ao redor de 40 a 45 mm (MEIRA, 2013). Os cavalos são considerados reprodutores de dias A égua ovula 24 a 48 horas antes dos sinais de com8451

longos por sua atividade reprodutiva ser estimulada,

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

sobretudo pelo aumento do comprimento do dia, ou

olfato e gustação, mas inclui também a sensibilidade

seja, pelo aumento do fotoperíodo, que ocorre na

e mobilidade labial, que permite ao cavalo grande

primavera. A diminuição do fotoperíodo acontece no

capacidade de selecionar os alimentos no momento

final do verão e início do outono, estimula o término

da apreensão e corte, pelos dentes incisivos,

da

sobretudo quando composta por vegetais. Estas

estação

reprodutiva.

Fatores

secundários

relacionados à primavera, como o acréscimo da

características

anatômicas

temperatura e a melhora da qualidade do alimento,

capacidade de seleção da dieta em pastagens,

antecedem o início da estação reprodutiva. Há uma

contudo há necessidade de tempo para o pastejo e

forte relação entre o fotoperíodo e a ovulação

de

(INTERVET, 2007).

velocidade de ingestão é lenta e a seleção é

diversidade

de

permitem

espécies

grande

vegetais,

pois

a

preferencialmente por folhas e brotos, os caules são O garanhão ideal seria aquele com idade de três

preteridos (HILLEBRANT & DITTRICH, 2015).

anos acima, com bom temperamento, saudável, com aparelho reprodutor funcional, oferecendo sêmen de

O esôfago dos equinos têm cerca de 1,5 metros e

qualidade (análise quantitativa e qualitativa), boa

estende-se da faringe ao estômago, cruzando o

genética

tórax e perfurando o diafragma. O alimento percorre

e

morfologia

(VENDRAMINI

&

MENDONÇA, 2011).

o esôfago por movimentos peristálticos formando anéis de constrição que se movimentam ao longo da

Ainda de acordo com Vendramini & Mendonça

parede reduzindo o lúmen e empurram o bolo

(2011), o comportamento normal do garanhão na

alimentar por ação dos músculos circulares, adiante

cobertura é: aproximação; corteja encontro de

pode

focinhos e cheirando a região perivulvar, relinchado,

longitudinais aumentando o tamanho do lúmen para

reflexo de Flehmen; exposição do pênis e inicio da

que o bolo alimentar possa seguir. Chegando à

ereção; ocorre a monta; garanhão introduz o pênis;

porção distal do esôfago o esfíncter inferior se abre e

ejaculação (sapateia no mesmo local cauda em

a

bandeira); relaxamento e descida.

(CUNNINGHAM, 2009).

Segundo McDonnell (2009) a maioria dos animais

O esôfago entra no estômago de maneira oblíqua

apresenta ereção em até 2 minutos e realizam a

pelo esfíncter cárdia, o estômago possui três regiões

monta 5-10 segundos após ereção. Assim, os

(região fúndica, região de saco cego e região

garanhões normalmente ejaculam posteriormente a

pilórica) e se liga ao duodeno através do esfíncter

primeira monta, tendo uma duração total desde o

piloro, esses esfíncteres são bastante desenvolvidos

cortejo a cópula que varia de 2-5 minutos.

e se encontram próximos, sendo que a cárdia realiza

haver

matéria

o

relaxamento

ingerida

entra

dos

no

músculos

estômago

fechamento hermético impedindo a regurgitação. O Um garanhão normal possui um par de ampolas, um

estômago destes animais é relativamente pequeno,

par

próstata

em forma de feijão, com capacidade de 15 a 20 litros

bilobulada e um par de glândulas bulbo uretrais.

e podendo aumentar ligeiramente para adaptação ao

Estas estruturas funcionam aumentando o volume

regime, podendo ser preenchido até 2/3 de seu

de fluidos, enzimas, aminoácidos e tampões no

tamanho (THOMASSIAN, 2005).

de

ejaculado

glândulas

vesiculares,

(OLIVEIRA,

2014).

uma

Anteriormente

chamada de vesículas seminais, as glândulas

O comprimento do intestino delgado é de cerca de

vesiculares tiveram a terminologia modificada em

20 metros sendo dividido em duodeno, jejuno e íleo.

equinos por não serem sítio de armazenamento

A mucosa apresenta vilosidades de 0,5 a 1 mm,

espermático nesta espécie (AMANN, 2011).

revestidas por células epiteliais cilíndricas as quais possuem projeções filiformes (micro vilosidades) o

Anatomia fisiologia do aparelho digestório de

que aumenta a superfície para absorção, além de

equinos aplicadas ao manejo alimentar

células caliciformes responsáveis pela secreção de

A seleção do alimento não é somente pela visão,

muco e glândulas que secretam suco entérico.

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

Abaixo da mucosa localiza-se a camada muscular

no intestino grosso.

lisa que é responsável pelo peristaltismo, os movimentos servem tanto para misturar o conteúdo

O intestino grosso do cavalo é uma das estruturas de

como também para propulsão através de contrações

maior

rítmicas em sentido craniocaudal, a velocidade é de

presença

cerca de 20 cm por minuto. Após aproximadamente

fermentação das fibras e dos nutrientes não

15 cm da saída do estômago localiza-se o divertículo

absorvidos

duodenal onde desembocam sucos pancreáticos e

aproximadamente 7 metros de comprimento, dividido

hepáticos (HILLEBRANT & DITTRICH, 2015).

em ceco, cólon e reto (CUNNINGHAM, 2009).

O pâncreas produz secreção contínua, porém com

O intestino grosso possui alta motilidade em

baixa concentração de enzimas. A secreção equivale

diferentes

de 5 a 10% de seu peso vivo e além das enzimas

movimentos tem ação de mistura e transporte do

possui grande quantidade de álcalis e bicarbonato

alimento, além de manter o conteúdo em estado

para neutralização dos ácidos produzidos no cólon,

homogêneo

sendo que o pH depois da adição dessa secreção

Aproximadamente uma vez a cada três ou quatro

aumenta para 6,5 no jejuno e íleo (com alimentos

minutos, há uma forte contração que empurra o

ricos em fibras pode subir para mais de 7) (BRANDI

alimento. Existe entre o ceco e o cólon uma estrutura

& FURTADO, 2009).

chamada válvula ceco-cólica, a utilização de fibras

relevância do trato digestivo, onde há de

microrganismos no

intestino

seguimentos,

(DITTRICH

realizam

delgado.

a

&

que

maior

Mede

parte

CARVALHO,

a

dos

2015).

de baixa qualidade, muito lignificada faz com que Os equinos não possuem vesícula biliar, dessa

essa fibra fique no ceco por um período maior e pela

forma, a liberação de bile é constante, característica

motilidade forma-se um emaranhado que pode

evolutiva relacionada ao hábito desse animal em se

obstruir

alimentar constantemente. A bile impulsiona a

patológicos no aparelho digestório. Esta estrutura

gordura presente na dieta para ação digestiva da

formada pelas fibras é denominada de fito bezoar

lipase. A digestão química no intestino delgado

(VENDRAMINI et al., 2014).

a

válvula

e

desencadear

processos

ocorre por meio da ação de enzimas que partem o alimento em partículas menores por hidrólise,

A absorção dos nutrientes ao longo do intestino se

adicionando uma molécula de água a estrutura

dá por meio de co-transporte, principalmente de

(INTERVET, 2007).

sódio. O potássio é absorvido por difusão passiva, o magnésio e o fósforo são absorvidos por difusão

Os minerais absorvidos são aqueles que serão

facilitada através de gradiente de concentração, o

liberados

digestão

cálcio é mais absorvido no intestino delgado e o

enzimática ou os que já estão livres. Quanto maior a

fósforo no intestino grosso, devido o fósforo ser

quantidade de conteúdo celular na dieta, maior será

presente em maior quantidade na dieta e está

a absorção de minerais, tanto os macro elementos

associado à parede celular na forma de fitato. A

como o cálcio, fósforo, magnésio, cloro, potássio,

água é absorvida em todo intestino por osmose

sódio, enxofre, ou microelementos como o iodo,

(HILLEBRANT & DITTRICH, 2015).

das

macromoléculas

pela

ferro, manganês, selênio e zinco (CINTRA, 2011). Os alimentos volumosos de qualidade, compostos Conforme CINTRA, o mesmo pode ser aplicado às

por células vegetais das folhas, são de suma

vitaminas presentes na dieta, pois o conteúdo celular

importância

dos vegetais apresenta quantidades satisfatórias de

possibilitar uma mastigação mais demorada e

vitaminas A, D, E, K, Tiamina (B1), Riboflavina,

vigorosa, para o correto desgaste dentário, evitando

Niacina, Biotina e Ácido Fólico para absorção e

o surgimento de anormalidades na cavidade bucal

aproveitamento. Outras vitaminas como a B12,

(DITTRICH & CARVALHO, 2015), além de garantir o

Ácidos

funcionamento intestinal, a absorção de nutrientes e

Pantatênico e B6 são disponibilizadas

através do processo fermentativo natural que ocorre

8453

na

alimentação

do

cavalo,

por

a multiplicação dos microrganismos desejáveis no

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

intestino

grosso.

O

oferecimento

alimento

A atividade reprodutiva não requer aumento dos

volumoso de qualidade em cocheiras mantém os

nutrientes, exceto de energia. O aumento da

animais ocupados e evita vícios de estábulo, além de

necessidade de energia nesta fase ocorre por conta

promover o bem-estar e diminui os riscos de

das atividades físicas que acompanham a época da

distúrbios

reprodução (MENDES, 2011).

digestivos.

Os

de

alimentos

volumosos

devem ser de boa qualidade, pouco lignificados, a utilização de alimentos concentrados deve servir

Conforme a qualidade do alimento volumoso é

apenas

houver

possível diminuir a quantidade de ração necessária

necessidade e não deve ultrapassar 50% da dieta

para suprir as exigências nutricionais. O garanhão

total em matéria seca (DITTRICH et al., 2010).

necessita de 1,5 a 2 Kg de volumoso de boa

como

suplementação

quando

qualidade para cada 100 kg de peso vivo por dia Manejo alimentar de éguas e garanhões

(ALVES,

A alimentação é fundamental para a criação, seja na

suplementação da dieta pode variar de 1 a 3

forma de pastagem de boa qualidade, fenos ou

kg/animal/dia, devendo ser dividia em duas vezes/dia

rações concentradas. O fornecimento de alimentos

(MARQUES, 2017). Ainda deve ser fornecido sal

de forma inadequada, além de afetar negativamente

mineralizado, na quantidade de 60 a 100g/dia

o

durante todo o ano e água de boa qualidade à

desenvolvimento

ósseo,

promove

aprumos

deficientes por excesso de peso e estimula a ocorrência

de

consequências

cólicas, à

bem

reprodução

como

drásticas

desses

animais

2015).

O

concentrado

para

a

vontade (AFONSO et al., 2010). As necessidades de matéria seca (MS) variam conforme o peso corporal do animal, sendo divididas

(MARQUES, 2017).

em abaixo e acima de 650 kg de peso vivo (PV), O

conhecimento das

e

devido a conversão alimentar e as necessidades

fisiológicas garante um manejo alimentar de forma

alimentares dos animais mais pesados serem

mais adequada da espécie. Portanto, é relevante

proporcionalmente menores que as de animais mais

destacar

leves, em razão do metabolismo mais lento, o que

que

os

estruturas

equinos

anatômicas

têm

estômago

relativamente pequeno, e alimentos em excesso

propicia

pode causar distensão, aparecimento de cólicas ou

ofertados (CINTRA, 2016). Para um garanhão com

dores abdominais, fermentação e transtornos como

média de 400 kg de PV, as necessidades de MS

diarreias (MENDES, 2011).

variam entre 6,8 a 8,4kg de MS e com média de

melhor

aproveitamento

dos

nutrientes

peso de 700 kg de peso vivo, as necessidades de Ainda de acordo com MENDES, os alimentos à base

MS são entre 11,9 a 14,7kg de MS (NRC, 2007).

de grãos devem ser oferecidos em no mínimo duas vezes ao dia, para que o alimento possa ser

As necessidades energéticas dos garanhões em

digerido. É altamente recomendável que os equinos

manutenção são as mesmas para quaisquer animais

consumam quantidades suficientes de forragem para

nessas condições. Em período de estação de monta,

minimizar as disfunções digestivas, frequentemente

a função reprodutora é relativamente pouco exigente

atribuídas à alimentação com grande quantidade de

em energia, sendo 15% acima da manutenção em

concentrados.

animais em monta leve, em valores de energia digestível, 25% em animais em monta média e 35%

Alimentação

de

garanhões

e

necessidades

acima

da

manutenção

em

monta

intensa,

nutricionais

semelhante a um animal em trabalho leve a médio,

A dieta de garanhões em serviço (cobertura ou

mas é necessário um excelente equilíbrio alimentar.

coleta de sêmen) mantidos na cocheira ou em

Pode-se considerar em monta leve animais que

piquetes deve conter aproximadamente 10% de

realizam de 1 a 2 saltos por semana, em monta

proteína bruta (PB). O requerimento proteico está

média, de 3 a 5 saltos por semana, e em monta

diretamente ligado à raça e ao peso do garanhão, e

intensa,

à qualidade e digestibilidade da proteína disponível.

(VENDRAMINI & MENDONÇA, 2011).

acima

de

cinco

saltos

por

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8449-8462, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

semana

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

O excesso de peso também afeta a fertilidade,

três últimos meses de gestação é essencial para que

ocorrendo diminuição no nível hormonal e na libido

o parto transcorra normalmente. Uma égua com

por fixação dos hormônios sexuais no tecido

excesso de peso poderá ter dificuldade durante o

adiposo. Por outro lado, a perda de peso afeta certos

trabalho de parto e uma égua mal alimentada pode

garanhões muito nervosos, que perdem o apetite. É

não ter as contrações adequadas. A má nutrição de

necessário ofertar alimentação concentrada e variar

éguas no terço final da gestação quer seja por

o regime alimentar para manter um bom estado

deficiência ou por excesso de nutrientes, refletirá no

corpóreo, vigoroso e com boa qualidade de sêmen

peso do potro ao nascer e na qualidade do colostro e

(ARRUDA, 2009).

do leite, podendo interferir no tamanho do cavalo adulto (CINTRA, 2016).

As necessidades proteicas são um pouco a mais se comparada

às

20%

Aproximadamente metade da energia consumida

reprodutiva,

pelas éguas em reprodução por meio da alimentação

segundo o NRC (2007), e um pouco maiores,

é destinada ao metabolismo basal, sendo o restante

segundo o INRA (1990), para ativar a produção das

reservado para o crescimento e o desenvolvimento

glândulas sexuais. Entretanto, os excessos são

do potro, seja no período intrauterino ou pelo leite,

prejudiciais, pois aumentam a reabsorção intestinal

no período lactente (AZEVEDO, 2013).

independentemente

de

manutenção, da

atividade

em

de aminas, podendo contribuir para alterar a vigor e A má nutrição é um dos maiores responsáveis pela

a sobrevida dos espermatozoides.

infertilidade da égua, mas é comum os criadores Referente às necessidades minerais destaca-se a

subestimarem

necessidade de uma complementação mineral para

reprodutoras têm quatro ciclos nutricionais bem

evitar carências de fósforo, zinco, manganês, cobre,

distintos, sendo dois durante a gestação e dois

iodo e selênio, que são importantes para a fertilidade

durante a lactação. Quando ocorre déficit na

e,

forragens.

alimentação no período gestacional, podem surgir

Atendendo as demandas de minerais em animais de

problemas na ovulação, como cio não fértil, na

manutenção, apenas a disponibilidade de sal mineral

nidação (fixação do embrião na parede uterina), no

específico para equinos de boa qualidade e com livre

desenvolvimento da gestação e, consequentemente,

acesso é suficiente (BRANDI & FURTADO, 2009).

na viabilidade do feto. Se o déficit nutricional for por

normalmente,

deficientes

nas

a

sua

importância.

As

éguas

um período prolongado ou muito intenso, podem A suplementação vitamínica compõe-se, em primeiro

ocorrem abortos, que predispõem a complicações

lugar, de vitamina A, que garante a integridade do

infecciosas que comprometem a fertilidade, e ao

epitélio germinal. A vitamina E é importante para a

nascimento de prematuros ou de potros fracos,

fertilidade pela proteção antioxidante dos ácidos

pouco

graxos essenciais e da vitamina A. O restante do

natimortalidade (LEWIS, 2000).

resistentes,

que

ficam

sujeitos

à

complexo vitamínico é essencial para o bom equilíbrio do organismo do garanhão. De acordo

Período gestacional

com o NRC, algumas vitaminas são designadas

No período de gestação, a égua deverá ganhar de

como “não determinadas” (nd), pois considera que

13 a 18% de peso, desde que esteja, já no início da

não há necessidade de suplementação. No caso da

gestação, em seu estado corporal ótimo. Esse ganho

vitamina C, sintetizada pelo fígado, e da biotina,

é dividido de 3 a 5% na primeira fase (até o oitavo

disponibilizada em alguns alimentos e sintetizada

mês de gestação) e 10 a 13% na fase final (terço

pela flora bacteriana, em condições normais, não há

final da gestação) (LEY, 2006).

necessidade de suplementação, por isso constam como “nd” (CINTRA, 2016).

A égua tem necessidades pouco superiores à manutenção no início da gestação e no final da

Alimentação de fêmeas

lactação,

Uma alimentação equilibrada da égua durante os

gestação e muito acentuadas, sobretudo energéticas,

8455

especialmente

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proteicas

no

final

da


Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

no início da lactação. O fornecimento de minerais e

tamanho do feto nesse período. A alimentação fetal

vitaminas por todo o período de gestação/lactação é

é prioritária em relação à da mãe, ao contrário ao

fundamental para garantir o bom crescimento ósseo

que ocorre no início da gestação: está sendo

do potro. Tanto deficiências proteicas na lactação

definido todo o “futuro potencial” do potro, isto é,

como excessos energéticos levarão a uma queda na

todo o potencial genético de crescimento do potro é

produção leiteira, com consequente diminuição no

preparado nessa fase (VENDRIMINI & MENDONÇA,

crescimento e no desenvolvimento do potro neonato

2011).

(VENDRAMINI & MENDONÇA, 2011). Nesse período, a égua deve adquirir uma reserva A manutenção de uma égua apenas a pasto, sem

corpórea para que, no início da lactação, não ocorra

fornecimento de complementos nutricionais, não

uma perda de peso excessiva decorrente das

impedirá a gestação ou mesmo o parto e o

elevadas necessidades energéticas dessa fase

crescimento do potro, porém o mesmo não terá todo

(VIEIRA, 2015).

o seu potencial genético exteriorizado, tendo um crescimento e um desenvolvimento menor do que

O bom estado corporal da fêmea no momento do

teria se o aporte de nutrientes fosse feito da maneira

parto é uma garantia do nascimento de um potro

mais equilibrada possível (CINTRA, 2011).

saudável e com ótimo desenvolvimento pós-natal. Uma complementação concentrada adequada no

Se, no período final da gestação (acima de sete

final

meses), o animal estiver em um ótimo estado

compensar a perda de apetite momentos antes do

corporal, haverá uma melhor maturidade do feto,

parto, possibilitando manter o estado corporal ideais,

maior qualidade do colostro, acréscimo na produção

estimular o desenvolvimento fetal, assegurando o

leiteira e da atividade ovariana, favorecendo uma

nascimento de um potro saudável e maduro, ativar a

nova gestação. Por outro lado, o fornecimento

produção de imunoglobulinas para a produção do

exagerado de alimentos para a égua no terço final da

colostro de excelente qualidade, que cause ótima

gestação,

peso,

proteção anti-infecciosa para o potro, e promover

perda

uma produção leiteira favorável ao crescimento

parto,

inicial do potro (UnB, 2009).

com

proporcionará, demasiada

de

excesso

no

ganho

momento

peso

e

do

de parto,

dificuldade

no

da

gestação

apresenta

vantagens

para

ocasionando o nascimento de um potro frágil e uma queda na produção leiteira e consequentemente

A

prejuízo reprodutivo subsequente (LEWIS, 2000).

dependendo do volumoso utilizado, pode ser de 15 a

quantidade

de

proteína

do

concentrado,

16%, e a energia mediana, sendo o extrato etéreo Do 1º ao 8º mês: Após a fecundação, a égua deve

variável de 3 a 5% (SILVA et al., 2013).

manter seu peso corporal, ou se estiver abaixo do escore indicado, ganhar peso. As necessidades da

Período de lactação

mãe são pouco superiores às de manutenção, sendo

Alimentação de éguas em lactação é dividida em

necessário de 1,4 a 1,7% de matéria seca (MS) em

duas fases: Início da lactação (1º ao 3º mês) - Os

relação ao peso do animal. Nessa fase, acontece um

aportes alimentares para a égua em início de

crescimento de cerca de 30% do tamanho do feto.

lactação são maiores que no período de gestação.

Um volumoso de ótima qualidade, água fresca e

Com relação a seu peso, essa categoria tem uma

limpa à vontade, mineralização adequada e um

necessidade de 2,3 a 3% de MS, sendo a categoria

mínimo de concentrado de qualidade são suficientes

com maior exigência no consumo de alimentos

para suprir suas necessidades nesse período

(VENDRIMINI & MENDONÇA, 2011).

(VENDRIMINI & MENDONÇA, 2011). Um equilíbrio alimentar, que ofereça ao animal as Do 9º ao 11º mês: Nessa fase, ocorre um aumento

quantidades

considerável

nutrientes, deve ser adequado ao seu estado físico e

em

relação

às

necessidades

nutricionais da égua. Há um crescimento de 70% do

e

as

qualidades

necessárias

de

à sua produção leiteira e propiciar a manutenção de

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Artigo 490- Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

um peso corporal próximo do ótimo, que favoreça a

os fatores que fazem variar estas necessidades, tais

sua fertilidade (SILVA, 2015).

como o peso vivo (o qual está associado à raça), as condições climáticas da região, a condição corporal

As exigências energéticas estão superiores, pois a

do

animal,

o

estado

égua é uma excelente produtora leiteira. As éguas

(VALLENTINE, 2001).

fisiológico,

entre

outros

de raças medianas (manga larga, quarto de milha, campolina etc.) produzem em média 15 a 17L de

Se

tratando

da

fase

reprodutiva,

a

principal

leite por dia, podendo chegar a picos de 20 a 22L,

preocupação se dá com a alimentação da égua. Na

enquanto as raças de tração pesada (bretão,

época de reprodução é essencial que a égua

percheron) chegam a 25L diários, podendo ter picos

apresente uma boa condição corporal antes de ser

de 30 a 32L (LIMA et al., 2006).

montada ou inseminada, considerando que a taxa de concepção pode ser influenciada por esse estado

A

suplementação

com

concentrados

se

faz

corporal (CHEEKE, 1991).

necessária, pois, a égua pode estar prenhe nessa função:

Uma égua vazia ou no início da gestação é

manutenção, lactação e nova gestação (SILVA,

considerada como tendo apenas necessidades de

2015).

manutenção. Quando prenha, é necessário apenas

fase.

Portanto,

a

égua

tem

tripla

um aumento da ingestão durante o terço final da A quantidade de proteína do concentrado pode

gestação devido ao aumento dramático do peso do

variar entre 15 e 16% de PB, lembrando sempre

feto e, logo, das suas necessidades (BARBOSA,

que, quanto maior a proteína e a energia do

2015).

concentrado, menor poderá ser a inclusão de concentrado na dieta. Nessa fase, o potro é nutrido

Éguas magras e não lactantes devem receber um

basicamente pelo leite, apesar de ingerir volumoso e

reforço na dieta, que pode traduzir em mais um a

até ração. Quanto mais leite a égua produzir, melhor

dois kg de concentrado por dia, durante duas a três

será o crescimento e o desenvolvimento do potro

semanas antes da cobertura, para que desta forma a

(RIBEIRO et al., 2009).

eficácia

da

reprodução

seja

mais

elevada

(CALDEIRA, 2013). Final da lactação (4º ao 6º mês) - As necessidades das fêmeas caem drasticamente. Nesse período, a produção leiteira reduz-se quase à metade do início da lactação e o potro já está se alimentando de volumoso, que suprem parte de suas necessidades (VENDRIMINI & MENDONÇA, 2011). As

necessidades

de

matéria

seca

(MS)

são

e acima de 650 kg de PV, pois a conversão animais

e

as

mais

necessidades pesados

são

alimentares

dos

proporcionalmente

menores que as de animais mais leves, em virtude do metabolismo mais lento, que propicia melhor aproveitamento dos nutrientes ofertados (MILLS & NANKERVIS, 2005).

vários

sistemas

de atividade física, que pode ocasionar retardamento na expulsão do feto e da placenta. Entretanto, a ou

falhas

alimentares

dificultam

a

concepção assim como comprometem o crescimento do feto, prejudicando o seu desenvolvimento pósparto, tanto em função da fraqueza ao nascimento como da baixa produção de leite materno (MENDES, 2011). A quantidade e qualidade do suplemento alimentar (concentrado e volumoso) a ser ofertada na dieta dos equinos dependem do que é suprido pelas recomendável, pois as exigências nutricionais são

para

expressar

as

necessidades nutricionais dos equinos e são vários 8457

em virtude da diminuição do tônus muscular por falta

pastagens. O fornecimento de ração individual é

Influência da alimentação na reprodução Existem

éguas, o que pode causar dificuldades durante parto,

deficiência

separadas de acordo com o peso do animal, abaixo alimentar

Na prenhez é comum à superalimentação das

variáveis (SANTOS et al., 2016). A capacidade de ingestão da égua aumenta de

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

acordo com o aumento das necessidades próprias

mentos no terço final de gestação e durante a

das fases de gestação e lactação, pelo que é,

lactação.

essencialmente, a partir do parto que a ingestão aumenta bastante (2,5 kg MS/ 100 kg PV para 3,0 a

Deficiências alimentares

10,3 kg MS/ 100 kg PV), pois até lá estava limitada

Segundo Bondi (1987), a subnutrição em fêmeas

pela compressão do útero sobre os compartimentos

maduras sexualmente, pode impedir a ocorrência de

gastrointestinais (INRA, 2012).

ovulação ou mesmo a fecundação do óvulo, podendo ainda ter um efeito negativo na taxa de

Em condições onde as pastagens encontram-se

mortalidade embrionária precoce. Uma nutrição

secas ou impróprias para equinos, e dependendo

imprópria

das condições físicas das fêmeas, recomenda-se

puberdade, provocar o anestro e prolongar o anestro

fornecer de 0,5 a 0,75 kg de ração/100 kg de peso

pós-parto (GODKE & CARTMILL, 2002).

vivo/animal/dia.

A

suplementação

tem

também

pode

atrasar

o

início

da

maior

importância no início da lactação, que coincide com

A baixa condição corporal da égua pode conduzir a

o primeiro terço da gestação e nos últimos três

um

meses de gestação (SILVA et al., 1998).

(DAVIS

estado &

sazonal GODKE,

não-ovulatório 2002),

consistente

embora,

possam

demonstrar um comportamento de cio junto ao Como ocorre crescimento fetal no terço final da

garanhão (GENTRY et al., 2002).

gestação, a massa uterina ocupa a maior parte da cavidade abdominal da égua, dificultando a ingestão

Ainda de acordo com Gentry et al. (2002), éguas

de

com baixo escore corporal têm baixas concentrações

alimentos

exigências

necessários

nutricionais.

para

atender

Portanto,

suas

que

a

quantidade dos alimentos ingeridos nesta fase é menor,

estes

devem

ser

de

boa

de progesterona, fraca atividade folicular e podem ficar em anestro durante 6 a 7 meses.

qualidade,

atendendo as necessidades nutricionais (SATUÉ et

Baixos níveis de ingestão proteica podem atrasar a

al., 2011).

entrada na puberdade, tanto em machos como em fêmeas, devido à deficiência proteica provocar perda

Desde que haja forragens abundantes e de boa

de apetite, muitas vezes é associada a outras

qualidade, as éguas vazias podem permanecer

deficiências nutritivas (VENDRAMINI et al., 2014).

nestas pastagens, recebendo sal mineral à vontade (DITTRICH, 2010). De acordo com o estado corporal

Para Cintra (2016), deficiências de vitaminas,

do animal, e variando com o período do ano (período

principalmente de vitaminas A e E, podem ocasionar

seco

ser

infertilidade ou mesmo esterilidade. As deficiências

suplementadas com feno ou ração, para que suas

minerais mais comuns correspondem a carências em

exigências

fósforo, cálcio, magnésio, cobre, zinco e cobalto.

e

chuvoso)

as

éguas

proteico-energéticas

deverão e

atividades

ovarianas sejam mantidas, entrando no período de monta em boas condições físicas, alcançando bons

Condição corporal

índices reprodutivos (MENDES, 2011).

Um estudo de Domingues (2009) com éguas com diferente escore corporal (magro, médio e gordo) e

A fase de maior exigência nutricional na égua

de ingestão de energia (manutenção e alta ingestão

corresponde ao período de lactação, em que as

energética), demonstra que, para éguas magras, um

necessidades energéticas podem corresponder ao

elevado nível de ingestão de energia tem maior

dobro do período de manutenção e as de cálcio

influência na antecipação da ovulação do que em

podem triplicar (HINTZ, 1995). Caso não suprido as

éguas com um índice médio ou alto de gordura

necessidades de manutenção e de lactação, poderá

corporal. Neste estudo, as éguas acima do escore

ocorrer quedas na produção do leite e perda de peso

desejado apresentaram um estro inicial com duração

corporal. Harper (2003) acredita que, mesmo em

tendencialmente inferiores aos dos outros dois

sistemas extensivos, devem ser providenciados suple-

grupos de éguas, mas demoraram menos tempo a

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8449-8462, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

atingir a primeira ovulação após o primeiro dia de

tivas e produtivas do rebanho, com o uso de

estudo.

biotecnologias como a inseminação artificial e

Estes resultados estão de acordo com os obtidos por Gibbs et al. (1998) citados por Santos (2001) em que éguas que estavam em uma condição corporal melhor,

apresentaram

melhores

entrada do período reprodutivo, apresentam um menor número de ciclos éstricos por concepção, apresentam taxas de gestação superiores e maior capacidade de manutenção do embrião ao longo da gestação.

e atividade folicular durante o inverno para éguas em boa condição corporal. Estas éguas apresentaram maiores concentrações de progesterona, um maior número de corpos lúteos e folículos maiores durante o mês de Janeiro do que as éguas com fraca

No entanto, em estudos feitos por Pereira (2006), o de

peso

pode

acarretar

problemas

reprodutivos, sobretudo durante o parto, devido à percentagem

aumentando

a

de

dificuldade

massa devido

muscular, à

menor

capacidade de compressão do canal cervicovaginal. No entanto, um estudo feito por Kubiak et al. (1988) contradiz esta afirmação, não obtendo nenhum efeito negativo do excesso de gordura durante o parto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS está

totalmente

relacionada ao manejo alimentar dos mesmos. Conhecer as necessidades nutricionais das fases de criação dos equinos facilita no quesito reprodução do rebanho, onde juntamente com a melhor técnica de reprodução escolhida, faz o progresso do plantel. O controle da alimentação, o tipo de ração, a quantidade de oferta de alimentos e a competição entre os animais por alimentos, são pontos chaves de uma boa conversão alimentar e eficiência do rebanho. O manejo reprodutivo na equideocultura bem conduzido pode aumentar as características reprodu-

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Artigo 490 – Aspectos nutricionais relacionados à reprodução em equinos

garanhões da raça Mangalarga marchador em diferentes

faixas

etárias.

Tese

apresentada

Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação

à

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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8449-8462, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

8462


Sistemas de ordenha automáticos e manejo da alimentação Nutrição, tecnologia, dieta parcial, tráfegos. *

Vanessa Amorim Teixeira¹ 2 Hilton do Carmo Diniz Neto 3 Luiz Gustavo Ribeiro Pereira 4 Lucio Carlos Gonçalves 4 Ângela Maria Quintão Lana

Revista Eletrônica

Vol. 16, Nº 03, maio/jun de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br ¹Doutoranda em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.*E-mail: vanessateixeiraamorim@gmail.com. 2 Mestrando em Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG. 3 Pesquisador, EMBRAPA Gado de Leite. 4 Prof. Titular, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária da UFMG.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

AUTOMATIC MILKING SYSTEMS AND FEED

Os sistemas voluntários de ordenha têm o potencial

HANDLING

de aumentar a produção de leite, diminuir o emprego

ABSTRACT

de mão de obra nas fazendas, além de melhorar o

Voluntary milking systems have the potential to

bem-estar do produtor e das

vacas leiteiras,

increase milk production, reduce the use of labor on

permitindo a expressão dos seus hábitos naturais. A

farms, and improve the well-being of dairy farmers

adoção desse sistema está em crescente expansão,

and cows, allowing the expression of their natural

com

em

habits. The adoption of this system is in increasing

funcionamento em todo o mundo. Nesse tipo de

aproximadamente

expansion, with approximately 43,000 units in

sistema, os animais recebem todos os nutrientes em

operation throughout the world. In this type of

forma de dieta parcial, em que parte da dieta é

system, the animals receive all the nutrients in the

fornecida durante a ordenha, principalmente com

form of a partial diet, in which part of the diet is

objetivo de atrair e condicionar as vacas ao sistema

provided during milking, mainly to attract and

e a outra parte na pista de alimentação. A nutrição

condition the cows to the system and the other part in

das vacas nesse tipo de sistema é um desafio e ao

the feeding lane. The nutrition of cows in this type of

mesmo tempo uma oportunidade, uma vez em que

system is a challenge and at the same time an

os nutrientes são fornecidos individualmente. Esta

opportunity once nutrients are supplied individually.

revisão visa descrever as estratégias de manejos da

This review aims to describe the strategies of feeding

alimentação nesse tipo de sistema e discutir as

management in this type of system and to discuss

oportunidades e desafios da sua utilização.

the opportunities and challenges of its use.

Palavras-chave: nutrição, tecnologia, dieta parcial,

Keyword: nutrition, technology, partial diet, traffic.

tráfegos.

8463

43.000

unidades


Artigo 491 – Sistemas de ordenha automáticos e manejo da alimentação

INTRODUÇÃO

países da Europa, Estados Unidos, Austrália e Nova

Os sistemas voluntários de ordenha (Voluntary

Zelândia. Quando otimizado, o VMS apresenta

Milking System - VMS) têm o potencial de aumentar

benefícios como, melhora do bem-estar da vaca,

a produção de leite em até 12%, diminuem a mão de

permite a detecção de problemas de saúde com

obra em até 18% e, simultaneamente, melhoram o

maior facilidade, promove aumento da produção de

bem-estar das vacas leiteiras e do produtor,

leite pelo aumento da frequência de ordenha e reduz

permitindo que as vacas escolham quando devem

o tempo de trabalho, e promove um estilo de vida

ser ordenhadas. A crescente popularidade desta

mais flexível ao produtor, permitindo a este o tão

tecnologia é evidente na sua rápida taxa de adoção.

sonhado dia de folga, que na maioria das vezes em

Em 2015 existiam 25.000 VMS no mundo, e em

sistemas convencionais se torna inviável tornando o

2017 o número de ordenhas em funcionamento foi

produtor escravo da rotina do seu próprio negócio.

em torno de 43.000, demonstrando um crescimento de 60% neste período. Nos rebanhos de ordenha

A maximização da frequência de ordenhas e a

convencional, em sua maioria, os animais recebem

redução da necessidade de buscar vacas são

todos os nutrientes em forma de dieta total (Total

aspectos cruciais para tornar o VMS lucrativo. O

Mixed Ration - TMR), enquanto em rebanhos

retorno máximo sobre o investimento de um VMS é

ordenhados com VMS, parte da dieta é fornecida

alcançado quando as vacas adaptam sua rotina

durante a ordenha, principalmente com objetivo de

diária e, o fluxo em torno do sistema de produção

atrair

sistema.

estabiliza, resultando na utilização do VMS com

Geralmente, a parte da dieta não ofertada ao longo

pouca ou sem a intervenção humana, ou seja,

da ordenha é fornecida na pista de alimentação e

quando o VMS trabalha a maior parte do tempo (oito

denominada dieta misturada parcial (Partial Mixed

ordenhas/hora). A maioria das vacas submetidas ao

Ration - PMR).

VMS, cerca de 67%, tem intervalos de ordenha entre

e

condicionar

as

vacas

ao

seis e 12 horas, com 11% dos intervalos acima de A alimentação de vacas em sistemas VMS é um

seis horas e 21,5% acima das 12 h.

desafio e ao mesmo tempo uma oportunidade para fornecer os nutrientes de forma eficiente. O principal

No VMS, as vacas precisam comparecer ao

desafio consiste em manter uma frequência mínima

alimentador

de ordenhas no VMS e com tempos relativamente

individualmente, o que é um comportamento não

constantes, o que não depende exclusivamente da

natural, porque as vacas são gregárias, tendo

oferta nutricional, mas de muitos fatores inter-

predileção

relacionados,

incluindo

a

estrutura

social

do

rebanho, o desenho do galpão, o tipo de movimento imposto às vacas, o tipo de piso, o estado de saúde da vaca (especialmente claudicação, mastite e patologias da reprodução), o estágio da lactação, a ordem de parto e o tipo de concentrado fornecido no VMS e da dieta na pista de alimentação. Por outro lado, a oportunidade da VMS reside na possibilidade de alimentar as vacas de forma individualizada e em frequência diferenciada, podendo resultar em melhor eficiência

alimentar,

aumentando

o

retorno

econômico.

pesquisas

e

à

ao

sistema

convivência

em

avaliando

o

de

grupo.

ordenha

Algumas

comportamento

hierárquico das vacas em sala de espera percebeuse que as dominantes gastam menos tempo na sala de espera do que as subordinadas, 13 minutos versus 20 minutos respectivamente, fazendo com que a frequência de ordenha das subordinadas seja menor do que a das dominantes, muito comum nas rotinas

tradicional

esse

comportamento

entre

primíparas e multíparas. Tal comportando pode levar à redução da motivação das vacas para revisitar o VMS,

precisando

que

este

seja

projetado

e

construído de tal forma que as bordas e as quinas

ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E COMPORTAMENTAIS Os sistemas automáticos de ordenha robotizados impactaram a qualidade de vida dos produtores em

sejam arredondadas para que não haja perigo das vacas machucarem na sala de espera e não haja “encurralamento” em que alguns animais fiquem presos por outros em algum canto.

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8463-8469, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

8464


Artigo 491 – Sistemas de ordenha automáticos e manejo da alimentação

O padrão alimentar dos bovinos é outro aspecto

de descanso vai para a pista de alimentação, e só

comportamental importante a ser considerado. Em

depois de comer o PMR, serão guiadas para o

sistemas de produção extensiva, em que as

portão de seleção e para a unidade VMS. Depois de

condições de ingestão de alimento são próximas das

ordenhadas, as vacas podem retornar a área de

naturais, o ato de pastejar expressa o padrão de

descanso

alimentação crepuscular. Esse padrão faz com que

automático, onde também é ofertado concentrado, a

se tenha um ápice de consumo de alimento ao

chamada estação de alimentação (Feed Station).

ou

para

estação

com

alimentador

amanhecer e ao anoitecer. No entanto, em sistemas intensivos, onde os animais são submetidos às

No sistema de fluxo livre as principais vantagens

condições

de

estão relacionadas ao comportamento animal, a

alimentação são muito influenciados pelo tempo e

vaca pode escolher a própria rotina, sendo mais fácil

frequência

a adaptação. Nesse sistema não há a necessidade

de de

confinamento, ordenha,

como

os

padrões também

pelos

intervalos de fornecimento de concentrado.

de portões de seleção, exigindo um aporte financeiro inicial menor, se tornando um sistema simples e de

Neste sentido, o principal fator motivador para atrair

fácil

vacas a visitar o VMS é o concentrado ofertado na

desvantagens, exige maior esforço para movimentar

acesso

ao

produtor.

Entretanto

como

estação de ordenha. As vacas podem desenvolver

os animais e atingir o intervalo regular de ordenha,

um padrão de alimentação individual e específico.

exigindo maior quantidade de concentrado para

Não obstante, a presença de vacas na estação não

motivar as vacas a visitarem o VMS, principalmente

depende apenas do PMR, ou do tipo e valor nutritivo

aquelas que se encontram em estágio final de

do concentrado ofertado no VMS, mas também do

lactação.

manejo de alimentação, conforto, saúde dos animais e das interações sociais entre as vacas.

No sistema de tráfego guiado, as vantagens são a possibilidade de adotar a nutrição de precisão,

FREQUÊNCIA DE ORDENHA E MODALIDADES

possibilitando ajustar o concentrado por animal,

DE FLUXO DOS ANIMAIS

considerando a produção, os dias em lactação, a

Com o VMS, as vacas podem ter acesso livre à

ordem de parto, o pico de produção ou as

ordenha e os animais podem acessar a ordenha, a

características específicas da fazenda. Além disso, o

pista de alimentação ou o descanso irrestritamente e

tráfego guiado permite monitoramento mais eficiente

sem a utilização de portões de seleção, conhecido

da frequência de ordenhas, promove melhoria na

como tráfego livre. Outro tipo é o tráfego guiado,

saúde da glândula mamária, minimiza a necessidade

onde portões unidirecionais e de seleção são usados

de movimentação, reduz o trabalho e a quantidade

para guiar as vacas até as áreas de ordenha,

de concentrado no VMS. As principais desvantagens

alimentação e descanso.

estão relacionadas ao custo adicional da aquisição do portão de seleção, sendo este necessário para

Existem dois tipos de fluxo guiado, a ordenha

minimizar a hierarquia entre as vacas como também

primeiro (Milk First) ou a alimentação primeiro (Feed

direcionar as vacas baseado nas permissões de

First). No primeiro sistema, as vacas que saem da

ordenha conforme descrito anteriormente. Com esse

área de repouso, devem passar por um portão de

modelo de tráfego (Figura 1) é possível desafiar mais

pré-seleção que determina se a vaca está apta para

os animais quando comparado ao tráfego livre.

a ordenha, se atender ao requisito, ela será direcionada para unidade de VMS. Se ela não for qualificada para a ordenha, poderá entrar na área de alimentação e, só poderá retornar na área de descanso por meio de portão de mão única. Então, no Milk First as vacas são ordenhadas antes de receber a alimentação. No Feed First, o fluxo dos animais é o inverso, a vaca que se encontra na área 8465

O fluxo guiado pode reduzir o tempo que as vacas têm acesso à pista de alimentação, entretanto por aumentar o número de visitas e por ter os portões de seleção que permitem com que as vacas não percam tempo, geralmente esse tipo de tráfego aumenta a produtividade dos animais como visto no estudo de Melin et al. (2007) em que a produção de

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Artigo 491 – Sistemas de ordenha automáticos e manejo da alimentação

leite média foi de 38,3, e 35,6 kg de leite por dia

de visitas voluntárias ao VMS.

para tráfego guiado e livre respectivamente e o total de visitas foi de 2,2 e 5,1 para o tráfego livre e

Quando o VMS é instalado em sistemas de produção

guiado, respectivamente.

de leite a pasto o fornecimento de dieta é diferente. Alguns autores conseguiram ordenhar vacas em

Figura 01: Ilustração dos tipos de tráfego dos

sistemas extensivos de pastagem com apenas 300g

animais

de concentrado por visita. Outros por sua vez suplementaram

com

maiores

quantidades

de

concentrado, aproximadamente sete kg/vaca/dia, o que resultou em consumo médio de 2,8 kg/visita à ordenha, com maior frequência nos grupos mais próximos

do

VMS.

Em

sistemas

a

pasto,

suplementando apenas um kg de cevada triturada por vaca/dia na unidade de ordenha, resultou em maior frequência de visitas à unidade de pré-seleção da ordenha para o grupo suplementado, 5,4 visitas/dia no grupo com cevada,

versus 4,6

visitas/dia no grupo sem cevada. O fornecimento de concentrado neste trabalho afetou a produção de leite, 22,5 kg/dia e 23,6 kg/dia, para os grupos sem e com suplementação, respectivamente. Ressaltando assim a importância do uso de concentrado para Fonte: Elaborado pelo autor.

atrair as vacas às unidades VSM.

Não existe uma situação ideal ou um tipo de tráfego

ASPECTOS NUTRICIONAIS

ideal, tudo dependerá do objetivo da propriedade e

O

de quanto querem desafiar os animais. No entanto, a

alimentação de vacas usando a abordagem de

frequência de ordenha diária depende de outros

precisão. Essa tem o potencial de melhorar a

fatores, como ordem de parto. Em alguns estudos

produtividade

percebeu-se que as vacas primíparas visitaram o

eficiência da produção atendendo às necessidades

VMS com mais frequência, em média a cada 10,47 ±

de cada vaca, superando limitações da alimentação

0,21 horas, em comparação com as multíparas, a

com TMR, onde as vacas recebem alimentação com

cada 11,33 ± 0,22 horas, independente do tipo de

base em produção média.

movimento

imposto; e

houve

diminuição

VMS

propicia

uma

e, mais

oportunidade

para

importante, promover

a

a

da

frequência de visitas ao VMS quando o número de

Uma

vacas

máxima

explorações leiteiras com VMS é começar com baixa

suportada pelo VMS, sendo esta aproximadamente

quantidade de concentrados no parto, seguido por

55 a 65 vacas/VMS para o tráfego livre e 70 a 80

um aumento linear durante as primeiras semanas de

vacas/VMS para o tráfego guiado.

lactação, acompanhando a curva de lactação e

estava

próximo

da

densidade

estratégia

alimentar

comum

em

muitas

aumento da IMS (ingestão de matéria seca) e o pico Para minimizar a variação na frequência de ordenha,

de produção. As vacas devido ao tempo de ordenha,

e maximizar a utilização do VMS, foi proposto atrair

não consomem todo o concentrado que é ofertado

as vacas com alimentos palatáveis ou impor a elas o

no VMS quando as permissões de concentrado são

tráfego guiado. Estudos compararam a frequência

altas, acima de 4 kg/visita, o que torna o sistema

de

de

menos eficiente em fornecer nutrientes necessários

concentrado em cada ordenha a 1,2 kg/vaca/dia

a cada vaca, embora a vaca possa compensar esse

versus uma permissão máxima de sete kg/vaca/dia.

déficit

Os autores não evidenciaram diferenças no número

alimentação.

ordenhas

ao

limitar

o

fornecimento

consumindo

mais

PMR

na

pista

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8463-8469, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

de

8466


Artigo 491 – Sistemas de ordenha automáticos e manejo da alimentação

O tempo médio gasto no VMS por ordenha é de

A palatabilidade dos ingredientes e a forma física

cerca de sete minutos e, as vacas consomem no

utilizadas no concentrado também podem determinar

máximo 2,8 kg de concentrado por ordenha nesse

a ingestão e a regularidade das visitas ao VMS. O

tempo. Considerando que o número médio de

aumento da palatabilidade de concentrados por meio

ordenhas no VMS é próximo de três por dia,

da adição de substâncias aromatizantes aumentou o

empiricamente cada vaca pode consumir em média,

número de visitas ao VMS e o consumo em diversos

no máximo 8,4 kg de concentrado por dia no VMS.

estudos,

Para lançar mão de uma quantidade maior de

concentrado era baixo, entre 1,5 a 3,5 kg/dia. Em

concentrado faz-se necessário a utilização das

relação à forma física, a forma de pellet é preferida

cabines de alimentação, que são as Feed Station.

em relação à farelada, entretanto esse pellet tem que

mesmo

quando

o

fornecimento

de

ser de alta resistência para evitar quebras e Além de quantidade, a composição nutricional, a

desperdícios durante o fornecimento, tem que ser

forma física e a palatabilidade dos ingredientes do

palatável para aumentar o consumo e com bons

concentrado são aspectos relevantes.

ingredientes ricos em amido. Estudos mostraram que em

fazenda

que

a

consistente e com ingredientes palatáveis, aumentou

seca (IMS) do PMR, por um efeito de substituição.

o número de ordenhas voluntárias de 1,7 para

Quantitativamente, para cada aumento de 1 kg no

2,1/vaca/dia em comparação com a alimentação com

concentrado

vacas

pellet de baixa qualidade. Entretanto existem muitas

diminuem a ingestão de PMR em 1,14 kg sem

fazendas que utilizam concentrados farelados e com

alteração na produção do leite e na sua composição.

índices de alta eficiência. Nesse tipo de fornecimento

Geralmente PMR adotada em fazendas com VMS é

tem que se atentar a velocidade de ingestão dos

composta por alimentos com baixo amido. Assim

animais que é menor em relação a concentrados

essa estratégia de alimentação não é muito eficaz

peletizados.

No

para vacas de alta produção, entre 50 a 60 litros de

peletizados

as

leite/dia, que possuem uma exigência nutricional

0,550Kg/minuto,

maior; principalmente em sistemas de tráfego livre,

consumo médio é de 0,350 Kg/minuto.

as

fornecimento vacas já

em

alta

livre,

oferecido no VMS diminui a ingestão de matéria

VMS,

de

fluxo

alimentação

no

pellet

o

Quando se aumenta a quantidade de concentrado

consumido

com

adotavam

de

concentrados

comem rações

qualidade,

em

fareladas

média esse

pois a média do PMR na pista será baixa, e a suplementação no VMS será insuficiente devido à

CONSIDERAÇÕES FINAIS

movimentação e frequência de ordenha menor

Há expectativa de crescimento do número de

nesse tipo de tráfego. Portanto, aumentar a

fazendas aderindo ao sistema VMS, visto o potencial

quantidade de concentrado no VMS ou em uma

desta tecnologia na produção leiteira no Brasil e no

Feed Station se torna estratégia para atender as

mundo. As

demandas nutricionais de animais mais exigentes,

alimentar as vacas de forma específica, aumentar a

melhorar o balanço energético e possivelmente

produção de leite, reduzir o trabalho e melhorar o

aumentar a frequência de visitas e a produção de

bem-estar das vacas e do produtor; e os desafios

leite.

são a complexidade de equilibrar a PMR e o

oportunidades

desta tecnologia são

concentrado ofertado na estação de ordenha e O concentrado com alto teor de amido pode afetar o

manter uma frequência mínima e tempo constante

apetite, o comportamento alimentar das vacas, a

de visitas às estações de ordenha.

digestibilidade da FDN e o pH ruminal, tendo como consequências produção

do

a

alteração leite

da

(inversão

composição da

e

relação

gordura/proteína) e aumentando assim o risco de distúrbios metabólicos (acidose) e podais (laminites) o que pode afetar a movimentação dos animais reduzindo a frequência de ordenha. 8467

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management,

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OF

THE

to

pasture

FIRST

CONFERENCE

and

level

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Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura Revista Eletrônica

Fábrica de ração, gestão de pessoas, gerenciamento da qualidade, instrução normativa. 1*

Vol. 16, Nº 03, maio/jun de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Cibele Regina Schneider 2 Monique Figueiredo 3 Elisângela de Cesaro 4 Simara Márcia Marcato 1

Doutoranda em Produção Animal, Universidade Estadual de Maringá UEM, Maringá – PR Brasil. E-mail: cibeleregina17@hotmail.com. 2 Mestranda em Produção Animal, Universidade Estadual de Maringá UEM, Maringá – PR Brasil. 3 Mestranda em Produção Animal, Universidade Estadual de Maringá UEM, Maringá – PR Brasil. 4 Professora da Universidade Estadual de Maringá - UEM, Departamento de Zootecnia, Maringá – PR Brasil.

RESUMO Para obter produtos de qualidade, a indústria de alimentação animal tem superado grandes desafios, como a gestão de uma fábrica de ração. Diante

MANAGEMENT OF ANIMAL FEED FACTORY IN BRAZIL: LITERATURE REVIEW

disso, a presente revisão de literatura visa compilar

ABSTRACT To obtain quality products, the animal feed industry

informações envolvidas na gestão da fábrica de

has overcome major challenges, such as the

rações,

podem

management of a feed mill. Therefore, the present

contribuir para que esse processo seja eficiente. O

literature review aims to compile the information

papel do gestor é uma tarefa complexa, pois este

involved in the management of the feed mill,

deve se aperfeiçoar em relação aos avanços

emphasizing methodologies that can contribute to

tecnológicos e aos processos automatizados. Os

this process being efficient. The role of the manager

gestores devem empregar métodos que visam

is a complex task, since it must be improved in

reduzir os custos e aumentar a produtividade com

relation to technological advances and automated

qualidade, com o uso das ferramentas Total Quality

processes. Managers should employ methods that

Management, 5S e PDCA, além de desempenhar um

aim to reduce costs and increase productivity with

papel importante no gerenciamento dos processos,

quality, using Total Quality Management, 5S and

na qualidade dos produtos e, na gestão de pessoas.

PDCA tools, as well as playing an important role in

Para que tudo isso ocorra de forma adequada, deve-

process

se

e

management people. For all this to occur properly,

comercialização destes produtos, através da lei

the rules for the manufacture and marketing of these

ordinária 6198/1974 e das instruções normativas

products must be followed, through ordinary law

04/2007, 65/2006, 13/2004, 15/2009 e 42/2010. É

6198/1974 and normative instructions 04/2007,

necessário também que a empresa conte com uma

65/2006, 13/2004, 15/2009 and 42/2010. It is also

equipe capacitada, que busque a obtenção de

necessary that the company has a qualified team

produtos de qualidade cumprindo as normativas e

that seeks to obtain quality products complying with

leis.

regulations and laws.

enfatizando

seguir

as

Palavras-chave:

metodologias

normas

fábrica

para

de

que

fabricação

ração,

gestão

de

pessoas, gerenciamento da qualidade, instrução normativa.

management,

Keyword: management,

animal's quality

product

food

quality

factory,

management,

and

people normative

instruction. 8470


Artigo 492 – Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura

INTRODUÇÃO

metodologias que podem contribuir para uma gestão

A produção de ração nas indústrias aumenta a cada

mais eficiente.

ano, devido ao crescimento de sua demanda na produção animal. Em 2017 a produção brasileira de

PAPEL DO GESTOR NA FÁBRICA DE RAÇÃO

rações animal alcançou 68,7 milhões de toneladas

A forma em que as organizações são conduzidas

(ZANI, 2018). Dessa forma, pode-se afirmar que a

influencia diretamente nos resultados (KLADIS &

evolução do setor de nutrição animal contribuiu para

FREITAS, 1996). Sabendo que o responsável pela

o crescimento econômico do agronegócio brasileiro,

condução dos processos na fábrica é o gestor,

refletindo também em outros setores da economia,

considera-se que seu desempenho é essencial para

como a indústrias de grãos, química e a de

o

alimentação humana (OELKE & RIES, 2013). Na

responsáveis

última década, o segmento de nutrição animal tem

objetivos (KLADIS & FREITAS, 1996), além do

crescido

esse

cumprimento de metas, obedecendo às normas

crescimento é sensível as variações econômicas do

vigentes e políticas da empresa. Entretanto, é

mercado (AUGUSTO et al., 2016).

fundamental que as funções gerenciais sejam

de

forma

significativa,

porém,

sucesso

da

empresa.

pela

Os

definição

gestores

de

são

estratégias

e

exercidas por pessoas capacitadas, com visão de Devido à elevada oferta de produtos no mercado e

melhoria contínua dos processos produtivos e de

da

seus resultados.

instabilidade

econômica

que

o

país

vem

passando, torna-se necessária uma busca constante por

aperfeiçoamento

e

inovações

no

âmbito

Atualmente,

as

empresas

são

compostas

por

tecnológico e gerencial (OLIVEIRA et al., 2012) para

avanços tecnológicos, processos automatizados e

a

a

constantes inovações, deste modo, os gestores

maximização da eficiência produtiva da indústria, de

devem estar preparados para gerir uma empresa

forma que as perdas sejam minimizadas, tornando o

utilizando essas ferramentas (MACHADO, 2012). O

sistema mais competitivo. Contudo, é essencial que

cargo de gestor industrial é uma tarefa complexa e

a empresa atenda as exigências da legislação

exigente, e para que seja realizada de forma

brasileira para o alcance de sucesso em sua

eficiente é necessário que o mesmo busque o

produção.

contínuo aperfeiçoamento.

Diante da complexidade da produção de alimentos,

No

além dos pontos citados acima, é importante haver

constantes, é necessário que o profissional a frente

uma preocupação dentro da gestão da fábrica de

da empresa, seja uma pessoa responsável e que

ração visando obter a qualidade e a produtividade

tenha

desejada. Para que essas metas sejam atingidas,

capacitem a tomar decisões corretas embasadas em

existem normativas e metodologias disponíveis que,

informações adquiridas (REICHEL, 2008).

obtenção

de

produtos

de

qualidade

e

ambiente

competitivo

conhecimentos

atual,

de

administrativos

mudanças

que

o

se utilizadas de forma adequada, contribuem para o Os principais gestores de empresas melhores

sucesso da produção.

sucedidas

consideram-se

Uma boa fábrica de ração depende de um projeto

estratégia

competitiva

que

e

estarem envolvidos de forma direta com a criação de

automatizado, permitindo um trabalho multifuncional

políticas de estoque e planejamento agregado da

e com redução dos problemas na fábrica como a

produção (GUOLO & PARIS, 2015). A gestão

contaminação cruzada, e, além disto, necessita de

aplicada

máquinas e tecnologias que garantam a realização

vantagem competitiva para a empresa. Desta forma,

dos processos de forma adequada (KLEIN, 1999).

os gestores devem empregar métodos que busquem

Diante destes fatos, esta revisão de literatura visa

reduzir os custos e aumentar a produtividade com

compilar informações envolvidas na gestão de

qualidade, para isso, existem ferramentas que

fábricas de rações e de suplementos, enfatizando

podem ser utilizadas para alcançar esses objetivos,

8471

seja

racional,

retilíneo,

operacional

de

forma

e

parte

corporativa,

adequada

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8470-8476, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

integrante além

representa

de de

uma


Artigo 492- Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura

tais como: Total Quality Management (TQM), 5S e

aplicação é recomendada para empresas que

PDCA (Planejar, Desenvolver, Checar e Agir)

desejam realizar a melhoria contínua dos processos,

(MATIAS et al., 2013).

buscando uma melhor forma de realizá-los (MATIAS et al., 2013), além de orientar de maneira satisfatória

TOTAL QUALITY MANAGEMENT (TQM)

a execução de uma ação específica (MACHADO,

A metodologia que é frequentemente aplicada nas

2012).

indústrias para o gerenciamento da qualidade, é a Total Quality Management (TQM), essa prática foi

Segundo Behr et al. (2008), este ciclo é dividido em

muito importante nas décadas de 1980 e 1990 nos

quatro fases distintas, sendo que as letras PDCA são

países ocidentais (CORDEIRO, 2004). Originou-se

oriundas das primeiras letras das palavras em inglês:

no setor manufatureiro, porém, sua metodologia tem

Plan, Do, Check e Act. O ciclo inicia com o "P" de

sido adaptada para uso em quase todo tipo de

“Plan” que significa “planejar” essa etapa do

organização (GUOLO & PARIS, 2015). Em vista

processo

disto, atualmente essa ferramenta é aplicada em

metodologias para alcançá-los, envolvendo uma

várias organizações de diferentes áreas. Através da

análise atual do problema que será estudado ou da

gestão da qualidade total, as empresas criaram um

metodologia aplicada.

busca

estabelecer

objetivos

e

padrão de procedimentos visando qualificar seus produtos e processos para alcançar a satisfação do

O próximo passo do ciclo é o "D" oriundo da palavra

cliente (SOUZA JUNIOR et al., 2014).

“Do” que significa “fazer”, nessa etapa é importante que sejam realizados treinamentos para preparar os

De acordo com Fernandes e Neto (1996), os

colaboradores, pois envolve a execução do que foi

processos que apresentam maior importância no

planejado, a realização das atividades. No estágio

método TQM são: direção por políticas, melhoria do

"C", proveniente da palavra “Check” que significa

trabalho diário, verificação do sistema de qualidade

“checar”, a finalidade dessa etapa é avaliar e

pelo

dos

monitorar os resultados das atividades realizadas

colaboradores e fatores que abrangem os processos

anteriormente, verificando a eficácia e se está

relacionados ao desenvolvimento de produtos. Os

atendendo os objetivos determinados.

dirigente

da

fábrica,

formação

mesmos autores verificaram que, sem um líder capacitado, a possibilidade de alcançar sucesso com

No último estágio, conhecido como “A”, da palavra

o TQM torna-se limitada. Portanto, para a obtenção

“Action” que significa “ação’, tem como finalidade

de sucesso na prática dessa metodologia na

padronizar a solução, e se por acaso o problema não

produção, é necessário um profissional capacitado e

for resolvido, será realizada uma nova tentativa para

preparado.

soluciona-lo (MACHADO, 2012). Para obter sucesso neste método, todas as fases do processo devem

CICLO DO PDCA

ser realizadas com comprometimento de forma que

Outra metodologia utilizada na gestão da qualidade

nenhuma fase seja negligenciada.

na fábrica é o ciclo do PDCA ou ciclo de Deming, cujo propósito é de contribuir no diagnóstico, análise

De acordo com Behr et al. (2008), o PDCA é

e prognóstico de problemas organizacionais. Este

utilizado pelas organizações para realizar análise e

ciclo é o gerencial mais utilizado no controle e

melhoria de processos de produção e para planejar

melhoria de processos nas empresas em geral

ou implantar um processo, além disso, é empregado

(MOREIRA et al., 2014), o qual

pode ser

na tomada de decisões (FONSECA & MIYAKE,

empregado nas normas de sistemas de gestão em

2006), utilizando informações como direcionamento

organizações de diversas áreas (ALVES, 2015),

para a realização de escolhas com objetivo de

contribuindo de forma significativa para a obtenção

alcançar metas pré-estabelecidas (MARIANI, 2005).

de melhores resultados (SILVA et al., 2017). PROGRAMA 5S O ciclo PDCA tem origem Norte Americana e sua

Dentro das metodologias utilizadas nos programas

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8470-8476, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

8472


Artigo 492 – Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura

de gestão de produção, o 5S, também conhecido

e o controle exercem papéis de grande importância

como housekeeping, é comumente encontrado nas

na fábrica, portanto, essas ferramentas devem ser

fábricas. Este foi criado em 1950 no Japão, com

empregues visando maximizar a produção e reduzir

objetivo

os custos (SOUZA & SANTANA, 2012).

de

melhorar

o

comportamento

dos

funcionários e o ambiente de trabalho (REBELLO, 2005). A origem do nome 5S é proveniente das

O conhecimento da fábrica é importante para a

palavras japonesas: seiri; seiton; seisoh; seiketsu e

realização de uma programação adequada para

shitsuke,

capacidade dos processos. Para tanto, é necessário

que

são

traduzidas

como

seleção,

organização, limpeza, padronização e autodisciplina

que

os

gestores

tenham

(CORDEIRO, 2004).

limitações e potenciais

conhecimento

das

do processo produtivo

(FUCILLINI & VEIGA, 2014). A logística da empresa Essa ferramenta pode ser aplicada em organizações

é outro ponto que deve ser rigorosamente alinhado,

de diferentes ramos, promovendo benefícios que

pois, o não alinhamento, implica em um fluxo de

buscam fomentar melhorias no ambiente de trabalho

produção que não irá garantir o cumprimento das

(CAMARGO, 2011), por meio de hábitos que reflitam

etapas do processo no prazo determinado e com

em aumento da produtividade e qualidade de vida

qualidade (CARDOSO & SILVA, 2015).

dentro da empresa, favorecendo a autodisciplina e facilitando o gerenciamento de rotina (CORDEIRO,

GERENCIAMENTO DA QUALIDADE

2004). Em vista disso, a sobrevivência das fábricas

A gestão de qualidade busca garantir produtos e

está atrelada à sua capacidade de atingir resultados

serviços

de

qualidade,

e superar obstáculos, atendendo às exigências dos

especificações,

minimizando

clientes,

ferramenta aplicada as tecnologias da produção,

garantindo

a

competitividade

e

respeitando os

defeitos.

as Essa

possibilitam o aumento da produtividade e da

sobrevivência no mercado (ALVES, 2015).

competitividade (MARINO, 2006). Devido ao cenário atual de mudanças contínuas e alta oferta de produtos, as empresas têm buscado introduzir programas como o 5S, com objetivo tornar-se mais competitiva no mercado (COSTA et al., 2005). É importante ressaltar que, este programa só apresentará bons resultados se forem realizados treinamentos, funcionários

palestras

e

acompanhados

reuniões de

com

os

mudanças

de

comportamento das pessoas. Portanto, para ser eficiente deve haver diálogo entre os diretores e

Segundo Machado (2012), os sistemas de qualidade estruturam as funções gerenciais da organização e da identificação das exigências do mercado até o atendimento final. O sistema de qualidade aplicado de forma correta contribui para que a empresa obtenha resultados positivos, entretanto, a não existência de um sistema de qualidade pode acarretar

perdas,

como

por

exemplo

menor

confiança do cliente.

envolvimento deles no programa, além de definição

GESTÃO DE PESSOAS

de metas em busca de conhecimentos relacionados

A gestão de pessoas tem passado por inúmeras

ao programa e à empresa.

mudanças nas últimas décadas, sendo, atualmente uma importante ferramenta para o sucesso de

GERENCIAMENTO DOS PROCESSOS

muitas organizações (NETO, et

O processo significa as transformações realizadas

comumente aplicada com a finalidade de contribuir

na matéria-prima, para obtenção de um produto. A

para o desenvolvimento dos colaboradores é o

otimização de um processo industrial exige uma

treinamento.

al., 2013). A ação

sistematização, que envolve diversas ferramentas que auxiliam para o alcance dos objetivos de

Hoje, as empresas necessitam de uma equipe

produção, como a eficiência produtiva, a obtenção

altamente capacitada, pois para se manterem

de renda e a permanência da indústria no mercado

viáveis, é essencial a sintonia entre as metas, os

(LEÃO & NETO, 1994). É evidente que, dentre os

treinamentos e o desenvolvimento dos funcionários,

fatores envolvidos na produtividade, o planejamento

de forma que os treinamentos sejam estratégicos,

8473

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8470-8476, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 492 – Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura

com

o

objetivo

de

alcançar

as

metas

pré-

6198/1974 e as IN 04/2007, 65/2006, 13/2004,

estabelecidas (REICHEL, 2008).

15/2009 e 42/2010.

As pessoas dentro da fábrica são de grande

A Instrução Normativa (IN) 4/2007 abrange as

importância, pois realizam as atividades, deste

práticas que devem ser empregadas desde a

modo, o investimento nos colaboradores por meio de

recepção da matéria- prima, processamento e

cursos ou treinamento deve ser visto como ganho. A

expedição do produto na fabricação de ração no

realização de treinamentos

e

Brasil. O documentoestabelece regulamentos

valorizar os colaboradores, de forma que eles se

sobre as condições higiênicas sanitárias e de

desenvolvam

contribuindo

boas práticas de fabricação (BPF) para os

também para a motivação pessoal (SOUSA et al.,

estabelecimentos fabricantes de produtos para a

2015).

alimentação animal (BRASIL, 2007), sendo uma

De

acordo

dentro

com

da

busca capacitar

empresa,

Volpe

e

Lorusso

(2009),

o

treinamento quando aplicado de forma correta proporciona

vantagens,

como

análise

das

necessidades da organização, desenvolvimento dos colaboradores, definição de planos para capacitar os profissionais, além de definir as prioridades da empresa.

importante

ferramenta

para

alcançar

níveis

adequados de segurança e qualidade. Esta normativa

compreende

também

os

Procedimentos Operacionais Padrão (POP), onde são

abordados

os

temas:

qualificação

de

fornecedores, controle de matérias-primas e de embalagens, higiene/limpeza da fábrica, higiene e saúde do pessoal, controle de pragas, resíduos e

Segundo Reichel (2008), o treinamento ainda aumenta o conhecimento dos funcionários, melhora e modifica comportamentos e contribui para o desenvolvimento de ideias para pensar no âmbito estratégico.

efluentes, prevenção da contaminação cruzada, potabilidade

da

reservatório,

manutenção

água

e

higienização

de

calibração

de

e

equipamentos, rastreabilidade e recolhimento de produtos

(BRASIL,

2007).

O

BPF

busca

assegurar a qualidade no desenvolvimento do

A permanência das fábricas no mercado está

produto,

atrelada a sua capacidade de atingir resultados e

aplicação dessa normativa deve ser realizada

sendo

importante

ressaltar

que

a

superar obstáculos, atendendo às exigências dos

desde a recepção até a expedição do produto,

clientes, garantindo assim a sua competitividade,

por uma equipe capacitada (PEREIRA, et al.,

portanto, é necessário que haja investimento nos

2010).

colaboradores da empresa. A Lei Ordinária 6198/1974 regulamenta sobre a GESTÃO ATENDENDO AS NORMAS E REGRAS

Inspeção e a Fiscalização Obrigatórias dos

PARA FABRICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE

Produtos para à Alimentação Animal (BRASIL,

RAÇÕES E SUPLEMENTOS

1974). Aplica-se a Instrução Normativa 65/2006

Além das ferramentas normalmente utilizadas na

sobre os procedimentos para a fabricação e o

gestão da fábrica, um bom gestor deve seguir as

emprego de rações, suplementos, premixes,

normas e regras para fabricação de ração. São

núcleos ou concentrados com medicamentos

diversos

decretos,

para os animais de produção (BRASIL, 2006).

portarias

e

instruções

regras

normativas,

estabelecidas

por

leis,

órgãos

licenciados, que determinam as diretrizes que as

A

empresas brasileiras fabricantes de ração devem

regulamento técnico sobre aditivos para produtos

cumprir. Essas regras são importantes para o

destinados à alimentação animal (BRASIL, 2004).

fabricante e para o consumidor, pois visam garantir a

A Instrução Normativa 15/2009 regulamenta o

inocuidade e qualidade do produto. A lei e as

registro dos estabelecimentos e dos produtos

Instruções

destinados à alimentação animal (BRASIL, 2009).

Normativas

(IN)

para

produção

alimentos para animais, são: Lei Ordinária

de

Instrução

Normativa

13/2004

aprova

o

Por fim, a Instrução Normativa 42/2010 estabelece

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8470-8476, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006

8472


Artigo 492 – Gestão de fábrica de ração animal no Brasil: revisão de literatura

estabelece os critérios e procedimentos para a fabricação,

fracionamento,

comercialização

de

produtos

importação para

e

alimentação

animal isentos de registro (BRASIL, 2010). Além de todas essas normativas para a produção de alimentos para animais, existem políticas ambientais e de manejo de resíduos ocasionados pelas fábricas, uma vez que o processo de produção de ração gera emissões atmosféricas, poluição sonora, resíduos sólidos, consumo de energia, poluição de ar pela emissão de gases, resultando em um impacto ambiental (PACHECO & NETO, 2014). Segundo Pacheco et al. (2018), a fabricação de alimentos para a nutrição animal, desde a produção dos ingredientes até o processo de fabricação dos produtos, é passível de interferir na qualidade da água e do solo, impactando de forma negativa no meio ambiente, desta forma, a empresa deve respeitar as normativas e leis vigentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS As indústrias objetivam um menor custo e uma maior produção, de forma que obtenham um maior lucro e mantenham-se competitivas no mercado. Dessa forma, para obter sucesso nessas metas, julga-se necessário a existência de uma gestão e equipe capacitada e organizada. O gestor poderá capacitar seus

colaboradores

por

meio

de

cursos

ou

treinamentos, mantendo o foco no objetivo da empresa. Para tanto, é importante que o gestor esteja preparado para realizar esses treinamentos e colocá-los em prática. O sucesso da fábrica de ração depende também de vários outros fatores-chave, como sintonia entre os trabalhadores, infraestrutura adequada, tecnologia, cumprimento de normas e de leis. As metodologias aplicadas no gerenciamento de qualidade da fábrica de ração também podem ser aplicadas em empresas de outros ramos, basta introduzi-las a realidade que a organização está vivendo. A gestão de processos deve ser aplicada em conjunto com a gestão de qualidade,

para

a

obtenção

de

produtos

padronizados e com qualidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, E. A. C. O PDCA como ferramenta de gestão 8475

da rotina. XI Congresso Nacional de Excelência em Gestão, p. 1-12, 2015. AUGUSTO, D. B.; ALEM, D.; TOSO, E. A. V. Planejamento agregado na indústria de nutrição animal sob incertezas. Production. v. 26, n. 1, p. 12-27, 2016. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Lei Ordinária 6198/1974. p. 1-2, 1974. Disponível em: < http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/ detalhaAto.do?method=visualizarAtoPortalMapa&ch ave=1374519258>. Acesso em: 16 jan. 2019. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 13/2004. p. 113, 2004. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumosagropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacaoanimal/arquivos-alimentacaoanimal/legislacao/instrucao-normativa-no-13-de-30de-novembro-de-2004.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2019. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 65/2006, p. 1–5, 2006. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumosagropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacaoanimal/arquivos-alimentacaoanimal/legislacao/INSTRUONORMATIVAN65.2006. pdf >. Acesso em: 16 jan. 2019. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 4/2007, p. 1– 17. 2007. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumosagropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacaoanimal/InstruoNormativa04.2007.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2019. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 15/2009, p. 18, 2009. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumosagropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacaoanimal/arquivos-alimentacaoanimal/legislacao/instrucao-normativa-no-15-de-26de-maio-de-2009.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2019. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 42/2010, p. 15, 2010. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumosagropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacaoanimal/arquivos-alimentacaoanimal/legislacao/instrucao-normativa-no-42-de-16de-dezembro-de-2010.pdf>. Acesso em: 26 fev. 2019. BEHR, A.; MORO, E. L. DA S.; ESTABEL, L. B. Gestão da biblioteca escolar: metodologias, enfoques e aplicação de ferramentas de gestão e serviços de biblioteca. Ciência da Informação, v. 37, n. 2, p. 32–42, 2008.

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8476


Enzimas exógenas na alimentação de suínos Revista Eletrônica

Aditivos, carboidrases, fatores antinutricionais, fitase, proteases.

Bruna Kuhn Gomes¹

*

Vol. 16, Nº 03, maio/jun de 2019 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br

Bruna Souza de Lima Cony¹ Laion Stella² ¹ Doutoranda, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS- *E-mail: brunacrisgomes@gmail.com. ¹ Graduanda em Zootecnia – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. ² Zootecnista, Doutor em Zootecnia - Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

A Nutritime Revista Eletrônica é uma publicação bimestral da Nutritime Ltda. Com o objetivo de divulgar revisões de literatura, artigos técnicos e científicos bem como resultados de pesquisa nas áreas de Ciência Animal, através do endereço eletrônico: http://www.nutritime.com.br. Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

RESUMO

ENZYMES IN SWINE FEED

No que tange a cadeia produtiva animal, um dos

ABSTRACT

principais fatores a serem levados em consideração

With respect to animal production chain, one of the

é a nutrição animal e, consequentemente, a melhora

main factors to take into consideration is the in

na eficiência da utilização dos nutrientes. Na

animal nutrition and, consequently, improvement

alimentação de suínos, algumas enzimas exógenas

nutrient use efficiency. In the feeding of swines,

podem

visando

some exogenous enzymes can be used as additives,

melhorar digestibilidade dos nutrientes das rações,

to improve digestibility of the nutrients as well as

assim como reduzir a variação na qualidade

reduce the variation in the nutritional quality of certain

nutricional de determinados ingredientes. Dentre as

ingredients.

enzimas mais utilizadas, podemos citar três grupos

enzymes, we can mention three groups of major use:

de maior uso: fitase, carboidrases e proteases. A

phytase and carbohydrases and proteases. The

comparação de resultados sobre suplementação

comparison of results on enzyme supplementation of

enzimática de dietas para suínos é bastante

diets for swines is quite complex. In literature is

complexa. Na literatura é relatada utilização de

reported using a great variety of enzymes, either

grande variedade de enzimas, de forma isolada ou

alone or in complexes with different enzymatic

em

activities,

ser

utilizadas

complexos,

enzimáticas,

como

com

adicionadas

aditivos,

diferentes às

atividades

dietas

contendo

Among

added

to

the

most

diets

frequently

containing

used

different

ingredients and animals of different ages, thus

ingredientes distintos e para animais de diferentes

obtaining different results for each group.

idades, com isto obtendo diferentes resultados para

Keyword: additives, carbohydrases, antinutritional

cada grupo. Palavras-chave:

factors, phytase, proteases. aditivos,

carboidrases,

antinutricionais, fitase, proteases.

8477

fatores


Artigo 493 – Enzimas exógenas na alimentação de suínos

INTRODUÇÃO

& GRABOWSKI, 2002). Nos processos fisiológicos

O Brasil se destaca como país produtor de alimentos

as enzimas possuem sua ação restrita e com muitos

sendo o terceiro maior exportador do mundo. Na

controles

intrínsecos,

produção de suínos, o país está em crescente

algumas

condições

expansão, produzindo cerca de 3,9 bilhões de

umidade, tipo de sitio ativo e substratos (PENZ

toneladas de carne anualmente (FERREIRA et al.,

JÚNIOR, 1998).

sendo

dependentes

como:

temperatura,

de pH,

2018). Sob estas condições, podemos citar a influência da Na cadeia produtiva de animais não-ruminantes, um

temperatura

dos

possuem

principais

fatores

das

enzimas.

Estas

em

animal

e,

temperatura ótima no qual a sua atividade é máxima,

consequentemente, a melhora na eficiência da

sendo que em valores de temperatura maiores ou

utilização

&

menores sua atividade diminui. Em temperatura

FIREMAN,1998), representando cerca de 70% do

ótima para sua atuação, a velocidade de destruição

custo da produção (DELMASCHIO, 2018).

da enzima pelo calor é equilibrada pelo aumento na

é dos

a

serem

atuação

levados

consideração

a

na

nutrição

nutrientes

(FIREMAN

uma

temperatura

ou

uma faixa

de

reatividade enzima-substrato e a velocidade de A maioria dos compostos alimentares são moléculas

reação é máxima, o que não ocorre em temperaturas

relativamente

excessivas, pois essas são letais à estrutura das

grandes

(proteínas),

altamente

insolúvel em água (lipídeos) ou grandes e insolúveis

enzimas (SCHMIDT-NIELSEN, 2002).

(amido, celulose) que para poderem ser absorvidos e utilizados eles devem passar para forma solúvel e

Contudo, ainda podemos citar o pH como uma

ser degradados em unidades menores (SCHMIDT-

condição determinante, assim como a temperatura.

NIELSEN, 2002).

A concentração de H+ afeta a velocidade das reações químicas onde extremos de pH (ácido ou

Para metabolização dos compostos provindo da

alcalino) podem levar a desnaturação. O pH ótimo

alimentação torna-se necessário um processo de

varia para diferentes enzimas, como por exemplo, a

diferentes reações químicas complexas. Na digestão

pepsina digestiva do estômago que é ativada em pH

fisiológica animal, podemos citar a hidrólise como

2, enquanto que outras enzimas que são destinadas

um exemplo destas reações químicas, sendo que

ao funcionamento em pH neutro são

esta é uma reação espontânea exotérmica, que

neste pH ácido. Portanto, as enzimas possuem um

prossegue a uma velocidade imensuravelmente

pH ótimo ou uma faixa de pH ideal para que possam

baixa,

por

desenvolver sua atividade catalítica, sendo que em

catalisadores. Os catalisadores produzidos pelos

valores de pH superior ou inferior podem suprimir ou

organismos vivos são chamados de enzimas, sendo

desnaturar as enzimas assim como a temperatura

essenciais

(SCHMIDT-NIELSEN, 2002).

todavia

para

podendo

muitos

ser

acelerada

processos

biológicos,

desnaturas

principalmente os processos digestivos (SCHMIDTA atividade de água é outro fator que influencia a

NIELSEN, 2002).

velocidade das reações enzimáticas. Seria de se As enzimas são proteínas globulares, de estrutura

esperar que enzimas, em presença de teor de água

terciária ou quaternária que atuam de forma

muito baixo, fossem inativas. Entretanto, apesar da

altamente específica para com substratos e dirigem

mobilidade do substrato ser muito importante, as

todos os processos de catálise, isto é, são

enzimas também podem reagir com substratos

compostos de natureza proteica que aceleram as

secos, e a maneira como esses compostos se

reações químicas ao reduzirem a energia de

difundem no substrato vai influir, não só na

ativação necessária para ocorrência de determinada

velocidade da reação, mas também no modo como

reação química. Algumas destas constituem-se de uma porção proteica chamada de apoenzima e uma porção não proteica, chamada de cofator (TORTORA

essa reação se processa. Enzimas, em ausência de água, são mais estáveis ao calor, tornando-se mais sensíveis à medida que o teor de umidade aumenta (ADITIVOS INGREDIENTES, 2008)

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8478


Artigo 493 – Enzimas exógenas na alimentação de suínos

No que se trata de especificidade, as enzimas apresentam o denominado sítio ativo que possuem aminoácidos cujas cadeias laterais criam uma superfície complementar ao substrato. Segundo Gallo (2011), essa interação entre enzima e substrato pode ocorrer através do modelo chavefechadura ou pelo modelo de ajuste induzido (Figura 1).

exógenas surge como alternativa na redução dos custos de produção (DELMASCHIO, 2018). Segundo Bedford (2000), o uso destas enzimas visa melhorar a digestibilidade dos nutrientes das rações, assim como reduzir a variação na qualidade nutricional de determinados

ingredientes,

tendo

em

vista

a

deficiência enzimática dos animais não-ruminantes em enzimas como a fitase que como consequência

Figura 1: Interação entre enzima e substrato

ocasiona a baixa eficiência no aproveitamento do fósforo de origem vegetal (MOREIRA et al., 2004). Além disso, o uso de enzimas favorece o meio ambiente,

pois

diminui

consideravelmente

a

excreção de fósforo e outros elementos, reduzindo assim

a

contaminação

de

solos

e

rios

(DELMASCHIO, 2018). FATORES ANTINUTRICIONAIS Nos

alimentos

in

natura

existem

fatores

antinutricionais que afetam o processo digestivo e o desempenho dos animais (VINOKUROVAS, 2009). Esses fatores se originam da natureza de suas ligações, do metabolismo normal da espécie da qual

Fonte: GALLO, 2011.

o material se origina e por mecanismos diferentes, Na suinocultura, algumas enzimas podem ser

como a inativação de alguns nutrientes e a redução

utilizadas

digestiva do alimento, exercendo efeito contrário da

na

suplementação

nutricional,

as

chamadas enzimas exógenas. Segundo Fireman &

nutrição adequada.

Fireman (1998), estas atuam concomitantemente com as enzimas endógenas, visando melhorar o

Segundo Henn (2002), não existe toxicidade nos

aproveitamento energético e nutricional além de

fatores antinutricionais, porém sua presença nos

diminuir a excreção de nutrientes não digeridos.

alimentos causa crescimento reduzido, piora na conversão alimentar, possíveis alterações hormonais

Nas rações de não-ruminantes, geralmente, há a

e em casos raros, lesões em órgãos. Além disso,

mistura

características

esses fatores antinutricionais, quando estão na

não-amiláceos,

forma de fibra solúvel, são capazes de mobilizar

oligossacarídeos, fitatos) que interagem entre si e

grande quantidade de água, aumentando desta

com outros compostos da dieta sendo estes

forma, a viscosidade do fluído e, consequentemente,

compostos não degradados pelos suínos, devido as

alterando a velocidade de passagem do alimento,

suas

possuírem

prejudicando diretamente a absorção de nutrientes

especificidade para estes compostos (CAMPBELL &

(CHOCT et al., 1992; CHOCT & ANNISON, 1992;

BEDFORD, 1992; DIERICK & DECUYPERE, 1994).

BEDFORD & CLASSEN, 1992; CHOCT & HUGHES,

Assim, a adição de enzimas exógenas na dieta dos

2000).

de

compostos

antinutricionais

enzimas

com

(polissacarídeos

endógenas

não

suínos tende a conduzir a melhores resultados na digestibilidade de forma complementar (RUIZ et. al.,

Os inibidores de tripsina presentes na soja in natura

2008), como define o decreto Lei nº 76.986 de 6

são exemplos de fatores antinutricionais. Estes são

janeiro de 1976, sobre os aditivos alimentares.

compostos proteicos que atuam sobre a tripsina e a enzima pancreática, prejudicando a digestão das

Devido ao alto investimento com alimentação de

proteínas alimentares. Segundo estudos de Zardo &

animais não-ruminantes, a administração de enzimas

Lima (1999), esses fatores também podem ser des-

8479

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8477-8487, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 493 – Enzimas exógenas na alimentação de suínos

truídos ou desnaturados com o uso do calor, com

oxigênio, afim de oferecer condições ideais para o

duração

Entretanto,

crescimento microbiano. Após a conclusão do

mesmo esses ingredientes passando muitas vezes

processo de fermentação, o meio líquido rico em

por extrusão e peletização, existem alguns fatores

enzimas é seco, processado e padronizado pela

antinutricionais

indústria. Geralmente são utilizados microrganismos

e

intensidade

e

adequadas.

constituintes

de

baixa

digestibilidade que não são afetados por estes

geneticamente

processos (PAULA et al., 2009). Além de que,

biotecnológica, para produzir somente uma enzima,

devido

ao

acesso

equipamentos

que após o processo de fermentação são misturadas a outras enzimas formando os coquetéis (MARTINS,

uma propriedade rural.

2011).

A fim de reduzir esses fatores antinutricionais, pode-

Todavia, segundo Martins (2011), a fermentação em

se adicionar enzimas exógenas na dieta de animais

estado sólido resulta em enzimas diferentes das

não-ruminantes, visando o beneficiamento do animal

obtidas por fermentação em estado líquido, sendo

com o aumento da disponibilidade de nutrientes e a

essas de maior qualidade. Além disso, esse método

redução

de

impacto

aos

ferramenta

necessários, esse processo torna-se inviável em

do

difícil

modificados,

ambiental,

diminuindo

a

obtenção

de

enzimas

possibilitará

o

concentração de poluentes despejados no ambiente

desenvolvimento de novas enzimas capaz de

(PAULA et al., 2009).

agregar benefícios para a nutrição, trazendo a nova e

atual

geração

de

enzimas:

os

complexos

enzimáticos naturais.

PROCESSO DE OBTENÇÃO DE ENZIMAS Existem duas formas de obter enzimas, a que consiste na imersão de microrganismos em estado

PRINCIPAIS ENZIMAS EXÓGENAS UTILIZADAS

sólido e a de estado líquido (MARTINS, 2011).

COMO ADITIVOS A produção de enzimas divide-se em etapas. Para o

Há diversos produtos comerciais compostos de

estado sólido, a primeira etapa consiste na obtenção

enzimas isoladas ou de complexos enzimáticos para

de

ex.:

uso na alimentação animal. Contudo, os efeitos

Aspergillus flavus) para inocular o sistema, após

benéficos da suplementação enzimática têm melhor

isso, ocorre o preparo do substrato composto de

oportunidade de se expressarem pela utilização de

subprodutos minimamente processados, como farelo

coquetéis ou complexos enzimáticos do que de

de arroz, trigo ou soja. Esse substrato necessita ser

enzimas isoladas (DIERICK & DECUYPERE, 1994).

esterilizado

qualquer

A fermentação em estado sólido permite que o fungo

microrganismo infectante, o que afetaria o processo

possa produzir um complexo de enzimas naturais,

de produção das enzimas. Posteriormente, os

específica para substratos encontrados no alimento,

microrganismos

o que levaria a obtenção de uma combinação

microrganismos

a

fim

(bactérias

de

previamente

e

fungos,

eliminar

selecionados

são

semeados no substrato esterilizado, misturados e

enzimática

acondicionados em um reator para que ocorra a

utilizados

fermentação. Após a fermentação, o material é

enzimáticos, que são combinações de enzimas

secado, moído, padronizado e embalado (MARTINS,

puras

2011).

posteriormente misturadas (RUTZ & CAPORASO,

mais na

adequada

ração,

produzidas

aos

diferente

dos

ingredientes coquetéis

independentemente

e

2007). Contudo, a produção de enzimas em estado líquido apresenta maior rendimento quando comparada com

Dentre as enzimas mais utilizadas podemos citar três

o sólido, consequentemente sendo esta forma mais

de maior uso: fitase, carboidrase e protease.

utilizada atualmente. Ela consiste na imersão de microrganismos (fungos ou bactérias) em um meio

FITASE

líquido rico em nutrientes, acondicionados em um

Produzida por muitas espécies de bactérias, fungos

fermentador com controle total da temperatura, pH e

e leveduras é capaz de eliminar as propriedades anti-

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8480


Artigo 493 – Enzimas exógenas na alimentação de suínos

nutricionais do fitato. Esta enzima em escala

custo de obtenção do produto. Porém, com o avanço

comercial é produzida por um número limitado de

da tecnologia de fermentação, a fitase vem sendo

organismos sendo o Aspergillus flavus um dos mais

comercializada

importantes (FIREMAN & FIREMAN, 1998)

despertado maior interesse de diversos nutricionistas

industrialmente,

o

que

tem

preocupados com o alto custo do fósforo inorgânico Seu uso impede que o fósforo vegetal seja eliminado

e com a poluição ambiental (CROMWELL et al.,

nas fezes sem ser aproveitado pelo organismo. Esta

1995; MOREIRA et al., 2000; MOREIRA et al.,

eliminação

2001).

de

fósforo

acontece

no

sistema

gastrointestinal onde o ácido fítico se liga com minerais, proteínas e enzimas, como a amilase,

A incorporação de fósforo nos vários tecidos e

formando o fitato. Este, por sua vez, impede que

órgãos é variável, e depende da taxa de renovação e

componentes importantes para o desenvolvimento

da fase de crescimento do animal. A troca desse

dos animais se unam ao bolo alimentar, desta forma,

mineral nos tecidos decresce com a idade e aumenta

sendo eliminados através das fezes. Além de reduzir

durante os períodos de atividade reprodutiva, sendo

a disponibilidade do fósforo, o fitato aumenta a

essas trocas mais intensas no fósforo lábil do

secreção de muco no intestino, o que interfere nos

esqueleto

sistemas de absorção de nutrientes pelos suínos

(GEORGIEVSKII, 1982).

(FIREMAN & FIREMAN, 1998). Na natureza, os

Mcgillvray (1980), destacou que a habilidade dos

níveis excessivos de nutrientes no corpo d’água,

suínos para utilizar o fósforo fítico melhora com a

principalmente o nitrogênio e fósforo, causam a

idade devido à maior concentração da quantidade de

eutrofização, que é o crescimento excessivo de

fitase presente na mucosa do intestino dos animais

plantas

mais velhos. E também, com referência à idade e

aquáticas,

tanto

planctônicas

quanto

e

na

matéria

esponjosa

do

osso

Tendo isto em

vista,

fisiologia, Kemme et al. (1997) relataram que a

aderidas. (THOMANN & MUELLER, 1987).

eficácia da fitase em gerar fósforo digestível diminuiu O fosfato bicálcico e a farinha de ossos constituem

na

as principais fontes de fósforo, usualmente utilizadas

crescimento e em terminação, porcas ao final de

na nutrição de suínos. A farinha de ossos foi o

gestação, leitões e porcas em meia gestação.

ordem

de

porcas

lactantes,

suínos

em

primeiro produto a ser utilizado como fonte de fósforo, porém, o seu uso é restrito, principalmente

CARBOIDRASES

em função de sua composição variável, problemas

As carboidrases são enzimas que catalisam reações

causados pela contaminação por microrganismos e

de degradação de carboidratos, promovendo um

oferta limitada (LOPES & TOMICH, 2001). O fosfato

aumento

bicálcico é um produto de excelente qualidade,

aumentando seu aproveitamento na alimentação do

porém de custo muito elevado, onerando ainda mais

animal.

na

digestibilidade

de

nutrientes,

o custo das rações, os quais representam em torno Segundo Partridge (1996), os polissacarídeos não-

de 70% de um animal terminado.

amiláceos estão na maioria das vezes associados à O fósforo é considerado um agente poluidor, pois do

lignina e formam um complexo de fibra. A implicação

total consumido pelos animais monogástricos, cerca

deste fato é que os suínos não possuem enzimas

de 70 a 75% são excretados nas fezes e urina

endógenas

(OLIVEIRA et al., 2001).

complexo, acarretando na redução da absorção e

apropriadas

para

degradar

este

digestibilidade, além de afetar o conteúdo de energia A enzima fitase, quando adicionada nas rações, atua

por manter no interior de suas estruturas os

nas ligações do grupo fosfato, liberando o fósforo e

nutrientes como carboidratos, lipídeos e proteínas,

outros minerais, que fazem parte dessa molécula

que são geradores de energia. Portanto, níveis

(CROMWELL,

elevados de polissacarídeos não-amiláceos (PNAs)

realizados

com

1991). a

Os

enzima

primeiros fitase,

estudos

apesar

promissores, tiveram como principal entrave o alto

8481

de

solúveis

aumentam

a

viscosidade

do

quimo,

dificultando a digestão e absorção de proteínas, lipí-

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8477-8487, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 493 – Enzimas exógenas na alimentação de suínos

deos e vitaminas lipossolúveis (PARTRIDGE, 1996).

Pectinase: As pectinas são encontradas no farelo de

Desta maneira, a utilização de carboidrases permite

soja e em outras proteínas vegetais que por sua vez,

o uso de alimentos que apresentam grandes

aumentam a viscosidade do quimo, reduzindo a

quantidades de PNAs.

absorção de nutrientes no lúmen intestinal. Com a adição da pectinase, ocorre quebra das pectinas,

Dentre

as

principais

carboidrases

utilizadas

comercialmente na alimentação de suínos destacam-

melhorando a digestibilidade da dieta (HANNAS & PUPPA, 2006).

se a celulase, a beta-glucanase, a amilase, a pectinase e a xilanase.

PROTEASES Protease refere-se

Celulase: degrada celulose (polímero de glicose de longas cadeias de glicopiranose), liberando nutrientes contidos no interior da célula vegetal e até a própria glicose que integra a estrutura celulolítica. Deste modo, reduz a capacidade da fibra de reter a água presente nos alimentos, fato que afeta negativamente o consumo de ração e consequentemente o crescimento dos animais (CAMPESTRINI et al., 2005). Beta-glucanase: A suplementação exógena com beta-glucanase melhora a absorção de nutrientes por diminuir a viscosidade do quimo, além de liberar maior quantidade de açúcares disponíveis, pois atua sobre os beta-glucanos que são formados por blocos de resíduos de glicose (FIREMAN & FIREMAN, 1998).

um

enzimas cuja função catalítica é

a

grupo

de

quebra

de

ligações peptídicas das proteínas e diferem-se em sua

capacidade

peptídicas diferentes.

de hidrolisar ligações As

proteínas

pouco

disponíveis, ou com fatores antinutricionais, ou ainda, proteínas alergênicas podem ter seu uso potencializado através da utilização de proteases (CLASSEN,

1996).

Harper

(1968)

relata

que

proteínas e aminoácidos não digeridos por enzimas no intestino delgado sofrem ação de bactérias, produzindo substâncias e aminas tóxicas pelo processo de fermentação no intestino grosso. O baixo aproveitamento das proteínas tem como consequência uma alta excreção de nitrogênio, que é um elemento poluidor, além de representar

Xilanases:

possui

efeito

semelhante

à

beta-

glucanase, atua sobre as pentosanas presentes nos cereais,

a

permitindo

maior

disponibilidade

dos

açúcares (HANNAS & PUPPA, 2006), aumentando a digestibilidade de alimentos como a cevada, o trigo, o centeio, a aveia e o triticale (CONTE et al., 2003). Amilases: proporciona quebra do amido em açúcares simples para produzir energia. Todos os animais possuem a produção endógena desta enzima, mas sabe-se que a digestão do amido na parte final do trato digestivo de aves e suínos é incompleta, mesmo considerando uma dieta com ingredientes de fácil digestão como, por exemplo, milho e soja. Ou seja, a liberação de energia da dieta é menor do que o previsto, então se deve trabalhar com margens de segurança para que as metas de energia da dieta sejam alcançadas. O uso da amilase objetiva uma digestão mais completa do amido, liberando mais energia e consequentemente melhorando o desempenho animal e auxiliando na redução do custo real da alimentação (PARDRIDGE, 1996).

prejuízo econômico ao produtor por se tratar de um nutriente caro. A digestão da proteína é melhorada pela adição de proteases, diminuindo a excreção de nitrogênio (FIREMAN & FIREMAN, 1998). Neste sentido, o uso da protease melhora o aproveitamento dos

aminoácidos

alimentos

e

destinados

nitrogênio aos

presentes

animais.

nos

Segundo

resultados dos estudos de Jost et al. (1993), as proteases combinadas com alfa-amilase em dietas para suínos em crescimento obtiveram uma melhora significativa na digestibilidade de lisina e metionina. Ainda, outra enzima de destaque no grupo das proteases é a chamada queratinase, que faz hidrólise da queratina. A suplementação com esta enzima segundo Ferket (1996) reduziu em 40% a excreção de nitrogênio e enxofre, melhorando a digestibilidade dos aminoácidos e diminuindo a poluição por nitrogênio. Proteases exógenas determinam um papel diverso na nutrição animal, pois enzimas similares já estão

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8482


Artigo 493- Enzimas exógenas na alimentação de suínos

presentes no trato gastrintestinal e possuem um

se, lipase, xilanase, fitase etc) surgiu como uma

espectro de atividade muito maior que outras

alternativa para aumentar o valor nutritivo de

enzimas exógenas.

ingredientes alimentares que possuem baixa digestibilidade

e

apresentam

fatores

ENZIMAS EXÓGENAS PARA LEITÕES RECÉM-

antinutricionais, que não são hidrolisados pelas

DESMAMADOS

enzimas digestivas dos suínos (FURLAN et al.,

O período de desmame de leitões,

por ser

considerado um ponto crítico da produção, requer

1997), diminuindo, assim a viscosidade da dieta (GRAHAM, 1996).

uma atenção especial, tendo em vista que é um período marcado pela alteração da fonte e da

Após o desmame, ocorre um aumento na

composição nutricional do alimento (PASCOAL &

atividade da amilase pancreática, provavelmente

SILVA, 2005).

devido à necessidade de digestão do amido da ração (LINDEMANN et al., 1986). Entretanto,

Na fase de maternidade, o sistema digestivo dos

muitos fatores influenciam na quantidade de

leitões é adaptado a secretar enzimas para digerir o

enzimas

leite materno, rico em gorduras, lactose e caseína,

intestinal do amido pelos leitões. Vários autores

de

rápido

apontam os efeitos positivos da suplementação

crescimento e desenvolvimento do animal (ROPPA,

de enzimas exógenas sobre a digestão dos

1988).

alimentos (CLASSEN, 1996; COWIESON, 2005).

fácil

digestibilidade,

permitindo

um

secretadas,

reduzindo

a

digestão

Portanto, é possível que a adição de amilase na O período de 7 a 14 dias pós-desmame é

ração de leitões na fase de creche aumente a

considerado crítico, sendo caracterizado por baixo

digestibilidade do amido (PIOVESAN et al., 2011).

consumo de ração e baixa digestibilidade, podendo resultar em perdas significativas na produção, tais

Os resultados demonstrados em estudos feitos

como: diminuição no ganho de peso e ocorrência de

por Freitas (2011) comprovam que, o uso do

diarreias,

complexo enzimático (carboidrase + fitase) é uma

podendo

ocasionar

mortalidade

dos

animais (ZIEGERHOFER, 1988).

ferramenta nutricional importante para a nutrição de

A produção de proteases pancreáticas, por exemplo, depende da fonte proteica e da quantidade de alimento que é ingerido. O consumo de alimento diminui após a desmama, visto que o sistema digestivo dos leitões precisa se adaptar ao alimento sólido, adequando o pH às secreções enzimáticas e à motilidade intestinal, além dos transtornos digestivos ocasionados pela proteína da soja, a qual contém fatores antinutricionais e de antígenos, capazes de provocar diversas disfunções intestinais (MAKKINK et al., 1994). Portanto, nesta etapa, existe a necessidade do fornecimento de uma ração que substitua o leite materno e supra, de forma econômica, as exigências nutricionais em proporções adequadas a fim de reduzir o estresse e aumentar a taxa de crescimento, diminuindo a mobilização de reservas de lipídeos (TRINDADE NETO et al., 1994).

leitões,

pois

causa

melhoria

em

seus

parâmetros produtivos. Além disso, foi possível observar que leitões machos apresentam um melhor aproveitamento da dieta reduzida com a adição do complexo enzimático se comparados com as fêmeas. O fornecimento de enzimas exógenas em forma de coquetel normalmente é realizado quando uma determinada

dieta

apresenta

uma

variada

quantidade de fatores antinutricionais, o que comumente ocorre em rações de leitões em situações que debilitam a produção de enzimas endógenas,

como

estresse

do

desmame,

vacinação, castração e desconforto térmico. Os coquetéis geralmente são formados por protease, amilase e lipase, pois os níveis destas enzimas endógenas

são

diminuídos

nas

semanas

seguintes após o desmame. Já a utilização de enzima em separado deve ser feita quando se

A utilização de enzimas exógenas (amilase, protea8483

tem o objetivo de degradar um determinado fator

Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.16, n.3, p.8477-8487, maio/jun, 2019. ISSN: 1983-9006


Artigo 493- Enzimas exógenas na alimentação de suínos

antinutricional conhecido que venha prejudicar o

tividade na suinocultura tem-se trabalhado e

aproveitamento dos nutrientes da dieta ou quando se

investido

sabe que o uso de determinada enzima em conjunto

desenvolvimento de novas enzimas específicas,

com outra pode diminuir a atividade de ambas.

elas poderão contribuir nesse sentido, já que elas

(FERKET, 1996; WENK et al., 1993).

reduzem os efeitos dos fatores antinutricionais e também

Entretanto,

segundo

dados

apresentados

por

Pascoal & Silva (2005), a utilização dos diversos

em

novas

diminuem

tecnologias.

impactos

Com

o

ambientais,

passando a ser econômica e ecologicamente viáveis.

tipos de enzimas exógenas nos seus diversos substratos, tipos de alimentos, na alimentação de

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

suínos são controversos. Além disto, através destes

ADITIVOS INGREDIENTES. As Enzimas nos

dados apresentados e segundo Bedford et al. (1992); Inborr et al. (1993); Li et al. (1996); Gdala et al. (1997); Jensen et al. (1998), pode-se inferir que os dados científicos sobre digestibilidade de nutrientes e suplementação enzimática são mais consistentes para leitões recém-desmamados consumindo dietas com ingredientes como a cevada, o trigo e o tremoço e

pelo

uso

de

b-glucanase,

xilanase

e

a-

galactosidase.

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Apesar dos resultados sobre o uso de enzimas

intestinal viscosity through manipulation of

exógenas

serem

dietary rye and pentosanase concentration is

inúmeras

effected through changes in the carbohydrate

maneiras, de forma avançada, que a utilização de

composition of the intestinal aqueous phase

enzimas exógenas pode trazer possíveis benefícios

and results in improved growth rate and food

aos leitões desmamados (PASCOAL & SILVA,

conversion efficiency of broiler chicks. Journal

2005), portanto, deve-se atentar as condições

Of Nutrition, Saskatoon, v. 122, n. 3, p.560-

nas

contraditórios,

dietas

são

para

leitões

demonstrados

de

569, mar. 1992.

adequadas de utilização das mesmas.

BEDFORD, M. R. et al. The effect of dietary CONSIDERAÇÕES FINAIS

enzyme supplementation of rye and barley

A comparação de resultados sobre suplementação

based diets on digestion and subsequent

enzimática de dietas para suínos é bastante

performance

complexa. Na literatura é relatada a utilização de

Journal Of Animal Science, [s. L.], v. 72, n.

grande variedade de enzimas, de forma isolada ou

1, p.97-105, mar. 1992.

em

complexos,

enzimáticas,

com

diferentes

adicionadas

a

dietas

pigs. Canadian

BRASIL. Lei nº 76.986 de 6 janeiro de 1976.

contendo

Regulamenta a Lei n.º 6.198, de 26 de

idades. Pode-se inferir que os dados científicos sobre digestibilidade de nutrientes e suplementação enzimática são mais consistentes para leitões consumindo

weanling

atividades

ingredientes distintos e para animais de diferentes

recém-desmamados

in

dietas

com

ingredientes como a cevada, o trigo e o tremoço e pelo uso de b-glucanase, xilanase e a-galactosidase, tendo em vista a importância que deve ser dado a este período, caracterizado pela mudança repentina da fonte e composição nutricional do seu alimento.

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Wiener

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