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Sumário
ARTIGOS
567 – Desempenho bioeconômico de bovinos de corte em pastejo suplementados no período das águas no sul Maranhense 9176 Antonio Barbosa da Silva Neto, Henrique Nunes Parente, Clésio dos Santos Costa, Miguel Arcanjo Moreira Filho, Bruno Eduardo Caxias Miranda
568 - Propriedades espumantes da clara do ovo
.......................................................................................................9183 Sandra Regina Marcolino Gherardi, Jhenyfer Caroliny De Almeida
569 - Triptofano partincipando do bem-estar na dieta de suínos 9193 Júlio Maria Ribeiro Pupa, Juliana Maria Freitas Teixeira
Desempenho bioeconômico de bovinos de corte em pastejo suplementados no período das águas no Sul Maranhense
Capim massai, custos de produção, estratégia alimentar, taxa de rentabilidade
Antonio Barbosa da Silva Neto1
Henrique Nunes Parente2
Clésio dos Santos Costa3
Miguel Arcanjo Moreira Filho4*
Bruno Eduardo Caxias Miranda3
1Zootecnista, Técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural/SENARMA. 2Professor do curso de Zootecnia da Universidade Federal do Maranhão/UFMA, Campus Chapadinha, MA.
3Zootecnista, Chapadinha, MA.
4Professor do curso de Zootecnia da Universidade Estadual do Piauí/UESPI, Campus Corrente, PI. *E-mail: moreirafilhoma@gmail.com
RESUMO
Objetivou-se avaliar o efeito da suplementação no desempenho produtivo de bovinos de corte em pastejo no período das águas, assim como realizar a análise bioeconômica do sistema, em propriedade do município de Feira Nova do Maranhão, MA. O experimento foi alocado em pasto de capim massai, sendo subdividida em piquetes, sob método de pastejo rotacionado. Foram utilizadas 100 bezerras Nelore, ao longo dos 150 dias, onde foram mensurados a oferta de suplemento, o consumo individual e do lote, os custos da suplementação e a receita da comercialização dos animais. Avaliou-se a disponibilidade de forragem, ganho médio diário, taxa de lotação e oferta de forragem. A disponibilidade média de forragem foi de 236.700 kg/ha e a oferta de forragem de 27,0% do PV. A taxa de lotação foi de 2,58 UA/ha, o GMD foi de 0,587 kg/animal/dia e o consumo individual de 39,98 kg. O sistema mostrou-se viável economicamente, obtendo margem de retorno de 12,08%. A suplementação mineral-proteica na recria a pasto no período das águas favorece o ganho de peso dos animais, gerando maiores receitas com viabilidade econômica.
Palavras-chave: capim massai, custos de produção, estratégia alimentar, taxa de rentabilidade
Revista Eletrônica
Vol. 20, Nº 01, jan/fev de 2023 ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
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BIOECONOMIC PERFORMANCE OF BEEF CATTLE IN GRASSLAND SUPPLEMENTED IN THE WEATHER PERIOD IN SOUTH MARANHENSE ABSTRACT
This study aimed to evaluate the effect of supplementation on the productive performance of cattle grazing in the rainy season, as well as the bioeconomic analysis of the system, in property in themunicipalityof FeiraNova do Maranhão, MA. The experiment was allocated in a pasture of Massai grass, being subdivided into paddocks, under rotational grazing method. For this, 100 Nelore heifers, over the 150 days, where of supplement offer was measured, the individual and batch consumption, the costs to supplementation end the revenue of the sale of animals. Forage availability, average daily gain, stocking rate and forage supply were evaluated. The forage availability was of 236,700 kg/ha was verified and the forage supply of 27.0% of the average BW. The stocking rate was 2.58 AU/ha, the ADG was of 0.587 kg/animal/day end individual consumption of 39.98 kg. The system proved to be economically viable, with a return margin of 12.08%. The mineral-protein supplementation in growing on pasture in the wet season favors the weight gain of the animals, generatinggreater incomewith economic viability.
Keyword: massai grass, production costs, food strategy, rate of return
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INTRODUÇÃO
O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo e sua produção, em grande maioria, é realizada em pastagens, que por sua vez é drasticamente afetada pela sazonalidade de produção de forragem, tendo em vista que, durante o período chuvoso há uma grande oferta de forragem e de melhor qualidade, enquanto no período seco, ocorre o inverso (SOCREPPA et al., 2015; DE CARVALHO et al., 2017; XIMENES et al., 2020).
Assim, mesmo que o valor nutricional da forragem no período chuvoso seja superior, o manejo inadequado da pastagem provoca aumento do risco de redução da sua quantidade e qualidade, com maior proporção de colmos, baixa densidade de folhas eelevaçãodas frações fibrosas.
Quando a pastagem é bem manejada, com oferta de forragem em quantidade e qualidade para o rebanho, ainda há possibilidade de que a quantidade de forragem limite a elevada taxa de lotação na área, ou que o valor nutritivo da forrageira não atenda as exigências nutricionais do animal para expressar seu máximo potencial de desempenho (RIBEIRO et al., 2022).
A suplementação para bovinos de corte sob pastejo durante o período das águas é uma estratégia de produção que possibilita o atendimento das exigências nutricionais dos animais, maior eficiência de utilização do pasto, maior desempenho animal e redução do ciclo produtivo. Entretanto, ainda há a existência de muitas dúvidas sobre o tipo e quantidade de suplemento a ser utilizado, bem como da viabilidade econômica do seu uso (CABRAL et al., 2011; BARBERO et al., 2015).
Na bovinocultura de corte há uma busca constante pelo aumento na taxa de desfrute e, concomitantemente, aumento na rentabilidade no tocante a produção de carne. Isto se torna possível com uso de tecnologias relacionadas à correta nutrição dos animais, e se tratando da produção de bovinos a pasto, uma maneira viável de elevar essa taxa de desfrute é através do uso de estratégias de suplementação, principalmente no período chuvoso (REIS etal., 2009; PAULINO etal.,2002).
Face ao exposto, vê-se a necessidade de elucidação de dados produtivos e econômicos da suplementação de bovinos de corte sob pastejo durante o período das águas. Assim, objetivou-se avaliar o desempenho produtivo de bovinos em pastejo no período das águas recebendo suplementação mineral-proteica, bem como a análise de viabilidade econômica da suplementação nestesistemade produção.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada em uma propriedade do município de Feira Nova do Maranhão – MA, região do Sul Maranhense. A duração total foi de 165 dias, sendo 15 dias destinados à adaptação dos animais ao suplemento e piquetes, e 150 dias referentes à suplementação no pasto(coletadedados).
O experimento foi alocado em uma área de pasto com 23 hectares, formada por capim Megathyrsus maximum cv. Massai, a qual foi subdividida com cercas elétricas em 16 piquetes de 1,44 ha para estabelecimento do método de pastejo rotacionado.
O período de descanso e de ocupação de cada piquete foi de trinta dias e dois dias, respectivamente, aumentando ou reduzindo mediante a resposta da gramínea frente aos fatores que interferiram em seu crescimento. Para isso, foram mensuradas as alturas de pré e pós-pastejo de cada piquete, estabelecendo-se as mesmas em 50e 30cm,respectivamente.
Foi determinado e realizado um protocolo de suplementação mineral-proteica de baixo consumo e de consumo voluntário. Os bovinos foram suplementados com produto comercial pronto para uso, com os seguintes níveis de garantia: 200 g/kg de proteína bruta; 127 g/kg de NNP equivalente proteína bruta; 27 g/kg de cálcio; 30 mg/kg de cobalto; 451 mg/kg de cobre; 5 g/kg de enxofre; 185 mg/kg de flúor; 20 g/kg fósforo; 31 mg/kg de iodo; 5 g/kg de magnésio; 440 mg/kg de manganês; 8 mg/kg de selênio; 74 g/kg de sódio; 1.618 mg/kg. Os cochos foram abastecidos de suplemento em intervalos de 4 dias. Os animais passaram por um período de adaptação, recebendo o suplemento mineral-proteico em mistura com sal mineral linha branca,naproporção 1:1, durante15dias.
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Foram utilizadas 100 novilhas nelores com idade média de oito meses e peso médio inicial de 222,56 kg. Ao final do período de coletas os animais foram novamente pesados em jejum de sólidos para determinação do peso final, tanto individual quanto do lote, e assim calculado o ganho de peso médio diário.
Ao longo dos 150 dias foi mensurada a quantidade ofertada de suplemento, para a determinação do consumo individual e do lote. Ao final do período de coletas foram contabilizados os custos referentes a suplementação, bem como a receita gerada pela comercialização dos animais.
O consumo de suplemento foi estimado com base no monitoramento da quantidade de suplemento fornecida, no número de animais de no peso do lote obtido pela média entre o peso corporal inicial e peso corporal final. O ganho de peso médio diário (GMD) foi estimado com base nos dados de duas pesagens, uma no início do período experimental e outra no final do período de coletas sendo obtido através da fórmula: GMD = (PF – PI) / Nº DE DIAS, onde PF = Peso Final; PI = Peso Inicial; Nº DE DIAS =período desuplementação.
Para realizar a estimativa da disponibilidade (DISP) de forragem em matéria natural foram coletadas três amostras representativas de cada piquete em intervalos de 30 dias e em condições pré-pastejo utilizando-se um quadrado confeccionado de cano PVC com área de 1,0m² (1,0 m x 1,0 m). Para realização dacoleta oquadradofoi lançadodeforma aleatória na área de cada piquete e toda forragem envolvida pela área do quadrado foi cortada na altura de 30 centímetros do nível do solo, constituindo uma amostra. A altura de corte para coleta das amostras correspondeu a altura póspastejopré-determinada.
As amostras foram pesadas para obtenção da média de peso na área do quadrado e em seguida foi determinado o cálculo da estimativa da disponibilidade de forragem em matéria natural por hectare, de acordo com a seguinte fórmula: DISP = (média de peso das amostras x 10.000m²) / 1m² em que: 10000m² = corresponde a área de 1 hectare e /1m² =correspondea área doquadrado.
A taxa de lotação (TL) foi calculada levando em consideração a unidade animal (UA) como sendo um animal com peso vivo de 450 quilos através da seguinte fórmula: TL = (Nº de UA / ÁREA) em que: ÁREA = corresponde a área total utilizada em hectares. A ofertade forragem (OF) em percentagem do peso vivo foi calculada através da seguinte fórmula: OF (%) = (DISP/DIAS/TL) *100, onde: DISP = disponibilidade de forragem em kg de matéria natural; DIAS= corresponde ao período de pastejo; TL = corresponde ao número de unidade animal sobreaárea.
Os dados coletados foram armazenados em planilhas eletrônicas do software Microsoft Excel e entãosubmetidos a análise de viabilidade econômica da suplementação. Na análise foram observados os custos fixos e variáveis, depreciação, remuneração do capital investido, margem bruta, margem líquida, rentabilidade, ponto de nivelamento, relação benefício: custo, fluxo de caixa, valor presente líquido (VPL), valor presente líquido anualizado (VPLa), tempo de retorno do investimento, taxa interna de retorno ao ano (TIR - % a.a), taxa interna de retorno modificada ao ano (TIRM - % a.a), índice de lucratividade, taxa de rentabilidade e análise de sensibilidade, segundo recomendação de CIMMYT (1988). Os preços dos ingredientes do suplemento, assim como preço pago por kg de peso vivo do animal (R$ /kg PV) foram obtidos com base nos preços praticados nos fornecedores daregião.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A disponibilidade média de forragem na área total foi de 236.700 quilos, em matéria natural (Figura 1) e a oferta de forragem foi de aproximadamente 27,0% do peso vivo médio dos animais. A taxa de lotação animal foi de 2,58 UA/ha, de forma que não ocorreu necessidade de ajustes, em virtude da suplementação proteica que provocou efeito associativo aditivo entre a forragem e o suplemento, com estímulosobre oconsumodeforragem.
Euclides et al. (2002)e Goes et al. (2005) verificaram que a suplementação proteica corrige deficiências nutricionais específicas mesmo com uma baixa ingestão de suplemento, estimulando o consumo de forragem. Os autores também afirmaram que a proteína proveniente da suplementação favorece a
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Artigo 567 - Desempenho bioeconômico de bovinos de corte em pastejo suplementados no período das águas do sul maranhense ação dos microrganismos que auxiliam a digestão das forragens, ocasionando melhor aproveitamento peloanimal.
TABELA 1 - Indicadores de desempenho e consumo de suplemento de novilhas Nelore a pastorecebendosuplementomineral-proteico
Variáveis
FIGURA1- Disponibilidademédiadematéria naturaldeforragem daáreaexperimentalao longo decadamês doperíodode avaliação
Fonte: Elaborado pelos autores.
Os resultados encontrados neste trabalho ao longo do período experimental são caracterizados como de boa disponibilidade e boa oferta de forragem, em função das características climáticas da região em que ocorreu o experimento, os quais favoreceram o desenvolvimento da gramínea de alto potencial de produção,atingindo elevadas produtividades.
Herling et al. (1995) verificaram que a produtividade das pastagens ocorre em função do potencial de produção da espécie forrageira bem como da sua adaptação as condições edafoclimáticas da região, e a partir do momento em que o solo não apresenta restrições ao crescimento e desenvolvimento das plantas, as condições climáticas determinam a produçãode forragem.
O ganho de peso médio diário das novilhas durante operíodo experimental foi de 0,587kg/animal/dia e o ganho de peso total médio do lote foi de 88,04 kg/animal/período. O peso médio do lote obtido pela média entre o peso corporal inicial e peso corporal final foi de 266,58 kg/animal. O consumo médio individual de suplemento foi de 39,98 kg ao longo do período experimental, com valor médio diário de 0,266 kg/dia/animal, caracterizando um baixo consumo equivalente a 1 grama de suplemento por quilo depeso vivo por animal(Tabela1).
Peso(kg) Individual Lote
1PCI(kg/dia) 222,56 22256,00
2PCF (kg/dia) 310,60 31060,00
3GPT (kg) 88,04 8804,00
4GMD(kg) 0,587 58,69
Consumode suplemento 39,98 3998,70 ¹Peso corporal inicial; ²Peso corporal final; ³Ganho de peso total (kg); 4Ganho médio diário (kg/dia).
Fonte: Elaborado pelos autores.
Bovinos de corte criados em sistemas de pastagens apresentam taxa de crescimento anual de 150 kg, sendo que na época das águas o ganho de peso fica em torno de 600 g/dia, valor esse considerado o mínimo necessário para viabilizar a suplementação no período chuvoso (SILVA et al., 2015). Paulino et al. (2008), demonstraram em diversos estudos de pesquisa respostas da suplementação no período das águas em forragem de boa qualidade, com ganhos adicionais de 143 a 270 g/animal/dia.
Resultado semelhante quanto à resposta de GMD foi obtido por Lobo (2012), sendo o GMD de 0,585 kg/cabeça/dia em novilhos Nelore recebendo suplemento proteico-energético-mineral no período das águas em pastagens de capim Marandu. Souza (2018) verificou GMD de 0,830 kg/cabeça/dia de novilhos Nelores recebendo suplementação múltipla equivalente a 0,4% (em relação ao peso vivo), considerado de baixo consumo em pastagem de capim Aruana.
O protocolo de suplementação determinado apresentou resultado econômico satisfatório, indicando que o desempenho dos animais nas condições submetidas e a gestão dos custos da suplementação adicionados dos custos operacionais da atividade, em relação a receita gerada com a comercialização dos animais foipositivo(Tabela2).
Os índices de lucratividade e rentabilidade mostram que o sistema é viável economicamente (Tabela 3). Estes custos envolvem os custos fixos e os custos variáveis daatividade.No presente estudoocusto
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total de produção foi de R$ 286.748,74, onde 85,8% corresponderam aos custos variáveis e 14,2% corresponderam aos custos fixos de produção. Guerra et al. (2010) em trabalho realizado na recria de bezerras zebuínas a partir de 61 dias de idade obtiveram custos de produção semelhantes, onde 90% foram equivaleram aos custos variáveis e 10% aos custos fixos deprodução.
TABELA 2 - Custos de produção da recria de novilhas Nelore a pasto recebendo suplemento mineral-proteico ItemdeCusteio
Valor(R$)
Suplementação R$ 12.891,00 Sanidade R$ 2.638,00 Compradeanimais R$ 230.000,00 Outros custos R$ 500,00 Mão deobrae manutenções R$ 15.610,00 Depreciações R$ 2.410,00 Remuneraçãodo capital investido R$ 22.699,74 Fonte: Elaborado pelos autores
A receita total gerada com a venda dos animais foi R$ 326.130,00, com isso, obteve-se margem de retorno sobre a venda dos animais de aproximadamente 12,08%. O custo total por quilo de peso vivo produzido foi R$9,23 (R$ 276,96 por arroba) e o valor de venda dos animais foi R$10,50 por quilo de peso vivo (R $315,00 por arroba). A relação custo: benefício foi superior a 1, indicando a viabilidade do sistema, onde para cada R$ 1,00 investido obtém-se R$ 1,14 de retorno. Assim, para a produção de uma arroba (@) de peso vivo obtevese o custo de aproximadamente 0,879 @, portanto, para cada uma @ produzida obteve-se 0,121 @ líquida de lucratividade. A lucratividade total em arrobas 125,02 arrobas e a lucratividade em arrobas por hectare (@/ha) foi de aproximadamente 5,44 @/ha.
TABELA 3 - Indicadores econômicos da recria de novilhas Nelore a pasto recebendo suplemento mineral-proteico
Indicador
Valor(R$)
Receitatotal R$ 326.130,00 Custooperacional total- COT R$ 264.049,00
Custototal R$ 286.748,74 Margem bruta R$ 80.101,00 Margem líquida R$ 62.081,00 Lucratividade R$ 39.381,26
Relaçãocusto: benefício R$ 1,14 COE(R$//quilo produzido) R$ 7,92 COT (R$//quilo produzido) R$ 8,50 Custototal (R$/quilo produzido) R$ 9,23 Pontodenivelamento (quilos produzidos) 27.309,40 Fonte: Elaborado pelos autores. Euclides et al. (2001) utilizando suplementos de mistura múltipla para bovinos de corte em pastejo, verificou uma receita adicional por animal satisfatória, em função do aumento do ganho de peso adicional, culminando em redução no ciclo produtivo e garantindo margem de lucro positiva de aproximadamente 27%, quando considerado somente o custo da suplementação sobre o ganho adicional.
De forma geral a receita total foi considerada satisfatória, o que se deve ao suplemento ser de baixo consumo, implicando em maior espaçamento entre as reposições de suplemento no cocho, proporcionando baixo investimento e despesas com mãodeobra.
TABELA 4 - Investimentos necessários na recria de novilhas Nelore a pasto recebendo suplemento mineral-proteico Investimento
Valor (R$)
Benfeitorias e instalações R$ 120.500,00
Outros investimentos R$ 11.800,00
Fonte: Elaborado pelos autores.
A análise financeira realizada com base nos dados econômicos (Tabela3) e nos dados deinvestimentos (Tabela 4) permitiu a projeção de um fluxo de caixa em 10 anos subsequentes ao investimento inicial e assim a obtenção do valor presente líquido – VPL (R$ 157.549,50), valor presente líquido anualizado –VPLa (R$ 21.403,93), tempo de retorno do investi-
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mento – payback (3,87 anos), taxa interna de retorno ao ano – TIR a.a (27,05%), taxa interna de retorno modificada ao ano – TIRM a.a (14,65%), índice de lucratividade (R$ 2,19) e taxa de rentabilidade (119%) (Tabela 5). Os números obtidos na análise financeira indicam a viabilidade da implantação da suplementação nestecontextoem longo prazo.
TABELA 5 - Indicadores financeiros em um fluxo de caixa de 10 anos a uma taxa de juros de 6% na recria de novilhas Nelore a pasto recebendo suplementomineral-proteico Indicador
Valor
VPL- Valor presente líquido(R$) R$ 157.549,50
VPLa- Valorpresente líquidoanualizado(R$) R$ 21.405,93 Tempoderetorno do investimento(anos) 3,87
TIR -Taxainternade retorno(% a.a.) 27,05
TIRM- Taxainternade retornomodificada(% a.a.) 14,65 Índice de lucratividade 2,19 Taxaderentabilidade(%) 119 Fonte: Elaborado pelos autores.
A análise de sensibilidade (Tabela 6) demonstrou o impacto de uma mudança na taxa de juros sobre o fluxo de caixa projetado, provocando reduções principalmente no valor presente líquido, valor presente líquido anualizado, índice de lucratividade, taxa de rentabilidade e, com isso, houve aumentando no tempoderetorno do investimento.
TABELA 6. Análise de sensibilidade em um fluxo de caixa de 10 anos frente a uma crescente de 4% nas taxas de juros na recria de novilhas Nelore a pasto recebendosuplementomineral-proteico
Indicador Valor
VPL- Valor presente líquido(R$) R$ 109.680,79
VPLa- Valorpresente líquido anualizado(R$) R$ 17.850,04
Payback descontado(anos) 4,30
TIR -Taxainternade retorno (%) 27,05
TIR -Taxainternade retorno modificada(%a.a) 16,85
Índice de lucratividade R$ 1,83 Taxaderentabilidade(%) 83
Fonte: Elaborado pelos autores.
Contudo, tais mudanças não levam o valor presente líquido do fluxo de caixa a um valor negativo, indicando que há viabilidade no sistema mesmo sob alterações nas taxas de juros sobre o investimento. Este resultado retrata a resiliência da atividade de suplementação em bovinos de corte ao longo das flutuações ouoperações decâmbio.
Melo (2006) ao avaliar o desempenho e o fator econômico da suplementação de bovinos de corte a pasto durante a estação chuvosa, verificou que uma valorização de 2,0% da moeda brasileira e uma valorização de 6,20% da moeda americana implicou em uma desvalorização no preço da arroba comercializada, porém sem levar a margem de lucro a um valor negativo. Esta informação evidencia que o modelo de suplementação a ser determinado está correlacionado com as perspectivas futuras de mercado, uma vez que o investimento ou não no tipo de suplementação é crucial para a lucratividade do empresáriorural.
CONCLUSÃO
O uso da suplementação mineral-proteica na recria a pasto de novilhas Nelore no período das águas apresenta-se como alternativa para reduzir o ciclo produtivo por favorecer o ganho de peso dos animais, gerando maiores receitas com viabilidade econômica.
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Revista Eletrônica Vol. 20, Nº 01, jan/fev de 2023
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RESUMO
A clara, também chamada de albúmen, é uma solução aquosa de diversas proteínas. Uma das principais propriedades da clara é a formação de espuma. As espumas possuem uma grande variedade de aplicações na indústria alimentícia e sua formação e estabilidade está diretamente relacionada à capacidade de distensão da clara e retenção de ar. Sua estabilidade influencia no estabelecimento do tempo de vida de prateleira e aparência dos produtos alimentícios, devendo ser estável quando sujeita a uma variedade de processos, como o aquecimento, mistura e corte. Muitos produtos queapresentam espumadaclarade ovo em sua formulação têm sua vida de prateleira reduzida em função da estabilidade da espuma. Diversos fatores relacionados aos utensílios e aditivos utilizados podem interferir afetando a qualidade e o rendimento dos produtos elaborados. Compreendendo a importância das propriedades espumantes da clara do ovo para a tecnologia de alimentos. Esta revisão buscou analisar os complexos mecanismos envolvidos na capacidade de formação e estabilização da espuma, bem como os prováveis fatores que podem influenciar tanto positiva quanto negativamente na sua formação, volumeeestabilização.
Palavras-chave: propriedades funcionais, proteínas do albúmen, formação de espuma, industrialização dealimentos.
Propriedades espumantes da clara do ovo
Propriedades funcionais, proteínas do albúmen,formação de espuma, industrialização de alimentos.
Sandra Regina Marcolino Gherardi1
Jhenyfer Caroliny De Almeida2*
1Docente do curso superior de Ciência e Tecnologia em Alimentos, Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí.
2Tecnóloga em Alimentos, Instituto Federal Goiano, Campus Urutaí. *E-mail: jhenyfer.caroliny@outlook.com
FROTHINGPROPERTIESOFEGGWHITE ABSTRACT
The white egg, also called albumen is an aqueous solution of various proteins. One of the main properties of albumen is the foam formation. The foams have a wide variety of applications in the food industry and its formation and stability is directly related to deterrence capability and air retention of albumen. The foam stability influences the setting time of appearance and shelf life of food products, and should be stable when subjected to a variety of processes such as heating, mixing and cutting. Many products that have white egg foam in its formulation have their shelf life reduced depending on the foam stability. Several factors related to the used utensils and additives can interfere affecting the quality and yield of finished products. Understanding the importance of the foaming properties of egg white for food technology, this review aimed to analyze the complex mechanisms involved in capacity building and stabilization of the foam, as well as the likely factors that may influence both positively and negativelyin their training, volumeandstabilization.
Keyword: functional properties, albumen protein, foam formation,food industrialization.
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INTRODUÇÃO
Clara de ovo ou albúmen é um ingrediente amplamente utilizado na indústria de alimentos, devidoàsuamultifuncionalidade.
As proteínas da clara são conhecidas por sua capacidade de coagulação, formação de espuma e propriedades emulsificantes, além de sua excelente qualidade nutricional.
A espuma é uma dispersão coloidal em que o gás se encontra disperso em uma fase líquida ou sólida. A espuma da clara de ovo é criada quando as moléculas de arsãocapturadas eaprisionadas pelas proteínas presentes nela. Quando as claras são batidas, o ar é incorporado a elas, ao mesmo tempo em que as proteínas se desdobram e se distendem capturando e englobando o ar criando uma espuma estável.
A proteína do albúmen é elástica, permitindo que o ar capturado possa expandir com o calor, sem danificar a espuma pré-formada. Devido à coagulação das proteínas que ocorre durante o processo de formação da espuma, esta é capaz de se estabilizar com seu volume aumentado. Fatores como temperatura, presença de traços de gema, açúcar, sal (NaCl), ácidos e metais como cobre podem interferir tanto positiva quanto negativamente na capacidade de formação e estabilização das espumas.
Compreendendo a importância das propriedades espumantes da clara do ovo para a tecnologia de alimentos, buscou-se analisar os complexos mecanismos envolvidos na capacidade de formação e estabilização da espuma, bem como os prováveis fatores que podem influenciar tanto positiva quanto negativamente na sua formação, volume e estabilização.
PROPRIEDADESFUNCIONAIS
Os alimentos são sistemas multifásicos e multicomponentes, compostos por proteínas, polissacarídeos, gorduras, água, outros nutrientes em menorquantidadee aditivos.
Alimentos como leite, manteiga, margarina, molhos para salada, sobremesas, salsichas, bolos e sorvetes são emulsões ou produtos formados por
espumas na qual a parte apolar do óleo ou ar está dispersa na forma de partículas numa fase aquosa contínua contendo, macromoléculas solúveis ou dispersas tais como proteínas ou polissacarídeos (DAMODARAM,1997).
A textura dos alimentos é determinada pelo tamanho, forma e distribuição das partículas coloidais no alimento(DAMODARAM,1997).
Sob a perspectiva sensorial, a textura de um alimento é avaliada quando este é mastigado. Os dentes, a língua e a mandíbula exercem uma força sobre o alimento e em função da facilidade com que este se parte ou flui na boca, ele é percebido como duro, quebradiço, denso, viscoso e assim por diante (VACLAVICK& CHRISTIAN,2008)
Propriedades funcionais podem ser definidas como as propriedades físicas e químicas das proteínas que afetam com seu comportamento os alimentos durante o processamento, estocagem, preparação e consumo. As propriedades espumantes das proteínas estão relacionadas com sua adsorção na interface e com a estrutura do filme proteico formado (deMAN,1999).
Em diversos alimentos as proteínas funcionam como agentes formadores e estabilizadores de espuma, como por exemplo, em assados, doces, sobremesas ecerveja(BELITZ etal.,2009).
Muitos alimentos são preparados com a clara de ovo, a maioria deles é baseada nas propriedades espumantes desta, resultantes dacapacidade que as proteínas do albúmen possuem de encapsular e reter o ar com facilidade, sendo considerada como uma característica extremamente desejável na indústria de alimentos (LOMAKINA & MÍKOVÁ, 2006).
Colóides
Colóide ou dispersão coloidal simples consiste em um sistema de duas fases sendo uma fase dispersa constituída de pequenas partículas, gotículas ou bolhas suspensas contra a força da gravidade e um meio de dispersão ou fase dispersante, onde, nem uma das fases se dissolve na outra (SCHRAMM, 2005;CLARK,2007).
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Partículas coloidais normalmente possuem uma grande área superficial responsável por duas características básicas que os sistemas coloidais apresentam: dispersam a luz apresentando aparência turva, opaca ou leitosa; embora as partículas coloidais sejam grandes, formam dispersões estáveis, e tal como as soluções verdadeiras, podem existir numa variedade de fases (BETTELHEIM, 2009), como é mostrado no Quadro 1.
QUADRO1 - Tipos dedispersãocoloidal COLÓIDE FASE DISPERSA MEIO DISPERSANTE EXEMPLO
Aerosol líquido Líquido Gás Neblina esprays Aerosol sólido Sólido Gás Fumaçae poeira Espuma líquida Gás Líquido Clara de ovo batida, chantilly, espumada cerveja Espuma sólida Gás Sólido Marshmallow, emiolodepão
Emulsão líquida Líquido Líquido Leite emaionese Emulsão solida Líquido Sólido Queijo egeléias Sol líquido Sólido Líquido Gelatina Sol sólido Sólido Sólido Pedras preciosas, pérola eligas metálicas
Fonte: adaptado de HEDGES, (2008); SCHRAMM, (2005) e CLARKE (2004).
Produtos Aerados
O international food information service (IFIS) (2009) define aeração como a introdução de ar em um produto com o objetivo de realçar sua textura, paladar, propriedades reológicas bem como seu apelo visual.
Bolos,pães,sorvetes e doces sãoexemplos típicos deprodutos aerados da indústriadealimentos.Os
fabricantes têm se tornado cada vez mais interessados em explorar a inovação e a versatilidade das bolhas como ingredientes alimentares, as bolhas também criam condições no alimento que facilitam a dispersão do sabor (LAU & DICKINSON, 2006). A inclusão de bolhas nos alimentos permite oferecer ao consumidor alternativas mais leves em termos calóricos (BARIGOU, 2009).
Segundo DAMODARAM (1997) e EDWARDS (2007) todo produto aerado tecnicamente é uma espuma. O grande problema na elaboração destes produtos está em como produzir um grande volume de espuma e manter sua estabilidade mesmo quando submetida a diferentes processos tais como:mistura, corte e aquecimento (FOEGEDING et al., 2006; BEZELGUES etal., 2008).
Espumas Alimentícias Espumas alimentícias podem ser definidas como uma dispersão de bolhas de gás, geralmente o ar, dispersas em uma fase contínua líquida ou semisólida (HAMLEY, 2007). São separadas por uma suspensão de proteínas que reduz a tensão superficial entre o ar e o líquido, facilitando a deformação do segundo formando assim, filmes estruturais em volta das partículas de ar, prendendoas e formando bolhas. As bolhas de ar são aprisionadas dentro de uma rede denominada de canais de Plateau (figura 1). Estas estruturas são formadas a partir de três películas finas ou lâminas de espuma que formam as paredes das bolhas (WILDE & CLARK 1996). A capacidade que uma proteína possui de formar espuma está relacionada com a expansão do seu volume e a incorporação de ar resultante do processo de batedura ou agitação (SIKORSKI,2007).
FormaçãodasBolhasna Espuma
Bolhas são sempre percebidas por representar o melhor da comida e bebida. Suas características têm dominado a percepção do consumidor com relação à qualidade do pão, chantilly, sorvetes e diversas sobremesas. Nos últimos anos, tem havido um fluxo constante de novos produtos aerados em nossos supermercados tais como: chantily, chocolate, waffers,tortas,suspiros, snacks extrusados e bebidas
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Artigo 568 - Propriedades espumantes da clara de ovo espumantes, todos possuindo novas estruturas que são preferidas por oferecer alternativas menos calóricas (NIRANJAN & SILVA, 2008)
FIGURA 2 - Estrutura de uma espuma constituída de uma fase gasosa e uma fase líquida (filmes e canais dePlateau).
FIGURA 4 - Encapsulamento das bolhas de ar pelas proteínas
O primeiro passo na formação da espuma é a migração de proteínas para a interface entre as bolhas de ar e a fase aquosa. Na interface as proteínas se desdobram e orientam sua região apolar para a fase gasosa (figura 2). As proteínas adsorvidas então na superfície das bolhas começam a formar camadas de proteína desnaturada as quais encapsulam as bolhas de ar evitando o colapso destas (figura 3). A espuma é uma estrutura que pode ser produzida por agitação mecânica como na batedura das claras deovo (CULBERTSON,2006).
FIGURA3- Desdobramento das proteínas durante a batedura das claras
Fonte: http://www.cookies-inmotion.com/images/eggfoamformation1.jpg, acessado em Agosto de 2022.
EstabilizaçãodaEspuma
A estabilização da espuma é a parte mais difícil do processo. Alguns sistemas tais como a clara de ovo, formam espuma facilmente e sofrem coagulação durante o aquecimento, sendo esta uma característica desejável na indústria de alimentos. A questão é conseguir produzir uma camada entre as bolhas que seja suficientemente estável para que as bolhas formadas não venham a estourar antes que o alimentosejaconsumido(EDWARDS,2007).
A tensão interfacial entre a fase dispersa e a fase contínua é um fator importante no controle da estabilidade da espuma. Uma alta tensão entre as duas fases pode ser prejudicial à estabilidade da espuma, enquanto a baixa tensão, resultante do acúmulo de moléculas na superfície da interface, é benéfica para a estabilização do sistema (SAHI, 2008).
A espuma da clara de ovo é formada pela agitação da solução proteica, formando uma camada viscoelástica densa na interface ar-água desempenhando papel importante na estabilização daespumaformada(WILDE& CLARKE, 1996).
Fonte:
http://www.cookies-inmotion.com/images/eggfoamformation.jpg, acessado em Agostode2022.
Proteínas consideradas boas formadoras de espuma exibem uma ou mais das seguintes propriedades moleculares: elevada taxa de difusão e adsorção na interface; capacidade de desdobramento e desnaturação na interface; capacidade para formar associações intermoleculares com outras moléculas resultando naformaçãode um filmecoesoem torno
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Fonte: FIGUEREDO et al. (1998).
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bolhas dear.
A superfície hidrofóbica das proteínas está relacionada com a sua capacidade para formar espuma sendo importante para que ocorra o desdobramento da proteína na interface (CULBERTSON,2006).
ClaradeOvoou Albúmen
O albúmen ou clara do ovo é o segundo maior componente do ovo in natura (DANGARAN et al., 2009), compreende em torno de 58% do peso de um ovo e é composto basicamente por água e proteínas (MINE & D’SILVA, 2008; VACLAVICK & CHRISTIAN, 2008). A clara do ovo é constituída por camadas que diferem no grau de viscosidade, alternando de denso para fino. O albúmen denso está mais aderido à gema enquanto o fino se encontra mais aderido à casca (BROWN, 2008). Em ovos mais velhos, o albúmen denso e o fino tornamse indistinguíveis (VACLAVICK & CHRISTIAN, 2008).
Com relação à capacidade de formação de espuma, a clara de ovo forma uma das espumas de mais alta qualidade devido às propriedades da ovoalbumina, globulinas e ovomucóide, que fazem parte da sua composição (CULBERTSON,2006).
A capacidade de formação e estabilização da espumapelas proteínas variade umaparaoutra, por isso,a misturade proteínas que compõem aclarado ovo é particularmente adequada. Enquanto as globulinas facilitam a formação de espuma, a ovomucina estabiliza esta, e a ovoalbumina e a conalbumina permitem a fixação através de coagulação térmica(BELITZ etal.,2009).
Na tabela 1 é mostrada a composição proteica do albúmen, bem como o ponto isoelétrico (PI) e a respectiva temperatura de desnaturação de cada proteína.
A espuma da clara de ovo é obtida mediante o processo mecânico de batedura (VACLAVICK & CHRISTIAN, 2008; KIRK-OTHMER, 2007) e muitos pesquisadores têm procurado encontrar novos métodos para melhorar o volume e a estabilidade da espumaformada (LOMAKINA &MÍKOVÁ,2006).
TABELA1- Proteínas presentes noalbúmendo ovo Proteína %dototal de proteínas
PI To de desnaturação (Co)
Ovoalbumina 54 4,5 84,0 Conalbumina (ovotransferrina) 12 6,1 61,0
Ovomucoide 11 4,1 77,0 Ovomucina 3,5 4,55,0Lisozima (Ovoglobulina G1)
3,4 10,7 75,0
Globulina G2 4,0 5,5 92,5 GlobulinaG3 4,0 5,8Avidina 0,05 10,0P I– ponto isoelétrico.
Fonte: Adaptado de ALLEONI, (2006).
FormaçãoeFunçãoEspumantedaClara deOvo
Os ovos desempenham diversas funções como ingredientes de alimentos, devido a sua variada composição principalmente no que se refere à fração protéica. As proteínas da clara do ovo funcionam de forma muito eficaz nos alimentos aerados onde a introdução de ar sob a forma de pequenas bolhas e a posterior estabilização é favorecida por estas (KIOSSEOGLOU & PARASKEVOPOULOU, 2006). Quando a espuma da clara do ovo é aquecida, as proteínas coagulam ao redor das bolhas de ar, mantendoa espumaestável.
A capacidade de clara de ovo de se transformar numa espuma que aumenta de seis a oito vezes o seu volume original ao ser batida é de grande valor na preparação de alimentos (VACLAVICK & CHRISTIAN, 2008).
As claras de ovos frescos dão origem à formação de espumas mais estáveis por possuírem claras densas. Ovos mais velhos possuem claras mais finas que ao serem batidas formam um maior volume, porém apresentam menor estabilidade podendo sofrer colapso durante o aquecimento. Possuem como função tecnológica a capacidade de promover a aeração e a leveza de um grande númerode produtos alimentícios tais como:omeletes aerados, suflês, bolos, pão de ló e suspiros (BROWN,2008).
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EtapasdaFormaçãodaEspuma
A clara de ovo ao ser batida sofre modificações até atingir o ponto ideal. Estas modificações são descritas aseguir.
FIGURA5 - Claracrua
1. Clara sem bater Pequeno volume de albúmendensoe delgado;
sedesfazendo;
FIGURA7- Formaçãode picos moles
Fonte:http://fxcuisine.com/blogimages/desserts/homemadefrench-meringues/meringues-01-1000.jpg, acessado em Agosto de 2022.
FIGURA6-Faseinicialdaformaçãodaespuma.
2. Espuma Estrutura instável, transparente, apresenta bolhas com grande volume de ar que se rompem se o processode batimentoforinterrompido;
Fonte: http://i10.tinypic.com/4mj6m8z.jpg, acessado em Agosto de 2022.
4. Picos firmes Espuma se apresenta branca, brilhante, elástica e lisa. As bolhas de ar são menores e mais finas. O volume é elevado e os picos ficam quase em linha reta com uma ligeira curvatura, sendo este,o ponto ideal;
FIGURA8- Formaçãodepicos firmes
Fonte:http://image.examiner.com/images/blog/wysiwyg/image/egg whiteswhipped.jpg, acessado em Agosto de 2022.
3. Picos moles Apresenta textura uniforme e brilhante. A espuma forma picos quando puxada, porém, estes não sãofirmes sedobrandosobsimesmos e
Fonte: http://glutenfreecookingschool.com/wordpress/wpcontent/uploads/2007/08/egg-whites-soft-peaks.JPG, acessado em Agosto de 2022.
FIGURA9- Picos firmes
Fonte:http://image.examiner.com/images/blog/wysiwy g/image/egg_whites_whipped.jpg
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5. Fase seca Resultante do excesso de batedura das claras. A espuma terá um tom branco opaco perdendo elasticidade, brilho e suavidade. A espuma torna-se quebradiça e sofre diminuição no volume (BROWN2008).
FIGURA9- Faseseca da espuma
FATORES QUE AFETAM O VOLUME E A ESTABILIDADEDAESPUMADACLARADEOVO
Diversos são os fatores que podem afetar a formação da espuma e sua consequente estabilização,tais como:
Temperatura
A capacidade de formação de espuma pode ser melhorada através do leve aquecimento da fração protéica, que provoca o afrouxamento da estrutura da proteína, permitindo seu rápido desdobramento. Ao contrário, o aquecimento excessivo leva a intensa desnaturação provocando diminuição na formação e estabilização da espuma devido ao decréscimo da solubilidade inicial da proteína dando origem à formação de filmes interfaciais inflexíveis e rígidos (CULBERTSON, 2006; IBANOGLU & ERÇELEBI, 2007;TALANSIERetal., 2009).
Temperaturas de refrigeração diminuem a formação de espuma enquanto o aquecimento da clara de ovo seca a 80o C por alguns dias antes da sua utilização aumenta a estabilidade da espuma formada(SIKORSKI, 2007).
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Contaminaçãodaclaracomtraçosde gemadeovo
A contaminação da clara de ovo por traços de gema é um problema comum na indústria de ovoprodutos (WANG &WANG,2009b) Estasituaçãopode ocorrer devido a falhas no processo de separação da clara da gema. A presença de gema reduz drasticamente a formação de espuma. Esta situação é resultante dos lipídios presentes na gema que, mesmo em diminutas concentrações, podem inibir aabsorção de proteínas na interface ar-água evitando a formação do filme interfacial de proteínas, afetando o volume e a estabilidade da espuma ou mesmo inibindo sua formação (KIOSSEOGLOU & PARASKEVOPOULOU, 2006; WANG & WANG, 2009a;CULBERTSON,2006).
Adiçãodeaçúcar
Quanto maior a concentração de açúcar menor o volume de espuma formado, condição que parece estar relacionada com a maior viscosidade do meio impedindo que maior quantidade de ar seja incorporada ao sistema, porém esta situação gera uma maior estabilidade da espuma formada, (FOEGEDING, et al., 2006; VACLAVICK & CHRISTIAN, 2008; YANG &FOEGEDING,2010).
pH
Valores de pH abaixo de 6,0 principalmente próximo ao PI da ovoalbumina (4,5), aumentam a capacidade de formação de espuma (SIKORSKI, 2007; LIANG & KRISTINSSON, 2007).
A estabilidade e firmeza também aumentam, principalmente em pH 5,0, sendo o contrário observado em valores de pH mais elevados. Em pH próximo ao PI da ovoalbumina (4,5) que é a proteína que responde pelo maior valor protéico da clara de ovo, esta e a ovomucóide se encontram pouco carregadas fazendo com que a carga total das proteínas e a repulsão intermolecular destas em pH 5,0 seja baixa, resultando em uma adsorção mais intensa das proteínas do albúmen na interface arágua intensificando as interações criando filmes protéicos mais estáveis e firmes o que explica a maior estabilidade e firmeza da espuma neste pH (KUROPATWA,2009).
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Fonte:http://adventuresinshaw.files.wordpress.com/2008/05/eggwhites-whipped-2.jpg, acessado em Agosto de 2022.
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Adiçãodesal(NaCl)
A adição de sal influencia a capacidade de formação de espuma das proteínas, pois o sal afeta a solubilidade, viscosidade, desdobramento e agregaçãodas proteínas (ZAYAS, 1997).
O sal aumenta o volume e a capacidade de formação de espuma da clara do ovo, porém, reduz a estabilidade desta. Este fato parece ser devido a cargas neutras de NaCl que podem abrigar as cargas das moléculas de proteína reduzindo a repulsão eletrostática entre as moléculas de proteína adsorvidas e não-adsorvidas facilitando assim, a adsorção na interface ar-água (RAIKOS et al., 2007; VACLAVICK &CHRISTIAN,2008).
PresençadeCobre
Espumas preparadas com íons cobre demoram mais a se formar, porém, são mais estáveis (FIGONI, 2007;SAGIS et al., 2001).
Tem sido sugerido que a conalbumina na presença de íons cobre Cu+2, se ligue a estes, formando o complexo cobre-proteína o qual é mais resistente a desnaturação superficial promovendo assim, certa proteção contra a batedura em excesso que levaria a formaçãodaespumaseca(COULTATE,2009).
Os íons cobre não possuem efeito sobre a estabilidade das espumas preparadas a partir do ovo em pó. Fato que provavelmente se deva à desnaturação parcial das proteínas durante o processo de secagem e tratamento térmico do produto(SAGIS etal., 2001).
CONSIDERAÇÕESFINAIS
A clara de ovo é um ingrediente largamente utilizado na indústria de alimentos devido às suas propriedades funcionais que permitem a elaboração de uma gama de produtos inovadores e menos calóricos.
A fabricação de produtos aerados responde por uma destas grandes utilizações industriais do albúmen. Diversos pesquisadores têm se dedicado ao estudo dos mecanismos de formação e estabilização da espuma e dos fatores que influenciam este mecanismo. Porém, muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas para que se consiga compreender definitivamentetodas as modificações
que ocorrem na clara durante a formação da espuma e que ferramentas utilizar para obter o máximodeformaçãoeestabilizaçãodesta.
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RESUMO
A exigência atual é por animais criados em condições de conforto ambiental e com estresse mínimo, procurando-se não elevar os custos de produção. Para os animais criados principalmente em confinamentos seria extremamente importante reduzir o estresse e melhorar a socialização do grupo, talvez reduzindo disputas e atitudes hierárquicas severas, considerados como vícios ou estereotipagens. Como resultado do estresse, os animais apresentam perdas no desempenho, menor ganho de peso e conversão alimentar com diminuição da imunidade, tornando-se mais susceptíveis a doenças e perda de qualidade de carcaça.
O triptofano vem sendo estudado não apenas como um aminoácido essencial e limitante para suínos, mas visandooseupotencialfisiológico,arespostade desempenho,asaúdeeobem-estar dos animais.
O triptofano é um aminoácido essencial, que além de participar na síntese proteica é utilizado pelo cérebro juntocom avitamina B3 aniacina ,paraajudar o corpo a produzir a serotonina, um neurotransmissor relacionado ao humor e bem-estar, além de ser um dos aminoácidos que estimula asecreção deinsulina edo hormôniodocrescimento.
O papel do triptofano vai muito além de sua participação na síntese proteica, estudo vem provando que ele é capaz de reduzir o estresse, e a sensibilidade dos animais, promovendo assim o bem-estar, também pode causar o aumento do apetite e consumo de ração, melhorando o desempenhogeral decrescimento.
Palavras-chave: nutrição, bem-estar, triptofano, suplementação
Triptofano participando do Bem-estar animal na dieta dos suínos
Nutrição, bem-estar, triptofano, suplementação
1*
Júlio Maria Ribeiro Pupa
Juliana Maria Freitas Teixeira2
1All Nutri LTDA - Viçosa-MG. *E-mail: ulio.pupa@allnutri.com.br.
2Nutritime LTDA. Viçosa-MG.
TRYPTOPHAN PARTICIPATING IN ANIMAL WELFAREINPIGDIETS
ABSTRACT
The current demand is for animals raised in conditions of environmental comfort and with a minimum of stress, trying not to increase production costs. For animals raised mainly in confinement, it would be extremely important to reduce stress and improve group socialization, perhaps reducing disputes and severe hierarchical attitudes, considered as vices or stereotypes. As a result of stress, the animals present performance losses, lower weight gain and feed conversion with reduced immunity, becoming more susceptible to diseases and loss of carcass quality.
Tryptophan has been studied not only as an essential and limiting amino acid for pigs, but also targeting its physiological potential, the performance response,the health and well-being of theanimals.
Tryptophan is an essential amino acid, which in addition to participating in protein synthesis, is used by the brain along with vitamin B3 niacin to help the body produce serotonin, a neurotransmitter related to mood and well-being, in addition to being a of amino acids that stimulates the secretion of insulin and growth hormone.
With the evolution of protein nutrition for poultry and swine, Nutritionists can create diets at lower costs assuming adequate levels of energy, essential and conditionally essential nutrients for maximum genetic expression of the animals and with the minimum effectontheenvironment.
Keyword: Nutrition, well-being, tryptophan, supplementation.
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INTRODUÇÃO
Uma grande contribuição para a evolução da nutrição proteica de aves e suínos foi a disponibilização econômica dos aminoácidos industriais, lisina, metionina, treonina, valina, isoleucina e o triptofano, assim como a determinação dos coeficientes de digestibilidade dos ingredientes e dos requerimentos nutricionais, permitindo aos nutricionistas formularem rações com menores níveis proteicos com possível melhoria nos custos deprodução.
O triptofano é um aminoácido necessário para o desenvolvimento dos animais jovens e para o balanço de nitrogênio em adultos, para a manutenção dos músculos e de outros compostos na manutenção da homeostase. Por ser um aminoácido essencial, ou seja, os organismos não conseguem produzir na necessidade de utilização, o triptofano deve ser obtido a partir da ingestão de alimentos.
Historicamente temos que o triptofano foi isolado pela primeira vez por Frederick Gowland Hopkins em 1901, através da hidrólise dacaseína; de 600 gramas de caseína pura, obtém-se de 4 a 8 gramas de triptofano ( Frederick Gowland Hopkins –Wikipédia, aenciclopédia livre(wikipedia.org)
O uso terapêutico do triptofano com humanos teve uma fase de intensa prescrição e até mesmo um período de proibição. Onde a indicação do triptofano seria absolutamente necessário para sintetizar todas as proteínas que o incluem em sua estrutura e, por meio de suas diferentes funções, permitindo regular os ciclos de humor, sono e vigília e uma ampla variedade de processos bioquímicos nos quais a NAD participa. Mas, além da função de deposição proteica, o triptofano está envolvido em várias vias metabólicas, tais como a serotonina, o ácido nicotínico eamelatonina.
Além dos efeitos conhecidos sobre o humor, a serotonina derivada do triptofano, está envolvida em múltiplas funções cognitivas relacionadas ao aprendizado e à memória que, portanto, também se relacionam aotriptofano.
Para os animais criados principalmente em confinamentos seriaextremamente importante reduzir
o estresse e melhorar a socialização do grupo, talvez reduzindo disputas e atitudes hierárquicas severas, considerados comovícios ouestereotipagens.
Sabemos que a prática do desmame precoce de leitões adotada nas granjas tecnificadas, acarreta como resultado animais expostos a vários fatores estressantes como: a mudança brusca na alimentação, de uma dieta líquida para sólida, a quebra do vínculo maternal e a troca de ambiente da maternidade para a creche, com falhas no controle ambiental, com exposição a patógenos e fatores anti nutricionais contidos na ração via os ingredientes, mistura de leitegadas e dificuldade de adaptação a bebedouros e comedouros,implicando na diminuição do consumo de ração e consequentemente problemas nutricionais pelo sistema gastrintestinal imaturo dos leitões. (PAJOR et al., 1991) (Gomes, L. M.2015).
Na formação de lotes homogêneos durante o desmame, os leitões são misturados a outras leitegadas quebrando a estrutura hierárquica mantida durante a fase de lactantes. A mistura de animais não familiarizados leva a interações agressivas até que se estabeleçam nova ordem social no grupo, contudo, essas interações podem ser muito violentas e persistentes, especialmente pelo fato de que os animais confinados não têm a possibilidade de fuga e evitar o confronto (FERNANDEZ et al., 1994; RUIS et al., 2000; RUIS etal.,2001).
A troca brusca do tipo de alimento mesmo com alguma adaptação, pode causar frustração e, consequentemente, afeta o estado de bem-estar. Numa revisão Gomes, L.M (2015) cita que o mais comum é conhecido como “belly-nosing”, em que o leitão mostra sua insatisfação fazendo movimentos com a cabeça em outro leitão, simulando a massagem pré-amamentação. No trabalho realizado por Poletto, R. et al. (2010), os leitões separados precocemente de suas mães demonstraram maior dificuldade em responder fisiologicamente a eventos estressantes com atitudes comportamentais.
Alguns estudos mostram que os cães com deficiências de triptofano são mais propensos a mostrar agressividade, depressão e mau humor. Assim,os cães queapresentem sinais de agressão
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ou ansiedade são muitas vezes tratados com Ltriptofano, o que reduz a agressão e aumenta o comportamentocalmo.
Referente a leitões recém-desmamados, se o triptofano é capaz de reduzir o estresse e a sensibilidade dos animais, também poderia causar o aumento no apetite e consumo de ração, melhorando o desempenho geral de crescimento (KOOPMANS et al., 2006).
Para que a suplementação de triptofano seja modeladora da resposta ao estresse e da sensibilidade dos animais, são necessárias doses bem acima do que é recomendado (KOOPMANS et al., 2005; GUZIK et al., 2006), em compensação
MEUNIER-SALAÜN et al. (1991) cita que sua suplementação na dieta em doses normais que apenas atendam às exigências nutricionais ocasiona efeitos mais discretos ou ausência deles.
Entretanto, apesar de alguns metabólitos do triptofano terem ações desejáveis, alguns outros são conhecidos por serem tóxicos ou por aumentarem o estresse oxidativo (LE FLOC’H et al., 2011), pois uma das funções mais importantes fisiológicas do triptofano ésuautilização nasíntese de proteínas.
Em suínos jovens em crescimento, 54% do triptofano ingerido na dieta foi retido na proteína corporal quando o triptofano foi fornecido abaixo da exigência, mas essa proporção diminuiu quando a oferta excedeu a exigência (SAWADOGO et al., 1997). Para leitões é normalmente o quarto aminoácido limitante nas rações a base de milho e farelo de soja comumente usadas no Brasil (NOGUEIRA etal., 2012).
De acordo com um estudo realizado por cientistas e colaboradores do Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS) do USDA com dietas de fêmeas suínas jovens suplementadas com o aminoácido triptofano, este melhorou o comportamento geral entre as marrãs, reduziu a agressão e facilitou o manejo, duranteum estudodeoito meses.
Segundo Poletto, R. (2010), a dieta suplementada com triptofano aumentou as concentrações sanguíneas de triptofano em marrãs de 3 meses de
idade. O resultado foi animais mais calmos, principalmente na idade mais jovem. Pois uma agressão prolongada contínua causa um estresse crônico, levando a um pior bem-estar, aumento da suscetibilidade à doença e redução do crescimento e eficiência.
No Quadro 01 encontram as indicações dos níveis de triptofano recomendados com base na proteína ideal, tendo como referência a relação com a lisina em 100%, segundo as Tabelas Brasileiras (2017) e os manuais das genéticas suínas cujos valores, apesardepróximos,possuem algumas divergências.
QUADRO 01 - Porcentagem de triptofano recomendado para cada fase da criação de suínos, sugerido pelas Tabelas Brasileiras (2017) e os manuais dealgumas genéticas
Os percentuais de triptofano em relação a lisina nas Tabelas Brasileiras (2017) são crescentes em função da idade, de leitão ao suíno terminado. O manual da Choice (2016) também recomenda de forma semelhante às Tabelas Brasileiras (2017), porém com percentuais menores. As recomendações em percentuais das genéticas Agroceres PIC (2017) e da Topigs (2018) possuem comportamento decrescente e iguais com avançar da idade dos suínos.
No estudo realizado por Poletto, R. et al. (2010), a dieta continha 2,5 vezes mais a quantidade normal de triptofano,onde foram suplementados tanto para
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suínos reprodutores como terminados durante uma semana e acompanhado de um controle com a dieta normal. A atividade comportamental e a agressividade foram medidas antes e após os sete dias desuplementação.
Para testar a agressão, os pesquisadores colocaram um suíno "intruso" na baia até que um evento agressivo ocorresse ou cinco minutos se passassem. Os suínos que receberam a dieta rica em triptofano mostraram-se menos agressivos e com menos ataques ao intruso, e aqueles que atacaram foram mais lentos para fazê-lo, em comparaçãocom os suínos nãosuplementados.
Podemos também dizer que além de melhorar o consumo e o desempenho dos animais, o triptofano sintético tem sido adicionado em rações de engorda dos suínos para melhorar a qualidade da carne, por diminuir a resposta do animal ao estresse no abate e consequentemente a carne do tipo PSE, cor clara, textura mole e baixa retenção de água (PETHICK et al.,1997).
A melhoria na qualidade da carne com a adição de triptofano sintético ocorre devido à competição do triptofano com a tirosina, pelo mesmo sítio de ligação na barreira hemato encefálica. Assim, os produtos da tirosina, principalmente a epinefrina, que é responsável pela manifestação do estresse ao abate, não será liberada em concentrações suficientes para o animal manifestar o estresse, resultando em menor incidência de metabolismo anaeróbico e, portanto, menor liberação de lactato nomúsculo(CASTILHO, L. D.,2015).
A alta concentração de proteína bruta na dieta resulta em excesso de aminoácidos neutros de cadeia longa (valina, leucina, isoleucina, fenilalanina e tirosina), que competem com o triptofano pelos mesmos sítios de absorção nas membranas celulares, tanto a nível intestinal como cerebral. Segundo Henry et al. (1992) essa relação entre o excessode aminoácidos neutros decadeia longa e o triptofano no plasma influencia a síntese de serotonina no hipotálamo, tendo como consequência uma menor quantidade de serotonina produzida no cérebro,diminuindoassim oconsumovoluntário.
Uma outraparticularidade encontrada parao tripto-
fano, porém citada como menor frequência é que o triptofano desempenha importantes papeis estruturais e funcionais a exemplo, como componente das α-hélices que ancoram proteínas que estão inseridas na membrana plasmática, formando proteínas de canais de passagens, de transferência e enzimas inseridas nas membranas inclusivedas mitocôndrias.
Outro item importante é a formulação com base na proteína ideal, que deve suprir as exigências dos 20 aminoácidos, tanto os essenciais e os não essenciais, permitindo a redução do nível de proteína bruta da dieta sem que ocorram perdas no desempenho animal, reduzindo a excreção de nitrogênio no meio ambiente e reduzindo o custo das dietas.
Todavia, segundo D’Mello (2003) dependendo da dieta, o triptofano pode ser considerado como terceiro limitante para aves e suínos, após a metionina e a lisina. Ao contrário da lisina, que é principalmente utilizada para a deposição de proteínas (ganho de peso), o triptofano está envolvido em várias vias metabólicas, sendo a regulação do apetite a mais importante para a produçãode suínos.
Entretanto, considera-se o triptofano o quarto aminoácido limitante em dietas práticas à base de cereais para leitões e suínos em crescimento, depois delisina,metionina +cistinaetreonina.
Para ajudar a prevenir vícios de comportamento e alcançar o desempenho esperado, quantidades mínimas de nutrientes específicos devem ser utilizadas nas dietas. Pois estímulos de vícios causados por nutrição podem ocorrer principalmente quando os níveis de aminoácidos, sódio e/ou fósforo não estão adequados ou o nível de ingredientes e subprodutos utilizados são mudados rapidamente na formulação.
Sabemos que a falta de ração ou restrições alimentares podem ser fatores de risco para vícios de comportamento. Esses riscos ocorrem tanto com as reprodutoras comocom os animais deengorda na atualidade, em decorrência do sistema de gaiolas e de baias coletivas para reprodutoras e a alta densidadepraticadacom animais deengorda.
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Fêmeas suínas que perdem peso na gestação por terem sido subalimentadas, apresentam maior frequência de comportamentos estereotipados, maiores chances de falhas reprodutivas, maior intervalo para retorno ao cio, menor sobrevivência embrionária e tendem a permanecer visivelmente abatidas.
CONSIDERAÇÕES
Extremamente importante seguir as recomendações zootécnicas e nutricionais conhecidas e utilizadas com êxito, como também mediante desafios usar e avaliar as sugestões pesquisadas para corrigir os problemas.
No caso a suplementação adequada do triptofano deve ser acompanhada de uma boa suplementação de vitaminas coadjuvantes como a niacina, vitamina B3, para além de reduzir o estresse e reações de estereotipagem promover o bom desempenho aos animais.
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