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Fernando Queiróz de Almeida da em qualquer meio de comunicação, seja eletrônico ou José Luiz Domingues impresso, sem a sua devida citação.
Sumário ARTIGOS 570 – Coturnicultura: ovo e seus benefícios.................................................................................................................9199 Pedro Afonso de Souza Ezidio 571- Fibra na alimentação de monogástricos 9204 Juliana Maria Freitas Teixeira 572 – O básico sobre a produção, transporte e utilização de ácidos graxos voláteis (AGVs) 9209 Júlio Maria Ribeiro Pupa, Luciana Navajas Rennó
Coturnicultura: ovo e seus benefícios
Eficiência, produção, qualidade
Pedro Afonso de Souza Ezidio*
Mestre em Produção Animal; Universidade Estadual de Maringá, Maringá/PR. *
E-mail: pedroafezidio@outlook.com
RESUMO
O ovo é um alimento nutricionalmente completo, com elevado valor nutritivo e que apresenta baixo custo. Existe um alto crescimento em relação ao consumo dos ovos de codornas, estando relacionado a diversos fatores. Com isso foi realizado uma pesquisa com base em documentos digitais afim de abordar e conhecer sobre a coturnicultura, objetivando contribuir com uma revisão sobre o ovo decodorna e seus benefícios.
Palavras-chave: eficiência, produção,qualidade
Revista Eletrônica
Vol. 20, Nº 02, mar/abr de 2023
ISSN: 1983-9006 www.nutritime.com.br
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COTURNICULTURE: EGG AND ITS BENEFITS ABSTRACT
The egg is a nutritionally complete food, with high nutritional value and low cost. There is a high growth in relation to the consumption of quail eggs, which is related to several factors. With this, a research based on digital documents was carried out in order to approach and know the coturniculture, aiming to contribute with a review on the quail egg and its benefits.
Keyword: efficiency, production, quality.
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INTRODUÇÃO
A coturnicultura é um segmento destinado à criação de codornas, seja para fins comerciais ou para o consumo próprio. As codornas são originárias do norte da África, da Europa e da Ásia, pertencendo à família dos Fasianídeos (Fhasianidae) e à subfamília Perdicinidae, e do gênero Coturnix, são de rápido crescimento, com precocidade na produção e maturidade sexual (35 a 42 dias), utilizam-se de pequenos espaços para grandes populações e apresentam baixo investimento em relação a outras aves. A atividade vem apresentando um desenvolvimento acentuado nos últimos anos, passando a ser considerada altamente tecnificada, com resultados promissores. No Brasil, a criação de codornas é rentável, porém acaba sendo limitado pelos matrizeiros devido aos seus incrementos anuais (BERTECHINI, 2010).
Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019) o plantel de codornas em 2018 alcançou a marca de 16,8 milhões de cabeças, um aumento de 3,90%, frente a 2017; enquanto a produção de ovos caiu 2,1%. A maior concentração de aves está localizada naregião Sudeste, responsávelpor 64%.
O ovo de codorna varia de 7 a 15g representando em média, 8% do peso da codorna, aproximadamente um quinto do tamanho do ovo de galinha. O crescimento constante do consumo dos ovos de codornas pode estar relacionado a fatores, como: comercialização de ovos industrializado, mudanças sociais e de hábitos da população e melhor informação da qualidade do produto. Atualmente, cerca de 28% dos ovos de codornas consumidos são em conserva, 71% in natura e apenas 1% deoutras formas (BERTECHINI, 2010).
Dentre desse contexto, nota-se a importância de se conhecer sobre a coturnicultura. Logo, o objetivo desse trabalho foi de contribuir com uma revisão na literatura sobre o ovo de codorna e seus benefícios.
Metodologia
A metodologia empregada nesse estudo foi através de revisão de literatura desenvolvida seguindo os preceitos do estudo exploratório, sob a produção de
produção de ovos de codornas e seus benefícios. A pesquisa foi realizada com base e documentos digitais como: artigos de revista científica em inglês, espanhol e português, nas bases de dados disponíveis. A busca foi realizada nos seguintes campos: título, resumo e descritores. Os critérios de inclusão foram: periódicos sobre produção, coturnicultura, ovos, composição na área temática das Ciências agrarias eda saúde.
Resultados e Discussão
Composição e valor nutritivo do ovo
O ovo é um alimento nutricionalmente completo, com elevado valor nutritivo, que apresenta baixo custo em relação as outras proteínas, o tornando mais acessível. O ovo de codorna tem forma ovalarredondada, em média 2,5cm de largura e 3 de comprimento, seu preso pode variar de 7 a 15g, a casca tem cerca de 0,183 milímetros de espessura (MENDONÇA, 2020; SEVERO, 2019).
O ovo é constituído por quatro partes principais (Figura 1) casca, membrana da casca, gema e albúmen. Além disso, possui outras partes em menor proporção; o disco germinativo, a calaza, a câmara de ar, a cutícula e as membranas da casca (SANTOSet al., 2016).
FIGURA 1. Diagrama indicando as estruturas do ovo e respectiva legenda.
A casca do ovo é importante para manter a qualidade do ovo, sendo composta predominantemente por carbonato de cálcio (98%) e uma matriz de glicoproteína (2%), possui poros que possibilitam as trocas gasosas entre o ovo e o meio ambiente, os poros são protegidos por uma cutícula compostadecera, impedindoa perda de águae pe-
Artigo 570 – Coturnicultura:
e
benefícios
ovo
seus
Fonte: Adaptado USDA (2000)
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n.2, p.9199-9203, mar/abr , 2023. ISSN: 1983-9006 9200
on-line,
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Coturnicultura: ovo e seus benefícios
netração demicrorganismos (ALCÂNTARA, 2012).
A gema é composta por lipídios, proteínas, vitaminas, minerais e água. Sendo que a maior parte dos lipídeos está sob a forma de lipoproteínas que formam complexos com cálcio e ferro, dando assim a cor amarela da gema (SOUSA-SOARES & SIEWERD, 2005). A gema consiste em frações granulares suspensas em uma fase contínua, não sendocompletamente homogênea(VILLELA, 1998).
O albúmen é composto basicamente por combinações entre proteínas e água, possui índice baixo de gordura, seu consumo é muito receitado para o consumo em dietas de baixa calorias. Possui três frações de diferentes viscosidades: uma fração externa que corresponde cerca de 23% da clara sendo essa mais fina e fluida, uma intermediária que corresponde a 57% sendo espessa e densa, e uma fração interna com a mesma característica da externa que representa 20%. A viscosidade presente no albúmen acaba sendo outra maneira de proteção contra a entrada de microrganismos. O albúmen é formado em poucas horas e representa cerca de 60% do peso total do ovo. Essa estrutura tem cerca de 13,5% de proteínas em sua composição, vitaminas do complexo B e traços de gordura e em sua maioria representando cerca de 88,5% água (ALCÂNTARA, 2012).
Os ovos de codorna possuem um alto teor de nutrientes (Tabela 1), são fontes de proteína, ferro, manganês, cálcio, cobre, fósforo, e vitaminas A, B1, B2, D, E, H, fator PP, ácido pantotênico e piridoxina sendo semelhante com o de galinha, porém, o ovo de codorna possui a vitamina C em maiores quantidades que o ovo de galinha (SEVERO, 2019).
Os minerais disponíveis cálcio, ferro, magnésio, fósforo, selênio, sódio e zincos são essenciais à manutenção dos tecidos do corpo humano, como, por exemplo, o sistema músculo-esquelético e compõe diversos sistemas enzimáticos que garantem as funções vitais, tais como: digestão, absorção, e manutenção do sistema nervoso central. (CHAMBERS et al., 2014). Fósforo, cálcio e ferro estão em maior concentração na gema, enquanto na clara estão o sódio e potássio (USDA, 2012). De acordo com pesquisas na faculdade Unicamp o ovo decodorna ainda é rico em proteína Ae D, zinco e
selênio, além de ajudar no sistema imunológico e cardiovascular (ZANIN, 2019).
TABELA 1. Composição Nutricional por 100g de alimentocru*
Devido a esses benefícios, o consumo de ovos de codorna tem apresentado crescimento no Brasil, o que vem garantindo acesso aos produtos dessa área, seja pela baixa no preço dos produtos ou pelo ganho de novos hábitos alimentares (PASTORE et al., 2012).
Qualidade dos ovos
A legislação brasileira determina condições mínimas internas para ovos, sendo os ovos para consumo humano classificados em duas diferentes categorias:
“A” e “B”. Ovos da categoria “A” devem apresentar casca e cutícula de forma normal, lisas e limpas, gema visível a ovoscopia; clara límpida, translúcida, consistentes, sem manchas ou turvação. Os ovos da categoria “B” são destinados somente a industrialização, pois não se enquadram nacategoria “A”(BRASIL,2017).
A qualidade física do ovo é um atrativo ao consumidor e engloba diferentes relacionados a três componentes principais: o albúmen, a gema, e a casca. Inúmeros fatores definem a qualidade do ovo, entre eles pode citar-se: o peso, altura da câmara de ar, espessura e resistência da casca, espessura do albúmen, índice de gema e Unidade Haugh (QUEIROZ et al., 2016).
As características do ovo são influenciadas por fatores extrínsecos às aves como: temperatura, umidaderelativa do ar, duraçãoecondições
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Informação Nutricional Ovos de codorna Caloria (Kcal) 177 Proteína(g) 13,7 Gordura Total(g) 12,7 Carboidrato (g) 0,8 Colesterol(mg) 568 Cálcio (mg) 79 Fósforo (mg) 279 Ferro (mg) 3,3 Zinco (mg) 2,1 VitaminaA(mcg) 305
10 unidades
*aproximadamente
9201
de esto-
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cagem. Além desses também existem os fatores intrínsecos às aves como: linhagem, idade da poedeira, condição nutricional e sanitária do animal (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2013). A avaliação da casca é o principal método de avaliação de qualidade externa do ovo, sendo esta a porta de entrada para patógenos (VASCONCELOS, 2018).
Em relação aos fatores extrínsecos às aves, a temperatura de armazenamento é um fator que altera a qualidade dos ovos. Para que se obtenha um aproveitamento maior do valor nutricional dos ovos, preconiza-se que os ovos sejam conservados de maneira correta durante todo período de armazenamento e comercialização. Entretanto, a legislação brasileira não obriga a refrigeração de ovos, sendo esta realizada apenas pelo consumidor final (LANA et al., 2017). Estudos demonstram que ovos armazenados por mais tempo e em temperatura ambiente sofrem maiores alterações na qualidade do ovo (ARRUDA et al., 2019; LANA et al., 2017).
Consumo de ovos de codorna no Brasil Existe um crescimento constante no consumo dos ovos de codorna dos últimos anos que podem estar associados a fatores como:
- Aumento da produção, que reflete no preço do produto, tornando-o mais acessível às diferentes classes sociais.
- Mudanças sociais ede hábitos da população,
- Comercialização: Ovos in natura e industrializados
- Melhor conhecimento da qualidade do produto (BERTECHINI, 2010).
Além dos benefícios do consumo que podem ser listados como:
- Ajuda a prevenir a anemia, por ser rico em ferro e ácidofólico;
- Contribui para a formação de glóbulos vermelhos saudáveis, por ser rico em vitamina B12;
- Aumentaamassa muscular, devido ao teor em proteínas;
- Ajuda a melhorar a memória e a aprendizagem, por ser rico em colina, um nutriente essencial para o sistema nervoso;
- Contribui para uma visão saudável e para promover o crescimento em crianças, devido à vitaminaA;
Fortalece os ossos e os dentes, por conter vitamina D, que favorece a absorção de cálcio e fósforo (LOPES, 2019).
Devido ao seu reduzido tamanho, o ovo de codorna tem conquistado a simpatia das crianças, adolescentes e adultos, e associado às maneiras inteligentes de apresentação, também impulsionaram a elevação do consumo de ovos, e consequentemente, sua produção. Atualmente, cerca de 28% dos ovos de codornas consumidos são em conserva, 71% in natura e apenas 1% de outras formas deconsumo (BERTECHINI, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A coturnicultura é uma atividade produtiva e economicamente rendável, e vem apresentando um crescimento consistente ao longo dos anos. O consumo de ovo de codornas está em expansão, por ser um alimentonutricionalmentecompleto, capazde fornecer proteínas, vitaminas, minerais que nosso organismo necessita, apresentando um sabor diferenciado e versátilna suautilização.
REFERÊNCIAS
ALCÂNTARA, J. B. Qualidade físico-química de ovo comerciais: Avaliação e manutenção da qualidade. 2012.
ARRUDA, M.D. et al. Avaliação de qualidade de ovos armazenados em diferentes temperaturas. Revista Craibeiras de Agroecologia,[S.l.], v. 4, n.1, p.76-81. 2019.
BERTECHINI, A.G. Situação atual e perspectivas para Coturnicultura no Brasil. In: Simpósio Internacional e III Congresso Brasileiro deCoturnicultura. 2010. Lavras: Anais. Lavras –MG, 2010.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 mar. 2017. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2017/Decreto/D9013.htm#art541.2016.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
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Coturnicultura: ovo e seus benefícios
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Disponível em <http://www.agricultura.gov.br> . 2019.
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LOPES, N. Revista vitat https://vitat.com.br/ovo-decodorna/. 2019.
MENDONÇA, M. O. Ovos de codorna: nutrição e ambiente influenciam a qualidade da produção. ICCBRAZIL. http://www.iccbrazil.com/ovos-de-codornanutricao-e-ambiente-influenciam-a-qualidade-daproducao/.2020.
PASTORE, S. M. Panorama da coturnicultura no Brasil. Revista Eletrônica Nutritime. Artigo 180, v. 9, n. 2041-2049, 2012.
QUEIROZ, L. M. S. et al. Qualidade de ovos de sistemas convencional e cage-free armazenados sob temperatura ambiente. In: X simpósio de pós-graduação e pesquisa em nutrição e produção animal, 2016, Pirassununga. Anais. Pirassununga: Editora 5D, p. 290-305.
2016
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SEVERO, T. I. M. Exigência de lisina digestível paracodornas europeias (Coturnix coturnix SP) em postura. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia). Universidade Federal Rural de Pernambuco, Serra Talhada –PE. 2019.
SOUZA-SOARES, L. A.; SIEWERDT, F. Aves e ovos. Pelotas: Ed. da Universidade UFPEL, 138 p., 2005.
TACO. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. NEPA, Campinas, http://www.nepa.unicamp.br/taco/tabela.php?ativo =tabela.2011.
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VASCONCELOS, L. A. S. Avaliação da qualidade microbiológica e físico química de ovos comercializados em Manaus, AM. 2018. 53 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) –Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2018.
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Artigo 570 – Coturnicultura: ovo e seus benefícios
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Fibra na alimentação de monogástricos
Dieta, fibra, monogástricos
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RESUMO
Mudanças nos sistemas de produção animal e regulamentos de alimentação que visam reduzir ou banir o uso de antibióticos utilizados como promotores de crescimento geraram a necessidade de identificação de novas estratégias visando a otimização da modulação de flora intestinal de maneira eficaz.
A inclusão de fibra dietética na dieta de monogástricos tem sido feita com alguns sucessos em substituição ao uso de antibióticos promotores de crescimento. Por muito tempo a fibra foi considerada como ingrediente indesejável na dieta de monogástricos, atualmente ela vem sendo estudada visando os benefícios na saúde do trato gastrointestinale nodesempenho animal.
Estudos tem demonstrado que quando as fibras são determinadas de forma correta e adicionadas em quantidades adequadas, os efeitos deste nutriente trazem vários benefícios aos animais.
Palavras-chave: dieta,fibra, monogástricos
Juliana Maria Freitas Teixeira*
FIBER IN THE FOO OF MONOGASTRICS ABSTRACT
Changes in animal production systems and in food regulations that aim to reduce or prohibit the use of antibiotics used as growth promoters have generated the need to identify new strategies that aim to effectively optimize the modulation of the intestinal flora.
The inclusion of dietary fiber in the monogastric diet has been used with some success as a substitute for the use of growth-promoting antibiotics. For a long time fiber was considered an undesirable ingredient in the diet of monogastrics, currently it has been studied aiming at the benefits in the health of the gastrointestinaltract andanimalperformance. Studies have shown that when fiber is dosed correctlyand added in adequate amounts, the effects of this nutrient bringmanybenefits to animals.
Keyword: diet, fiber, monogastric
Me. Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa, UFV-Viçosa, MG. E:mail:juliana.teixeira@nutritime.com.br.
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na alimentação de monogástricos
INTRODUÇÃO
A fibra alimentar começou a ser estudada em meados de 1885, quando era considerada apenas como um componente alimentar sem valor nutritivo, que favorecia o peristaltismo no trato digestivo de humanos, aumentando assim o bolo fecal (POURCHET-CAMPOS, 1990). No entanto, mais recentemente, trabalhos vêm demonstrando a importância da fibra, tanto na nutrição humana como animal.
A fibra não é uma substância química específica, é constituída por carboidratos, especialmente celulose e hemicelulose que juntamente com a lignina, forma a parede celular dos vegetais, que não pode ser digerida pelas enzimas digestivas dos mamíferos, porém, é susceptível a degradação em intensidade variável pelos microrganismos intestinais.
Até bem pouco tempo, a adição de fibra nas dietas sempre foi avaliada com preocupação por parte dos nutricionistas de monogástricos. Vários trabalhos, até o final da década de 90 foram realizados e mostravam o efeito indesejável do uso de fibras na dieta de monogástricos, principalmente o seu efeito diluidor de energia.
Estudos mais recentes têm demonstrado que a fibra pode ser usada na dieta de monogástricos e que ela traz muitos benefícios para essa classe de animais. Estudos realizados por Jha et al., 2019 demonstraram efeitos positivos do uso de fibra na manutenção da saúde intestinal de monogástricos. Sabe-se que a fibra dietética estimula o crescimento de bactérias intestinais que promovem a saúde. Um bom desempenho animal, a eficiência alimentar e a saúde em geral dos animais está diretamente ligada a um corretoequilíbrio do intestino.
Mas oquemudou?
Nos últimos anos, com o conhecimento do padrão de fermentação da fibra dietética, bem como do conhecimento das frações desta fibra, mediante ao avanço de mecanismos de identificação destas frações de fibra e com o desenvolvimento de aditivos nutricionais capazes de incrementar seu aproveitamento como um modulador de uma comunidade intestinal específica, o uso destaclasse nutricional vem tomandocada vezmais espaço em
pesquisas científicas ( apud RICKE et al., 2020; JHA & MISHRA, 2021, TEJEDA & KIM, 2021). Portando os efeitos negativos da fibra na alimentação de monogástricos podem estar relacionados à quantificação errônea dessa fração, uma vez que algumasmetodologias subestimam aquantidade real de fibra alimentar presente nos alimentos, por consequência a quantidade realmente adicionada às dietas são extremamente altas. Quando determinadas de forma correta e adicionadas em quantidades adequadas, os efeitos desse nutriente trazem vários benefícios aos animais.
Os ingredientes usualmente utilizados na formulação das dietas para monogástricos contêm fibra alimentar em sua constituição, porém o que determina os efeitos causados pelo consumo destes são sua composição, origem, estrutura química e propriedades físico-químicas. Além disso, algumas frações de fibra específicas podem ser isoladas e suplementadas às dietas, mas nem sempre seus efeitos são claros ou equivalentes à mesma quantidade dessa fração, fornecida via ingrediente natural. As frações de fibra mais utilizadas e estudadas para animais monogástricos são: βglicana; Mananas; Frutanas; Gomas e mucilagens. Além dessas frações de fibra, outros componentes menos estudados para monogástricos, como as pectinas e amido resistente, podem exercer efeitos positivos quando adicionadas as dietas.
A utilização de fibras na alimentação de monogástricos tem que começar pela sua correta quantificação e qualificação na dieta, considerando aspectos de solubilidade e características físicoquímicas para que desta forma seja aproveitada de forma positiva pelos animais.
REVISÂO BIBLIOGRÁFICA
A inclusão de fibra dietética (DF) na dieta de monogástricos tem sido feita com alguns sucessos em substituição ao uso de antibióticos promotores de crescimento. A fibra dietética estimula o crescimento de bactérias intestinais que promovem a saúde, são fermentadas na porção distal do intestino delgado e intestino grosso em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e têm efeitos benéficos sobre o sistema imunológico.
Alimentos alternativos e coprodutos são tipicamente
Artigo 571 –
Fibra
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ricos em fibras e podem ser usados nas dietas para reduzir os custos de alimentação e otimizar a saúde intestinal.
As empresas de genética já consideram a fibra essencial para o desenvolvimento do potencial genético das aves e suínos com eficiência. É preciso então escolher com critérios a fonte de fibra e a quantidade a ser utilizada na nutrição de monogástricos, que trará benefícios na saúde do tratogastrointestinal eno desempenho dos animais.
A composição das dietas possui grande influência sobre a saúde do intestino dos animais, incluindo efeitos sobre a proliferação de bactérias benéficas e patogênicas. Nesse caso, a fibra alimentar é o componente da dieta com maior importância nesse aspecto (MONTAGNE et al., 2003), uma vez que seu consumo traz vários efeitos benéficos que podem ser comparados àqueles proporcionados pelos prebióticos comerciais usualmente adicionados a dietas desuínos, aves epeixes.
Adorian et al. (2015) questionaram o efeito da fibra alimentar em dietas para peixes, constatando que essa fração pode melhorar o desempenho animal, atuando como promotor de crescimento. Da mesma forma, Goulart et al. (2015) demonstraram que diferentes concentrados de fibra alimentar suplementados a dietas de jundiás (Rhamdia quelen) proporcionam efeito semelhante ao proporcionado pela utilização de pre-bióticos comerciais.
Segundo Schwarz et al. (2010), a inclusão de mananoligossacarídeos (MOS) reflete em melhores resultados de conversão alimentar, taxa de eficiência proteica, teores de proteína e extrato etéreo na carcaça e altura das vilosidades intestinais em juvenis de tilápias do nilo. Alguns pesquisadores demonstraram que a passagem desses pelo lúmen intestinal provoca um potente estímulo do sistema imunológico inato na mucosa 148 intestinal (JOHNSON &GEE, 1986; ROSS etal., 2002.).
A inclusão de níveis moderados de fibra na dieta tem sido uma alternativa para melhorar o desempenho das aves sem utilização de promotores de crescimento(GONZÁLEZ-ALVARADO et al., 2007).
Para frangos de corte, estudos mostram que o MOS pode melhorar o desempenho produtivo (FRITTS & WALDROUP, 2003; HOOGE et al., 2003; JAMROZ et al., 2004; SIMS et al., 2004) e o rendimento de carcaça (DEMIR et al., 2001), através de seus efeitos positivos sobre a microbiota intestinal e sistema imune e por diminuir a colonização de bactérias patogênicas, uma vez que essa suplementação pode aumentar a população cecal de lactobacilos e de bifi dobactérias e reduzir a concentração de Escherichia coli (BAURHOO et al., 2007).
Segundo González-Alvarado et al. (2007), a inclusão moderada de 3% de casca de soja ou casca de aveia na dieta de frangos de corte de 1 a 21 dias de idade resultou no aumento de peso do trato digestório, moela, ceco e redução do pH da digesta na moela. Ainda segundo os autores, o emprego moderado de fibra nas dietas pode melhorar o desempenho de frangos de corte nas primeiras semanas de vida em razão da redução do pH na moela que melhora a utilização dos nutrientes. Clemente(2015) verificou que os pesos doceco e do intestino grosso foram aumentados com a elevação dos níveis de fibra (3,0; 3,5 e 4,0%). Segundo o autor esse aumento está relacionado com a elevação da atividade fermentativa da fração fibrosa, visto que esta é a principal função destes órgãos nas aves. Os pesquisadores verificaram ainda, que uso de fibra dietética de até 4% melhora o pH da moela e aumenta o comprimento total do intestino até os 21 dias de idade dos frangos de corte o que pode ser indicativo de melhorias na capacidade digestiva e, absortiva destas aves.
A otimização da produção de suínos trouxe consigo animais mais eficientes, exigindo assim não só ajustes no manejo, mas também reajustes nutricionais, uma vez que esses são animais mais selecionados e apresentam uma maior exigência, ocasionado pela hiperprolificidade das matrizes e a busca por melhor desempenho dos leitões na fase pós-desmame.
Estudos com o uso de fibra na alimentação de suínos tem demonstrado efeitos positivos mostrado efeitos positivos, apresentando uma excelente solução
Artigo 571 – Fibra na alimentação de monogástricos
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Artigo 571 – Fibra na alimentação de monogástricos
para obter resultados ainda melhores na produção animal. Quando fibras alimentares são adicionadas à ração de fêmeas suínas, há uma melhora nos parâmetros reprodutivos, como a redução do tempo de parto. Ainda, podem promover o bem-estar das leitoas, equilibrando a taxa hormonal, auxiliar no controle do ganho de peso, mantendo o escore corporal adequado, e aumentar a produção do leite. Estudos avaliando o efeito da inclusão de fibra dietética em fêmeas suínas, relataram benefícios sobre o desempenho da fêmea e da leitegada (WILLIANSet al., 2017).
O uso de fibra na alimentação de suínos promove o aumento da saciedade pós-prandial, alivia a tenção nervosa dos animais, principalmente quando se trata de gestação, onde os animais normalmente recebem poucos arraçoamentos durante o dia (TIAN et al., 2020). Shang et al. (2019), citam que fêmeas que receberam fontes de fibras (10% de fibra de milho, 10% de fibra de soja, 10% fibra de farelo de trigo ou 10% de fibra de ervilha), na dieta obtiveram menor perda de peso na gestação e lactação, sendo essencial para os próximos ciclos das matrizes, pois a queda de glicose no sangue dos animais, favorece a gliconeogênese hepática, fazendo com que ocorra desvio de nutrientes dos animais, afetando a deposiçãode reservas para apróxima lactação.
Em 2017, Feyera e colaboradores avaliaram a adição de fontes de fibra na ração de fêmeas na fase de gestação. No momento do parto, as fêmeas que receberam a inclusão de fibra na dieta tiveram menor número de leitões natimortos, favorecendo o aumento no índice leitões/desmamados/fêmea. Li et al. (2020), relataram efeito da fibra sobre a diminuição do tempo de parto, garantindo maior número de leitões nascidos vivos, em função da diminuição de problemas associados a constipação intestinal. O mesmo autor, em 2021, analisou a inclusão de fibras na dieta para fêmeas suínas sob três ciclos reprodutivos sucessivos, com dois tratamentos dietéticos, sendo dieta basal à base de farelo de milho e soja, e dieta rica em fibras, contendo inulina e celulose. Ao término do estudo, observou-se que fêmeas alimentadas com dietas contendo inclusão de fibra apresentaram melhores resultados para os índices de leitões nascidos vivos, pelo de leitegada, peso das placentas, ingestão de
ração na lactação, duração do parto reduzida e menor intervalo de nascimento.
CONSIDERAÇÃO FINAL
O uso de fibra na alimentação de monogástricos traz efeitos benéficos para os animais, no entanto é de suma importância a determinação dos níveis de inclusão assim como os tipos defibras utilizados.
Mais estudos são indispensáveis para elucidar o melhor nível de inclusão em função da seletividade damicrobiota intestinal de cada animal.
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Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa,
mar/abr., 2023. ISSN: 1983-9006 9208
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voláteis (AGVS)
Júlio
Maria Ribeiro Pupa1*
Luciana Navajas
Rennó2
1 All Nutri LTDA - Viçosa-MG. *E-mail: ulio.pupa@allnutri.com.br.
Nos ruminantes os alimentos consumidos são fermentados no rúmen antes da digestão gástrica e intestinal e a eficiência desta fermentação está atrelada ao aproveitamento dos ingredientes da dieta pelo animal. A qualidade e quantidade dos produtos da fermentação são dependentes do tipo e atividade dos microrganismos do rúmen, esse fato revela a importância da microbiota ruminal e o entendimento deste ecossistema tão diverso (RUSSELL et al., 1992).
O papel da fibra na manutenção das condições ótimas do rúmen é aceito pela maioria dos cientistas e nutricionistas. A fibra da dieta afeta profundamente as proporções dos ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen e estimula a mastigação (WELCH & SMITH, 1970; SUDWEEKS et al., 1981; BEAUCHEMIN, 1989).
Os ácidos graxos voláteis - AGVs contêm entre um a sete átomos de carbono, como compostos de cadeia ramificada ou não, os quais incluem os ácidos fórmico, acético, propiônico, butírico, isobutÍrico, valérico, isovalérico, 2-metilbutirico, hexanóico e heptanóico. Todos são produzidos junto com pequenas quantidades de outros compostos orgânicos, tais como metano, dióxido de carbono, lactato e álcool; em várias partes do trato gastrintestinal de humanos edos animais por meio
Revista Eletrônica
Vol. 20, Nº 02, mar/abr de 2023
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de processos de fermentação microbiana (BERGMAN, 1990).
Em 1977, Prins citado por Van Houtert (1993), relatou que a principal fonte de energia para o metabolismo celular microbiano, consiste em ligações fosfatadas principalmente oriundas do ATP. Como a degradação completa do substrato em CO2 e H2O é impedida em virtude das condições anaeróbicas do rúmen, a fermentação do substrato é o mecanismo pelo qual o ATP é produzido por meios dereações de óxido-redução.
Os ácidos acético, propiônico e butírico são as formas predominantes de AGVs e são produzidos principalmente a partir da fermentação de materiais vegetais, tais como celulose, fibra, amido e açucares (BERGAMAN, 1990).
A fermentação ruminal das hexoses resulta na produção dos ácidos graxos voláteis, nomeados de acetato, propionato e butirato e a liberação de gases como dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4). O estudo de formação dos ácidos graxos voláteis teve grande evolução com o desenvolvimento da técnica de cromatografia para a separação dos ácidos (VAN SOEST, 1994).
Os AGVs constituem a maior fonte de energia para os ruminantes e foi estimado que fornecem em torno
O básico sobre a produção, transporte e utilização de ácidos graxos
2 Professora do Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, UFV/ VIÇOSA, MG.
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de 70 a 80% dos requerimentos totais de energia para esses animais (Warner, 1964; Bergman et al., 1965; Annison e Armstrong, 1970, citados por VAN HOUTERT, 1993).
1 - PRODUÇÃO DE AGVs EM DIFERENTES ESPÉCIES
1.1 - SITIOS DE PRODUÇÃO DE AGVs NO TRATO GASTROINTESTINAL
As concentrações de AGVs em diferentes sítios no trato gastrointestinal segundo BERGMAN (1990), são uma função direta da população bacteriana e assim são proporcionais ao tempo ou extensão na qual a digesta é retida. Isto foi demonstrado pela primeira vez a mais de 76 anos atrás nos estudos clássicos de Elsdenet al. (1946).
Eles compararam a concentração de AGVs total em diferentes sítios no trato gastrointestinal de muitas espécies de mamíferos e, encontraram que os ruminantes tinham uma concentração de AGVs mais alta no rúmen, uma redução para menos de um quinto destes valores no intestino delgado e um “segundo” pico no ceco e no cólon; sendo que alguns AGVs estavam presentes no reto.
Estudos como estes mostraram que mesmo em ruminantes, ocorre considerável digestão adicional defibras no intestino grosso.
Em herbívoros não ruminantes e suínos, as maiores concentrações de AGVs foram no ceco e, em segundo lugar, no cólon. Em cães, as concentrações de AGVs são mais altas no cólon (BERGMAN, 1990).
Outros estudos com animais mostraram que muitas paredes de células vegetais e vários outros constituintes da planta são fermentados a AGVs no trato gastrointestinal de todos os herbívoros, na maioria dos onívoros, e, dependendo da dieta em alguns carnívoros. Também são produzidos metano na maioria das espécies, e dióxido de carbono, hidrogênio, calor e células microbianas. E, independentemente do local onde ocorre a fermentação, os AGVs são prontamente absorvidos pelo animal.
1.2 - FERMENTAÇÃO MICROBIANA
O ecossistema microbiano do trato gastrointestinal contém centenas de espécies de bactérias anaeróbicas, protozoários e fungos e cada espécie ocupa um nicho em particular. Todas as espécies fermentam algum componente da digesta e juntas produzem os corpos microbianos e AGVs usados como alimento pelo hospedeiro. As dietas podem mudar as atividades metabólicas dos microrganismos por prover substratos novos ou diferentes, e assim a dieta influencia as quantidades e natureza dos produtos da fermentação (BERGAMN, 1990).
O rúmen é considerado um ecossistema microbiano diverso e único, anaeróbico, com temperaturas variando entre 39 – 42ºC, e um pH que varia normalmenteentre 6,0 e7,0 (KOZLOSKI, 2009).
A ingestão de alimentos rapidamente fermentescíveis, por exemplo, aumenta a atividade microbiana, causando substancial flutuação nos produtos da fermentação (ácidos graxos voláteis e amônia) e no pH ruminal, fato que pode refletir no aproveitamento dos demais nutrientes da dieta (COSTA et al., 2008). A quantidade em excesso de concentrado fornecido a animais de alta produção pode acarretar problemas metabólicos e tem sido relacionada com a possível diminuição nas proporções de butiratoe acetato ruminal.
1.3 - SUBSTRATOS E VIAS PARA A PRODUÇÃO DE AGVS
As associações entre os microrganismos do rúmen podem ser de mutualismo, quando ambos se beneficiam; de comensalismo, quando um se beneficia, mas não há efeitos negativos nem positivos sobre o outro; ou de parasitismo, quando um se beneficia em detrimento do outro (DEHORITY, 1998).
As células vegetais mais velhas são recobertas por lignina, cutina, taninos e sílica, o que dificulta a adesão e consequente ação dos microrganismos ruminais a parede celular. Por isso, a degradação dessas células e feita preferencialmente de dentro para fora. Através dos fungos que são os únicos microrganismos capazes dessa ação, permitindo que outros microrganismos possam continuar a digestão
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básico sobre a produção, transporte e utilização de ácidos graxos voláteis (AGVs)
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das proteínas e carboidratos vegetais.
Os zoósporos dos fungos se aderem à partícula vegetal e um rizoide simples atravessa a parede celular por lesões em sua superfície ou pelos estômatos. Depois disso, o rizoide se expande, formando vários e longos “braços”, que, por ação de enzimas e por forças mecânicas, quebram a parede celular vegetal, expondo os açúcares solúveis do interior da célula, possibilitando que outros microrganismos do rúmen possam se nutrir e finalizar a digestãodas fibras (CERDÀ, 2003).
Os principais substratos para a fermentação, a despeito da localização da câmara de fermentação, são carboidratos complexos originários de células vegetais, e estes, para a maioria das vezes, consistem em celulose, hemicelulose, pectinas, amidos, dextrinas e carboidratos solúveis, mono e dissacarídeos (VAN HOUTERT, 1993; DIJKSTRA, 1994).
Em geral, a produção de AGVs representa quase 75% do teor de energia do carboidrato, os 25% remanescentes são usados pelos microrganismos para crescimento ou perdido como hidrogênio e metano. Embora existam muitas diferenças em detalhes, isto deve significar que existem similaridades gerais nas vias de fermentação no intestino grosso comparado com aquelas dorúmen.
As vias bioquímicas envolvendo a fermentação dos carboidratos dietéticos a AGVs, via piruvato, para os principais ácidos graxos voláteis e metano foram muito bem descritas por Leng e Czerkawski, 1973, citados por VanHoutert, (1993).
Bactérias celulolíticas produzem celulase extracelular e outras enzimas que degradam as frações celulose e hemicelulose a oligossacarídeos e finalmente a glicose, gliocse-6-fosfato, frutose-6-fosfato e triosefosfato. Sendo que tanto os organismos celulolíticos quanto os não celulolíticos utilizam os produtos da ação da celulase e produzem diretamente AGVs (BERGAMN, 1990).
A atividade pectinesterase em extrato de microrganismos do rúmen catalisa a hidrólise de ligação ésteres, dando origem a etanol e ácido péctico (COELHO DA SILVAE LEÃO, 1979).
Pectinas e hemicelulose incialmente são grandemente degradadas a xilose e outras pentoses. A principal via de utilização de pentoses parece envolver a síntese de hexose (via das pentoses fosfatadas) sendo frutose 6-fosfato e triosefosfato seus produtos.
Amidos dextrinas são degradadas por amilases a maltose e então por maltases com a formação de glucose 1-fosfato. Todas as hexoses e triosefosfatos, entretanto, raramente são detectáveis no rúmen ou fluido intestinal e, ao invés, sofrem rápida transformação a piruvato por meio da via glioclitica de Embden-Meyerhof. O piruvato, por sua vez é rapidamente convertido principalmente a acetato, propionato e butirato e, como resultado, mesmo o piruvato raramente ocorre em quantidades mensuráveis nos fluidos ruminal ou intestinal (BERGAMN, 1990).
Lactato pode ser produzido a partir de piruvato, mas usualmente não é um intermediário importante; a produção de ácido láctico é ajudada principalmente por um baixo pH, o qual favorece o crescimento de lactobacilos. No rúmen, a ingestão de quantidades anormalmente grandes de carboidratos rapidamente fermentáveis também resultara numa queda marcante do pH e assim produzira grandes concentrações de lactato e mesmo acidose sistêmica (BERGAMN, 1990).
Se o pH é continuamente diminuído, este estimula a lactato desidrogenase e ocorre uma mudança no metabolismo do Estreptococcus bovis, que ao invés de produzir acetato eformato,passa a produzir ácido láctico, que então excede a capacidade tampão do rúmen, criando um nicho para desenvolvimento de lactobacilos, que vai produzir grandes quantidades deácido láctico (NOCEK, 1997).
O acetato constitui a maior proporção da mistura de AGVs no rúmen, independentemente do tipo de dieta e é produzido basicamente através de dois sistemas que variam conforme o tipo de microrganismo, onde envolve a ferrodoxina comoxidante ou a flavoproteína (COELHO da SILVA eLEÃO, 1979).
A formação de propionato a partir do piruvato é feita por dois mecanismos. O primeiro deles envolve a formação de oxaloacetato-succinato e o segundo
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envolve a formação de acrilato; estudos com isótopos marcados, sugerem que ambos funcionam. Todavia, sugere-se que a via oxaloacetatosuccionato éa rota principal(BALDWIN etal., 1963)
A principal enzima envolvida na formação de propionato é a transcarboxilase-metilmalonil-CoA, a qual transfere o grupo carboxílico de metilmalonilCoA para oxalacetato. Sendo que o valerato, AGV de cinco carbonos, é formato pela condensação de acetato epropionato(BERGMAN, 1990).
A síntese de butirato ocorre a partir de acetato ou a partir de compostos que dão origem ao acetil-CoA, tal como piruvato. Possivelmente existam duas rotas para a síntese de butirato em microrganismos anaeróbicos do rúmen. A mais importante parece ser aquela que envolve a formação do acetoacetil-CoA a partir de acetil-CoA, sendo o inverso da β-oxitação. A outra rota é a via do malonil, onde 2 moles de ATP são necessários para a formação de 1 mol de butirato a partir de 2 moles de acetato, enquanto no inverso da β-oxidação apenas 1 mol de ATP é necessário(COELHO da SILVAe LEÃO, 1979).
A Inter conversão de acetato e butirato é possível em certas espécies de microrganismo. A formação de butirato a partir de acetato pode ter finalidade de oxidar fatores reduzidos para permitir continuidade no processo de fermentação na célula (COELHO da SILVA e LEÃO, 1979), e parece ser vantajosa para o metabolismo microbiano, já que há ganho líquido de 1 ATP(BERGMAN, 1990).
1.4 - METANOGÊNESE
A produção de metano “CH4” entérico pelos ruminantes é dependente principalmente do tipo de dieta disponível aos animais e do nível de ingestão (ARCHIMÈDE et al., 2011), mas também pode ser influenciado pelo tamanho, idade e espécie do animal(ABDALLAet al., 2012).
A metanogênese é parte do processo digestivo normal dos ruminantes e ocorre principalmente no pré-estômago (rúmen). O metano (CH4) traduz-se em um coproduto da fermentação entérica dos ruminantes, pois a sua formação é utilizada como uma rotadissipadora do acúmulo de hidrogênio (H2).
Sendo que as espécies metanogênicas representam papel importante na fermentação ruminal. E os principais precursores da produção de metano são o CO2, H2 e o formato. Entretanto, o metano não pode ser utilizado, mas favorece o ambiente ruminal, mantendo as concentrações baixas de H+ no rúmen, e é perdido através da eructação e respiração, constituindo em perda de energia, estimada entre 6 a 17% da energia digestível (ED) disponível para o animal(VAN HOUTERT, 1993).
Durante a fermentação de hexoses a piruvato, NAD é reduzido para NADH. Este deve ser reoxidado para que continue o processo de fermentação. Dessa forma, bactérias metanogênicas consomem imediatamente o H2 formado produzindo metano –CH4 (MILLER, 1995).
Se a utilização do H2 não ocorre, o NADH formado durante a glicólise será reoxidado com produção de etanol ou lactato. Dessa forma se não estiverem presentes bactérias metanogênicas no meio, o Ruminococcus albus (espécie celulolítica) irá produzir etanol, acetato, H2 e CO2, sendo que o H2 vai inibir o mecanismo de ferrodoxina oxidada a reduzida relacionada ao NAD. Se for incluído bactérias metanogênicas, teremos diminuição da formação de etanol, com concomitante formação de metanoeacetato(MILLER, 1995).
Church (1988) cita que quando se compara equações de fermentação, resulta numa aparente relação inversa entre a produção de propionato e metano. Assim, a redução da produção de metano com objetivo de reduzir a energia perdida pelo animal foi acompanhada pela redução na relação de AGVs não gliconeogênicos e gliconeogênese, pela redução na produção liquida de células microbianas, dessa forma é explicado em parte porque não ocorre melhoras da produtividade a longo prazo (VAN HOUTERT, 1993).
A menor emissão relativa de metano em forrageiras mais jovens normalmente é explicada pelos maiores teores de proteína bruta, carboidratos solúveis e do ácido linoleico e menores teores de carboidratos fibrosos (FDN). Dessa forma, a fermentação de plantas mais jovens levaria amaior produção de pro-
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Artigo 572 – O básico sobre a produção, transporte e utilização de ácidos graxos voláteis (AGVs)
pionato e, consequentemente, menor produção de CH4. A melhoria da qualidade das forragens também pode aumentar o consumo voluntario dos animais e reduzir o tempo de retenção no rúmen, reduzindo a produção de metano (ECKARD et al., 2010). Entretanto, este efeito nem sempre é observado, pois o aumento da maturidade pode não causar mudanças drásticas na composição da planta a ponto de alterar a produção de AGV’s e, consequentemente, a produção de CH4 (PINARESPATIÑO etal., 2003).
2- ÁCIDOSGRAXOSVOLATEISNO RÚMEN
2.1 - CONCENTRAÇÃO DEAGVs
As concentrações de AGVs no rúmen são altamente variáveis, embora a quantidade total presente usualmente esteja entre 60 a 150 mM (COELHO da SILVA e LEÃO, 1979, BERGMAN, 1990), sendo que essa grande variação ocorre em virtude da produção de AGV no rúmen, dependendo tanto da composição da dieta quanto do tempo após alimentação. Podem ocorrer valores excepcionalmente altos se elevando a 200mM quando animais pastam em grama fresca ou quando se alimentam de dietas ricas em amidos. Concentrações máximas usualmente ocorrem 2 a 4 horas após aalimentação (BERGMAM,1990).
Resultados típicos de concentrações individual e total de AGVs no rúmen afetadas pela dieta são mostradas na Tabela 1. O acetato predomina sob a maioria das condições, mas quantidades substanciais de propionato e butirato são sempre presentes. Ácidos valérico e superiores usualmente constituem < 5% do total, na Tabela 1 (BERGMAM, 1990).
Dietas com maior proporção de concentrados, como por exemplo ricas em amido, favorecem a produção de propionato, e consequentemente diminui a proporção de acetato. Sendo que um maior suprimento de acetato maximiza a produção de gordura no leite; entretanto um menor suprimento de propionato limita a síntese de glicose e produção total de leite (WATTIAUX, 1994), porém tem efeitos positivos no conteúdo de proteína do leite (DIJKSTRA, 1994).
Devido a fermentação de carboidratos, somente pequenas quantidades de glicose são absorvidas a partir do trato gastrintestinal de ruminantes. Assim a gliconeogênese é uma atividade metabólica importante e continua. E o propionato é o único AGV que faz uma contribuição liquida significante para a síntese de glicose e é quantitativamente o precursor individual mais importante de glicose (BERGMAM, 1990; FRANCE e SIDDONS, 1993; DIJKSTRA, 1994).
Desta forma, parece que quantidades ótimas de propionato precisam ser produzidas para a economia global do animal e, no tocante, sabemos que consideráveis pesquisas foram realizadas sobre os efeitos da dieta e outros fatores que podem alterar a comunidade microbiana e assim influenciar as proporções molares dos AGVindividuais no rúmen.
Bergmam (1990) cita que o uso de ionóforos (monensina) alteraram a fermentação do rúmen não por mudar a produção de AGVs total, mas pela seleção de microrganismos que produzem mais propionato e contra microrganismos que produzem mais acetato,butirato e os precursores demetano.
Proporção molar de AGVs, % Dieta Espécie AGVtotal(mM) Acético Propiônico Butírico Feno Ovelha 106 69 20 11 Grão Ovelha 76 53 34 13 Capim Vaca 148 70 19 11 Grão Vaca 122 46 42 12 Fonte: BERGMAM, 1990.
TABELA1 – Exemplos de concentrações de AGVs no rúmen
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2.2 - TAXAS DE PRODUÇÃO E ABSORÇÃO DE AGVS
Taxas de produção e absorção de AGVs a partir do rúmenforam medidas ou preditas por uma variedade de técnicas. Bergmam (1990) citou o uso considerável de duas técnicas, que são: diluição de AGV marcado após infusão dentro do rúmen e análise de sangue arterial e portal junto com medicações defluxo de sangue portal.
O procedimento de diluição de isótopos para cálculo das taxas de produção de AGV no rúmen depende de estimar a taxa de diluição de [14C] - ou [3H] –AGV continuamente infundidos (BERGMAM, 1990; DIJKSTRA, 1994).
As taxas de produção de AGVs no trato gastrintestinal de ruminantes também foram estimadas pela medição das quantidades de AGV diretamente absorvidos ou aparecendo no fluxo sanguíneo. Este tipo de experimento é feito multiplicando a taxa de fluxo de sangue arterial e portal.
Van Houtert (1993) cita que a difusão passiva é o maior mecanismo com que os AGVs são absorvidos dorúmenpara o sangue.
A remoção-absorção dos AGV do rúmen-retículo ocorre por dois processos: absorção passiva, pela parede do órgão, e passagem com a fase fluída para o omaso (TAMMINGA E VAN VUUREN, 1988). Entretanto, se a taxa de produção excede a de remoção, existe acúmulo de AGV no rúmen, podendo desencadear distúrbios metabólicos, com efeitos negativos sobre o desempenho e a saúde dos animais (BARKER etal., 1995).
Segundo Bergmam (1990), deve ser ressaltado que as quantidades de AGVs aparecendo no sangue portal não são iguais as quantidades produzidas no rúmen. Isto se dá porque cada AGV é metabolizado em diferentes extensões pela mucosa durante o processo de absorção. Ademais, taxas de absorção para dentro do sangue portal incluem qualquer AGV produzido e absorvido noceco ecólon.
ATabela 2mostra quetodos os três principais AGVs
foram produzidos no rúmen de ovinos em taxas mais altas do que aquelas que aparecem no sangue portal. Ao grosso modo, 30, 50, e 90% do acetato, propionato e butirato, respectivamente não atingiram o sangue portal, pelo menos na forma de AGVs e assim devem ter sido metabolizados principalmente pelo epitélio do rúmen(BERGMAM, 1990).
TABELA2 – Comparaçãoentre produção ruminal e absorçãoportal de AGVs e metabolismo do epitélio ruminal
2.3 - TRANSPORTE E METABOLISMO EPITELIAL NO RÚMEN
Na Tabela 2 observamos que grandes quantidades de AGVs são metabolizados pelo epitélio do rúmen durante o processo de absorção e transporte para o fluxo sanguíneo.
Van Houtert (1993) cita que Dobson et al. (1956) demonstraram que os AGVs são absorvidos diretamente do rúmen para a corrente sanguínea, em virtude principalmente da elevada densidade de papilas e pregas nas quais existem muitas mitocôndrias, o que resulta em taxa metabólica relativamenteelevada.
Esse mesmo autor após alguns estudos relata que a taxa de absorção de AGVs não dissociados foi maior com o aumento do comprimento da cadeia e que o inverso ocorreu para os ácidos dissociados.
O fluxo saindo do rúmen para o omaso foi quantificado e foi calculado que aproximadamente 88% dos AGVs do rúmen eram diretamente absorvidos do rúmen e somente 12% foram para omaso
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a
e
(AGVs)
sobre
produção, transporte
utilização de ácidos graxos voláteis
graxos voláteis Acético Propiônico Butírico
alimentados com feno Produção ruminal (mol/dia) 3,30 0,90 0,60 Absorção portal (mol/dia) 2,30 0,44 0,05 Diferença (%) 30 50 90 Fonte: BERGMAM, 1990.
Ácidos
Ovinos
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Devido aos AGVs serem ácidos fracos com um pk de <= 4,8 e devido ap pH do conteúdo do rúmen raramentecair para menos de 5,8, a maioria de cada AGV está presente no estado dissociado ou ionizado. Ao mesmo tempo, a absorção de AGVs a partir do rúmen é aumentada pelo decréscimo no pH de seus componentes, indicando maior permeabilidade do epitélio à forma não dissociada ou ácida do AGV. Na verdade, o epitélio parece ser quase impermeável à difusão passiva de forma dissociada ou aniônica. Entretanto, a despeito do fato de que os AGVs estão presentes principalmente na sua forma dissociada no pH usual do rúmen, os AGVs são rapidamente absorvidos no rúmen. Quantidades quase equimolares de íons de hidrogênio assim, precisam estar disponíveis para protonar os AGVs.
Ambos os autores Bergmam (1990) e Van Houtert (1993) relataram que quantidades substanciais de anidrase carbônica foi encontrada nas células epiteliais do rúmen e isto poderia estar envolvido numa liberação subsequente de bicarbonato para dentro do rúmen. A maioria do CO2 parece ser produzido pelo metabolismo intracelular epitelial embora CO2 também possa ser absorvido pelo lado do lúmen do epitélio para prover o ácido carbônico para doação de hidrogênio e íons bicarbonato.
Para AGV individual, a taxa de absorção do rúmen aumenta com o aumento no comprimento da cadeia do ácido ou acetato < propionato < butirato e isto está em concordância com suas solubilidades relativas em lipídios. Em contraste, as quantidades transportadas ou aparecendo no efluente venoso estão em ordem inversa, butirato < propionato < acetato. Assim, a proporção metabolizada tem que aumentar marcantemente com comprimento da cadeia, e isto é particularmente verdade para butirato( BERGMAM,1990).
Van Houtert (1993) cita que relativamente pouco acetato é metabolizado no epitélio ruminal, principalmente devido à baixa atividade da enzima acetil-CoA sintetase neste tecido. Alguns estudos estimaram que de 1 a 4% do acetato é diretamente convertido em corpos cetônicos e pequena proporção é oxidadoa CO2,mas a maior parte passa
através do epitélio ruminal intacto e é absorvido no sangue portal.
O metabolismo de propionato pelo epitélio do rúmen dá origem a lactato e CO2, mas também provavelmente a alanina e outros aminoácidos. Cálculos em ovinos indicam que o metabolismo ruminal de propionato é de aproximadamente 50% do propionato total produzido no rúmen. Estudos em bovinos não dão tais estimativas de perda de propionato durante a absorção pelo rúmen. Em experimento com bezerros e vacas adultas somente 3-15% do propionato do rúmen foi convertido a lactato (BERGMAM, 1990). Entretanto, a formação de corpos cetônicos ou oxidação de CO2 explica que a maior parte do butirato é metabolizado pelo epitélio dorúmen.
O butirato é metabolizado no epitélio ruminal e omasalemcorposcetônicos,comoacetoacetatoeβhidroxibutirato. A acetona que é formada pela descarboxilação não enzimática do acetato, contribui somente com pequena fração do fluxo total dos corpos cetônicos. O epitélio ruminal é considerado o órgão cetogênico mais ativo em ovelhas alimentadas não gestantes, o contrário ocorre em não ruminantes onde ofígado é o único órgãocetogênico importante. Van Houtert, (1993) ressalta que o metabolismo do butirato em corpos cetônicos é o mecanismo que fornece ao epitélio ruminal a maior parte do seu requerimento deenergia.
Os corpos cetônicos não são muito utilizados pelo fígado em ruminantes e, em consequência fornecem aos tecidos extra-hepáticos fonte adicional de energia.
3 - ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS NO CECO E INTESTINO GROSSO
Em todas as espécies estudadas os AGVs são prontamente absorvidos para o sangue a partir do intestino grosso do mesmo modo que no caso do rúmen.
Sendo que no rúmen a produção de AGVs é primariamente o resultado de fermentação microbiana anaeróbica de carboidratos. De 8 a 26% do carboidrato total da dieta chega ao intestino grosso em suínos e ovinos e, até 70% foram
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calculados para pôneis.
Também são produzidos gases a partir da fermentação no intestino grosso e ceco e, como no rúmen, consistem principalmente de CO2, CH4 e H2 Sendo que a fermentação intestinal em ovinos estimada prove aproximadamente 13% do CH4 produzido notrato gastrointestinaltodo.
Na Tabela 3 resume as estimativas obtidas em várias espécies para a contribuição de AGVs para os requerimentos de energia de todo ocorpo.
TABELA3 – Estimativas da contribuiçãode AGVs produzidos em diferentes segmentos dotrato digestivo de algumas espécies para o requerimento deenergia corporal.
grosso, e esta absorção assemelha-se àquela que ocorre no rúmen.
Os AGVs também são metabolizados durante o processo de absorção e transporte para a corrente sanguínea e quantitativamente, pelo menos, o metabolismo de AGVs individuais lembra o que ocorre no epitélio dorúmen.
Exceto para os coelhos, propionato e butirato são metabolizados numa maior extensão durante a absorçãodo queo acetato.
O fígado remove grande proporção do propionato e butirato remanescente e uma menor proporção do acetato, que, em todas as espécies, é o principal AGV disponível para uso pelos músculos e tecidos adiposo.
4 - CONSIDERAÇÕES
A produção, o transporte e a utilização de AGVs ocorrem-nas diferentes espécies mamíferas e deve ser considerado seu benefício para estas, principalmente relacionado ao requerimento de energia. Deve-se salientar, em ruminantes, suas diferenças em relação lipogênese e à gliconeogênese, comparados aos não ruminantes como grandes fermentadores no intestino grosso.
REFERÊNCIAS
Fonte: Adaptado BERGMAM, (1990).
Foram obtidos valores de 5 a 30%, todos foram mais baixos do que os obtidos para o rúmen. Porém, estão de acordo com as diferenças em dieta e morfologia dotratodigestivo.
Os valores mais altos que 30% foram obtidos de coelhos e pôneis, sendo esperado pois eles são inteiramente herbívoros e são fermentadores do ceco. Suínos e humanos, onívoros, são comparáveis em vista de suas similaridades na morfologia do tratodigestivo.
Cada AGV é prontamente absorvido no ceco e intestino
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Espécie Órgão % do requerimentode energia Ovinos Rúmen 70 Ceco 5 Intestino 8 Bovinos Rúmen 63 Ceco 5 Intestino 9 Rato Ceco 5 Coelho Ceco 12 Intestino 30 Pônei Ceco 30 Suíno Intestino Grosso 11 Intestino 25 Humano Intestino Grosso
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