Jornal O Escritor 130

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JORNAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES / NÚMERO 130 - FEVEREIRO DE 2013 LUIZ TRISTÃO

Anais do Congresso Brasileiro de Escritores de 2011 UBE começa a enviar o DVD contendo os anais do evento a todos os participantes

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A censura mostra a cara A posição da UBE contra o patrulhamento de obras literárias Página 4

Prestígio internacional da UBE

Entidade recebeu convite da Real Academia Sueca para indicar nomes ao Prêmio Nobel de Literatura de 2013 Página 3

Tatiana Belinky Intelectual do Ano A entrega do Troféu Juca Pato foi realizada no teatro da Academia Paulista de Letras Página 16

Notícias do II Salão do Jornalista Escritor Página 6


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CONVERSA COM O ESCRITOR

Jornalismo e literatura O editorial desta edição ficou reservado para a notícia de uma realização da UBE que deve marcar o ano de 2013. A rigor, é uma parceria da qual a nossa entidade se orgulha. Trata-se do II Salão Nacional do Jornalista Escritor. Anteriormente marcado para novembro de 2012, no Memorial da América Latina, em São Paulo, foi adiado para setembro deste ano, com realização prevista para os dias 6, 7 e 8, no Auditório Simon Bolívar. O adiamento se deu em virtude da cirurgia de emergência a que foi submetido o idealizador e curador do evento, jornalista e escritor Audálio Dantas, um mês antes da data marcada para sua realização. Com a plena recuperação de Audálio, as providências para a retomada do projeto foram imediatamente iniciadas, em reuniões das quais participaram a UBE, que promove o evento em conjunto com a Mega Brasil

Comunicação/Jornalistas&Cia e a Audálio Dantas Comunicação e Projetos Culturais. O tema central do evento será Jornalismo e Literatura, com debates de questões como limites e interação entre os dois gêneros, como se dá a transição de um gênero para outro, e o crescente número de livros de jornalistas nos catálogos de grandes editoras, com títulos que vão da reportagem à biografia e a História, como são os casos de Fernando Morais, Ruy Castro, Laurentino Gomes e muitos outros. Além das palestras no Auditório Simon Bolívar, de 870 lugares, serão montados no hall uma exposição sobre a história da União Brasileira de Escritores, um Café Literário, para bate-papos com os autores, sessões de autógrafos e um estande dedicado à literatura infantojuvenil de autoria de jornalistas escritores, como Ziraldo, Maurício de Sousa, Ruth

Rocha e Ana Maria Machado. Os jornalistas escritores que já haviam confirmado sua participação no Salão marcado para novembro do ano passado foram comunicados do adiamento e confirmaram presença em setembro deste ano. Entre outros, Fernando Morais, Ricardo Kotscho, Juca Kfouri, Eliane Brum, Heródoto Barbeiro e Antonio Torres. Já foram contatados outros autores, como Carlos Heitor Cony, Ruy Castro, Zuenir Ventura, Ziraldo, além de Maurício de Sousa, que terá participação especial em programação destinada à literatura infanto-juvenil de autoria de jornalistas escritores. A exemplo do que ocorreu na primeira edição do Salão, em 2008, quando mais de 13 mil pessoas participaram do evento, espera-se para este ano um público ainda maior, com predominância de estudantes de comunicação, principalmente dos cursos de jornalis-

mo, muitos quais mantêm cadeiras de Jornalismo Literário. O II Salão Nacional do Jornalista Escritor homenageará duas figuras importantes de jornalistas escritores: Graciliano Ramos e Alberto Dines. Graciliano, pelos 120 anos de nascimento, celebrado em 2012, e Dines, pelos 80 anos de vida e 60 de jornalismo, comemorados também em 2012. Com o adiamento, a homenagem a Graciliano Ramos ganha este ano um sentido muito especial: o ano de 2013 marca o 80º aniversário da publicação de seu primeiro livro, Caetés, e os 60 anos de sua morte e da publicação (póstuma) de Memórias do cárcere. Esta, a nossa principal e alvissareira notícia. O restante das informações você, leitor, verá nas páginas seguintes desta edição. Joaquim Maria Botelho Presidente

EXPEDIENTE Diretoria da UBE (2012/2014): Jornal O Escritor – edição n° 130, fevereiro de 2013 Publicação de distribuição dirigida para os associados da União Brasileira dos Escritores. Todas as informações podem ser reproduzidas, desde que citada a fonte. ISSN: 1981-1306 Conselho Editorial: Daniel Pereira Gabriel Kwak Joaquim Maria Botelho Luís Avelima Editoração: Luís Fernando Zeferino União Brasileira de Escritores Rua Rego Freitas, 454 - 12º andar, Vila Buarque. Cep: 01220-010 São Paulo - SP. Telefones: (11) 3231-4447/3231-3669 Site: www.ube.org.br

Diretoria executiva Presidente – Joaquim Maria Botelho (presidencia@ube.org.br) 1º vice-presidente – Luís Avelima (luisavelima@gmail.com) 2º vice-presidente – Menalton Braff (menalton@uol.com.br) Secretário geral – Gabriel Kwak (senador.gabriel@gmail.com) 1ª secretária – Sueli Carlos (fonoaudiologa.suelicarlos@bol.com.br) 2º secretário – Francisco Moura Campos (fmouracampos@terra.com.br) Tesoureiro geral – Djalma Allegro (djalmaallegro@terra.com.br) 1º tesoureiro – Nicodemos Sena (nicosena@uol.com.br) 2ª tesoureira – Helena Bonito Pereira (helena.pereira@ mackenzie.br) Conselho consultivo e fiscal Levi Bucalem Ferrari (presidente) Almino Affonso Anna Maria Martins Audálio Dantas Caio Porfírio Carneiro Jorge da Cunha Lima José Afonso da Silva Lygia Fagundes Telles Paulo Oliver Renata Pallottini Rodolfo Konder (conselheiro emérito)

Diretores departamentais Antonio Luceni – Integração Nacional (aluceni@hotmail.com) Betty Vidigal – Informação Digital (bettyvidigal@bettyvidigal.com.br) Cláudio Willer – Políticas Culturais (cjwiller@uol.com.br) Dirce Lorimier – Historiografia e Memória (lorimier@uol.com.br) Fábio Lucas – Cultural (fabiolucas@ube.org.br) Giselda Penteado di Guglielmo – Apoio a Eventos (gi.penteado@uol.com.br) Hersch Basbaum – Projetos Especiais (hwbas@uol.com.br) José Domingos de Brito – Acervo Bibliográfico (brito@tirodeletra.com.br) José Geraldo Neres – Formação Literária (outrossilencios@gmail.com) Paulo de Assunção – Pesquisa Histórica (assuncao@prestonet.com.br) Raquel Naveira – Difusão Literária (raquelnaveira@gmail.com) Renata Pallottini – Dramaturgia (rpallott@uol.com.br)


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RELAÇÕES ALÉM-MAR

Prestígio internacional da UBE Convite do comitê do Prêmio Nobel e visita de escritores chineses ampliam visibilidade da UBE no campo internacional A Federação Municipal de Círculos Literários e Artísticos da cidade de Suzhou, na China, encaminhou ofício à UBE, propondo a visita de uma delegação de quatro escritores chineses à sede da UBE, entre março e abril de 2013 – a data final será divulgada em breve. A comitiva será acompanhada do diretor adjunto de Finanças de Suzhou e de uma intérprete. Os escritores chineses serão o presidente da Federação Municipal de Círculos Literários e Artísticos da cidade de Suzhou, Cheng Congwu, a vice-presidente Wang Fang, o chefe do Departamento de Criação e Pesquisa de Suzhou, Xue Yiran, e o presidente da Federação Distrital Círculos Literários e Artísticos, Zhou Yifeng. Uma comissão de recepção foi formada e está composta das seguintes pessoas: o presidente Joaquim Maria Botelho, o presidente do Conselho, Levi Bucalem Ferrari, Carlos Frydman, jornalista, escritor e ex-correspondente em Pequim, Jayme Martins, jornalista, escritor e ex-correspondente em Pequim, Durval de Noronha Goyos, advogado, escritor e membro do Instituto Confúcio e Helena Bonito Pereira, diretora da UBE e coordenadora da Editora Mackenzie. A filha do jornalista Jayme Martins servirá de intérprete, já que viveu grande parte da vida na China e fala o mandarim com perfeição. A UBE convidou, também, para a recepção da comitiva chinesa, o secretário de Cultura do município de São Paulo, Juca Ferreira, e o secretário estadual da Cultura de São Paulo,

Marcelo Araújo. Entre os temas de discussão será tratada a possível participação de escritores chineses num painel sobre literatura em um dos próximos congressos de escritores promovidos pela UBE. Prêmio Nobel de Literatura A Svenska Akademiens Nobelkommitté (o Comitê Nobel da Real Academia Sueca), que coordena a outorga do Prêmio Nobel em todas as suas modalidades – entre eles o de Literatura – convidou a UBE a indicar nomes para receber o Prêmio Nobel de Literatura de 2013. O ofício dava prazo de 31 de janeiro para o recebimento das indicações. A UBE, honrada pelo convite, reuniu sua diretoria e indicou dois nomes de brasileiros reconhecidos internacionalmente. Por exigência do Comitê Nobel, os nomes devem ser mantidos em sigilo. No entanto, podemos revelar que foram indicados dois brasileiros, um da área da crítica literária e outro da poesia.

Antologia UBE Global Editora Global programa edição para o início do segundo semestre de 2013 A Antologia de Textos Breves anunciada em nossa última edição de O Escritor ocupará dois volumes, conforme acordo com a patrocinadora, Editora Global: um de poesias e um segundo que reunirá contos e crônicas. Diferentemente do que esperava a direção da

editora, o lançamento não será possível antes do segundo semestre, em razão de compromissos anteriormente firmados com herdeiros para edição de obras de dois autores consagrados: Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles. Luiz Alves Júnior, diretor

do Grupo Editorial Global, enviou-nos a seguinte mensagem: “A antologia organizada pela UBE a ser publicada pela Global mostrará a qualidade e a diversidade da literatura brasileira feita nos dias de hoje. Planejamos lançá-la em setembro de 2013.”


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OPINIÃO

Esperneios, estardalhaço e protestos legítimos betty vidigal

Não sei de concurso que não tenha resultado contestado, ainda que informalmente, em sussurros e insinuações. Não pelos vencedores, é claro. Até competições esportivas, de resultado objetivamente mensurável, são postas sob suspeita. Mesmo as loterias federais, tão auditadas, despertam a desconfiança dos que têm na mão um bilhete não premiado. Como todo concurso tem poucos vencedores e muitos perdedores, a voz da maioria consegue, no mínimo, instaurar desconfiança sobre a lisura dos certames. Quando a premiação é ‘questão de gosto’, de opinião, mais protestos se erguem e mais justificados parecem. A isenção dos jurados é contestada, assim como sua competência. Num concurso de prosa ou versos, que é o que nos interessa, aqui, a mais suave das suspeitas é a de que os jurados não tenham lido todos os inscritos. Pois, se tivessem, como poderiam deixar de perceber a grandeza da obra daquele que protesta? Como não perceberiam sua superioridade sobre todos os outros? (E, talvez, sobre qualquer coisa que se tenha escrito em português, desde sempre. Ah, estou exagerando. Estou?) Já ouvi até mesmo o argumento de que autores muito conhecidos não deveriam participar desses concursos, pois a força de seu nome influencia os jurados! Deveriam se recolher à sua magnitude e dar chance aos novatos. Nos casos em que o anonimato é exigido, experimentem convencer um perdedor de que os jurados realmente não tinham a ideia da identidade dos participantes... Há quem aceite serenamen-

te que seu trabalho não tenha sido considerado o melhor pela comissão julgadora, vista como um grupo de leitores ungidos do arbitrário (literalmente) poder de premiar. Há também os que nem se veem como escritores, mas entram em um concurso na base do “vai que...”. A facilidade de enviar trabalhos pela internet aumentou esse tipo de participação, principalmente quando o que se pede é apenas um texto breve. Há concursos que chegam a três mil inscrições, tornando extenuante a tarefa de garimpar literatura em meio à irrelevância. A proliferação de pequenos concursos pulveriza a atenção do público, de modo que os protestos, nesses casos, são pouco audíveis. O cenário é diferente quando se trata de prêmios que contemplem livros completos. Nesses (principalmente quando envolvem quantia significativa em dinheiro, projeção na mídia ou, no caso dos inéditos, publicação por uma grande editora) cada autor tem convicção da qualidade de sua obra, que frequentemente representa anos de trabalho e é de fato muito boa, concorrendo com outras de qualidade equivalente. A expectativa da premiação se reforça durante os meses que separam a inscrição da divulgação do resultado, e o prêmio para outro livro pode, em alguns casos, gerar revolta não só em um concorrente não premiado, mas também nos amigos que leram seu livro e se tornaram fãs. No caso vencedores muito conhecidos do público, a revolta surge entre as pessoas que não aprovam, por princípio, que aquele nome seja escolhido, mesmo que não tenham lido o livro – que não lerão, também por princípio

(há pessoas que detestam qualquer humano que atinja o status de ‘famoso’). Foi o que aconteceu em 2010 com o Jabuti para Leite Derramado. Esquecendo que o prêmio de Livro do Ano era conferido pela CBL não pelo conteúdo da obra, mas pelo que representou para o setor livreiro, houve esperneio geral. Argumentava-se que se não foi “o melhor romance” não poderia ser “o melhor livro”. Misturaram-se a esses protestos silogísticos aqueles dos que mal leram algum livro de Chico e declaram que ele é só compositor, jamais romancista. E também os dos que dizem que ele foi compositor, mas agora (que evoluiu para além da capacidade de compreensão do ouvinte médio...) não é mais nem isso. No entanto, lembro-me de bons leitores, eruditos ou não, que naquele dia torciam para que o incomparável Leite Derramado recebesse o prêmio – e não só o dos profissionais do setor editorial. Diante dos protestos, a CBL alterou seus critérios de escolha para o Livro do Ano, passando a competir por esse prêmio apenas os vencedores em cada categoria. Em 2012, nova querela em torno do Jabuti, desta vez pondo em cheque as notas de um dos jurados, que mais tarde as justificou. O estardalhaço de desagrado circulou por toda a mídia. Terão os indignados lido Nihonjin, que por sinal venceu o prêmio Benvirá-Saraiva no ano anterior? Pouco provável, mas isso é irrelevante. Os protestos partiam do princípio de que, se havia um livro da presidente da ABL na disputa, é evidente que este deveria ser premiado. (Mas, se o fosse, decerto protestariam também, de

alguma outra forma.) O prêmio SESC-Record para romance inédito também recebeu sua cota de protestos. Afinal, ambos os jurados são escritores do sul do Brasil, e naturalmente premiariam uma escritora do sul... Ou pelo menos assim pensaram alguns. A autora tinha vencido no ano anterior o mesmo concurso, na categoria Contos, o que forneceu mais lenha para a fogueira das insinuações. Por serem tantos os casos de reclamações referentes ao resultado de concursos literários, os primeiros protestos quanto à concessão do prêmio Alphonsus de Guimaraens, de poesia, a uma obra sobre Carlos Drummond de Andrade pareceram apenas mais uma leva do mesmo tipo de estardalhaço. Não eram. O edital desse prêmio da Fundação Biblioteca Nacional determina que a inscrição seja feita pelo próprio autor ou autorizada por ele. A láurea se destina a um autor vivo e não ao detentor dos direitos autorais. Ao tomar conhecimento da irregularidade, a UBE se manifestou, em recurso à FBN, contra a decisão da comissão julgadora. O resultado do nosso recurso – também requerido por outros reclamantes – foi a pronta revogação da escolha inicial e posterior atribuição do prêmio a Ana Martins Marques, poeta mineira. Que tenham sempre acolhida os protestos legítimos dos escritores, distintos dos esperneios inócuos.

Betty Vidigal é diretora da UBE.


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POLÍTICAS CULTURAIS

A censura oficializada no Brasil claudio willer

O edital da Funarte e Biblioteca Nacional de junho de 2012, oferecendo subvenção para “fomentar a produção inédita de textos correspondentes aos gêneros lírico e narrativo, a partir da concessão de bolsas para o desenvolvimento de projetos de criação literária”, incluía estas cláusulas: 1.2. Os projetos concorrentes não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada dentro da sua categoria, desde que não caracterizem: a) promoção política de candidatos e/ou partidos; b) dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade; c) pornografia; d) pedofilia; e) discriminação de raças e/ ou credos; f) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins; g) terrorismo; h) tráfico de animais. O edital completo em http://www.bn.br/portal/arquivos/pdf/EDITAL%20CRIACAO%20LITERARIA.pdf A UBE examinou o assunto. Foi enviado ofício do presidente Joaquim Maria Botelho à Ministra da Cultura Marta Suplicy, embora isso ocorresse na gestão anterior, de Ana de Hollanda. A resposta que veio a nós a 30 de outubro de 2012, da Funarte, reafirma os termos do edital: é declarado que as restrições atendem à “diretriz do Governo Federal, capitaneada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República para que todas as entidades trabalhem em bloco na valorização de direitos e combate a temas como pedofilia, discriminação de raças, entre outros”.

Reparem: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Funarte e Biblioteca Nacional não combatem pedofilia e discriminação de raças; combatem temas; produção simbólica, e não fatos. Determinar quais conteúdos em obras literárias poderiam ser subvencionados, mesmo não acarretando proibição

vam, propositadamente, obras proibidas pelo regime militar, como forma de resistência. Virada de 180 graus? Não sabem que inexiste censura boa ou má, que não há meia-censura? As recomendações da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República são vagas. Podem dar margem a toda sorte de interpretação.

de circulação, é censura prévia. Assemelha-se à proibição, na década de 1980, de subvenção de órgãos culturais oficiais dos Estados Unidos a Allen Ginsberg e outros beats. A censura havia sido derrubada nos tribunais; mas dificultavam a circulação, assim premiando-os por sua atuação. O episódio dá a impressão de viver em um mundo às avessas. Em 1982, era secretário geral da UBE; formamos um comitê contra a censura quando proibiram o filme Pra frente Brasil. Integravam-no, junto com Ester Góes, João Batista de Andrade e outros, a ex-ministra Ana de Hollanda e o atual dirigente do MinC Sergio Mamberti. Bandearam-se, mudaram de lado...? Na época, comissões da SEC do MEC (equivalente ao atual Ministério da Cultura) premia-

O que é “promoção política de candidatos e/ou partidos” em obras literárias? Poderia valer, unicamente, nos períodos de campanha eleitoral, pois só nesses há candidatos – mas o cronograma dos editais e das campanhas eleitorais dificilmente coincidiriam. O que são “dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade”? Moral e bons costumes: já ouvimos essa expressão, no tempo em que se usava proibir filmes, peças de teatro, tirar livros de circulação etc. E “Tráfico ilícito de drogas e afins”? Obras literárias traficam drogas? De que modo? É óbvio que tais diretrizes inibem a apresentação de obras mais transgressivas; e, reciprocamente, estimulam aquela de criações bem comportadinhas, inócuas. A lista de criações relevantes que não resistiria

a esses critérios é infindável. Pergunto: das poesias de Rimbaud, por exemplo, com suas irreverências e blasfêmias, o que sobraria? Comissões julgadoras entendem de crítica literária. Não são a instância ou foro para tratar de moral e bons costumes etc. Seria preciso criar um novo órgão. Ou melhor, recriar: antigamente chamava-se Tribunal do Santo Ofício, mais recentemente, no Brasil até 1988, Departamento de Censura da Polícia Federal. Convoquem os agentes da extinta censura que ainda não se aposentaram – entendem desse serviço, mais que críticos ou funcionários da Secretaria do Bem Estar Social (ou estarão esses recebendo treinamento para a correta aplicação das diretrizes?). Também estranho as cláusulas do edital da Funarte-FBN não terem tido repercussão maior. Colegas reclamaram de redução de verbas e demora na publicação de editais. Omissão? Recentemente, verbetes de dicionário foram alvo de ações judiciais. Tentam impedir a adoção didática de obras de Monteiro Lobato. Livros declarados pornográficos foram confiscados por ordem judicial em Macaé, RJ. Uma lei instituindo programas em defesa da moral e bons costumes é aprovada no Rio de Janeiro. As cláusulas do edital da Funarte-FBN são mais um sinal dos tempos.

Cláudio Willer, poeta e crítico, é diretor de Políticas Culturais da UBE.


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CONGRESSO BRASILEIRO DE ESCRITORES

Estão prontos os Anais Toda a história do evento, realizado em Ribeirão Preto, em novembro de 2011, está relatada em vídeo, no formato de DVD. O congresso Brasileiro de Escritores que a União Brasileira de Escritores (UBE) realizou em Ribeirão Preto, em novembro de 2011, ganha nova razão para ser lembrado. É que a equipe de multimídia do UniSeb, um dos patrocinadores do evento, fez a entrega oficia dos documentos com a história do evento no dia 16 de janeiro. O registro de toda a programação dos quatro dias de discussões e debates literários (entre 12 e 15 de novembro de 2011) está num DVD cuja edição a equipe de comunicação da UBE realizou e o UniSeb colocou na forma de mídia eletrônica. A entrega oficial dos DVDs foi feita pela equipe do UniSeb, comandada pelo vice-reitor Reginaldo Arthus, ao presidente da UBE, Joaquim Maria Botelho, ao vice-presidente Menalton Braff, escritor radicado em Serrana há muitos anos figura expressiva da intelectualidade da região de Ribeirão Preto, e ao presidente do Instituto do Livro de Ribeirão Preto, Edwaldo Arantes, parceiro da UBE na re-

são da lei das biografias que está tramitando na Câmara dos Deputados e o papel dos governos na defesa dos direitos dos escritores. O Ministério da Cultura (MinC) foi representado, na ocasião, por Galeno Amorim Júnior, presidente da Fundação Biblioteca Nacional.

alização do Congresso. O evento reuniu em Ribeirão Preto cerca de 700 escritores de 24 estados e também associados da UBE que vivem na Suíça, França, Itália, Alemanha e nos Estados Unidos. Comitivas de alguns estados ganharam destaques pelo número de participantes: a da Paraíba (12 membros), de Araçatuba (com mais de 20) e a de Ribeirão Preto, onde a UBE tem um núcleo regional coordenado pela escritora Eliane Ratier, que esteve presente com mais de 40 representantes. Entre os principais temas de debate estiveram: a defesa dos direito autorais, a discus-

Participaram da cerimônia o presidente do Instituto do Livro de Ribeirão Preto, Edwaldo Arantes, o presidente da UBE, Joaquim Maria Botelho, o vice-reitor do UniSeb, Reinaldo Arthus, a coordenadora do Núcleo da UBE em Ribeirão Preto, Eliane Ratier, a professora do UniSeb, Laurady Figueiredo, e o vice-presidente da UBE Menalton Braff.

Parceiros da UBE em Ribeirão Preto Segundo o presidente da UBE, Joaquim Maria Botelho, a realização do congresso só foi possível com a decisiva participação de dois parceiros de peso: UniSeb e Instituto do Livro. Botelho fez a questão de enfatizar a sua gratidão a Edwaldo Arantes e a Chaim Zaher e à equipe do UniSeb coordenada por Reginaldo Arthus. DVDs– os participantes do Congresso Brasileiro de Escritores têm direito a receber uma cópia do DVD, gratuitamente. Para minimizar os custos de postagem, a UBE solicita que os associados inscritos no evento, que residem na cidade de São Paulo e que possam comparecer na sede da entidade, que retirem ou enviem pessoa para retirar o seu exemplar. Os demais receberão a sua cópia pelo correio. Associados que se interessem em obter cópia do DVD poderão fazê-lo, por um valor modesto que apenas custeia a reprodução. Para mais informações, fineza entrar em contato com Nilse ou Beatriz, pelos telefones 11 3237-4462 ou 3231-4447 ou e-mail secretaria@ube.org.br.

Desdobramentos Congresso da UBE inspira eventos literários em diferentes estados brasileiros Um dos méritos do Congresso Brasileiro de Escritores de 2011 foi servir de inspiração para eventos literários similares, em vários pontos do país. Um deles foi o II Encontro de Escritores, promovido pela UBE/Paraíba, sob a batuta de Ricardo Bezerra (aliás, recém eleito presidente da Academia de Letras e Artes do Nordeste – Núcleo da Paraíba), em 2012. Uma comitiva de São Paulo prestigiou o evento. O segundo foi a Felisquié – Feira Literária do Sertão de Jequié, na Bahia. O associado Domingos Ailton R. de Carvalho promoveu o evento com apoio da Universidade Estadual do Sudeste da Bahia. Estiveram presentes o coordenador do Núcleo da UBE em Salvador, Carlos Souza e o associado Valdeck Almeida. O presidente da UBE, Joaquim Maria Botelho, fez a conferência de encerramento, abordando o tema “A literatura contemporânea e as políticas culturais no Brasil”. E está em preparação, pela UBE/Mato Grosso do Sul, um encontro literário idealizado pelo presidente da seccional, Samuel Xavier de Medeiros. Escritores de São Paulo, entre eles o vice-presidente da UBE, Menalton Braff, já confirmaram presença.


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ANÁLISE

Companheiros da UBE FÁBIO LUCAS

Tenho acompanhado a intensa produção de associados da UBE. Falo adiante dos rumos do trabalho de João Meireles Câmara, no estabelecimento daquilo que denominei a “oratória intimista”. E do aplaudido romance de Suzana Montoro, que logrou trazer para a ficção os caprichosos fios com que a História e o acaso enredaram fugitivos exilados da Hungria, até que aportassem no Brasil. A prosa teve ainda o admirável romance de Jeanette Rozsas que explora a biografia de Edgar Allan Poe: Edgar Allan Poe: o Mago do Terror (S. Paulo: Melhoramentos, 2012). No campo da produção poética é de se assinalar o volume de Poesia Reunida, de Eunice Arruda (S. Paulo: Pantemporâneo, 2012). O setor de Estudos Literários brasileiros teve a sorte de obter a publicação da obra Ficção e Ensaio – Literatura e história no Brasil pelos autores Maria Cecília Leonel e José Antonio Segatto (São Carlos: EdufsCar, 2012), com ênfase especial em Machado de Assis, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Jeanette Rozsas, Eunice Arruda, Maria Cecília Leonel e José Antonio Segatto merecem leitura concentrada e demorado comentário crítico. Espero que encontrem diversificados intérpretes. 1. A oratória intimista A Oratória teve origem na Oralidade, ou seja, na comunicação mediante sons convencionais emitidos pela boca. A escrita viria depois. Nas Confissões, Santo Agostinho traduz admiração por Santo Ambrósio, capaz de ler em silêncio, sem emitir os sons das palavras. Os costumes da época

somente admitiam a leitura em voz alta. A leitura silenciosa viria depois. Na esfera do sagrado, a fala com os entes superiores, Deus, Maria, Santos e Anjos, denominava-se Oração. Também constituíam Orações os discursos apologéticos aos donos do poder, Reis, Príncipes, Nobres e Clérigos. Desde os seus primórdios, a Retórica, a partir do sentido etimológico, refere-se à palavra falada. Tratava-se de uma regulamentação da Oratória. Tinha por finalidade convencer e persuadir, façanha a que se juntou a intenção de deleitar. No apagar da Idade Média, a Retórica se associou à Poética, penetrou na arte e induziu-a ao excesso de ornato. Cumpria ao orador, através da abundância de palavras sonoras, dissimular a ausência de substância. Mas a Oratória, percorrendo inumeráveis tendências, desde os gregos e os romanos, estratificou-se na grande arte da comunicação e persuasão, entre os seres humanos. Tornou-se instrumento indispensável à propagação de idéias filosóficas, religiosas, políticas, militares e até da própria convivência cotidiana. Concebe-se hoje que, a cada papel desempenhado pelo indivíduo, no complexo contexto da vida de relações, corresponde uma elocução específica, adequada a cada situação. Tudo provém da necessidade de transmitir a palavra e o pensamento. Na tradição da Oratória, sagrada ou profana, cuidava-se de impostar a voz do orador e adestrá-lo a bem pronunciar os vocábulos, a fim de que a mensagem chegasse aos ouvintes na sua integridade, sem interferências ou equívocos. Modernamente, com o avanço da tecnologia eletrônica, dispensa-se o atributo da oratória em altos brados, ruidosa, com a finalidade de ser ouvida a distân-

cia por todos. É que a Retórica da eloquência abrandou-se, sofreu mudança estilística graças ao tom coloquial, como se as palavras fossem ditas em confidência, na intimidade de um ambiente fechado e exclusivo. O ambiente ideal da comunicação deixou de assemelhar-se a um comício, para equivaler a um comércio afetivo de emoções. Daí nascer a Oratória Afetiva, pela qual se interessa de modo especial João Meireles Câmara, experiente tribuno e didata, autor de vários estudos sobre a matéria e agora de Oratória e Comunicação Intimista (São Paulo: Editora RG, 2012). João Meireles Câmara recapitula a longa história das noções que ilustraram a Oratória e a Retórica, relata experiências bem logradas dos cursos que ministrou e dá testemunho da trajetória do Mutirão Cultural da União Brasileira de Escritores/SP a partir de 1998, sempre com o propósito de propagar a democracia cultural, humanista, por intermédio da palavra falada, apoiada em fatores comunicativos como postura, linguagem corporal e gesticulação. Todos reconhecem que, na modernidade, a expansão da Publicidade, se contribuiu para a mercantilização de todos os comportamentos, levando à reificação dos valores, por outro lado legou-nos a preocupação com a Linguagem, que deve ser clara, acessível e elegante. Portanto, instauradora da eficiência e da beleza nos atos de informação. Para os escritores, cuja atividade não se desloca da preocupação estética, bem falar se equipara, no plano das interações, a bem escrever, pois aspiram a comunicar-se e a entender-se nos altiplanos da inteligência humana. 2. Os Hungareses, romance premiado Os Hungareses (S. Paulo: Ofício das Palavras Editora,

2011), romance de Suzana Montoro, cuida do delicado problema dos imigrantes, incidindo o foco da narrativa sobre o aspecto humano da questão. Evita o enfoque panfletário. Com forte domínio da linguagem, palmilha as discrepâncias da perda e da destruição de certas culturas, ante a indiferença dos demais povos, reunidos em organismos internacionais, sob o signo retórico da solidariedade. Suzana Montoro relata a história de um povo sem culpa, vítima da guerra dos outros, destituído de espaço próprio e de haveres. Faz ficção, documento e história. E compõe seu relato de alto poder imaginativo, percorrendo passo a passo os caprichosos fios do destino. Notável percurso obteve Os Hungareses. Primeiro ingressou entre os dez autores estreantes de 2011 indicados para o Prêmio instituído pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, visando a incrementar a criação literária e a leitura. A seguir, o romance de Suzana Montoro logrou sensibilizar a Comissão encarregada da selecionar a melhor de todas as obras. A láurea recaiu sobre Os Hungareses, que competia com as nove demais narrativas, todas de alto relevo artístico. Creio que aqueles que apressadamente anunciam a morte do livro e a extinção do relato escrito deveriam repensar sua antevisão terrificante. A ficção brasileira, inversamente, eleva-se a condigno patamar.

Fábio Lucas, ex-presidente e atual diretor cultural da UBE.


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MEMÓRIA

Santa Maria, minha terra EROS ROBERTO GRAU

Caminhávamos pela “primeira quadra” - como se diz na minha terra. O primeiro quarteirão da rua principal, a “doutor Bozano”. A rua que desemboca na praça, onde em noites não tão frias as moças passeavam em um sentido, os rapazes pelo lado oposto, como que compondo um carrossel. Era em Santa Maria, minha terra. Eu a deixara menino, pequeno. Mas voltávamos sempre, embora nunca mais de uma vez por ano. E sempre que ia a Santa Maria, com o pai e a mãe - como se diz na minha terra - eu me sentia voltando, retornando ao começo. Certo dia bem no início dos anos cinquenta, caminhávamos pela “primeira quadra”. Meu pai encontrava velhos amigos e, apontando-me, dizia: “este é o Eros Roberto, meu filho”. Sorríamos e o guri que eu era sentia-se firme no mundo. Santa Maria que deixei tão cedo. Por isso mesmo, talvez, com vontade de voltar. Vontade de recuperar imagens, vozes, gestos. Coisas da década dos quarenta, meu avô Justino descascando-me laranjas e fazendo, nos seus ventres aloirados, pocinhos bem marcados. O tempo vai passando e, nesse ir-se indo, leva pessoas, sopra memórias. Guardo-as cuidadosamente, de modo que, se hoje passeasse pela “primeira quadra”, lá as encontraria. Seria tão bom, como se em meu tempo de menino, caminhar agora por ali, encontrar amigos do pai, olhar as moças na praça. De quando em quando vêm notícias da minha terra. Falo

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ao telefone com os primos, prometo de repente aparecer. Vamos logo nos ver - garantimo-nos uns aos outros. Assim fluía o tempo, a areia escorrendo docemente na ampulheta, até que meu sonho de menino foi bruscamente interrompido. De repente foi como se aquela fumaça me envolvesse, acordasse sufocado e descobrisse que - mais do que frágil, passageira, inconsistente - a vida que surpreende para o belo repentinamente apunhala. Um punhal cravado em nosso peito. Não quero ver as imagens que passam no vídeo. Digo a mim mesmo que é ficção. Não estou a fim de assistir filmes de mau gosto. Procuro mudar de canal, penso ligeiramente em um livro que ando a ler, sobre universos ocultos. Isso não há de ser real, digo a mim mesmo. Há de estar acontecendo em outro mundo. Não obstante, lá está, de verdade, a realidade. O guri em mim envelhece. As lágrimas em meus olhos já não são como as que os alcançam quando enlaço ternuras de minha cidade. Agora é como se eu a abraçasse, trazendo-a para mais perto de mim, e nos uníssemos ainda mais sob essa enorme tristeza. (Artigo originalmente publicado na Folha de São Paulo, 31.1.2013, p. C4 especial)

Eros Roberto Grau é associado da UBE e membro da Academia Paulista de Letras.

A literatura perde Lêdo Ivo O poeta alagoano foi o ganhador do Troféu Juca Pato, em 1990. Foi o 29º Intelectual do Ano. Lêdo Ivo recebeu o troféu Juca Pato das mãos de seu antecessor na honraria outorgada pela UBE, Dom Paulo Evaristo Arns. Ocupante da cadeira número 10 da Academia Brasileira de Letras desde 1986, o poeta nascido em Maceió também atuou no jornalismo – durante muitos anos atuou na redação da Revista Manchete, ao lado do também acadêmico Raimundo de Magalhães Júnior. Estreou na literatura em 1944, com o livro de poemas “As Imaginações”. Apenas Um ano depois, publicou “Ode e Elegia”, livro vencedor do Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Passou a ser um colecionador de prêmios. Em 1947, seu romance de estreia “As Alianças” recebeu o Prêmio de Romance da Fundação Graça Aranha. Em 1957, seu livro de crônicas “A Cidade e os Dias” recebeu o Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras. Publicou, ainda, entre outros: “Curral de peixe”, “Plenilúnio”, “Ninho de Cobras”, “Confissões de um Poeta” e o infantil “A história da tartaruga”. No seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, exprimiu assim o seu ofício:

“A Poesia é uma magia da linguagem: uma magia criada pelos homens. E, na mesa do mundo, essa infindável celebração do universo, testemunhando uma vocação e um magistério, haverá de ter sempre uma serventia, quer assegurando a continuidade do idioma nativo através dos tempos, quer renovando as imagens da existência e do homem como prova maior de nossas vidas. Graças a essa linguagem, aqui estou. Certamente fui trazido pelos navios de minha infância e pelos ventos do mar que, atravessando lagunas e coqueirais, ilhas e estaleiros apodrecidos, alcança esse irmão separado de nós que se confunde com os caranguejos semiocultos na terra mole e escura dos mangues e maceiós – essa terra congeminada à água que é a minha raiz e o meu berço, a minha Pátria e a minha Linguagem, e até mesmo o meu pesadelo.” Morreu vitimado por um infarto, em Sevilha, na Espanha, aos 88 anos. Estava na cidade a passeio. Seu corpo foi cremado na Europa. Suas cinzas estão sepultadas no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.


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MEMÓRIA

Morre um dos fundadores da UBE Portador da carteira de associado número 12, Hernâni Donato foi um dos signatários da ata de criação da União Brasileira de Escritores. Apagou-se a chama mais vibrante de São Paulo! Com missa solene oficiada por D. Fernando Antonio Figueiredo, o Instituto Histórico e geográfico de São Paulo, prestou comovente homenagem ao seu Presidente de Honra, um dos maiores escritores brasileiros: HERNÂNI DONATO. Na ocasião foi saudado pelo Padre Sparco Francesco Ticcotti, que ressaltou o imenso valor de suas pesquisas históricas e literárias e sua qualidade de tradutor. Nós, seus amigos, discípulos e admiradores ficamos um pouco órfãos. Sonia Sales Pessoa inestimável Sua obra compreende livros de ficção, história, biografias, tradução e dicionários. Quanto ler e rir com meus alunos “Novas aventuras de Pedro Malasartes”. Ao lado de sua produção literária em português, escreveu em outras línguas como o guarani, o romeno, o italiano, o tcheco, o polonês. No ano 2003 Lourdes Fuentes traduziu para o espanhol, o lendário “Los curumins que se volvieram estrellas”. Dentre suas traduções encontra-se “A Divina Comédia”, das biografias constam de José de Alencar, Vicente de Carvalho e Galileu. Das adaptações destaca-se “O arqueiro do rei”, de Sir Walter Scott. Os livros de História abarcam Botucatu e o Brasil. Seu romance-documental “Selva Trágica” foi reeditado em 2011 por Letras Selvagens. No prefácio da quarta edição Fábio Lucas adverte o leitor quanto ao inegável valor literário da obra, que aborda o tema social da exploração humana por

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certa Companhia na produção de erva-mate. Nas palavras do crítico literário: “Documento eloquente, de notáveis revelações, de alto poder comunicativo e obra de grande valor estilístico, Selva Trágica mostra as dantescas condições de trabalho da região.” Nelly Novaes Coelho, presente ao lançamento do livro, no saguão da Academia Paulista de Letras, prestou comovente depoimento sobre o autor e a obra: “Linhas que se entrelaçam na verdadeira gesta da crueldade humana – a dos ‘apanhadores da erva’, a da brutal exploração de suas mulheres e as mortes inevitáveis -, que a arte maior de Hernâni Donato eternizou em Selva Trágica.” O romance, de profundas raízes históricas, foi publicado pela primeira vez em 1956 e resultou, na época, em novo sopro à literatura regionalista dos anos 30, recriada posteriormente pelo universo de Guimarães Rosa. Dada sua importância no contexto nacional “Selva Trágica” foi adaptado ao teatro e representou o Brasil no Festival de Cinema de Veneza em 1959. Hernâni Donato foi humanista comprometido com a justiça socioespacial do Brasil e com nossos bens culturais. Combatente em 32, jamais deixou de combater a ignorância e a miséria, em todos os sentidos. Sensível e brincalhão com os familiares, amigos e confrades, dedicou-se, também, à memória deles. Ter convivido com o imortal Hernâni, ainda que vez ou outra, na APL e na UBE, é bênção a ser partilhada com o mundo, pois pessoas assim são inestimáveis ao aprendizado da existência e da escritura. Sônia Cintra

Quem perdemos

Analice Feitoza de Lima2932

Carlos Elmano de Oliveira-3424

Daisy Daghlian-4139

David Masselli- 3213

Ilka Brunhilde Laurito-318

Leda Galvão- 1582

Isaura Fernandes Silveira-3397

Leonilda Hilgenberg Justus-1975

Eduardo Ferreira de Oliveira-295

Carlos H. Palheta Nunes3400

Paschoal Di Ciero Filho-3408

Klaus E. T. Engelhardt- 3249

Marília do Céu Ribeiro-1126


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Quem ganhamos

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Lançamentos de livros de associados da UBE Barulho e fúria em Imbaúbas – A morte de Cornélio Tabajara ( 2ª edição). Alaor Barbosa. “Um romance primoroso, impecável na estrutura e técnica narrativa; na linguagem precisa e bela, que mostra um prosador digno de figurar na galeria dos melhores da língua portuguesa”.

Adílio Jorge Marques - 4223

Aroldo da Hora - 4252

Cybelle Valente Pontes - 4249

G. Amarante 4247

Mafra Carbonieri 4251

Rogério Forastieri da Silva - 4225

Alan Patrick A.M. Bechtold - 4242

Augusto Aguiar

Dante Marcucci 4244

Genha Guga 4241

Márcia Etelli Coelho - 4237

Ronaldo Costa Couto - 4224

Ana Claudia Marques - 4236

Carlos Kessner - 4227

David José Lessa Mattos - 4226

Germano Machado 4254

Marianice Paupitz Nucera - 4233

Rudival de Amparo- 4218

Ana Paula Ferraz de Oliveira - 4248

Antonio Carlos Limeiras - 4243

Antônio Santana - 4234

Cezar Augusto Batista - 4229

Chinelo - 4253

Cida Bianchini - 4220

Eduardo Rascov - 4232

Emmanoel R. Carvalho - 4250

João Batista M. de Andrade - 4245

Renata Rimet 4239

José Tavares 4235

Renato Modernell - 4221

Sandra Santos - 4246

Widman dos Santos Cestari - 4228

Ernesto José Coutinho Junior - 4230

Lemana - 4255

Rita Lavoyer 4240

Zilda Freitas4257

Recôncavo em contos. Cosme Custódio. “Um Recôncavo grandioso, imponente e inescrutável”, como afirma o autor, é o que se vê neste livro de contos do Cosme Custódio, de personagens varonis, encantadores, mas, como diz ainda o autor, ‘maior terá que ser a razão. Se a sensibilidade sobe à flor da pele, mais arguta terá que ser a inteligência.’ Fernando Ribeiro de Barros: o conquistador de Paris. Joaquim Cavalcanti de Oliveira Lima Neto. Neste livro de Joaquim Cavalcanti vemos um homem que ainda vive na lembrança de muitos que souberam de sua passagem, sobretudo na França, onde marcou sua vida entre amores e ciúmes, sempre vividos de maneira intensa. Recordias. Dias. “Escrevi essas histórias/e assumo o que foi contado/ Boas ou más são memórias/de um personagem talhado/Do tipo que o diabo achou/Ideal, e o programou/ Para um trabalho adequado”. É o que escreve o autor na contracapa do seu livro “Recordias”. Mulher BPW Londrina conta a sua história. Márcia Moreira. Mulheres dinâmicas, que conciliam família e trabalho, em síntese, retratos fiéis da mulher moderna. Em “Mulher BPW Londrina conta sua história II”, a trajetória e sucesso, conto, em uma leitura agradável, de mais de 30 empresárias e profissionais da região. O Poeta Jovem. Carlos Kessner. Primeiro livro de poesias de Carlos Kessner, pela editora Scortecci, no qual resgata as poesias escritas em sua adolescência, em cujo teor romântico, ecológico e existencialista transparece o turbilhão do universo juvenil e que por isso, apesar de escritas há 40 anos, são contemporâneas e atemporais. Crônicas de minhas filhas Ângela e Veridiana da Gru, musa do Jardim Nazaré e de outras mulheres da minha vida. Joaquim Cavalcanti de Oiveira Lima. O autor nesta obra homenageia as mulheres de sua vida, desfiando os relacionamentos com cada mulher que foi essencial em sua existência: parteira, ex-esposa, filha, parente, amiga, professoram, autoridade, escrevente, cliente de seus serviços de advocacia, colega, estagiária, vizinha, namorada, etc.


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LIVROS Bazar Literário. Nilva Mariani. Coleção de textos escritos ao longo dos anos pela autora, alguns recentes e inéditos, outros bem antigos, mas inéditos. Todos são textos que mostram o prazer de escrever, da autora em qualquer gênero, poemas em prosa, em verso, crônicas, contos.

Eles, Elas e Eu. Sandra Russo. Após um intervalo de amadurecimento pessoal a autora lança este livro que reflete toda sua trajetória para a fase adulta, desde as dúvidas e anseios, até as conquista pessoais e o amadurecimento, tudo isto por meio de uma poesia intensa que traz ao leitor a necessidade de refletir.

Efígies – Poesias. Wildman Cestari. Escreve Luiz Antonio Cardoso, no prefácio: “Este livro marca o surgimento de um autor com estilo próprio, tão raro em nossos dias, e que ousa não se fixar numa escola determinada, como tampouco seguir os passos de um Mestre em essencial. Parece que, intuitivamente, segue o preceito de Cora Coralina: ‘ Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo’, mostrando-se um poeta multifacetário, aprendendo e revivendo nas andanças de sua existência e amadurecendo a cada novo raiar da manhã e a cada novo verso garimpado.”

A lira da alma feminina. Ana Clara Cunha. O trabalho de Ana Clara, cheio de sensibilidade, refletes em seus poemas, toda a sua capacidade literária. Selmo Vasconcelos escreve: “É uma prova de que a poesia amazônica existe e precisa sobreviver, para que o resto do Brasil a conheça.”

10- Encontro do direito com a poesia – Crônicas e escritos leves. João Batista Herkenhoff. Diz o autor na apresentação da obra: “Há uma profusão de livros jurídicos disponíveis nas livrarias e bibliotecas. Há também preciosas obras literárias para a viagem pelo mundo da ficção. Mas não é tão comum um livro com a pretensão deste- unir Direito e Poesia.” Diálogos e sermões de Frei Eusébio do Amor Perfeito – Poesias. Mafra Carbonieri. Escreve Frei Augusto da Misericórdia em carta ao editor: “São orações tímidas, nem sempre profundas ou ortodoxas, mas logo se percebe que o autor não se deixa tolher pelas fronteiras de sua cela. (...) Não procure saber quem foi, no mundo, frei Eusébio do Amor Perfeito. Nossa ordem prega a identidade, pois o contrário, a identidade é a causa da egolatria e, portanto de todos os pecados. Se, no claustro, escolhemos um nome não secular, é para desaparecer nele.” Jornalismo Investigativo – Manual Prático. Walder Pinho. Todos os humanos, naturalmente, são curiosos e, em vista disso, também são perguntadores natos e não vivem sem a informação. Desde o surgimento da imprensa e o advento da informática, o progresso da humanidade se registra a cada milésimo de segundo. O poder da informação é incontestável. O jornalismo investigativo é a salvaguarda da informação mais próxima da verdade, e exige que o jornalista seja mais que um simples coletor de informações. 7 de Março. Hélio Begliomini. Sete de março de 1985 foi o dia em que a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo foi fundada. E Sete de Março de 2012 é a data em que nessa sociedade atual, a transformada Academia Paulista de Medicina de São Paulo teve a plenitude de suas 130 cadeiras preenchidas. Nesta obra, está um pouco dessa história e do que são os 130 membros titulares da Academia Paulista de Medicina de São Paulo.

O Poente, o poético e o perdido. Ana Claudia Marques. Estas poesias são vinculadas ao cotidiano de uma brasileira que após muitos anos no Japão traz esses poemas curtos, fortes e sutis, reflexos do momento, o transcender entre dois mundos, como se fossem haicais. “As rimas atingem certeiras o alvo: expressar o viés feminino desses olhares.” (Deonísio da Silva) Mosaico de Fé. Pe. Enivaldo Santos do Vale. “Os poemas que Pe. Enivaldo ora publica, além de autêntico lirismo estão impregnados de profunda religiosidade. Uma fé fundamentada nas Escrituras Sagradas e compreendida como forte apelo a assumirmos nossas responsabilidades na construção de um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno.” , escreve o Côn. Dario Bevilacqua, em prefácio ao livro. Abre a boca Calabar. Organizado por Waldeck Almeida de Jesus. Resultado do “Concurso de poesia Abre a Boca Calabar” este livro é destinado à comunidade do Calabar e tem como objetivo do concurso incentivar a escrita e possibilitar aos moradores da comunidade, principalmente crianças e adolescentes, a oportunidade de terem seus textos publicados em um livro. Luz e Sombra. Rodolfo Konder. Rodolfo Konder é um memorialista que nos traça o perfil de personalidades importantes que passaram de alguma forma por sua vida, pessoas queridas entre tantas e também registra suas impressões sobre o tempo de sombras que viveu , enfim, é sempre o cronista, o jornalista, o homem atento ao registro do tempo. O livro é editado pela RG Editores. Barzinho Sórdido ou (A Herança). Hildebrando Pafundi. Este livro de contos curiosos e de temática realista usa como matéria-prima as emoções e os sentimentos, mostrando como o texto de Hildebrando Pafundi neste novo livro flui naturalmente quase sem apelar pela intertextualidade e a metáforas inusitadas.

Águas Fugazes. Rui Ribeiro. Estréia do autor na ficção em romance ambientado numa pequena estância climática mineira, cenário e personagem da narrativa. Permeiam suas páginas raros turistas dos anos 90 e histórias que remetem aos tempos de fastígio, quando a cidade era impulsionada por numerosos visitantes. Fragmentos de Luz. Manoel Resende. Neste livro o autor vai da crônica à narrativa curiosa, da leveza lírica à critica social, do apanhado contístico, fotográfico e impressionista, ao passado sentido, ido e vivido. Do conjunto, vem ao vivo, espelhante, a alma de sua caminhada. Mensagens de Esperança – Nunca é tarde para vencer e ser feliz. Martins Neto. As grandes coisas tiveram pequenos inícios. Sabedoria, inteligência e determinação são palavras chaves para abrirem as portas do futuro. O ser humano tem dois caminhos a seguir, desenvolver a mente e ganhar sabedoria. A torre de Diaphanus. Sant’ana Pereira. Nesta obra o autor envereda por caminhos que vão do místico ao absolutamente fantástico com uma preocupação em dizer o máximo com o mínimo de palavras. Mestre no suspense, o autor consegue prender o leitor da primeira à última linha deste seu novo exercício de ficção, o romance.

saborear.

Lua, Luar... Emérita Andrade. Através da leitura de “LUA, LUAR...” podemos sentir o brilho, o calor, o cheiro, o perfume e as demais sensações que somente os corações líricos e “loucos” dos poetas são dados ao privilégio de

Dobras do tempo. Luís Mordegane. Um recurso pouco usado hoje na poesia – talvez por ser difícil fingir em dias de sobriedade em que a realidade estapeia nossa cara a cada segundo – é um achado preciso desta presente obra: o emocionar com simplicidade. Se, para passar depressa o tempo do pingo da lágrima da dor da morte, que escorre a cada minuto passante por nossas vidas, um poema de leve se desenhasse no vento, talvez secasse essa gota de dor toda em sorriso, por um motivo simples, mas necessário, encantador: a poesia destas páginas. Templo dos Agnósticos. Paulo Veiga. Templo dos Agnósticos, do autor Paulo Veiga, é romance que desperta a curiosidade do leitor ante a omissão nas Sagradas Escrituras sobre a infância de Jesus até aos 30 anos de idade, além de críticas sobre várias religiões e seitas.


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NOSSA GENTE

Dois anos de existência, vários frutos colhidos Antonio Luceni* Núcleo Araçatuba e região

Desde quando sua criação, em agosto de 2010, pelas mãos de nosso presidente Joaquim Maria Botelho, na 21ª Bienal Internacional do Livro, o Núcleo UBE Araçatuba e região não tem medido esforços para fazer com que as ações de nossa querida União Brasileira de Escritores sejam bem representadas na região noroeste paulista do estado de São Paulo. Seguindo a máxima do “navegar é preciso”, lançamo-nos a este mar imenso de possibilidades, que é o da literatura, do livro e da cultura, para, assim como os grandes navegadores, recolher histórias, conhecer novos horizontes, fazer novas amizades, enfrentar novos desafios... Nossos intrépidos associados dedicam parte de seu tempo em promover a literatura em nossa região por meio da participação em eventos literários e na produção pessoal, seja em lançamentos

de livros, seja na participação na coluna “Palavrar UBE”, em um dos jornais da região, e também em coletâneas, blogs etc. Em 2012, a exemplo dos anos anteriores, tivemos uma presença significativa no circuito literário de nossa região e país, com destaque para o 2º ENESIAR (Encontro de Escritores de Araçatuba e região), a 22ª Bienal Internacional do Livro/SP e as reuniões ordinárias do Núcleo. Somado a isso, novos associados ingressaram no quadro da UBE, integrando o Núcleo de Araçatuba e, despontando no horizonte, há a implantação de outros dois novos Núcleos em nossa região. Aguardem. Gostaria de enfatizar e agradecer a sempre presença e apoio de nossos presidente e vice, Joaquim e Menalton, neste percurso de dois anos da nossa existência. Muito obrigado. *Antonio Luceni é coordenador do Núcleo UBE Araçatuba e região e também diretor de integração nacional da UBE.

Ações inovadoras marcam o núcleo mais jovem

A equipe do Núcleo do Vale do Paraíba iniciou um trabalho de divulgação da literatura em presídios, entre outras atividades.

Luiz Antonio Cardoso* Núcleo do Vale do Paraíba O Núcleo da UBE/SP no Vale do Paraíba foi fundado em 15/março/2012, tendo realizado desde então, diversas reuniões em cidades da região, e participado ativamente de lançamentos de livros no Vale e em São Paulo, inclusive na última Bienal. Firmaram-se parcerias com universidades, institutos culturais, jornais, associações, fundações, escolas, e com o programa Litteratudo, da TV Cidade, apresentado por Luiz Antonio Cardoso. Foram realizados vários eventos, como mesa-redondas, e até um recital de violão com o concertista inter-

nacional André Simão. Também registraram-se mesa-redondas e palestras em parceria com a ALACRE, academia formada somente com detentos, idealizada por Luiz Antonio Cardoso, na Penitenciária II de Tremembé, com apoio irrestrito de Nicodemos Sena e de Luis Avelima. O Núcleo já recebeu homenagens de várias câmaras municipais e prefeitos da região, tendo recebido moções da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e citada em breve discurso no Congresso Nacional. * Luiz Antonio Cardoso é coordenador do Núcleo da UBE na região do Vale do Paraíba.


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NOSSA GENTE

Um grupo que cresce no interior de São Paulo

Lançamento da Feira do Livro de Ribeirão Preto 2013. Na foto, a partir da esquerda, Mara Senna, Jugurta Lisboa, Ely Vieitez Lisboa, Eliane Ratier e Alfredo Rossetti.

Eliane Ratier* Núcleo de Ribeirão Preto e região 2013 veio com brilho precoce entregando em mãos os anais do Congresso de Escritores realizado por aqui em novembro de 2011. O trabalho ficou bem feito. Um registro importante em texto e imagem que já está chegando às mãos dos associados. O Núcleo foi à reunião do Conselho de Cultura do município para conhecer o novo secretário de cultura, Sr. Alessandro Maraca, marcando presença como entidade participativa na cena cultural da cidade. Encerrando o mês de janeiro estivemos no lançamento

oficial da 13ª Feira do Livro de Ribeirão Preto, evento muito esperado por todos ligados à cultura e de maneira especial à literatura, que neste ano se realizará entre 06 e 16 de junho. O Núcleo tem papel ativo na organização dos espaços dos escritores locais, muitos nossos associados, incentivando e divulgando a participação de todos. Para 2013, alguns lançamentos estão sendo agendados, autores preparam seus livros para edição, queremos instalar a biblioteca do Núcleo. Mais no blog http://uberp.blogspot.com * Coordenadora do Núcleo da UBE- União Brasileira de Escritores-Ribeirão Preto.

Luiz A. Madalena, Humberto Emiliano, Benício P.S. Filho, Nilza G. Lapa, Sueli Carlos, João M.Câmara, Carlos Frydman, Luzia Frydman, Marcelo Salve Lago.

Mais um ano do Mutirão Cultural da UBE Dia 04 de janeiro o Mutirão Cultural iniciou o ciclo de férias: Técnicas de Oratória, na Associação Comercial de SP,orientado por Sueli Carlos e João Meireles Câmara. Consta de teoria dos livros: A Estratégia da Palavra, Palavras Mágicas, Técnicas de Oratória Forense e Parlamentar, Oratória e Comunicação Intimista, de João M. Câmara e muita prática. Tem por objetivo vencer o medo de falar ao público além de despertar o espírito crítico. Realizou a conferência Oratória e Comunicação Intimista com noite de autógrafos do livro com o mesmo nome, do es-

critor e conferencista João M. Câmara no dia 17. Dr. Armando Taminato foi lembrado uma vez mais no último dia 12. Ele que costumava reunir seus amigos num barzinho da Santa Cecília para experimentar o delicioso filé a parmegeana, nos deixou faz um ano. Lá o Mutirão homenageou o amigo lembrando-se dos bons momentos e saudou os aniversariantes Humberto Emiliano e Benício P.S.Filho. Neste ano o Mutirão pretende realizar o projeto: Coletânea do Mutirão Cultural da UBE–Vol I, com poesia, conto e crônica, para o qual abre as inscrições em janeiro de 2013.

Como coordenadora do Núcleo de Ribeirão Preto, Eliane Ratier participou da cerimônia de entrega dos anais do Congresso Brasileiro de Escritores de 2011.

Sueli Carlos, João Meireles Câmara-ciclo de Técnicas de Oratória na ACSP-Liberdade


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CRÔNICA

Memória in/em glória da av. São João

Alguma coisa acontece em meu coração, quando cruzo a Ipiranga com a Av. São João. CÍCERO DA MATA

Desci a praça Antônio Prado contente com o tratamento dado ao entorno. No lugar de um amontoado de caixas de engraxate, botaram uma engraxataria num quiosque moderno em estilo antigo. Os paulistanos, chegados que são numa desculpa para um descanso, encontram ali um ótimo pretexto para uma parada e lustrar o sapato. Ao cruzar o Anhangabaú, deparo admirado com o parque ali instalado. Uma beleza! A praça do Correio ficou ligada à praça Ramos de Azevedo por uma esplanada e livre de carros. Subo um pouco mais, esperançoso para rever o largo do Paissandu, recanto boêmio da cinelândia paulistana. Na medida em que vou chegando, o contentamento vai se esvaindo, dando lugar à decepção. Não há mais boemia alguma por ali. A degradação se expõe em todos os cantos do largo: um bando de prostitutas ocupa a pracinha; barracas e camelôs ocupam as ruas; rockeiros e hippies pé-de-chinelo tomaram a avenida. O cine Art-Palácio foi transformado em salas de cinema de sexo explícito. Tudo isso envolto por uma zona comercial de baixo nível. Só restou - incrustado ali, resistindo não se sabe por quanto tempo - o Ponto Chic, com seu velho Bauru. Prossigo pela avenida com a calçada alargada e transformada numa extensão do largo. A degradação segue o alargamento. Ao chegar na Ipiran-

ga, vagueio de um lado para o outro e me espanto com uma dúzia de grandes prédios lacrados e outros feito garagens. Parece uma zona em ruínas. Um trânsito de carros e gente toma todo o espaço, fazendo daquilo apenas um lugar de passagem, e rápido, pois pode ser perigoso. Restou apenas o Bar Brahma, que sabiamente avançou na calçada, mas perdeu muito de seu antigo encanto. Nesse instante meu coração já combalido não aguenta mais e evoca a canção de Caetano Veloso. Exausto, não tanto pela caminhada, preciso de um descanso para a mente. Basta seguir um pouco mais e sentarei naqueles bancos da praça Júlio Mesquita, ao lado da fonte d’água, embaixo de uma árvore. Foi a segunda decepção:

a fonte não funciona, os bancos sujos ou quebrados, e as árvores escassas, a “zona” achou seu centro. Por sorte encontrei o Moraes ainda lá, também resistindo. Comi seu filé com alho, e descanso um pouco ali mesmo dentro do restaurante. Ficar na praça seria uma temeridade. Prosseguindo mais um pouco, cruzo com a Av. Duque de Caxias e tenho a terceira decepção. Encontro um monstrengo invadindo e tomando toda a avenida de lado a lado, o tal do “minhocão”. A enorme serpente de concreto cobriu o passeio público e abriu um albergue de mendigos e vagabundos em seu lugar. Fiquei com medo de entrar naquele “cortiço” lúgubre e sujo. Como chegar na praça Marechal Deodoro? Coragem!

Pressinto, “pelo andar da carruagem” uma quarta decepção. Onde já se viu cobrir uma praça como aquela com uma avenida elevada de mão dupla e trânsito intenso? Fico sabendo que a serpente não acabou apenas com parte da av. São João. Engoliu também a rua Amaral Gurgel, e boa parte do tradicional bairro de Santa Cecília. Um estrago e tanto ao centro da cidade. Depois de tanta decepção, resta ainda uma esperança de salvação daquela parte do centro. Me informaram que aquela aberração da arquitetura urbana vem sendo denunciada há tempos, e sua demolição já se constituiu em projeto apresentado pela prefeitura. No entanto agentes do mercado imobiliário estimam que se isso ocorrer, não será antes de 2025. Gostaria muito de estar vivo até lá! Não poderia ser antes? Cícero da Mata é da década de 1930, criado no agreste pernambucano até 1945, quando passa a viver em São Paulo até 1959, e retorna à terra natal. O relato acima é fruto de uma visita a São Paulo, em janeiro de 2013, aos 83 anos.

O autor, José Domingos Brito, é diretor da UBE. Cícero da Mata é o nome do personagem que ele criou para homenagear a cidade de São Paulo, no seu aniversário.


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RESENHA

A insanidade como releitura: aproximações ao Diário de um médico louco, de Edson Amâncio “A loucura fascina o homem porque é um saber.” Michel Foucault GABRIEL KWAK

Originalmente concebido para ser um conto longo, como nos revela o autor, o romance Diário de um Médico Louco (LetraSelvagem, Taubaté, SP, 2012) confirma o mineiro radicado em São Paulo, o neurocientista Edson Amâncio, como um dos mais fulgurantes ficcionistas do nosso tempo. Pode-se ler esse romance notável na cama, sem medo de, na horizontal, mergulharmos em sono profundo. O enredo diz respeito a um médico insano (cujo nome nunca é revelado), anti-herói alucinado, que passa em revista “episódios” da sua vida na forma de um diário íntimo. Trata-se do balanço de uma existência atormentada, com temperos de surrealismo, a partir de um narrador póstumo ao estilo do sempre lembrado Brás Cubas. Póstumo, ou pelo menos, desaparecido. Antes de sair de circulação, o gastroenterologista confiou a um colega a publicação do teor do caderno. Edson Amâncio cria o universo particular do “médico louco”. Nas entradas desse diário, Dr. B*, o narrador-diarista além-túmulo, se prende, em todo momento, a um niilismo de face negativa, a um fatalismo. A todo momento, a personagem está se testando, se provocando. Uma pergunta que nos persegue durante a leitura desta imaginosa narrativa picaresca é a que se prende à dúvida de onde começa o delírio do médico e onde começa o da coletividade, dos tipos sociais circundantes. O editor Nicodemos Sena chamou para si a edição dessa aliciante fantasia literária urdida por Amâncio. Idealista, quixotesco até, Nicodemos, ele

também romancista vigoroso, não abre mão do bom gosto dos títulos que publica, como se pode atestar ao se examinar o catálogo da sua editora, a LetraSelvagem. Edições bem cuidadas, inclusive, na apresentação gráfica, muitas delas iniciativas arrojadas quando levamos em conta nosso cada vez mais mesquinho e mercenário mercado editorial. Metier oblige, Edson Amâncio, integrante do corpo clínico do Hospital Albert Einstein, é experimentado e agudo perquiridor dos entroncamentos de genialidade com loucura. Creio desnecessário enfatizar que os casos clínicos sobre os quais o autor se debruçou ao longo de tantos anos de Medicina o aparelharam como poucos para conceber relato desse escol, recriando a mente do louco. Daí por que Amâncio é convincente: ele conhece os transtornos da mente, as psiconeuroses, ele conhece o “discurso do louco”, matéria-prima, por exemplo, do Diário de um louco, de Gógol. Aqui e ali, o journal do personagem me faz lembrar as anotações autobiográficas de Ascendino Leite (em mais de uma dezena de volumes...) e Eustáquio Gomes (Viagem ao Centro do Dia), dois cultores do gênero diário pouco indulgentes com eles mesmos. A estrutura de diário serviu de pretexto para a construção ficcional, por exemplo, de Cyro dos Anjos, no seu clássico O Amanuense Belmiro, e de Carlos Sussekind de Mendonça, no seu Armadilha para Lamartine. O imperecível Marcos Rey também se louvou no diário como fio-condutor e cenografia de seu Diário de Raquel. Numa das passagens, o “médico louco” faz a apologia da

falta de lógica das coisas: “Eles – os que procuram a lógica até na cor do pudim sobre a mesa – estarão condenados ao fogo perpétuo da ignorância das coisas e da incompreensão.” Num trecho inesquecível, com o sal do sarcasmo, a personagem amaldiçoa os poetas. Detesta os fumantes. Noutro trecho, deu-se conta de um colóquio entre mortos, diálogo ouvido em meio às lápides de um cemitério. O narrador esquizofrênico ainda se permite generalizações duvidosas como: “Alemães, em geral, são pessoas estúpidas e mesquinhas.” Ao falar de uma moça que conheceu durante sua viagem à Rússia – se é que a conheceu de fato...observa: “Tinha a pele tão clara que se tomasse uma taça de tinto poder-se-ia ver o vinho escorrer por sua garganta.” Nesta mesma viagem, o endoscopista resenha a ocorrência de alguns efeitos que ele entende sobrenaturais durante uma visita ao Museu Dostoiévski. Chegou mesmo a ter uma visão de Dostoiévski - durante as comemorações de seu jubileu - e de Gógol numa conferência de Soljenítsin, na Universidade de Moscou. O diabo sempre cruza o caminho do personagem. Com direito a fedentina de enxofre e tudo, o coisa-ruim visita o médico e com ele trava duelos verbais, jogos dialéticos. Volta e meia, uma voz estranha e intrometida se organiza dentro do dr. B* e incontrolavelmente profere coisas que ele aparentemente não quer dizer, hostilizando pessoas com as quais convive. Cogita, ruminando essa hipótese no seu pensamento, suicidar-se com uma injeção de potássio, o que afastaria dar cabo da sua vida com violência, algo que não aprovava. Planejava despedir-se da vida por meio de uma carta que pensou em remeter a um antigo desafeto já falecido, nos seguintes termos:

“Meu caro cidadão, fulano de tal Seu ratazana de hospício! Todo o ódio que destilaste em minha direção agora jaz por terra junto do seu espectro, ao qual hei de me juntar em breve. Que nossos ossos se abracem sob a terra.” Com Diário de Um Médico Louco, Edson Amâncio se filia à tradição respeitável de Dyonélio Machado, Murilo Mendes e Maura Lopes Cançado. Causa admiração o torneado elegante da frase no texto de Amâncio. O tema da loucura, da perturbação mental e da paranoia foi também caro à ficção de Samuel Rawet (aludamos apenas a Crônica de um vagabundo...). Não resisto a lembrar do conto O Manuscrito de um louco, de Charles Dickens e dos depoimentos e reflexões de Artaud (como Van Gogh, le suicide da la societe). Mas o que é invenção o que é memória nos recortes estranhos e estilhaços do narrador? O que é confusão e o que é circunstância sob a sua lente? O que foi realidade genuína e o que foi ficção na vida filtrada do gastroenterologista? Pouco importa... enxergo o livro como uma denúncia, mesmo nas suas elucubrações mais esquisitas. O romance de Amâncio nos assanha a pensar ainda mais na condição humana e como essa comédia humana que nos forja nos afasta da reflexão. O leitor fica instigado, desde logo, a questionar a improcedência das imprecações, impressões e testemunhos nas sentenças pouco piedosas desse narrador visceral e às vezes aparentemente - fantasioso.

Gabriel Kwak é jornalista, escritor, revisor e diretor da União Brasileira de Escritores


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UBE

O ESCRITOR

FEVEREIRO, 2013

TROFÉU JUCA PATO

O presente de aniversário de Tatiana Belinky entra para a história da criação artística brasileira como uma das pioneiras em tradução e roteirista de teatro de televisão, para quem escreveu a primeira versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Vejam só! Não por acaso, a personagem que até hoje vaga pelos sonhos de Tatiana Belinky é Emília, a bruxinha de Lobato. “Ela é até hoje tudo o que ainda tento ser.Na minha opinião, Emília é o maior personagem feminino da literatura brasileira, com perdão a Capitu, é claro”. Ela ri e arremata: “Sabem o que Emília disse a Monteiro Lobato? Eu sou a independência ou a morte.”

DANIEL PEREIRA

Daqui a alguns dias a ubeana Tatiana Belinky, também atual dona da cadeira 25 na Academia Paulista de Letras, entra no ano 94 do calendário gregoriano. Pode alguém chegar a essa curva da vida sem se dar conta da importância de sua obra no universo da literatura brasileira? De quanto seus escritos – mais de 100, segundo ela mesma -, influenciaram para o bem gerações de meninos e meninas de um país ainda muito pouco vezeiro ao gosto pela leitura? Pois então, essa bruxinha encantadora, que só virou escritora de livros infanto-juvenis em 1985, deu emocionante demonstração de simplicidade, simpatia e humildade desde o momento em que os diretores da UBE foram convidá-la para concorrer ao Prêmio Intelectual do Ano em eleição direta com um “adversário” do tamanho de Adib Jatene, cardiologista, ex-ministro, também autor de obra relevante no ano anterior e a quem reverenciamos por ter aceitado a indicação. Eleição encerrada – votaram associados do Brasil inteiro e do exterior – os diretores da UBE voltaram à casa dela para comunicar-lhe o resultado e onde seria a festa de premiação. “Eu quase caí para trás. Sou tão antiga que nem esperava ganhar. É uma honra, uma surpresa muito agradável ser agraciada com um prêmio que grandes intelectuais já ganharam” – Então, disse o presidente Joaquim Maria Botelho, podemos confirmar sua presença na entrega do prêmio?. “Claro, vou nem que seja de maca”. E foi. De cadeira de rodas, pimpona, tão alegre como um pinto no lixo, tanto quanto (ou mais, dado o devido desconto cronológico?) qualquer uma das milhares de crianças que ela encantou com suas limeriques. Impossível mensurar quantas delas, da primeira à segunda infância, beberam na fonte de Tatiana Belinky os primeiros estímulos para a leitura. Faço pausa para abrir mensagem no facebook e, bela coincidência, é o considerado Edwaldo Arantes, ubeano honoris causa e competente presidente do Instituto do Livro de Ribeirão Pre-

Tatiana por Tatiana

to, onde a UBE realizou o Congresso Brasileiro de Escritores de 2011. Abro: “Uma criança de 8 anos, que recebeu estímulo para ler, domina cerca de 12 mil palavras – três vezes mais que outra sem o mesmo incentivo”. Para avaliar minimamente a grandeza dessa mulher que veio da longínqua São Petersburgo, aos 10 anos para transmitir sua sabedoria a pelo menos cinco gerações, basta um tiquinho de noção histórica quando se aborda esse viés da educação em terras tupiniquins. Não é preciso ir longe. Recente pesquisa da Fundação Itaú Social sobre leitura infantil, em parceria com o Datafolha, informa que 96% dos brasileiros consideram importante incentivar a leitura entre crianças de até cinco anos de idade. Até aí, nada de útil. Apesar disso – e aqui é que está o dolorido - apenas 37% afirmaram ler para crianças, comportamento que reproduz a experiência que esses adultos tiveram na infância. Segundo a pesquisa, 60% dos entrevistados afirmaram não ter vivenciado a leitura durante sua infância, mas gostariam que alguém tivesse lido para eles. Dito isso, é preciso lembrar que, no conjunto da obra, Tatiana

Tatiana Belinky recebeu o Troféu Juca Pato das mãos de Anna Maria Martins (auxiliando, na entrega, a laureada de 2008, Lygia Fagundes Telles). Na foto abaixo, a cantora Fortuna apresenta composição musical baseada em texto de Tatiana.

“As coisas me acontecem, elas me procuram e me acham. Não sou eu que saio atrás delas” “Eu sou muito do humor, acho essencial. Gosto de brincar com palavras, ideias, paráfrases, versinhos, limeriques e quadrinhas. Eu ponho o meu trabalho sempre entre aspas, porque é o meu hobby e o meu divertimento, graças a Deus” “Minha mãe era feminista, comunista e dentista. Eu não gosto de nada que termine com ?ista?, parece doença” “Eu respeito demais as crianças para impor conclusões que não sejam as delas” “A palavra é majestade. É a responsável pela grande diferença entre o bicho homem e qualquer outro bicho” “Não penso na idade, ela cuida de si”


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