Jornal o escritor 134

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O ESCRITOR UBE

O ESCRITOR

JANEIRO, 2014

JORNAL DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES / NÚMERO 134 - JANEIRO DE 2014

Um ato pela liberdade de expressão na entrega do Juca Pato

Páginas 5 e 6

UBE se internacionaliza

Páginas 3 e 4

Lygia Fagundes Telles Em parceria com a Academia Paulista de Letras e o Memorial da América Latina, a UBE presta homenagem à sua associada de número 24. Página 8


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CONVERSA COM O ESCRITOR

Começando 2014 No momento em que esta edição de O Escritor estiver sendo lida, estarão abertas as inscrições para a nova diretoria que conduzirá política e administrativamente os destinos da UBE – União Brasileira de Escritores. Pessoalmente não me candidatarei. Compromissos de família e agenda literária obrigam o meu afastamento da presidência, depois de dois mandatos que me deram orgulho e alegrias. Convoco os associados a se empenharem em compor chapas para a direção executiva e para o conselho consultivo e fiscal. Não por acaso, nossa entidade leva o título de União. E união é o que se espera. Como em tudo na vida, também com as entidades ocorre a mais inexorável das verdades: vivemos avanços, mas vivemos retrocessos. Dos avanços, costumamos informar em nosso site, nos boletins eletrônicos e neste mesmo jornal. Dos retrocessos, preciso dar notícias. O mais desagradável diz respeito à nossa Antologia Global/UBE de Textos Breves. Depois de demoradas discussões, a direção da Global Editora manifestou claramente a sua insatisfação com o conjun-

to das obras selecionadas para compor os dois volumes propostos. A proposta que nos foi feita envolve uma nova seleção, sob critérios mais rigorosos, para, de acordo com a direção da editora, não ficar aquém da antologia anterior publicada por aquela casa. Vamos discutir os critérios e procedimentos, buscando defender nossos associados mas, ao mesmo tempo, negociando para que o convênio com a Global não seja rompido. Portanto, fica invalidada a relação divulgada na edição de número 133 deste jornal O Escritor. Uma nova seleção será feita, dentre as obras selecionadas, e certamente haverá diminuição dos trabalhos a serem publicados. Um segundo retrocesso nos persegue há quatro anos. Um de nossos antigos diretores, proprietário de uma empresa de segurança, teve falência decretada e sofreu algumas ações trabalhistas. Apesar de não haver qualquer envolvimento da UBE com essa empresa falida, juízes do trabalho consideraram que a UBE devia ser solidária com a dívida desse diretor, e sentenciou que o Banco Central passasse a

bloquear as contas da nossa entidade. Procedemos a diversos recursos, de todos os tipos possíveis. Logramos, depois de muito suor, obter que dois dos três juízes se pronunciassem favoráveis à nossa inocência. Um terceiro processo prossegue, porém, mantendo sobre nossas cabeças uma espada de Dâmocles, obrigando-nos a uma vigília incessante sobre nossas contas, para que não soframos mais bloqueios além dos mais de R$ 14.000,00 já confiscados pela Justiça do Trabalho. Estamos trabalhando com todos os recursos legais para a solução desse problema. Afinal, há um terceiro retrocesso. Em 2000 e 2001, a UBE foi a proponente de um projeto, junto ao Ministério da Cultura, para fazer um levantamento do analfabetismo funcional no Brasil. O projeto foi realizado, e a própria delegacia do Ministério da Cultura em São Paulo emitiu parecer técnico aprovando a conclusão. Ocorreu, porém, que a prestação de contas foi glosada por causa de pequenas formalidades como datas de notas fiscais. Diferentes presidentes da UBE se pronunciaram oficialmente, justificando

competentemente as incorreções apontadas. Mas o MinC, depois de anos da recepção de cada justificativa, novamente cobrava explicações, como se nem houvesse recebido nossos ofícios. Finalmente, no segundo semestre de 2013, o processo foi encaminhado pelo MinC ao Tribunal de Contas da União, que deu prazo de 18 de janeiro de 2014 para que a UBE providenciasse defesa. Em nosso apoio, acorreu o associado Durval de Noronha Goyos Jr., advogado de mérito e renome, que se dispôs a conduzir a nossa defesa graciosamente. Informaremos nossos associados, à medida que tivermos novas notícias. Esses, os principais problemas. Mas os companheiros verão, nas páginas que se seguem, que conseguimos um ano de boas realizações. E há muito ainda que realizar. O que será muito mais fácil quando eliminarmos os problemas que nos retardam e atrapalham. Aproveito esta mensagem para desejar a todos um próspero ano, com menos retrocessos e mais avanços. Joaquim Maria Botelho Presidente

EXPEDIENTE Diretoria da UBE (2012/2014): Jornal O Escritor – edição n° 134, janeiro de 2014 Publicação de distribuição dirigida para os associados da União Brasileira dos Escritores. Todas as informações podem ser reproduzidas, desde que citada a fonte. ISSN: 1981-1306 Conselho Editorial: Daniel Pereira Gabriel Kwak Joaquim Maria Botelho Luís Avelima Editoração: Luís Fernando Zeferino União Brasileira de Escritores Rua Rego Freitas, 454 - 12º andar, Vila Buarque. Cep: 01220-010 São Paulo - SP. Telefones: (11) 3231-4447/3231-3669 Site: www.ube.org.br

Diretoria executiva Presidente – Joaquim Maria Botelho (presidencia@ube.org.br) 1º vice-presidente – Luís Avelima (luisavelima@gmail.com) 2º vice-presidente – Menalton Braff (menalton@uol.com.br) Secretário geral – Gabriel Kwak (senador.gabriel@gmail.com) 1ª secretária – Sueli Carlos (fonoaudiologa.suelicarlos@bol.com.br) 2º secretário – Francisco Moura Campos (fmouracampos@terra.com.br) Tesoureiro geral – Djalma Allegro (djalmaallegro@terra.com.br) 1º tesoureiro – Nicodemos Sena (nicosena@uol.com.br) 2ª tesoureira – Helena Bonito Pereira (helena.pereira@mackenzie.br) Conselho consultivo e fiscal Levi Bucalem Ferrari (presidente) Almino Affonso Anna Maria Martins Audálio Dantas Caio Porfírio Carneiro Jorge da Cunha Lima José Afonso da Silva Lygia Fagundes Telles Paulo Oliver Renata Pallottini Rodolfo Konder (conselheiro emérito)

Diretores departamentais Antonio Luceni – Integração Nacional (aluceni@hotmail.com) Betty Vidigal – Informação Digital (bettyvidigal@bettyvidigal.com.br) Cláudio Willer – Políticas Culturais (cjwiller@uol.com.br) Dirce Lorimier – Historiografia e Memória (lorimier@uol.com.br) Fábio Lucas – Cultural (fabiolucas@ube.org.br) Giselda Penteado di Guglielmo – Apoio a Eventos (gi.penteado@uol.com.br) José Domingos de Brito – Acervo Bibliográfico (brito@tirodeletra.com.br) José Geraldo Neres – Formação Literária (outrossilencios@gmail.com) Paulo de Assunção – Pesquisa Histórica (assuncao@prestonet.com.br) Raquel Naveira – Difusão Literária (raquelnaveira@gmail.com) Renata Pallottini – Dramaturgia (rpallott@uol.com.br)


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INTERNACIONALIZAÇÃO DA UBE

Escritores brasileiros na Alemanha

NICODEMOS SENA

Participei do jantar de confraternização promovido pela União Brasileira de Escritores (UBE), em São Paulo, no início de dezembro, quando pude abraçar amigos, mestres e companheiros do “fazer literário”. O mineiríssimo professor e crítico literário Fábio Lucas, que ano passado lançou “Peregrinações Amazônicas- História, Mitologia, Literatura”, falou-me do seu próximo livro, programado para ir ao prelo em 2014: uma série de ensaios sobre importantes escritores brasileiros, como Monteiro Lobato, Lima Barreto, Murilo Rubião e outros. Joaquim Maria Botelho, atual presidente da UBE, na abertura do jantar, anunciou, entre outras coisas, que não pretende concorrer à reeleição para o próximo mandato na direção da entidade, uma vez que precisa concentrar-se na finalização de dois romances, um dos quais a ser publicado pela Editora Record (RJ). Ainda no jantar da UBE, chegou-me às mãos um exemplar da importante e bem-cuidada antologia de contos de autores brasileiros, editada e publicada na Alemanha, por ocasião da Feira Internacional do Livro de Frankfurt, em outubro de 2014, que teve o Brasil como o país homenageado. O título da antologia é “Contos Brasileiros” (em alemão: “Brasilianische Kurzgeschten”). Agradeço ao organizador da antologia, Joaquim Maria Botelho, por ter-me convidado a participar com o conto “Lá seremos felizes” (“Dort werden wir glücklich sein”). Os contos dessa antologia são apenas uma pequena mostra do que a rica e vivíssima Literatura Brasileira ainda é capaz de produzir, através da pena de alguns de seus melhores escritores, no contexto hostil de uma subcultura “globalizada”, gerada na velha Europa e nos Estados Unidos da América e despejada, na forma de lixo cultural, em países “periféricos” como o Brasil. O terrível é que essa subcultura globalizada aqui se reproduz com o incentivo do erário (leia-se dinheiro) público, de forma legal ou ilegal, sempre com um viés midiático, em detrimento da literatura nacional, a qual, entretanto, resiste bravamente.

A antologia “Brasilianische Kurzgeschten” (“Contos brasileiros”) representa o veio mais profundo e autêntico da literatura brasileira, em contraposição à lista de escritores que os órgãos oficiais do Brasil (MinC e Fundação Biblioteca Nacional) elaborou para representar o Brasil na Feira Internacional de Literatura de Frankfurt. A lista oficial (dir-se-ia Nicodemos Sena, ao centro, com Audálio Dantas (esquerda) e o dire“chapa branca”), com tor de Documentação, José Domingos de Brito.

poucas exceções (Luiz Ruffato, Marçal Aquino, Loyola Brandão e mais um ou outro nome), expressa mais os interesses da “indústria cultural” e as exigências da sociedade midiática. Só assim se compreende por que escritores consagrados e brasileiríssimos, que integram a antologia “Brasilianische Kurzgeschten”, como Lygia Fagundes Telles, Menalton Braff, Frei Betto, Deonísio da Silva,

Roniwalter Jatobá, Audálio Dantas (que acaba de ganhar as láureas literárias mais importantes do Brasil – o Prêmio Jabuti e o Prêmio Juca Pato), não tenham sido incluídos na lista “oficial”, que deixou de fora, por exemplo, em termos de literatura “amazônica”, nomes indispensáveis como os amazonenses Milton Hatoum e Thiago de Melo, e o paraense Vicente Franz Cecim. No jantar promovido pela UBE em São Paulo, também conversei com o poeta Djama Allegro, o pesquisador e bibliotecário José Domingos de Brito, a poeta matogrossense radicada em São Paulo Raquel Naveira, que me entregou exemplar do seu novo livro “Quarto de Artista”, a historiadora e crítica literária Dirce Lorimier Fernandes (do júri da APCA-Associação Paulista de Críticos de Artes) e a professora da USP Doris Acioly e Silva. Mas... isso já é coisa para as próximas colunas. EM TEMPO: Em meio à alegria do jantar de fim-de-ano, todos lamentamos o recente incêndio que destruiu o Auditório Simon Bolivar, do Memorial da América Latina (São Paulo). O amigo escritor Luís Avelima, que auxilia o cineasta João Batista de Andrade na direção do Memorial, descreveu-nos, ainda chocado e desolado, o trágico incidente, que ameaça levar abaixo uma das obras projetadas pelo gênio Oscar Niemeyer.


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INTERNACIONALIZAÇÃO DA UBE

Escritor Jorge Otinta discute com a UBE uma parceria com a Associação Guineense de Escritores

UBE recebe visita de Guiné-Bissau Em visita ao Brasil, o escritor Jorge Otinta, presidente da AGE - Associação Guineense de Escritores, discutiu com o presidente Joaquim Maria Botelho e com o vice-presidente Luís Avelima um protocolo de intenções para intercâmbio de experiências entre as duas entidades. O documento deverá ser assinado ao longo do mês de fevereiro.

Otinta é doutor pela USP/SP em Literatura Comparada e tem vários livros publicados. O mais recente é um estudo dos romances Mayombe (de Pepetela) e Kikia Matcho (de Filinto Barros). A quem se interessar em estreitar contato com a AGE, o endereço é literaturage.cult@gmail.com

Platini pede trégua Tive a sorte de encontrar Michel Platini na Bahia e entrevistá-lo sobre o futebol e a Copa de 2014. O jogador, que atualmente preside a União Européia da Football Association, fez na entrevista um pedido da maior importância que precisa ser divulgado. O texto foi publicado na Folha de S. Paulo, mas eu o publico também aqui, na esperança de que os leitores o difundam. O Brasil merece ganhar verdadeiramente a Copa. Para tanto, como me disse Platini, ele deve deixar que a Copa aconteça como deve acontecer, ou seja, no contexto da paz social. BM - Há vinte anos, um tempo antes da Copa do Mundo de 1998 eu o entrevistei para um livro meu, O País da Bola. Nós então falamos do estilo do futebol brasileiro. Passaram-se quinze anos. O que mudou neste estilo ? P - O futebol se acelerou a partir de 1990, porque as regras mudaram. Hoje, existem bolas em torno do campo. Ninguém mais perde tempo para buscar a bola quando ela sai. Por outro lado, o goleiro

não está mais autorizado a pegar com a mão a bola passada por um jogador do time dele, é obrigado a enviá-la chutando. Com isso, o jogo ficou muito mais rápido, ele se tornou mais técnico. BM - Acha que é possível ainda falar de um futebol brasileiro? P - Verdade que o brasileiro tende a brincar, mas o estilo se mundializou. Depende sobretudo do técnico. Antigamente, dependia sobretudo do jogador. O jogo hoje é função do técnico e do dinheiro. E o

jogador não está mais ligado a um ou outro clube, ele circula entre os clubes. Além disso, o estilo do jogador também é determinado pelo clima do país onde ele se encontra. Com 40 graus, no Brasil, o jogo é um. Com 5 graus, na Europa, é outro. E tem ainda a condição do campo. Num terreno úmido, a gente não joga como num terreno seco. No úmido, o risco de se machucar é menor e a ousadia é maior. Me machuquei mais jogando na França, onde o terreno é úmido do que na Itália, onde ele é seco. BM - O futebol se tornou mais duro no mundo inteiro… P - Diria que ele se tornou mais rápido. Nunca foi tão bom. BM - O futebol ainda é portador de valores coletivos? P - De valores coletivos não porque ele se cristalizou em torno da pessoa do jogador. Mas é portador de valores sociais porque, atrás da equipe, existe um país inteiro e todos os países desejam ser bem representados. BM - O que você espera da próxima Copa? P - Se eu tiver que assistir aos jogos ladeado por seguranças, por militares, não virei ao Brasil. Prefiro assistir pela televisão. O mundo inteiro deseja que a próxima Copa seja uma grande festa do futebol brasileiro. Espero que não haja manifestações sociais durante a mesma. Que haja uma trégua para o futebol. É tão importante para os torcedores irem à Copa no Brasil quanto para os muçulmanos irem à Meca. O Brasil continua a ser o país do futebol.

Associada lança livro em italiano

No dia 18 de setembro, na sede da União Brasileira de Escritores, Maria de Loudes Alba apresentou a versão italiana do seu livro, que recebeu o título de Intorno Alle Ore. Na oportunidade, foi homenageado o editor Renzo Mazzone, pelo muito que fez e continua fazendo pelas letras brasileiras.


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JUCA PATO

UBE premia Audálio Dantas em cerimônia que debateu liberdade Autor do livro “As duas guerras de Vlado Herzog” recebeu o troféu Juca Pato no Memorial da América Latina

Audálio Dantas em dois momentos: na proclamação do resultado, na sede da UBE, e recebendo o prêmio Intelectual do Ano

O ambiente foi perfeito. O Memorial da América Latina, criado para celebrar a liberdade e a identidade dos povos, foi palco de um debate contra a necessidade de autorização para a produção de biografias. Participaram do debate Fernando Morais, Ricardo Kotscho e Paulo César Araújo. No dia 18 de novembro de 2013, no Auditório Simon Bolívar, esses três conhecidos escritores-biógrafos discutiram o movimento em torno da alteração dos artigos 20 e 21 do Código Civil, que exige autorização prévia (da pessoa ou de herdeiros) para que uma biografia seja produzida. O debate precedeu a entrega do troféu Juca Pato ao jornalista e escritor (e também biógrafo – de Graciliano Ramos e de Lula) Audálio Dantas. A UBE foi a primeira entidade a assegurar reconhecimento ao jornalista e escritor que, pelo mesmo livro (“As

duas guerras de Vlado Herzog”), recebeu também o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Reportagem. O troféu Juca Pato, personagem idealizado pelo cartunista Belmonte, era o herói de tiras de quadrinhos publicadas no jornal Folha de S. Paulo, nas décadas de 1930 a 1960. Simbolizava o homem de classe média, de olhar crítico e inteligência aguda, que desancava os poderes e aguilhoava os malfeitos das autoridades. Belmonte, em razão do espírito contestador do seu personagem, foi proibido de entrar na Alemanha de Hitler, tendo sido considerado persona non grata, antes mesmo de deflagrada a Segunda Guerra. Marcos Rey, diretor da UBE em 1962, propôs a instituição do prêmio Intelectual do Ano, criando o troféu Juca Pato

para simbolizar o escritor brasileiro, mal pago e inconformado, embora insistentemente produtivo. A cerimônia Audálio Dantas recebeu o troféu Juca Pato das mãos de Ricardo Gouveia, filho da escritora Tatiana Belinky, vencedora da edição anterior do prêmio Intelectual do Ano da UBE e recentemente falecida,

e de Levi Bucalem Ferrari, presidente do Conselho Deliberativo e Fiscal da UBE. O homenageado Audálio Dantas presidia o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo quando Vlado Herzog foi assassinado em 1975, e promoveu uma mobilização nacional que representou o ponto de partida para a re-

Samuel Xavier de Medeiros (direita) representou a UBE de Mato Grosso do Sul na cerimônia.


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JUCA PATO Ao longo de sua história os vencedores do concurso Intelectual do Ano foram:

HOMENAGEADO

Prêmio Jabuti, segundo grande momento de Audálio Dantas em 2013. Na foto, à esquerda, a esposa Vanira, e à direita a filha Juliana.

conquista das liberdades democráticas no Brasil. Na sua história profissional, atuou nas principais publicações do país, como a Folha de S. Paulo, as revistas O Cruzeiro (redator e chefe de redação), Quatro Rodas (editor de turismo e redator-chefe), Manchete (chefe de reportagem) e Realidade (redator e editor). Também escritor, tem vários livros publicados, entre os quais O Circo do Desespero (Editora Símbolo, 1976), Repórteres (Editora Senac, 1997), O Chão de Graciliano (Editora Tempo D’Imagem, 2007), além da série infanto-juvenil A infância (Graciliano Ramos - prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil –, Maurício de Sousa, Ruth Rocha e Ziraldo). Lançou em 2009 O menino Lula– A história do pequeno retirante que chegou à Presidência da República (Ediouro). Recebeu o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de 2007, pelo livro O Chão de Graciliano. Eleito deputado federal em 1978, foi considerado em várias pesquisas como um dos dez mais atuantes parlamentares brasileiros. Recebeu na ONU, em 1982, um prêmio

por sua atuação em defesa dos Direitos Humanos. Exerceu os cargos de presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e do Conselho Curador da Fundação Casper Libero, vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa e conselheiro da UBE. Dirige a revista “Negócios da Comunicação”, e a empresa Audálio Dantas Comunicação e Projetos Culturais. Autor dos projetos e da curadoria das exposições “100 Anos de Cordel” (Sesc Pompéia, 2001), “O Chão de Graciliano” (São Paulo, Fortaleza, Recife, Maceió e Araraquara) e “Na Terra de Macunaíma”, Araraquara, Santos, Santo André). É o organizador do Salão Nacional do Jornalista Escritor (evento realizado em duas edições, sempre no Memorial da América Latina, a primeira em 2007 e a segunda em 2013). O Prêmio Intelectual do Ano, da UBE, é entregue anualmente a personalidade que, pela via do livro, tenha apresentado tema para debate e reflexão que alcançou repercussão nacional. O troféu Juca Pato, que simboliza o prêmio, é entregue ao candidato eleito no ano posterior ao do lançamento do livro.

ANO DE ENTREGA

Santiago Dantas............................................... 1963 Afonso Schmidt............................................... 1964 Alceu Amoroso Lima ..................................... 1965 Caio Prado Jr.................................................... 1966 Cassiano Ricardo............................................. 1967 Érico Veríssimo................................................ 1968 Menotti Del Picchia......................................... 1969 Jorge Amado.................................................... 1970 Pedro A. O. Ribeiro Neto................................ 1971 Josué Montello................................................. 1972 Cândido Mota Filho......................................... 1973 Afonso Arinos M. Franco................................ 1974 Raimundo Magalhães Jr.................................. 1975 Juscelino Kubitschek....................................... 1976 José Américo de Almeida................................ 1977 Luís da Câmara Cascudo................................. 1978 Sobral Pinto..................................................... 1979 Sérgio Buarque de Hollanda............................ 1980 Dalmo de Abreu Dallari................................... 1981 Paulo Bomfim.................................................. 1982 Carlos Drummond de Andrade........................ 1983 Cora Coralina................................................... 1984 Fernando Henrique Cardoso............................ 1985 Frei Beto.......................................................... 1986 Antonio Callado............................................... 1987 Abguar Bastos................................................. 1988 Barbosa Lima Sobrinho................................... 1989 Dom Paulo Evaristo Arns................................ 1990 Ledo Ivo........................................................... 1991 Fábio Lucas..................................................... 1992 Raquel de Queiroz........................................... 1993 Não houve entrega...................................... 1994/95 Marcos Rey...................................................... 1996 Luís Fernando Veríssimo................................. 1997 Sábato Magaldi................................................ 1998 José Mindlin.................................................... 1999 Jacob Gorender................................................ 2000 Otávio Ianni..................................................... 2001 Salim Miguel................................................... 2002 Gilberto Mendonça Telles............................... 2003 Alberto Costa e Silva....................................... 2004 Luiz Gonzaga Beluzzo.................................... 2005 Luiz Alberto Moniz Bandeira.......................... 2006 Samuel Pinheiro Guimarães............................ 2007 Antonio Cândido............................................. 2008 Lygia Fagundes Telles..................................... 2009 Não houve entrega........................................... 2010 Aziz Ab’Sáber................................................. 2011 Tatiana Belinky................................................ 2012 Audálio Dantas................................................ 2013


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NOTÍCIAS

O ex-diretor da UBE, Roniwalter Jatobá, foi contemplado, na categoria Contos e Crônicas do 55º Prêmio Jabuti, pelo livro Cheiro de Chocolate e Outras Histórias (Editora Nova Alexandria)

Acadêmicos da UBE

II Mostra de Escritores

No dia 10 de outubro, foi lançada, na Academia Paulista de Letras, a obra Caros Autores – Lygia Fagundes Telles, Ignácio de Loyola Brandão, Mário Quintana e Jorge Amado (São Paulo, RG Editores, 2013), de autoria de Fábio Lucas. O ensaísta também colabora na obra coletiva Quase noventa anos – Homenagem a Ranulfo de Melo Freire (S. Paulo, Ed. Saraiva, 2013) com o estudo “Aspectos de Ranulfo de Melo Freire”.

Escritores do Núcleo da UBE de Ribeirão Preto parciciparam da segunda Mostra de Escritores de Ribeirão e Região, de 11 a 14 de setembro, nas dependências do Centro Cultural Palace. Além da comercialização da produção literária local e regional, houve palestras diárias.

Fábio Lucas recebeu dois prêmios, ainda em outubro. Pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro (UBE/RJ), o Prêmio Guimarães Rosa pelo Conjunto de Obras. E, pelo Governo do Estado de Minas Gerais, a Medalha Santos Dumont 2013, pelo governador Antônio Anastasia.

O escritor e poeta Cyro de Mattos foi empossado no Pen Clube do Brasil, como Membro Titular, no dia 23 de outubro de 2013, no Rio de Janeiro.

Renata Pallottini tomou posse da cadeira de nº 20, da Academia Paulista de Letras, cujo patrono é José Ezequiel Freire de Lima. Foi recepcionada pelo acadêmico José Renato Nalini. O evento ocorreu no Teatro da Academia Paulista de Letras, no dia 26 de setembro de 2013.

Dentro dessa programação da Feira Internacional do Livro de Frankfurt, nosso associado Ricardo Viveiros foi convidado para mediar dois debates públicos. Um deles, sobre o tema “Um Brasil de ilustrações e quadrinhos”, com Maurício de Souza e Ziraldo, e o outro sobre o tema “Brasil – a invenção do livro infantil e juvenil”, com Pedro Bandeira, Eva Furnari e Angela-Lago.

Eliane Ratier, coordenadora do Núcleo da UBE de Ribeirão Preto, tomou posse na Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, no dia 27 de setembro de 2014. A nova acadêmica passou a ocupar a cadeira de número 52, cujo patrono é Antenor Pimenta. Foi paraninfa a acadêmica Nely Cyrino de Mello.

Grupo de bebates “Jardim Alheio” Jardim Alheio é um pequeno grupo de estudo de crítica literária, coordenado por Vivian H. Schlesinger, juntamente com Emerson Moino Martins e Neuza Pommer. Trata-se de uma programação de crítica, aberta ao público, apresentada semanalmente, no auditório da Livraria Martins Fontes Paulista, iniciada em março de 2013. Para encerrar o primeiro ciclo, em 16 de dezembro, foi convidada nossa diretora Raquel Naveira.

Antonio Santana no Café Literário Com a participação de escritores locais, foi realizada no dia 14 de dezembro de 2013 a sexta edição do Café Literário de Condeúba (BA). O evento foi realizado no auditório da Escola Municipal Tranquilino Leovigildo Torres e promovido pelo pároco Padre Giuliano Zattarin, da Paróquia de Santo Antônio de Pádua - Condeúba (BA). O convidado especial foi o escritor e poeta Antônio Santana, que participou do lançamento de mais de uma de suas coletâneas, intitulada “Coletânea Poética 13”.


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HOMENAGEM

Tributo a Lygia Fagundes Telles

Dentro das comemorações pelos 25 anos do Memorial da América Latina, o seu presidente João Batista de Andrade fez parceria com a UBE União Brasileira de Escritores e com a Academia Paulista de Letras para programar uma homenagem à escritora Lygia Fagundes Telles, atual associada mais antiga da nossa entidade, com a carteira de número 24. Na ocasião, Lygia recebeu o troféu “A mão”, de Oscar Niemeyer. Veja como foi a programação do evento: 18h30: abertura da exposição sobre Lygia Fagundes Telles 19h: Exibição Vídeos Narrarte, de Goffredo Telles, e do Curta baseado no conto A Estrutura da bolha de sabão, de Tarsila Nakamura (UNICAMP) 19h30: Análise breve da obra de Lygia, pelo acadêmico Fábio Lucas 20h: Bate-papo sobre Lygia: Jornalista Suênio Campos de Lucena e Dra. Ana Paula dos Santos Martins. Mediação: Renan Fornaziero de Oliveira 20h30: Entrega de Condecoração do Memorial à Escritora. 20h45: Lançamentos de três livros sobre a obra da homenageada: Lygia Fagundes Telles entre ritos e memória, organizado por Suênio Campos de Lucena e Carlos Magno; Sombras silenciosas:estranheza e solidão em Lygia Fagundes Telles e Edward Hopper (Eduff), de Mabel Knust Pedra, e Caros Autores, de Fábio Lucas.

Lygia, feliz, ao lado da neta Lúcia.

João Batista de Andrade, presidente do Memorial da América Latina, e Joaquim Maria Botelho, presidente da UBE, entregam à escritora o troféu “A Mão”.

Sublime disciplina do amor SONIA CINTRA

A escritora Lygia Fagundes Telles, maior prosadora brasileira, imortal da Academia Brasileira de Letras e contemplada com inúmeros prêmios, dentre eles, o Prêmio Camões de Literatura 1995, foi homenageada dia 25 de outubro, com o troféu “A Mão”, de Oscar Niemeyer, reservado aos grandes nomes da cultura latino-americana, durante as comemorações dos 25 anos do Memorial da América Latina. O acadêmico e crítico literário Fábio Lucas apresentou sucinta análise de sua obra, com ênfase na criação verbal, técnicas narrativas e no combate de Lygia à censura. Suênio Campos de Lucena e Ana Paula dos Santos Martins trouxeram à baila estudos sobre a vida e livros da autora que são referências bibliográficas indispensáveis aos amantes da

arte da palavra lygiana. Em suas vozes, personagens de contos e romances transcenderam as páginas escritas e desfilaram ante a plateia, trazendo enredos onde memória, ficção e imaginação se mesclam numa instigante visão de mundo. O gato Raul, pela ótica singular do cineasta Goffredo da Silva Telles Neto, depois de percorrer a tela passeando sobre os volumes pousados em uma mesa da casa da escritora, foi o último a se retirar do placo com seu sorriso enigmático de gato de Alice. Sim, estávamos num país de maravilhas. Maravilhas da expressão da língua portuguesa à luz de Machado, Drummond e Mário de Andrade, à luz do olhar da escritora, onde rebrilha a chama intensa da paixão, à luz do verbo recriado por ela com o “coração na mão”, à luz de Lygia, linda e lúcida, a nos iluminar com seu amor e a forjar nossa têmpera com seu exemplo de coragem,

dignidade e perseverança. João Batista de Andrade e Luís Avelima, ao lhe entregarem o referido troféu, saudaram-na como expoente da literatura universal. Nesse ato, conjunto com a RG Editores, Anna Maria Martins representou a Academia Paulista de Letras e Joaquim Maria Botelho falou em nome da União Brasileira de Escritores. A exposição de fotos da autora e das capas de seus livros, os autógrafos, a exibição do vídeo “Narrarte”, do saudoso filho, e do curta-metragem de Nakamura, baseado no conto “A Estrutura da bolha de sabão”, completaram o ciclo tributário. Ler e ouvir Lygia Fagundes Telles é sempre uma renovada aprendizagem de nossa literatura. Vê-la, assim de pertinho, docemente acompanhada pela neta Lúcia Telles, ambas a assistirem ao filme de Goffredo é uma lição de vida. Sublime disciplina do amor.


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PARCERIA

A literatura em debate na APL ANNA MARIA MARTINS

Na história da Academia Paulista de Letras (APL), a gestão do presidente Ives Gandra da Silva Martins marcou uma fase de conquistas na realização de seus objetivos de gerar, resguardar, difundir conhecimento e formar novos leitores. Criou-se um processo de abertura na APL visando a um contato próximo e contínuo com o público, com projetos de incentivo à leitura e prêmios literários. A iniciativa do presidente Ives foi inteiramente apoiada e levada adiante por seu sucessor, o presidente José Renato Nalini. Na gestão atual, o presidente Antonio Penteado Mendonça ampliou a realização desses objetivos. Manteve o Projeto Escritor na Escola e assinou Convênio Cultural com o Sindi-Clube, presidido por Cezar Roberto Leão Granieri, que resultou no Prêmio Sindi-Clube/APL de Literatura, 3ª edição, Prêmio Centenário do Palmeiras de Literatura, com a participação da União Brasileira de Escritores (UBE). Ao conjunto das atividades incluem-se, ainda, os Clubes de Leitura, que são 12 atualmente, em pleno funcionamento nos clubes paulistas e na APL, realizados em parceria também, com a Editora Companhia das Letras, presidida pelo editor Luiz Schwarcz, com base na experiência britânica da Editora Penguin. Palestras, simpósios, oficinas, narração de poesia, crônica e conto, análises de livros, são parte das atividades que compõem os projetos dessa nova fase da APL. O interesse do público abre espaço para mais realizações. Inaugurou-se o Projeto Memória da Literatura Paulista. Na palavra estimulante da escritora Raquel Naveira, as escritoras Maria de Lourdes Teixeira e Stella Carr são presenças vivas na sala da APL.

Uma das reuniões da Academia Paulista de Letras, na sede localizada no Largo do Arouche, em São Paulo.

A quantidade superior a cem inscrições para o Clube de Leitura da APL mostra o interesse pelo livro comentado. Evidencia, igualmente, o numeroso público atraído pelas outras atividades literárias. Como parte da programação da parceria Sindi-Clube, APL e Companhia das Letras, para realização do projeto Clubes de Leitura nos clubes paulistas, na comemoração de um ano, cada clube recebeu um escritor, para falar de sua literatura. Os três primeiros Clubes de Leitura tiveram encontros com os seguintes escritores: No Clube de Leitura do Club Athletico Paulistano, em 17 de outubro, Milton Hatoum – escritor, tradutor e professor – vencedor do Prêmio Jabuti de melhor romance por “Dois Irmãos” e de inúmeras outras láureas, falou de sua origem manauense, a formação cultural, viagens, permanência em Paris, a residência em Santos. “Dois Irmãos”, livro comentado, foi alvo de diálogo que se desenvolveu em questões sobre narrativa e linguagem. Vida e obra do autor descerram-se ao conhecimento do público. Hatoum leu a crônica “Um Enterro e Outros Carnavais” – parte de seu mais recente livro “Um So-

litário à Espreita”, editado pela Companhia das Letras. O Clube de Leitura do Clube Anhembi Tênis Clube recebeu, no dia 6 de novembro, Marçal Aquino – jornalista, escritor e roteirista de cinema – que despertou, tal como Hatoum, o interesse da plateia, mesmo em um dia chuvoso. Seu poder de comunicação motiva perguntas e comentários sobre sua obra. “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” foi o livro escolhido para o enfoque literário da palestra. A conversa estendeu-se sobre esse, outros livros do autor e seus roteiros cinematográficos. Transpostas para o cinema, suas narrativas firmam-se em outra área cultural e incentivam a releitura da obra. Os encontros literários se concluíram no Clube de Leitura da Associação Brasileira “A Hebraica” de São Paulo, no dia 7 de dezembro, sendo que a palestra do escritor Luiz Ruffato abriu ao público a oportunidade de conhecer um inovador da linguagem literária. A estrutura de suas narrativas articula-se na realidade presente, na opção por personagens de classe média baixa, no operariado. Evidencia-se em sua obra, sem proselitismo, a preocupação de fundo social. O romance “Eles

eram muitos cavalos”, premiado e com edições publicadas no exterior, foi objeto de diálogo entre o autor e vários leitores, certamente estimulados pela leitura dessa obra inovadora. Na Mostra Itinerante de Cinema e Literatura, a APL ofereceu aos espectadores, sobretudo de estudantes de escolas públicas, a oportunidade de rever filmes premiados e assistir palestras de mestres no assunto: a cineasta Suzana Amaral e o jornalista Cesar Zamberlan. Coordenar atividades culturais em parceria com a experiência, erudição e companheirismo do escritor acadêmico Mafra Carbonieri é privilégio considerável. Não menos importante é o trabalho do produtor cultural Antonio Clementin, na área executiva. A Academia Paulista de Letras, na gestão do presidente Antonio Penteado Mendonça encontra-se, uma vez mais, entregue a acadêmico de méritos inegáveis. Anna Maria Martins é membro da Academia Paulista de Letras e conselheira da UBE.


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RESENHA

O historiador do momento presente JOAQUIM MARIA BOTELHO

O cientista político Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira é combativo. Herança, talvez, genética – ele descende do filósofo Antonio Ferrão Moniz de Aragão, pioneiro do positivismo no Brasil, cujo bicentenário de nascimento acaba de ser celebrado. Mas o baiano Moniz Bandeira, atual cônsul-honorário do Brasil em Heidelberg, Alemanha, não é apenas combativo. É ousado e corajoso. Com essas qualidades tem produzido peças de levantamento histórico de tal importância que suas obras são adotadas no concurso do Itamaraty, para seleção de candidatos a diplomatas. Seu livro Formação do Império Americano já lhe rendeu, em 2005, o prêmio Intelectual do Ano, outorgado pela UBE por meio do troféu Juca Pato. Naquela obra, Moniz Bandeira já revelava a existência do Echelon, um sistema de interceptação, coleta e análise de telecomunicações operado pela NSA, a agência norte-americana de segurança. Ele foi o primeiro a denunciar a espionagem que os EUA praticam em suas embaixadas, consulados, bases e até em navios. A denúncia ocorreu oito anos antes que o governo brasileiro fosse tomado de surpresa com a informação de que as comunicações de empresas brasileiras e da própria Presidência da República estavam sendo espionadas. Em 2009, ao receber o título de doutor honoris causa da Universidade Federal da Bahia, Moniz Bandeira advertiu em seu discurso que uma potência é mais perigosa quando está declinando do que quando começa a formar o seu império. Referia-se aos EUA. Disse ele: “O Brasil não está no Conselho de Segurança da ONU ainda porque Collor de Mello fechou o buraco para experimentos atômicos e depois Fernando Henrique assinou o tratado de não-proliferação nuclear. Os Estados Unidos só respeitam quem tem poder.” Curioso levantamento do diplomata: desde a independência, em 1776 (portanto há 235 anos), os EUA passaram 214 anos em guerra. O primeiro livro de Moniz Bandeira, sobre as relações dos EUA com o Brasil, publicado em 1973, causou-lhe um período de prisão. No seu novo livro, A segunda Guerra Fria, o autor mergulha em detalhes que ma-

“Se escrever história significa fazer a história do presente, é um grande livro de história aquele que no presente ajuda as forças em desenvolvimento a tornarem-se mais ativas e factíveis” (Antonio Gramsci) tam de inveja qualquer bom jornalista. São centenas de fontes as mais diversas de informação (apenas de referências bibliográficas, o livro contém 85 páginas) que o permitiram desvelar, em 25 capítulos, a estratégia de intervenção dos Estados Unidos nas revoltas e nos conflitos ocorridos na África do Norte e Oriente Médio a partir de 2010, e ainda nos levantes na Ásia Central. O objetivo da presença norte americana, segundo lista Moniz Bandeira, está calcado em dominação de espectro total (full spectrum dominance): hegemonia militar, hegemonia de comunicação e informação, hegemonia nos organismos econômicos internacionais, hegemonia sobre o acesso a recursos naturais no território de outros países, hegemonia política por meio do controle do Conselho de Segurança das Nações Unidas, manutenção da vanguarda no desenvolvimento científico e tecnológico e abertura dos mercados de todos os países para os capitais e exportações de bens e serviços norte-americanos. E, somado a tudo isso, uma colossal e bilionária estratégia de relações-públicas/marketing/ propaganda/entretenimento – inclusive por

meio da literatura – para compor a imagem de guardião da democracia. Segundo Moniz Bandeira, todo esse aparato é aproveitado pelo Psyops Group (Grupo de Operações Psicológicas) do Pentágono, “para desmoralizar o inimigo, causando dissensões e agitação nas suas fileiras, e convencer a população a apoiar as forças dos Estados Unidos e de seus aliados”. O livro revela mais: a cumplicidade e conivência de governos corruptos. E mais ainda: a complacência de governos subjugados e conformados. Como afirma o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, no prefácio do livro, “importante contribuição da obra de Moniz Bandeira é a revelação documentada de que as revoltas da Primavera Árabe não foram nem espontâneas e ainda muito menos democráticas, mas que nelas tiveram papel fundamental os Estados Unidos, na promoção da agitação e da subversão, por meio do envio de armas e de pessoal, direta ou indiretamente, através do Qatar e da Arábia Saudita.” Também ele, Samuel Pinheiro Guimarães, recebeu da UBE o troféu Juca Pato, em 2006, pelo livro Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. O livro A Segunda Guerra Fria foi escrito entre março e novembro de 2012, praticamente acompanhando no tempo os acontecimentos recentes mais significativos. O livro é mais surpreendente do que qualquer filme de ação e espionagem que os próprios norte-americanos se gabam de produzir tão bem. Traz revelações atordoantes, sufocantes, assustadoras. Por exemplo, Moniz Bandeira não tem dúvida de que o ataque com armas químicas, na Síria, foi “fabricado”, simulado por opositores do regime de Al-Assad, com o objetivo de mobilizar a opinião pública internacional e justificar uma intervenção externa no país. “Na realidade, o que os Estados Unidos querem é eliminar a presença da Rússia no Mediterrâneo, fechando suas bases navais – Tartus e Latakia – instaladas na Síria”, afirma o historiador, “bem como conter o avanço da China no Oriente Médio e no Magreb, isolar o Irã e cortar seus vínculos com o Hezbollah, no Líbano, de acordo com os interesses de Israel.” Contudo, Moniz Bandeira não é apenas o pessimista que este resumo pode ter deixado transparecer. Ele também indica um caminho para que o Brasil busque participar do equilíbrio da ordem mundial: a autonomia. Lições de especialista.


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Livro-reportagem sobre dom Paulo é uma grande história Reproduzo abaixo o prefácio escrito por Clarice Herzog.

RICARDO KOTSCHO

Quem participou da resistência ao regime militar, e os mais jovens que gostariam de conhecer este período triste da nossa história, têm um encontro marcado esta noite, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, em São Paulo, no lançamento do livro-reportagem “O Cardeal da Resistência _ as muitas vidas de dom Paulo Evaristo Arns” (Instituto Vladimir Herzog Editora), de Ricardo Carvalho, com a participação de Antonio Carlos Fester, Inês Caravaggi e Maria Angélica Rittes. A história de vida de d. Paulo Evaristo Arns, o maior líder católico de São Paulo no século passado, é tão rica que você pode começar a ler o livro pelo capítulo que quiser, como informa a apresentação da obra. São 65 capítulos e 359 ilustrações que contam, na forma de reportagens, a trajetória de um brasileiro que, de 1966, quando chegou a São Paulo para ser bispo-auxiliar da zona leste da capital, até 1998, quando se aposentou como cardeal-arcebispo, tornou-se um dos mais fortes símbolos de resistência à ditadura militar. Neste livro você vai encontrar, em qualquer capítulo, uma ação de dom Paulo em defesa dos oprimidos e dos Direitos Humanos, contra a censura, a favor da liberdade, incentivando a organização do povo em comunidades, apoiando os movimentos sociais, denunciando a tortura, enfrentando militares, oferecendo a Catedral da Sé para missas e cultos ecumênicos de repúdio à ditadura militar. Ricardo Carvalho relata no livro muitas informações inéditas, como as crônicas que foram escritas durante 28 anos sobre o dia a dia da arquidiocese, guardadas desde 1988 nos arquivos da Igreja Católica e só agora reveladas. Entre vários outros depoimentos de quem conviveu com o cardeal, Leonardo Boff conta em detalhes o tenso encontro em pleno Vaticano quando, em 1984, se defrontaram dom Paulo e o então poderoso cardeal Ratzinger, que se tornaria anos mais tarde o papa Bento 16. Ratzinger ouviu poucas e boas e Boff

Obrigada, dom Paulo

Dom Paulo Evaristo Arns recebeu da UBE o prêmio Intelectual do Ano em 1990.

foi condenado ao “silêncio obsequioso”. Já como Bento 16, representando o que tem de mais conservador na Igreja Católica, Ratzinger continuou a perseguir a Teologia da Libertação. Alguns estudiosos, como o teólogo José Oscar Beozzo, tentam decifrar os bastidores do Vaticano para responder a uma pergunta sempre inquietante: afinal, quem manda na Cúria Romana? Estas reflexões ajudam a explicar a perseguição implacável da Cúria Romana a dom Paulo que culminou, mesmo contra a vontade do papa João Paulo 2º, com o retalhamento da arquidiocese em dioceses autônomas. “Fui traído”, afirmou ele na época. Foi dom Paulo, lembra o livro, quem primeiro denunciou ao mundo: “O jornalista Vladimir Herzog foi assassinado!” _ e não se suicidou, como queria fazer crer o regime militar. O livro trás depoimentos, entre outros, de Clarice Herzog, Frei Betto, Fernando Morais, Clóviss Rossi, Juca Kfouri, José Carlos Dias, Dalmo Dallari e deste velho repórter, que trabalhou com dom Paulo por quase duas décadas na Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.

Quando, ao lado de meus filhos, entrei na Catedral da Sé, naquele 31 de outubro de 1975, para assistir ao culto ecumênico celebrado pelo senhor, dom Paulo, pelo rabino Henry Sobel e pelo reverendo James Whright em memória do Valdo, tive a certeza de que ali encontraria solidariedade, mas também um espaço de expressão da indignação que tomava conta da sociedade. Solidariedade e indignação estampadas no semblante daquelas oito mil pessoas que se juntaram na praça e no interior da Catedral para ouvir e reverberar a voz firme e serena de dom Paulo em sua mensagem síntese: “Basta! Vladimir Herzog foi assassinado”, desconstruindo a farsa armada pelo regime. Obrigada, dom Paulo, por este basta, que calou fundo no coração de milhões de brasileiros assustados com a violência de um regime militar que parecia não ter limite. Ali, naquele instante, garantem historiadores, começaram a surgir as primeiras trincas no muro de uma ditadura implacável. Obrigada, dom Paulo, pela sua persistência e coragem na luta pelos direitos humanos, pela Justiça e pela Liberdade. Ao liderar o projeto “Brasil Nunca Mais”, o senhor mostrou ao mundo civilizado as atrocidades e torturas que castigaram homens e mulheres, de norte a sul do país. Fique certo, dom Paulo, que para mim e meus filhos, o senhor foi um porto seguro e um sublimador da nossa tristeza e da nossa revolta. Para o Brasil, o senhor foi o Cardeal da Esperança. Assim, é com muita emoção que digo, mais uma vez, muito obrigada dom Paulo que, a partir deste livro, idealizado para que todos os segmentos da sociedade possam ter acesso à sua história, ganha mais um merecido título: O Cardeal da Resistência. (Publicado em 23/10/2013 - /noticias. r7.com/blogs/ricardo-kotscho/)


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LIVROS Esta coluna foi integralmente preparada por Ricardo Furlan Silva 100 Crônicas de Xadrez – Helder Câmara – Factash Editora. (...) Desconhecemos e cremos que nunca surgiram, no universal panorama enxadrístico, dois irmãos, unos e ambivalentes, que alcançaram, como Ronald Câmara e Hélder Câmara (ambos, bicampeões nacionais), patamares tão elevados no Xadrez, jogo que praticamente acompanha a história da Humanidade. (...) Dom – Flora Figueiredo - Ed. Novo Século Criança. “Dom” é um incentivo para que as crianças prestem atenção aos sinais do talento, das tendências, das preferências que habitam em cada um de nós. Ambos com lindas ilustrações, respectivamente de Christiano Menezes e Beto Campos e Priscila Camacho ( Psonha). Antologia Ponto e Vírgula, poesia, contos e crônica – Funpec Editora. Antologia Ponto e Vírgula, poesia, contos e crônicas, organizada pela escritora Irene Coimbra. As antologias nos trazem surpresas e nos proporcionam o conhecimento da escrita daqueles que, muitas vezes, só conhecemos a palavra expressa em voz. PG de A a Z – Ben-Hur Demeneck – Toda Palavra Editora. O livro é uma peregrinação por lugares famosos ou pouco conhecidos de Ponta Grossa, com referências a Castro e a Palmeira, mas as personagens, dramas, comédias e situações peculiares poderiam existir em todo lugar, o que torna a leitura atrativa para quem vive em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Marita Pirulita – Flora Figueiredo - Ed. Novo Século Criança. “ Marita Pirulita” tem olhos capazes transformar tudo em beleza e alegria. Ela ensina, com graça, a arte de interpretar a vida. Barroco – Zilda de Oliveira Freitas – Ponto de Cultura Editora. A autora Zilda de Oliveira Freitas apresenta suas ideias e leituras da obra barroca aos leitores brasileiros, em um livro que interessará aos apreciadores da arte barroca e ao público em geral. Raabe - Uma flor sobre a muralha – Assad Bechara – Editora Grafsol. Raabe era uma Cananita, uma das quatro mulheres mais bonitas do mundo antigo. Com o livro, o autor quis mostrar que Deus tem um amor muito grande por todas as nações.

São Paulo - O nascimento de um Gigante e seus admiradores construtores – Luiz Clério Manente – RG Editores. O autor apresenta neste livro um breve histórico da formação do Estado de São Paulo, narrando a saga dos pioneiros, seguida da epopeia dos bandeirantes, heróis paulistas que alargaram as fronteiras do Brasil. Poetas En/cena 7 – Paulo Dias Neme – Belô Poético. Reunião de Poemas de poetas brasileiros no 9º Belô Poético - Encontro Nacional de Poesia que, em 2013, celebra “A poética que reconstrói o amor nas relações” em memória da poeta Maria Clara Segóbia.

Passagens de Vida – Carmen Lúcia Hussein – Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Os versos de Carmen Lúcia Hussein podem, sem qualquer restrição, serem classificados como verdadeira poesia tratando de temas nobres e profundos da vida. Rute – Sob as asas do eterno – Assad Bechara – Editora Grafsol. A beleza do caráter espiritual de Rute era fascinante, dentre suas características destaca-se o amor, bondade e generosidade. Este livro é um manual moral e espiritual que tem utilidade especial em tempos pós-modernos.

A senhora de Sirius - Testemunho da Força do Amor – JoãoLuiz Batista Ramos – Editora ST5. Relato das incríveis experiências de vida do autor e de suas descobertas através da Umbanda.

Varal Antológico 3 – Jacqueline Aisenman –Design Editora (Org.) O Varal Antológico 3 é mais do que uma seleção e textos dos mais diferentes autores, de várias localidades e estilos. É sobretudo, o testemunho da capacidade de agregar escritores em torno de um objetivo maior.

O Conto Brasileiro Hoje -Volume XXIII – Org. Reginaldo Dutra - RG Editores. Referência para pesquisadores e interessados na produção literária nacional e, ainda, com grande aceitação da crítica, a série “O conto Brasileiro Hoje”, da RG Editores, chega ao número XXII.

Poesias de Natal Traduzidas – Ana Paula Lemos Pinheiro – Scortecci Editora. O tema do livro é Natalino.O conteúdo do livro é bilíngue(português e inglês).Todas as poesias tanto em português quanto em inglês foram criadas,escritas e traduzidas(caso do inglês)pela própria autora.

Pescador de Memórias – Lourival Serejo – Edições Academia Maranhense de Letras. Este livro de poesias reúne o olhar de quem viver a cidade como se necessitasse decifrar um enigma. O eu-lírico é marcado por um pessimismo, movido pela grandiosidade da cidade, do lago, da lua e das coisas que se perderam ou irão se perder predestinadamente.

Contos Escolhidos – Enéas Athanázio – Letras Contemporâneas. A obra ficcional tem suas raízes entranhadas nos campos do Planalto Catarinense, com suas gentes, costumes, e falares característicos, aos quais não faltam doses fartas de humor e ironia bem calibradas, onde se viaja e se convive com personagens inesquecíveis.

Na guarita e outras palavras de gavetas – Jaque Plucêncio – Scortecci Editora. É uma coletânea de crônicas, mini-contos e poesias que foram escritas ao longo do período em que a autora cursou Filosofia. Alguns textos sofreram alterações para chegarem até aqui, ou seja, há um ineditismo mesmo no que já foi publicado pelo Jornal do Rio Pardo.

Presença de um homem no mundo - Silvio Ferraz de Arruda – Scortecci Editora. Livro de leitura fácil e agradável, fruto de longos anos de observações e reflexões sobre alguns dos mais tocantes temas relacionados à condição humana, como as experiências vividas na busca permanente do amor, das realizações sociais e da compreensão dos desígnios divinos.

Luz de Alpendre – Alfredo Rossetti – Editora Coruja. Com versos atenciosos à tensão rítmica e rica seleção das palavras o novo livro do escritor se destaca pelo uso pelo constante uso das rimas, e pela propriedade em que o escritor usa o seu vocabulário.

Barragens de Curema e Mãe D’Água – Emmanoel Rocha Carvalho – Edição do Autor. O foco principal da obra se justifica pela importância socioeconômica da construção do complexo hídrico Curema d’Água, onde outros assuntos são trazi-


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LIVROS dos a lume e integram o contexto sem dissociar do objetivo central. O segredo de cada Um - Antologia de Contos, Crônicas e Poemas - Suzana da Cunha Lima, Maria Luiza Malina e outros – Associação do Clube Alto dos Pinheiros. Este livro resgata antigos compromissos com nós mesmos e nos faz redescobrir a alegria e contentamento que o exercício de criar proporciona. Para nós, que vivenciamos estas experiências durante estes poucos meses, a Arte que abraçamos ainda oferece algo mais profundo: um sentido de vida. O Espião Chinês – Eduardo Monteiro da Silva – Carthago Editorial. Após a morte do pai israelense e a mãe chinesa, Gus Lin parte da china para o Brasil com o coração cheio de ódio sem imaginar que está envolvido em uma trama, onde uma empresa multinacional prepara uma ação que mudará o destino da humanidade. Cartas a um filho em coma - Roldan Roldan - Editora Komedi. É um relato real, corajoso, no qual o escritor fica nu diante do leitor ao narrar sentimentos tão viscerais que um pai sente diante do filho quase morto. Mesmo que a maior parte das aflições do pai - o escritor - já passou, a experiência ficará para sempre incrustada em sua alma de poeta, uma ferida que, mesmo depois de fechada, deixará com uma cicatriz profunda. Confinados - João Batista de Andrade - Editora Prumo Neste romance, a cidade é tomada pela violência, os personagens confinados em suas casas e perdem-se em seus labirintos de medo, dúvidas, solidão. Um retrato bem atual, com tiros, ataques, ônibus queimados, arrastões, mortes, ameaças. Hagar – Assad Bechara – Editora Grafsol. Hagar é uma figura muito importante para os povos árabes, principalmente por sua ligação com Abraão e a trama deste livro se firma na constante necessidade de vigilância, à semelhança de Abraão. Esta obra não se trata de ficção, mas de uma análise comportamental. Fundamental como o Amor Roberto Ferrari - L.P. Books. É um livro de poesias que prima pela beleza dos textos que retratam o sentimento mais importante do seu humano: O amor. Fundamental como o amor é fundamental para os corações.

Notícias Poéticas – Eliane Ratier – Editora Coruja. Notícias Poéticas é a reunião de textos em prosa e poesia feitos, entre 2007 e 2012, como um exercício literário mensal, enviados por mensagem eletrônica e publicados no blog elianeratier.blogspot.com “O Canto e o Voo” - Yvonne Gelape Bambirra - Perfil Editorial. Este livro retrata um contraste do jeito mineiro de ser e o modo paulista de viver.

“Bi...charada” - Teresa Bendini – Ponto de Cultura. Bi... Charada” é seu novo livro infantil, o quarto já produzida por ela. Nele, palavras-charadas que, em forma de poema, desvendam o mundo animal. Seriam palavras mágicas, na definição de Teresa. La Rosa Dormida/A Rosa Adormecida - Kori BoliviaThesaurus Editora. A obra é fruto de escritos dos anos 1993 e 1994, com versos recheados de enlevos, saudades, e devaneios, em que o amor alça voo e embala a verve da autora.

“Histórias de Bicho e de Gente”-Vol II - Yvonne Gelape Bambirra - Perfil Editorial. O novo livro vem com novas aventuras envolventes que irão agradar à todos que gostam de animais e amam a natureza.

A Sexta Hora - Rinaldo Santori – Editora Scortecci. A obra se baseia no antigo Livro Tibetano dos Mortos, onde descreve, paralelamente ao itinerário da alma no além-túmulo, uma série de reflexões, cujo objetivo final é um só: nos levar a um entendimento maior e mais profundo dos processos que permeiam a vida e a morte, e a superação de nós mesmos.

Serviço de Escuta - Ligia Terezinha Pezzuto - Editora Ave-Maria. O propósito deste livro é buscar ajudar o próximo, indo além do silêncio e isolamento que as pessoas sofrem na idade da tecnologia, suprindo uma necessidade básica do ser humano, a de ser ouvido.

De Retalho em Retalho - Marianice Paupitz Nucera – Secretaria Municipal de Cultura de Araçatuba. O trabalho feito pela escritora é uma análise das mazelas da vida. Existem neste livro vários fatos que vão desde o drama à comédia, e também historias que fazem que a pessoa reflita sobre as suas atitudes mundanas.

Também lutaram por angola – Kudijimbe – Brigada Jovem de Literatura Angolana. O tema deste livro constitui-se na Angola das guerras e das (des) Junturas que cada uma delas comporta e motiva. A faceta mais dolorosas são as conseqüências paralelas à guerra. A narração oferece ao leitor as personagens que fazem a história de Angola. Tira o pé da minha marmita 2 - Regina Luca BaldiniEditora Qualitymark. É a narração de histórias vivenciadas por várias pessoas em diversos ramos empresariais, instigando a trabalhar mais como ‘protagonistas’ do que ‘vítimas’passivas em um ambiente organizacional. Abordando o comportamento humano, a ética e o convívio social no trabalho. Manifestos: 1964-2010 – Claudio Willer – Azougue Editorial. O livro reúne os manifestos que acompanharam três dos seus livros de poesia, Anotações para um apocalipse (1964), Dias circulares (1976) e Jardins da provocação (1981), todos feitos por Massao Ohno.

Poesia do Brasil – Paulo Dias Neme e Marilu Duarte – Editora Grafite. Este livro se constitui das mais variadas correntes poéticas que oferecem aos estudantes, a expectativa de poderem contribuir para o fortalecimento da poesia em suas vidas. Carta ao Filho - Betty Milan – Editora Record. Um texto arrebatador de reflexão sobre a mãe e a mulher, inteiramente calcada no vivido da autora. Do nascimento à maturidade, passando pela formação com Lacan em Paris e a volta para o Brasil. Livre do tabu de que a boa mãe é infalível, este livro comunica essa libertação ao leitor. Quarto de Artista – Raquel Naveira - Ibis Libris. O novo livro é uma coletânea em que a escritora escreve sobre Guilherme de Almeida, Manoel de Barros, Van Gogh, Virgínia Woolf, Virgílio e outros. Liberdade Negada – Morgana Gazel - Cogito Editora. Retrata a história de Sara, no período do golpe militar de 1964, que aos dezessete anos, envolve-se com um militante da esquerda e é enviada para outro país. Na volta


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LIVROS de Sara ao Brasil, temos o relato de uma história em que se misturam um grande amor, conflitos familiares, violência e morte Marce – Gláucia Lemos – Solisluna Editora. A história deste romance envolve, a vontade de viver plenamente de Marce, a ovelha negra da família. Nesta obra é mostrada as rugas da alma humana, esculpindo-as com letras que talham sulcos, ora profundos, ora delicados, frisados pelo embate entre perdas e ambições. Caros Autores – Fábio Lucas – RG Editores. A obra contempla a análise crítica da obra de quatro expoentes da literatura brasileira: Lygia Fagundes Telles, Ignácio de Loyola Brandão, Mario Quintana e Jorge Amado. Felicidade Hoje e Sempre – José Tavares – Scortecci Editora. É um livro de poesias de leitura fácil e concisa, que tematiza a felicidade, a vida, o amor e pensamentos positivos. Minha vida de terrorista Carlos Knapp – Editora Prumo. Apresenta as memórias de Carlos H. Knapp, respeitado empresário da área de publicidade que, de um dia para o outro, viu seu retrato estampado em cartazes de terroristas procurados pela ditadura militar. Teu nome será sempre Alice Eros Grau - Globo Livros. A procura do amor, a descrição da angústia do desencontro, é a partir desta aventura amorosa, da busca do outro, que, no limite, se confunde com a realização da própria identidade, que se localizam os contos deste livro Inviolabilidade do Direito à vida – Coord. Ives Gandra – Editora Noeses. De forma jurídica e científica, todos os autores do presente livro abordaram, por prismas diferentes, a questão do direito inviolável à vida, como direito fundamental, desde a concepção de todos os seres humanos. O livro congrega trabalhos de notáveis especialistas da área jurídica e médica. Dias em tempos de Cordel – Dias de Cordel – Editora Scortecci. Este livro é uma reunião de pequenas histórias simples com certo teor de comicidade e algumas com fundo moral sem nenhuma pretensão de ensinar nada a ninguém.

Poemas inSIGNIFICANTES – Rubens Bonatelli Moni – Editora Scortecci. Este livro desvenda aqueles sentimentos que dão valor a vida, explora aspectos e perspectivas do mundo,onde as poesias apresentam-se às vezes simples, algumas vezes terna e carinhosa, outras vezes moderna, movida pela liberdade da atualidade. A Arte Poética de Aricy Curvello – Cleber Pacheco – EDIPLAT. Esta é uma obra de grande interesse para os estudiosos e os amantes da poesia, analisa com profundidade livros, poemas e a visão de mundo do poeta, com um viés filosófico, epistemológico, abordando ainda a questão da linguagem e a relação com a arte da pintura. Grupo Escolar Coronel Vaz – Lembranças, memórias e fatos – Zina C. Bellodi e Dorival Martins de Andrade. Este livro relembra as histórias e personagens de destaque da sociedade jaboticabense que freqüentaram o antigo Grupo Escolar que completou 110 anos de existência Os autores desta obra, registraram com leveza e sabedoria nomes de ex-alunos que representam os diferentes extratos sociais que a escola teve o prazer de ensinar. Letras Rebeldes – Fluídos Insensatos – Novaes Barra – Editora Letras e Versos. Neste livro de ficção, busca-se fazer uma crítica à sociedade contemporânea, mostrando uma visão de mundo não conformista. Como protagonistas, o autor elege bandidos, operários, famintos, pintores, diaristas, personagens com os quais o público é levado a compartilhar emoções e ideias. O Projeto Espião – Osvaldo Moraes – Belacop Livros. Os combates da Força Aérea Brasileira aos traficantes de drogas e contrabandos são peças fundamentais para o fortalecimento do Brasil e do jovem brasileiro. No Projeto espião será mostrado em um belo romance, um dos meios para ese combate. Coletânea do Mutirão Cultural da UBE – Org. Sueli Carlos – Expressão e Arte Editora. Uma Janela aberta. Este é o objetivo do Mutirão Cultural, retratar a essencialidade, traduzida num singelo desenho simbolizado através duma caravela com panos desfraldados, denotando ventos, que propulsionam um barco, ou cujas velas, são um livro aberto, direcionando as demais embarcações.

Estradas de Palavras – Wanda Liberatore – Perse Editora. Trata-se de uma coletânea de crônicas a partir do questionamento do mundo em que vivemos. Os fatos cotidianos que servem de inspiração e de material à narrativa dessas crônicas contemplarão os leitores com passagens divertidas, pontos de reflexão, e despertarão, por certo, alguma simpatia com determinadas opiniões da autora, eventuais discordâncias com outras, e, talvez mesmo, quem sabe, até alguma indignação. Últimos momentos – Arine de Mello Jr. – LP-Books. O poeta e ficcionista mantém neste livro de poesias, o mesmo dizer poético, personalíssimo e surpreendente. Trata-se de um poeta com parâmetros próprios, humanos e sensíveis. Obra poética que mostra, expõe e parece “conversar” com o leitor. A Campanha da Força Expedicionária Brasileira Pela Libertação da Itália – Durval de Noronha Goyos Jr. – Editora Cultura Acadêmica. Esta obra traz à tona episódios marcantes da nacionalidade e do papel do Brasil no mundo. Resgata homenagens merecidas a um pugilo de combatentes da Força Expedicionária Brasileira e os serviços prestados à causa democrática nacional e internacional naqueles terríveis anos da Segunda Guerra Mundial, a maior do século XX. Antologia Poesia 2013 – Ana Cláudia Garutti Marques (Part.) – Editora Coruja. A Antologia 2013 contempla em suas páginas um breve painel da poesia contemporânea em seu mais sincero afã. Poesia que almeja traduzir a alma dos que vagam na mais sagrada aflição: a de expressar através da palavra os sentires, os desejos, as buscas. Folhas e Versos - Emérita Andrade. Em “Folhas e Versos”, a poetisa Emérita Andrade Ramos enfoca-se numa guirlanda de extremo romantismo e divide num sequencial literário galhos de um livro-árvore onde suas folhas, caem às mãos do leitor em forme de poemas, ainda frescas e suaves, como é a água bebida na fonte do Parnaso. Fome de Deus – Frei Betto – Paralela. Neste livro, Frei Betto, um dos mais importantes líderes espirituais brasileiros, aborda temas como a oração, o amor ao próximo, a fé e a vida de santos, sempre a partir de um ponto de vista contemporâneo, por meio de textos simples e curtos.


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RESENHA

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QUEM GANHAMOS

Mutirão Cultural da UBE CONVIDA Ciclos de estudos: “Técnicas de Oratória –Dr. João Meireles Câmara” I SEMESTRE DE 2014 – Gratuito

Ádamo César

Adriano R. Pelá

Assad Bechara

Ben-Hur Demeneck

Carmen Lucia Hussein

Fabio Carvalho Gonçalves

Fernando Coelho Teixeira

João Luiz B. Ramos

Kudijimbe

- Vencer o medo de falar ao público - Pensar falando e falar pensando - Postura - Gestos Orientadores: Dr. João Meireles Câmara, Dra. Sueli Carlos 17º Ciclo de Estudos - TURMA DE SEXTA FEIRA Datas: 10-17-24-31 de janeiro, 07-14-21-28 de fevereiro de 2014 das 14h30 às 17h30 18º Ciclo de Estudos - TURMA DE SÁBADO Datas:11-18 janeiro,01-08-15-22 fevereiro,08-15 de março de 2014 das 09h00 às 12h00 19º Ciclo de Estudos-TURMA DE SEXTA FEIRA Datas:07-14-21-28 de março,04-11-25 de abril, 09 de maio de 2014 das 14h30 às 17h30 20º Ciclo de Estudos-TURMA DE SÁBADO Datas: 22-29 de março,05-12-26 de abril,10-17-24 de maio de 2014 das 09h00 até 12h00

M. Luiza de C. Malina Marcelo Nocelli

Laura Regina Borges

21º Ciclo de Estudos-TURMA DE SEXTA FEIRA Datas16-23-30 de maio, 06-13-27 de junho, 04-11 de julho de 2014 das 14h30 até 17h30 22º ciclo de estudos -TURMA DE SÁBADO Datas:31 de maio, dias 07-15--28 de junho, 05-12-19-26 de julho de 2014 das 09h00 até 12h00

Roqe Rom Maria Inez Masaro

Roberto Ferrari

Tania Zaguri

Vanessa DR Fontana

Apoio: Associação Comercial de São Paulo, Universo da Aquarela Endereço: ACSP- Rua Galvão Bueno, 83 (Metrô Liberdade). Informações e inscrições no local, no 1º dia e-mail:fonosuelicarlos@gmail.com / cel: (0xx11) 97394-8261 Yara Pedro de Carvalho


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QUEM PERDEMOS

Reginaldo Dutra, editor

Faleceu, dia 02 de novembro, em São Paulo, o escritor e Editor Reginaldo Dutra. Nascido em Baturité, no Ceará, residiu por alguns anos no Rio de Janeiro. Mudou-se para São Paulo e aqui ampliou o seu trabalho de jornalista, escritor e editor. Foi assessor de imprensa de várias empresas e entidades da classe. Um dos fundadores dos jornais literários Presença do Livro e Símbolo. Colaborou em vários jornais paulistas e foi diretor da ETAP – Editoria, Assessoria e Planejamento. Trabalhou, por muitos anos na Prefeitura Municipal, aposentando-se em função de destaque. Publicou, como escritor, o livro de contos O Menino de Baturité, contos rememorando a sua terra natal, de grande sucesso. Fundou a Editora RG Editores, hoje consolidada sob a direção de João Benício Dutra, e edi-

Leila Echaime

Izao Carneiro Soares

tou através dela, obras de todos os gêneros, em particular, a de escritores novos, destacando-se a notável série O Conto Brasileiro Hoje, e já alcançou duas dezenas de volumes de contistas famosos e desconhecidos do Brasil inteiro. Pertencia à União Brasileira de Escritores (inscrição nº 803) há muitas décadas e muito trabalhou por ela, chegando a exercer cargos de diretoria nas gestões do presidente Péricles Prade – 1980 a 1982 – e nas gestões seguidas do presidente Claudio Willer – 1988 a 1992. Além de editor integrou-se à entidade. Nunca se afastou e sempre colaborou com as atividades e iniciativas da União Brasileira de Escritores. Registramos, com pesar, o falecimento de Reginaldo Dutra, que compõe a caminhada da União Brasileira de Escritores ao longo de sua história.

Newton Ramos de Oliveira

Marta Gonçalves

James Amado, escritor

Texto de Cyro de Mattos Morreu em casa, vítima de falência múltipla dos órgãos, em Salvador, na Bahia, neste domingo último, aos 91 anos, o escritor James Amado, irmão caçula do romancista Jorge Amado (1912-2001). Foi sepultado às 17 horas de segunda-feira, ontem, no cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, onde o corpo foi velado na Capela F. Segundo Paloma, sobrinha de James, o último domingo foi de dor e saudade. — Estou completamente destroçada. Meu pensamento está todo voltado para minha tia Luiza, mulher formidável, e para meus queridos Janaína, Inaê, Maurício e Fernanda, mais que primos, irmãos muito amados, ela completou. Terceiro e último filho de João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, desbravadores da Região Cacaueira Baiana, na época da conquista da terra, James Amado nasceu em Ilhéus, em 1922, no sul da Bahia. Ele era o último irmão vivo de Jorge Amado. Membro da Academia de Letras da Bahia desde 1990, ocupou a cadeira de número 27, cujo patrono é Francisco Rodrigues da Silva e que antes foi ocupada pelo jornalista Antonio Loureiro. James Amado escreveu o romance Chamado do Mar, que tem como cenário Pontal

dos ilhéus, no sul da Bahia, que serve de fundo para a exibição de conflitos interiores e sociais vividos por pescadores numa colônia de pesca. É um dos romances mais vigorosos da ficção brasileira que tem como motivação o mar e sua gente, narrado com a técnica moderna dos ficcionistas norte-americanos, que trouxeram para a estrutura do romance após a Segunda Guerra Mundial o uso do contraponto e do tempo desmembrado. Até hoje guarda o segredo da perene atualidade. James Amado foi também o responsável pela edição das Obras Completas de Gregório de Matos, publicadas pela Editora Janaina, Salvador. Além de escritor como o irmão Jorge, James também foi tradutor e jornalista no Rio. Era formado em Sociologia e Política. Foi casado três vezes: com Jacinta Passos, com Gisela Magalhães e também com Luiza Ramos Amado, filha do escritor Graciliano Ramos, sua última mulher. Deixa quatro filhos: Janaína, Inaê, Maurício e Fernanda. - Somos da mesma região e temos tradição de luta e esforço pelas causas sociais. Ele era um grande amigo, afetuoso. Toda semana, nós nos encontrávamos na “Ceasinha”, nas quintas do Edinho para conversar, lembra o escritor, poeta e membro da Academia de Letras da Bahia, Florisvaldo Mattos.


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A tríade do inferno

RUY CÂMARA

Meio dia. A luz intensa irrompe um escampado de nuvens brancas e penetra por entre os galhos do cedro sem folhas. A sombra do arbusto se move de um lugar ao outro, açoitada pelo vento escaldante. Pisando nela, quatro patas raquíticas, obedientes a um par de olhos famintos, que traquinam sem convicção, como se mirassem ali, no meio do nada, algo que supostamente existe, mas que não se pode ver ou pegar. Nesse cenário de miséria e delírio tudo que se move existe e se existe ou é alimento ou ameaça e até mesmo uma sombra parece ter vida para quem mal consegue distinguir o real do imaginário, tanto que a gana incontida de um ente faminto insiste em abocanhá-la em vão. Uma suposição banal, talvez a última, diz de si para si mesma: “Onde se vê o rastro por aí passou o bicho.” Da sombra saem dois vultos escalavrados, exaustos, um Menino tísico, cabeção e asmático, seguindo um Cão esquálido e rabugento, cor de raposa. Os dois tomam um rumo qualquer. Tudo é caatinga. Prosseguem a caminhada sem esperanças, mas no íntimo pressentem que um êxito qualquer exterminará tudo de uma vez por todas. Do modo como o Cão está farejando, o Menino quer adivinhar onde está a vítima, o sustento de mais um dia infeliz, certamente o último. Num trocar de passos o Cão fica estático e atento. Contrai-se sobre o esqueleto quase visível e para subitamente. Rastros de um vivente exausto de fuga continuam ali, grudado à terra rachada. A aproximação inoportuna do Menino é repudiada pelo Cão, que continua farejando no rastro daquilo que supõe ser uma solução ou o caos. “Se ele acertar a pedrada eu morrerei de fome”, raciocina o quadrúpede com egoísmo. Temendo desperdiçar a chan-

ce o Menino abaixa-se, apanha uma pedra, ergue-se devagar e prepara o arremesso. O Cão levanta as orelhas, o rabo, fareja o ar como quem respira indícios de sobrevivência. O silêncio agônico do momento imobiliza os parceiros. Alguns segundos de espera parecem uma eternidade. Súbito, um chiado deslizando sobre as folhas secas denuncia-se. O vivente agora é reconhecido pelo mais desprezível e envergonhador meio de existência: rastejar de fome sobre o próprio ventre e às escondidas. O Menino alegra-se com a possibilidade de êxito. O Cão nem tanto, pois sabe, por experiência vivida, que aquela caça não será repartida segundo o merecimento pelo esforço de cada um, muito menos segundo a lógica: “de cada um segundo a capacidade e a cada um segundo a necessidade.” Contudo, espreita o momento certo para o ataque. Desesperados e famintos como estão os parceiros, nesse momento já ultrapassaram a condição de aliados e logo, logo se tornarão inimigos. O Lagarto pressente que tem agora um só destino: escapar da ameaça. O farejador apronta-se numa posição estática sobre três patas. O Menino avança e para abruptamente no preciso instante em que seu pé de apóio esmaga um graveto, teso de sequidão. Há instantes tensos por essas paragens esquecidas que, o simples estalar de um graveto pode ser uma catástrofe. Fazendo um esforço extenuado o Menino alonga-se por cima do arbusto e arremessa a pedra no local suspeito. Em disparada fuga vai o Lagarto e na perseguição desesperada o vira-lata perde-se de vista. Seus latidos ecoam no espaço. “Acua, acua”, grita o Menino, já em marcha corrida na direção do comparsa. No desespero salvífico o Lagarto entoca-se num buraco, entre um pedregulho e um formigueiro, e aí se mantém quieto

como se tivesse plena consciência de que sua vida está numa situação crítica. Os latidos do Cão aumentam o desespero de quem passou de caçador esfomeado e solitário à caça. “Pega, pega”, grita o Menino, atiçando o Cão, que no íntimo desconfia do seu proveito. Diante da toca, os dois se olham com se quisessem dizer um para o outro que o êxito vai depender do esforço conjunto ou de muita espera. Mas a fome não pode esperar, como bem o sabem. O Menino expectora os brônquios, fica tonto e escarra. Em seguida corta uma vara comprida de marmeleiro, posiciona-se ao lado do buraco e começa a estocar com pressa. O Cão permanece numa inquietação feroz, mostrando os caninos ao buraco. Lambe em seco o focinho goela adentro e torna a ladrar. Da toca sai um cheiro de banquete ameaçado. Acuado, o Lagarto respira fundo, na esperança de empreender uma nova fuga. Deve estar suspeitando, sem querer admitir, de que desta vez não sobreviverá inteiro. Mas, agora que se acomodou na toca, ocorreu de ter uma idéia: “Meu rabo tornará a crescer se eu conseguir cortá-lo.” Mas precisa ser rápido, muito rápido, para ludibriar o olhar e o faro obscuro da fera. Num ato de superação instintiva o Lagarto desvia-se de mais uma estocada, ergue-se com dificuldade por cima do dorso, alcança a cauda e com a dentição afiada, corta-lhe um pedaço para saciar a gana do inimigo no momento da fuga iminente. Cansado pelo esforço hercúleo e esvaindo-se em sangue, o Lagarto supõe ser possível saciar o desejo voraz do inimigo para desaparecer na imensidão da caatinga. Somente o instinto de sobrevivência é capaz de ignorar que, a vida real, em tais condições, é uma utopia impossível, indigna da mais medíocre lógica. O Lagarto reúne o que lhe resta de forças e, de repente, fura o bloqueio. Um chiado corre em

desesperada fuga sobre as folhagens e desaparece na caatinga, deixando nas presas do esganado boa parte da sua cauda. Duas bocadas e pronto. Em segundos a catástrofe planejada fora devorada sem remorsos. O Menino olha para seu companheiro com desprezo e ódio. Está completamente desnorteado e sem esperança. O Cão permanece quieto, desconfiado, com o rabo entre as pernas, em posição de medo. Por certo ainda lembra que na semana anterior não tivera direito sequer ao esqueleto da última vítima. A ossada torrada e pilada fora misturada à farinha de mucunã e comida pelo Menino. Numa toca segura o Lagarto contorce-se na dor secreta, desejando a desgraça ruir sobre os inimigos. Apesar das dores e do cansaço ele consegue ouvir os passos que seguem noutra direção e começa a lamber a ferida com o orgulho máximo de quem se presume sobrevivente de uma catástrofe. No pedregulho de um rio seco o Menino começa a delirar sob o firmamento aberto, de onde vem um brilho escaldante. A sede aumenta. Mirando uma sombra lá adiante, ele jura se vingar do parceiro, que parece adivinhar tais pensamentos e se deita ao lado, fingindo arrependimento. O Menino olha, mas seu olhar não é correspondido pelo Cão, que rasteja e aproxima-se sorrateiramente como se quisesse lhe dizer que a dor e fome nas plagas sertanejas, são irmãs gêmeas, como trigêmeos são o egoísmo, o amor e o ódio. As horas vão passando devagar e o espetáculo sinistro parece ser o prenúncio de uma grande tragédia, uma tragédia sem culpados e sem testemunhas. Num gesto abrupto o Menino sangra o Cão e bebe-lhe o sangue como se bebesse água de uma grota à céu aberto. Em seguida rasga o couro do Cão, arranca um pedaço, come-lhe a carne com gana e afasta-se devagar da cena de sacrifício. O calor aumenta insuportavelmente, vêm os engulhos,


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ARTIGO

a náusea, os delírios, e após um ataque de tosse encatarrada, um tombo é ouvido na caatinga. Já é quase noite quando o Lagarto aproxima-se triunfante, lambendo silenciosamente o espetáculo mórbido. Parece adivinhar que nesse cenário trágico, a morte é um caos sem providência divina, e que a seca por estas bandas do mundo, não é apenas um sofisma de distração do Criador, mas um problema secular de irracionalidade humana. ___________________

Direitos autorais da Idade Média, até quando?

O Conto “A Tríade do Inferno” é o resultado de um Problema de Dramaturgia proposto em Cuba por Gabriel García Márquez. A SITUAÇÃO DRAMÁTICA NÃO PODE SER MODIFICADA 1- O personagem “A”, está sozinho, solitário, em situação crítica, no limite de suas forças e necessita urgentemente se livrar de um grave problema, mas não tem ninguém confiável por perto. 2- O personagem “B” precisa contar com a ajuda e a compreensão de “C” para solucionar um conflito pendente entre ambos. 3- “A” não conhece “B” nem “C”, e os três se encontram num lugar hostil e perigoso. 4- Para “C” a presença de “A” é oportuna e pode resolver um problema insolucionável, desde que “B” colabore. 5- No conflito de “A”, há um fator envergonhador. 6- “B” não pode fugir da situação em que se encontra, pois tem que esperar por “C”. Personagens Criados por Ruy Câmara: “A” - Lagarto “B” - Cão. “C” - Menino.

Ruy Câmara é romancista e sociólogo.

EDVAN ANTUNES

Segundo a história foi a rainha Ana da Inglaterra que em 1709 decretou a primeira lei conhecida sobre direitos autorais. Pode se dizer que o direito autoral no Brasil começou em 1827 com a criação dos cursos jurídicos de São Paulo e Olinda. Em 1831 o Código Criminal do Império criou indiretamente um direito autoral de reprodução. Por volta de 1890 o Código Penal da época ampliou a abrangência desse assunto, mas em todas as revisões que houve e nas novas constituições que o país adotou uma coisa que continua a intrigar todo autor brasileiro é: quem foi que disse que nós só podemos receber apenas 10% do valor da obra como Direito Autoral? No passado quando isso deve ter sido fixado nem sequer existia um mercado para a literatura, livrarias por aqui

eram muito poucas e conta-se que diante dessa precariedade Machado de Assis editava suas obras em Nova York. O que mais me impressiona é que mesmo com todas as mudanças e avanços que aconteceram no mundo o Direito Autoral fixado em 10% continua firme e forte favorecendo apenas as editoras e os tantos atravessadores que se multiplicam por aí. Enquanto isso os autores não conseguem sobreviver do seu árduo ofício. Recentemente os jogadores de futebol do Brasil cansados dos calendários desumanos e do excesso de jogos se uniram e criaram o Bom Senso F.C. e antes de seus jogos pelo Brasileirão, atletas de ambas as equipes permaneciam imóveis ou se sentavam no gramado como forma de chamar a atenção da mídia para a sua causa pra lá de justa.

Na literatura está faltando uma atitude similar. Até quando nós autores vamos permitir que fixem o valor da criação intelectual em apenas 10%? Até quando e vai vigorar essa imposição medieval que favorece apenas alguns atores dessa cadeia produtiva literária? Como já diz o velho ditado: “Casa de ferreiro, espeto de pau”. Ironicamente a maioria dos escritores nacionais tem uma grande proximidade com órgãos de imprensa até mesmo militando profissionalmente neles mas no entanto, poucos levantam a bandeira de se rediscutir o valor dessa gorjeta que insistem em chamar de Direitos Autorais. No recente Congresso realizado pela UBE, muitas questões foram levantadas e discutidas e houve alguns avanços em defesa do que já está estabelecido. Mas sem o engajamento da maioria será bem mais difícil virarmos


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ARTIGO esse jogo. Precisamos fazer uso das Redes Sociais, de todos os espaços possíveis para amplificar esse grito que está preso e sufocado em nossas gargantas. É como se os autores ainda vivessem escravizados por um bravo senhor feudal que nos explora enquanto enriquece e continuamos a sofrer em silêncio. Para nós esse pesadelo permanece vivo em parte por nossa própria culpa e passividade, diante de algo tão vergonhoso e dantesco. Enquanto isso as editoras, distribuidoras e redes de livrarias comemoram ano a ano o aumento do mercado brasileiro que em 2011 vendeu 469,5 milhões de livros, 7,2% a mais que em 2010, dados esses fornecidos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE/USP) sob encomenda do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e da Câmara Brasileira do Livro (CBL). O faturamento das editoras nesse mesmo ano atingiu a impressionante cifra de 4,837 bilhões com 58.192 títulos publicados sendo que 20.405 foram lançamentos. Nessa escala ascendente jamais as editoras vão propor aos autores remuneração melhor do que essa medieval que ainda vigora. Cabe a nós valorizarmos o nosso trabalho, pessoalmente entendo que Direito Autoral não tem que ser pre fixado, mas teria que ser algo variável que levaria em consideração o público do autor, sua temática e outros diferenciais que estabelecessem uma remuneração justa para um trabalho que exige alta perícia como é o ato de escrever. Com o livro acontece o mesmo que com o CD, nenhum deles é numerado. Claro que numerar livros um a um encareceria o processo de impressão, mas temos que pensar em formas de podermos acompanhar com mais justeza a quantidade de exemplares realmente vendidas de cada autor. Se nós como classe conseguíssemos que as redes de livrarias disponibilizassem a quantidade exata de exemplares comercializados de uma obra

específica, nós poderíamos confrontar esses números com os que nos são apresentados pelas editoras trimestralmente. Esse mecanismo ou outro que seja mais eficiente ajudaria a diminuir esse eterno conflito: autor/ editora na hora do acerto. Claro que isso é apenas uma sugestão, é como se eu estivesse pensando em voz alta em busca de uma solução para minorar esse atraso que impera sobre um assunto tão vital para quem escreve que é o seu sagrado direito a uma remuneração justa. Nesse quesito como classe já fomos ultrapassados pela domésticas profissionais que durante tanto tempo em nosso país foram tratadas a revelia pelas patroas e patrões em alguns casos num regime de semi escravidão se levarmos em conta as tarefas e horas trabalhas. A famosa expressão; “quartinho de doméstica” está tão impregnada em nossa cultura que até hoje a planta dos lançamentos imobiliários trazem esse minúsculo cubículo em seu projeto como se essas profissionais do lar não merecessem mais do que viver espremidos numa lata de sardinhas. Mas felizmente a luta dessa categoria profissional foi vitoriosa, com um trabalho de formiguinha conquistaram direitos trabalhistas justos e merecidos. O nosso caso não é muito diferente nossa vantagem como já citei é que temos todos os acessos aos meios de comunicação e desfrutamos de um razoável status, diferentemente do exemplo citado anteriormente, basta então criamos dentro de nós o sentimento de indignação. Esse é o combustível de que tantos precisamos para avançarmos mais rapidamente com as mudanças no que diz respeito ao pagamento de nossos Direitos Autorais. Nós como autores vez por outra somos traídos pelo nosso ego que se satisfaz apenas com o fato de vermos nosso trabalho publicado, pouco importando com os ganhos gerados por ele uma vez que a maioria esmagadora sobrevive de outras ati-

vidades. Isso só contribui pela perpetuação do que está aí, se o autor não vai viver mesmo do que ganha na literatura então por que melhorar nossos Direitos Autorais? E assim andando em círculos como o cachorro correndo em volta do próprio rabo permanecemos estáticos sendo duramente explorados e o que é pior: sem nenhum sinal de uma reação imediata exatamente como querem os senhores feudais que dominam o nosso mercado. Para a classe dominante da Idade Media quanto mais ignorante e inerte fosse o povo melhor para eles. No nosso caso acontece a mesma coisa quanto mais permanecemos quietos apenas resmungando melhor para eles. Ano após ano esse assunto de se rediscutir Direitos Autorais volta á baila, mas esse abismo permanece cada vez maior. Fico imaginando se nós autores brasileiros resolvêssemos fazer uma paralização, que esperem as gráficas e livrarias – essa seria uma forma de sacudir esse mercado e acabar com o marasmo que está aí. Proponho fazermos imediatamente a coleta de assinaturas para um abaixo-assinado, assim iniciamos 2014 um ano de Copa do Mundo literalmente no ataque. Grande parte da população não sabe que somos obrigados a receber tão pouco pelo nosso trabalho e a medida que essa causa ganhar ressonância na mídia, teremos o apoio da maioria da nossa sociedade que podem engrossar esse coro com o sentimento de talentosos artistas as vezes ainda anônimos mas que ajudam a dar vida ao grande espetáculo que é a nossa literatura repleto de histórias e personagens que proporcionam as pessoas momentos inesquecíveis a cada página virada. É bom lembrarmos que as grandes mudanças ocorridas em nosso país e pelo mundo a fora começaram com um pequeno passo, ao criarmos um abaixo assinado ou outra ação mais enérgica, ganharemos força não só junto a mídia, mas também

junto aos legisladores e assim vamos avançar rumo a um outro patamar de remuneração.

Como somos muitos e estamos espalhados por todo o país, as unidades regionais da UBE ajudariam a coletar essas assinaturas e assim somando um pouco aqui outro pouco acolá podemos alcançar um número expressivo de assinaturas. Mas talvez alguns achem que essa medida não funcionaria deixando o velho pessimismo tomar conta da mente e do ânimo, mas como dizem por aí: “o preço de se pensar pequeno ou grande é o mesmo”. O certo é que continuarmos confiando apenas nos relatórios apresentados é como se ainda vivêssemos no passado quando a palavra ou o “fio de bigode” tinha o mesmo valor que um documento registrado, bons tempos aqueles. E assim nesse drama kafkiano continuamos sobrevivendo das migalhas pagas pelos senhores editores sonhando infantilmente com o dia que tudo irá se resolver num passe de mágica como num dos contos da carochinha. É hora de irmos a luta. Basta de Direitos Autorais da Idade Média. Edvan Antunes é autor entre outros da obra: De Caipira a Universitário. A História do Sucesso da Música Sertaneja.


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EVENTO

II Salão Nacional do Jornalista Escritor

A partir da esquerda, o representante do governo do Estado, José Anibal (secretário de Energia do Estado de SP), José Américo (presidente da Câmara Municipal), Audálio Dantas (curador do evento), Joaquim Maria Botelho (presidente da UBE), Ricardo Ramos Filho (neto do escritor Graciliano Ramos) e João Batista de Andrade (presidente do Memorial da América Latina). DANIEL PEREIRA

O II Salão Nacional do Jornalista Escritor, organizado pela UBE e com apoio da Mega Brasil Comunicação, reuniu durante três dias (6 a 8 de setembro de 2013), mais de 6 mil pessoas, entre profissionais da área, estudantes e professores, que transitaram entre livros e autores, debates e sessões de autógrafos que tomaram conta do foyer e do auditório Simón Bolivar, do Memorial da América Latina. Só na última mesa do domingo, que contou com Caco Barcellos e Ivan Marsiglia, ancorados por Fernando Coelho, foram cerca de 1.000 participantes. O evento teve 11 mesas; 33 jornalistas escritores – que se revezaram no palco; 22 horas de entrevistas, debates e reflexões; e 25 sessões de autógrafos – com 70 autores jornalistas. Uma exposição fotográfica montada no foyer do auditório contou a história da UBE. O curador do II Salão Nacional do Jornalista Escritor, Audálio Dantas, destacou a participação maciça dos estudantes de comunicação e a interação com os convidados. “Quem esteve presente nos três dias do evento pode acompanhar discussões ca-

lorosas sobre o atual momento da profissão e do mercado, ouviu experiências sobre como escrever livros reportagem, ficção ou não ficção, e descobrir como fo-

ram realizadas as pesquisas para obras como Getúlio Vargas, Olga, Saga Brasileira: por uma moeda, Os Homens dos Pés Redondos, A Ilha, Chatô, O Inimigo do Rei, entre outras, e muito mais”. Ricardo Ramos Filho, nosso ex-diretor, representou a família do jornalista escritor Graciliano Ramos, homenageado pela passagem dos 80 anos de Caetés. Ao agradecer a reverência dos organizadores, Ricardo lembrou a passagem do avô como jornalista no Correio da Manhã, Rio de Janeiro, onde trabalhou de 1947 até as vésperas de sua morte, em 1953. Depois, contou como surgiu a mais conhecida definição de Graciliano para o ofício de escrever: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.” A versão surgiu de um encontro entre Graça e Joel Silveira (outro ícone do jornalismo do século passado) na Livraria José Olympio. O Velho Graça

provoca: “Quem escreve deve ter todo o cuidado para a coisa não sair molhada...Quero dizer que da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal”. E então, Graciliano Ramos detalhou o passo-a-passo do ritual das lavadeiras alagoanas na beira do rio. Uma das questões discutidas no Salão, e destacada por Dantas, foi o encolhimento do espaço para a grande reportagem em jornais e revistas, fato que certamente contribuiu para o que se pode chamar de migração do repórter para o livro. “Esse movimento revelou, também, casos de jornalistas que se destacaram em vários gêneros literários, que vão do romance ao conto, à História e à biografia. Aliás, esse foi o critério que utilizamos na escolha dos autores que estiveram no evento: ter uma atuação marcante em vários gêneros”.

O que alguns dos participantes disseram “O jornalismo lida com fatos, a literatura com as possibilidades do fato. Quando as duas preocupações são atendidas num mesmo texto, como o livro-reportagem, o leitor apreende muito mais sobre a realidade e as suas dimensões.” (Joaquim Maria Botelho) “Literatura é sedução. Seu o autor não consegue prender o leitor nas três primeiras linhas... estará perdido” (Domingos Meirelles) “Meu compromisso é somente com o leitor... Jornalismo é Equipe!” (Juca Kfouri) “O que vale é a credibilidade da marca na divulgação da informação!” (Heródoto Barbeiro) “Escute com todos os seus sentidos... O povo brasileiro tem uma invenção de linguagem muito rica.” (Eliane Brum) “Um bom repórter de política tem que manter uma distância da sua fonte. Seu compromisso é com o leitor.” (José Nêumanne Pinto) “Estou pisando no chão dos livros bem devagarinho...” (Miriam Leitão) “Quando comecei as distâncias do Brasil “eram maiores” e o jornalismo era do romance reportagem...” (António Torres) “Jornalismo literário é só um verniz para adjetivar o jornalismo.” (Lira Neto) “O livro é essencial. Sem educação não se vai a lugar algum. Ler e compreender é fundamental”. (Fernando Coelho) “Tenho a necessidade de me envolver imensamente com as pessoas. Eu retrato a relação social.” (Caco Barcellos) “Nós jornalistas formados como repórteres criamos textos com um grau de importância que nenhum historiador consegue passar ao leitor.” (Fernando Morais) “Jornalismo é literatura sob pressão.” (Alberto Dines ) “Escrever um livro é uma viagem fantástica.” (Moacir Assunção )


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