Projeto terra

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Antonio Meneghetti sobre...

Projeto

Terra

Fundação Antonio Meneghetti Recanto Maestro - RS 2017


M541a

Meneghetti, Antonio, 1936-2013.

Antonio Meneghetti sobre... Projeto Terra / Antonio Meneghetti – Recanto Maestro, São João do Polêsine, RS: Fundação Antonio Meneghetti, 2017. 116 p. ; 20 cm. ISBN 978-85-68901-08-3 Conteúdo inédito 1. Ontopsicologia. 2. Meio Ambiente. 3. Ecossistema. 4. Planeta Terra. 5. Homem-Terra I. Título. CDU (1997): 574:111 Catalogado na publicação: Biblioteca Humanitas da AMF.

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© 2017 Todos os direitos reservados à Fundação Antonio Meneghetti Rua Recanto Maestro, nº 26 | Distrito Recanto Maestro 97230-000 | São João do Polêsine | RS | Brasil (55) 3289-1136 | (55) 99641-0942 contato@fundacaoantoniomeneghetti.org.br www.fundacaoantoniomeneghetti.org.br www.ontopsicologia.com.br


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SUMÁRIO

PREMISSA..............................................................7 Primeiro Capítulo COMO INSERIR A TEORIA ONTOPSICOLÓGICA NA VISÃO DA SITUAÇÃO HISTÓRICA DO PLANETA TERRA.........................................9 1. Encarnação terrestre e materialismo histórico.......9 2. Interação e relativismo na sinapse Homem-Terra......................................................13 3. A dialética dos módulos informáticos da vida na osmose terrestre............16 4. Responsabilidade consciente na interação com o planeta Terra.............................20 Segundo Capítulo ECOBIOLOGIA HOLÍSTICA PARA NÓS EXTRATERRESTRES.................23 1. Introdução à ecobiologia holística.......................23 2. Poder ideológico versus sacralidade naturística..27 Terceiro Capítulo ONTOPSICOLOGIA E ECOBIOLOGIA.......35 1. Psicologia do encontro com a natureza................35 2. Coparticipação com o gênio da vida....................39 3. Da biologia terrestre à integridade humanista.....44


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Quarto Capítulo DO NUTRIMENTO TERRESTRE À EVOLUÇÃO ESPIRITUAL..........................49 1. A Cozinha Viva como meio para alcançar e manter um estilo de vida superior......49 2. O prazer para ser: quatro princípios.....................55 Quinto Capítulo SMART DUST E APERTO DE MÃO...............63 1. Novidade científica no campo da informação......63 2. Gestão da informação e campo semântico...........69 3. Perigos e potencialidades do poder energético do planeta Terra.......................70 4. Globalização e Projeto Terra................................74 Sexto Capítulo O METABOLISMO AUTOGENÉTICO.........79 1. O ecossistema do Em Si ôntico coletivo..............79 2. A racionalidade ontopsicológica para uma funcional interação com o ecoambiente......81 Sétimo Capítulo DA INTERAÇÃO INTELECTUAL COM A NATUREZA À ÊXTASE ORGANÍSMICA.....89 Oitavo Capítulo ENTREVISTA SOBRE ECOBIOLOGIA.......95 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR.........................107


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PREMISSA

A Coleção “Antonio Meneghetti sobre...”, que iniciou com o livro “A Riqueza como Arte de Ser” e procede com este segundo livro sobre o tema “Projeto Terra”, não pretende substituir a produção de mais de 40 anos de atividade científica ontopsicológica, distribuída em mais de 50 livros e inúmeros editoriais e artigos publicados em diversos periódicos, com destaque para a Revista Ontopsicologia, posteriormente intitulada Nova Ontopsicologia. O escopo é aquele de reunir e sistematizar o material inédito extraído de conferências realizadas por Antonio Meneghetti no curso de residences e seminários, e colocá-lo à disposição de quantos já tenham conhecimento da bibliografia do autor. Por tal razão, o estilo do texto pode parecer em certos casos um pouco “enxuto”, porque se buscou – por quanto possível – excluir (ou reduzir ao essencial) os conteúdos já inseridos e revisados por Meneghetti nos livros que publicou em vida. As fontes bibliográficas de referência para estudo e aprofundamento de tais conteúdos estão indicadas em nota. Além disso, todos os capítulos, ainda que coligados por uma estrutura


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lógica, podem ser trabalhados e estudados de modo independente. Desejando que este instrumento possa resultar em um suporte funcional ao estudo e ao ensino da Ontopsicologia, agradecemos antecipadamente àqueles que queiram oferecer sugestões de melhoria ao presente trabalho. Os editores


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Primeiro Capítulo

COMO INSERIR A TEORIA ONTOPSICOLÓGICA NA VISÃO DA SITUAÇÃO HISTÓRICA DO PLANETA TERRA1

1. Encarnação terrestre e materialismo histórico Para inserir-se na relação Homem-Terra, o ser humano deve deixar de definir-se um “extraterrestre”, no sentido de uma vida imprópria no homologar-se e ambientar-se nesta enfática, agradável realidade que é o planeta Terra2. Sobretudo, é necessário reconsiderar alguns conceitos de universalidade, totalidade, absoluto: hipóteses lógicas que têm sempre uma sua fatal atração, mas que podem constituir uma fixidez de um segmento que se pretende onicompreensivo de uma entidade que, em vez disso, é muito maior, elástica, flexível, materna3.   Recanto Maestro (Brasil), 25/12/2002. O item 1 contém também trechos extraídos da conferência realizada pelo autor no Centro Internacional de Arte e Cultura Humanista Recanto Maestro em 04/01/2004. 2   Neste livro, o termo “extraterrestre” é utilizado segundo acepções diversas. Cf. em particular, além do presente capítulo, os capítulos 2 e 6, do presente texto. 3   Aconselha-se a leitura de MENEGHETTI, A. O prazer da terra. In: O Projeto Homem. 3. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2011. p. 286-292. 1


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Através do solipsismo de uma ciência que pretende constituir-se égide, passe-partout sobre o que é a semovência do real em si – ao menos daquele que nos é próximo, como exatamente o planeta Terra – correse o risco de efetuar uma esquizofrenia prioritária. Substancialmente, da díade nutriente Homem-Terra pode-se formalizar um monopólio unidiretivo de projeções de monitor de deflexão, no qual também o conceito biológico de família, existência, comunidade, de fato, foi muitas vezes construído segundo um imperialismo infantil. Sobre este maravilhoso seio – a grande Mãe Terra – constituiu-se a defenestração, o afastamento, a perda do homem subjetivo na objetividade natural. Substancialmente, na maioria das vezes o conceito universalista – transcendente ou absolutista – foi o imperialismo categórico de uma infantilidade solipsista que defraudou o direito natural de cada homem, que é uma semente virtual que entra na encarnação desse evento4. Na abordagem do Projeto Terra, o conceito de Em Si ôntico constitui a unidade informática5. A nossa unidade de ação, baseada em uma informação de projeto que definimos “Em Si ôntico”, atualmente se encontra a ser historicizada na encarnação deste   Cf. a quarta característica do Em Si ôntico – “virtual” – em MENEGHETTI, A. As características do Em Si ôntico. In: O Em Si do homem. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. p. 237-243. 5   Cf. MENEGHETTI, A. A unidade informática: o módulo elementar que formaliza o universo. In: Da consciência ao ser: como impostar a filosofia do futuro. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2014. p. 174-177. 4


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planeta. A “forma” é o modo da informação, vale dizer como a forma faz ação, como o projeto se historiciza e se faz acontecimento mundano, isto é, existência. Se a física elementar se desenvolver, descobrirá que não existe o conceito elementar de matéria, mas existe simplesmente uma poliformia de informações, organizadas por um constante simples nexo causal6. O critério metafísico intrínseco a cada um de nós é objetivado e concretizado no Em Si ôntico. Para compreender esse ponto, é preciso livrar a cabeça de tantas construções pseudometafísicas, pseudomísticas, pseudo-orientais, pseudorreligiosas etc. É necessário sermos materialistas, baseados na ordem da matéria, do concreto real, na ordem do confronto dialético, na lógica dos resultados. Muitas vezes ouvem-se expressões como “Graças a Deus!”, mas esse transferir a uma mitificação vazia na realidade é uma covardia, é uma presunção infantil de ditar lei a todos, de ser o princípio de uma ordem universal. Em vez disso, devemos ser operadores diretos do próprio bem-estar e da própria satisfação, portanto, realizar um materialismo histórico na ordem total da vida7. O primeiro pensamento de Karl   Cf. MENEGHETTI, A. O Em Si ôntico como informação elementar de qualquer simples ou composto. In: Ontologia da percepção. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. p. 37-44. 7   Este materialismo é “histórico” porque muda continuamente de acordo com o processo, a evolução, o período: em 1600 havia um estilo para a realização; quem cresce nos anos 2000 tem uma outra situação. Cada variável (nascer pobre, rico, mulher, homem etc.) implica um modo diverso. 6


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Marx, entendido bem, não é todo errado8. O conceito político como foi elaborado é uma outra questão, mas o materialismo histórico significa que o homem deve saber confrontar-se, transformando e formalizando a matéria. Diante de todos os princípios logísticos e metafísicos que o mundo ocidental expunha, Marx responde que é a ação o produtor de capital, é o trabalho que gera a riqueza. Nos textos sacros cristão-católicos se ensina que, quando o Deus da Vida decidiu salvar o homem que era esquizofrênico do ser, se encarnou: o filho de Deus, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, entrou no confronto biológico da humanidade, ou seja, na dialética do materialismo histórico. O Deus torna-se carne, o Espírito se faz matéria, com toda a logística do DNA do que é a corporeidade humana. Também Cristo sustentava: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus”9, ou seja, quem trabalha, quem entra com o próprio projeto no possível da matéria. “Matéria” é luz, é energia elétrica, é água, é a energia primária de cada forma da vida. A alma deve confrontar-se com a dialética do materialismo histórico, com a realização do mundo objetivo concreto. Caso contrário, resta esquizofrênica, isto é, dividida do ser.   Cf. MENEGHETTI, A. A teologia marxista. In: A psicologia do Líder. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2013. p. 197-200. 9   Mateus, 7:21. 8


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Portanto, o metafísico se opera aqui e agora em conformidade à identidade do próprio Em Si ôntico. Dessas poucas sementes absolutas, cada um deve aprender depois a arte da saúde, da boa cozinha10, do sadio vestir, da satisfação, do encontro, da relação, do jogo, a arte de como ser belo e resolver com dialética os contrapostos cotidianos. Dessa identidade, que se faz clara e distinta no próprio íntimo com a ordem da vida, cada um aprende a arte de como amar, ajudar e aprende a ordem da hierarquia: os filhos, a família, os amigos, os sócios e assim por diante. Substancialmente, também o amor torna-se uma eficiência, seja para quem ama, seja para quem é amado. 2. Interação e relativismo na sinapse HomemTerra Considero que se possa começar a entrar, com uma consciência disponível e extremamente aberta, em tudo o que é a ecologia, entendida como a lógica do nosso habitat: a ciência, a ordem, a estrutura químicobiológica dos eventos, das relações, dos equilíbrios. Portanto, qual é a ordem e o modo de expor-se à exata informação entre eu humano e este ambiente Terra. Trata-se de colher a lógica dessa “sinapse” constantemente atual. Para colher isso, o homem deve antes ter alcançado uma informação exata de si mesmo, ou seja, o   Cf. o cap. 4 “Do nutriente terrestre à evolução espiritual”, do presente texto, p. 49-61. 10


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conhecimento ordenado do próprio real, como previsto pela ordem de natureza, do total mundo-da-vida. Disso, o ser humano pode introduzir-se e ser um colaborador, um cooperador sinérgico, um autêntico sincrético ao quanto se move aqui e em outra parte, em qualquer lugar. Da própria inseidade, entrar na inseidade do panta rei, onde tudo escorre como sinfônico ato de uma criação em curso, em um espaço sempre criado. O nosso globo gira em espaços continuamente inventados, em um aparente vazio onde, porém, existe um magnetismo de relações entre outras conexões, díades, sinapses. Estamos nesta atmosfera coligada, onde se reverifica a vitalidade da parte se inserida na vitalidade em homologação com o todo. Nesse modo de entender, para colher o quanto nós estamos entitativamente no universo da vida, é preciso partir do saber colher o sinal informático que há em cada um de nós como célula, como momento, como ponto no espaço energético de um espaço vital. Eis que o Em Si ôntico dá a medida e a exatidão do sinal, e – uma vez compreendido – indica a unidirecionalidade ao modo de como fazer o impacto de interação. Nós nascemos atualmente nesta encarnação terrestre: o nosso momento de jogo é este, não é um outro. Nesta hiperespacialidade foram inseridas também outras manipulações informáticas, portanto, quando nós conseguimos colher uma situação virológica, através do conceito mêmico11, devemos imediatamente com  Cf. MENEGHETTI, A. et. al. Ontopsicologia e memetica. Roma: Ontopsicologia Editrice, 2003; e MENEGHETTI, A. Ontopsicologia e memetica. Roma: Psicologica Editrice, 2002. 11


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preender que estamos inseridos em um eco-cosmo que vai além do nosso pequeno território, do nosso corpo, da nossa sociedade etc. Estamos nessa osmose, que não é somente uma reverberação ou uma reflexão: é uma ativação, uma interação. Por isso, as nossas consciências, o nosso mundo da noite, os nossos sonhos testemunham essa constante interferência informática, que tecnologicamente é consentida12. Ou seja, uma informação que em um contexto poderia ser funcional, estendida a um outro contexto impróprio, revelou-se patológica13. Portanto, deve-se ser disponível ao relativismo das informações que autorregulam todo o mundo-davida e, a cada caso, saber colher a oportunidade na situação. Retorna, nesse conceito, a ética da situação, mas deslocada da globalidade da “raça humana”, no ecossistema universal do mundo cósmico natural14.   Cf. MENEGHETTI, A. O monitor de deflexão na psique humana. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora Universitária, 2005. 13   Portamos o exemplo de um conhecimento ecossistêmico de um país, que é alojado em um outro. Por hipótese, o estilo da nudez pode ser simpático em uma terra quente na zona equatorial. Mas aquele idêntico sistema, na zona polar, é mortal. 14   “É do relativismo das criaturas que podemos especificar a ética da situação e não da situação em si. Isso não implica pretensões de absurdo subjetivismo, porque nós criaturas já somos colocados, a montante, aprioricamente por uma ordem soberana que nos determina assim. Servindo essa imensa ordem, ao resultado último somos nós que devemos especificar a nossa moral existencial. São os sujeitos internos à situação que especificam a ética, não é a situação que especifica os sujeitos, 12


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Em princípio, no grande coração da vida, a sombra pela sombra ou o assim dito mal pelo mal não existe. Trata-se de uma informação mal alojada, imprópria naquele contexto, que depois determina um desvio disfuncional. 3. A dialética dos módulos informáticos da vida na osmose terrestre Ambientar o quanto acima exposto na corporalidade do planeta Terra é possível, mas antes é necessário compreender intrinsecamente e amar este globo. Na exata inserção, nós viemos exaltados como vitalidade individual, que, naturalmente, é provisória, porque nós somos um projeto concluso que é parte desse projeto aberto. Com o Em Si ôntico temos um módulo bem preciso, uma informação exata e, seguindo ela, obtemos a funcionalidade suma. Para entrar gradualmente nessa experiência de emoção global, terrestre, interplanetária, é necessário antes colher a “gema” do ovo que é o nosso planeta, que é o nosso grande “estômago” ou o “intestino”. Sucessivamente, disso compreendemos coisas magníficas, aprendemos que não podemos dividir-nos ou contrastar-nos, já que somos expressões que vivem essa energia quântica “terra”, exatamente como as isto é, é o sujeito que deve enverar o que lhe é próprio daquela situação e o deve seguir. Aqui entra em jogo a dupla moral.” MENEGHETTI, A. Em Si ôntico e constante H. In: Manual de Ontopsicologia. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora universitária, 2010. p. 43.


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nossas evoluções superiores intelectuais convivem a corporalidade do momento desse corpo que tem uma sua ordem de equilíbrio. Quando tudo isso é exato, se desenvolve clara e transparente a racionalidade, isto é, como as coisas estão e se movem, portanto, como a vida é: eu, naquele ponto onde todo o ecossistema do mundo me prevê e me exalta. As diversas tentativas de meditações transcendentais, ioga, espiritualidade, os conceitos de revelação etc. são a transparência da informação de projeto que o Em Si da vida ativa15. O nosso Em Si ôntico tem essa respondência, mas antes de dar saltos – a natureza não dá saltos, é coerente e contínua, não tem segmentos, é uma constante autopercepção viscerotônica – devemos aprender o sentido da proprioceptividade matérica, a intrínseca logística entre as partes e o seu Uno. O Uno são as partes e as partes são o Uno. Isso significa que existe uma transrecepção unívoca, na qual o mundo-da-vida sou eu e eu sou do mundo-da-vida. É preciso entrar nessa percepção pânica do que é a expressão, a osmose, o respiro biológico, vegetal, químico etc. Trago um exemplo. Tenho um cão, da raça cane corso, que muitas vezes é visto sugando com a língua em algumas sinuosidades arbustivas, especialmente onde há novo vigor e vitalidade de folhas. Não lambe a folha, mas somente aquela auréola vital que todas as plantas boas têm (é um espaço que vai da folha até cerca de quinze centímetros). Vendo-o de fora   Também o termo “evangelho”, segundo uma ótica muito elementar, não significa “boa nova”, mas informação exata. 15


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parece que esteja absorvendo ar, e parece que seja algo no vazio. Na realidade, sendo um cão particular, nutre-se de vitalidade etérica. Todos os lugares que eu escolho neste planeta têm particularmente essa vitalidade etérica, isto é, onde a Terra é algo a mais: é um composto energético que para nós é apropriado e estabilizante de saúde. “Saúde” significa boa funcionalidade de todos os aparatos, que depois nos consente essa interação com o mundo-da-vida. Repensando em alguns grandes místicos de qualquer tempo e de qualquer época, se observa que sempre, no final da própria vida, são deixados respirar e consumar pela orgia solar da natureza, portanto, o perder-se na contemplação. A morte é a reentrada depois de ter cumprido a informação, o projeto, exatamente como quando um homem superior expõe a fenomenologia da própria intencionalidade e se sente realizado e feliz depois de ter depositado a própria contribuição. A vida o gratifica do máximo possível à sua forma de realização e, portanto, há o prazer de retornar, na aparência da terra, para a qual contribuiu para uma evolução com uma atualidade vital de existência. Quando, em vez disso, um homem se encontra desorganizado, isto é, impróprio, disfuncional à ordem vegetal, biológica, química do que é este planeta Terra, vive uma forma de estranheza; a Terra dá medo, mas na realidade aquele medo nasce de uma sua impropriedade em não ser conforme à informação químico-biológico-física pela qual é sinérgico a este contexto planetário.


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Substancialmente, antes de fazer transcendências espiritualísticas, é necessário saber objetivar-se e presenciar-se, saber ser o sagaz dono de casa, o olímpico “servo” contribuinte do nosso lugar de vida, que contemporaneamente é um ponto de responsabilidade: é um lugar de trabalho, mas também de paraíso. Deve-se compreender a alma desse globo, entrar nesse sentido de interação pânica com a Terra. Não se pode dar o salto: devemos antes realizar a mediação, a interação consciente com a natureza. Continuamente nós estamos nessa osmose, isto é, vivemos dessa energia do planeta Terra; constantemente estamos nessa eco-biologia onde uma interage na outra. E é prazer, é conforto. Ao mesmo tempo, essa terra nos ensina como sermos responsáveis, portanto, como saber amar e abolir todas as formas também das constelações psíquicas16. Do momento em que estamos sobre este planeta, é interesse de todos melhorá-lo, porque em tal modo melhoramos a nós mesmos, isto é, é um jogo síncrono. É importante compreender a materialidade materna desse útero aberto que dá a plenitude, seja a mim indivíduo, seja a quem coexiste, porque todos somos conviventes deste planeta, feito de nuvens, pássaros, vírus, bactérias etc.   Cf. MENEGHETTI, A. Le costellazioni psichiche: inconscio individuale, inconscio collettivo, inconscio razziale. In: XIV Congresso Internazionale di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice; 1995 (edição esgotada). p. 25-39. Cf. MENEGHETTI, A. Metahistória de algumas constelações psíquicas. In: Sistema e personalidade. 3. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editrice, 2004. p. 99-104. 16


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Também os conceitos de vírus e bactéria são módulos informáticos, através dos quais se constituem as contraposições que determinam depois as individuações da vida. Não existem contrastes em absoluto: existem simplesmente dialéticas, isto é, pontos que consentem a cada individuação desenvolver ao máximo a si mesma. Por isso, o conceito de problema, erro, mal etc. é colocação no ponto justo e um impulso a sermos verdadeiros. Não é um perigo: é um estímulo, uma ajuda, um contributo, um corrimão a ser como devemos ser, ou seja, autênticos. 4. Responsabilidade consciente na interação com o planeta Terra A vida é sempre ordem e hoje o problema não é o homem: é este planeta. Se o humano saberá amá-lo segundo as suas intrínsecas leis, então está garantido o bem-estar também para todos os humanos. É inútil perder tempo com assistencialismo: é preciso salvar o corpo. O corpo é este planeta. É possível entrar na experiência vital dessa informação-base, que é elementar a todas as nossas posições: fazer o impacto, conscientizá-lo e depois extrair indicações precisas, cada um para si. Uma vez aferrado o conjunto – a consciência ôntica, que parte da consumação realizada de modo proprioceptivo dessa emoção, dessa interação químico-biológica de/com/ sobre este planeta –, podemos colher um passo muito mais avançado da informação cósmica da vida. Não


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podemos deixar a Terra, o corpo, e pretender servir quiçá quais valores, que não existem se não fazemos completa a realidade na qual vivemos. Esse processo inicia conscientizando a ecobiologia como ela é. Portanto, trata-se de entrar na aprendizagem dessa escola aberta que é a natureza em si. Qual natureza? Aquela que temos neste globo, cada um do modo onde se encontra: Norte, Sul etc. Também o modo que há anos procurei levar adiante – fazer algumas pessoas viverem às vezes em um país frio, às vezes em um país temperado, às vezes em um país quente etc. – era um modo de relativizar os próprios absolutos, os próprios arquétipos do pequeno “quintal”, onde os humanos parecem mais animais de pátio e não responsáveis de um enorme, belíssimo planeta. Relativizando o primeiro lugar, a primeira “caverna”, se começa a entrar em uma compreensão magnífica e plena. Alguns homens tentaram fortes experiências, por exemplo, unir-se com a terra fazendo-se enterrar, como no caso de muitos faquires, ou entrar em hibernação. Não são esses os modos, porque nós aprendemos por meio de reflexão consciente: não é importante meter-se a respirar sob a terra, ou em uma árvore, ou viver dentro da água, porque nós já somos água, sal, terra, somos já nós mesmos semoventes de qualquer elemento químico. Não devemos nos adaptar à lama para encontrar o contato: já somos portantes dela. O ponto é que devemos nos tornar responsáveis conscientes, porque isso nos oferece os meios de operação.


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Tudo isso é possível somente depois da elementaridade teorética da Ontopsicologia. Antes não é possível, porque da exatidão da informação do Em Si ôntico podemos nos introduzir no endereço de tudo o que é a reciprocidade destinatária: eu para o mundo e o mundo para mim. Quando digo “mim”, é claro que entendo “o humano”. Saber compreender, saber viver, saber conscientizar-se no que é o planeta Terra significa a máxima escola, responsabilidade e garantia de qualquer valor que para nós é intrínseco. Essa experiência certamente é superior a qualquer forma filosófica, espiritualista etc., porque é a tomada de posse sobre um enorme conhecimento e responsabilidade e, sobretudo, um grande saber dispor-se a servir o futuro. Porque é certo que nós temos uma filosofia em comum, que se explicita em três princípios17: 1) Somos conscientes de ter recebido um grande dom, o dom da vida. 2) Esse dom nós queremos vivê-lo, compreendêlo, exaltá-lo. 3) Queremos passar – de modo melhor, autêntico, não viciado – esse dom a outros. Nessa tríade dinâmica, consolida-se a mensagem da informação funcional da vida, que está sempre inserida na alma deste maravilhoso planeta Terra. E desse dentro se ativa a nossa objetiva importância.   Cf. também explicitado pelo autor no texto “Identidade utilitarístico-funcional do business”. In: Psicologia Empresarial. São Paulo: FOIL, 2013. p. 257-263. 17


Para continuar lendo, adquira o livro em www.ontopsicologia.com.br


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