ANTONIO MENEGHETTI
Fisicidade e Ontologia A relação crítica entre física nuclear e Ontopsicologia
Ontopsicológica Editora Universitária Recanto Maestro 2015
Do original italiano: MENEGHETTI, A. Fisicità e Ontologia: il rapporto critico tra fisica nucleare e Ontopsicologia. Roma: Psicologia Ed., 2011.
M541f
Meneghetti, Antonio, 1936-2013. Fisicidade e Ontologia: a relação crítica entre física nuclear e Ontopsicologia / Antonio Meneghetti ; traduzido por Ontopsicológica Editora Universitária. – Recanto Maestro, RS: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. 180 p. ; 20 cm. Título original italiano: Fisicità e ontologia: il rapporto critico tra física nucleare e Ontopsicologia ISBN 978-85-64631-28-1 1. Ontopsicologia. 2. Ontologia. 3. Intencionalidade. 4. Informação. 5. Comunicação feromonal. I. Título. CDU (1997): 111
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Sumário
INTRODUÇÃO...........................................................7 Primeiro Capítulo
REALIDADE MOLECULAR E FORMAS DE ASSEMBLAGEM DO CORPUSCULAR ONDULATÓRIO AO ORGÂNICO..........................9 1. Introdução.................................................................9 2. Ontologia e sociedade.............................................12 3. Pluralidade da experiência ontopsicológica..........20 Segundo Capítulo
A INTENCIONALIDADE COMO PROCESSO INFORMACIONAL...........................23 Terceiro Capítulo
DIÁLOGO ONTOTERÁPICO: PRESENÇA DO ERRO E SOLUÇÃO...................33 1. Introdução...............................................................33 2. Casuística................................................................48 Quarto Capítulo
O UNIVERSO INFORMACIONAL.......................67
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Quinto Capítulo
ONTOLOGIA DA FISICIDADE.............................81 1. A velocidade do campo semântico..........................81 2. Reversibilidade entre energia e imagem.................82 3. O primeiro elementar do universo..........................90 4. O campo semântico: conhecimento conforme a natureza.........................95 5. Informação e colapso de onda................................98 Sexto Capítulo
O CONCEITO DE LOGOS, PRÓLOGO DE JOÃO E CONCEITO DE INFORMAÇÃO.....................105 Sétimo Capítulo
CAUSALIDADE E ANULAMENTO DO PROCESSO CANCERÓGENO............................ 111 Oitavo Capítulo
A COMUNICAÇÃO FEROMONAL....................137 Nono Capítulo
MOTIVAÇÕES PARA UM HUMANISMO INTEGRAL.............................................................161 1................................................................................161 2. O humanismo ontológico......................................162 Conclusão
CONSCIÊNCIA DO EU E PATOLOGIA............167 BIBLIOGRAFIA.....................................................175
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INTRODUÇÃO
O filósofo inglês Berkeley1 recordava que “esse est percipi”2. Para além das várias implicâncias filosóficas, é preciso recordar que o ser é o modo de percebê-lo. Em essência, nós sabemos o real por como a nossa percepção o documenta. Portanto, não conhecemos o real em si e por si. Junto a esse princípio, deve-se adicionar que podemos conhecer o real na medida em que ele nos contata, portanto, é sempre relativo. Cientificamente falando, para nós o real é real por quanto produz reversibilidade, funcionalidade e realidade como quer que seja para o nosso existir ou ser aqui. Estabelecido isso, a ciência do universo físico torna-se mais interessante pelo fato que nos desvela a função antropológica; um real qualquer que especifica uma novidade no indeterminismo relativo do universo contínuo. Esse limite não deve desencorajar, ao contrário. O homem conhece o real por aquilo que do 1685-1753. MENEGHETTI, A. O que é o Em Si ôntico. In: Da consciência ao ser: como impostar a filosofia do futuro. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2014. p. 286-290. 1 2
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real é em relação a ele. Isso significa que o ser humano tem uma sua prioridade específica, uma sua novidade, uma sua curiosidade. É como se o real se traduzisse de algum modo para ele. A consequência é a importância e a responsabilidade de ser homens verdadeiros, exatos, para poder encontrar aquela parte de real que é já em relação a nós. A informação da constante H3, enquanto informação, dialoga com propriedade no universo informacional. O variável do que é o antropológico tem a sua matriz constituinte no que é a constante H. Essa informação – base elementar para os seres humanos no universo – é como se tivesse uma específica personalidade e individuação, ou melhor, personaliza o real no universo real. É um modo de protagonismo: somos uma variável que faz autoridade no reconhecimento do quanto existe. Uma razão a mais para fazer ciência exata em função do homem ontológico4.
MENEGHETTI, A. Segunda parte. In: O critério ético do humano. Porto Alegre: Ontopsicológica, 2002. p. 57-184. 4 O quanto dito pressupõe o homem natural, exato, mas antes desta situação é preciso recordar-se que existem as complicações das infraestruturas sócio-históricas que determinam dificuldade, aquele “véu” onde a consciência do sujeito não tem a transparência objetiva [cf. o item Reversibilidade entre energia e imagem, do presente livro, p. 82-90]. Em essência, deve-se dar função ao próprio modo de existir no universo. Tudo isso, porém, não resolve o problema da terapia de autenticação [cf. o capítulo Diálogo ontoterápico: presença do erro e solução, do presente livro, p. 3366], que resta sempre uma tarefa individual. 3
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Primeiro Capítulo
REALIDADE MOLECULAR E FORMAS DE ASSEMBLAGEM DO CORPUSCULAR ONDULATÓRIO AO ORGÂNICO 1. Introdução A novidade desta Summer University of Ontopsychology é que, após mais de 30 anos, mudo a aplicação científica. Até hoje, falava de humano, de inconsciente, de estereótipos, de metanoia, como metodicamente reencontrar a informação elementar que consente a cada indivíduo – de modo original e irrepetível – saber a si mesmo e depois evolver a própria globalização no interior de uma sociedade histórica. No curso desses anos, foram definidas as descobertas da Ontopsicologia: Em Si ôntico, campo semântico, monitor de deflexão (m.d.d.)1. O m.d.d. é um estereótipo que prevalece no interior das lógicas racionais já acreditadas há séculos, é uma espécie de vírus que se formou a partir da repetição standard de algumas logísticas consideradas não prevaricáveis. Por isso, MENEGHETTI, A. O Em Si do homem. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015. MENEGHETTI, A. Campo Semântico. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015. MENEGHETTI, A. O monitor de deflexão na psique humana. 5 ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2005.
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constituiu um invisível totem que descarrila a exatidão que – em um primeiro momento – a percepção toca, dando a passagem às reações neurônicas do nosso sistema nervoso central. Quando subentra a elaboração do intelecto, a última análise do que é consciência, naquele momento advém a alienação. A percepção é exata – no dado objetivo – mas quando o homem faz a sua elaboração racional, já está sob uma instrumentação que o antecipa. Portanto, o monitor de deflexão é uma fotocópia que se garante por ipse dixit e fixa cada seleção de comportamento (moral) por autoridade do meme e não por evidência de verdade ou reversibilidade. A natureza jamais é igual: tem semelhanças, mas não concebe o igual geométrico-matemático. A Ontopsicologia está muito adiante em relação às outras ciências, nas quais muito frequentemente é dada ênfase a estruturas ideológico-religiosas que “pré ‑estampam”. Por exemplo, consideremos a psicanálise ortodoxa. Freud analisava tudo, mas jamais examinou a relação entre ele e sua mãe. Discutiu as mães de todos, mas a sua jamais a tocou. Isso eu relevei a partir da análise que conduzi sobre sonhos que Freud escreve de si mesmo. A Ontopsicologia está muito adiante em relação à psicanálise enquanto descobriu o código onírico que a natureza usa: a “mecânica” inicialmente é freudiana, porém, o específico do processo ontopsicológico é atingir o dado seguro, que faz evidência, consentindo a reversibilidade entre ideia e ação, entre imagem e objeto. Em outras ciências não se verifica esta reversibilidade experimental. Portanto, não falo de uma reversibilidade apenas filosófica, mas de uma reversibilidade concreta,
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científica, ou seja, neurônica, molecular, atômica, subatômica etc.2 Hoje, inicio um novo fronte: entro na física nuclear, com a competência que nenhum outro cientista jamais teve até então sobre o que é a análise do comportamento da energia elementar. Isto foi possível a partir da descoberta e compreensão do que defini “campo semântico”: transdução informática sem deslocamento de energia3. É a forma que existe antes do matérico. Toda forma existente – que seja corpuscular, ondular, instrumental etc. – do momento que existe, não pode existir sem uma forma. Por isso, quando conhecemos algo, colhemos a sua contemporaneidade entre matéria e forma. Não conhecemos a forma sem a sua matéria: a forma, a distinguimos por capacidade intelectiva, mas na natureza não existe uma forma sem o próprio corpus. O campo semântico revela a existência de fontes informacionais que emanam sinais globais, que se revelam só quando são recebidos e, portanto, ativam ‑se e fenomenizam forma e matéria. Globais porque se ativam em lugar intencionado com específica ação 2 Cf. o item Reversibilidade entre energia e imagem, do presente livro, p. 82-90. 3 MENEGHETTI, A. Dicionário de Ontopsicologia. 2.ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2012; p. 38-44. A primeira exposição sobre o campo semântico por parte do Autor ocorreu no curso do IV Congresso Internacional de Ontopsicologia (Grottaferrata, Roma, de 3 a 7 de novembro de 1976). Dois anos mais tarde, o material elaborado a partir daquelas conferências foi publicado em Ontopsicologia Clínica [MENEGHETTI, A. Ontopsicologia Clínica. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015]. O conceito de “campo semântico” será reelaborado mais vezes.
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interna e efeito externo. Com a concepção do campo semântico, cheguei a compreender a informação em si. Hoje, após tantos anos (desde a primeira exposição pública em 1976), retomo a abertura dessa linguagem. 2. Ontologia e sociedade A ontologia indaga o real que é, ou melhor, a res4. Esta res, quando a concebo, é forma entis, portanto, um modo do ser (literalmente, do essente). Mas neste contexto, a ontologia é aplicada não mais só à moral, à sociedade, à religião etc., mas também à matéria, por exemplo, à patologia (câncer, AIDS etc.). Em termos práticos, fazer ontologia sobre a matéria significa interrogar-se sobre porque algumas doenças são “incuráveis” e chegar à consideração que isso depende da deficiência científica, não da impossibilidade da inteligência humana. De fato, por meio do campo semântico é possível individuar a causa, o processo e também o modo de anulamento da patologia. Naturalmente, esta autoridade me deriva de décadas de experiência clínica de sucesso sem exceção5. Ainda hoje, quando intervenho em algum caso de psicossomática, também grave, se o paciente consente, MENEGHETTI, A. Ontologia (metafísica). In: Fundamentos de filosofia. São Paulo: Ontopsicológica, 2005. p. 9-55 (também em Ontologia ou metafísica. In: Da consciência ao ser: como impostar a filosofia do futuro. op. cit. p. 23-55). 5 MENEGHETTI, A. Ontopsicologia Clínica. op. cit. Este texto foi escrito (em 1978, 1 ed.) ao final de uma década de profunda experiência clínica sobre centenas de pacientes de todas as partes do mundo e de qualquer cultura. 4
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ou seja, caso adeque-se ao que aconselho, determina-se a cura. Mas o conselho eu o aprendo do Em Si ôntico do sujeito, ou seja, daquele princípio elementar que faz a autóctise do indivíduo-pessoa do ponto de vista químico, biológico e, sucessivamente, de completude moral. É o Em Si da natureza que especifica a própria informação, como se dissesse: “Sou lesado nestes neurônios, há um bloqueio por este motivo etc.” Há uma verbalização endócrino-biológico-celular. Com o campo semântico, o técnico ontopsicólogo recebe a informação e age de consequência. O campo semântico consente sentir novidades emosensoriais no meu orgânico, a situação do outro. Ou seja, sou alterado pela informação consciente ou inconsciente do outro. A Ontopsicologia é específica para cientistas, para que levem uma evolução à vantagem do humano. Em tal sentido, falar de “ontologia” é uma provocação, mas também uma proposta para fazer ver como procede o átomo. Busca-se sempre a famosa “partícula de deus”, que porém não se descobrirá jamais, porque não existe: o segredo está na informação6. Posso compreender a informação “enxugando”, ou seja, essencializando o conceito de informação sem o significado. Em âmbito católico, sustenta-se que “a matéria-prima não é inteligível”, mas na realidade não existe uma matéria-prima, enquanto a matéria é fenomenologia, é o primeiro fenômeno de uma 6 MENEGHETTI, A. A unidade informática: o módulo elementar que formaliza o universo. In: Da consciência ao ser: como impostar a filosofia do futuro. op. cit. p. 174-177.
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numenicidade que é informação pura. Naturalmente, é preciso ir até o fundo ao conceito de “informação” para compreender a sua potência. Por exemplo, a informação de um telecomando desloca um portão de toneladas, um guindaste, transatlânticos etc., ou então uma palavra ao telefone desencadeia uma guerra, faz com que se realize uma prisão e assim por diante. Trago um outro exemplo. Quando se fala dos “milagres”, na realidade são eventos que ocorrem, mas a explicação deve ser encontrada na informação que passou, que é algo de natural, não de “milagroso”. A natureza humana é partícipe constante daquele primeiro projeto – o ser – que constitui o humano. Aquele primeiro projeto é perene, não é um passado: é atual porque cada um vive e para viver necessita da atualidade do ato substancial, que é imanente. Em jargão popular: eu não sou deus, mas deus está me constituindo agora. Portanto, o fato de existir é a criação em ato: o ser está me constituindo na existência, em uma cifra exposta fora, mas este “fora”, ou seja, esta fenomenologia – como corpo, como tipologia etc. – é substanciada por um ato imanente que é informação e constitui a materialidade da minha individuação. Tudo isso, para mim, mais que um conceito, é práxis cotidiana. Não é que eu creia ou me considere... Sei de ser o que sou com capacidade de ação específica para o integral que existo. O real que conheço é reversível com o que sou. Da circularidade da minha competência posso abrir a novidade a experiências multíplices, com funcionalidade e sucesso.
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Claro, eu me presencio sempre no interior de um humanismo histórico com conexão ontológica. Isso para mim é simples. Por exemplo, quando fui convidado à Moscou em 1982/837, o verdadeiro motivo residia no fato que havia a Guerra Fria, por isso se combatia uma luta contínua entre Estados Unidos e União Soviética para interceptar mísseis ou submarinos, ou seja, localizar os lugares nos quais havia perigo. Com esse escopo, fez-se recurso a todas as hipóteses de conhecimento, não apenas aquelas dos radares, e sobretudo os cientistas russos tinham descoberto que existia uma curva de onda que, na energia, reportava uma imagem a qualquer distância, até mesmo aquela que se percorre entre a Terra e a Lua. No plano operativo, bélico, balístico e cognoscitivo, a essência era saber onde se encontrava aquilo que se procurava, que se queria assinalar etc. O campo semântico, que descobri por motivos humanos, é exatamente a operação que dá esse conhecimento científico. Depois chegou a Perestrojka, mas já explicava aos cientistas russos8 que o conhecimento do campo Dossiê Antonio Meneghetti: uma viagem de sucesso. Revista Nova Ontopsicologia 35 anos, nº 2-2007/1-2008, Mar. 2008, ano XXV. 8 Recordemos alguns entre os cientistas russos interessados em Ontopsicologia: - O físico Ivan Yuzvishin, fundador e primeiro presidente da Academia Internacional de Informatização (NGO in General Consultative Status with the Ecosoc of United Nations), da qual fazem parte eminentes personalidades da cultura e da política internacional, e candidato ao Prêmio Nobel em Física. Em 20 7
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de junho de 1997, durante a cerimônia realizada no Cenáculo da Câmara dos Deputados da República Italiana – para celebrar o ingresso oficial da Associação Internacional de Ontopsicologia na Academia Internacional de Informatização – ele afirmou: “O professor Meneghetti, em 1973, fundou a sua ciência e encontrou a verdade usando tudo o que tinha à disposição: psicologia, sociologia, filosofia e arte. Eu, pela minha preparação, usei maiormente outras ciências, como a matemática, a astronomia, a física e a biologia. Mas chegamos à mesma conclusão, ou seja, que dentro de cada coisa há a informação: no profundo da natureza humana há a informação, e não é importante quais estradas se percorram para chegar até ela... Estou contente de ter lido e de ter compreendido que Antonio Meneghetti é um grande cientista e, sobretudo, de ter compreendido que eu tinha empreendido a estrada justa. Confirmo, assim, com minhas pesquisas científicas, as descobertas de Antonio Meneghetti: os princípios da Informaciologia estão de acordo com os princípios da Ontopsicologia”. (cf. VALLINI, M. L’Ontopsicologia ricerca per l’ONU. Nuova Ontopsicologia, v.14, n. 3, p. 37-8, 1996). Sempre no mesmo ano, por ocasião do VI Fórum Mundial da Academia Internacional de Informatização (IIA), realizado em 26 de novembro de 1997, no Salão de conferências do Palácio do Kremlin de Moscou, o Prof. Yuszvishin apresentou o Prof. Meneghetti (único vice-presidente da IIA de cultura não russa) aos mais de cinco mil acadêmicos vindos de várias partes do mundo, definindo-o “uma entre as mentes mais geniais do nosso século” (cf. DMITRIEVA, V. Informatization VI Fórum. Nuova Ontopsicologia, v. 16, n. 1, p. 61-2, 1998). - O Prof. Alexej Matiuškijn, Presidente da Associação de Psicólogos da URSS e Diretor do Instituto Psicopedagógico da Academia das Ciências da URSS, tomou parte em 1987 em um Summit de Psicologia científica, organizado por A. Meneghetti na Itália, com Frank Barron, docente de psicologia na Universidade de Santa Cruz, da Califórnia, diretor do Barron Centre de criatividade aplicada. Encontro “histórico”, enquanto realizado em plena Guerra Fria. O Summit teve grandes resultados: Matiuškijn foi o primeiro a
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semântico – em sua totalidade – é possível só ao homem integral: se o sujeito tem complexos, ideologias, desvios, absolutos, é impossível9. De fato, os conhecimentos totais do humano são em dote do homem sadio. É uma forma de conhecimento que se autodestrói caso um cientista quisesse usá-la para a lesão de um outro humano ou de um módulo do criado. Autoexclui-se, enquanto há uma identidade: a natureza não opera nenhuma passagem que seja de qualquer modo autodestrutiva. levar seriamente a Ontopsicologia para a Rússia. - O Prof. Boris Lomov, além de ser um eminente psicólogo humanista da personalidade na União Soviética (e um dos fundadores da psicologia engenheirística) e um cientista dedicado ao estudo das relações entre imagem e dinâmica, era também a mente que colaborava com as pesquisas das quais a sua nação tinha necessidade. Foi justamente ele a ler em Ontopsicologia Clínica as poucas páginas sobre a concepção ontopsicológica do “campo semântico”. - Deve ser, além disso, recordado o I Congresso Mundial (XV Internacional) de Ontopsicologia, com o tema “A causalidade psíquica no evento humano”, realizado justamente em Moscou, de 8 a 12 de outubro de 1997, no Palácio da Academia das Ciências Russas. Em tal evento, tomaram parte estudiosos e profissionais provenientes dos cinco continentes. Cf. AA.VV. Atti 1º Congresso Mondiale di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice; 1998. As conferências realizadas pelo Prof. Meneghetti na ocasião do congresso foram organizadas em MENEGHETTI, A. O critério ético do humano. op. cit. 9 “O campo semântico é o código-base ou fórmula-base da vida. Caso ele tivesse possibilidade de erro, a vida não existiria; tem uma perfeição que coincide com a mesma volitividade perfectiva do Ser em si. Se assim não fosse, seria o princípio do erro intrínseco à vida e, portanto, conclui-se o nula.” em MENEGHETTI, A. Interação, metabolização, conhecimento. In: Campo semântico. op. cit. p. 157-164.
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Enquanto “transdução informática sem deslocamento de energia”, o campo semântico é um conhecimento antes da matéria: a colhe, a visiona e a evolve. Mas esse é um módulo que deve ser reportado àquele que Heisenberg10 tinha intuído, ainda que não o tenha compreendido de modo claro. Um outro grande é Schrödinger11 e a sua célebre equação da função de onda, da qual posteriormente o conceito de “colapso da função de onda”12, fenômeno do qual, porém, não se compreenderam todos os aspectos. Em essência, estes físicos se davam conta que existem realidades, porém, não sabiam explicá-las exatamente. Os autovalores dialogam no interior de uma informação geral que os constitui, os especifica, os contrapõe e os une. Aplicando os conhecimentos elementares da Ontopsicologia em física teórica ou em física nuclear, 10 1901-1976. Prêmio Nobel em Física em 1932 “pela criação da mecânica quantica, cuja aplicação, entre outras coisas, levou à descoberta das formas alotrópicas do hidrogênio”. Cf. HEISENBERG, W. Über die quantentheoretische. Umdeutung kinematischer und mechanischer Beziehungen [Reinterpretação de relações cinemáticas e mecânicas segunda a teoria dos quanta]. Zeitschrift für Physik. 1925;33:879-93. Cf. também HEISENBERG, W. Die physikalischen Prinzipien der Quantentheorie. Leipzig: Hirzel; 1930 [trad. it. de M. Ageno: Principi fisici della teoria dei quanti. Turim: Einaudi; 1948]. 11 1887-1961. Prêmio Nobel em Física em 1933 “pela descoberta de novas formas produtivas de teoria atômica”. Cf. SCHRÖDINGER, E. Quantisierung als Eigenwertproblem [Quantização como problema de autovalor]. Annalen der Physik. v. 79, p. 361, 1926; v. 79, p. 489-527, 1926; v. 80, p. 437-90, 1926; v. 81, p. 109-39, 1926. 12 Cf. o item Reversibilidade entre energia e imagem, do presente livro, p. 82-90.
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por exemplo, considerando o DNA, evidencia-se que esse é um aglomerado de átomos, é uma ordem de “argila”, mas o problema é que qualquer um poderia construir um corpo humano com todos os elementos, mas não é demonstrado que depois este seja semovente, que seja vivente, um autônomo pensante reflexivo, ou seja, um ente que se autorreflete. É possível fazer a constituição – molecular, atômica e subatômica – de um organograma como um DNA, alojado no interior de um orgânico tal qual o composto humano, mas isso não significa que depois seja um homem. O que faz a diferença? A assemblagem. Hoje, no mundo digital, podem-se criar diversos elementos de um computador, de um automóvel etc., mas se não se conhece o modo da assemblagem das partes, as proporções técnicodinâmicas dos diversos elementos, aquele sistema não funciona. A assemblagem é a informação: quem possui a informação pode constituir o vivente13. Uma informação conexa à informação geral da vida. Portanto, “ontologia” é o discurso sobre o real em si, não apenas sobre o real quando é ente percebido como forma. A forma é uma concepção que o intelecto puro, reagindo, constrói das espécies impressas14: na reação, essencia uma informação que faz aquele real, que constitui aquele configurado. Isso se chama abstração. MENEGHETTI, A. O monitor de deflexão na psique humana. op. cit. p. 45-54. 14 MENEGHETTI, A. O intelecto agente e o conceito de “verdade”. In: Da consciência ao ser: como impostar a filosofia do futuro. op. cit. p. 129-133. 13
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Então o conceito de alma se simplifica como informação elementar da minha individuação e se presencia como ação formal a um projeto interno à informação geral da vida ou ser. 3. Pluralidade da experiência ontopsicológica Hoje, as ciências realizaram muitos avanços que Aristóteles15, Tomás de Aquino16 etc. não podiam imaginar. Por exemplo, esses filósofos afirmavam que o “olho vê”, mas na realidade o olho não vê e não compreende nada: a compreensão é simplesmente um módulo de contato no interior neurônico de uma precisa zona do cérebro, o qual tem impressões, impulsos, variáveis fotônicas. Reagindo, traduz e compreende que, por exemplo, aquilo que tem diante de si é um copo. É o cérebro que – realizando uma precisa operação após estimulações das células visuais, auditivas etc. – determina a exatidão da percepção. Adicionalmente, após isto, nós nos encontramos diante de um contato neurônico de uma particular zona do cérebro. A análise ontopsicológica sobre o cérebro evidencia que, na percepção17, ao final se nota um operador, um conhecedor que se explicita como composto, como molécula, mas contemporaneamente transcende tudo 384-322 a.C. 1224/1225-1274. 17 Para uma síntese sobre o processo perceptivo-cognitivo, cf. MENEGHETTI, A. O monitor de deflexão na psique humana. op. cit. p. 402-414. 15 16
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isso. Sabê-lo (intuição18) é um ser dentro, é um saber dentro do ser. A um certo momento, o meu não é mais um saber no existir, um saber na percepção, mas é um saber na simplicidade do ser, porque, de todo modo, eu agora sou. Dessa imanência de “ser” e “eu sou”, eu posso saber19. Por isso, a experiência da qual posso me servir é uma experiência plúrima em diversos povos, uma vez que a aplicação do método eu a fiz em diversas culturas. Todos os considerados grandes faziam cultura – ideológica ou científica – permanecendo sempre em um certo país, no interior de uma determinada cultura etc. Ao invés disso, se um cientista opera no interior do mundo árabe, dos mongóis, dos mauritanos, dos siberianos etc.20, as 18 “Intuição: do lat. intus actionis = o dentro ou íntimo da ação. Saber o íntimo da ação. Ver o fazer. Conhecer os modos ou estruturas interiores de um projeto de ação ou evento. Colher as coordenadas de uma gestalt. Saber antes dos efeitos.” MENEGHETTI, A. Dicionário de Ontopsicologia. op. cit. p. 144. 19 MENEGHETTI, A. Os quatro princípios ônticos. In: Da consciência ao ser: como impostar a filosofia do futuro. op. cit. p. 275-278. 20 “É indispensável conhecer todo o homem, na sua inteireza, não se pode pretender conhecer só uma parte como por exemplo ocorreu com Freud e Jung, que para compreender o inconsciente coletivo ou aquele individual partiam dos sonhos dos alemães. É preciso conhecer o inconsciente de qualquer raça, daquela africana àquela dos chineses. Os experimentos conduzidos por Meneghetti com sujeitos e pacientes de diversas etnias e culturas – italianos, ingleses, espanhóis, brasileiros, mauritanos, iranianos, indianos, russos, finlandeses, judeus, árabes, chineses, mongóis, uzbeques, congoleses bantus, siberianos, pobres, nobres, realizados, mestres do espírito, políticos, empresários, médicos, sacerdotes, músicos, burocratas, barões, revolucionários etc. – foram úteis para verificar
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variáveis sociológicas consentem diversos módulos de conhecimento que, sucessivamente, para um cientista preparado, permitem essencializar uma simplicidade de conhecimento. Isso o leva a colher que o passepartout – a teoria do todo – é formulável apenas caso se conheça a imanência da informação, a qual – embora constitua o ser e a existência – dá até mesmo forma ao ser. O ser é. Quando “o ser se vê e se quer”, é um segundo momento, é um diverso. A aprioricidade está no “o ser é”. Por isso, uma vez livre, como cientista, de pré-constituídos de qualquer estereotipia, chego a essa fórmula elementar que me agrada comunicar. Colocando juntos novamente esses conhecimentos, chega-se a essa elementaridade da informação, geral e particular. E essa é apriórica a qualquer matéria, ainda que nós a saibamos sempre com a matéria. A primeira e última “partícula” de deus ou da matéria é só e sempre uma informação que se articula externa ou interna na própria univocidade essente e existencial. Isso não implica, de fato, um panteísmo teológico ou ontológico. De fato, o ser em si, por quanto se fenomenize ad extra, permanece intacto e imutável na própria unidade simples sem partes, sem antes e depois, sem mais e menos. Porém, pode abrir princípios e projetos ad extra de si mesmo, sem variar a sua beatitude de ser e totalidade. Não compreender isso, significa não saber a própria identidade. se havia interceptado o modelo-base da constituição humana.” MENEGHETTI, A. Premissa. In: Direito, consciência e sociedade. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2009. p. 7-30.
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