Antonio Meneghetti
RACIONALIDADE ONTOLร GICA
Ontopsicolรณgica Editora Universitรกria Recanto Maestro 2015
Do original italiano: MENEGHETTI, Antonio. Razionalità Ontologica. Roma: Ontopsicologica Editrice, 2013.
M541a
Meneghetti, Antonio, 1936-2013. Racionalidade Ontológica / Antonio Meneghetti; traduzido por Ontopsicológica Editora Universitária. – Recanto Maestro, São João do Polêsine, RS: Ontopsicológica Editora Universitária, 2015. 187 p. ; 20 cm. Título original italiano: Razionalità Ontologica ISBN 978-85-64631-29-8 1. Ontopsicologia. 2. Ontologia. 3. Metafísica. 4. Ser. 5. Lógica I. Título. CDU (1997): 111
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SÚMARIO
PREFÁCIO DO AUTOR..........................................9 PREMISSA...............................................................11 INTRODUÇÃO À RACIONALIDADE ONTOLÓGICA..................15 1..................................................................................15 2..................................................................................18
Primeira Parte ONTOLOGIA (METAFÍSICA) Primeiro Capítulo O ENTE E AS SUAS CARACTERÍSTICAS.......33 1. O que é a ontologia (ou metafísica)........................33 2. Atributos e modos de acontecimento do ser............34 3. Os modos de atribuição do ser: unívoco, equívoco, análogo....................................38 4. O ser lógico.............................................................40 5. A evidência..............................................................41 Segundo Capítulo O ENTE ANALÓGICO..........................................45
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1. Processo de abstração............................................45 2. Unicidade e identidade do ente...............................52 3. O conceito de “verdade”........................................55 4. Ser e intelecto..........................................................57 5. O ser é bom e constituinte de ordem.......................60 6. O ser é belo.............................................................65 Terceiro Capítulo CAUSALIDADE E FINALIDADE DO SER......69 1. Do ser atual e potencial ao conceito de “pessoa”........................................69 2. Qualidade e sensorialidade do ser; ser real e ser lógico................................................72 3. Os modos da causa eficiente (material, formal e final) e outros atributos...........73 4. O problema da “causalidade”, do “fim” e o ser por si subsistente........................................76
Segunda Parte LÓGICA (CRÍTICA) Primeiro Capítulo INTRODUÇÃO À LÓGICA.................................87 1. Premissa..................................................................87 2. Introdução à lógica.................................................90 3. Os estados mentais..................................................92 4. Conhecimento da verdade e evidência...................93 5. O testemunho..........................................................99 6. O “senso comum”.................................................101 7. Regras para o ofício crítico..................................102
Sumário • 7
Segundo Capítulo A LÓGICA NA CIÊNCIA....................................105 1. Correntes da história da filosofia..........................105 1) Criticismo Kantiano.........................................106 2) Idealismo..........................................................108 3) Positivismo.......................................................109 4) Pragmatismo....................................................110 5) Relativismo.......................................................110 2. O erro....................................................................112 3. O escopo da ciência..............................................113 4. A importância do “nexo”......................................117 Terceiro Capítulo PRINCÍPIO LÓGICO...........................................121 1. O princípio de demonstração................................121 2. Princípios racionais e princípios empíricos..........................................122 3. O princípio de não contradição............................123 4. Influências religiosas na filosofia e o Ser como Deus................................................125 5. Teologia natural e teologia dogmática.................126
Terceira Parte ÉTICA Primeiro Capítulo O ATO VOLUNTÁRIO.......................................131 1. O objeto da ética: o ato voluntário.......................131 2. Os impedimentos do ato voluntário......................133 3. O fim último da vontade: a felicidade...................134 4. O critério da felicidade.........................................137
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Segundo Capítulo O ATO ÉTICO ......................................................139 1. A moralidade dos atos humanos...........................139 2. O conceito de “mal”.............................................144 3. Virtude e vícios.....................................................145 4. Identidade utilitarista-funcional e virtual................................................................146 5. Direitos e deveres.................................................147 6. A sociedade...........................................................150 Terceiro Capítulo ÉTICA E SOCIEDADE.........................................155 1. Princípio filosófico no âmbito político..................155 2. O voto....................................................................156 3. O direito à propriedade........................................157 4. Lei natural.............................................................158 5. Lei social...............................................................160 6. A autoridade..........................................................162 7. A justiça................................................................163 8. A liberdade............................................................165 9. O perigo da burocracia........................................166 10. A notícia como meio estratégico de poder.............................................167 11. Sacralidade e transcendência.............................169 12. Arte – OntoArte...................................................170 ARGUMENTAÇÃO CONCLUSIVA................173 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR............................181
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PREFÁCIO DO AUTOR
O escopo da minha vida e de toda a minha obra é de descobrir e dar ao homem as informações e o conhecimento prático do projeto de natureza que constitui a sua individuação, a sua relação social e a sua consciência para ser e pelo ser. Saber e agir este projeto, não é um dever. Livre arbítrio de ser ou não ser. É só a oportunidade de conviver com a vida realizada, com o escopo centrado, como tensão à própria alegria. Existir para ser, onde o ser é junto.
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PREMISSA
Nenhuma universidade no mundo ensina filosofia; em todas as faculdades de filosofia se ensina a história dos pensamentos, das opiniões filosóficas. Se, por exemplo, faz-se crítica, escolhe-se logo alguns autores, segundo a ótica do professor – Aristóteles1, Kant2, Hegel3, Marx4, Heidegger5, o positivismo, a liderança, etc. – e discute‑se sobre eles. Mas esse é um conhecimento de opiniões. Deve-se, porém, pressupor que exista um conhecimento elementar, antes de fazer crítica ou filosofia, ou seja, uma base para fazer o conhecimento, para ter capacidade de juízo6. Antigamente, quando existiam os preceptores, os mestres particulares, eles davam sempre uma base de conhecimento concreto, 384-322 a.C. 1724-1804. 3 1770-1831. 4 1818-1883. 5 1889-1976. 6 No esporte, por exemplo, antes de verificar qual é o estilo para vencer, deve-se ser um atleta demonstrado, capaz, alguém, que em um salto atinge pelo menos os dois metros de altura. Um sujeito que nunca saltou, não pode discutir nas olimpíadas sobre como se salta. 1 2
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válida para todos, isto é, um conhecimento elementar, simples. A partir desta simplicidade, fazia-se, depois, a evolução, em infinitos percursos da mente. Com estas conferências7 – que constituem uma perspectiva única – será dada a plataforma do que é a filosofia perene, elementar, aquela base de objetividade do pensamento, que era indispensável a Kant, Aristóteles, Tomás de Aquino8, Descartes9, etc10. Isso significa que não é o meu modo de ver: é o modelo base da racionalidade, o modelo elementar do proceder científico, o modelo preliminar para fazer ética, crítica, metafísica, dialética, etc. Ou seja, trata ‑se dos princípios elementares, do instrumento básico para raciocinar. Esta filosofia é definida “elementar” ou “perene”, porque é o código-fantasma, que está por trás de todos os códigos cognoscitivos ou modelos de comportamentos da mente, que também são a primeira fenomenologia do mover-se do Em Si ôntico. Ou seja, os princípios de comportamento usados pelo Em Si ôntico, a partir do Este volume reúne as conferências realizadas pelo autor no curso da edição 2004 da Summer University of Ontopsychology, integradas com edições realizadas no primeiro módulo do Curso “Racionalidade Ontológica”, no centro FOIL de Marudo (Itália), em ligação Hangout como São Paulo, Moscou, Pequim, Ecaterimburgo, Riga, Bruxelas, Trípoli. 8 1225-1274. 9 1596-1650. 10 Sem dúvida, Descartes, como também Kant, conhecia os conceitos da filosofia perene, porém, quando esses autores escreviam, estão em dialética com o pensamento filosófico e científico corrente. 7
Premissa • 13
momento em que começa a fazer autóctise histórica11, são iguais àqueles da filosofia perene.
“Do grego aujtovV ktivzw = posição ou constituição de si (ktivzw = construir, fundar). Processo histórico de escolhas existenciais que efetuam o resultado da evolução e da situação pessoal. O termo é utilizado de dois modos: 1) o fato em si (autopôr-se); 2) o processo do fazer-se (autoconstrução), ou seja, a autóctise histórica como processo psicológico. Autóctise histórica significa: saber ser fiéis artesãos da projetação em ato projetada pelo Em Si ôntico em situação.” MENEGHETTI, A. Dicionário de Ontopsicologia. 2. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2012. p. 31-32. 11
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INTRODUÇÃO À RACIONALIDADE ONTOLÓGICA
1. Não obstante a globalização, se é, de fato, constantemente dissociados dos governos, da economia, das línguas, etc. A única coisa que pode fazer transcendência e reconfirmar a unidade humanística e por consequência abrir aquele horizonte de concreto bem-estar do espírito que faz a dança universal das coisas, é o sábio saber da mente. Onde o homem colhe maior saber, encontra maior ser de si mesmo. Justamente esta é a conexão e a referência de valor que pode constituir o eixo de todos os outros valores políticos, ideológicos, religiosos, filosóficos, etc.: a superioridade da mente que sabe ver e entrar naquele ser que nos define e nos confirma a todos. A tal propósito, parece que do passado não se tenha necessidade alguma, porque a vivacidade da causalidade do nosso existir sempre é total para mudar, criar, abrir espaços. É intrínseca ao nosso existir a dinâmica do fazer inovador. Mas é bom lembrar que nós somos humanos, constitucionalmente constituídos de um certo modo, do ponto de vista anatômico, fisiológico, etc. O nosso coração batia assim há milhões de anos atrás, os escritos antigos que chegaram até hoje tinham os
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nossos mesmos sentimentos, o modo de interagir – por exemplo, do nosso organismo – com o todo do nosso habitat (universo próximo) é osmótico, é metabólico, ou seja, convivemos a cada instante com o conjunto do universo: comemos natureza, respiramos natureza, gozamos natureza, adoecemos disto, e nisto em nada mudamos. Por isto, antes mesmo de falar de “comunicação”, nós já somos fisiologicamente, energeticamente, atomicamente, quimicamente em osmose comunicativa: o universo, a vida comunica conosco, e nós igualmente através de nosso sistema fisiológico. Os nossos órgãos reagem – até que nós não interfiramos – como as estações: na primavera a terra deve fazer germinar, no inverno fica a “repousar”, etc. O homem natural é perene e nós estamos nesta conexão. Eis a importância de voltar a fazer uma filosofia elementar, porque a natureza, o universo, o existir, o ser, a realidade comunica sempre numa estabilidade de projeto, em que depois nós temos uma fenomenologia extraordinária, desde que a essencialidade do projeto não venha ser alterada. É também verdade que a filosofia viva, até que não se chegue a saber, ver e ser em ato único, parece absurda. A este propósito gostaria de lembrar que a experimentação do método ontopsicológico nasceu de um problema meu crítico do conhecimento: o homem pode ou não pode conhecer? É inútil buscar a verdade se o homem é doente, corrupto, ineficiente. Graças ao sucesso da experimentação do método ontopsicológico, eu obtive evidência científica, simples
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e repetível (basta seguir as conotações preestabelecidas pelo método) que não só o homem é capaz, mas até mesmo tem intrínseco – na própria forma de existir – o princípio do saber real, da verdade. A verdade não é uma coisa acrescida ou hipotética: é algo de primário, essencial. Depois vêm todas as outras coisas: aparências, percepções, dúvidas, contrastes, dialética, história, tradições, opiniões, etc. Com a descoberta do método ontopsicológico, eu colhi de modo experimental, a exatidão do projeto humano em sentido fisiológico-perceptivo: é fantástico como é preciso. Por exemplo, o músculo cardíaco que bate constantemente reflete o bater do universo, e é poderoso, move o conjunto, mas também ele é movido pelo todo do orgânico. Portanto, o homem é bem feito e o interior design, a forma, a estrutura, o modo como nós vivemos tem uma sintaxe eterna. Isto significa que não somos fantasia absoluta: somos fantasia dentro de uma previsão do projeto. O nosso denominado livre arbítrio está no interior de um já objetivado e pré-constituído. Logo que se o rompe, dá-se a própria exclusão. Inexoravelmente, que o homem se adeque ou não, é uma variável que somente ele paga. Mas para a vida, para o universo, para tudo o que é o em si do real, não causa calor, nem frio. Descobri que em natureza há um modelo único que se torna universal, um passe partout que se faz unívoco essencial no interior de qualquer analógico da existência. Por isto, em qualquer nível – cientista, grande empresário, real político, administrador, religioso, etc. –
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existem pontos e, se o homem os altera, assassina a si mesmo e quantos dele dependem, mas não o real, a vida, a verdade em si das coisas. Este projeto, que em nós se define “Em Si ôntico”1, é a participação analógica com aquilo que é a primeira verdade do mundo, das coisas, de ser ou de existir2. Deriva daí que cada um de nós, no saber o que é, adquire poder, liberdade, vida. 2. Se “filosofia”, como a denominou Pitágoras, significa “amor a sabedoria”3, este conceito não satisfaz aquela mente que quer o último do essencial, o qual tem integra a causa não só de quanto existe, mas também de qualquer coisa que é simplesmente hipótese. O conceito de “filosofia” já é uma vulgarização, é uma concepção feita aos impossibilitados ao saber último. Ao invés, “racionalidade ontológica” significa que – para fazer qualquer aplicação, demonstração, diálogo de sentido – acima de tudo é necessário possuir o instrumento através da qual o ser faz a sua epifania, as suas passagens, e são aquelas, não são as variáveis de correntes, políticas ou de fé, etc. O ser é o que está a si, por si e, quando se faz existência, tem uma lógica: há o Primeiro Princípio, a dependência das diversas causas e MENEGHETTI, A. O Em Si do homem. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015. 2 Cf. o item O ente analógico, do presente livro, p. 45-67. 3 Cf. MENEGHETTI, A. O filosófo. In: Conhecimento ontológico e consciência. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2011. p. 22-30 1
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como estas podem entrosar-se, condicionar-se, destruir ‑se ou exaltar-se. Portanto, antes de ser um “contábil” da sociedade (médico, físico, economista, filósofo, etc.) acima de tudo é necessário ter a coerência lógica intrínseca do nexo Ontológico4. 1) Fazer racionalidade ontológica significa ser capaz de usar os primeiros princípios que fazem os números elementares da “matemática” – para usar um aforisma – no interior do ser quando se faz existência. Existem então regras inflexíveis. Parte-se de um princípio: o ser é, o não ser não é. Compreender isto já é entrar na visão do princípio, que em realidade não é uma visão: é uma forma de ser tendo transposto também a própria existência. Transpor ou “transcender” significa fazer metafísica5, superar tudo o que é fenômeno, inclusive a própria existência: essencializar um composto – ou seja, eliminar progressivamente todos os seus acessórios ou acidentes – até que não se chega a um ponto que substancia causalmente todos os outros pontos6. Trata-se de superar tudo o que é percepção sensorial, até mesmo a própria consciência, o próprio modo de conhecer, falar, etc. Isto é possível porque o Em No curso da minha experimentação clínica (Cf. MENEGHETTI, A. Ontopsicologia Clínica. 4. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015) sempre notei que o outro sabotava a própria posição por intrínseca contradição em antítese a si, antes de sua lógica, pelo seu modo de pôr-se. 5 Prefixos: trans (latim) e meta; (grego) signif. além, depois. 6 O argumento é aprofundado no item Processo de abstração, do presente livro, p. 45-52. 4
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Si ôntico já é totalidade pura em ato e por isto pode construir o ser atual do contexto. Quando um homem observa um fenômeno e faz dele ciência, está lendo uma outra coisa, que não tem a causalidade em si. Ao invés, fazer racionalidade ontológica significa encontrar aquele ponto que intenciona sem ser fenômeno. Uma vez que o homem colher isto, o todo é seu. Na minha formação acadêmica eu mantenho respeito por Tomás de Aquino, Aristóteles, Parmênides7 e Lao Tsé8. Do meu ponto de vista, estas são as mentes que sempre tiveram uma nítida consideração, pelo menos, por escritos que nos deixaram. Talvez existiram outros, mas sobretudo Parmênides e Lao Tsé sem dúvida tiveram o interior design do que o ser é e faz como fenomenologia, porque descrevem como íntimos aquele princípio que todos buscam. Aristóteles desenha as estruturas elementares, verbaliza aqueles princípios em esquemas cientificamente e racionalmente compreensíveis. Tomás de Aquino, caso se exclua o seu aspecto histórico-fideístico, quando entra no seu trabalho de fazer ontologia percebe-se que é um técnico experto, que, sem dúvida, conhecia o que é a técnh de como se faz a verdade da filosofia. Se um sabe ler (e isto significa que antes é preciso ser) reconhece que nas passagens deste filósofo há uma técnica elementar, bem clara para todos aqueles que entram naquela unidade iluminante da perfeita causalidade da vida. O Tomás de Aquino que eu gosto, é a sua técnica 520-440 a.C. 604-531 a.C.
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de expressão racional, motivo pelo qual evidencia: “Eu homem compreendo, sei”, e por isto dá uma confirmação a partir de dentro. Ao invés, considerar o ser como mistério, obscuridade, religião, etc. demonstra a superficialidade da pesquisa, mas não a impossibilidade ao homem de colher aquela causalidade que o faz de certo modo fenômeno de si mesma. Sucessivamente, descobre-se a graça que o ser é beatífico. Mas, isto é possível dentro do quadro técnico de uma racionalidade ontológica. “Ontológica” no sentido de medir, confrontar, analisar a percepção quando faz contato. É verdade porque o ser é, e quando é não pode não ser9. Não estou falando da verdade do humano, de uma religião, de uma lei, etc.: é uma verdade que existe enquanto é enervada, tem continuidade, tem nexo com o que é a causa primeira10. Isto não significa que, através do estudo da racionalidade ontológica, se chegue à “iluminação”. É suficiente chegar a uma coerência de lógica racional e sair da contradição pela qual, toda vez que se inicia uma análise ou pesquisa, nos efetuamos além e determinam ‑se obsessões logorróicas, as quais testemunham a perda do centro da primeira pena que colocou em necessidade de busca ou pesquisa. Portanto, racionalidade ontológica significa possuir a técnica intelectivo-racional conexa com a lógica Cf. o item Atributos e modos de conhecimento do ser, do presente livro, p. 34-38. 10 De fato, ninguém tendo conseguido chegar a esta dimensão, cada um criou álibis, ideologias, filosofias, religiões, como projeções de uma falência individual, de uma incapacidade de realização ultima de si mesmos. 9
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que o ser opera tanto universalmente quanto em cada existente que aparece. Ela historiciza tudo o que é a intuição, da qual fazemos parte e que se manifesta através da informação do Em Si ôntico, ou seja, aquele em si do ser que cada um de nós personaliza na própria individuação: a presença do ser em cada um de nós, de modo único e irrepetível. A premissa para tudo isto é ter efetuado também um percurso de análise psicológica. Quando digo “psicológica”, não entendo a psicologia sistêmica das diversas correntes (psicanálise, cognitivismo, comportamentalismo, etc.). Estas são formas descritivas, configurações acadêmicas, mas que não se centralizam na causalidade que intenciona e mantém os fenômenos. “Psicologia” para mim significa que a consciência do homem, a sua mente, a sua razão deve ser simultânea à intencionalidade do que o constitui existente aqui e agora. Este projeto é beatífico na sua atualidade. O homem faz parte de um processo fenomênico à alegria, porque é posto fora (existência11) por algo que o preexiste, o constitui e o transcende. O substancia sem ficar preso, exatamente como um elevado pensamento, mesmo se usa as palavras, nunca fica prisioneiro de nenhuma palavra: a palavra existe porque há um pensamento que a ordena e a intenciona, mas sem ele a palavra é nada. Resumindo, trata-se de começar a compreender, isolar e analisar aqueles princípios que consentem racionalidade de fazer ontologia, ou seja, de fazer a ordem, o projeto que a vida constituiu através do que Do latim ext sistere = estar fora, do grego e[xw = fora, i{sthmi = colocar, estar. 11
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