ANTONIO MENEGHETTI
O RESIDENCE ONTOPSICOLÓGICO: Práxis e filosofia existencial 4ª edição
Ontopsicológica
Editora Universitária
Recanto Maestro 2016
Título do original italiano: MENEGHETTI, A. Il Residence Ontopsicologico. Roma: Psicologica Editrice, 2001.
M541r
Meneghetti, Antonio, 1936-2013. O Residence Ontopsicológico / Antonio Meneghetti ; traduzido, revisado e atualizado por Ontopsicológica Editora Universitária. – 4. ed. rev. atual. – Recanto Maestro, São João do Polêsine, RS: Ontopsicológica Editora Universitária, 2016. 398 p. ; 23 cm. Título original italiano: Il Residence Ontopsicologico ISBN 978-85-64631-33-5 1. Ontopsicologia. 2. Psicoterapia. 3. Psicossomática. 4. Arquétipos. 5. Memética. I. Título. CDU (1997): 111 Catalogado na publicação: Biblioteca Humanitas da AMF.
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SUMÁRIO
BIOGRAFIA DO AUTOR............................................................... 11 APRESENTAÇÃO............................................................................13 A FINALIDADE DO RESIDENCE................................................15 Primeira Parte
METODOLOGIA DO RESIDENCE Primeiro Capítulo ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS.............................23 1.1 O significado do residence............................................................23 1.2 Os aspectos do residence..............................................................25 1.3 O espaço e o ambiente..................................................................28 1.3.1 O exemplo de Lizori..............................................................29 1.4 A figura do psicoterapeuta.............................................................31 1.5 A escolha dos participantes e dos colaboradores..........................31 1.6 Os momentos do residence...........................................................32 1.6.1 A resistência do complexo.....................................................33 1.6.2 O problema da racionalização...............................................34 1.7 A dinâmica do residence...............................................................35 1.8 Organização e desenvolvimento do residence..............................36 1.8.1 As atividades.........................................................................37 1.9 Os efeitos do residence.................................................................39
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Segundo Capítulo O RESIDENCE CLÍNICO-TERAPÊUTICO.....................................41 2.1 Motivação e desenvolvimento do residence terapêutico (de A. Marinello).................................................................................41 2.2 Etiologia da doença: inconsciente semântico no ambiente familístico...........................44 2.2.1 Inconsciente familístico e descarga patológica.....................48 2.3 A atividade reeducativa do residence............................................50 2.4 O controle das resistências............................................................51 2.5 Experiências vivas (de M. Bruognolo e C. Salomone).................51 Segunda Parte
O RESIDENCE DE AUTENTICAÇÃO Primeiro Capítulo ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS.............................59 1.1 O conceito de autenticação em Ontopsicologia............................59 1.2 O significado do residence de autenticação..................................60 1.3 A necessidade de autenticar-se: a matriz reflexa...........................61 1.4 Releitura do complexo edípico.....................................................62 1.5 As atitudes para um residence de autenticação.............................65 1.6 O percurso de um residence de autenticação................................66 1.7 A tipologia dos participantes.........................................................67 1.8 Os efeitos do residence de autenticação........................................67 Segundo Capítulo A AB-REAÇÃO DA MATRIZ REFLEXA........................................69 2.1 A psicologia da máscara................................................................69 2.2 Identificação e ab-reação da matriz reflexa...................................71 2.3 A ambivalência feminina. Cinelogia: “A Bela da Tarde” ............80 2.4 Os arquétipos na psique feminina.................................................84 2.4.1 A velha...................................................................................87 2.5 A alma do homem para além das ciclicidades destrutivas dos estereótipos.......................................90 2.6 O estado de autenticidade no erotismo.........................................93
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2.7 A importância do sonho para a razão..........................................100 2.8 A realidade por trás do símbolo..................................................108 2.9 A mente em movimento.............................................................. 111 2.10 Encontro conclusivo e conselhos práticos................................ 117 Terceiro Capítulo ALÉM DO ESTEREÓTIPO.............................................................121 3.1 Conferência introdutória.............................................................121 3.1.1 Os três modos da atitude moralista e o moralismo ideológico...................................................................122 3.2 O ciúme e o erotismo preênsil....................................................130 3.3 Os três tipos de fantasia..............................................................132 3.3.1 Análise imagógica...............................................................133 3.4 Incubação noturna e tipologias de alienígenas............................138 3.4.1 Análise onírica.....................................................................142 3.5 O consenso na incubação alienígena...........................................147 3.6 O processo da própria noite: os três critérios de verificação......152 3.7 O erro existencial........................................................................159 3.7.1 Análise imagógica...............................................................160 3.8 Intervenções livres......................................................................168 3.9 Organísmico e cerebral...............................................................172 3. 10 Encontro conclusivo.................................................................176 Terceira Parte
O RESIDENCE LIDERÍSTICO Primeiro Capítulo ASPECTOS DO RESIDENCE LIDERÍSTICO...............................181 1.1 Introdução...................................................................................181 1.2 O significado do residence liderístico.........................................182 1.3 As três lógicas do sucesso...........................................................184 1.4 A inteligência inconsciente.........................................................185 Segundo Capítulo O EMPRESÁRIO EXISTENCIAL..................................................187
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2.1 Conferência introdutória.............................................................187 2.2 Verificação aplicada....................................................................189 2.3 A queda de um líder....................................................................194 2.4 A variável mulher........................................................................195 2.4.1 Verificação aplicada.............................................................196 2.5 Cinelogia: “Com o dinheiro dos outros”.....................................199 2.6 As atitudes do líder......................................................................202 2.7 Guia prático para a evolução da inteligência individual.............205 2.8 As regras elementares do sucesso...............................................207 2.8.1 Um exemplo de business: a estética aplicada.....................210 2.9 Consultoria de liderança.............................................................212 2.10 Verdade e opinião: a dupla moral..............................................216 2.11 O conhecimento aplicado do Em Si ôntico...............................217 Terceiro Capítulo A LIDERANÇA PROFISSIONAL...................................................221 3.1 O escopo e o significado do residence profissional....................221 3.2 A personalidade do psicoterapeuta..............................................222 3.3 O estilo de vida...........................................................................225 3.3.1 A consanguinidade naturística.............................................226 3.3.2 A transcendência dos estereótipos.......................................227 3.4 Princípios teóricos do impacto psicoterápico.............................228 3.4.1 Análise onírica.....................................................................228 3.5 Especificações sobre o transfert..................................................233 3.6 A bifurcação da resistência..........................................................234 3.6.1 Aplicação prática: entrevista didática aberta.......................239 3.7 A supervisão do ontopsicólogo...................................................247 3.8 O conceito de monitor de deflexão.............................................251 3.9 O Em Si da autenticidade............................................................253 3.10 Verificação profissional. Cinelogia: “O príncipe das marés”....256 3.10.1 Primeiro aspecto: o nível profissional em psicoterapia.....257 3.10.2 Segundo aspecto: a tipologia do cliente............................258 3.10.3 Terceiro aspecto: autenticação e supervisão do psicoterapeuta..........................................................................260 3.11 Ontopsicologia prática..............................................................263 3.12 O plano metafísico do Em Si ôntico.........................................268
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Quarta Parte
O RESIDENCE ECOLÓGICO Primeiro Capítulo OS ASPECTOS DO RESIDENCE ECOLÓGICO...........................275 1.1 Definição e significado do residence ecológico..........................275 1.2 As origens do residence naturístico.............................................277 1.2.1 O Em Si naturístico.............................................................278 1.3 Os escopos do residence ecológico.............................................280 1.4 O conceito de iniciação...............................................................280 1.5 Aspectos do residence ecológico................................................281 1.6 O momento psicológico..............................................................282 1.7 O genius loci ..............................................................................283 1.7.1 Enveramento naturístico para a autóctise antrópica............286 1.7.2 A memória informal como estrutura de força.....................287 1.8 Conselhos práticos para o residence naturístico.........................288 Segundo Capítulo DA ECOGÊNESE À PSICOGÊNESE.............................................291 2.1 A motivação do residence no exterior.........................................291 2.2 O homem e o ambiente...............................................................293 2.3 A díade: motivação e racionalização...........................................294 2.4 Técnica de entrada na díade: lógica de antecipação e desdobramento......................................297 2.5 A dialética das díades..................................................................299 2.6 Lógica aberta e lógica fixativa....................................................302 2.7 A necessidade do devir................................................................306 2.8 Conselhos conclusivos................................................................308 2.8.1 Os perigos na amizade........................................................309 2.8.2 O genius loci individual......................................................309 2.8.3 O corte da dependência.......................................................310 Terceiro Capítulo CRISE E AUTÓCTISE HISTÓRICA...............................................313 3.1 Motivação e escopo do residence...............................................313
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3.2 Monitor de deflexão e Em Si ôntico...........................................316 3.2.1 Verificação aplicada: entrevista aberta................................324 3.2.2 Reflexões espontâneas.........................................................328 3.3 Como incrementar o crescimento: a hierarquia dos valores.......329 3.3.1 Análise onírica: o relativismo dos estereótipos...................330 3.4 O estereótipo da psicopolícia......................................................332 3.5 Transição entre o objeto de natureza e o sujeito humano: a fotossíntese psicodélica............................................................336 3.6 O conhecimento..........................................................................338 3.7 Ser e transcendência....................................................................340 3.8 A origem da vida.........................................................................347 3.9 Os três motivos do crescimento..................................................350 3.10 Espiritualidade e mediação informática....................................351 3.11 A formalização das escolhas.....................................................355 Quarto Capítulo MEMÉTICA E ONTOPSICOLOGIA..............................................359 4.1 Conferência de abertura..............................................................359 4.2 Informações ônticas e memes clonantes.....................................360 4.2.1..............................................................................................367 4.2.2..............................................................................................371 4.3 A unidade de ação e a doxa social...............................................374 4.4 Ontopsicologia: ciência interdisciplinar.....................................380 4.5 O cérebro visceral.......................................................................382 4.6 O critério organísmico................................................................387 BIBLIOGRAFIA DO AUTOR.........................................................393
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BIOGRAFIA DO AUTOR
O Acadêmico Professor Antonio Meneghetti (1936, Itália - 2013, Brasil) alcançou quatro doutorados. Segundo os critérios canônicos das Universidades Romanas, foi Doutor em Filosofia e em Ciências Sociais (Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, Roma) e Doutor em Teologia (Pontifícia Universidade Lateranense, Roma). Na Rússia, obteve, em 27 de abril de 1998, da Suprema Comissão de Avaliação Interacadêmica da Federação Russa, o título de Grand Doktor Nauk em Psicologia (protocolo 0104). Obteve também a láurea em Filosofia com endereço psicológico (Universidade Católica do Sagrado Coração, Milão) e recebeu a láurea honoris causa em Física pela descoberta do “campo semântico” (Universidade Pro Deo, Nova York). No final dos anos 60 foi atraído pela investigação da esquizofrenia, na qual colhe um paralelismo com o insolúvel dilema a respeito do problema crítico do conhecimento. Depois de ter visitado os centros europeus de pesquisa psicanalítica (Paris, Friburgo, Londres, Tavistok, Viena, Selva Negra), encontra-se com as correntes norte-americanas das quais inicialmente prefere Rogers, May e Maslow. Husserl estimulou-o muito e não lhe parece suficiente a redução de Binswanger. Nos anos 70 deixa o ensino universitário de Psicoterapia e Ontopsicologia nos cursos de doutorado da Universidade Internacional São Tomás de Aquino em Roma, dedicando-se a uma intensa atividade psicoterapêutica por aproximadamente dez anos, durante os quais demonstra familiaridade e domínio das sintomatologias crônicas, resolvendo-as. Sucessivamente, passa da psicologia assistencial e de cura para a psicologia criativa e evolutiva, específica do líder de ação social, econômica e artística. Nos anos 80 formaliza o seu conceito básico entre informação ôntica e informação memética. Três são as suas descobertas fundamentais:
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1) isola a identidade e as características da unidade de ação que especifica o homem conforme ao projeto de natureza: o Em Si ôntico; 2) demonstra e descreve a dinâmica e informação do campo semântico; 3) individua e descreve o monitor de deflexão, um mecanismo que altera a consciência do Eu no interior dos processos perceptivos no contexto cerebral. Desde o início dos anos 90 orientou sempre mais o seu pensamento no sentido sociológico, destacando a importante relação homemsociedade e privilegiando – em conformidade com a sua intenção inicial – a psicologia da autorrealização e da criatividade, o homem líder. A criatividade é individual. Original intelectual do nosso tempo, é autor de mais de 50 obras, em grande parte traduzidas para o inglês, português, russo e chinês. Com excepcional formação em teologia, filosofia, sociologia, direito, psicologia e economia, foi talvez uma das últimas grandes mentes da história recente, como os grandes do passado, com capacidade de formalizar um saber unitário por evidência racional e aplicação concreta. Para ele, a Ontopsicologia, ciência que formalizou nos últimos 40 anos, é a capacidade de evidenciar-se no nexo ontológico. Será necessário algum tempo para se compreender a causalidade operativa das suas descobertas. Descobertas que consentirão familiaridade com o mundo-da-vida ou a continuidade reversível entre consciência e causalidade real. Fundou e presidiu a Associação Internacional de Ontopsicologia, ONG com status consultivo especial junto ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. No Brasil, foi patrono da Antonio Meneghetti Faculdade, instituição de ensino superior credenciada pelo Ministério da Educação em 2007, e da Fundação Antonio Meneghetti, instituição criada em 2010 que, com o respaldo do governo brasileiro, visa garantir e perpetuar a obra e os resultados da ciência ontopsicológica no território nacional. Para mais informações: www.antoniomeneghetti.org.br
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APRESENTAÇÃO
Este texto é uma coletânea de intervenções ativas de clínica existencial. São cortes de bisturi precisos para ativar sanidade, responsabilidade e diretiva específica do homem comum ao líder reconhecido. A constante do Prof. A. Meneghetti quando “age residence” é sempre uma viva reportagem sobre como trazer novamente para casa a alma perdida em certezas finalizadas a si mesmas. Uma miscelânea de experiências e emoções ajustadas a um fio condutor de projeto elementar da vida, da banalidade cotidiana às referências conclusivas da vida, do mundo, do sacro. É um vivo apaixonante por encontrar um grande mestre e, sobretudo, por encontrar aquele vivo onde cada homem é maravilhosamente irrepetível. Para professores, líderes, empresários, terapeutas etc. O presente texto compõe-se de quatro partes com base nas tipologias do residence ontopsicológico: clínico-terapêutico, de autenticação, liderístico, ecológico. O material deriva tanto da edição precedente quanto dos residences desenvolvidos na Itália e no exterior, de 1991 até o momento, de conferências, supervisões e entrevistas didáticas abertas de 1994 a 2001. A maior parte do conteúdo é inédita. A primeira parte é composta por um primeiro capítulo que contém a exposição da metodologia geral do residence ontopsicológico e por um segundo capítulo sobre residence clínico-terapêutico (relatado como documentação histórica), integrado por dois capítulos sobre inconsciente familiar extraídos da obra A Psicossomática e de experiências ao vivo escritas por quem delas participou na qualidade de assistente (M. Bruognolo, C. Salomone e A. M. Marinello).
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A segunda parte é dedicada ao residence de autenticação. Depois de um primeiro capítulo sobre os aspectos teóricos e metodológicos, passase à exposição de dois residences de autenticação: o primeiro dedicado à individuação e ab-reação da matriz reflexa (da edição precedente), o segundo ocorrido em Lizori, em 1991 (inédito). A terceira parte trata o residence liderístico. Os residences relatados são dois: o primeiro para empreendedores (material extraído de conferências acontecidas em Ekaterimburgo, 1997; São Paulo – Caxias do Sul, 1998; Moscou, 1999); e o segundo para ontopsicólogos (inserido para dar uma visão da aplicação da liderança no âmbito da consultaria ontopsicológica e para utilizar o material, quase todo inédito, retirado de seminários acontecidos em Moscou em 1995-1998, de supervisões inéditas desenvolvidas em Lizori e Scandriglia 1997-1998 e por entrevistas didáticas 1994-2001). Por fim, a quarta parte é dedicada ao residence ecológico. O capítulo sobre os aspectos teóricos contém elucidações sobre as origens e o significado do residence ecológico, extrapoladas das conferências introdutórias dos residences ecológicos acontecidos no Brasil nos anos 1994, 1995, 1998, 2001. Os capítulos remanescentes reportam três residences em ordem cronológica. O primeiro, de 1994, onde é central o tema da díade. O mesmo material foi utilizado para descrever a estrutura da personalidade no Manual de Ontopsicologia. O segundo é aquele de 1998, dirigido a pessoas com idade média de quarenta anos, completamente inédito; o terceiro de 2001, onde se fala de memética e Ontopsicologia, também este inédito: é uma síntese de extraordinária eficácia. Todo o trabalho foi desenvolvido procurando ressaltar a reciprocidade entre teoria e prática. Isso para demonstrar ao leitor que toda a teoria ontopsicológica está sempre apoiada na prática clínica.
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A FINALIDADE DO RESIDENCE
A análise ontopsicológica relevou que o Eu – enquanto baseado sob o monitor de deflexão – não é um direto funcionário da intencionalidade de natureza que o constitui vivente1. Toda dor, toda angústia e toda incapacidade no âmbito econômico, profissional, político, afetivo, somático, de pesquisa ou de relações públicas, é sempre determinada por uma devastação dessa intencionalidade de natureza – desejada e escolhida pelo indivíduo. O residence ontopsicológico demonstra que a causa deve ser buscada não somente na irracionalidade de circunstâncias externas, mas, sobretudo, no interno inconsciente do sujeito agente, e macroscopicamente levantadas através de uma série de análises de caráter científico sobre o plano dos processos psíquicos internos e externos. Do primeiro interno modo de si mesmo, resulta a formalização e a realização do território mundano pessoal. Quem não sabe e não possui a si mesmo com exatidão, está destinado a amar e reforçar aquelas causas que depois infelizmente sofre nos efeitos. Além de ser demonstrado pela intrínseca lógica da global situação, o quanto dito permanece evidenciado pelos resultados contínuos que o residence consente. O critério constante é: se você não é exato e coordenado em si mesmo, não pode coordenar com vantagem tudo o quanto se refere a você. Por esses motivos, não devemos nos maravilhar se a investigação descobre aspectos aparentemente ingênuos e sem Intencionalidade, do lat. Id quod et quo intendit, intus actionis, significa: “aquilo que faz e porquê se faz dentro da ação”; é a estrutura formal que vincula a modalidade da ação. Para aprofundamentos, cf. MENEGHETTI, A. Fenomenologias da intencionalidade. In: A psicossomática na ótica ontopsicológica. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2005. p. 169-182. 1
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correlações com o peso macroscópico das adversidades externas: aqueles comuns, introversos e infantis complexos estruturam de qualquer modo a vetorialidade dos acontecimentos externos, que depois caracterizam a nossa aventura social e existencial. Qualquer discussão, qualquer investigação, qualquer elaboração de pensamento é sempre em referência ao homem, mas além de todas as considerações que possamos ter, cada coisa se torna necessária ou indiferente a partir do momento que se existe. Há um ponto preeminente que permanece soberano, radical a todas as evoluções ou possíveis estruturações da nossa existência. Do momento que se dá esse ponto, que cada um de nós chama “Eu”, causam-se os diversos problemas: eu que tenho frio, eu que tenho fome, eu que experimento prazer, eu que estou em dificuldade; sem a posição desse ponto egoico, nada tem sentido. O Eu é o ponto do qual cada um de nos gere o próprio pequeno ou grande mundo, o próprio business de vida existencial. Uma vez identificada e qualificada a identidade objetiva de si mesmo, é possível a autorrealização. De fato, não recordo uma só vez em toda a minha vida – e sem exceção – de encontrar um ser humano que, no exprimir-se, tivesse uma completa visão de si mesmo. Sempre me dei conta que o indivíduo se move a partir de um fora de si, não é objetivo no direcionar-se ao centro de si mesmo. O que constato é a discrepância, a contraposição entre o que o indivíduo é de modo concreto, físico e o que conscientiza. Sempre vi que ele se coordena com uma ideologia que caracteriza uma constante de memória em contraposição ao real que é; em consequência, dá-se a angústia existencial e a projeção do próprio erro como culpa da vida ou dos outros, com o duplo erro de ver deslocadas as próprias dificuldades e, consequentemente, de não haver uma autêntica capacidade crítica sobre o dado do real. Uma experiência multíplice – sem exceção – confirmou a existência de um Eu fictício que acontece na maioria dos seres humanos, incluídos muitos estudiosos. Substancialmente, não é outra coisa que um estereótipo preponderante sobre outros estereótipos, que torna o homem robô de si mesmo2. Um robô, substancialmente, é um mecanismo que age por quanto foi programado; isto é, é um repetidor de um programa que “outros” predispuseram. Ele é carente de 2
A finalidade do residence • 17
O drama é que se um ser humano é robô nunca resolverá a sede do próprio egoísmo. A realização dos próprios desejos ou realmente os seus próprios desejos, serão mais assassinos que vencedores, porque ele se conhece por como foi construído e programado e não por como é. Continuamente o homem assimila – protegido pela sua estrutura psicológica – categorias existenciais estranhas à sua estrutura de sínolo histórico de Eu e Em Si ôntico. Poder-se-ia pensar em uma contradição de natureza: que o homem, mesmo existindo, não consiga compreender-se, mas essa não é a sua realidade originária. Se assim fosse, nunca poderia ter existido. Na realidade, isso é devido à imissão de um erro, de uma informação errônea que constantemente descarrila as escolhas do homem da sua proprioceptividade3. O homem, estando fora do seu real, perde inevitavelmente o critério de discriminar entre o que é estranho a ele e o que lhe é consubstancial. A maioria dos seres humanos não pode sair da gaiola desses modelos mnemônicos, enquanto toda vez que tenta pensar e melhorar, opera sempre baseando-se sobre estereótipos lógicos. Também quando faz mudanças que parecem totais – mudar religião, parceiro, nacionalidade etc. – na realidade, variam as adaptações, mas a seleção temática do complexo permanece a mesma4. Qualquer um que tenha uma certa experiência de si mesmo, sabe de ser mais ou menos naquele modo, por isso os transtornos, os contrapontos da vida não dependem das dificuldades externas, mas é a própria pessoa que os constrói, os preordena de modo tal para sofrê-los. autonomia de juízo e, em consequência, é carente no selecionar as suas ações, o próprio comportamento exclusivamente de si. A proprioceptividade é o segundo nível de percepção elementar do ser humano. Os níveis de percepção são três: exteroceptivo, proprioceptivo e egoceptivo. O primeiro compreende qualquer variação excitante interna e externa ao organismo; o segundo é qualquer estimulação sensorial que se torna informática única para o organismo (conhecimento organísmico); o terceiro nível é a percepção egoica ou o quanto selecionado dos dois níveis precedentes e referido ao Eu consciente voluntário e operativo. Para aprofundamentos consultar: MENEGHETTI, A. Manual de Ontopsicologia. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2010. p. 175-179. 3
O argumento é aprofundado em MENEGHETTI, A. O Em Si do homem. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicológica, 2015. p. 177-219. 4
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O sujeito padece e repara agora o que inseminou um, dois ou vinte anos atrás, e hoje está ainda inseminando aquilo que pagará entre dez, quinze anos. É necessário controlar o momento de inseminação, de starter à ação; de outro modo, quem está sempre a pagar jamais remonta, porque não para de semear o próprio dano. Para eliminar esse gênero de situações, há uma única possibilidade, isto é, chegar a ver o que se está semeando e ter disso o controle. Através da experiência ontopsicológica a nossa inteligência, a nossa racionalidade pode chegar à mediação direta do real em si e a esse ponto pode tolerar, escolher, formar e, sobretudo, tornar relativos infinitos estereótipos, infinitas adaptações mudando-as a cada vez, conforme a própria funcionalidade. Preparei o instrumento do residence para subtrair o sujeito da programação robótica e consentir o reencontro do Em Si, ensinando a astúcia lógica para mantê-lo. Depois disso, cada um é capaz de realizar a sua fortuna de existir, porque quando o indivíduo está pousado sobre sua tranquila força de ser, resolve sempre5. Trata-se de posicionar-se na antecipação da própria vida. Alterado o Eu do sujeito humano, tudo é alterado6. A clareza sobre qualquer tipo de problema é sucessiva à clareza que o homem possui sobre si mesmo; também o problema no campo científico, no campo econômico, na esfera sexual ou afetiva, é resolvido se primeiro está claro e resolvido o sujeito a si mesmo, se ele pode demonstrar de constituir-se pessoa em interpelação metafísica7. Se, ao invés disso, está posicionado sobre as regras, sobre o programa, as coisas podem andar aparentemente bem – o sujeito pode ter dinheiro, saúde – mas mesmo no máximo do poder está inquieto, não possui a paz egoística, tranquila de ser dentro de si; é sempre um servo que deve executar as regras impostadas por outros. Analisando o interno psicológico de grandes políticos e de tantas pessoas que aos olhos dos outros têm tudo aquilo que querem, sempre vi que não são realizados: possuem aquelas coisas, mas as vivem sempre com medo. São robôs programados a recobrir aquele lugar, sem a propriedade intrínseca das coisas; isto é, devem usá-las como o programa quer, mas não lhes pertencem. 5
Quando se diz “Eu”, deveria ser o Eu existente aqui e agora em modo não repetível. O ser do Eu como aberta autóctise existencial em função de criação metafísica. 6
Quando se fazem algumas escolhas, deve-se ver de quem são, se se está executando
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A finalidade do residence • 19
A Ontopsicologia é a análise para objetivar a inseidade ôntica do sujeito, depois disso ele sozinho evolverá a sua personalidade em todas as dialéticas possíveis, sempre em forma vital e em criatividade contínua. A finalidade do residence é exatamente esse: retomar a identidade da própria afirmação ôntica para depois realizar criatividade aberta.
os programas de robô ou exigências da própria alma; porque depois é inevitável que aquela natureza humana que não teve desenvolvimento, no final se sinta deficiente em si mesma. Mas é o sujeito que movimentou-se de modo errado, crendo fazer bem, que executou um programa contraditório à sua essência vital.
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