O mapeamento do sistema sucroenergetico - OpAA63

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entidades de produtores

Opiniões

que o canto da sereia não nos iluda novamente Iniciamos nosso artigo ressaltando, uma vez mais, a máxima que há muito é propagada em nosso setor: “Se Deus é brasileiro, seguramente também é produtor de cana-de-açúcar ou executivo do setor”. Falo isso porque, em meio a tantas notícias ruins no mundo moderno, comemoramos, nesta entressafra, pelo menos dois fatos de importância singular que impactarão, com certeza, o presente e o futuro de nosso segmento. O primeiro deles, e talvez o mais importante, é a entrada em vigor do RenovaBio, a Política Nacional dos Biocombustíveis, tão esperada e almejada por décadas por todos aqueles executivos que nos precederam. Afinal, estamos falando da segurança necessária e da previsibilidade tão essencial, para que possamos estruturar nossos investimentos e crescer de forma sustentável. O outro fator, esse mais divino do que humano, são as chuvas que se precipitaram de forma regular e em níveis acima das médias, que podem trazer uma melhora e pujança à nossa principal matéria-prima: a cana-de-açúcar. Mas vamos por partes. Afinal, muita coisa ainda precisa ser feita. No primeiro quesito, o RenovaBio, a notícia de que as emissões de CBIOs têm crescido de forma considerável, com mais de 200 usinas já participando do processo, há de ser comemorada. Mas pergunto: será que estamos tirando todo o proveito da cana para a composição de nossa nota de eficiência energética? A resposta é seguramente não! E faço esse alerta para que não nos acomodemos com os índices hoje observados e deixemos de fazer nossa lição de casa. A equação é simples. Tomemos como exemplo

uma usina com uma nota de eficiência na casa de 60 pontos, que colha, em média, 75 toneladas de cana por hectare. Imagine se, nessa mesma unidade, aumentássemos nossa produtividade para 100 toneladas de cana por hectare, ou seja, um crescimento de 25% a mais na produção. Isso significaria, no mínimo, 25% a mais de CBIOs por litro de etanol produzido, considerando que todos os parâmetros seriam impactados positivamente. E isso é possível? Sim. Não só possível como exequível hoje em algumas usinas, que mantêm suas produções linearmente na casa dos três dígitos, com aplicação de expertises há muito esquecidas por várias unidades. Entendo que o mundo de oportunidades que hoje o RenovaBio nos apresenta é muito maior do que aquele que, de fato, estamos explorando. E vou além, agora com um alerta mais veemente: nosso índice de satisfação não pode, jamais, ficar apenas na quantidade de CO2 que somos capazes de capturar no comparativo com os combustíveis fósseis. Temos que ir além. Explorar de forma consistente os desafios que se apresentam à nossa frente. Temos que nos estimular e ganhar muito mais com uma maior produtividade. Uso como exemplo a experiência exitosa que tivemos nas décadas de 1970 e 1980, quando nossa produtividade crescia a média de 1% ao ano. Algo ocorreu, e paramos de crescer nas décadas seguintes. Ouso dizer, inclusive, que, na década de 2000, qualquer pífio crescimento que tivemos um ano ou outro tenha sido fruto de aspectos exógenos, muito mais alojados em fatores climáticos do que em qualquer ganho real. Resumindo, em condições “normais”, de estresse hídrico, por exemplo, nossa produtividade teria caído ano a ano. E como virar a página e embarcarmos de vez na rota da prosperidade sustentável?

Não nos deixemos ser iludidos, uma vez mais, pelo canto da sereia, com os resultados que, em se mantendo as condições de hoje, veremos no aumento de produtividade média de nossos canaviais neste ano, graças a São Pedro "

Antonio Cesar Salibe Presidente executivo da Udop

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