produção de etanol com sisal
sisal: biomassa para o sertão e para o futuro Vivemos, hoje, uma grande controvérsia com relação às mudanças climáticas. Em vista de a atmosfera ser um bem compartilhado, todos têm uma opinião e, frequentemente, um interesse a defender. Para tratar do assunto de forma racional, temos que analisar os dados. Temos, hoje, informações da concentração de CO2 de cerca de 1 milhão de anos, obtidas nas profundidades das calotas polares do gelo eterno (pelo menos até agora). A análise dessas informações nos mostra – sem precisar de se emitir qualquer opinião – que a concentração de CO2 correspondeu a cerca de 0,025 a 0,030% dos gases da atmosfera nesse longo período (250 a 300 ppm). Entretanto a história do nosso planeta começa há cerca de 4,5 bilhões de anos, com praticamente 100% de CO2 na atmosfera, que foi sendo paulatinamente reduzido a partir do surgimento da fotossíntese e da morte e do sepultamento dos diversos organismos, que foram convertidos nas atuais reservas fósseis de carbono. Elas, ao serem utilizadas, estão nos trazendo de volta a uma atmosfera primitiva, algo que o planeta já experimentou (temos, atualmente, uma
concentração de 410 ppm). Ou seja, o planeta está acostumado com concentrações muito mais altas de CO2 do que as atuais e ele não vai acabar. Portanto qual a preocupação com o CO2? A primeira é que o homem habita o planeta há cerca de apenas 150 a 200 mil anos. Portanto desenvolvemos a nossa civilização em um ambiente com concentração de CO2 bastante estável. Nunca enfrentamos as altas concentrações desses gases e elas podem ter consequências catastróficas. A razão é que o CO2 faz parte da categoria dos chamados gases de efeito estufa, cujo aumento de concentração tem um grande potencial de mudança no aquecimento dos oceanos e de várias áreas do planeta, o que pode alterar o regime de ventos e, consequentemente, o de chuvas e as temperaturas. O resultado é a possibilidade de alteração das nossas zonas climáticas, nas quais desenvolvemos uma série de atividades econômicas, em particular aquelas relacionadas com a agropecuária. Assim, as mudanças climáticas deverão levar à mudança na forma de vida das pessoas e à migração dos atingidos para zonas menos afetadas. Esses são ingredientes explosivos para a nossa civilização que temos que desarmar a partir de políticas públicas, como os esforços internacionais (por exemplo, as COPs organizadas pela ONU), para evitar o uso de combustíveis fósseis, e do desenvolvimento científico e tecnológico. Temos que ser capazes de produzir, de forma sustentável e eficiente, alimentos e biocombustíveis, mesmo nas mais inóspitas condições do nosso planeta: tanto nas já existentes, como naquelas que possivelmente virão. Trazendo essa reflexão para o nosso país, e pensando no presente, temos, na nossa geografia, a belíssima região do Sertão, um ecossistema único, com 750 mil km² (o dobro da área da Alemanha) e povoado por muitos milhões de compatriotas.
a planta de sisal pode levar a uma produção de biomassa muito elevada sob condições que o senso comum, acostumado com a agricultura irrigada e amplamente adubada, consideraria impossível. "
Gonçalo Amarante Guimarães Pereira Professor do Instituto de Biologia e Coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp