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Etanol de 2ª geração: o sonho e a realidade

ethanol summit 2009 segunda geração: etanol de o sonho e a realidade

" Ficou evidente o grande avanço no mercado mundial de energias renováveis. É provável que, em 2011, já tenhamos as primeiras plantas de etanol celulósico em operação no mundo, em larga escala. "

Nilson Zaramella Boeta Diretor Superintendente do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira

Compor um painel que permitisse uma visão ampla dos esforços hoje empreendidos pelos principais participantes da corrida do etanol de segunda geração foi um dos desafios propostos pelo Ethanol Summit 2009. Para tanto, conseguimos reunir representantes de quatro expoentes mundiais da pesquisa em torno desse tema: Novozymes, British Petroleum, Monsanto e CTC - Centro de Tecnologia Canavieira.

Tive o prazer de atuar como mediador desse painel e tentei extrair dos participantes as informações mais re- levantes acerca do andamento de pesquisas, sobretudo no tocante ao que se espera efetivamente da viabiliza- ção dessa tecnologia e de seus resultados.

Steen Riisgard, CEO da Novozymes, abriu o pai- nel com uma exposição sobre os avanços que a em- presa tem alcançado no desenvolvimento de enzimas apropriadas para a conversão de diversas biomassas. A Novozymes trabalha mundialmente com diversas parcerias estratégicas formatadas, posicionando-se nos mercados-chave - Estados Unidos, Europa, China e Brasil, como um parceiro tecnológico para viabilizar o etanol de segunda geração a preços competitivos.

Nos últimos anos, a Novozymes recebeu recursos do governo americano para acelerar suas pesquisas e tem desempenhado papel importante ao desenvolver micro-organismos que interfiram na separação eficiente dos diversos componentes da celulose, em curto intervalo de tempo. Steen relatou que, no caso da celulose de milho, a Novozymes conseguirá reduzir para, aproximadamente, um terço a quantidade de enzimas necessárias para gerar um galão de etanol, já a partir de 2010. Isso possibilitará, por exemplo, que o custo do galão de etanol de biomassa seja comparável ao daquele que é produzido a partir do amido de milho, da ordem de US$ 2.

Ainda que tal valor não seja suficiente para assegurar competitividade ao etanol de milho no mercado brasileiro - pois os custos do etanol extraído da cana pelos métodos tradicionais são cerca de 30% menores, a Novozymes está confiante de que também ocorrerá em breve representativa redução de custos para a obtenção do etanol de segunda geração a partir da cana. Para que isso se torne realidade, a empresa emprega em seus quadros quase 150 cientistas. No Brasil, por sinal, a Novozymes trabalha em parceria com o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, em busca da melhor combinação tecnológica. Essa associação tende a ge- rar, no futuro próximo, uma solução capaz de integrar o etanol de segunda geração à produção das unidades industriais atuantes no Brasil.

O segundo palestrante foi Ricardo Madureira, Pre- sidente da Canavialis, empresa de pesquisas genéticas, que foi recentemente adquirida pela multinacional Monsanto. Ricardo discorreu sobre a história da Canavialis, ressaltando as áreas de atuação que deverão gerar vantagens competitivas a seus produtos nos próximos anos. Os principais destaques da apresentação foram variedades de cana resistentes ao estresse hídrico, que serão de grande valia para regiões como a CentroOeste, onde a expansão de novas usinas delimita a nova fronteira sucroalcooleira. A disponibilidade de variedades com maior teor de sacarose será fundamental para o aumento da produtividade nos canaviais, segundo o executivo da Monsanto. Outra aposta da empresa está centrada no desenvolvimento de variedades resistentes a insetos - principalmente a broca da cana, que tem ligação com métodos transgênicos e o emprego do gene "Bt". Outro objetivo da Canavialis é a geração de variedades com maior quantidade de fibras, pois, no futuro, com a viabilização do uso comercialmente competitivo

da celulose para gerar etanol, poderemos, em tese, che- gar a resultados viáveis sem que a sacarose funcione como matéria prima principal. Mas, para isso, convém lembrar que um novo modelo de usina diferente do atual precisará ser criado, especificamente para proces- sar essa cana cuja composição deverá conter até 25% a mais de fibras, diferentemente das canas “macias” hoje esmagadas em nossas moendas. Ricardo acredita que, com a nova cana, entre outras tecnologias, em dez anos, poderemos contar com o dobro da produtividade hoje obtida nos canaviais brasileiros.

A BP, nascida British Petroleum, foi representada pelo seu Gerente de Tecnologia, Ian Dobson. O execu- tivo apresentou, em suma, a visão de sua empresa sobre o uso de energias renováveis. A BP é uma das maio- res empresas do mundo na área de exploração, refino e distribuição de combustíveis de origem fóssil e tam- bém foi pioneira quanto a inserir em seu planejamento estratégico uma visão de negócios atrelada a energias alternativas, como a solar, a eólica e, principalmente, os biocombustíveis.

A BP desenvolve parcerias com empresas e institui- ções, visando ao fomento dos combustíveis renováveis. Na Europa, por exemplo, trabalha junto com a DuPont nas pesquisas do biobutanol. Segundo a BP, a vanta- gem do butanol é a de se constituir um combustível com valor energético próximo ao da gasolina, também facilmente transportável por meio de dutos e igualmen- te funcional quanto à possibilidade de misturar-se em qualquer proporção à gasolina. Esse último atributo do butanol, de acordo com a BP, faz com que seu uso seja viabilizado em países nos quais o etanol ainda não che- gou, como os do hemisfério Norte.

A BP, por fim, disse acreditar que o butanol também poderá encontrar seu lugar na matriz de combustíveis renováveis do Brasil, no futuro. E, por falar no merca- do doméstico, a BP já fez aqui seus primeiros investi- mentos na produção de etanol, com a aquisição de 50% de participação acionária na usina Tropical BioEnergia, no município de Edeia, em Goiás, originalmente em parceria com os grupos Maeda e Santelisa Vale.

Com a produção anual da ordem de 435 milhões de litros de etanol em duas unidades industriais, a BP, de cara, dá uma clara demonstração de sua disposição quanto a investir no setor. Ao mesmo tempo, refor- ça a nossa visão em relação à confiança das grandes empresas no potencial de mercado para as energias renováveis.

Pelo entusiasmo dos palestrantes e da plateia, perce- beu-se um grande interesse nos assuntos debatidos nes- se painel. Ficou evidente para mim, como moderador dos trabalhos, que houve grandes avanços no mercado mundial de energias renováveis de 2007 - quando ocor- reu o primeiro Ethanol Summit, para cá. Na próxima edição do evento, marcada para 2011, é muito prová- vel que já tenhamos resultados concretos a partir das primeiras plantas de etanol celulósico em operação no mundo, em larga escala.

Nilson Zaramella Boeta, Superintendent Director of Sugarcane Plantation Technology Center (CTC)

To set up a panel to allow a broad overview of efforts currently being undertaken by the main participants in the second generation ethanol race was one of the challenges proposed by the 2009 Ethanol Summit. To that end, we were able to congregate representatives of four world heavyweights in research on that theme: Novozymes, British Petroleum, Monsanto and CTC Centro de Tecnologia Canavieira (Sugarcane Plantation Technology Center).

I had the pleasure of acting as the mediator of this panel and I tried to obtain from the participants the more important information about progress in research, particularly with respect to what one actually expects in terms of making this technology and its results feasible.

Steen Riisgard, CEO of Novozymes, opened the panel with a presentation on progress the company has made in developing enzymes suitable for the conversion of several biomasses. Novozymes operates internationally in several established strategic partnerships, positioning itself in the key markets (United States, Europe, China and Brazil) as a technological partner to render second generation ethanol feasible at competitive prices.

In recent years, Novozymes was funded by the U.S. government to accelerate its research, and has played an important role in developing microorganisms that interfere in the efficient separation of the several components of pulp, in a short time period.

Steen reported that, in the case of cellulose from corn, Novozymes will be able to reduce, to approximately one third, the quantity of enzymes necessary to produce a gallon of ethanol, beginning as soon as 2010. This will, for example, allow the cost of a gallon of ethanol from biomass to be comparable to that produced from cornstarch, at a level of US$ 2.

Even if that amount is insufficient to assure the competitiveness of ethanol from corn in the Brazilian market – because the costs of ethanol extracted from sugarcane by conventional methods are approximately 30% lower −, Novozymes is also confident that there will soon be a significant cost reduction in obtaining second generation ethanol from sugarcane. For this to become a reality, the company employs a staff of almost 150 scientists.

Actually, in Brazil, Novozymes operates in partnership with CTC – Centro de Tecnologia Canavieira (Sugarcane Plantation Technology Center) – in the quest for the best technological combination. This association tends to generate, in the near future, a solution capable of integrating second generation ethanol to the production of industrial units operating in Brazil.

The second speaker was Ricardo Madureira, the President of Canavialis, a genetic research company that was recently acquired by multinational corporation Monsanto. Madureira covered the history of Canavialis, emphasizing the areas of activity that are expected to generate competitive advantages for its products in coming years. The highlights of the presentation were sugarcane varieties resistent to hydric stress, which will be highly valuable for regions such as the Midwest, where the expansion of new mills sets the new frontier of the sugar-alcohol industry. The availability of varieties with higher saccharose content, will be essential for increasing the productivity of the sugarcane plantations, emphasizes the Monsanto executive.

Another of the company’s bets focuses on the development of varieties resistant to insects – mainly the sugarcane worm, which is related to transgenic methods and uses the ”Bt” gene. Another objective of Canavialis is to generate varieties with a larger quantity of fibers, because, in the future, with the feasibility of competitively selling pulp to generate ethanol, we might, in theory, reach viable results without sacharose operating as the main raw material.

But, to that end, one must bear in mind that a new mill design, different from the current one, will need to be developed, specifically to process this sugarcane, whose composition is expected to contain up to 25% more fibers, unlike the “soft” canes nowadays being crushed in our crushing mills. Madureira believes that, with the new cane, and other technologies, in ten years, we might achieve twice the productivity currently obtained in Brazilian sugarcane plantations.

BP, short for British Petroleum, was represented by its Technology Manager, Ian Dobson. The executive made a summarized presentation of his company’s view on the use of renewable energy. BP is one of the world’s largest companies in the area of exploration, refining, and distribution of fossil fuel and also pioneered the inclusion in its strategic planning of a business vision tied to alternative energy, such as solar, wind power and mainly biofuel. BP develops partnerships with companies and institutions, aimed at fostering renewable fuel.

In Europe, for example, the company cooperates with DuPont in biobutanol research. According to BP, the advantage of butanol is that it constitutes a fuel with an energy value close to that of gasoline, which is also easily transportable through pipelines and equally functional with respect to being mixable with gasoline in any proportion.

This latter attribute, according to BP, allows its use in countries in which ethanol is not yet used, such as those of the northern hemisphere. Finally, BP stated that it believes that butanol too will find its place in the renewable fuel matrix in Brazil, in the future.

Speaking about the domestic market, BP has already effected its initial investiments in the production of ethanol, by acquiring a 50% equity share in Tropical BioEnergia, in the municipality of Edeia, in the State of Goiás, originally in partnership with the Maeda and Santelisa Vale groups.

With an annual production of 435 million liters of ethanol in two industrial plants, BP offhand clearly shows its willingness to invest in the industry. At the same time, the company reinforces our view with respect to the confidence of large companies in the market potential for renewable energy.

Based on the enthusiasm of the speakers and the question and answer session that followed, one could note the big interest of invitees in the debate, an aspect later reinforced by the excellent coverage the press gave the matter.

It became apparent to me, in my capacity as coordinator of the work, that major progress was made in the world’s renewable energy market since 2007 – when the first Ethanol Summit took place – until now. In the next edition of the event, scheduled for 2011, it is highly likely that we will already have concrete results from the first cellulosic ethanol plants in operation in the world, on a large scale.

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