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As cadeias produtivas da cana e floresta

as complementaridades das cadeias produtivas da cana e de florestas plantadas

Reconhecemos hoje que o consumo energético mundial está baseado numa matriz insegura, cara e ambientalmente insustentável, sobretudo em decorrência do uso de combustíveis fósseis, que agravam ainda mais os problemas causados pelas emissões dos gases de efeito estufa.

Apesar de haver consenso quanto a esses problemas e suas implicações de médio e longo prazos, a produção e o uso de biocombustíveis, uma alternativa aos combustíveis derivados do petróleo, a partir de diferentes biomassas, têm sofrido severas críticas quanto à competição com a produção de alimentos e por causarem mudanças diretas e indiretas no uso do solo, por exemplo. O Brasil encontra-se numa situação privilegiada nesse cenário, pois a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar tem servido de modelo para produção de biocombustíveis para outras partes do mundo, ao mesmo tempo em que temos batido recordes sucessivos de produção de alimentos, além, é claro, de termos uma matriz energética suprida em 46% de fontes renováveis. Nos dez últimos anos, a produtividade média das principais culturas agrícolas no Brasil cresceu aproximadamente 23%, sendo que, para milho e feijão, observamos um aumento de 60% e 35%, respectivamente. A produção dessas mesmas culturas cresceu cerca de 40% no mesmo período. Esses números refletem aumentos expressivos, tanto em ganho de produtividade como em produção.

Esses dados têm reforçado a posição de liderança mundial do país na produção de alimentos, ao mesmo tempo em que conciliamos de forma sustentável a produção e expansão da cana-de-açúcar, que, no mesmo período, mostrou ganhos de produtividade de 14% e de produção de 70%, aproximadamente. Foram necessários anos de investimentos em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação nas atividades de produção agrícola e industrial, que possibilitaram esses saltos de produtividade incomuns entre os maiores produtores de alimentos e bionergia do mundo. Além de servir como modelo para conciliar a produção de alimentos com a bioenergia, o Brasil ainda tem excelentes vantagens competitivas para fazer uma ponte tecnológica para novas e mais limpas fontes de energia e, ainda por cima, contribuir com a produção de alimentos para o mundo.

Modelos de integração da produção de alimentos, cana e florestas plantadas já adotados em algumas regiões do Brasil podem ser aprimorados ainda mais e expandidos, considerando que, no caso da cana e das florestas plantadas, há similaridades que podem ser mais exploradas porque: a. essas cadeias podem explorar complementarmente o potencial brasileiro de solo e clima; b. possuem uma enorme viabilidade em relação à obtenção de créditos ligados aos mercados de carbono; c. o desenvolvimento de atividades ligadas à produção de insumos, equipamentos e de tecnologia para suas produções têm uma mesma base referencial, fortemente atrelada às ciências agrárias e florestais; d. para sua produção, a cana-de-açúcar tende a ocupar áreas mais planas, enquanto a produção florestal madeireira se adapta perfeitamente a outros tipos de terreno; e. no caso da cana, o atendimento principal ocorre junto ao setor de transporte, no momento em que o etanol se destaca como o seu derivado energético mais importante, associado ainda ao grande potencial energético da sua biomassa sólida residual, representada pelo bagaço. No caso das florestas de madeira, suas principais utilizações energéticas estão voltadas para o atendimento da demanda energética industrial, com destaque para produção de aço, na qual ela é empregada na forma de carvão vegetal. Importantíssima demanda energética é ainda atendida pela madeira como fonte de calor, para a secagem e processamento de produtos agrícolas e, finalmente, no atendimento da demanda de dezenas de milhões de pessoas, que a usam no cozimento de alimentos, e f. existem muitas similaridades em termos de tradição, uso e opções tecnológicas para a obtenção de produtos energéticos a partir da cana e da madeira, estendendo-se aos processos de hidrólise, fermentação, pirólise, gaseificação, combustão, liquefação, etc.

Temos a plena convicção de que, caso essas complementaridades sejam adequadamente exploradas, essas cadeias podem influenciar positivamente uma política estratégica comum em bioenergia para o Brasil, que, planejada adequadamente, não impactaria na contínua produção de alimentos de forma sustentável para o nosso país, e ainda poderíamos continuar a suprir as demandas mundiais de proteínas, alimentos e energia.

" o Brasil tem uma situação privilegiada, modelo para o mundo: o etanol de cana na produção de biocombustíveis, recordes sucessivos de produção de alimentos e uma matriz energética suprida em 46% por fontes renováveis "

Weber Antônio Neves do Amaral Professor de Melhoramento Florestal da Esalq-USP

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Opportunities for the production of food and bioenergy and the complementarity of sugarcane production chains and planted forests

Weber Antônio Neves do Amaral, Professor of the Luiz de Queiroz Higher School of Agriculture – University of São Paulo

We nowadays acknowledge that the world’s energy consumption is based on an unsecure, costly and environmentally unsustainable matrix, particularly due to the use of fossil fuels that further enhance the problems caused by greenhouse gas emissions.

Although there is consensus concerning these problems and their medium and long term implications, the production and use of biofuel, an alternative to fuel derived from petroleum, and obtained from different biomasses, has been heavily criticized with respect to its competing with the production of food, and because it causes direct and indirect changes to the use of soil, for instance. Brazil is in a privileged situation in this scenario, since the production of ethanol from sugarcane has served as a model for the production of biofuel in other parts of the world, while at the same time having broken successive food production records, obviously in addition to the fact that our energy matrix comprises 40% of renewable sources.

In the past ten years, the average productivity of the main agricultures in Brazil grew approximately 23%, whereas for corn and beans one noted increases of, respectively, 60% and 35%. The production of these same cultures grew approximately 40% in the same period. These numbers reflect expressive increases, both in terms of productivity and production.

This data has reinforced the country’s leading position in the world in the production of food, while at the same time reconciling, in a sustainable manner, the production and expansion of sugarcane, which, in the same period, showed productivity gains of approximately 14% and production increases of 70%.

Years of investment in research, technological development and innovation were necessary in agricultural and industrial production activities, which allowed these uncommon productivity leaps among the largest food and bioenergy producers in the world.

Apart from serving as a model to reconcile the production of food with that of bioenergy, Brazil still has excellent competitive advantages to build a technological bridge to newer and cleaner energy sources and, additionally, to contribute to the production of food for the world.

Models for the integration of the production of food, sugarcane and planted forests already adopted in some regions of Brazil can be improved even more and expanded, taking into consideration that, in the case of sugarcane and planted forests, there are many similarities that can more easily be explained because: a. these chains can complement the exploitation of the Brazilian potential of soil and climate; b. they are greatly feasible with respect to obtaining credits associated with carbon markets; c. the development of activities related to the production of inputs, equipment and technology for their production has the same reference base, strongly associated with agrarian and forest sciences; d. for its production, sugarcane tends to occupy flat areas, whereas timber production is perfectly adaptable to other kinds of terrain; e. in the case of sugarcane, the main focus is on transportation, at a time when ethanol stands out as its most important energy derivative, and furthermore, in combination with the huge energy potential represented by its residual solid biomass - bagasse. In the case of wood forests, their main energy utilizations aim at meeting industrial energy demand, with emphasis on steel production, in which it is used in the form of charcoal. Another important form of energy demand is wood used as a source of heat, for drying and processing agricultural produce and, lastly, for meeting the demand of millions of people who use it for cooking food, and f. there are many similarities in terms of the tradition, use and technological options to obtain energy products from sugarcane and wood, including hydrolysis, fermentation, pyrolysis, gasification, combustion, and liquefaction processes, among others.

We are absolutely convinced that if these complementarities are adequately explored, these chains can positively influence a common strategic bioenergy policy for Brazil, which, if adequately planned, would not impact the continued sustainable production of food for our country, and one could continue to meet worldwide demand for protein, food and energy.

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