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As novas tecnologias e a sustentabilidade

ethanol summit 2009 as novas tecnologias e a sustentabilidade

A introdução de novas tecnologias é fator de avanço em qualquer setor da economia, e não podia ser diferente no setor sucroenergético, que emprega hoje mais de 840 mil pessoas em todo o país, envolve 70 mil fornecedores e mo- vimenta R$ 45 bilhões de faturamento bruto por ano. O uso crescente de novas tecnologias nos processos de plantio, colheita e fabricação do etanol e do açúcar, assim como o desenvolvimento de bioprodutos que ampliam a produtivi- dade e reduzem a emissão de gases de efeito estufa - GEE, prometem mudar completamente o cenário do setor e pro- mover ainda mais desenvolvimento de forma sustentável.

Durante o Ethanol Summit, dois especialistas aborda- ram esse tema no painel “Focando em sustentabilidade: novas tecnologias na indústria de Biocombustíveis”, no qual fui moderadora.

Daniel Ibraim Pires Atala, pesquisador do Centro de Tecnologia Canavieira - CTC, falou sobre o processo de fermentação extrativa e sua contribuição para a sustentabi- lidade do setor. Trata-se de um processo patenteado, em de- senvolvimento no CTC em parceria com a Unicamp, o qual retira o etanol à medida que ele é produzido, eliminando o seu efeito inibidor sobre a levedura durante o processo de fermentação. O novo processo irá operar com uma redução do volume de vinhaça, possibilitar instalações mais compactas e econômicas, reduzir o consumo de água para resfriamento das dornas e diminuir a necessidade de investimento em equipamentos. O processo extrativo apresentado pelo pesquisador do CTC traz vantagens econômicas e ambientais significativas para o setor. Ele equivale a um processo tradicional com teor de etanol de 20°GL, possibilitando a redução de até 75% da produção de vinhaça, que passa de uma média de 12 litros por litro de álcool, atualmente, para 3 litros/litro de álcool. A redução esperada é de 20% no consumo de água de resfriamento das dornas de fermentação, e a redução no consumo de vapor para o processo de destilação é de 75%.

" a inovação e o desenvolvimento das novas tecnologias são esforços concretos na trilha da sustentabilidade do setor sucroenergético, com uma visão estratégica que antecipa as demandas e tendências "

Maria Luiza Barbosa Gerente de Responsabilidade Social Corporativa da Unica

Esse processo, ainda em desenvolvimento, será acoplado às usinas existentes com pequenas modificações nas instalações. Pelo cronograma do CTC, esse modelo será testado por meio de uma planta piloto a ser instalada no segundo semestre deste ano, com início dos experimentos em 2010, e a instalação de uma planta de demonstração em 2011.

A apresentação realizada por José Luiz Olivério, Vice-presidente de Tecnologia e Desenvolvimento da Dedini, mostrou a evolução ocorrida nas usinas produtoras de açúcar e etanol, assim como as novas tecnologias disponíveis e potenciais para o processamento da cana-- -de-açúcar nas unidades produtivas, com o objetivo de mostrar seus efeitos na redução das emissões de GEE.

No contexto atual, o mundo está emitindo uma grande quantidade de gases de efeito estufa, provocando o aquecimento global, principalmente pelo consumo de combustíveis fósseis. Nesse sentido, toda solução que proporcione a redução de emissão de GEE deve ser priorizada, visando à viabilidade econômica e à sustentabilidade social e ambiental.

Os novos projetos que estão sendo desenhados pela Dedini procuram destacar a importância da sustentabilidade, através da introdução de bioprodutos, que a empresa denomina de “A revolução 6 Bios” - bioaçúcar, bioetanol, bioeletricidade, biodiesel, biofertilizantes e bioágua, integrando-os de forma que potencialize a viabilidade social, ambiental e econômica. Essa evolução tecnológica é apresentada por meio da análise do ciclo de vida da produção do etanol, considerando os equivalentes de emissão de CO 2 nas diversas etapas do ciclo: produção e processamento da cana-de-açúcar, distribuição e uso do etanol. A absorção, redução ou evitação das emissões também são contempladas, possibilitando o cálculo do balanço completo de emissões diretas na produção e uso do etanol de cana-de-açúcar.

Como resultado, são apresentados 3 estágios de evolução, conforme a introdução de novas tecnologias, partindo-- -se do aumento da produtividade – mais litros de etanol da mesma quantidade de cana, uso de sistemas mais eficientes de geração de excedente de energia elétrica, uso de 50% de palha como energético, uso de biofertilizante, substituindo o fertilizante mineral de origem fóssil, uso de biodiesel (5% nos caminhões e 30% nos tratores), substituindo o diesel. Considera-se ainda o uso de 100% de palha como energético e a substituição de 100% do diesel utilizado na usina por biodiesel. Em cada estágio, são apresentados os benefícios gerados em relação à mitigação dos GEE, e as emissões líquidas evitadas em relação às emissões geradas. Os resultados são apresentados por meio da comparação com as emissões da gasolina, ou seja, 2.280 kg de CO 2 /m 3 de etanol anidro equivalente. O uso do etanol produzido na usina de referência (tradicional) evita a emissão de 2,02 kg de CO 2 /m 3 de etanol anidro equivalente, com a mitigação de 89% das emissões diretas comparadas com as da gasolina (usina tradicional). Em seguida, com a introdução de novas tecnologias, a Usina Sustentável Dedini - USD, no estado-da-arte, ou seja, com tecnologias disponíveis comercialmente já incorporadas, com aumento da produtividade e da geração de excedente de energia elétrica, passando de 9,2 MW para 50,7 MW; introdução do biodiesel integrado à usina para substituição de 5% do diesel consumido pelos caminhões e 30% do diesel consumido pelos tratores; e com a introdução do Biofom - biofertilizante organomineral, substituindo grande parte do uso de fertilizantes minerais, mais o uso otimizado da água contida na própria cana (bioágua), evitam-se 2,56 kg de CO 2 /m 3 de etanol anidro equivalente, ou seja, mitigam-se 112% das emissões (USD, estado-daarte). Com a utilização de 50% de palha como energético, a USD, num futuro próximo, alcançará a emissão evitada de 3,02 kg de CO 2 /m 3 de etanol anidro equivalente, com a mitigação de 132% das emissões (USD, futuro próximo).

Com a introdução de 100% de palha como energético e a substituição de 100% do diesel utilizado pelo bio- diesel, a USD terá o potencial de evitar emissões de 5,0 kg de CO 2 /m 3 de etanol anidro equivalente, mitigando 219% das emissões (USD potencial).

Uma usina tradicional (referência) evita 2,02 kg de CO 2 equivalente/litro de etanol anidro equivalente ou mitiga 89% das emissões geradas pela gasolina. Com a introdução de novas tecnologias disponíveis na USD, no estado-da-arte, mitiga-se a emissão de 2,56 kg de CO 2 / litro de etanol anidro equivalente ou 112% de emissões geradas pela gasolina.

Como potencial da USD, utilizando-se 100% da pa- lha como insumo energético e substituindo-se 100% do óleo diesel pelo biodiesel, com o uso dos 6 Bios, evitam-- -se 5,00 kg de CO 2 /litro de etanol anidro equivalente ou 219% em relação às emissões da gasolina.

A inovação e o desenvolvimento das novas tecnologias são esforços concretos na trilha da sustentabilidade do setor sucroenergético, com uma visão estratégica que antecipa as demandas e tendências.

As empresas do setor valorizam e reconhecem a sustentabilidade como um processo de melhoria contínua nas áreas socioambientais, dando também a devida importância ao retorno financeiro diferenciado.

Maria Luiza Barbosa, Manager of Corporate Social Responsibility of the Brazilian Sugarcane Industry Association (UNICA)

The introduction of new technologies is a factor for progress in any economic sector, and this could be no different in the sugar-energy industry, which currently employs more than 840,000 people throughout the country, involves 70,000 suppliers and generates R$ 45 billion in gross revenues per year. The increasing use of new technologies in the processes of planting, harvesting and producing ethanol and sugar, as well as the development of bioproducts that enhance productivity and reduce greenhouse gas emissions, promise major changes in the industry that will promote even more sustainably achieved development.

In the beginning of June, at the Ethanol Summit, two experts covered this theme – under my moderation – during the panel discussion “Focusing on Sustainability: New Technologies in the Biofuels Industry”.

Daniel Ibraim Pires Atala, a researcher at the Center for Sugarcane Technology, or CTC, addressed the extractive fermentation process and its contribution to the industry’s overall sustainability.

This is a patented process, under development at the CTC in partnership with the University of Campinas (UNICAMP), in which ethanol is extracted as it is produced, eliminating its inhibiting effect on yeast during the fermentation process. The new approach operates with a reduction in the volume of vignasse, allowing for more compact and economic installations, a reduction in cooling water consumption in the tanks and in equipment costs.

The extraction process presented by the CTC researcher has significant economic and environmental advantages for the industry. It is equivalent to a traditional process with a 20°GL ethanol content, allowing for a 75% reduction in the production of vignasse, from an average of 12 down to 3 liters per liter of ethanol produced. The expected reduction in the fermentation tanks’ cooling water is 20%, while the reduction in steam consumption for the distillation process is 75%. This process, still under development, will be incorporated into existing mills with minor changes to existing installations.

According to CTC’s schedule, this model will be tested in a pilot mill to be set up in the second half of this year, with experiments beginning in 2010 and a demo plant to follow in 2011.

The presentation brought to the 2009 Ethanol Summit by José Luiz Olivério, Vice-president of Dedini, showed the technological progress achieved in sugar and ethanol production mills, as well as new available and potentially available technologies for processing sugarcane. The objective was demonstrating the effects of these technologies in the reduction of greenhouse gas emissions.

In the current scenario, the world is emitting large volumes of greenhouse gases and causing global warming, mainly because of the consumption of fossil fuels. Therefore, any solution that brings about the reduction of greenhouse gas emissions must be prioritized, for the sake of economic feasibility and social and environmental sustainability. Dedini has developed new technologies to mitigate these emissions.

New projects being designed by Dedini seek to emphasize the importance of sustainability by introducing bioproducts, which the company refers to as “The 6 bios’ revolution”: biosugar, bioethanol, bioelectricity, biodiesel, biofertilizers and biowater, integrating them in a manner that leverages their social, environmental and economic feasibility.

This technological evolution is best presented through a lifecycle analysis of ethanol production, considering CO 2 emission equivalents in the various cycle phases: sugarcane production, sugarcane processing, ethanol distribution and use. The absorption, reduction or avoidance of emissions are also foreseen, allowing for the calculation of the entire balance of direct emissions in the production and use of ethanol made from sugarcane.

As a result, three development stages are presented, each referring to the introduction of a technological innovation that leads to an increase in productivity – more liters of ethanol from the same amount of sugarcane, the use of more efficient systems to generate electric power surpluses, the use of 50% of sugarcane straw as a source of energy, the use of biofertilizers, the replacement of mineral fossilbased fertilizers, the use of biodiesel (5% in trucks and 30% in tractors) replacing diesel. Using 100% of sugarcane straw as a source of energy and replacing 100% of the diesel used at the mill with biodiesel are also considered.

In each stage, the benefits produced with respect to the mitigation of greenhouse gas emissions are presented, along with the reduction in net emissions generated. Results are shown in a comparison with gasoline emissions, i.e., 2,280 kg of CO 2 /m 3 of equivalent anhydrous ethanol. The use of ethanol produced at the reference mill (traditional) reduces emissions by 2.02 kg of CO 2 /m 3 of equivalent anhydrous ethanol, with the mitigation of 89% of direct emissions compared to those from gasoline (traditional mill).

After that, with the introduction of new technologies, the state-of-the-art USD (from Portuguese: Dedini Sustainable Mill), with available technologies already incorporated, the increase in productivity and the generation of electric power surpluses, from 9.2 MW to 50.7 MW; the introduction of biodiesel at the mill to replace 5% of the diesel consumed by trucks and 30% of the diesel consumed by tractors; and with the introduction of Biofom – organic-mineral biofertilizer, replacing most of the mineral fertilizers used, plus the optimized use of the water contained in sugarcane itself (biowater), one can avoid 2.56 kg of CO 2 /m 3 of equivalent anhydrous ethanol, in effect mitigating 112% of the emissions (state-of-the-art USD).

With the use of 50% of sugarcane straw as a source of energy, in the near future the USD will attain emission reductions of 3.02 kg of CO 2 /m 3 of equivalent anhydrous ethanol, with the mitigation of 132% of emissions (near future USD).

With the introduction of 100% of sugarcane straw as a source of energy and the replacement of 100% of the diesel used by biodiesel, potential emission reductions by USD’s will rise to 5.0 kg de CO 2 /m 3 of equivalent anhydrous ethanol, mitigating 219% of emissions (potential USD). A traditional mill (reference) avoids 2.02 kg of CO 2 equivalent/liter of equivalent anhydrous ethanol, or mitigates 89% of emissions generated by gasoline.

With the introduction of available new technologies in the USD, in the state-of-the-art alternative, one mitigates the emission of 2.56 kg of CO 2 /liter of equivalent anhydrous ethanol or 112% of emissions generated by gasoline.

In the potential USD alternative, using 100% of sugarcane straw as a source of energy and replacing 100% of diesel oil with biodiesel, plus the use of the 6 bios (biosugar, bioethanol, bioelectricity, biodiesel, biofertilizer and biowater), one avoids 5.00 kg of CO 2 /liter of equivalent anhydrous ethanol or 219% of emissions generated by gasoline.

The innovation and the development of new technologies are concrete efforts on the path to sustainability in the sugar-energy industry, with a strategic vision that anticipates demands and trends.

Companies in the industry value and recognize sustainability as a continuous improvement process in socioenvironmental areas, without losing sight of the need to pursue positive financial results.

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