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Sucesso

sOpiniões Sustentabilidade é hoje palavra indispensável quando se formulam programas ou ações através dos quais se pretende acessar novos mercados, principalmente de países desenvolvidos e para os quais se exige competitividade inquestionável. O etanol do Brasil, produto de grande sucesso, hoje, é parte de um programa de goverque todos consideramos temporárias. E até mesmo em razão dessas dificuldades, fizemos questão de enfocar a importância de se obter as indispensáveis sustentabilidades sociais e ambientais, de modo a continuarmos a merecer também a, muito necessária e pouco mencionada, sustentabilidade política. Talvez, hoje, pouco mencionada por a termos de modo claro e explícito. Apoio governamental só se requer quando nos falta, e o Governo do Presidente Lula não tem se omitido no desenvolvimento do Programa de Agroenergia, que se tornou, inclusive, parâmetro para ações junto a países em desenvolvimento em regiões propícias à produção ucesso ethanol summit 2009 no, que envolve vários ministérios de cana-de-açúcar. O ETANOL, assim escrito com lee organizações públicas, e que, por sua tras maiúsculas, não por acaso, tornou-se instrumento enorme importância estratégica, conta com a coordenade relações internacionais, na certeza de que, para alção da Presidência da República e, muitas vezes, com a cançarmos novos mercados, exigem-se mais parceiros participação direta do próprio Presidente Lula. na produção e a demonstração de que esse produto po

Evidentemente, a medida desse sucesso pode ser de ser fator de desenvolvimento, geração de renda e obtida mediante a utilização de inúmeros parâmetros, emprego em regiões hoje carentes nesses aspectos. de forma que, neste momento, em que a lucratividade O investidor, os empresários e os agricultores acredas empresas e dos produtores de cana apresenta-se ditaram e continuam acreditando no futuro da energia bastante baixa ou até inexistente, esse sucesso pode gerada a partir da cana-de-açúcar. Mais ainda, acrediaté ser questionado. Mas, quando se pensa em cons- tam nos negócios a partir da cana, fonte de biomassa truir o futuro em bases sólidas, buscando a sustenta- que se mostra com um enorme potencial econômico, bilidade em termos sociais, ambientais e econômicos, seja através do etanol combustível de primeira geração, procurando o acesso a mercados, aproveitando-se das seja através do açúcar, do etanol para a indústria quími- chamadas “externalidades” do produto, a lucrativida- ca, dos biopolímeros, do uso de etanol nos motores de de atual passa a ser um “detalhe”. ciclo Diesel, da cogeração de energia pela utilização do

Detalhe importante, é verdade, mas que deve ser bagaço da cana, do etanol de segunda geração ou ainda contraposto às perspectivas futuras da atividade, na cer- do diesel obtido do caldo da cana. teza de que as dificuldades hoje existentes serão venci- Esse fantástico potencial da cana, já tão bem explo- das pelo trabalho incansável de todos que se dedicam rado com tão pequena utilização das produtivas terras a esse programa. O Ethanol Summit retratou bem esse brasileiras, gerará cada dia mais riqueza e proporcio- ambiente de otimismo, mesmo diante das dificuldades, nará enormes ganhos ambientais ao país, principal-

" O sucesso não é apenas uma constatação, um desejo continuado. Deve ser também um compromisso de todos, a justificar esse notável esforço da sociedade brasileira, que certamente a distinguirá no futuro ainda mais que já o faz hoje. "

Manoel Vicente Fernandes Bertone Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura

mente caso consigamos melhorar nossas condições de competitividade e demonstrar adequadamente nossa sustentabilidade. E as ações governamentais para esse fim, praticamente todas em curso, são fundamentais. A questão do trabalho rural, que tem de se realizar de forma digna, cumprindo a já adequada legislação brasileira e permitindo que cada dia mais o trabalho direto seja direcionado a atividades menos extenuan- tes; a gradativa eliminação da queima da cana, que atende objetivos ambientais e sociais; a governança sobre a utilização do solo, através do zoneamento da expansão da cana-de-açúcar cujo trabalho técnico se encontra concluído e em fase de decisão política; a elaboração de padrões de referência e da iniciativa de um programa de certificação que atenda concomitan- temente os interesses brasileiros e de nossos clientes; a promoção comercial e a atração de investimentos; o esforço de ampliação do mercado e da oferta de bio- combustíveis, tema que nos tem mobilizado intensa- mente junto a países africanos e latino-americanos; o estabelecimento de um marco legal que traga maior segurança jurídica e permita o maior afluxo de inves- timentos, inclusive em atividades hoje ainda apenas projetadas, tais como os dutos para transporte da pro- dução e redes de distribuição de energia compatíveis com os planos de expansão do setor para áreas pre- viamente consideradas adequadas para a atividade se- gundo o zoneamento da expansão do setor.

Evidentemente essa rápida relação de pontos im- portantes não esgota os desafios que temos a enfren- tar. Tanto eu, na qualidade de representante do Mi- nistro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Rei- nhold Stephanes, quanto Carlos Cristo, que, no painel de encerramento do Ethanol Summit, representou o Ministro do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior, Miguel Jorge, demonstramos reconhecer essas necessidades e nosso entusiasmo com esses desafios.

Demonstramos nossa satisfação com a possibilidade de atendermos objetivos econômicos, sociais e ambientais com um mesmo programa. Mas, além de nós, assim também se pronunciaram, no Ethanol Summit, outros importantes membros do Governo Federal, como a própria Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, confirmando as ações diárias dos ministérios de Relações Exteriores, de Minas e Energia, do Trabalho, do Meio Ambiente, de Ciência e Tecnologia, de nossas empresas, institutos, agências e instituições financeiras, como a Embrapa, Conab, Apex, ABDI, Inmetro, BNDES, Banco do Brasil.

Temos procurado contribuir de forma ativa e prática para o efetivo sucesso da atividade, mediante ações coordenadas com a iniciativa privada, seguindo a clara direção do Presidente da República e de todos os ministérios envolvidos. E, com tudo isso, faltanos coroar o esforço com o indispensável lucro, com a viabilidade econômica, cuja falta pode colocar em risco a adequada evolução de um projeto vencedor.

Abrir mercados, estreitar nossa relação com o benéfico concorrente etanol de milho norte-americano, esperar que se conclua a contento um doloroso processo de consolidação do setor, que se coordene melhor o crescimento da oferta com o crescimento da demanda, que se instituam relações ou contratos de longo prazo entre produtores e distribuidores, que possam garantir menor risco à atividade e maior possibilidade de re- torno aos investidores, são desafios presentes.

De produtores agrícolas passamos a produtores de energias. Etanol e energia elétrica gerada pelo bagaço da cana apresentam condição diversa de co- mercialização.

Enquanto o primeiro é mercadoria agrícola, o se- gundo é energia. Enquanto o primeiro se vende por preço “do minuto”, o segundo se contrata através dos leilões de energia, como se contrata energia de hidre- létricas ou de usinas nucleares.

Mas ambos exigem investimentos de longo prazo, cuja rentabilidade futura depende de fatores difíceis de se prever. E ambos se revestem de importância es- tratégica que requer certa garantia de fornecimento futuro, de abastecimento seguro, sem a qual o Estado também pode não se sentir seguro.

E, considerando nosso esforço para a abertura de mercados externos, o que exigirá logística diferencia- da e também contratos de longo prazo com empresas de terceiros países, cabe-nos perguntar se o necessário marco regulatório deve nos assegurar melhores condi- ções a respeito.

Como se tratará a estabilidade do percentual de mistura de álcool anidro na gasolina ao longo do tem- po, como se disciplinará a cobrança pelo uso de dutos a serem construídos garantindo investidores e usuá- rios, como se evitarão eventuais constrangimentos e negócios na exportação, caso a oferta seja insuficiente por algum motivo independente da vontade dos produtores? Muitas questões ainda devem ser melhor analisadas nesse programa de indiscutível sucesso. Questões que exigirão que a ação do Estado se coordene e se compatibilize com os interesses dos produtores e investidores.

Participei do painel de encerramento do Ethanol Summit, que congregou representantes de diversos segmentos empresariais, governamentais e científicos, que, embora defendendo diferentes posições e pensamentos, tinham em comum o absoluto envolvimento e comprometimento com o setor. De maneira geral todos demonstraram otimismo e ciência das responsabilidades que cabem a cada um para levar avante este megaprojeto, que tem impressionado o mundo da energia.

O sucesso não é apenas uma constatação, um desejo continuado. Deve ser também um compromisso de todos, a justificar esse notável esforço da sociedade brasileira, que certamente a distinguirá no futuro ainda mais que já o faz hoje.

O Brasil pode se orgulhar de produzir um combustível limpo, em condições de sustentabilidade que evolui e evoluirá ainda mais, que, por ser renovável, garantirá a nós maior soberania nacional e, por ser socialmente adequado e regionalmente disperso, irradiará desenvolvimento e contribuirá para a paz social, no Brasil e no mundo.

Sucesso é o que verificamos hoje e o que desejamos para o futuro do etanol.

Manoel Vicente Fernandes Bertone, Secretary of Production and Agroenergy of the Ministry of Agriculture

Sustainability nowadays is an essential word in the formulation of programs or initiatives through which one intends to access new markets, mainly the markets of developed countries, for which unquestionable competitiveness is required.

Brazilian ethanol, a product of great success, nowadays is part of a government program that involves several ministries and public organizations, which, due to its enormous strategic importance, is coordinated by the Office of the Presidency of Brazil, and quite often President Luiz Inácio Lula da Silva himself directly participates in the program.

Evidently, this success can be measured using innumerous parameters, in such a manner that currently, when companies’ and sugarcane planters’ profitability is quite low or even non-existent, success may actually be doubted. However, when one thinks of building the future on solid bases, seeking sustainability in social, environmental and economic terms, along with access to markets, while taking advantage of the product’s so called “externalities”, current profitability becomes a mere “detail”. Obviously, this is an important detail, which must, however, be contrasted with the activity’s future prospects, in the firm belief that current difficulties will be overcome by the relentless work efforts of all parties dedicated to this program. The Ethanol Summit very well reflected this environment of optimism, even in view of the adversities, which we all considered temporary. Even as a result of these adversities, we insisted on focusing on the importance of achieving the undispensable social and environmental sustainabilities, so as to continue to also deserve the much needed and little mentioned political sustainability. Little mentioned these days, perhaps because we clearly take it for granted. Governmental support is only required when we lack it, and the government of President Lula has not omitted itself in developing the Agroenergy Program, which has actually become a parameter for initiatives in developing countries, in regions suited for sugarcane production. Ethanol became an instrument of international relations, under the certainty that to conquer new markets, additional partners are needed for the production and for showing that this product may be a factor for development, generation of income and the creation of jobs in needy regions, in that respect.

Investors, entrepreneurs and farmers believed and continue to believe in the future of energy generated from sugarcane. Actually, they do more than that. They believe in business generated by sugarcane, the source of biomass that is giving signs of enormous economic potential, whether in the form of ethanol as first generation fuel, as sugar, as ethanol for the chemical industry, as biopolymers, as ethanol used in Diesel cycle engines, as a co-generator of energy using sugarcane bagasse, as second generation ethanol, or even as diesel obtained from sugarcane. This extraordinary potential of sugarcane, already so well exploited with the use of so little of Brazil’s productive lands, will increasingly generate more wealth and provide the country enormous environmental gains, especially if we are able to improve our competitiveness and adequately show our sustainability. Governmental initiatives to that end, which are practically all in progress, are essential. The issue of rural labor, which must be dignifying, complying with the already adequate Brazilian legislation and allowing that direct labor be increasingly directed to less tiring activities; the governance of land usage through the zoning of areas for expanding sugarcane plantations, whose technical work has been concluded and is now in the phase of political decision making; the definition of reference standards and the initiative to set up a certification program that at the same time caters to the interests of Brazil and of our clients; efforts to grow the market and the supply of biofuel, a theme that has led us to an intensive mobilization in African and Latin American countries; the setting of a legal benchmark that provides more legal safety, allowing an increased flow of investments, also in activities as yet only intended, such as pipelines for transportation of the product and energy distribution networks compatible with the industry’s expansion plans in areas previously considered appropriate for the activity, in accordance with the industry’s expansion zoning.

Obviously, this short list of important items does not cover all the challenges we must face. I, in the capacity as the representative of the Minister for Agriculture, Livestock Breeding and Supply, Reinhold Stephanes, as well as Carlos Cristo, representative of the Minister for Development, Industry and Foreign Trade, Miguel Jorge, demonstrated our knowledge of these needs and our enthusiasm about these challenges. We showed our satisfaction with the possibility of achieving economic, social and environmental objectives with a single program. Apart from us, important other members of the Federal Government, such as the Minister Chief of Staff, Dilma Rousseff, at the Ethanol Summit, and representatives of several Brazilian ministries and governmental entities have done likewise.

We have undertaken efforts to contribute to the activity’s success, through very well coordinated initiatives with the private sector, in line with the orientation of President Lula and all ministries involved. With all this, what we lack is to consolidate success by achieving indispensable profit, based on economic feasibility, which, if not given, can put at risk the adequate evolution of a winning project.

To open markets, intensify our relationship with the beneficial competitor, which is U.S.-made ethanol from corn, to wait until the industry’s painful consolidation process is concluded, until growth of supply and demand are better coordinated, until long-term relations or contracts between producers and distributors are established, assuring that the activity is less risk-prone and possibly providing investors higher returns, are all prevailing challenges. From producers of agricultural produce, we evolved to become producers of energy!

Ethanol and electric power generated from sugarcane bagasse are sold in different ways. While the former is an agricultural produce, the latter is energy. Whereas the former is sold at a “by the minute” price, the latter is contracted in energy auctions, just as one contracts the energy of hydroelectric or nuclear plants. However, both require long-term investments, whose future profitability depends on factors difficult to predict.

Both have strategic importance, requiring certain future supply guarantees, safe supplies, without which the State too cannot feel safe. In view of our efforts to open up foreign markets, which will require differentiated logistics, along with long-term contracts with companies in third countries, we must ask whether the necessary regulatory mark is expected to assure better conditions in this respect.

How should one handle the percentage stability of anydrous ethanol in gasoline over time, how should one regulate the charge for using pipelines yet to be built, providing investors and users assurances, how should one avoid possible embarrassments in export business deals, in the event that the supply will, for whatever reason outside the control of the producers, be insufficient? Many issues are yet to be better assessed within this program of undeniable success. Such issues will require that initiatives by the State be coordinated and compatible with the interests of producers and investors. The Ethanol Summit’s closing panel gathered people of different ranking and views, but everybody completely involved and committed with the sugarcane sector.

Success is not just a fact, a continuous wish. It must also be a commitment of all of us, to justify this remarkable effort by Brazilian society, which in future will surely distinguish it even more than it does today. Success is what we enjoy today and it is what we aspire for the future of ethanol.

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