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Índice
concorrências e parcerias
grãos e cana-de-açúcar:
concorrência por terras
Nos últimos anos, tem crescido a “disputa por terras” entre canaviais e grãos, especialmente soja e milho. A melhor remuneração pela produção dos grãos tem sido o fator determinante dessa disputa, que aquece os custos de arrendamento de terras por parte das usinas e/ou de fornecedores de cana que gostariam de ampliar suas áreas de cultivo. Entre as justificativas para isso, o que mais chama a atenção é o desenvolvimento tecnológico. Nos últimos 15 anos, a produtividade por hectare dos grãos cresceu bem mais que a da cana. Soja teve um desenvolvimento de 2% por ano, milho, de 2,7%, e a cana ficou estável. Em boa parte, porque os mercados cresceram mais para os grãos, sobretudo por causa da demanda de proteína animal dos países emergentes ou em desenvolvimento, em especial na Ásia. As populações desses países e sua renda per capita aumentaram mais que as dos ocidentais, de
modo que o consumo de carnes (bovina, suína, de aves e, mais recentemente, de pescado) cresceu mais do que o consumo de açúcar. Esse fato exigiu a expansão da área plantada com soja e milho para a indústria de rações. Nos últimos 30 anos, saltamos de 9,6 milhões de hectares de soja para 39,2 milhões, um crescimento de 309%. No caso do milho, a tecnologia da segunda safra, antiga safrinha, que hoje responde por três quartos do volume produzido, foi ainda mais notável: de 1 milhão de hectares, fomos para 15 milhões. E a cana saltou de 4,2 milhões de hectares para 10,0 milhões, ou apenas 136% a mais. Aliás, a prática da segunda safra é relativamente recente, quase inteiramente desenvolvida neste século XXI, mas foi espetacular. Variedades mais precoces de soja permitiram a ampliação da “janela” para a segunda safra de milho, bem como para o trigo e outras culturas de inverno, como aveia, centeio, sorgo. Até mesmo o algodão passou a ser cultivado como segunda safra, depois da soja. Esse fator ainda deu outro salto com o lançamento do programa de Integração Lavoura-Pecuária em 2005: os agricultores plantam a soja em setembro/outubro, colhem em fins de janeiro, e plantam milho junto com sementes de pastagem em seguida. Depois de colhido o milho, o pasto cresceu, e o mesmo terreno serve para engorda de gado e consequente produção de carne.
Um dos pontos a ser considerado é o de ampliar a renda do fornecedor de cana, com a revisão do Consecana. Por mais amor que ele tenha pelos canaviais, em algum momento, poderá mudar de atividade. "
Roberto Rodrigues Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV