especialistas
os desafios da terceirização Com o advento da reforma trabalhista, em trânsito no Congresso Nacional, a terceirização das atividades-fim e a flexibilização das relações trabalhistas voltaram a ser foco de ampla e intensa discussão, o que é bom para se aprimorar esse instrumento legal. A terceirização tem sido objeto constante de atenção no setor florestal nas duas últimas décadas. Com exceção da colheita, usualmente primarizada devido ao alto investimento necessário para realizá-la, as empresas advogam que a terceirização das atividades de transporte e silvicultura traz vantagens significativas. Quanto ao transporte, a terceirização é questão pacífica, uma vez há um mercado oferecendo esses serviços, e a atividade é praticamente toda mecanizada. Além disso, o Ministério do Trabalho e a Procuradoria Pública consideram que o transporte não é uma atividade-fim das empresas de base florestal, portanto pode ser terceirizada. Já em relação à silvicultura, as empresas priorizam a terceirização, a despeito da posição contrária do governo, que considera a silvicultura como atividade-fim das empresas de base florestal. A principal justificativa utilizada para terceirizar a silvicultura é que ela possibilita a redução dos custos operacionais e descomplica a gestão da empresa, uma vez que, aproximadamente, 75% do total de horas demandadas para realizar as atividades silviculturais são horas/homem, e somente 20% a 25% são horas/máquina. Nesse ponto, podemos perguntar: será que a terceirização sempre custa menos que a primarização? A princípio e em tese, podemos afirmar que não, uma vez que, além de todos os custos operacionais da empresa, o terceiro acrescenta três custos adicionais afins à sua atividade: impostos, custos de gestão, que teoricamente são maiores devido a menor escala operacional, e margem de lucro. Além disso, temos verificado que as empresas florestais participam indiretamente da gestão do terceiro, o que impacta seus custos. Mas esse impacto normalmente não está sendo devidamente quantificado (hidden costs).
Entretanto, apesar de a teoria dizer que a terceirização da silvicultura custa mais do que a primarização, na prática, temos observado que a ela proporciona um custo menor no curto prazo, principalmente devido ao maior poder de barganha frente a seus prestadores de serviço e aos hidden costs. Mas também temos observado que, no médio prazo, esse custo menor se transforma em um custo maior, principalmente devido a cinco fatores: riscos trabalhistas, alta rotatividade de prestadores de serviços, custo de cogestão do terceiro, menor produtividade operacional e riscos de baixa qualidade de silvicultura. Podemos, então, concluir que a primarização é mais vantajosa que a terceirização? Apesar de já termos visto casos em que internalizar as atividades silviculturais foi mais vantajoso do que mantê-las terceirizadas, não podemos afirmar que a primarização seja a melhor alternativa. As empresas também têm enfrentado desafios significativos devido à primarização da silvicultura, como, por exemplo, a alta rotatividade da mão de obra, a complexidade da gestão devido ao ambiente não controlado, os riscos de ações trabalhistas e os altos custos de capacitação dos recursos humanos. Todos esses custos são difíceis de serem qualificados e quantificados em separado. Considerando o exposto, podemos nos perguntar, agora, quais os reais motivos que justificam a terceirização. Nossa visão é que esses motivos seriam os seguintes: • Flexibilidade estratégica e operacional, permitindo às empresas responder às crises e aos problemas de mercado com rapidez e efetividade. • Redução dos investimentos (capex maintain), fator importante em um momento em que a competição aumenta e o cenário político e de mercado tem se mostrado altamente volátil, incerto, complexo e ambíguo. Considerando que as teses acima estejam corretas, a pergunta que se apresenta é: a nova lei que regulamenta a reforma trabalhista irá contribuir significativamente ; para a terceirização se tornar mais eficaz?
a nova lei que regulamenta a reforma trabalhista irá contribuir significativamente para a terceirização se tornar mais eficaz? "
Jefferson Bueno Mendes Diretor da BM2C
24