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ÍNDICE – I VOLUME – TITLES «Guerra Híbrida e Ameaças Compostas»………...……………….………………… Página 4 Por Nuno Lemos Pires
«Hybrid Wars and Composed Threats»……....................................................……. Página 12 By Nuno Lemos Pires; Translated by Inês Duque
«Hybrid Warfare – On the Redesign of National Security»…….....………..…….. Página 19 By Ralph D. Thiele
«Guerra Híbrida – Na Reformulação da Segurança Nacional»……...…...………. Página 28 Por Ralph D. Thiele; Traduzido por Bruno Rocha
ISSN 2183-7511
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Prezado Leitor,
Uma vez mais, a ORBE tem o prazer de lhe presentear com mais uma edição, cumprindo novamente a promessa de nos mantermos sempre atentos ao que se passa neste mundo cada vez mais conturbado. O tema deste mês foca-se nas “Guerras Híbridas”. Tal como o nome indica, estas guerras relativamente recentes englobam as mais variadas estratégias de ataque e defesa, tanto no mundo físico e digital, onde o confronto entre valores atinge um novo patamar. É fundamental ter em consideração que com o avanço das tecnologias, é no mundo cibernético que grandes questões são discutidas e do qual podem surgir as mais variadas disputas a enfrentar na nossa realidade actual. Certamente, nesta edição encontrará as respostas às suas dúvidas sobre esta temática cada vez mais debatida e, consequentemente, estará pronto para se juntar ao debate e expôr as suas opiniões.
Votos de boas leituras,
A equipa do Editorial da ORBE
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Dearest reader,
Once again, the ORBE Magazine has the pleasure to present you with one more edition, fulfilling the promise of always being aware of what is happening in this increasingly troubled world. The theme of this month focuses on “Hybrid Wars”. As the name indicates, these relatively recent wars cover the most varied attack and defense strategies, both in the physical and digital world, where the clash between values reaches a new level. It is urgent to take into consideration that with the advance of new technologies it is in the cybernetic world that fundamental matters are discussed, and from which new conflicts might emerge to be faced in nowadays’ reality. Certainly, in this issue you may find the answers to your doubts on this increasingly discussed subject and, consequently, will be ready to join the debate and expose your opinions.
Good readings,
ORBE’s Editorial Team
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Guerra Híbrida e Ameaças Compostas Nuno Lemos Pires1
“A maioria dos príncipes preocupam-se apenas com a guerra ou a arte da cavalaria (…) as artes da paz são desprezadas: esforçam-se com mais aplicação em empregar todos os meios, bons ou maus, para aumentar os seus domínios, do que em governar com justiça e paz os que já possuem”. Thomas More, Utopia2 O que nos ameaça? Poderemos alguma vez viver em paz ou estaremos condenados, pelo menos nas próximas décadas, a um estado de guerra permanente? Falase de guerras híbridas pelos contornos cada vez menos estanques que existem na ação e na operacionalização dos meios mas, devemos lembrar, que as ameaças e riscos que as provocam também estão, cada vez mais, compostas e complementares. Não há ameaças e riscos isolados, há ameaças, há riscos e, quando analisados no seu conjunto precisam de respostas, também elas, complementares, abrangentes, muito para além da simples utilização de um dos instrumentos dos Estados, como o militar, o económico ou o diplomático. Perante Guerras híbridas, que se desenvolvem em várias dimensões, combinado ações convencionais e irregulares, manobras psicológicas e cibernéticas, ações diretas contra alvos militares ou encobertos por atos terroristas, apõem-se respostas holísticas que juntam todas as dimensões ao dispor de um Estado ou de uma Aliança. Hoje, e previsivelmente num futuro próximo, precisamos de analisar ameaças, riscos, conflitos, guerras e respostas sempre por um prisma holístico, abrangente, transversal e complementar. Vamos começar pelas ameaças e riscos, também estes de natureza híbrida.
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Nuno Lemos Pires é Coronel de Infantaria e Operações Especiais, Diretor de Formação na Escola de Armas e Professor de História, Defesa e RI na Academia Militar. 2 More, Thomas (1516), Utopia, Lisboa, Europa-América, p. 24.
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Não seremos exaustivos nesta análise3, mas escolhemos destacar, entre as ameaças e riscos mais relevantes, os que mais diretamente se associam a visões híbridas no seu emprego ou na possível resposta. Primeiro, e como enformadores de todos os restantes fatores, temos as grandes novidades estratégicas do século XXI, ou seja, ameaças atuais que não têm uma dimensão comparável em outros períodos da história. São, os que denomino de, fatores potenciadores e disruptivos, que incluem ameaças e riscos, tanto tangíveis como intangíveis, assentes em quatro grandes áreas: da dispersão e decadência do poder, de uma afirmada crise nos valores, das inevitáveis alterações climáticas e da crescente e concentrada demografia. Atualmente, num mundo marcado por uma crescente dispersão e decadência do poder4, aparecem mais frequentemente zonas de caos, de anarquia, áreas sem poder formal como o hiperespaço e o ciberespaço. Por serem espaços sem limitação física, muito voláteis e amplos, não têm, paradoxalmente, neste mundo de mudanças rápidas, a correspondente reposta coerente, coordenada e concentrada. Entre governos, empresários e lideranças várias, com nascimentos e desaparecimentos bruscos de empresas, de organizações, de partidos e de movimentos, além de mudanças gigantescas de capital, de recursos e de sedes de poder, gera-se um sentimento de anarquia que não permite um enquadramento efetivo ou uma continuidade estratégica de controlo, supervisão e sentido político prospetivo. Assim, num mundo global, marcado por uma manifesta impotência generalizada da humanidade em encontrar soluções globais para problemas gerais crescem, em vastas regiões do mesmo, a demagogia, as ideologias e religiões radicais, que toldam e afetam uma possível decisão racional, sustentada e consequente. Aos diferentes conceitos de cidadania e de soberania que existem neste mundo multifacetado e multicultural, ao impacto social que incide sobre os variados modelos políticos de organização de Estados e da incapacidade de tomar decisões com efeitos a médio e longo prazo, crescem assim as desconfianças e as atitudes de arrogância entre os que se julgam no poder de saber o que é melhor para a governação de outros, sem olhar à história, à realidade geopolítica, às tradições culturais de cada povo e região.
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Uma análise completa pode ser encontrada Lemos Pires (c) e (b) – Ver bibliografia. Ver livro de Moisés Naím (2014) sobre a decadência do poder – bibliografia.
Não é por isso nenhuma surpresa entendermos, ainda que empiricamente, que vivemos, dentro de uma forte crise de valores, enformadas num quadro de crescente desigualdade e desequilíbrios, numa humanidade em que 62 pessoas têm tanta riqueza acumulada como a metade mais pobre do planeta, ou seja, de cerca de 3,6 mil milhões de pessoas5. São quadros socias de profundas desigualdades, mesmo que em números absolutos a pobreza pareça estar a diminuir6, onde se fomentam quadros de anomia social, de isolamento humano, de profunda solidão, de desocupação forçada provocado pelos crescentes números do desemprego, da precariedade do mesmo ou por falta, simplesmente, de condições de vida dignas que, devido às tensões sociais, se veem agravadas por mais demonstrações de xenofobia e racismo. Sem ainda entendermos completamente os seus efeitos, ainda temos para este mesmo quadro, os constantes e enormes avanços científicos e tecnológicos que provocam, a par de uma possível diminuição de empregos, uma vertiginosa necessidade de gestão imediata do tempo disponível que não permite, na maioria dos casos, nem uma madura reflexão sobre os efeitos sociais em curso, nem sequer uma decisão coerente sobre medidas estruturantes. Depois temos as crescentes ameaças climáticas e ambientais somadas a um fortíssimo desequilíbrio demográfico que, num brevíssimo espaço de tempo, nos levou de uma população de cerca de 1,6 mil milhões de habitantes do princípio do século XX para uns previsíveis 10 mil milhões em 20537. Vivemos num planeta doente, onde se registam temperaturas ambiente mais elevadas, um aumento no nível das águas do mar, períodos de secas terríveis mais prolongadas e com menores intervalos que, entre outras consequências, afetam o acesso à água doce, fundamental para a vida. Temos os refugiados do clima, que pela primeira vez na história, ultrapassaram os milhões dos refugiados da guerra. Naturalmente que fugindo de áreas sem condições vão sobrelotar outras onde as populações, também em crescimento exponencial, se juntam e competem pelos mesmos e mais escassos recursos. Agravado com o quadro de desigualdade referido acima, sabemos que há uma minoria de habitantes que moram onde abundam recursos e que há milhares de milhões a viver em zonas onde tudo falta. Assim, quando analisamos
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http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn (consultado em 02 de outubro de 2016). 6 http://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2015/10/04/world-bank-forecasts-global-poverty-tofall-below-10-for-first-time-major-hurdles-remain-in-goal-to-end-poverty-by-2030 (consultado em 02 de outubro de 2016). 7 https://www.publico.pt/sociedade/noticia/em-2050-portugal-devera-ter-menos-12-milhoes-dehabitantes-1742347 (consultado em 02 de outubro de 2016).
a demografia e as alterações climáticas, de uma forma composta ou híbrida, constatamos que assistimos, de modo crescente, a um planeta mais fraturado (as marcas humanas já levaram mesmo os geólogos a classificarem uma nova era denominada de antropoceno 8, ou seja, uma alteração planetária causada pela ação do Homem), com muito mais pessoas, que consomem muitíssimos mais recursos e que se distribuem de forma profundamente desigual pelo planeta. Onde abundam recursos rareiam as pessoas necessitadas e, onde se registam os maiores efeitos das alterações climáticas, como as secas e a ausência de água potável, é onde faltam mais recursos, onde a tendência de crescimento demográfico e de forte desagregação social é maior, onde surgem mais e mais Estados frágeis e, como se uma doença crónica se tratasse, persistem climas de guerras civis. Estes, sobredimensionados, fatores potenciadores e disruptivos, quando associados às tradicionais ameaças e riscos, que infelizmente, se apresentam como perenes, como as guerras clássicas, ou irregulares, ou civis, ou nucleares ou não convencionais, com o terrorismo internacional, a criminalidade organizada, os Estados fragilizados, as pandemias ou os desastres naturais, geram a grande novidade, híbrida, do século XXI. Dificilmente nos confrontaremos, como nos séculos passados, com apenas algumas destas ameaças ou riscos de forma isolada. A globalização e a fragilidade do planeta em que vivemos obrigam-nos a entender, sempre e daqui para a frente, na soma de uma ou mais destas ameaças e riscos. Encontramos assim um ambiente híbrido sempre que juntamos “dois elementos diferentes” e, dificilmente, poderemos prever neste século um ambiente estratégico internacional em que, os fatores que originam guerras e conflitos, não tenham, pelo menos, dois ou mais elementos diferentes entre as várias ameaças e riscos, entre ameaças convencionais e terroristas, exacerbados por uma demografia crescente e desigual sobre um planeta doente e sobre explorado. As ameaças e riscos podem não ser híbridas na sua tendência mas serão, garantidamente, compostas nas suas múltiplas dimensões. Com este enquadramento sobre ameaças e riscos poderemos então passar à análise dos efeitos que podem, ou não, estar na origem de possíveis conflitos ou guerras.
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http://economico.sapo.pt/noticias/planeta-terra-tera-entrado-numa-nova-era-o-antropoceno_256299.html (consultado em 03 de outubro de 2016).
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A guerra, na sua conceção e forma de ação, evoluiu ao longo da história. Se a analisarmos por uma das suas materializações, por exemplo, sob o ponto de vista do papel do Soldado, presente nas grandes mudanças sociais, políticas, ideológicas e religiosas, que foram caracterizando as grandes alterações globais, podemos perceber o caráter, profundamente distintivo desta evolução, não apenas na forma que a guerra tomou e afetou mas, também, através dos atores principais que a fizeram. Por exemplo, e muito brevemente, até ao início da era marcada pelo Império Romano, os soldados eram, acima de tudo, um número entre outros, eram um “efetivo”, a quem se exigia uma obediência cega, que mais não fossem do que uma peça de um conjunto maior, que combatessem, desejavelmente com bravura, numa atividade, a guerra, que era quase sempre sazonal. Quando surgia uma oportunidade de vitória, ou uma ameaça direta sobre os seus interesses, a guerra declarava-se, combatia-se e, quase sempre, havia um claro vencedor e um derrotado. Estávamos ainda muito longe de conceitos de guerra irregular, não linear, não convencional ou Híbrida. Depois, e durante os muitos séculos do Império Romano, houve uma alteração significativa, tanto na forma de combater como fundamentalmente, na constituição das foças responsáveis pela gestão da força. O conceito de Soldado Efetivo deu lugar ao de Soldado Cidadão, ou seja, passámos a um conceito híbrido, o combatente tanto fazia a guerra como também era o principal responsável pela garantia da paz obtida. Era, transformava-se, no principal agente para construir “civilização”. As Legiões romanas conquistavam batalhas, ocupavam territórios mas, depois, eram as principais responsáveis pela administração e desenvolvimento dos espaços anexados ao Império. A própria condição de Soldado era mista, os Generais eram os Senadores, os Oficiais os futuros Governantes, os combatentes e as centenas de especialistas civis que acompanhavam as legiões, os construtores de cidades. A guerra não era Híbrida na sua conduta mas, aqueles que a faziam, tinham uma atividade híbrida na sua conceção. Foi, sem dúvida, um conceito de sucesso que, quando abandonado no final do século III d.C., ou seja, depois da profissionalização de povos estrangeiros para a função exclusiva da guerra, esse passo, representou um dos fatores para acelerar o fim do grande Império. Dando um enorme salto no tempo até ao século XVIII, vemos como a Independência dos Estados Unidos da América e a Revolução Francesa trouxeram outro caráter híbrido no uso dos soldados, agora em maior número conscritos, alimentados em conceitos de nações em armas, e que passavam a representar não apenas o príncipe que
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nos fala Thomas Moore na frase que inicia este texto, mas a força ideológica dos valores que se queriam afirmar … “igualdade, liberdade, fraternidade”. Ainda não tínhamos a guerra híbrida na sua ação, mas já sentíamos a atuação híbrida dos seus atores, que por vezes misturava combatentes e políticos, que substituíam as frentes de guerra pela ação no contacto com as populações e que eram os principais anunciadores das ideologias que se pretendiam afirmar. Chegamos finalmente ao Século XX, e este marca, de forma nítida, a expressão do que atualmente se entende por guerra híbrida, logo no início, durante a Grande Guerra (1914-1918) que, em especial no Médio Oriente, manifestou esta tendência. Como podemos ver no célebre filme “Laurence da Arábia”, a ação militar direta misturava-se com atentados terroristas, com infiltrados na retaguarda, com apoios diretos e indiretos, com política misturada com ação operacional, num terreno sem frentes e sem linhas de combate, com objetivos muito diferenciados entre os supostos aliados de uma anunciada causa comum: os combatentes árabes, franceses e ingleses, contra o Império Otomano. Foi o reforçar de uma forma de combater que se manifestou com enorme intensidade em muitas das guerras das descolonizações na segunda metade do século XX, nas ações diretas e encobertas dos combates no Afeganistão durante a ocupação soviética (19791989) e que se tornou norma após a invasão do Iraque pelos EUA em 2003, já em pleno Século XXI. Assim entramos no século XXI com a necessidade de termos verdadeiros soldados híbridos para, não apenas fazer a guerra, mas para simultaneamente, compreender as ameaças compostas em que se encontraram, a par de se prepararem para construir paz, apurar diplomacias e colaborar no desenvolvimento. Soldados completamente diferentes dos perfis dos Soldados Efetivo da antiguidade. Agora exigem-se soldados que dominem o mundo digital, a complexidade do uso do espaço e do ciberespaço, alicerçados em fundamentos culturais sólidos. Só assim poderão ser a garantia de se poder fazer e perceber guerras híbridas sob ameaças compostas. Mesmo que não partilhemos plenamente deste conceito de guerra híbrida, temos defendido outros conceitos que se assemelham, embora com outra abrangência e sentido, como o das Guerras do Caos ou do Comando Holístico na Guerra 9. Estes conceitos, como o da Guerra Híbrida e outros similares, são a demonstração de uma tendência em
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Ver bibliografia.
que a afirmação da conflitualidade se fará, atualmente e no futuro, simultaneamente, em mais do que uma dimensão, direção ou ação. As vertiginosas mudanças sociais, políticas, ambientais e estratégicas nos tempos que se avizinham deixam pouco espaço para atuações simplificadas de confrontos dialéticos entre dois oponentes. Tudo é mais complexo e, provavelmente, raramente se assistirá a um confronto entre apenas dois atores. Os atores, em si, também tendem a ser, cada vez mais, muitos, dispersos e de tipologia variada, tanto os Estatais como os nãoEstatais. As ameaças e riscos, exponenciadas por fatores potenciadores e disruptivos, implicarão novas abordagens na aplicação da força, em múltiplas dimensões, com formas cinéticas e não cinéticas, assentes em estratégias diretas e indiretas. Em suma, em face de hipóteses híbridas na causa dos conflitos, acrescem também respostas híbridas, incluído a guerra, na aplicação da força. Não há ameaças e riscos isolados tal como não há manifestações de guerra apenas numa determinada direção ou dimensão. Nem os Soldados são hoje simples máquinas de combater nem os conflitos se resolvem apenas com soluções militares. Hoje e no futuro teremos guerras, que também se podem classificar de híbridas, motivadas por ameaça compostas e combatidas por soldados e cidadãos, que são também eles, um produto híbrido da dimensão digital, neste mundo sem fronteiras fixas e, de dimensão multicultural, multifacetada e distintivo.
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Bibliografia ANDREWS, John (2016), Os Grandes Conflitos Mundiais: Uma análise estratégica sobre as zonas mais perigosas e as ameaças à estabilidade do nosso mundo, Clube do Autor, Lisboa. EUROPOL (2016), “European Union Terrorism Situa on and Trend Report (TE-SAT) 2016”. The Hague. FLYNN, Michael T. (2016), The Field of Fight: How we can win the Global War against Radical Islam and its Allies, St. Martin´s Press, New York. LEMOS PIRES, Nuno: (2013), Conflitos e Arte Militar na Idade da Informação (1973-2013), com António José Telo, Lisboa, Tribuna da História. (2014), Wellington, Spínola e Petraeus: O Comando Holístico da Guerra, Lisboa, Nexo Literário. (2016a), Resposta ao Jiadismo Radical, Nexo, Lisboa. (2016b), “Do Terrorismo Transnacional ao Choque de valores”, Revista Nação e Defesa nº 143, Lisboa, pp. 79-87. (2016c), “Das Ameaças e Riscos Intangíveis aos Estados Frágeis e às Guerras Civis”, no livro Ameaças e Riscos Transnacionais no novo Mundo Global, Porto, Fronteira do Caos, pp. 153-174. NAÍM, Moisés (2014), O Fim do Poder: Dos Conselhos de Administração aos Campos de Batalha, às Igrejas e aos Estados. Porque ter poder já não é o que era”, Lisboa, Gradiva. STUDIES, I. I. (2016), The Military Balance 2016, Routledge, London.
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Hybrid Wars and Composed Threats Nuno Lemos Pires10
“The majority of princes only care about war or the art of cavalry (…) the arts of peace are disdained: they put more effort into applying all the means, good or bad, to enlarge their domains instead of rulling with justice and peace the ones they already possess.” Thomas More, Utopia11 What threat us? Will we ever live in peace or are we doomed, at least in the upcoming decades, to a state of permanent war? We know about hybrid wars by the breaking of boundaries between action regular and irregular warfare, but we must remember that the threats and the risks that also cause them are increasingly composed and complementary. There are no isolated risks, there are threats, there are risks, and when there is a need for answers after the analysis in their own set. The action needed is, as so, complementary, comprehensive, well beyond the simple use of one of the instruments of States, such as military, economic or diplomatic. Before Hybrid Wars, that develop in various dimensions combining conventional and irregular actions, psychological and cybernetic manoeuvres, direct action against military targets or hidden by terrorist acts, are affixed holistic answers that bring together all dimensions available to be used by a State or an Alliance. Today, and expected in the near future, we need to analyse threats, risks, conflicts, wars and answers always through a holistic perspective, comprehensive, transversal and complementary. Let's start with the threats and risks, also with a hybrid nature. We will not be comprehensive in this analysis 12, but we chose to highlight, among the most relevant threats and risks, those most directly associated with hybrid visions in their tasks or in possible answers. First, and as formers of all other factors, we have the main strategic innovations of the 21st century, in other words, current threats that do not have a comparable
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Nuno Lemos Pires is Colonel of Infantry and Special Operations. Head teacher of Artillery School and professor of History, Defence and International Relations at Military Academy. 11 More, Thomas (1516), Utopia, Lisboa, Europa-América, p. 24. 12 A full analysis can be found at Lemos Pires (c) and (b) – See bibliography.
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dimension in other periods of History. Those I call enhancers and disruptive factors, including threats and risks both tangible and intangible, are based on four major areas: dispersion and decay of power, an affirmed crisis in values, the inevitable climate change and growing and concentrated demography. Nowadays, in a world marked by a growing dispersion and decay of power 13, chaos zones of anarchy, areas without formal power as hyperspace and cyberspace appear more often. For being spaces without physical limitation, very volatile and large, they do not have, paradoxically, in this world of rapid change, the corresponding coherent, coordinated and concentrated answer. Between governments, several businessmen and leaders with sudden births and disappearances of companies, organizations, parties and movements, as well as massive changes in capital, resources and power seats, it is generated a sense of anarchy that does not allow an effective framework or a strategic continuity of control, supervision and prospective political sense. Thus, in a global world, marked by a manifest general impotence of humanity in finding global solutions to general problems, in large parts of it, demagogy, ideologies and radical religions that dull and affect a possible rational, coherent and sustained decision grow. Attached to the different concepts of citizenship and sovereignty that exist in this multifaceted and multicultural world and to the social impact that focuses on the various political models of organization of states and the inability to make decisions with medium and long-term effects, are growing distrust and arrogance attitudes among those who feel they have the power to know what is better for the governance of others, without looking at History, the geopolitical reality, the cultural traditions of each nation and region. It is, therefore, no surprise to understand that, although empirically, we live in a serious crisis of values formed in a growing inequality and unbalances, a humanity in which 62 people have so much accumulated wealth as the poorest half of the planet, which means about 3.6 billion people14. There are social frames of deep inequalities, even though in absolute numbers poverty appears to be decreasing15, where social anomie of
Check the book of MoisĂŠs NaĂm (2014) about the end of power – bibliography. http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn (consulted in 2nd October 2016). 15 http://www.worldbank.org/pt/news/press-release/2015/10/04/world-bank-forecasts-global-poverty-tofall-below-10-for-first-time-major-hurdles-remain-in-goal-to-end-poverty-by-2030 (consulted in 2nd October 2016). 13 14
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human isolation is promoted, deep loneliness, forced evictions caused by increasing numbers of unemployment, job insecurity or simply the lack of decent living conditions that due to social tensions, such conditions find themselves aggravated by more demonstrations of xenophobia and racism. Without fully understand its effects yet, we still have to this same framework constant and enormous scientific and technological advances that cause, along with a possible reduction of jobs, a vertiginous need for immediate management of the available time which does not allow, in most cases, a mature reflection on the social effects in progress, or even a coherent decision on structural measures. Then, we have the growing climate and environmental threats coupled with a very strong demographic unbalance that in a very short time led us to a population composed by 1.6 billion inhabitants in the early 20th century to a predicted 10 billion in 2053 16. We live in a sick planet, where there are higher weather temperatures, (where) an increase in the sea level, over prolonged periods of terrible drought with lower and lower breaks between them, among other consequences, affect the access to fresh water, essential for life. For the first time in History, we have the climate refugees who exceeded the millions of war refugees. Naturally, by fleeing areas without conditions they will overpopulate others where populations are also growing exponentially, coming together and competing for the same scarce resources and more. Compounded with the inequality framework previously referred, we know that there is a minority of people who live where there are abundant resources and, on the other hand, there are billions living in areas where everything is lacking. So when we look at the demographic and climate changes, in a composed or hybrid form, we find that we are increasingly witnessing a more fractured planet (human brands have even led geologists to classify a new era called anthropocene17, in other words, a planetary change caused by the action of Man), with many more people, who consume much more features and are deeply unequally distributed through the planet. Where resources abound there are fewer people in need, and where there are the greatest effects of climate change, such as droughts and lack of drinking water, it is where more resources are missed, where the trend of population
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https://www.publico.pt/sociedade/noticia/em-2050-portugal-devera-ter-menos-12-milhoes-dehabitantes-1742347 (consulted in 2nd October 2016). 17 http://economico.sapo.pt/noticias/planeta-terra-tera-entrado-numa-nova-era-o-antropoceno_256299.html (consulted in 3rd October 2016).
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growth and strong social breakdown is greater, where there are more and more fragile and, as if it was a chronic disease, climates of civil wars remain. These oversized enhancers and disruptive factors, when associated with traditional threats and risks, which unfortunately present themselves as perennial, such as classic, or irregular, or civilians, or nuclear or unconventional wars, with international terrorism, organized crime and fragile States, pandemics or natural disasters, generate the biggest hybrid new of the 21st century. Hardly, as in past centuries, we will not only face some of these threats or risks in isolation. Globalization and the fragility of the world we live force us to understand, and always going forward, the sum of one or more of these threats and risks. So we find a hybrid environment where "two different elements" are joined and it is very unlikely to predict an international strategic environment in this century in which the factors that cause wars and conflicts do not have at least two or more different elements between the various threats and risks, including conventional and terrorist threats, exacerbated by an increasingly unequal demography on a sick and over exploited planet. The threats and risks cannot be hybrid in its tendency but they will be composed in their multiple dimensions. With this framework on threats and risks we can move on to the analysis of the effects that may or may not be the source of possible conflicts or wars. The war, in its design and way of action, has evolved throughout History. If we look at one of its embodiments, for example, from the point of view of the Soldier role, present in the greatest social, political, ideological and religious changes that have been characterizing the major global changes, we can see the character deeply distinctive of this evolution, not only in the way war has taken and affected but also in the main actors who made it. For example, and very briefly, until the beginning of the era marked by the Roman Empire, soldiers were above all a number among many others, they were "one more number" to whom was demanded blind obedience being no more than a piece of a larger whole who would fight desirably with bravery in an activity, the war, which was often seasonal. When there was an opportunity to win or a direct threat to one’s interests, war was declared, after the battle there were always a clear winner and a loser. We were still far from irregular warfare concepts, non-linear, non-conventional or hybrid.
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Then, during the many centuries of the Roman Empire there was a significant change, both in the form of combat as well as in the constitution of entities responsible for the management of the force. The concept of One More was replaced for Citizen Soldier, that is, we reached a hybrid concept, the fighter was as much responsible for war as he was also primarily responsible for ensuring the peace obtained. He was somehow pointed as the main agent to build "civilization." Roman Legions conquered battles, occupied territories but then they were mainly responsible for the management and development of spaces attached to the Empire. The soldier's condition was very mixed, the Generals were the Senators, Officers future Rulers, the fighters and the hundreds of civilian experts who accompanied the legions, the builders of cities. The war was not hybrid in its conduct but those who fought had a hybrid activity in their design. It was undoubtedly a successful concept that when abandoned in the late 300 A.D or CE (Common Era), in other words, after the professionalization of foreign soldiers to the exclusive function of the war, this step represented one of the factors to accelerate the end of the Great Empire. Giving a huge leap in time to the 18th century, we see how the Independence of the United States and the French Revolution brought another hybrid character to the use of soldiers now in a most conscript way, fed on concepts of nations in arms, and starting to represent not only the prince who is mentioned by Thomas Moore in the sentence that begins this text, but the ideological strength of the values that wanted to say ... "equality, liberty, fraternity". We still did not have the hybrid war in its action, but the hybrid performance of its actors could be felt, sometimes fighters and politicians were mixed who would replace each other at the action war fronts in contact with the people and, and the same time, were the main announcers of ideologies they intended to affirm. We finally arrive to the 20th century, which clearly marks the expression of what today is meant by hybrid war right in the beginning of the Great War (1914-1918), in particularly in the Middle East. As we can see in the famous film "Lawrence of Arabia", military action was mixed with terrorist attacks, infiltrated in the rear with direct and indirect support, with mixed policy and operational levels, without no front or battle lines, all with very different objectives between the supposed allies, all of them fighting for a common cause: the Arab fighters, French and English, against the Ottoman Empire. It was the strengthening of the combat method that is expressed with great intensity in many of the wars of decolonization in the second half of the 20th century, in direct actions and
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insurgent fighting in Afghanistan during the Soviet occupation (1979-1989), which became a standard after the invasion of Iraq by the United States in 2003, already in the 21st century. So we enter the 21st century with the need of having true hybrid soldiers not only to make war, but simultaneously to understand the blended threats they meet in order to prepare themselves to build peace, establish diplomacy and collaborate in the development. Soldiers’ profiles are completely different of Effective Soldiers’ of antiquity. Now they call up soldiers to dominate the digital world, the complexity of the use of space and cyberspace founded on solid cultural foundations. Only then it can be assured their ability to make and realize hybrid wars in blended threats. Even if we do not fully share this concept of hybrid war, we have advocated other concepts that are similar, although with another scope and meaning, such as the Wars of Chaos or Holistic Command in War 18. These concepts, such as Hybrid War and likewise are the demonstration of a trend in which the assertion of the conflict will be, now and in the future, simultaneously in more than one dimension, direction or action. The vertiginous social, political, environmental and strategic changes in times to come leave little room for simplified dialectical confrontation performances between two opponents. Everything is more complex and it shall probably be rare watching a confrontation between only two actors. The actors themselves, tend to be increasingly many, dispersed, and of a varied type, both state and non-state. The threats and risks, exponentiated by potentiating and disruptive factors, will involve new approaches in the application of force in multiple dimensions, with kinetic and non-kinetic forms, based on direct and indirect strategies. In short, in the face of hybrid hypotheses responses on the cause of conflicts there are also added hybrid, including the war in terms of the application of force. There are no independent threats and risks as there is no war demonstrations only in one direction or dimension. Neither the soldiers today are simple fighting machines nor conflicts are only resolved by military solutions. Today and in the future there will be wars which can also be sort of hybrid, motivated by composed threats and fought by
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See bibliography.
soldiers and citizens, who are themselves a hybrid product of the digital dimension in this world without fixed borders and multicultural, multifaceted and distinctive dimension.
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Bibliografia ANDREWS, John (2016), Os Grandes Conflitos Mundiais: Uma análise estratégica sobre as zonas mais perigosas e as ameaças à estabilidade do nosso mundo, Clube do Autor, Lisboa. EUROPOL (2016), “European Union Terrorism Situa on and Trend Report (TE-SAT) 2016”. The Hague. FLYNN, Michael T. (2016), The Field of Fight: How we can win the Global War against Radical Islam and its Allies, St. Martin´s Press, New York. LEMOS PIRES, Nuno: (2013), Conflitos e Arte Militar na Idade da Informação (1973-2013), com António José Telo, Lisboa, Tribuna da História. (2014), Wellington, Spínola e Petraeus: O Comando Holístico da Guerra, Lisboa, Nexo Literário. (2016a), Resposta ao Jiadismo Radical, Nexo, Lisboa. (2016b), “Do Terrorismo Transnacional ao Choque de valores”, Revista Nação e Defesa nº 143, Lisboa, pp. 79-87. (2016c), “Das Ameaças e Riscos Intangíveis aos Estados Frágeis e às Guerras Civis”, no livro Ameaças e Riscos Transnacionais no novo Mundo Global, Porto, Fronteira do Caos, pp. 153-174. NAÍM, Moisés (2014), O Fim do Poder: Dos Conselhos de Administração aos Campos de Batalha, às Igrejas e aos Estados. Porque ter poder já não é o que era”, Lisboa, Gradiva. STUDIES, I. I. (2016), The Military Balance 2016, Routledge, London.
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Hybrid Warfare – On the Redesign of National Security Ralph D. Thiele19
1. Hybrid Challenges „… a state can, in a matter of months and even days, be trans-formed into an area of fierce armed conflict, become a victim of foreign intervention, and sink into a web of chaos, humanitarian catastrophe, and civil war ... .”20 This January 2013 statement by General Valery Gerasimov, Chief of the General Staff of the Russian Federation at the annual meeting of the Russian Academy of Military Science has illustrated a paradigm change in global security. The nature of security challenges has become increasingly hybrid. Russia’s recent employment of a sophisticated hybrid strategy has challenged Western nations and societies - to include governance and norms - despite their economic, technological, intelligence and military superiority. Russia has developed its hybrid approach based on intense studies of Western and other successful actor’s behaviour and carefully derived a conceptual framework; it trained and exercised this framework and finally commenced operations.21 In the Crimea and the Ukraine “hybrid warfare” employed disinformation and deniable forces to maintain maximum ambiguity. Armed Forces helped to create political advantages operating via "proxy" non-governmental forces in the form of separatists. Throughout the operations Russia displayed the capacity to undermine and seriously weaken their adversary without crossing established thresholds that would trigger a military response. Also Russian non-military instruments showed an impressive hybrid performance alongside the military instruments. Russian investments, trade, and capital were employed to influence key economic and political elites. Media were involved to support anti-integration and pro-Russian political parties. Forging of links between Russian organised crime and local criminal elements were noticed, also the establishment of ties
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Ralph D. Thiele is chairman of the Political-Military Society based in Berlin and CEO of StratByrd Consulting. 20 General Valery Gerasimov. „Speech at the annual meeting of the Russian Academy of Military Science." In January 2013. Military-Industrial Courier. Moscow. 2013. http://vpknews.ru/sites/default/files/pdf/VPK_08_476.pdf 21 Ralph Thiele. „Crisis in Ukraine – The Emergence of Hybrid Warfare. " ISPSW Strategy Series (2015).
among religious institutions, exploitation of unresolved ethnic tensions and campaigns for „minority rights” and massive coordinated cyber strikes on selected targets. Before Russia the so called Islamic State has emerged as a hybrid organisation following again the initial Hezbollah model - part terrorist network, part guerrilla army, part proto-state entity. Meanwhile Iran has developed a spectrum of hybrid skills, so have North Korea and China as well. Hybrid actors most likely not just seek to inflict damage or death on regions, nations or organisations. They are rather striving to achieve political goals and objectives. To this end they will attempt to influence their target society´s collective mind-set so that their values and principles become challenged, their resolve weakened and consequently political objectives are abandoned or modified. Hybrid warfare is not limited to the physical battlefield. Any space available may be engaged. This includes traditional and modern media instruments. Non-state actor’s involvement includes militias, transnational criminal groups, or terrorist networks. Hybrid warfare employs a broad mix of instruments - military force, technology, crime, terrorism, economic and financial pressures, humanitarian and religious means, intelligence, sabotage, disinformation - across the whole spectrum of warfare – traditional, irregular and/or catastrophic. A stealthy approach and disruptive capacity can be expected, executed within the context of a flexible strategy with altering centres of gravity. Hybrid concepts and strategies target in particular vulnerabilities - from cyberattacks on critical information systems, through the disruption of critical services, such as energy supplies or financial services, to undermining public trust in government institutions or social cohesion. Hybrid warfare appears to be a construct of vaguely connected elements, but in reality the pieces are a part of an intended mosaic. The diversity of hybrid tactics masks the thoroughly planned order behind the spectrum of tools used and the effects being achieved. All together today hybrid warfare appears as a potent, complex variation of warfare with considerable growth potential. It simultaneously involves state and non-state actors, with the use of conventional and unconventional means of warfare that are not
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limited to the battlefield or to a particular physical territory. There are three characteristics22
The decision of the war/conflict is searched for primarily at a non-military centres of gravity.
Traditional lines of order and responsibilities are being challenged through operations against specific vulnerabilities of the opponent in the shadow of interfaces.
Through combination of different concepts, methods and means „new” forms of warfare and fighting evolve.
2. Gravity In the Crimea and the Ukraine Russia never primarily sought a decision of this conflict in the military field. The military elements of the Russian hybrid approach served the cover up and protection of subversive, secret service, propaganda or political operations. Using hybrid warfare, the focus on a non-military „Centre of Gravity” has become the core of the Russian action towards the Ukraine while optimizing the own performance in the grey zones of security. The military concept of a Centre of Gravity23 in conflicts has been introduced by Carl von Clausewitz in the 1820s. It has evolved as a core element of military doctrines that planners draw on in designing strategies for winning wars. 24 Carl von Clausewitz described the enemy’s CoG as "the hub of all power and movement, on which everything depends. That is the point against which all our energies should be directed."25 The only way that a military can achieve its objectives, according to Clausewitz, is to gather intelligence about the enemy’s „moral and physical character,” including their associated CoG. If the military strategist fails to do so, defeat is almost certain.
Johann Schmid. „Hybride Kriegführung und das „Center of Gravity“ der Entscheidung“. S&F Sicherheit und Frieden. S+F, Jahrgang 34 (2016), Heft 2. 23 CoG 24 Lawrence Freedman. „Stop looking for the Centre of Gravity." War on the Rocks. June 24, 2014. http://warontherocks.com/2014/06/stop-looking-for-the-center-of-gravity/ 25 Carl von Clausewitz, “On War”, eds./trans. Michael Howard and Peter Paret (Princeton: Princeton University Press, 1976), pp. 595-6. 22
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Australian Defence Force operational planning follows a CoG interpretation of Joseph L. Strange and Richard Iron who have offered an understanding that multiple CoGs might exist and “may change from phase to phase within a campaign.”26 Once CoGs have been identified, the commander and planning staff determine how to undermine adversary CoGs while protecting friendly CoGs and influencing other actor CoGs in the desired manner.27 Clausewitz thought of the CoG effects based, focusing on achieving the collapse of the enemy, how at least first and second-order effects can be achieved. This makes the CoG approach particularly fitting vis-à-vis NATO’s and the European Union’s Comprehensive Approach to security that is effects based and provides a perspective that explicitly focuses operations on political, military, economic, social, infrastructure, and informational effects by using diplomatic, information, economic and military actions. Clausewitz considered the calculation of a CoG a matter of “strategic judgment”, to be addressed by the top decision-makers. Differing from the situation in the early 19th century today it is still important but not sufficient to focus on military decision-making. Unfortunately, most political decision-makers today have only limited education and training nor experience in CoG related developments and political-strategic options resulting from alternative DIME-employment options. Of course also military leaders have growth potential. Consequently, there is a need to improve and to develop politicomilitary skills dealing effectively with hybrid threats in a broad and comprehensive format. Civilian and military leadership needs to be better prepared for comprehensive interagency actions.
3. Access A twin brother of the CoG has become the Anti-Access/Area Denial concept (A2/AD) - often used by weaker forces against stronger ones, because preventing the enemy from taking and holding a particular area is principally easier than controlling it. Over the past two decades, China, Russia, Iran, and others have developed considerable Dr Joseph L. Strange and Colonel Richard Iron, „Centre of Gravity: What Clausewitz Really Meant," Joint Force Quarterly, 35 (October 2004), pp. 20-27. 27 Australian Defence Doctrine Publication (ADDP) 5.0, „Joint Planning”, Edition 2 (Canberra: Department of Defence, February 2014) 2-11, 2-12. 26
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A2/AD capabilities such as ballistic and cruise missiles, offensive cyber weapons, electronic warfare, and more. These capabilities enable them to threaten freedom of access and presence for third parties across all operating domains: air, land, sea, space, and cyberspace.28 Russian A2/AD capacities for example in the high north in Murmansk, the Kola Peninsula, in Kaliningrad and in the Black Sea, and recently also in the eastern Mediterranean are potentially impeding and complicating NATO reinforcements and other NATO operations. In order to mitigate the impending global A2/AD challenge, the U.S. Department of Defense has not only rolled out in late 2014 the “Defense Innovation Initiative”29, but also the corresponding “Third Offset Strategy”.30 The objective has been to leverage U.S. advantages in technologies such as big data, stealth, advanced manufacturing, robotics, and directed energy, with a view toward sustaining and advancing U.S. technological – to include military-technological - superiority and offset its shrinking military force structure in a new era of great power competition. Related developments will likely set the pace and evolution of military-technological innovation for decades to come and on a global scale. Clearly, with the upcoming hybrid threats Europe will find its own A2/AD challenges. Soon the full spectrum of hybrid threats and consequently the whole spectrum of governmental and non-governmental means needs to be addressed. The Warsaw Summit decisions and the European Union Global Strategy point in a promising direction as Europeans must consider the geographical features of their eastern flank and southern neighbourhood, their prosperity interests in Asia, the technological maturity of Europe’s A2/AD challengers, and Europe’s own technological capabilities and political limitations, last but not least also cultural backgrounds that shape European societies.31
Luis Simon. “A European Perspective on Anti-Access/Area Denial and the Third Offset Strategy.” May 3, 2016. http://warontherocks.com/2016/05/a-european-perspective-on-anti-accessarea-denial-and-thethird-offset-strategy/ 29 Chuck Hagel, „Secretary of Defense Memo: Defense Innovation Initiative.” 15 November 2014. http://www.defense.gov/Portals/1/Documents/pubs/OSD013411-14.pdf 30 Deputy Secretary of Defense Bob Work, “The Third Offset Strategy and its Implications for Partners and Allies.” (speech, Washington, DC, January 28, 2015, Department of Defense. http://www.defense.gov/News/Speeches/Speech-View/Article/606641/the-third-us-offset-strategyand-itsimplications-for-partners-and-allies) 31 Luis Simon. “A European Perspective on Anti-Access/Area Denial and the Third Offset Strategy.” May 3, 2016. War on the Rocks. http://warontherocks.com/2016/05/a-european-perspective-on-anti-accessareadenial-and-the-third-offset-strategy/ 28
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4. Strategic Task In the past approaches countering hybrid warfare have been centred on rapid military responses. This will likely be counterproductive in future. Hybrid warfare may have achieved already its strategic objectives before conventional war starts. Once the threshold of military operations is crossed, it may be too late to defend. Consequently, recent approaches aim at a more flexible policy, striving to deter and counter hybrid adversaries with a wide range of instruments while fostering resilience - resilience in terms of the ability to cope, adapt and quickly recover from stress and shocks caused by a disruption, disaster, violence or conflict. Systems and organizations need to be prepared for attacks. Whatever damage is done by the intruder the civil, the private and the security sectors need to continue functioning to the extent possible and recover quickly. Already in the Cold War resilience was designed to anticipate and resolve disruptive challenges to critical functions, and to prevail and fight through direct and indirect attack. Yet, with view to today’s increased globalization, highly capable information and communication technology and the evolution of hybrid warfare resilience must be reinvented for the information and knowledge age acknowledging the interconnectedness between the, civil, private, and military sectors. 32 Building resilience has become a strategic task. By building up pre-crisis resilience to deal with hybrid security challenges, nations will be better able to resist, recover, and to assign responsibility to an aggressor nation. From the military perspective, nation’s and organisation’s military and capabilities and capacities build on civil and private resilience for both missions at home or out of area. Critical infrastructure is a particular critical area as the critical infrastructure systems that are the mainstay of nations economy, security, and health are interdependent – for example, the water supply system of a community is dependent on the pumping stations and they, in turn, are dependent on electric supply. Any successful hybrid attack on such targets could lead to serious economic or even societal disruption. The cyber space constitutes the most extreme form of this vulnerability. Broad reliance on cloud computing and big data has increased vulnerability to hybrid threats. Via the cyber space everything is connected to everything else: systems, machines,
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HQ SACT. “Building Resilience Across the Alliance.” Norfolk, 28 January 2016.
people. And everything can be damaged, disrupted or put out of service practically from anybody anywhere. Defenders don’t know when an attack is being launched, where it will strike and how. The resulting ambiguity makes an adequate reaction difficult, in particular for societies or multinational organizations that operate on the principle of consensus. In April 2016 the European Commission and the High Representative adopted a Joint Framework to counter hybrid threats and foster the resilience of the EU, its Member States and partner countries.33 This approach also includes increasing cooperation with NATO. NATO’s Heads of State and Government confirmed at their Warsaw Summit, 89 July 2016 their commitment „to enhance resilience, i.e. to maintain and further develop the Alliance members individual and collective capacity to resist any form of armed attack.”34 Allied Command Transformation has identified four mutually interdependent „focus areas with view to enhancing resilience:
Identifying key vulnerabilities and associated risks;
Synchronizing cross-governmental decision making;
Building military sustainability and civil preparedness;
Balancing the allocation of available resources. These "focus areas" serve as a bridge between the presence and future and provide
measurable change with view to the core question: How quickly can the "system" under attack by whatever combination of disruptive effects be restored to a new and stable state? Each focus area offers a prism for discrete analysis. As a military project, resilience has to be measured in readiness terms with clearly defined training standards. Scenario based simulation exercises for civil-military cooperation in complex emergencies can be a
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European Commission. Brussels, 6.4.2016. JOIN (2016) 18 final JOINT COMMUNICATION TO THE EUROPEAN PARLIAMENT AND THE COUNCIL. “Joint Framework on countering hybrid threats a European Union response“. http://eurlex.europa.eu/legalcontent/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52016JC0018&from=EN 34 NATO Summit Guide. Warsaw, 8-9 July 2016. http://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/pdf_2016_07/20160715_1607-Warsaw-SummitGuide_2016_ENG.pdf
catalyst for learning. Yet, also as a civil-military readiness project resilience needs to be organized with defined standards and a training capacity to achieve it.
5. Stakeholder Cooperation As states, societies and economies become more interdependent, resilience requires joint action of all relevant actors – to include whole-of-society and international partners. Consequently, resilience requirements are reflected in recent European Union and NATO decisions. Both organisations have understood that only cooperation will enable them to come up with proper resilience. Actions have been outlined to build resilience in areas such as cybersecurity, critical infrastructure, protecting the financial system from illicit use and efforts to counter violent extremism and radicalisation. It is also proposed to step up cooperation and coordination between the EU and NATO in common efforts to counter hybrid threats. Partner nations of the European Union and NATO are among the stakeholders. Several partner nations already have fallen victim of hybrid operations. Their experiences and lessons learned can help to better understand the advance and impact of hybrid tactics. Consequently, the European Union and NATO are investing to strengthen partner nations' national capacities in the fight against hybrid threats. The European Union Global Strategy states to this end: „It is in the interests of our citizens to invest in the resilience of states and societies to the east stretching into Central Asia, and to the south down to Central Africa. Under the current EU enlargement policy, a credible accession process grounded in strict and fair conditionality is vital to enhance the resilience of countries in the Western Balkans and of Turkey.”35 Of particular importance is the cooperation with the private sector.36 The military has become increasingly dependent on infrastructure and assets in the private sector. NATO for example faces two distinct but inter-related resilience challenges: first, to ensure that it can rapidly move all the forces and equipment needed to mission areas when facing an imminent threat or attack; and second, to be able to anticipate, identify, mitigate European Union. „Shared Vision, Common Action: A Stronger Europe A Global Strategy for the European Union’s Foreign And Security Policy." Brussels. June 2016. http://europa.eu/globalstrategy/en 36 Edward J. Harres. „Towards a Fourth Offset Strategy." Small Wars Journal. August 11 2016. http://www.thestrategybridge.com/the-bridge/2016/8/16/a-new-plan-using-complexity-in-themodernworld 35
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and recover from hybrid attacks with minimum disruptive impact. Without doubt the transfer of ownership and responsibility to the private sector has brought costefficiencies; but the quest to reduce costs and overheads to increase profitability has also led to less redundancy and less resilience. A possible disruption of supply chains highlights the present over-reliance on “just-in-time” approaches which may pose grave implications for the military - and as well for the civilian population. Similar dependencies exist with view to critical resource and services such as fuel, power and food. Also when facing distributed denial of service cyber-attacks against its outwardfacing networks, military increasingly rely on cooperation from the telecoms sector and the internet security companies to filter and capture data, identify malware and provide extra bandwidth. More than that the private sector has become a key driver of change through technology and innovation. From data mining and drones to 3D printing and sensor systems, many of the most significant technology developments today have both civilian and military applications. But governments are no longer necessarily the attractive partners from the past for the private sector as these partnerships bring plenty of paperwork, formal and bureaucratic meetings while the money is earned predominantly in the non-governmental business. Recently, NATO ambassadors and defence ministers have held simulation and scenario-based exercises to improve their situational awareness and responsiveness visà-vis hybrid threats. Obviously, this has been a wake-up call to many. Allies are now more encouraged than ever to map potential vulnerabilities that can arise from possible opponent’s engagement in hybrid warfare, i.e. involvement in business, financial, media or energy concerns, for example, to share the lessons learned and to orchestrate adequate responses.
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Guerra Híbrida – Na Reformulação da Segurança Nacional Ralph D. Thiele 37
1. Desafios Híbridos “(…) um Estado perfeitamente próspero pode, numa questão de meses ou até dias, transformar-se numa área de conflito armado violento, tornar-se uma vitima da intervenção externa, e cair numa teia de caos, catástrofe humanitária, e guerra civil (…)”.38 A declaração de Janeiro de 2013 do General Valery Gerasimov, Comandante das Forças Armadas da Federação Russa no encontro anual da Academia de Ciência Militar Russa, ilustrou uma mudança de paradigma na segurança global. A natureza dos desafios securitários tornou-se cada vez mais híbrida. A recente aplicação russa de uma estratégia híbrida sofisticada desafiou as nações e sociedades ocidentais – a incluir governança e normas – apesar das suas superioridades económicas, tecnológicas, de intellegence e militares. A Rússia desenvolveu a sua abordagem híbrida, baseando-se em estudos intensos sobre o comportamento dos actores ocidentais e não-ocidentais bem-sucedidos, e obteve um meticuloso quadro conceptual; ela treinou e exercitou este quadro e, finalmente, começou as operações.39 Na Crimeia e na Ucrânia, a guerra híbrida aplicou a desinformação e as forças de negação para manter a ambiguidade máxima. As Forças Armadas ajudaram a criar vantagens políticas operando, via “proxy”, forças nãogovernamentais na forma de separatistas. Durante todas as operações, a Rússia exibiu a capacidade de minimizar e, seriamente, enfraquecer o seu adversário sem ultrapassar os limiares estabelecidos que desencadeariam uma resposta militar. Ainda, os instrumentos não-militares russos mostraram um desempenho híbrido impressionante, ao lado dos instrumentos militares. Os investimentos, comércio e capitais russos foram utilizados para influenciar elites económicas e políticas chave. Os media
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Ralph D. Thiele é Presidente da Sociedade Política Militar em Berlim e consultor do StratByrd Consulting. 38 General Valery Gerasimov. „Speech at the annual meeting of the Russian Academy of Military Science." In January 2013. Military-Industrial Courier. Moscow. 2013. http://vpknews.ru/sites/default/files/pdf/VPK_08_476.pdf 39 Ralph Thiele. „Crisis in Ukraine – The Emergence of Hybrid Warfare. " ISPSW Strategy Series (2015).
estavam envolvidos nos apoios anti-integração e pro-partidos políticos russos. A construção de ligações entre o crime organizado russo e os elementos criminais locais foram notados, tal como, o estabelecimento de relações entre instituições religiosas, a exploração de tensões étnicas não resolvidas e das campanhas pelos “direitos das minorias” e os massivos ataques cibernéticos coordenados em alvos específicos. Antes da Rússia, o então chamado Estado Islâmico emergiu como uma organização híbrida seguindo, novamente, o modelo inicial do Hezbollah – parte rede terrorista, parte exército de guerrilha, parte entidade proto-estatal. Entretanto, o Irão desenvolveu um espectro de habilidade híbridas, assim como a Coreia do Norte e a China. Muito provavelmente, os actores híbridos não procuram somente infligir danos ou morte nas regiões, nações ou organizações. Eles estão, ademais, a esforçar-se para atingir fins e objetivos políticos. Neste sentido, eles tentarão influenciar a mentalidade colectiva de uma sociedade específica para que os seus valores e princípios sejam postos em causa, a sua determinação enfraquecida e, por consequência, os seus objetivos políticos abandonados ou modificados. A guerra híbrida não é limitada ao campo de batalha físico. Qualquer espaço disponível pode ser comprometido. Isto inclui os instrumentos tradicionais e modernos dos media. O envolvimento de actores não-estatais inclui milícias, grupos criminais transnacionais, ou redes terroristas. A guerra híbrida emprega uma ampla mistura de instrumentos – força militar, tecnologia, crime, terrorismo, pressões económicas e financeiras, meios humanitários e religiosos, intelligence, sabotagem, desinformação –, em todo o espectro da guerra – tradicional, irregular e/ou catastrófico. Uma abordagem furtiva e uma capacidade perturbadora podem ser expectadas, executadas dentro do contexto de uma estratégia flexível com centros de gravidade em alteração. Os conceitos e estratégias híbridas focam-se em vulnerabilidades particulares – desde ataques cibernéticos a sistemas de informação crítica, à perturbação de serviços críticos, como os fornecimentos de energia ou os serviços financeiros, para minimizar a confiança pública nas instituições governamentais e a coesão social. A guerra híbrida parece ser uma construcção de elementos vagamente conectados, mas na realidade as peças são parte de um mosaico pretendido. A diversidade de tácticas híbridas mascara a ordem completamente planeada por trás do espectro de ferramentas usado e dos efeitos a serem a alcançados.
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Com tudo isto, hoje, a guerra híbrida aparece como uma potente, complexa variação da guerra com um potencial de crescimento considerável. Ela relaciona, em simultâneo, actores estatais e não-estatais, com o uso de meios convencionais e nãoconvencionais de guerra que não são limitados ao campo de batalha ou a um território físico particular. Existem três características:40
A decisão da guerra/conflito é procurada, primeiramente, num centro de gravidade não-militar.
As linhas tradicionais da ordem e responsabilidade estão a ser desafiadas através de operações contra vulnerabilidades específicas do oponente, na sombra de interfaces.
Com a combinação de diferentes conceitos, métodos e meios, as “novas” formas de guerra e luta evolvem.
2. Gravidade Na Crimeia e na Ucrânia, a Rússia nunca pretendeu, em primeira instância, uma decisão deste conflito no campo militar. Os elementos militares da abordagem híbrida serviram o encobrimento e proteção de propagada ou operações políticas subversivas e secretas. Usando a guerra híbrida, o foco em “Centros de Gravidade” não-militares tornou-se o núcleo das ações russas direccionadas à Ucrânia, enquanto optimizavam o seu próprio desempenho nas zonas de segurança cinzentas. O conceito militar de um Centro de Gravidade (CdG)41 em conflitos foi introduzido por Carl von Clausewitz, em 1820. Este tem evoluído como um elemento nuclear das doutrinas militares que os estrategas utilizam no desenvolvimento de estratégias para ganhar guerras.42 Carl von Clausewitz descreveu o CdG do inimigo como “o centro de todo o poder e movimento, do qual tudo o resto depende. Este é o ponto para o qual todas as nossas energias devem estar direcionadas”.43 A única maneira de Johann Schmid. „Hybride Kriegführung und das „Center of Gravity“ der Entscheidung“. S&F Sicherheit und Frieden. S+F, Jahrgang 34 (2016), Heft 2. 41 CoG 42 Lawrence Freedman. „Stop looking for the Centre of Gravity." War on the Rocks. June 24, 2014. http://warontherocks.com/2014/06/stop-looking-for-the-center-of-gravity/ 43 Carl von Clausewitz, “On War”, eds./trans. Michael Howard and Peter Paret (Princeton: Princeton University Press, 1976), pp. 595-6. 40
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um militar conseguir atingir os seus objetivos, de acordo com Clausewitz, é recolhendo intelligence sobre o “carácter moral e físico” do inimigo, incluindo o seu CdG. Se o estratega militar não o consegue fazer, a derrota é quase certa. O planeamento operacional da Força de Defesa Australiana segue uma interpretação de CdG formulada por Joseph L. Strange e Richard Iron, que ofereceram uma perspectiva que defende a existência de múltiplos CdGs, os quais “podem mudar de fase para fase dentro de uma campanha”.44 Uma vez identificados os CdGs, o comandante e o staff responsável pelo planeamento determinam o modo como minimizar os CdGs adversários, protegendo, ao mesmo tempo, CdGs favoráveis e influenciando outros CdGs em acção no sentido pretendido.45 Clausewitz pensou nos efeitos-base dos CdG, focando-se em alcançar o colapso do inimigo, no modo como os efeitos de primeira e segundas-ordens podem ser atingidos. Isto coloca, particularmente, a abordagem dos CdG vis-à-vis a Abordagem Compreensiva para a segurança da NATO e da União Europeia, que é mediada por efeitos-base e providencia uma perspectiva que foca, explicitamente, operações em efeitos políticos, militares, económicos, sociais, infraestruturais e informacionais usando acções diplomáticas, informacionais, económicas e militares. Clausewitz considerou o cálculo de um CdG uma matéria do “julgamento estratégico”, para que fosse associado aos decisores políticos de topo. Diferenciando-se da situação dos inícios do século XIX, hoje, é ainda importante mas não suficiente focarse nas decisões político-militares. Infelizmente, a maioria dos decisores políticos, hoje em dia, tem uma educação, treino e experiência limitados a respeito dos desenvolvimentos relacionados com o CdG e, também, em relação às operações politicoestratégicas resultantes de opções emprego-DIME alternativas. Certamente, também, os líderes militares têm potencial de crescimento. Consequentemente, existe uma necessidade de melhorar e desenvolver capacidades político-militares capazes de lidar, efectivamente, com ameaças híbridas num formato alargado e compreensivo. A liderança civil e militar precisa de estar preparada para ações inter-agências compreensivas.
Dr Joseph L. Strange and Colonel Richard Iron, „Centre of Gravity: What Clausewitz Really Meant," Joint Force Quarterly, 35 (October 2004), pp. 20-27. 45 Australian Defence Doctrine Publication (ADDP) 5.0, „Joint Planning”, Edition 2 (Canberra: Department of Defence, February 2014) 2-11, 2-12. 44
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3. Acesso O conceito Anti-Acesso/Área Negada (A2/AN) – normalmente usado por forces fracas contra as mais fortes, porque impedir o inimigo de atacar e deter uma área particular é, principalmente, mais fácil do que controlá-lo –, é um irmão gémeo do CdG. Ao longo das últimas duas décadas, a China, a Rússia, o Irão, entre outros desenvolveram capacidades A2/NA consideráveis como mísseis de cruzeiros e balísticos, armas cibernéticas ofensivas, guerra eletrónica, entre outras. Estas capacidades permite-lhes ameaçar a liberdade de acesso e a presença através de terceiros que operam em todos os domínios: ar, terra, mar, espaço e ciberespaço.46 As capacidades A2/AN russas, por exemplo, no extremo norte, em Murmansk, na Península de Kola, em Kaliningrado e no Mar Negro e, recentemente, também, no Leste do Mediterrâneo, estão potencialmente a impedir e a complicar os reforços e outras operações da NATO. De forma a mitigar o impedimento do desafio global do A2/NA, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América não só lançou, no final de 2014, a “Iniciativa de Inovação da Defesa”47, mas também a correspondente, “Terceira Estratégia de Compensação”.48 O objetivo tem sido potenciar as vantagens norte-americanas nas tecnologias como big data, stealth, produção avançada, robótica, e energia directa, tendo em vista a sustentabilidade e o avanço da superioridade tecnológica norte-americana – incluindo tecnológico-militar –, compensado a diminuição da estrutura da sua força militar numa nova era de competição entre grandes potências. Os desenvolvimentos relacionados marcarão, provavelmente, o ritmo e a evolução da inovação tecnológicomilitar nas próximas décadas e numa escala global. Claramente, com as ameaças híbridas eminentes, a Europa encontrará os seus próprios desafios A2/AN. Brevemente, o espectro total das ameaças híbridas e, consequentemente, todo o espectro de meios governamental e não-governamentais Luis Simon. “A European Perspective on Anti-Access/Area Denial and the Third Offset Strategy.” May 3, 2016. http://warontherocks.com/2016/05/a-european-perspective-on-anti-accessarea-denial-and-thethird-offset-strategy/ 47 Chuck Hagel, „Secretary of Defense Memo: Defense Innovation Initiative.” 15 November 2014. http://www.defense.gov/Portals/1/Documents/pubs/OSD013411-14.pdf 48 Deputy Secretary of Defense Bob Work, “The Third Offset Strategy and its Implications for Partners and Allies.” (speech, Washington, DC, January 28, 2015, Department of Defense. http://www.defense.gov/News/Speeches/Speech-View/Article/606641/the-third-us-offset-strategyand-itsimplications-for-partners-and-allies) 46
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precisa de ser abordado. As decisões da Cimeira de Varsóvia e o Estratégia Global da União Europeia apontam para uma direcção promissora, na qual os europeus têm de considerar as características geográficas do flanco oriental e dos seus vizinhos a sul, os seus interesses de prosperidade na Ásia, a maturidade tecnológica dos desafiadores A2/AN europeus, as próprias capacidades tecnológicas e limitações políticas, e, por fim, as origens culturais que moldam a sociedades europeias.49
4. Tarefa Estratégica No passado, as abordagens, que contrariam a guerra híbrida, eram centradas nas respostas militares rápidas. Isto irá ser, provavelmente, contraproducente no futuro. A guerra híbrida pode já ter atingido os seus objetivos estratégicos antes de sequer ter começado a guerra convencional. Uma vez ultrapassado o limite das operações militares, pode ser demasiado tarde para defender. Consequentemente, as recentes abordagens apontam para uma política mais flexível, focada em dissuadir e contrariar adversários híbridos através de uma ampla rede de instrumentos enquanto promove resiliência – resiliência em termos de capacidade de lidar, adaptar e rapidamente recuperar de choques e tensões causadas por uma perturbação, desastre, violência ou conflito. Os sistemas e organizações têm de estar preparados para ataques. Seja qual for o dano causado pelo intruso, os setores securitários, privados e civis têm de continuar a funcionar, sempre que possível, e recuperar rapidamente. Já na Guerra Fria, a resiliência estava focada em antecipar e resolver os desafios perturbadores a funções críticas, e a prevalecer e lutar através de ataques directos e indirectos. Contudo, com a visão atual do aumento da globalização, de informação altamente qualificada e comunicação tecnológica e a evolução da guerra híbrida, a resiliência tem de ser reinventada para a era da informação e do conhecimento, reconhecendo a inter-conectividade entre os setores militares, privados e civis. 50 A construção da resiliência tornou-se uma tarefa estratégica. Ao construir uma resiliência pré-crise para fazer face aos desafios securitários híbridos, as Nações serão
Luis Simon. “A European Perspective on Anti-Access/Area Denial and the Third Offset Strategy.” May 3, 2016. War on the Rocks. http://warontherocks.com/2016/05/a-european-perspective-on-anti-accessareadenial-and-the-third-offset-strategy/ 50 HQ SACT. “Building Resilience Across the Alliance.” Norfolk, 28 January 2016. 49
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capazes de resistir, recuperar, e atribuir a responsabilidade a uma Nação agressora. Segundo a perspetiva militar, as forças e capacidades militares de uma Nação ou Organização constroem resiliências civis e privadas para missões no próprio país e no exterior. A infraestrutura crítica é uma área crítica particular semelhante aos sistemas infraestruturais críticos, os quais são os pilares económicos, securitários, e de saúde das Nações, sendo interdependentes entre si – por exemplo, o sistema de distribuição de água de uma comunidade é dependente das centrais de bombeamento que, por sua vez, são dependentes do fornecimento elétrico. Qualquer ataque híbrido bem-sucedido nestes alvos pode levar a sérias perturbações económicas e societais. O ciberespaço constitui a mais extrema forma desta vulnerabilidade. A larga dependência em nuvens de computação e big data tem aumentado a vulnerabilidade face às ameaças híbridas. Por via do ciberespaço tudo está conectado a tudo o resto: sistemas, máquinas, pessoas. E tudo pode ser danificado, perturbado ou posto fora de serviço praticamente por qualquer pessoa, em qualquer lugar. Os defensores não sabem quando um ataque está a ser executado, para onde é dirigido ou como vai atingir. A ambiguidade resultante torna difícil uma reação adequada, em particular, para sociedades ou organizações multinacionais que operam segundo o princípio do consenso. Em Abril de 2016, a Comissão Europeia e o Alto Representante adotaram um Joint Framework para combater as ameaças híbridas e reforçar a resiliência da União Europeia, dos Estados-membros e dos seus países parceiros.
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Esta abordagem inclui,
também, o aumento da cooperação com a NATO. Os Chefes de Estado e de Governo da NATO confirmaram, na Cimeira de Varsóvia, a 8 e 9 de Julho de 2016, o seu compromisso “em reforçar a resiliência, i.e. manter e desenvolver a capacidade individual e coletiva dos membros da Aliança de resistir a qualquer forma de ataque armado”.52 A Transformação do Comando Aliado identificou quatro mutuamente interdependentes “áreas de foco” tendo em vista o reforço da resiliência:
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European Commission. Brussels, 6.4.2016. JOIN (2016) 18 final JOINT COMMUNICATION TO THE EUROPEAN PARLIAMENT AND THE COUNCIL. “Joint Framework on countering hybrid threats a European Union response“. http://eurlex.europa.eu/legalcontent/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52016JC0018&from=EN 52 NATO Summit Guide. Warsaw, 8-9 July 2016. http://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/pdf_2016_07/20160715_1607-Warsaw-SummitGuide_2016_ENG.pdf
Identificar as vulnerabilidades-chave e os riscos associados;
Sincronizar a decisão política entre governos;
Construir sustentabilidade militar e preparação civil;
Equilibrar a distribuição dos recursos disponíveis; Estas “áreas de foco” servem de ponte entre o presente e o futuro e providenciam
uma mudança significativa tendo em vista a questão principal: Quão depressa consegue um “sistema”, sobre um ataque de uma qualquer combinação de efeitos perturbadores, restaurar-se num Estado novo e estável? Cada área de foco oferece um prisma para uma análise discreta. Como um projeto militar, a resiliência tem de ser medida em termos disponíveis com padrões de treino claramente definidos. Exercícios de simulação de cooperação civil-militar, baseados em cenários de emergência complexos, podem ser catalisadores para a aprendizagem. Contudo, tal como um projeto de preparação civilmilitar, a resiliência para ser atingida precisa de ser organizada com padrões definidos e de uma capacidade treinada.
5. Cooperação entre Interessados Enquanto os Estados, as sociedades e economias se tornam mais interdependentes, a resiliência requer uma ação conjunta de todos os atores relevantes – incluindo a sociedade como um todo e os parceiros internacionais. Consequentemente, as condições para a resiliência estão refletidas nas recentes decisões da União Europeia e da NATO. Ambas as organizações perceberam que apenas cooperando conseguirão originar a resiliência adequada. As ações foram delineadas para construir a resiliência em áreas como a cibersegurança, a infraestrutura crítica, a proteção do sistema financeiro de usos ilícitos e o desenvolvimento de esforços para combater extremismo violento e a radicalização. Também está proposto o reforço da cooperação e coordenação entre a União Europeia e a NATO através de esforços comuns de combate às ameaças híbridas. As Nações parceiras da União Europeia e da NATO estão entre os interessados. Várias Nações parceiras foram, já, vítimas de operações híbridas. As suas experiências e lições aprendidas podem ajudar a compreender melhor o avanço e o impacto das táticas hibridas. Consequentemente, a União Europeia e a NATO estão a investir no fortalecimento das capacidades nacionais das suas Nações parceiras na luta contra as ameaças híbridas. A este respeito, a Estratégia Global da União Europeia sustenta: “É do
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interesse dos nossos cidadãos o investimento na resiliência dos Estados e sociedades do Leste, até à Ásia Central e, a sul, até à África Central. Sobre a atual política europeia de alargamento, um processo credível de acessão, enraizado em condicionantes estritas e justas, é vital para reforçar a resiliência dos países dos Balcãs Ocidentais e da Turquia”.53 De particular importância é a cooperação com o setor privado. 54 As forças militares
tornar-se
crescentemente
dependentes
das
infraestruturas
e
assets
proporcionados pelo setor privado. A NATO, por exemplo, enfrenta dois desafios de resiliência distintos, mas interrelacionados: em primeiro lugar, ser capaz assegurar que pode rapidamente mobilizar todas as forças e equipamentos necessários para áreas de missão, quando enfrenta um ataque ou ameaça eminentes; e, em segundo lugar, ser capaz de antecipar, identificar, mitigar e recuperar de ataques híbridos com o mínimo de impactos. Sem dúvida, a transferência de propriedade e responsabilidade para o setor privado trouxe custos-eficácias; mas a demanda pela redução dos custos e despesas e aumento da rentabilidade originou menos redundância e menos resiliência. Uma possível perturbação nas correntes de oferta salienta a presente sobre-resiliência em abordagens “mesmo a tempo” que podem ter graves implicações para as forças militares – e, do mesmo modo, para a população civil. Existem dependências semelhantes a respeito dos recursos e serviços críticos como o combustível, o poder e a comida. Ainda, quando se enfrenta a negação do serviço de distribuição de ataques cibernéticos direcionados contra as redes de combate, as forças militares dependem crescentemente da cooperação com os setores das telecomunicações e com as companhias de segurança de internet para filtrar e capturar data, identificar malwares e providenciar bandas adicionais. Mais do que isso, o setor privado tornou-se o motor-chave da mudança através da tecnologia e inovação. Desde da recolha de data e dos drones à impressão 3D e aos sistemas de censores, grande parte dos desenvolvimentos tecnológicos significativos têm, hoje, aplicações civis e militares. Mas os governos não são mais, necessariamente, os parceiros atrativos do passado, para o setor privado estas parcerias trazem demasiada
European Union. „Shared Vision, Common Action: A Stronger Europe A Global Strategy for the European Union’s Foreign And Security Policy." Brussels. June 2016. http://europa.eu/globalstrategy/en 54 Edward J. Harres. „Towards a Fourth Offset Strategy." Small Wars Journal. August 11 2016. http://www.thestrategybridge.com/the-bridge/2016/8/16/a-new-plan-using-complexity-in-themodernworld 53
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burocracia, enquanto o dinheiro é ganho predominantemente no setor empresarial nãogovernamental. Recentemente, os embaixadores da NATO e os ministros da defesa realizaram simulações, baseadas em cenários, para melhorar a sua consciência situacional e capacidade de resposta vis-à-vis as ameaças híbridas. Obviamente, isto tem sido uma chamada de atenção para muitos. Os aliados estão, agora, mais empenhados do que nunca em mapear potenciais vulnerabilidades que podem surgir do possível envolvimento do oponente em guerras híbridas, i.e. o envolvimento em preocupações empresariais, financeiras, media ou energéticas, por exemplo, para partilhar as lições aprendidas e orquestrar respostas adequadas.
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