Revista Mercê - ed. 30

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Revista

Ano 11 30

Publicação Trimestral da Família Mercedária no Brasil - Dezembro 2015

CRISE

OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA


Nolasco em:

Liberdade a liberdade... ‘‘Foi para...

nos libertou’’. Gálatas 5.1

que Cristo... Desenho: Madson Henrique, aspirante; pintura e arte final: Rodrigo Sales

Serviço de Animação Vocacional Mercedário Rua Nova Trento, 429 - Guadalupe- Rio de Janeiro- RJ Cep: 21670-440 - Tel: 21-2458 5025


EDITORIAL A história parece que se repete. Fatos passados, que deveriam ficar no passado, parecem que voltam, e com uma força ainda mais assustadora. Falo isso para dizer que o que os muçulmanos extremistas estão fazendo hoje já fizeram na Idade Média. Na época de São Pedro Nolasco, século XIII, os muçulmanos radicais sequestravam, prendiam, torturavam, mantinham em cativeiros e matavam cristãos. Aqueles mais fracos abandonavam a fé cristã para abraçar a religião de Maomé, na esperança de terem suas vidas poupadas. Agora, cerca de 800 anos depois vemos a história se repetir. O que chamamos de Estado Islâmico comete os mesmos erros de outrora, com uma crueldade e organização ainda maior. Essa ideia de perseguir e matar os infieis é algo antigo, está permeado de fanatismo, de questões ideológicas e políticas. Nada muito diferente do tempo das Cruzadas, expedições organizadas pela própria Igreja Católica para defender o livre acesso dos peregrinos cristãos à Terra Santa, dominada pelos muçulmanos. A primeira cruzada aconteceu em 1095, com o papa Urbano II. Ao todo foram 8 expedições, num período de quase

200 anos. Não seria errado dizer que se não fosse essa ação da Igreja, os muçulmanos teriam dominado quase toda a Europa. Certamente que as cruzadas também tiveram seus erros e exageros. A grande diferença é que a Igreja aprendeu com as chamadas Guerras Santas, e hoje busca promover a paz no mundo, por meio de missionários pacíficos e por meio do Papa Francisco, com seu discurso de conciliação. Por outro lado, grupos extremistas vinculados ao Islamismo ignoram completamente a história e vem cometendo atrocidades no mundo, sequestrando, matando e incitando o terrorismo. Nesta edição da Revista Mercê, oferecemos uma visão mercedária aos últimos fatos ocorridos e uma reflexão sobre cada acontecimentos, pois tudo isso tem a ver com o nosso carisma redentor. Foi num contexto como esse que nossa Ordem nasceu. Boa leitura. Enviem-no apreciações e sugestões!

Frei Rogério Soares de Almeida Silveira

Ordem Mercedária no Brasil Avenida L2 Sul, quadra 615, Bloco D CEP 70200-750 - Brasília- DF Fone: (61) 3346-3890 www.revistamerce.com.br


Índice

12

10 08 Nós também formamos família!

Onda de atentados em Paris mata pelo menos 129

Tolerância em família: como superar

18

20

14

Tsunami de lama

05 A chaga aberta da história

Padres MercedáriosFrei Manoel Antônio

23

Uma obra de arte que inspira libertação na capela do Recanto Mercê

O caminho vocacional, a busca da identidade religiosa-presbiteral

22

Natal... Amor de Deus que vem ao nosso encontro!

24

Ordem Mercedária na China, é tempo de missao!

26 EXPEDIENTE Provincial Superior: Fr. Rogério Soares de Almeida Silveira, O. de M. Jornalista Responsável: Rodrigo Sales - Reg. 8316-DF Correção e Revisão: Elza Atala Participaram nesta edição: Rosemeire Galdino dos Santos Fr. Osmar Alves, O. de M.

A oração do Cristão: Pai nosso Fr. Fernando Cascon, O. de M.

Frei Edalan Guedes, O. de M.

Frei José Herculano de Negreiros, O. de M. Fr. Rogério Soares, O. de M Frei Jociel Batista, O. de M. Frei Werlen Silva, O. de M. Darlan Alcântara Sousa Madson Henrique

Projeto Gráfico e diagramação Rodrigo Sales Impressão e Acabamento Editora Gráfica Mídia LTDA. Tiragem 4.000 exemplares


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06 Revista Mercê

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PADRES MERCEDÁRIOS

POR PADRE FERNANDO CASCON

FREI MANOEL ANTÔNIO RODRIGUES, O. de M. (FREI MANECAS) Nasceu este religioso no dia 23 de dezembro de 1908, na aldeia de Tronco, município de Chaves, Portugal. A fronteira da Espanha com Portugal ficava muito perto de um convento mercedário chamado Verín. Manecas gostava muito dos “fradinhos” como ele chamava com carinho os religiosos do convento e para os quais, muitas vezes, levava flores para o altar da igreja e misturado com as flores também ia um contrabando muito apreciado pelos “fradinhos”, café. Quando passava a fronteira, dizia para os policiais: “Levo flores para Nossa Senhora”. E os policiais, mesmo sabendo que ia algo a mais, sempre o deixavam passar, tocando o jumentinho. Assim foi que eu sendo noviço nesse convento, conheci Manecas. Ajudou muito umas monjas, na cidade de Ourense, que confeccionavam roupas de igreja, casulas, estolas, etc. e ele as passava para Portugal onde as vendia mais facilmente e dava dinheiro para sustento das freiras. Tentou entrar na Ordem Mercedária ingressando em Sárria no dia 7 de junho de 1961, mas não chegou a professar. Passando lá, o recém nomeado bispo prelado de São Raimundo Nonato, Dom Amadeo González Ferreiros convidou-o para acompanha-lo e lá se foi nosso Manecas,

Frei Manecas

sempre com ânsias de ajudar os “fradinhos”. Ficou sempre como “donado” pois que não fez a profissão dos votos. As Irmãs Mercedárias em São Raimundo Nonato, Piauí, o chamaram de “Benemérito”. Era uma festa falar com Frei Manecas, sempre contando anedotas naquele português misturado de espanhol e, quando estava alegre, gostava de entoar um canto da “terrinha” e olha que tinha uma voz afinada e forte. Veio para o Piauí, São Raimundo Nonato com Dom Amadeo, primeiro prelado desta prelazia, no ano 1963. Não aceitava que alguém falasse mal do bispo ou dos padres, logo ficava zangado. Os mercedários tinham um bom defensor. Foi sempre muito serviçal cuidando das coisas do prelado. O Caruaru, lugar pertinho da cidade que pertencia à prelazia, era o seu esconderijo e lugar de descanso. Além da plantação possuía algum gado e criação de galinhas. Lá ia todos os dias para buscar verduras, frutas e o sustento de cada dia que ele mesmo plantava e ainda sobrava para amigos, como D. Macária e outros amigos. Uma doença não descoberta o obrigou a ir para o Rio de Janeiro, para a casa de Ramos, onde estava o Pe. Cándido Lorenzo de superior. Mais tarde seguiria Dom Cándido, nomeado 2º bispo prelado, para São Raimundo Nonato onde permaneceu até a morte. Chegou durante a festa do Padroeiro, no ano 1971. Nos últimos meses da sua vida, sofreu muito por causa da doença que o acompanhou. Era hidropisia. A barriga inchava e tinham que lhe tirar litros de água todas as semanas. Manecas levou essa doença com resignação. Dom Cándido estava em Recife – PE para tomar o avião, pois lhe comunicaram que sua mãe estava muito grave, quando recebeu a notícia de que Fr. Manecas estava falecendo. Então avisou aos padres e irmãs mercedárias que não lhe faltasse nada. Administraram-lhe os últimos sacramentos e, no dia 14 de novembro de 1990, Deus chamou este bendito religioso mercedário. Frei Manecas não era professo, mas donado. Destacou-se pela sua simplicidade.

Revista Mercê 07 Revista Mercê 07


ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA

Frei Edalan Guedes, O. de M.

Nós também formamos família!

O espírito das Mercês está formando um conjunto de Institutos religiosos e associações de leigos que foram surgindo ao longo do tempo. [...] Eles se comprometem a realizar, de modos diversos, a mesma missão libertadora e sentem-se unidos pelo mesmo amor à Virgem Maria sob a invocação das Mercês. Estes Institutos e associações cultivam o mesmo espírito, promovem laços de fraternidade e formam a Família Mercedária. (COM 12) Recentemente, a Igreja celebrou em Roma um Sínodo extraordinário sobre a Família no desejo de escutar-se e escutar o mundo, sobretudo, no que se refere aos apelos e desafios do complexo tema abordado. A síntese apresentada ao Santo Padre pela Assembleia Sinodal está divida em três partes: a escuta dos desafios sobre a família, o discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje. Esse relatório final permitirá ao Papa, se o achar oportuno, devolver em forma de Exortação Pós-Sinodal um documento que sirva de reflexão e de auxílio pastoral a toda a Igreja. 08 Revista Mercê

Uma coisa é certa, quando se fala em família: todo mundo está de acordo que é algo importante na vida de uma pessoa, pois toca as suas origens, seu modo de ver o mundo e de se relacionar com os outros, suas crenças, e por ai vai... Nós, consagrados, também, gostamos de abordar sobre o tema da família. Infelizmente, muitas vezes, de maneira genérica, com fortes tons moralizantes. É como se se tratasse de algo que não faz parte do nosso âmbito de vida, uma vez que não constituímos


família. Lembro-me do jeito, um tanto jocoso, de um confrade convidando os fiéis paroquianos para a profissão religiosa de nossos noviços, dizendo: “Venham participar, assim vocês verão que frade não nasce em goiabeira nem em abacateiro...” Aludia, justamente, para o fato de o consagrado ser alguém que se enraíza na vida familiar, numa história carregada de significados, fatos, sentimentos, tradições, alegrias e lutas. Por outro lado, ainda pouco se trabalha o tema da família, de maneira adequada e profunda, na formação inicial; talvez por isso, mais adiante encontramos supracitados frades que insistem em falar de família como se fosse um tema a mais sobre tantos outros que poluem suas ideias. No mínimo, fica uma pergunta no ar: Será que nos sentimos família, de verdade? Nunca, como hoje, nos círculos de formação permanente se tem falado sobre a Família e a Vida Consagrada, com todos os desafios que a tocam. Afinal, se bem não constituímos família, estritamente falando, nós, consagrados, também formamos família.

O que é um Sínodo? Como indicado pelo site oficial da Santa Sé, o Sínodo dos Bispos é uma instituição permanente decidida pelo Papa Paulo VI, em 15 de setembro de 1965, em resposta ao desejo dos Padres do Concílio Vaticano II de manter vivo o espírito de colegialidade episcopal formada pela experiência conciliar. A assembléia dos Bispos se refere à antiga tradição sinodal da Igreja, mas é uma novidade do Concílio Vaticano II. Sínodo é uma palavra grega “syn-hodos”, que significa “reunião”, “assembleia”. O Sínodo é, de fato, um lugar de encontro para os bispos, ao redor do Papa que o convoca como um instrumento para

Famílias formadas por desígnio de Deus, com pessoas de origem e culturas diversas, com traços de personalidade e características distintas, com dinamismos e sonhos bem diferentes; tudo isso, a ser elaborado, resignificado e orientado para um projeto comum carisma -, o qual manifesta sinais do Reino de Deus. Aproveitando o gancho do Sínodo, talvez esse seja o momento propício para darmos lugar, de uma vez por todas, ao tema da “família”, de maneira efetiva e sem superficialidades, no trabalho pedagógico ao longo do acompanhamento formativo. Para refletir: • Em sua comunidade, você costuma falar sobre sua experiência familiar? • Quais dons e qualidades cultivadas na família enriquecem sua vivência fraterna, hoje? • Sua comunidade é um verdadeiro lar ao qual você volta com prazer e saudade, depois da lida do dia, sabendo que vai encontrar amor, compreensão, diálogo e respeito?

“consulta e colaboração”. É, portanto, um lugar para a troca de informações e experiências, para a busca comum de soluções pastorais válidas universalmente. Para resumir, o Sínodo dos Bispos pode ser definido como uma assembleia do episcopado católico, que tem a tarefa de ajudar seguindo os conselhos do Papa, no governo da Igreja universal. Sobre a escolha dos participantes do Sínodo, procede-se por representatividade. Participam do Sínodo, bispos eleitos e pessoas indicadas pelas diversas Conferências Episcopais, ou seja, pelos prelados de uma nação ou continente. Revista Mercê

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ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA

Por Frei Rogério Soares de Almeida Silveira, O. de M.

Foto: Alejandro Jodorowsky

Tolerância em família: como superar conflitos.

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H

oje, os conflitos em família são mais frequentes do que em outras épocas. No tempo dos meus avós, bastava o chefe de família falar e todos calavam. Dava-se uma ordem e todos acatavam. A mulher geralmente era submissa. Dessa forma, não havia espaço para o conflito, para o debate. Havia decisões unilaterais. Hoje em dia, tudo mudou. A mulher conquistou seu espaço. Quer participar de todas as decisões, interfere no andamento da casa. Em muitos casos elas são as chefe de família. Não aceitam submissão. Se não concordam, falam o que pensam. Os filhos também não aceitam tudo. Reagem quando não concordam com algo. Precisam ser convencidos daquilo que os pais propõem. Hoje, existe muito mais acesso a informação e à formação do que outrora. Essa nova configuração de família, consequentemente, se torna um ambiente favorável ao conflito. Ora porque o homem não assimilou ainda o espaço conquistado pela mulher, ora porque a mulher ainda não sabe administrar bem seu espaço conquistado. Da parte dos filhos, há, por vezes, inversão de papeis. Todos querem falar e ter os mesmos direitos. Com isso, o entendimento e a união em família fica quase impossível. Seja como for, prefiro, mesmo com conflitos, esse nosso tempo! Estamos vivendo a melhor época. O maior problema é que entramos num tempo novo, mas o tempo novo não entrou dentro da gente. Mudamos de paradigma sem mudar as ferramentas para viver essa nova realidade. Antigamente se resolviam os conflitos simplesmente com o pai dando a última palavra, mas os conflitos internos cresciam e angustiavam a todos. Hoje em dia, a melhor

época, o que devemos fazer? Temos que nos exercitar na tolerância. Não na tolerância de aceitar tudo, mas na capacidade de aceitar o outro, de o considerar como alguém diferente de mim que tem algo importante a dizer. Que pode inclusive me convencer que estou errado. Para isso é necessário humildade. Muita humildade. Humildade em reconhecer que não tenho toda a verdade. Que tenho muito a aprender. Aprender a interagir com o outro e de me deixar interpelar por ele. Às vezes agimos como ilhas. Cada um fala do seu lugar, a partir do seu ponto de vista. Sentem-se completos e detentores das respostas. O outro está sempre errado e equivocado. Dessa forma, não há diálogo e sim monólogos. Duas Ilhas se topando e se afastando. Os conflitos deixam de ser sadios e férteis para serem insuportáveis. Quando os conflitos tornam-se insuportáveis, as brigam ganham espaço e se parte para o desrespeito, a falta total de tolerância. É a partir daí que famílias se desfazem. Casais que se amam se separam e filhos que amam os pais saem de casa ou partem para as drogas. Como hoje em dia, ouve se dizer, eles brigam tanto que é melhor separar. Perdem, portanto, a grande chance de serem novas pessoas, aprendendo muito de si mesmo conhecendo muito do outro. Partem para novas relações e as brigas inúteis, muitas vezes, continuam, apenas mudou de endereço. Novos tempos, nova família, novos métodos de convivência familiar. Tolerância é o caminho, humildade é o meio e o amor é o fim. Só seremos novas pessoas se tivermos a coragem de aceitar que o outro tem algo importante a dizer, sobre todos os assuntos, inclusive sobre mim. E viva a família!

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CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA

Por Rodrigo Sales

Onda de atentados terroristas em Paris mata ao menos 129 O pior ataque na história da França deixa 129 mortos e 352 feridos -99 deles em estado grave. O Estado Islâmico reivindicou a cadeia de atentados. Perpetrados, de acordo com a acusação, três grupos coordenados para ações terroristas. A polícia identificou um francês entre os terroristas mortos . Há três outros detidos na Bélgica. O país está em estado de emergência .

Foto: El.CLarin

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U

ma série de atentados coordenados atingiram Paris na noite de sexta-feira (13). Mais de 350 pessoas ficaram feridas, entre elas 03 brasileiros (99 delas com muita gravidade). A casa de espetáculos Bataclan foi um dos principais alvos dos ataques, com a ação de homens armados que detiveram centenas de reféns. Como consequência, o Governo francês fechou as fronteiras do país, decretou estado de emergência e mobilizou o Exército. Os ataques terroristas ocorreram principalmente nos distritos 10 e 11 da capital francesa, situados a nordeste do centro da cidade. Segundo testemunhas, três homens armados entraram na casa de espetáculos Bataclan, com capacidade para 1500 pessoas, e durante um show de rock abriram fogo, gritando frases ligadas à Síria. Pelo menos 82 pessoas morreram e diversos espectadores foram mantidos como reféns. Em outro ponto da cidade, três explosões foram ouvidas na área do Stade de France, onde acontecia um amistoso de futebol entre França e Alemanha. As explosões deixaram cinco mortos nos arredores do estádio. A polícia chegou a isolar a áera e retirou o presidente francês, François Hollande, que assistia ao jogo. Hollande se dirigiu ao ministério do Interior para acompanhar a evolução dos ataques. Um restaurante cambojano, próximo ao Bataclan, também foi alvo de um atentado, que teria provocado 12 mortes, segundo várias fontes. Um café e um restaurante japonês próximos tiveram o mesmo destino, com um saldo provisório de 18 mortos. Segundo a polícia local, os oito terroristas foram mortos em operações de segurança.

Em um comunicado publicado na internet, o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou os ataques, afirmando que a França continuará a ser um de seus principais alvos.

Atendimento as vítimas dos ataques em Paris Em nota, o Vaticano classificou o ato como “um ataque contra a paz de toda a humanidade” e cobrou uma “resposta decisiva e solidária” após os atentados. O porta voz da Santa Sé, Federico Lombardi, declarou: “Estamos estarrecidos por esta nova manifestação de louca violência terrorista e de ódio, que condenamos no modo mais radical junto ao Papa e a todas as pessoas que amam a paz. Rezemos pelas vítimas e pelos feridos e por todo o povo francês. Trata-se de um ataque à paz de toda a humanidade, que requer uma reação decidida e solidária da parte de todos nós para contrastar o expandir-se do ódio homicida em todas as suas formas”. Foto: El.CLarin Revista Mercê 13


CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA

Por Padre José Herculano de Negreiros, O. de M.

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A Chaga aberta da História P

or vários séculos, chegou-se a imaginar que os grandes conflitos que vieram desestabilizando o mundo e desembocaram nas duas últimas guerras mundiais tivessem fechado o longo e traumático capítulo do furioso expansionismo islâmico que já desde a alta Idade Média tinha modificado o mapa-mundi. Foi um equívoco. A partir da década de 90, as escolas do fanatismo religioso do islamismo voltaram a reprisar seu ódio contra o Ocidente. Isto veio se intensificando nos ataques às torres gêmeas do Word Trade Center, em 2001; e mais tarde, às embaixadas americanas do Quênia e da Tanzânia, nos metrôs de Madrid, em 2004, e outros semelhantes no Iraque, em 2005, em Londres, no Egito, na Argélia e depois no Paquistão, na Arábia Saudita; e bem recentemente, nos atentados terroristas no Qumrã, na Tunísia e na própria Síria. O certo é que estes grupos extremistas aterrorizam as potências da Terra. Agora, com o nome de Estado Islâmico, este grupo radical sunita, um dos ramos do Islamismo, criado a partir do braço iraquiano da Al-Qaeda é que desencadeia este terror e mexe com o mundo inteiro. Atraindo milhares de jovens de todo o mundo - falam de mais de 20 mil estrangeiros de 50 países- o EI, que ocupa uma área entre o Iraque e a Síria, segue uma leitura radical das escrituras islâmicas e com uma visão sectária adota práticas rígidas como a decapitação de inimigos e a pena de morte para outros condenados que eles exibem como culto ao seu deus.

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CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA

O controle dessas áreas no Iraque e na Síria leva ao desespero milhões de pessoas da mesma crença e já não somente aos das outras denominações religiosas, que eles simplesmente chamam de infieis. O pânico tomou conta especialmente de todo aquele pedaço de chão do mundo. O drama, porém, não se confina ali. Na ânsia desesperada de livrar-se daquele inferno, milhões de habitantes desses países fogem e, buscando sobreviver, gritam por socorro. A esses os acompanha o espectro da fome, da desgraça, da dor, gerando um quadro de angústia e desespero. A leitura que se faz é a de que um dos maiores problemas resultantes destes conflitos recentes da humanidade são realmente os imigrantes e os refugiados. Desde o início do milênio, o número de pessoas afetadas por este furacão saltou de 12 milhões, que já se contavam, desde a última década do século passado, para 40 milhões, hoje. Segundo o noticiário internacional, diariamente, milhares de pessoas desses países em situação de pobreza ou conflito, como a Síria, a Líbia e ainda o Estado Palestino tentam a sorte em perigosas travessias no Mediterrâneo para buscar refúgio na Europa. Viajando em embarcações precárias, que sequer contam com equipamentos de segurança, e à mercê de gangues, estes imigrantes acabam à deriva no mar. E os que conseguem sobreviver aos naufrágios, batem suplicantes nas portas do Ocidente. Nestes últimos dias, por exemplo, um barco que seguia da Líbia para a Itália naufragou matando cerca de 800 pessoas. Dias depois, a Marinha e a Guarda Costeira do país salvaram as vidas de outras 1.200 em uma operação de resgate. E como o mundo vem se comportando? Os EUA mostram seu poder de reação. Ao forçar, porém, os ataques ocidentais ao mundo muçulmano, os EUA globalizaram o terror desse fundamentalismo. Entidades criticam também a maneira como a União Europeia (UE) está lidando com o problema. Para a ONU, os governos da UE devem dar prioridade à busca e ao resgate destes imigrantes. A própria Anistia Internacional sugere que a UE organize uma missão humanitária multinacional no Mediterrâneo. O problema deixa de ser da esfera do expansionismo, ideológico, ou político e passa a ser de ordem humanitária. Reconhecemos que subjaz uma dificuldade de assimilação entre nossos padrões comportamentais. O Ocidente sempre foi provocador. Não há muito, o mundo muçulmano atiçou ameaças contra Hushidie por sua famosa e atrevida provocação àquela cultura, com os seus “versos satânicos” contra o “Profeta de Alá”. Um ato realmente insolente, típico da nossa idiossincrasia ocidental. Se o Ocidente levasse mais em conta a Psicologia Analítica de Gustavo Jung, com certeza respeitaria melhor a simbo16 Revista Mercê

Refugiados curdos na Turquia

logia que povoa o inconsciente coletivo dos povos. Mexer com os símbolos, imagens, ritos, sempre foi temerário. E mais recentemente, um jornalista francês reeditou mais uma dessas irreverências. E Paris levou mais de 4 milhões de pessoas às ruas na defesa do jornalista. Trata-se, portanto, de uma massa cultural humana, torpedeando outra cultura antagônica. Num estilo de guerra psicológica este comportamento vem marcando agora desta forma a história da humanidade. Sabe-se que grandes revoluções acontecem por fatores de ordem econômica e de interesses comerciais. Porém, as raízes dos conflitos se afundam também nos subterrâneos do religioso. Uma das características centrais do ódio Islâmico, tão recorrentes nos dias de hoje, têm seu forte apelo anti-ocidental, em nosso comportamento libertino, conforme as pichações exibidas nas manifestações do islamismo iraniano, chamando-nos de “o Grande Satã”. O certo é que as cenas assombrosas que vêm chocando o mundo parecem, por outro lado, que não nos sensibilizam. Os genocídios, ou assassinatos em massa, os massacres, com centenas de armênios martirizados, os imensos campos de refugiados, os milhares de imigrantes afogados, clamando por socorro! Enquanto isso, vemos alguns países ricos construindo muros e armando cercas para impedir a acolhida e o asilo a esses seres humanos desesperados. Tudo isso representa uma das mais chocantes cenas do comportamento humano, em plena era das vacas gordas e cofres bilionários se derramando. E a história se repete. No início do século XIII, estas mesmas cenas aconteciam. O mundo Islâmico penetrara nos países do Mediterrâneo, como Espanha, Portugal, Itália e Grécia, instalando ali seus califados e suas mesquitas. O território desses países se desmanchava na fragilidade


dos seus pequenos reinos desunidos, empobrecidos, desorganizados. Milhares de cristãos eram levados às masmorras maometanas disseminadas por toda a esteira da África e, quando não encarcerados, muitos deles eram vendidos e comprados como mercadoria. Foi naquele contexto, semelhante ao de hoje, que brilhou a estrela do jovem catalão Pedro Nolasco. Ele sozinho arregimentou milhares de cavalheiros e os exercitou para a grande tarefa de resgate de tantos das mãos do fundamentalismo maometano. É certo que o seu ousado empreendimento contabilizou centenas de mártires de várias regiões da Espanha e de outros países da Europa. Todos mortos de forma brutal: decapitados, crivados com flechas, crucificados, enforcados, apedrejados, atravessados por espadas, esquartejados, estripados, arrojados ao mar com pedras atadas ao pescoço, jogados vivos em fogueiras, diante dos palácios de reis para entreter o povo. Contudo, o gesto de Nolasco, além de resgatar

milhares de prisioneiros cristãos, fez o mundo escutar o clamor dos oprimidos. A tática do respeito e do resgate amoroso da liberdade das pessoas. Uma estratégia e uma mística inversas à da que é adotada hoje pelo EI. Hoje, o movimento vem na contramão. As turbas batem às portas de uma Europa rica e endinheirada. Quem ouvirá o seu clamor? Os recentes discursos do Papa Francisco são um apelo à sensibilidade da humanidade. Enquanto a Ordem Mercedária, longe de, simplesmente, lembrar seus mártires do passado, tem no seu ideal libertário o apelo de Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida”. (Jo. 10,10), ou “Eu era forasteiro e me acolheste” (Mt, 25, 35). Além do purgatório social em que vivem oprimidos milhões de pessoas excluídas em nossos países ricos, o foco da vocação Mercedária deverá se expandir a todo aquele contexto, a fim de alcançar e tirar das penas daquele inferno tantos seres humanos que, independentemente da sua profissão de fé, buscam a vida.

As vítimas da Síria Cerca de 4,5 milhões de pessoas foram deslocadas dentro da própria Síria. 2,4 milhões abandonaram suas casas e se refugiaram em países vizinhos onde são frequentemente alvo de racismo e discriminação. Relatório divulgado em 10 de março de 2014 pela Unicef estima que 5,5 milhões de crianças tiveram suas vidas devastadas pela guerra. Cerca de 1 milhão estão presas em áreas sitiadas ou onde a ajuda humanitária não consegue chegar. 1,2 milhão vivem refugiadas, habitando locais insalubres, onde comida, água potável e acesso à educação são limitados. Fonte: Unicef Foto: Reuters

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CAPA - OS GRITOS DA DOR E DA ESPERANÇA

Por Frei Osmar Alves, O. de M.

tsunami de lama Barragem se rompe em Minas e deixa mortos e dezenas de desaparecidos

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NENO VIANNA (EFE)

rompimento de duas barragens da mineradora Samarco no distrito de Bento Rodrigues, entre a cidade de Mariana e Ouro Preto, na região central de Minas Gerais, no dia 05 de novembro, deixou um cenário de destruição na região. Seis localidades de Mariana, além de Bento Rodrigues, foram atingidas. Até o momento, o número de mortos é de seis pessoas e o de desaparecidos, 12. Com a força da lama, caminhões foram arrastados, casas encobertas, pessoas soterradas e desaparecidas. Segundo os jornais locais, a mina

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não possuía uma sirene para alertar os moradores do entorno em caso de acidente, o que pode ter atrasado a evacuação da população. Existem rumores de que tremores de terra de baixa intensidade ocorridos pouco antes do rompimento tenham provocado a tragédia, segundo a imprensa. Pelo menos 128 residências foram atingidas pela onda de lama e destruição. Os detritos das barragens tomaram conta do rio Gualaxo e chegaram ao município de Barra Longa, a 60 km de Mariana e a 215 km de Belo Horizonte. Segundo especialistas, a lama


NENO VIANNA (EFE) JULIANO DUARTE (EFE)

Cenário da destuição em MG

Equipes de resgtate prestam atendimentos as vítimas

RICARDO MORAE

que desce pelo rio Doce atingirá, no total, uma área de cerca de 10 mil quilômetros quadrados no litoral capixaba – área equivalente a mais de seis vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Os prejuízos são calculados em mais de R$ 100 milhões, segundo o prefeito de Mariana, Duarte Júnior. Por fim, ao nos depararmos com as situações tão reais em nosso País, ou fora dele, ou mesmo ao nosso redor, continuamos perguntando o porquê de tanta coisa acontecendo. Por que muitos inocentes têm que dar a sua vida pela imprudência, desleixo ou até pura maldade de outros? Para os que vivem somente para as coisas do mundo, deixando Deus à margem, ou até mesmo os que se dizem cristãos, colocam a culpa em Deus, que não agiu, não defendeu, que esteve ausente, que deu as costas. Ele continua muito atento aos seus filhos e sofre com seu sofrimento. Por esse motivo, deu-nos seu Filho Amado para nossa Redenção, mas confia e delega a cada um o seu ser Cristão. E por que ficamos insensíveis à causa do semelhante? Então, com esses fatos trágicos, tanto em Mariana –MG, como em ParisFrança, faz-nos refletir sobre o que estamos fazendo ou como estamos nos prevenindo nos excessos, nas expressões no geral. O Reino de Deus constitui a cerne do anúncio do Jesus histórico. É a palavra que traduz a libertação total e estrutural da criação de sua decadência e para a sua completa plenitude em Deus. Como tal, o Reino de Deus, engloba todas as dimensões da realidade espiritual e material, religiosos e políticas. As formas do apostolado libertador da Ordem (seja pelos(as) religiosos(as), seja pelos leigos que compartilham da mesma mística) dependerão dos lugares, das circunstâncias, dos tempos, mas sempre, onde quer que seja, a Ordem terá que transmitir uma palavra de libertação (visitando, ouvindo, orando mesmo à distância), que ajude os oprimidos a descobrirem e valorizarem a sua dignidade como fieis. Esse gesto mercedário (por mais que pareça pequeno) terá que ser interpretado como voz profética, que ajude a manter acesa a esperança dos seres humanos no caminho que conduz ao Reino.

Corpo de Bombeiros em busca de sobreviventes

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COMPORTAMENTO

Por Rosemeire Galdino dos Santos. Psicóloga Docente UMESP

Reprodução Facebook

O caminho vocacional, a busca da identidade religiosa-presbiteral

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lhar para a história de um religioso/presbitero pode nos trazer um falso conforto de acreditar que cada um deles, como que por um passe de mágica, já nasceu pronto e que meramente cumpre papeis, projetando algo que já estava pré-determinado. Muitas vezes, não vemos uma caminhada de esforços, conquistas, perdas, crises, alegrias, tristezas, dificuldades e realizações. Não percebemos um processo ativo de empenho, desempenho e mudanças, por melhor dizer, de crescimento. A identidade religiosa-presbiteral é construída diariamente. Gera mudanças fundamentais na vida desses homens, às vezes tão meninos, que se dedicam a viver a radicalidade do amor, o amor fraterno, o mandamento do Senhor que é o serviço ao povo de 20 Revista Mercê

Deus. A concepção de identidade que fundamenta o processo vocacional indica a necessidade de olhar e compreender, quem se é, entendendo identidade religiosa presbiteral como uma concepção organizada na vida, composta de vivências, sonhos, valores, crenças, experiência de Deus, vivência na comunidade eclesial e metas com as quais se está solidamente comprometido. Neste sentido, a história de cada um promove a expressão vocacional que vai subsidiando na integridade da identidade pessoal, como uma fusão onde a vocação torna-se uma potência da própria identidade. Dessa forma vocação gera um posicionamento no mundo, um componente que vai progressivamente favorecendo a integridade da personalidade. Revela-se como o vocacionado que vai ajustando as


Reprodução Facebook Foto: Rodrigo Sales

Reprodução Facebook

diferentes identificações que tem com o mundo, não como uma tarefa ou um papel a ser cumprido, mas como uma atitude consciente construída e gerenciada pelo próprio vocacionado por meio de um projeto de vida e diante da vida. A identidade religiosa-presbiteral é a construção de percepções fidedignas do eu com as interferências do externo estruturando o quem eu sou através da configuração com o Cristo Jesus. Esta maneira de lidar e de se posicionar diante das interferências e relacionamentos vai instituindo a identidade do religioso presbítero.

Podemos dizer, então, que o desenvolvimento da identidade do religioso presbítero é um processo permanente, que não é nem uma nova expressão nem um novo conceito, já observado na Exortação Apostólica, Pastores Dabo Vobis, onde se refletiu a formação sacerdotal, indicando a necessidade de uma formação permanente e contínua, natural e necessária, favorecedora de um processo de estruturação da personalidade religiosa- presbiteral e cultivo da mesma. A vida do religioso e sacerdote ordenado é bem complexa. Serve a toda igreja, ou seja, a toda pessoa humana, conduzindo, orientando, ajudando na construção da identidade vocacional de todos os fieis, ao mesmo tempo em que vai construindo a sua própria identidade vocacional e cultivando-a, onde vivencia intimamente o seu comprometimento e identificação com Cristo Jesus do qual o sacerdote ordenado é constituído ministro. Através da intimidade com o Cristo o sacerdote ordenado constrói sua identidade concomitante a sua história de vida onde gradativamente essa articulação favorece o autoconhecimento que o leva a um ganho perceptivo de sua realidade, abrindo a possibilidade de gerenciar sua identidade sacerdotal numa forma adaptativa de vivenciar o novo, a mudança. Esse processo permanente da construção/cultivo da identidade vocacional é definido pela narrativa entre percepção e reflexão do eu com a releitura de vida exigida pelo impacto da inti-

midade com o Cristo e a interação consigo mesmo, com o outro e com o mundo, sendo uma experiência individual de articulação entre a subjetividade e os modos de organização pessoal, que nesta dinâmica permite rever e confrontar conceitos e crenças que possibilitam novas escolhas conscientes favorecedoras de integridade pessoal. É, aí, nessa interseção entre realidade e a construção da identidade religioso/presbítero que ocorre a maturidade vocacional. É quando o Espírito Santo configura a Jesus Cristo Bom Pastor e, se expressa na vida cotidiana do religioso presbítero. Nesse sentido ocorre um esvaziamento de categoria de lugar, onde o que servia de ancoragem dos posicionamentos subjetivos vai tomando uma nova leitura e sendo substituído. Isso gera alguns medos, algumas crises, mas a confiança total na promessa de Deus vai trazendo o suporte necessário para enfrentar as dificuldades e seguir em frente sem desestruturar a própria identidade. Observa-se, então, um dialogo vocacional entre Deus e o religioso e sacerdote ordenado o que gera a resiliencia e uma consciência amadurecida de si mesmo. Na construção da identidade religiosa-presbiteral, é basilar a missão de configurar-se com Cristo no estado total e, somente homens equilibrados podem entregar-se corajosamente arriscando-se a escolha de por esse caminho, modificando e renunciando a si mesmo como pede Jesus no Evangelho a todos os seus discípulos para se realizarem plenamente na vivência da sua vocação presbiteral. Revista Mercê

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Por Frei Jociel Batista de Carvalho jocielbatista@hotmail.com

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Natal... Amor de Deus que vem ao nosso encontro!

stamos próximos de um tempo muito bonito: o Natal. Uma das celebrações mais belas do ano litúrgico. Tempo propício para meditarmos a ação de Deus vindo ao nosso encontro. Celebrar o Natal é pensar, rezar e refletir o amor de Deus que vem até nós, nos encontra, nos restaura e nos renova. Celebrar o nascimento de Jesus é celebrar, de um modo muito concreto e visível, o Amor de Deus pela humanidade. De fato, Deus por meio de Jesus veio habitar no meio de nós. É o que nos diz Jo 1, 14: “o verbo se fez carne e habitou entre nós”. E por isso podemos conhecer Deus de modo mais pleno, pois Jesus é para nós a imagem do Deus invisível que nos ensina a viver no Amor. Jesus nos aponta para a revelação do próprio Deus. O encontro de Deus com o homem se concretiza por completo por meio da pessoa de Jesus. O Natal é uma prova que Deus não está longe de nós. Com o nascimento de Jesus, temos a certeza e a plena confiança que Deus está conosco sempre com suas ações, gestos e palavras. Jesus dialoga, comunica e se relaciona. Na linguagem humana, Deus revela o seu ser, o seu Amor e fala ao homem como fala a um amigo convidando-nos a participarmos da sua comunhão de Amor. E mediante esse convite, o ser humano não deve ficar indiferente, mas deve ter uma atitude de abertura, acolhendo o Amor de Deus que vem ao seu encontro. Desse modo, no coração do ser humano deve estar o desejo de amar a Deus. O homem busca e procura Deus e Deus quer que o homem vá ao seu encontro. Mas o próprio Deus sabe do desejo que o homem tem por Ele e, por isso, Jesus vem ao nosso encontro de modo humano. Aí está a beleza do Natal. O homem deseja encontrar Deus e Deus quer encontrar o homem para lhe dar seu Amor. E ao vir ao mundo, no encontro com o homem, Jesus nos torna partícipes de sua divindade e de seu Amor. Jesus é o Amor que Deus nos doa. Jesus vem de Deus para nos revelar na condição huma-

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Revista Mercê

na aquilo que Deus é: Amor. Deus, quando se revela a nós na pessoa de Jesus, está agindo em função da nossa salvação. Deus age com um único objetivo: salvar-nos. O próprio nome Jesus, em hebraico, significa Salvador. Foi para nos salvar e para nos ensinar a viver no Amor que Jesus veio habitar em nosso meio. Por meio de Jesus temos acesso a Deus. Jesus vem até nós de modo gratuito e espontâneo. O Natal é um tempo oportuno para tomarmos conhecimento disso e fortificarmos nossa esperança de que é possível viver no amor, construindo uma sociedade de paz, justiça, e fraternidade... Natal é tempo de esperança, tempo de contemplarmos o nascimento do Amor em nosso meio. Os gestos e as ações do Menino Jesus manifestam o ser de Deus que é Amor. Jesus vem até nós para nos trazer o Amor que muitas vezes falta em nossa vida. E quando falta Amor ,a nossa vida fica difícil. Deus se dá por Amor ao conhecimento dos homens. É um Deus que se faz próximo, porque Ele dialoga e se relaciona conosco não nos deixando abandonados ou órfãos. Deus permanece conosco. E sentimos essa presença do Amor de Deus em nosso meio através da fé. Pela fé, Deus mantém uma relação de amizade com o ser humano. Deus se torna amigo, se torna íntimo. No Natal, celebramos esse gesto belíssimo do Amor de Deus pela humanidade. Natal é isso: Deus conosco, amando-nos e convidando-nos a viver nesse Amor. E esse Deus sempre está presente em nossa vida, quando nós, por meio da fé, temos um coração aberto para acolhê-lo. E à medida que Deus está conosco, Ele nos salva. O centro de tudo é o Amor de Deus que se manifesta em nosso meio. Deus possui o imenso desejo de estar junto de nós. E nós sabemos que Deus está presente em nosso meio, porque, em Deus e só em Deus, encontramos o verdadeiro Amor que preenche todos os espaços e todo vazio de nossas vidas. É tendo essa consciência que queremos acolher a luz do nascimento do menino Jesus e deixar essa luz brilhar, trazendo muita paz e esperança para todos nós! Desejo a todos um feliz Natal e um abençoado 2016!


Foto: Frei Rogério Saores

Por Frei Rogério Soares , O. de M. freirusso@hotmail.com

Uma Obra de Arte que inspira libertação na capela do Recanto Mercê

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capela do Recanto Mercê recebeu uma linda obra de arte no presbitério, assinada pelo artista sacro Lúcio Américo, natural de São Paulo. A Pintura segue a tradição dos ícones orientais. É rica em simbolismo, cores, teologia e muitas formas de interpretação, que leva o fiel, facilmente, à contemplação. Pelo tamanho do painel, 8,60 X 5,50 mts, a pessoa se sente dentro da cena, interagindo com os personagens, sendo envolvida pelo mistério. De fato, quem vê a obra sente algo especial, místico, uma experiência religiosa que toca o indizível. A obra de Lúcio Américo tem tantos detalhes que qualquer um poderia ficar horas admirando e rezando. Segue abaixo, uma tentativa de explicação para a obra: No centro temos o Cristo Redentor, de braços abertos. Ele é o ressuscitado, com as marcadas dos estigmas e o coração aparente, também em consonância com o ano da misericórdia. Temos, portanto, o coração aberto do Mestre, que não se nega a acolher nin-

guém. De seu coração, brota a misericórdia, maior que qualquer pecado: maior que qualquer vício. Suas vestes são brancas, sinal da pureza do cordeiro que se ofereceu livremente para o sacrifício. Ele carrega em sua estola o sinal de que é o princípio e o fim de todas as coisas, nas letras gregas alfa e ômega. Acima dele, temos o texto em latim de Lc 4,19 “Vim para anunciar a libertação dos cativos”. Em torno do Cristo, temos a representação da porta estreita, que é o próprio ressuscitado. Inserido na área do ícone do Mestre, temos o Espírito Santo, força de Deus, nosso defensor. Ladeando o Mestre, dois turíbulos, queimando. Sua fumaça sobe ao céu até Deus, com nossas preces de filhos. Aos pés de Cristo, a árvore da vida. Quem dela se aproximar de coração contrito e aberto, sai transformado, saboreia a vida divina que se faz presente na celebração eucarística. Das mãos do Mestre se estendem os ramos da videira Verdadeira, na qual somos todos chamados a ser enxertados e sorver a vida divina que

corre em nossas veias pelo Batismo. Batismo, esse que perpassa todo o painel, com o sinal das águas, abaixo de todas as cenas, revelando que o batismo é fonte e origem de todas as vocações e ministérios da Igreja. Ao lado do Mestre, na parte superior, temos sete estrelas, que são tanto os dons do Espírito Santo, como os sete sacramentos da Igreja que nos fazem próximos de Deus. Permeando tudo isso temos um sinal gráfico em ondas, que busca ser sinal da dinamicidade da ação do Espírito Santo na vida da Ordem e na vida de todos os que se reúnem para celebrar a vida cristã em torno do altar do Cordeiro Santo de Deus. Nas laterais, temos a imagem da Virgem das Mercês, que intercede e inspira a obra redentora, mãe de ternura, inserida na dinâmica de amor da Santíssima Trindade. Abaixo, aparece São Pedro Nolasco, que se inspira em Maria, mãe da Libertação, e funda uma Ordem para libertação dos cativos. Com ele, estão dois oprimidos, que representam todos aqueles que precisam de libertação. Revista Mercê

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Ordem Mercedária na China. ~ é tempo de missao!

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á cem anos a, Ordem Mercedária quis ir à China, sob a condução do então Padre Geral, Dom Inocêncio Lopez Santa Maria. Passados esses anos, a China ainda clama por liberdade e anúncio da Boa Nova. É urgente a necessidade de ação missionária nessas terras. Neste artigo, vamos conhecer os desígnios históricos dessa ação e o que o Espírito Santo nos pede hoje. Portanto, analisaremos, dois momentos que, aqui, queremos relacioná-los como uma contínua ação de Deus em nossa família religiosa. São eles: a) a eleição do Revmo. Pe. Frei Inocéncio López Santamaria, O. de M., como Superior Geral de nossa Ordem, no ano de 1919; a tentativa de uma expansão dessa Ordem redentora pelas 24

Revista Mercê

Por Darlan Alcântara Sousa

terras chinesas; e o pedido do Santo Padre, o Papa Bento XV, para assumirmos a Prelazia de São Raimundo Nonato-PI; b) Uma segunda tentativa de missão na China, neste ano de 2015, quase um século depois, no Governo Geral do Revmo. Pe. Frei Pablo Bernardo Ordoñe. Para iniciarmos, citamos um valioso escrito do saudoso Frei Inocéncio, falecido com fama de santidade, no ano de 1958, e então Geral da Ordem: “A nossa Ordem tinha celebrado o Capítulo Geral no ano de 1919. Fora eleito este quem escreve isto e com a finalidade de cumprir o proposto no Capítulo, de intentar alguma missão entre infiéis ou noutra parte; fizeram-se sugestões com o então Cardeal Vanrosum, da Congregação dos Padres

Redentoristas, e este, combinou comigo de dar-nos uma missão na China, precisamente em Vuhú (Esta missão mais tarde foi entregue às Irmãs Mercedárias de Bérriz). Estando pois nestas gestões, a Nunciatura do Rio de Janeiro urgia pela criação da nova Prelazia de Bom Jesus do Piauí. O Papa Bento XV, de santa memória, a quem devíamos favores especiais e a quem nos prendiam laços de amizade pessoal, além do respeito e amor como chefe da Igreja, chamou-me e pediu-me se queríamos aceitar a Prelazia; falei-lhe que não possuíamos pessoal suficiente e que falaria com os curiais. Passaram-se alguns dias, acho que uma semana, já que eu não via o jeito de dar solução favorável a S.S. voltou a chamar-me, e disse-lhe o mesmo


que a primeira vez, prometendo resolver o caso com os padres que assumiriam para não cair no fracasso. Aos poucos dias S.S. aproveitando a ida na audiência do Cardeal Vico, nosso Protetor, voltou-lhe a falar a respeito do pedido feito a mim, e o Cardeal chamou-me para dizer-me: - “O Papa diz que V. Revma. não quer aceitar a prelazia do Piauí” – Imediatamente fui eu mesmo, e lhe falei estas palavras – “Santo Padre, o desejo de Vossa Santidade é para nós um mandato” – Sem mais delongas, depois de consultar o caso com os padres assistentes, chamei que viesse a Roma o então Padre Provincial do México, M. Rdo. Pe. Fr. Pedro Pascual Miguel Martínez e chegando a Roma apresentei-o ao Papa, que brincando lhe disse: “O Senhor pensava morrer no México, porém irá morrer no Brasil” Sem dúvida, o pedido do Papa Bento XV à nossa Ordem foi provocador, uma vez que muito se ouvia sobre as dificuldades a enfrentar para evangelizar nas terras piauienses, desde seca, pobreza a precária locomoção dos missionários. Entretanto, nenhum desses motivos foi suficientemente forte para impedir os frades de Nossa Senhora das Mercês. De tal maneira que, hoje, cerca de noventa e três anos depois, notamos as incontáveis obras espirituais e materiais deixadas por esses destemidos missionários. Espalhada, hoje, por 6 estados, atendendo 11 paróquias, com 9 comunidades religiosas e com um clero com um pouco mais de 40 religiosos (vocações autóctones, na sua grande maioria) a província de São Raimundo Nonato continua sendo, por meio de seus religiosos, uma expressão da misericórdia de Deus nos diversos âmbitos por eles assumidos ou frequentados. Contudo, o Espírito San-

to não cessa de impulsionar o ardor missionário de nossa Ordem e, estando ela, a Ordem Mercedária, por completar 800 anos de sua fundação, é sentida novamente uma necessidade de expansão e, por mais incrível que pareça, os bons ventos sopram novamente em direção ao Continente asiático. Isso mesmo, quase cem anos depois de uma tentativa, os superiores atuais, sentem-se fortemente impulsionados a mandar religiosos mercedários para que vivam seu carisma libertador em terras chinesas. Tendo em vista a concretização da missão na China, o atual Mestre Geral da Ordem, Fr. Pablo Ordoñe, convocou alguns frades para que juntamente com ele, visitassem a possível terra de redenção. Entre os dias 16 de agosto a 02 de setembro de 2015, estiveram por lá, a conhecer as realidades concretas e até mesmo a traçarem possíveis metas para esse ousado projeto libertador. Vale dizer que foram acolhidos e valeram-se da fraternidade das Irmãs Mercedárias de Berriz, que lá estão de missão há quase um século. Assim, temos uma leve inclinação a dizer que, da forma que Deus presenteou a Ordem Mercedária, no jubileu de 700 anos, com a missão do Brasil, está a repetir o mesmo gesto com a China neste tempo em que já vivemos as alegrias e júbilos dos 800 anos de fundação. Enfim, sobre a China ainda nada foi decidido. A aprovação da missão ficará por conta dos padres que celebrarão o Capítulo Geral no ano de 2016. Não obstante fica como urgente um grande apelo à oração pelo trabalho redentor da Ordem Mercedária para que siga sendo, cada vez mais, um anúncio de esperança em meio aos aterradores gritos de opressão do mundo. Revista Mercê 25


BÍBLIA Frei Werlen Silva, O. de M.

A oração do Cristão: Pai nosso N

o evangelho Segundo Lucas, um dos discípulos chama Jesus e lhe faz pedido: “ Senhor, ensina-nos a rezar, como João o ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1b). Observamos que a necessidade de aprender a rezar nasce no coração do discípulo não no momento do primeiro encontro com Jesus, mas, posterirormente, quando o próprio Jesus está orando: “ele estava num lugar em oração” (Lc 11,1a). O discípulo observa que o mestre está a orar e dentro dele brota o desejo de orar. Também ele quer viver essa experiência. Ao perceber esse desejo Jesus ensina o discípulo a rezar.

maravilhosa de um dos atributos de Deus. Deus é Pai. Ao chamar Deus de Pai, Jesus revela um novo horizonte de vida, um novo relacionamento. A descoberta de paternidade Divina nos faz compreender que o projeto de Deus é familiar. ESTUDO DO TEXTO A oração do Pai Nosso está dividida em duas partes, onde se destacam os nomes: Reino, seja

9Jesus

responde ao discípulo: “Quando, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus, Santificado seja o teu nome; 10venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, como no céu, assim também na terra. 11O Pão nosso de cada dia dá nos hoje. 12Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos que nos devem. 13E não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal. (Mt 6,9-13) A oração que Jesus ensina é simples, não é longa como as orações do templo, mas muito rica. Começa com uma revelação 26 Revista Mercê

Pai nosso em hebraico-aramaico língua que Jesus rezou

santificado, vontade, pão, pecado (dívidas), tentação. Termos que revelm o mistério da oração. Por exemplo: Que significa o pão de cada dia? O adjetivo que em grego significa “hoje”

na oração do Pai-nosso misteriosamente se entende por quotidiano, ou seja: hoje e amanhã. Outra expressão interessante é: “seja santificado o teu nome”, que está em paralelo: “não nos deixeis cair em tentação” que, se mal interpreta, pode levar a uma interpretação equivocada, ou seja, como se Deus nos induzisse ou nos abandonasse à mercê da tentação. MENSAGEM CENTRAL 1 – Para dizer “Pai” não é necessário um esforço inimaginável. Para conceber uma nova ideia teológica de Deus, basta entrar no modo de rezar de Jesus que sempre se dirige a Deus como Pai. Aqui está a atmosfera da oração de Jesus. É nesse horizonte que a oração se realiza. A experiência paterna de Jesus nos é comunicada por meio da oração do Pai-nosso. Se digo pai é porque tenho a coragem de me abandonar, de me entregar a ele, de superar o medo e a incerteza. 2. A expressão: “10venha o teu Reino” exprime o desejo pela manifestação do Reino, que é de justiça, fraternidade, triunfo da vida sobre a morte, superação de todas as lágrimas. Esta expressão parece adiantar o projeto de Deus na história. O reino de Deus é um projeto que construímos quotidianamente em meio aos conflitos e contradições da vida, social, pessoal e também eclesial. Tais confli-


tos me fazem recordar a oração de Jesus no Getsémani: “Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade! ” (Mt 26,39. 42.44). Diz Jesus: não o meu reino, mas o teu reino. O teu Reino, não é o reino que imaginamos, mas aquele que o Pai está preparando como um dom a ser realizado pelo esforço humano. Isso mesmo, o reino de Deus está dentro de vós, mas é preciso fazê-lo sair e se tornar uma realidade na sociedade. Ele deve ser construído por mãos humanas. O Pai-nosso nos revela algumas condições para que o reino de Deus seja edificado. 1- A primeira trata-se de ser perseverante, porque o reino de Deus se realiza por meio do pão quotidiano. Aqui há uma clara referência a Eucaris-

tia, que é o Pão nosso de cada dia. 2- Precisa-se de misericórdia e de perdão reciproco. É mediante a capacidade de perdão de Deus, apesar de nossas quedas e fragilidades, que se realiza o Reino. Olha aí a importância do Sacramento da Reconciliação Penitencial. 3- Por fim, “Não cair em tentações”. Quando vêm as provações, o Reino parece estar envolto em trevas. Na noite escura de nossa vida é preciso fazer a oração de Jesus: “Seja feita a tua vontade”. Para rezar o Pai-nosso é preciso uma postura de simplicidade e humildade. É preciso abrir o coração para acolher o projeto de Deus e lutar para que ele se realize. Um coração humilde e simples que reconhece a própria fraqueza diante de Deus que é Pai, dos

irmãos, da Igreja e da sociedade. Nesse momento, penso o quanto a oração do Pai-nosso faz bem a milhares de cristãos perseguidos por causa de sua fé. Penso, nos milhares de refugiados, que, diariamente, desembarcam na Europa, depois de uma longa e incerta jornada mar adentro, a bordo de embarcações precárias. Centenas morrem todos os dias. Também penso nas famílias, vítimas da catástrofe da represa Samarco, no município de Mariana, MG. Tenho certeza, que Jesus, na graça do Espírito, leva ao Pai todas as nossas preces. Vamos rezar um Pai-nosso. werlen@live.com

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Ordem da Bem Aventurada Virgem Maria das Mercês

Ser Mercedário Uma Ordem Religiosa para uma nova geração


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