Revista
Publicação Trimestral da Família Mercedária no Brasil - Março 2020
Ano 16
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CARISMAMERCEDÁRIO MERCEDÁRIO CARISMA E SER UM LIBERTADOR
DE CATIVOS!!
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EDITORIAL
Frei Rafael Gomes, O. de M.
Ordem Mercedária no Brasil Avenida L2 Sul, quadra 615, Bloco D CEP 70200-750 - Brasília- DF Fone: (61) 3346-1952 www.revistamerce.com.br
Superior Provincial: Fr. John Londerry Batista, O. de M.
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Editor Chefe: Frei Rafael Gomes, O. de M.
Projeto Gráfico e diagramação Rodrigo Sales
Jornalista Responsável: Rodrigo Sales - Reg. 8316-DF
Impressão e Acabamento Mídia Gráfica LTDA.
Correção e Revisão:
Tiragem 3.000 exemplares
Elza Atála Participaram nesta edição: Frei Rafael Gomes, O. de M. Frei Fernando Henrique, O. de M. Frei Jociel Batista, O. de M. Frei Inácio José, O. de M. Jeovah Fialho
Publicidade 61-3346 1952 Central de Assinantes imprensa@mercedarios.com.br 61-3346 1952 Revista Mercê - 03
SUMÁRIO
FÉ CRISTÃ
PALAVRA DO PAPA
08 VIDA CONSAGRADA
MARIA IMACULADA
13 PRESENTE 18 AMIZADE, DE DEUS ENTREGAR O CORPA À
19 GLÓRIA
MOVIMENTO JUVENIL
20 MERCEDÁRIO
CALENDÁRIO MERCEDÁ-
28 RIO
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11 DOM CÂNDIDO
16
22
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PALAVRA DO PAPA
LITURGIA DA PALAVRA Prezados irmãos e irmãs, bom dia! Continuemos as catequeses sobre a Santa Missa. Tínhamos chegado às Leituras. O diálogo entre Deus e o seu povo, desenvolvido na Liturgia da Palavra da Missa, alcança o ápice na proclamação do Evangelho. Precede-o o cântico do Aleluia — ou então, na Quaresma, outra aclamação — com o qual «a assembleia dos fiéis acolhe e saúda o Senhor que está prestes a falar no Evangelho».[1] Do mesmo modo que os mistérios de Cristo iluminam toda a revelação bíblica, assim, na Liturgia da Palavra, o Evangelho constitui a luz para compreender o sentido dos textos bíblicos que o precedem, tanto do Antigo como do Novo Testamento. Com efeito, «de toda a Escritura, assim como de toda a celebração litúrgica, Cristo é o centro e a plenitude».[2] Jesus Cristo está sempre no centro, sempre. 08 - Revista Mercê
Por isso, a própria liturgia distingue o Evangelho das outras leituras, circundando-o de honra e veneração especiais.[3] Com efeito, a sua leitura é reservada ao ministro ordenado, que no final beija o Livro; pomo-nos à escuta de pé, traçando um sinal da cruz na testa, nos lábios e no peito; os círios e o incenso honram Cristo que, mediante a leitura evangélica, faz ressoar a sua palavra eficaz. Destes sinais a assembleia reconhece a presença de Cristo, o qual lhe dirige a “boa notícia” que converte e transforma. Tem lugar um discurso direto, como atestam as aclamações com as quais se responde à proclamação: «Glória a Vós, ó Senhor» e «Louvor a Vós, ó Cristo». Levantamo-nos para ouvir o Evangelho: ali é Cristo quem nos fala. É por isso que prestamos atenção, porque se trata de um diálogo direto. É o Senhor quem nos fala.
LITURGIA DA PALAVRA - PARTE 2 Portanto, na Missa não lemos o Evangelho para saber o que aconteceu, mas ouvimos o Evangelho para tomar consciência do que fez e disse Jesus outrora; e aquela Palavra é viva, a Palavra de Jesus que está no Evangelho é viva e chega ao meu coração. Por isso, ouvir o Evangelho é muito importante, com o coração aberto, porque é Palavra viva. Santo Agostinho escreve que «a boca de Cristo é o Evangelho. Ele reina no céu, mas não cessa de falar na terra».[4] Se é verdade que na Liturgia «Cristo ainda anuncia o Evangelho»,[5] consequentemente, participando na Missa, devemos dar-lhe uma resposta. Nós ouvimos o Evangelho e devemos dar uma resposta na nossa vida. Para transmitir a sua mensagem, Cristo serve-se inclusive da palavra do sacerdote que, após o Evangelho, pronuncia a homilia.[6] Recomendada vivamente pelo Concílio Vaticano II como parte da própria Liturgia,[7] a homilia não é um discurso de circunstância — nem sequer uma catequese, como esta que agora faço — nem uma conferência, nem sequer uma lição; a homilia é outra coisa.
O que é a homilia? É «um retomar este diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo»,[8] para que seja posta em prática na vida. A autêntica exegese do Evangelho é a nossa vida santa! A Palavra do Senhor termina a sua corrida fazendo-se carne em nós, traduzindo-se em obras, como aconteceu em Maria e nos Santos. Recordai aquilo que eu disse na última vez, a Palavra do Senhor entra pelos ouvidos, chega ao coração e vai às mãos, às boas obras. E também a homilia segue a Palavra do Senhor, fazendo inclusive este percurso para nos ajudar, a fim de que a Palavra do Senhor chegue às mãos, passando pelo coração. Já abordei o tema da homilia na Exortação Evangelii gaudium, onde recordei que o contexto litúrgico «exige que a pregação oriente a assembleia, e também o pregador, para uma comunhão com Cristo na Eucaristia, que transforme a vida». Quem profere a homilia deve cumprir bem o seu ministério — aquele que prega, sacerdote, diácono ou bispo — oferecendo um serviço real a todos aqueles que participam na Missa, mas também quantos o ouvem, devem desempenhar a sua parte.
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Antes de tudo, prestando a devida atenção, ou seja, assumindo as justas disposições interiores, sem pretensões subjetivas, consciente de que cada pregador tem qualidades e limites. Se às vezes há motivos para se entediar, é porque a homilia é longa, ou não está centrada, ou é incompreensível, outras vezes, ao contrário, o obstáculo é o preconceito. E quem pronuncia a homilia deve estar consciente de que não faz algo próprio, mas prega dando voz a Jesus, prega a Palavra de Jesus. E a homilia deve ser bem preparada, deve ser breve, breve! Dizia-me um sacerdote que certa vez tinha ido a outra cidade, onde moravam os pais, e o pai disse-lhe: “Sabes, estou feliz, porque com os meus amigos encontramos uma igreja onde se celebra a Missa sem homilia”.
Concluindo, podemos dizer que na Liturgia da Palavra, mediante o Evangelho e a homilia, Deus dialoga com o seu povo, que o ouve com atenção e veneração e, ao mesmo tempo, reconhece-o presente e ativo. Portanto, se nos pusermos à escuta da “boa notícia”, seremos convertidos e transformados por ela e, consequentemente, capazes de transformar a nós mesmos e ao mundo. Porquê? Porque a Boa Notícia, a Palavra de Deus entra pelos ouvidos, vai ao coração e chega às mãos para fazer boas obras.
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Fotos: Vaticano News
E quantas vezes vemos que na homilia alguns adormecem, outros conversam, ou saem para fumar um cigarro... Por isso, por favor, que a homilia seja curta, mas bem preparada. E como se prepara uma homilia, caros sacerdotes, diáconos, bispos? Como se prepara? Com a oração, com o estudo da Palavra de Deus e fazendo uma síntese clara e breve, não deve superar 10 minutos, por favor!
ESPIRITUALIDADE
Frei Rafael Gomes, O. de M.
Deus nos chama
a partilhar
seu amor T
odos nós somos vocacionados à recepção da vida como dom. Sabemos que o Senhor projetou e realizou nossa existência no amor, que é autodoação, saída de si na direção do outro e para a promoção do outro. Reconhecer a gratuidade desse movimento divino em nosso favor já é para nós fonte de alegria e motivo de ação de graças. Aqueles que tomam consciência de sua origem e de seu destino divinos são chamados a um relacionamento concreto com o Senhor. Este contato do ser humano com seu Senhor não deve ser só criatural. Diferentemente das outras criaturas, fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Temos capacidade de escuta-lo, de acolher suas solicitações.
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ESPIRITUALIDADE
Recebemos d’Ele, do presente de sermos chamados à sua intimidade. Por graça conseguimos decifrar as solicitações do Senhor a nós no hoje de nossa história. Percebemos, enfim, que Ele nos ama e nos chama a testemunharmos seu amor aos outros seres humanos, para que creiam no altíssimo e experimentem a radical gratuidade de sua caridade. Ele quer criar intimidade conosco. Intimidade filial, fraternal. Ele nos escolhe mesmo com nossas misérias e fragilidades. Olha para nossos limites pessoais e para as nossas possibilidades com indulgencia e compaixão. Ele não veio chamar justos, mas pecadores para junto de Si. Nesse sentido, aquele conhecido ditado popular, inspirado na revelação divina,
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é claro: ‘Deus não escolhe capacitados, mas capacita os escolhidos’. Eis aí um dos "segredos" para o progresso na vida espiritual e vocacional: reconhecer-se criatura, eterno “formando” nas mãos de Deus. Ele nos chama, e nos transforma aos poucos, no caminho! Deixe-se envolver pelo olhar amoroso de Deus. Acolha a voz do Senhor que te alcança para conduzi-lo à felicidade n’Ele. O Deus que te criou, te quis e te chamou assim como estás, para que no caminho, sejas melhor para a gloria d’Ele e para a edificação de Seu reino. Graça: Que eu me sinta fragmento de criação em suas mãos, Senhor! Texto Bíblicos para a oração pessoal: Is 43, 1-7; Jr 1, 4 – 10; Sl 139; Sl 8;
ESPIRITUALIDADE
Pe. fr. Fernando Henrique Marques Brito, O. de M.
A VIDA DE SANTIDADE (parte I): uma chamada a toda a Igreja O ano de 2018 foi para nós Mercedários um ano muito importante porque recordamos a oficialização de 800 anos da Ação de Pedro Nolasco na Igreja inspirado por Nossa querida Mãe das Mercês com o exemplo de Cristo Redentor. Dentro deste contexto próprio da Ordem das Mercês nosso Papa Francisco decidiu fazer ressoar em toda a Igreja uma chamada que o Senhor faz a todos os seus filhos e filhas desde sempre: a chamada à santidade! Assim nos dizia o Papa Francisco: O Senhor “Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa”. Significa dizer que o projeto de santidade é para todos nós, batizados e batizadas e tem como fim ou como finalidade a busca de uma nova com base na vivência de Nosso Senhor Jesus Cristo e não uma vida superficial ou medíocre.
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A vida superficial que muitos cristãos católicos vivem contrasta com aquelas palavras de Jesus a seus discípulos: ‘avancem para águas mais profundas’ (Lc 5,4). De fato, não podemos viver um cristianismo de superfície, isto é, sem nos aprofundarmos no conhecimento de Cristo Jesus, na vivência de sua palavra, na busca de converter nossas ações mesquinhas em atitudes de verdadeiro amor, tal como o amor de Cristo que nos impele, como nos recorda o apóstolo (2Cor 5,14). Nessa perspectiva não podemos nos deixar moldar por quaisquer palavras ou por quaisquer sentimentalismos, mas sim ‘pelo amor de Cristo’. O amor do Senhor deve ser a base de nossa vida, de nossa vivência, do nosso agir e atuar. É colocando o amor de Cristo como base fundamental de nossa vida que nos tornaremos pessoas novas, melhores cada dia e aprofundadas em Cristo Jesus. Ser cristão é buscar viver a vida de Cristo em nosso hoje: trabalho, estudo, vida familiar, vida de comunidade e serviço na Igreja e aos mais necessitados. Assim, a chamada à Santidade nos remete ao sacramento do batismo que recebe12- Revista Mercê
mos e que precisamos viver radicalmente. Por isso podemos nos perguntar: como tenho vivido o meu batismo? Busco aprofundar-me no conhecimento da pessoa de Jesus? Tenho sempre o amor de Cristo como base em meus relacionamentos? Um cristianismo medíocre, superficial, indeciso pode ser aquele ao qual o apóstolo nos lembra: o que é morno eu vomito! Não sejamos mornos. Não fiquemos na indecisão; mas aprendamos a escolher por Cristo. Ele deve ser nossa decisão todos os dias e em todas as nossas ações.
CARISMA MERCEDÁRIO
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Frei Inácio, O. de M.
AS ATITUDES LIBERTADORAS DE JESUS NOS EVANGELHOS Evangelho de Marcos O carisma mercedário inspira-se em Jesus Cristo Redentor e Libertador da humanidade. Queremos, como São Pedro Nolasco, libertar os cristãos cativos em risco de perder a sua fé. Nossas Constituições nos ensinam que as situações de cativeiro são situações sociais que oprimem e degradam a pessoa humana, nasce de princípios opostos ao Evangelho, põe em perigo a fé dos cristãos, oferece a possibilidade de ajudar, visitar e redimir as pessoas que estão nelas (Regra e Constituições, n. 16). Nossa pretensão é reler os evangelhos, em busca das atitudes (ações) libertadoras de Jesus, que nos inspirem a viver atualmente o carisma mercedário. Começaremos com o Evangelho de Marcos, escrito nos anos 70 d.C., escrito provavelmente em Roma ou Galiléia (segundo alguns estudiosos), cuja finalidade é nos mostrar quem é Jesus Cristo e que tipo de Messias ele é. Pela brevidade do espaço apenas traremos as citações. Cabe ao leitor, ter a Bíblia em suas mãos para lê-lo e meditá-lo. O primeiro gesto de Jesus é libertar um homem com espírito impuro (Mc 1,21-28) numa sinagoga. A ironia do texto consiste em afirmar que no local sagrado dos judeus, o mal se manifesta. Je-
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sus veio para libertar o ser humano de toda maldade, bem como libertar a religião dos preconceitos que separam as pessoas. Depois, Jesus cura a sogra de Pedro e inúmeros doentes e endemoninhados (Mc 1, 29-34). Vale lembrar que os doentes, na época de Jesus, eram considerados pecadores e não podiam ser acolhidos pela religião e pela sociedade, pois eram considerados impuros. Jesus veio justamente afirmar o contrário: os doentes são os preferidos e mais dignos da compaixão divina. Jesus além de libertar o corpo da dor, liberta a pessoa da exclusão social, como se vê no próximo texto no qual, Jesus compassivo, cura um leproso, exemplo má18 - Revista Mercê
ximo da exclusão social e religiosa daquele tempo (Mc 1,40-45). O mercedário, portanto, é aquele que procura libertar o ser humano, daquilo que o escraviza interiormente, bem como, daquilo que faz o seu corpo sofrer. Outro texto nos quais Jesus cura muitos enfermos é Mc 6,53-56. Bem mais adiante, Jesus curará um menino epilético em Mc 9,14-28). Todos os textos inspiram os mercedários a cuidar dos enfermos, pois a doença limita a liberdade da pessoa. Depois temos Jesus libertando o possesso de Gerasa, dominado pela Legião (Mc 5,1-20). Legião era o nome dado a um conjunto de 3000 soldados romanos. O evangelista, de
forma irônica, afirma que o grande demônio que estava assolando a vida do povo, era o império romano que escravizava e explorava. Por isso os demônios expulsos vão para o mar, pois, além do mar ser símbolo do mal na Bíblia, foi pelo mar que os romanos chegaram em Israel. No mesmo capítulo, Jesus cura a filha de Jairo e a mulher hemorroísa (Mc 5,21-43). O detalhe consiste em que Jairo era chefe da sinagoga, chamado a ter fé em Jesus somente e a não dar ouvidos às notícias negativas que lhe chegavam dos da parte da sinagoga. O milagre acontece na casa (onde os cristãos se reuniam),
onde há plenitude de vida (afastada a multidão, ficam apenas 7 pessoas dentro da casa – Jesus, Jairo, a menina, a mãe da menina, Pedro, Tiago, João). Esse gesto de libertação é intercalado pela cura da hemorroísa, que num ato de fé toca a Jesus e é curada. De Jesus sai uma força que liberta a todos que o tocam com fé. Do ponto de vista do carisma mercedário, estes textos nos ensinam que precisamos libertar nosso povo dos novos impérios que escravizam, dominam, que fazem o povo perder a sua vida e identidade (possessão); além disso, quando se crê em Jesus, a plenitude de vida de acontece, somos capazes de libertar as pessoas de inúmeras situações de morte que as prendem e, libertamos tendo em vista as pessoas não perderem a sua fé em Cristo, a mesma fé que teve a hemorroísa. Seguindo o evangelho, outro gesto de libertação é a partilha dos pães (Mc 6,30-44) que Jesus repete também em terras estrangeiras (Mc 8,1-
9). Diante do pecado do egoísmo e do desperdício de alimento, Jesus ensina que o alimento é dom divino (dar graças), que temos todo o necessário para matar a fome (5 pães mais 2 peixes = 7, número pleno; no segundo texto são sete pães), devemos partir com todos aquilo que é de Deus e não desperdiçar, porque alimentará a todos novamente. A fome é situação de cativeiro a ser combatida pelos mercedários. O texto nos ensina que a partilha e o combate ao desperdício são os remédios para esse mal.
Em Mc 7,1-23, no debate com os escribas, Jesus liberta a religião da hipocrisia. A religião tem por finalidade ligar a pessoa a Deus. O judaísmo de então, escravizava os fiéis numa serie de ritualismos que não traziam espiritualidade e mais excluía que incluía as pessoas. Por isso, Jesus radicaliza a religião, dizendo que o critério que faz a pessoa se vincular a Deus é a pureza interior, mais do que cumprir preceitos religiosos. ‘Mercedariamente’ falando, este texto é atualíssimo, pois vemos o retorno do conservadorismo e ultraconservado-
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ESPIRITUALIDADE rismo católico em termos de moral e de liturgia, o retorno a tradicionalismos que não tem nada a ver com a Tradição. Mc 7,24-30 mostra Jesus sendo libertado do preconceito. Como Messias ele pensava que tinha de agir somente em favor dos judeus. Mas, ao perceber a fé desta pagã, Jesus age em prol do filho dela e partir daí, passa a libertar também os pagãos. Todos nós precisamos ser libertados de preconceitos e esquemas religiosos que temos em nossa mentalidade. Depois em Mc 7,31-37, Jesus cura um surdo-mudo. Jesus liberta a pessoa para escutar a Palavra e proclamar a Palavra. Sem escuta da Palavra de Deus não há salvação. Por isso o mercedário procura abrir a consciência das pessoas para a escuta desta Palavra salvadora para depois ela mesma se tornar proclamadora dessa Palavra de libertação. Em Mc 8,22-26, Jesus cura um cego em Betsaida e depois em Mc 10,46-52, cura o cego de Jericó. Entre as duas curas Jesus caminha para Jerusalém onde haverá de dar a vida pela nossa salvação. Perceba que no caminho descobrimos que os cegos são os discípulos que pensam conhecer a Jesus, mas, no fundo, não o conhecem. O evangelista quis assim ensinar, que para romper a nossa cegueira acerca da pessoa de Jesus, é necessário caminhar com ele. Jesus nos abre os olhos para termos consciência. A ignorância e a falta de consciência crítica acerca do mundo e dos fatos é uma situação de cativeiro que os mercedários se empenham em combater. Em meio ao caminho de Jerusalém temos a profissão de fé de Pedro em Cesaréia de Filipe (Mc 8,27-30). Hoje sabemos, pela arqueologia, que Cesaréia era um santuário pagão. Professar a fé em Cristo ali, significa romper com a idolatria e cultuar o verdadeiro Deus. Depois, Jesus diz que para segui-lo é ne18 - Revista Mercê
cessário carregar a cruz e dar a vida (Mc 8,3438). Nada mais mercedário que isso: porque Cristo deu sua vida por nós, damos a nossa vida para salvar os cativos. Em Mc 9,38-41, Jesus liberta os discípulos do exclusivismo religioso, ou da tentação de se sentirem “donos de Jesus”. A Igreja não é dona de Jesus, mas serva dele. Há pessoas fora da comunidade cristã que agem do mesmo modo que Jesus, aos quais não devemos impedir. Em Mc 10,17-31, Jesus tentou libertar o rico apegado às riquezas. O apego aos bens é uma situação de cativeiro. O carisma mercedário ensina que os bens são para libertar os cativos e não para o nosso apego. Com eles podemos libertar. Usados de forma egoísta, eles escravizam. Os ricos egoístas também são cativos necessitados de libertação, os quais se não se converterem ao evangelho, podem se condenar. Em Mc 10,35-45, Jesus liberta os discípulos da disputa de poder dentro da comunidade. A própria Igreja precisa ser libertada desse mal: carreirismo eclesiástico, clericalismo. Os mercedarios se empenham nessa libertação e a própria dinâmica da vida religiosa nos ensina a não nos apegar nem aos bens e nem às funções que desempenhamos. Mc 11,15-18 nos mostra Jesus libertando a religião do comércio. A graça de Deus é gratuita e não é vendida nem por dinheiro e nem barganhada por ritos vazios sem justiça social. Texto plenamente atual diante do desafio da teologia da prosperidade. O ser humano deseja se religar a Deus, mas corre o risco de se escravizar pela religião. A verdadeira religião humaniza, liberta e não escraviza e nem explora os pobres. O mercedário deve ter voz profética em relação a essa situação no tempo atual e dá contratestemunho caso use a religião explorar e escravizar as pessoas. Questionado pelos fariseus sobre pagar imposto, Jesus deixa bem claro que deve ser dado a Deus o que é de Deus e a César o que é de César (Mc 12,13-17). Jesus aqui li-
berta a política da idolatria, pois, na época, o imperador romano exigia culto divino e Jesus deixou bem claro que são esferas distintas: Deus é Deus, César é César. Quando autoridades políticas usam da religião para a manutenção do poder, ou se confundem com o poder religioso, isso é idolatria e gera escravidão. As pessoas temem a Deus. Quando um político, não sendo fiel a Deus, usa ideologicamente o nome de Deus para justificar suas ações, escravizando as pessoas, praticando a injustiça, o mercedário levantará sua voz contra isso. Hoje em dia vemos no Brasil o crescimento de um projeto de poder político evangélico que nem sempre está aliado com a justiça e com a causa dos mais vulneráveis, contrariando os valores do próprio evangelho de Jesus que dizem pregar. Pretendemos nessas breves páginas captar as ações libertadoras de Jesus no evangelho de Marcos. Que elas nos inspirem a viver o carisma mercedário em nossa realidade atual. No próximo texto, veremos as ações libertadoras de Jesus no evangelho de Mateus. Até lá, se Deus quiser.
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MERCÊ NO BRASIL
Frei John Londerry, O. de M.
DESPEDIDA DO FREI ELIAS ORTÍZ FERNANDEZ, O. DE M. Somente quem se esvazia de si mesmo numa entrega total a Deus é capaz de realizar tantos feitos como pregar o Evangelho, libertar os cativos, orientar e acompanhar como somente um pai sabe fazer. Sabemos que a missão é árdua, mas também que a alegria do servir aos irmãos nos engrandece! Elevamos a Deus nossas orações pela sua vida e vocação. Pedimos à Santíssima Mãe das Mercês que o acompanhe no serviço redentor.
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CALENDÁRIO MERCEDÁRIO
Fotos das casas que já receberam visita canônica Em uma folha
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