Revista
Publicação Trimestral da Família Mercedária no Brasil - Dezembro de 2018
Ano 14
42
EDITORIAL
Ordem Mercedária no Brasil Avenida L2 Sul, quadra 615, Bloco D CEP 70200-750 - Brasília- DF Fone: (61) 3346-3890 www.revistamerce.com.br
Superior Provincial: Fr. John Londerry Batista, O. de M.
Site www.revistamerce.com.br
Editor Chefe: Frei Rafael Gomes, O. de M.
Projeto Gráfico e diagramação Rodrigo Sales
Jornalista Responsável: Rodrigo Sales - Reg. 8316-DF
Impressão e Acabamento Gráfica Infante LTDA.
Correção e Revisão: Vânia Meire
Tiragem 3.000 exemplares
Participaram nesta edição: Frei Rafael Gomes, O. de M. Frei Carlos Lourido, O. de M. Frei Fernando Henrique Marques Brito, O. de M. Frei Inácio José, O. de M. Pedro Henrique Neves Pedro Juan Ribeiro Calisto dos Santos
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HISTÓRIA DA ORDEM DAS MERCÊS
O QUE É UM MESTRE GERAL? O Mestre Geral é um religioso escolhido numa assembleia de frades de diversas partes do mundo para coordenar, animar e administrar a caminhada de uma ordem ou congregação em nível mundial, durante um determinado período. O Mestre Geral da Ordem das Mercês, em geral, anima e governa a Ordem por um período que varia de seis a doze anos. Nesse sentido, o trabalho que se segue consiste em apresentar as principais notícias relacionadas aos nossos primeiros mestres gerais. Afinal, muitos foram os perfis e muitas também as características que marcaram esses homens ilustres, responsáveis por cuidar da vida e dos interesses das Mercês e dos cativos. Contribuições por certo foram feitas por eles. Crises e dificuldades, por vezes, surgiram a partir deles mesmos. No entanto, entre luzes e trevas, entre êxitos e quedas, a obra de Deus vai-se realizando na história e, consequentemente, na história mercedária.
Fr. Juan Carlos Saavedra Lucho Atual Mestre Geral da Ordem das Mercês
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PORQUE IR À MISSA AOS DOMINGOS? “[...] é a Missa que faz o domingo cristão! O domingo cristão gira em volta da Missa. Que domingo é, para o cristão, aquele no qual falta o encontro com o Senhor?” (Papa Francisco)
Retomando o caminho de catequeses sobre a Missa, hoje nos perguntemos: por que ir à Missa aos domingos? A celebração dominical da Eucaristia está no centro da vida da Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2177). Nós, cristãos, vamos à Missa aos domingos para encontrar o Senhor Ressuscitado, ou melhor, para nos deixarmos encontrar por Ele, ouvir a sua palavra, alimentar-nos à sua mesa e assim tornar-nos Igreja, isto é, seu Corpo místico vivo no mundo. Compreenderam isto, desde o princípio, os discípulos de Jesus, que celebraram o encontro eucarístico com o Senhor no dia da semana, o qual os judeus chamavam “o primeiro da semana”, e os romanos, “dia do sol”, porque naquele dia Jesus tinha ressuscitado dos mortos e aparecido aos discípulos, falando e comendo com eles, concedendo-lhes o Espírito Santo (cf. Mt 28, 1; Mc 16, 9.14; Lc 24, 1.13; Jo 20, 1.19), como ouvimos na Leitura bíblica. 08 - Revista Mercê
Também a grande efusão do Espírito no Pentecostes teve lugar no domingo, cinquenta dias depois da Ressurreição de Jesus. Por essas razões, o domingo é um dia santo para nós, santificado pela celebração eucarística, presença viva do Senhor entre nós e para nós. Portanto, é a Missa que faz o domingo cristão! O domingo cristão gira em volta da Missa. Que domingo é, para o cristão, aquele no qual falta o encontro com o Senhor? Existem comunidades cristãs que, infelizmente, não podem se beneficiar da Missa todos os domingos; no entanto, também elas, neste dia santo, são chamadas a recolher-se em oração em nome do Senhor, ouvindo a Palavra de Deus e mantendo vivo o desejo da Eucaristia. Algumas sociedades secularizadas perderam o sentido cristão do domingo iluminado pela Eucaristia. Isso é pecado! Em tais contextos, é preciso reavivar essa consciência para recuperar o significado da festa, o sig-
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nificado da alegria, da comunidade paroquial, da solidariedade e do descanso que revigora a alma e o corpo (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2177-2188). De todos esses valores, a Eucaristia é a nossa mestra, domingo após domingo. Por isso, o Concílio Vaticano II quis reiterar que “o domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso, da abstenção do trabalho” (Const. Sacrosanctum concilium, 106). A abstenção dominical do trabalho não existia nos primeiros séculos: é uma contribuição específica do Cristianismo. Por tradição bíblica, os judeus descansam no sábado, enquanto, na sociedade romana, não estava previsto um dia semanal de abstenção dos trabalhos servis. Foi o sentido cristão do viver como filhos, e não como escravos, animado pela Eucaristia, que fez do domingo – quase universalmente – o dia do descanso. Sem Cristo estamos condenados a ser dominados pelo cansaço do dia a dia, com as suas preocupações, e pelo medo do amanhã. O encontro dominical com o Senhor dá-nos a força para viver o presente com confiança e coragem, e para progredir com esperança. Por isso nós, cristãos, vamos encontrar-nos com o Senhor aos domingos, na celebração eucarística. A Comunhão Eucarística com Jesus, Ressuscitado e Vivo eternamente, antecipa o Domingo sem ocaso, quando já não haverá cansaço nem dor, nem luto, nem lágrimas, mas só a alegria de viver plena-
mente e para sempre com o Senhor. Inclusive sobre esse abençoado descanso nos fala a Missa dominical, ensinando-nos, no decorrer da semana, a confiar-nos nas mãos do Pai que está no Céu. Como podemos responder a quem diz que não é preciso ir à Missa, nem sequer aos domingos, porque o importante é viver bem, amar o próximo? É verdade que a qualidade da vida cristã se mede pela capacidade de amar, como disse Jesus: «Disto todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros» ( Jo 13, 35); mas como podemos praticar o Evangelho sem haurir a energia necessária para fazê-lo, um domingo após o outro, na fonte inesgotável da Eucaristia? Não vamos à Missa para oferecer algo a Deus, mas para receber dele aquilo de que verdadeiramente temos necessidade. Recorda-o a oração da Igreja, que assim se dirige a Deus: “Tu não precisas do nosso louvor, mas por um dom do teu amor chamas-nos a dar-te graças; os nossos hinos de bênção não aumentam a tua grandeza, mas obtêm para nós a graça que nos salva” (Missal Romano, Prefácio comum IV).
Em síntese, por que ir à Missa aos domingos? Não é suficiente responder que é um preceito da Igreja; isso ajuda a preservar o seu valor, mas sozinho não basta. Nós, cristãos, temos necessidade de participar da Missa dominical, porque só com a graça de Jesus, com a sua presença viva em nós e entre nós, podemos pôr em prática o seu mandamento, e assim ser suas testemunhas credíveis.
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SANTOS E BEATOS MERCEDÁRIOS setembro 01- São Justino de Paris. Mártir
03- Beato Mártir de Córdoba.
07- Beato Leonardo. Confessor.
19 - Santa Maria de Cervellón ou do Socorro Virgem
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10 – Beato Póncio de Barellis. Confessor.
16 – Santos Fernando Pérez e Ludovico Blanc. Mártires.
23 – São Pedro Pascual
OUTUBRO
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CAPA Deus tem “mal cheiro”:
UMA ESPIRITUALIDADE DE COMPOSTAGEM Jesus nasceu entre a incompreensão e falta de solidariedade dos taberneiros, entre a cumplicidade conturbada das autoridades civis e religiosas e em meio ao silêncio e a desesperança. “Chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”. (Lc 2,7) Ao longo da história, o nascimento de Jesus foi fixado no mundo de tal forma que, quando pensamos, a nossa mente se enche de muitas e belas recordações, contadas por nossos avós e pais. E não raramente, tais narrações expressam traços que parecem se tratar de mais um “Rei terreno”, e não de Jesus de Nazaré. São traços que o descrevem: luzes exageradas, jumentos enfeitados, pastores com rostos angelicais e um presépio elegante demais, magistral, engraçado, que exala aromas finos e exóticos. Imaginar essa realidade do “nascimento” pode nos deixar longe do entendimento sobre a profundidade do fato. É por esse motivo que temos o dever de lançarmos mão de nossa memória olfativa, visando desenrolar a mensagem que Deus veio trazer. As primeiras fragrâncias que o menino Jesus sentiu foram as relativas à pobreza. Logo, o menino nasceu não somen-
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te marginalizado, mas também perseguido e excluído. Jesus nasceu em um país ocupado e, portanto, em meio a uma população entristecida e humilhada. Sendo assim, Jesus nasceu entre a incompreensão e a falta de solidariedade dos taberneiros, entre a cumplicidade conturbada das autoridades civis e religiosas e em meio ao silêncio e à desesperança. Sim, Jesus nasceu em um estábulo, num curral, local de vivência de animais que certamente não cheiram bem. O presépio não cheira nada bem. Diante desse quadro, podemos levantar as seguintes questões: Onde poderia nascer Jesus, nos tempos de hoje? No Brasil? Ou em um país oprimido e dominado? Em meio à miséria? Como filho de imigrantes, perseguidos, presos, enclausurados nos campos de refugiados, com seus direitos de ter uma pátria e um acesso à rua negados? Se Jesus nascesse entre a corrupção e a cumplicidade, como seria então o presépio? Onde seria colocado? Com certeza não teria uma boa fragrância. E, se penso o meu coração como presépio, sem dúvida encontrarei partes dele que posso considerar muito dignas e perfumadas para ser um bom presépio. Porém, Deus esco-
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lheria, sem dúvida, as partes mais mesquinhas, frias, sombrias, inocentes, as quais não teriam aromas adequados, que não cheirariam bem. Por que Jesus decidiu encarnar-se e optar por nascer em tais realidades? Por que a Trindade Redentora quis humanizar-se em um projeto de salvar o que estava perdido, resgatando o que aparentemente estava podre? A redenção que parte da encarnação não se opõe, mas coloca-se como menino frágil em meio à precariedade e em meio ao odor, que aparenta ser podre e descartável, onde é escondido o húmus fértil para uma nova esperança. A redenção começa vulnerável, mas custodiada. É uma presença que provoca a ternura nos violentos, a felicidade nos que sofrem, a ação dos que são pouco ou nada úteis aos olhos da sociedade. Provoca ainda o cuidado dos que
têm medo da solidariedade dos pobres, o canto dos sem voz e sem vez, um respiro fresco na podridão, a renovação do seco. Assim, começa a redenção, transformando nosso próprio perfume para emanar o aroma da redenção, fazendo uma lenta adubagem de nossa própria vida, desde o sombrio e misteriosamente asqueroso; o presépio, assim, converte-se em berço, o mau cheiro se converte em luz e fertilidade. Talvez este desejo de ser berço do Salvador seja suficiente para que surja o milagre. Será graça somente pela graça da Trindade Redentora. Recordemos que: Ele que deseja encarnar-se, é Ele quem nos amou primeiro e nos chama a sermos o bom aroma do húmus, perfume da redenção nos presépios atuais, nestes que não cheiram nada bem. FELIZ E CHEIROSO NATAL PARA VOCÊS!!!!
NATAL: UMA PERSPECTIVA BÍBLICA
FR. INÁCIO JOSÉ, O. DE M.
Caros leitores, vivemos tempos litúrgicos de intensa espiritualidade: o Advento nos prepara para celebrar o mistério do Natal (primeira vinda de Jesus) e nos recorda que aguardamos a segunda vinda do Senhor (parusia). O tempo do Natal nos recorda o mistério da Encarnação do Verbo: Deus que, para nos salvar, assumiu plenamente a nossa condição humana, menos o pecado. Mas o que a Bíblia nos fala do Natal? É o que pretendemos explicar nessas breves linhas. Peço ao leitor que na medida em que vá avançando na leitura, pegue sua Bíblia e confira os textos bíblicos citados. Em primeiro lugar, os textos bíblicos não pretendem descrever o que aconteceu historicamente, mas elaborar uma catequese teológica acerca do mistério do Nascimento do Messias . Até mesmo porque, lido numa perspectiva histórica, os “relatos da infância do Senhor” são absolutamente contraditórios entre si. Entre os biblistas e historiadores existe inclusive certo consenso de que Jesus tenha nascido, de fato, na cidade de Nazaré e não em Belém, como afirmam as narrativas da infância de
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Mateus e Lucas, ao passo que, os próprios evangelistas e Atos afirmam que Jesus é de Nazaré (Mc 1,9; Mt 21,11; Jo 1,45-46, At 10,38).
Os evangelistas que refletiram teologicamente o nascimento e infância de Jesus foram Mateus e Lucas. Comecemos por Mateus. Escrito por volta dos anos 80 d.C, por um judeu-cristão para uma comunidade de cristãos vindos do judaísmo. Começa com uma genealogia simbólica (Mt 1,1-17), na qual mostra a origem judaica de Jesus, sua vinculação a Davi (simbolizado pelo número 14) perpassando toda a história de Israel. Depois, já narra o nascimento de Jesus da Virgem Maria, como cumprimento da profecia de Is 7,14, em Belém,
depois do aviso do anjo, em sonho a José (Mt 1,18-25). Em seguida (Mt 2,1-12), temos a visita dos magos, que simbolizam os não-israelitas (pagãos), que vem reconhecer o Menino Jesus como Rei de Israel, ao passo que ele é, desde já, rejeitado pelas lideranças de Israel (sacerdotes) e Rei Herodes. Em seguida, Mateus mostra Jesus participando das dores vividas pelo povo de Israel ao longo de sua história: a permanência no Egito (Mt 2,1318), Herodes pretende matar o menino Jesus do mesmo modo como o faraó pretendia matar o menino Moisés. O exílio babilônico é referenciado pela citação de Jr 31,15 onde Ramá era no passado o local de onde os exilados isra-
elitas partiam para o cativeiro; e por fim, a dispersão do exílio (Mt 2,19-23), quando a família de Jesus volta do Egito e não retorna a Belém, mas sim a Nazaré onde viverão daqui pra frente. Resumindo: segundo Mateus, Jesus nasce em seu lar em Belém e, após a visita dos magos, é obrigado a fugir para o Egito e do Egito vai para Nazaré onde será criado. Jesus é o Messias de Israel, novo Moisés enviado por Deus para libertar o povo de seus pecados. Outra versão, bem diferente, temos em Lucas. Lucas, por sua vez, também foi escrito por volta dos anos 80 d.C, para uma comunidade de pagãos convertidos ao cristianismo. A comunidade tem inspiração na teologia paulina,
ou seja, que Jesus é o Salvador de toda a humanidade e não apenas do povo de Israel. Além disso, Lucas faz um paralelo entre João Batista (último profeta do Antigo Testamento) e Jesus (Novo Testamento recém-chegado), mostrando a superioridade de Jesus em relação ao Antigo Testamento, que também é simbolizado pelos personagens idosos que aparecem no texto. Confira: Lc 1,5-23, o anjo Gabriel anuncia o nascimento de João Batista, ao idoso Zacarias, que está oficiando no Templo de Jerusalém. A incredulidade lhe faz ficar mudo e sua idosa mulher fica grávida. Lc 1,26-38: o mesmo anjo, agora vai a Nazaré, a uma virgem prometida em casamento anunciar-lhe que será a mãe do Filho do Altíssimo. Ela que não tinha motivos para acreditar, acredita e fala “eis a serva do Senhor”, ficando, assim, grávida. Em seguida, em Lc 1,39-45, temos o encontro do Novo Testamento ( Jesus) e o Antigo Testamento ( João Batista), que se alegra com a sua chegada, pois Jesus veio realizar todas as expectativas do povo do Antigo Testamento. Lucas coloca nos lábios de Maria um antigo cântico dos cristãos (Lc 1,46-56), que louva a Deus por salvar os pequenos e pobres de Israel. Maria permanece 3 meses com Isabel, tal qual a arca da aliança permaneceu 3 meses com Davi (2Sm 6,911): Maria é apresentada como a nova arca que leva consigo Jesus, a nova aliança de Deus com toda a humanidade. Lc 1.57-80, temos o nascimento de João Bta e o cântico do Benedictus,
mais um cântico dos antigos cristãos, posto agora nos lábios de Zacarias. Lc 2,1-7: nascimento de Jesus. Aqui difere bastante de Mateus: a família de Jesus é de Nazaré e por causa de um censo do império romano, eles são obrigados a se deslocar a Belém e, como não havia local para eles, Jesus nasce entre os animais. Como já disse anteriormente, não há nas fontes romanas da época, registro de tal censo, aliás, como é descrito em Lucas, contradiz a praxe de como os romanos faziam o censo . Lc 2,8-20 mostra os pastores (pobres) como os primeiros destinatários da mensagem da chegada de Jesus. Vão adorá-lo e reconhecê-lo como Salvador. Já Lc 2,21-39 mostra Jesus sendo circuncidado e apresentado no Templo e, novamente, dois idosos, Ana e o Simeão (simbolizando o Antigo Testamento), acolhendo o menino Jesus (Novo Testamento) e se alegrando, louvando e bendizendo a Deus pela sua chegada. Depois disso, voltam a Nazaré. Por fim, Lc 2,41-52, mostra Jesus, aos doze anos, no Templo, assumindo o compromisso de ocupar-se das coisas de seu Pai. Resumindo: a família de Jesus é de Nazaré e, por causa de um censo romano, eles vão a Belém e Jesus nasce lá por “coincidência”. Nota-se que, já havia uma crença prévia de que o Messias nasceria em Belém (Mq 5,2), o que fez com que os evangelistas esboçassem, cada um a sua maneira, um motivo para que “no texto” Jesus nascesse lá, a fim de mostrar que Jesus é o Messias desde o seu nascimento. Entretanto, como disse ante-
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA PARA APROFUNDAMENTO BARBAGLIO, Giuseppe. Jesus, Hebreu da Galileia. São Paulo: Paulinas. BORG, Marcus J.; CROSSAN, John Dominic. O Primeiro Natal. O que podemos aprender com o nascimento de Jesus. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. BROWN, Raymond. O Nascimento do Messias. Comentário das narrativas da infância nos evangelhos de Mateus e Lucas. São Paulo: Paulinas. PAGOLLA, José Antonio. Jesus – uma aproximação histórica. Petrópolis: Vozes.
riormente, há mais fortes indícios de que Jesus historicamente tenha nascido sim na cidade de Nazaré (Mc 1,9; Mt 21,11; Jo 1,45-46, At 10,38), era conhecido como Jesus Nazareno (Mc 1,24; 10,47; 14,67; 16,6; Lc 4,34; 24,19)
o que justifica a não aceitação dele como Messias por parte das lideranças de Israel. O que os evangelistas pretendiam, portanto, ao escrever essas narrativas do nascimento de Jesus, confessado como Messias e Senhor? Pretendiam, não descrever, de forma histórica como se deu o nascimento do Salvador, mas sim, cada qual à sua comunidade, refletir o que significa o nascimento de Jesus. Daí depreendemos: Jesus é filho do povo de Israel, confessado como descendente de Davi, rejeitado por Israel, mas acolhido pelos pagãos e experimenta em sua pele as dores históricas do povo de Israel (Mateus). Jesus é a Nova Aliança (Testamento) de Deus com toda a humanidade e sua chegada traz plenitude às promessas do Antigo Testamento e os pobres são os primeiros destinatários da mensagem de Jesus, tanto que ele nasce em meio à pobreza (Lucas). Ambas as catequeses são belíssimas, inspiradas pelo Espírito Santo e reconhecidas como canônicas pela Igreja, embora não tenham a pretensão de descrever de forma exata como se realizou o mistério do Verbo que se fez carne e habitou entre nós. Que Deus te abençoe e que nesse tempo do Natal reconheças o amor de Deus por ti: te ama tanto que se fez igual a ti em tudo, menos no pecado, para te salvar.
CARISMA MERCEDÁRIO OS PROFETAS EM DEFESA DA LIBERDADE Fr. Inácio José, O. de M. Caro leitor, Continuemos a nossa reflexão acerca do carisma mercedário, a partir dos textos bíblicos que inspiraram nosso fundador, São Pedro Nolasco, nesse empreendimento de libertar gratuitamente os cristãos cativos pobres em risco de perder a fé. Já vimos anteriormente a vocação de Moisés, chamado por Deus a libertar os israelitas da escravidão egípcia e vimos também a experiência de Deus enquanto misericórdia que nos liberta da escravidão dos ídolos. Hoje veremos as vozes proféticas que se levantaram em prol da liberdade do povo. 6 Assim diz o SENHOR: “Não perdoarei Israel por seus três crimes e, agora, por mais este: Eles vendem o justo por dinheiro, o sofredor, por um par de sandálias. 7 esmagam a cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível. (Am 2,6-7. Tradução Bíblia CNBB). Os profetas eram pessoas que tinham uma experiência profunda do Deus do Êxodo (Deus que liberta da escravidão) e sentiam-se vocacionados a anunciar ao povo a Aliança de Deus, denunciar as infidelidades da nação para com a Aliança e consolar os que sofrem, mediante palavras de esperança. Amós era do Reino do Sul ( Judá), mas foi convocado por Deus para profetizar no Reino do Norte (Israel) no tempo do reinado de Jeroboão II, um tempo de prosperidade econômica, mas de decadência moral e religiosa. Ele denunciou que, mesmo em meio a toda religiosidade do povo, o culto era pervertido, e havia uma injustiça social institucionalizada. Vejamos: Eles vendem o justo (ƒaddîq = pessoa justa, direita, inocente) por dinheiro, o sofredor (°ebyôn = pessoa necessitada), por um par de sandálias. Aqui temos clara alusão à instituição da escravidão como forma de pagar dívidas.
O par de sandálias significa que os pobres eram vendidos por dívidas insignificantes. Mostra o desprezo dos ricos para com os pobres. Esmagam a cabeça dos fracos (dal = o que é de classe inferior) no pó da terra e tornam a vida (derek = caminho) dos oprimidos (±¹nî = pobre, aflito) impossível. Denuncia novamente o trato opressor dos ricos em relação aos pobres. Esmagar a cabeça dos inferiores no pó da terra significa o mais profundo desprezo e “tornar a vida dos oprimidos impossível” (literal: torcer o caminho dos pobres) pode ser traduzido no sentido judicial de “não fazer justiça aos pobres” . O que esse texto profético nos diz de nosso carisma? Amós denuncia o enriquecimento das pessoas à custa da escravidão, à custa das injustiças nos tribunais, motivados pelo desprezo dos ricos para com os mais pobres. São Pedro Nolasco era comerciante. Poderia pensar apenas no lucro de seu empreendimento. Mas não! Tocado ao ver um cristão cativo sendo vendido como escravo, investe seu dinheiro para libertá-lo e, anos mais tarde, inspirado por Deus mediante Maria das Mercês, funda a Ordem das Mercês para justamente comprar a liberdade daqueles que, naquele contexto, estavam com suas vidas esmagadas no pó da terra, vendidos como mercadoria pelos muçulmanos. 24 - Revista Mercê
No texto bíblico, aparecem três palavras referentes aos pobres: °ebyôn, dal, e ±¹nî. Em apenas dois versículos, o profeta usa vasto vocabulário para se referir aos cativos de seu tempo. O carisma original das Mercês consistia justamente em arrecadar recursos para comprar a liberdade dos cristãos pobres submetidos ao cativeiro, aos quais as famílias não tinham condição de redimir. Por isso, quem bebe de nossa espiritualidade deve obrigatoriamente se aproximar dos mais pobres, escutar as suas angústias, os seus clamores por liberdade e, por gestos e palavras suscitar-lhes esperança de, um dia, possuir uma vida digna. Por outro lado, o Mercedário, religioso ou leigo, deve também, como o profeta Amós e como São Pedro Nolasco, denunciar a economia e a política de interesses de certos grupos nacionais e internacionais que estão fazendo com que surjam novos tipos de escravidão, cuja última consequência é a opressão e o cárcere . Reze e medite esses versículos bíblicos e procure responder: que lugar os pobres ocupam na minha vida? Uso de palavras e gestos para promovê-los? Deus nos abençoe e nos conceda cada vez mais nos encantar com nosso carisma redentor.
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ESPECIAL VIRGEM DAS MERCÊS
ESPIRITUALIDADE A PARTIR DE MARIA DAS MERCÊS - ESPERAR (Parte II)
A primeira coisa que Pedro Nolasco e os devotos de Nossa Senhora das Mercês precisam é compreender que a fé necessita ser protegida, salvaguardada, já que existe o perigo de perdê-la, tanto por causa de um ‘outro’ que oprime, quanto por causa de situações que colocam a fé em perigo. Mas, como vivem os cativos? Essa pergunta nos insere no ambiente onde está o cativo, que, no tempo de Pedro Nolasco, não era o seu ambiente próprio ou sua terra natal, mas um lugar estranho, um lugar de cativeiro. Hoje, os ambientes em que os cativos se encontram são variados e, muitas vezes, é o próprio lar, o ambiente dos amigos e as situações difíceis que surgem ao longo da vida e que colocam a fé em perigo. Quantas vezes percebemos pessoas, ou até mesmo nós, vivenciando situações de morte em nossa família, que parecem arrancar o nosso chão? Se não aprofundamos nossa caminhada de fé, podemos perdê-la nesses momentos difíceis. Por isso nossa casa precisa ser construída sobre a rocha firme, que é o Senhor! Para que, quando as situações adversas à fé chegarem à nossa pele, nós nos encontremos fortalecidos. Os cativos estão inseridos numa realidade de espera. E nem sempre se espera com esperan-
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ça. Muitas vezes esperamos com impaciência, e isso não nos ajuda em nossa caminhada. Por isso, o ambiente do cativo precisa ser permeado de esperança. Esperança na fé, esperança na libertação, esperança em nossa ajuda, esperança na presença de Cristo! Quando criamos esse ambiente de esperança, essa expectativa de dias melhores, temos a possibilidade de fazer da esperança uma realidade. Quando compreendemos as dificuldades e os sofrimentos pelos quais passam os cativos, começamos a nos importar com eles. A experiência de sofrimento dos cativos nos cobra uma atitude, da mesma forma que a Virgem das Mercês cobrou de Pedro Nolasco uma atitude, um gesto de carinho, um gesto redentor. Nosso Papa Francisco sempre nos pede para sairmos da cultura da indiferença. Ser indiferente é perceber a dor do outro, e nada fazer. Não podemos ser uma igreja indiferente. Não podemos viver indiferentes aos sofrimentos dos cativos. Nossa Santíssima Mãe das Mercês nos mostra a necessidade de sairmos de nós e irmos ao encontro do outro, daquele que sofre, irmos ao encontro do cativo. Então, o que podemos fazer? O que você pode fazer pelos cativos de hoje?
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NOSSA SENHORA DAS MERCÊS