Ano 16
Revista
48
Publicação Trimestral da Família Mercedária no Brasil - junho 2020
SOLIDARIEDADE em tempos de coronavírus
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VENHA SER MERCEDÁRIO VOCAÇÃO À VIDA RELIGIOSA É PRA QUEM GOSTA DE DESAFIOS
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EDITORIAL FREI RAFAEL GOMES, O. DE M.
Editorial Caros amigos, a paz de Cristo! Com alegria enviamos a você a edição 48 da revista mercê! Essa revista, um dos meios de apostolado redentor da província mercedária do Brasil, tem o objetivo de difundir e de apresentar o carisma e a missão da Ordem das Mercês no Brasil. Inspirados pelo exemplo de nosso pai fundador S. Pedro Nolasco, e amparados por Maria Santíssima, nossa mãe das mercês, buscarmos ser, na terra de Santa Cruz, expressões vivas do Santíssimo Redentor. Na presente edição, ofereceremos a você textos e vivências que visibilizam nossa missão no mundo, a saber, de sermos na história, manifestações do amor misericordioso do Pai que, em Cristo e no Espirito Santo, liberta para o Reino da Liberdade os cativos de nossos tempos. A humanidade, no momento presente, vive cativa da pandemia do novo Corona Vírus. Esse desafio sanitário impõe a cada um de nós a busca de novas alternativas de organização social e familiar. Novos espaços de convivência tem sido criados, ou mesmo potencializados, no intuito de mitigação das muitas consequências danosas desse vírus que assola o planeta. Inseridos no tempo e em seus desafios, a família mercedária procura ser, na vida das pessoas confiadas ao seu cuidado pastoral e carismático, referencial concreto de consolação e de solidariedade redentora. É essa presença própria da Ordem das Mercês na história que queremos partilhar contigo nas páginas que se seguem. Força e paz a todos, nesse momento difícil de nossa caminhada de fé! Deus o abençoe! Boa leitura!
Superior Provincial da Ordem das Mercês: Fr. John Londerry Batista, O. de M. Editor Chefe: Frei Rafael Gomes, O. de M. Jornalista Responsável: Rodrigo Sales - Reg. 8316-DF Correção e Revisão: Professora Elza Atála Participaram nesta edição: Frei Rafael Gomes, O. de M. Frei Fernando Cascón, O. de M. Frei Inácio José, O. de M. Site www.revistamerce.com.br Projeto Gráfico e diagramação Rodrigo Sales Impressão e Acabamento Mídia Gráfica LTDA. Tiragem 200 exemplares Publicidade 61-3346 1952 Central de Assinantes imprensa@mercedarios.com.br 61-3346 1952
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SUMÁRIO
CAPA
PALAVRA DO PAPA
LITURGIA DA PALAVRA
ESPIRITUALIDADE
PECADO: OPÇÃO FUNDAMENTAL EGOÍSTA
SOLIDARIEDADE E REDENÇÃO EM TEMPO DE COVID-19
PÁGINA 08
PÁGINA 11
PÁGINA 14
CARISMA MERCEDÁRIO ATITUDES LIBERTADORAS DE JESUS NOS EVANGELHOS
SEMENTES DE REDENÇÃO DOM FREI PEDRO PASCUAL MIGUEL, O. DE M.
CALENDÁRIO
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SAB
PALAVRA DO PAPA PAPA FRANCISCO
LITURGIA DA PALAVRA: ÚLTIMAS REFLEXÕES
PAPA FRANCISCO / VATICAN NEWS
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temos o direito de ouvir a Palavra de Deus. O Senhor fala para todos, Pastores e fiéis. Ele bate à porta do coração de quantos participam da Missa, cada um na sua condição de vida, idade, situação. O Senhor consola, chama, suscita rebentos de vida nova e reconciliada. E isto por meio da sua Palavra. A sua Palavra bate ao coração e muda os corações! Por isso, depois da homilia, um tempo de silêncio permite sedimentar no ânimo a semente recebida, a fim de que nasçam propósitos de adesão ao que o Espírito sugeriu a cada um. O silêncio depois da homilia. Um bom silêncio deve ser feito ali e cada um deve pensar naquilo que ouviu. Depois deste silêncio, como prossegue a Missa? A resposta pessoal de fé insere-se na profissão de fé da Igreja, expressa no “Credo”. Todos nós recitamos o “Credo” na Missa. Recitado por toda a assembleia, o Símbolo manifesta a resposta comum, a todos quantos ouviram, juntos, acerca da Palavra de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica, 185-197). Há uma ligação vital entre a escuta e a fé. Estão unidas. Com efeito, ela — a fé — não nasce da fantasia de mentes humanas mas, como recorda São Paulo, «é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus» (Rm 10, 17). Por conseguinte, a fé alimenta-se com a escuta e leva ao Sacramento. Assim, a recitação do “Credo” faz com que a assembleia litúrgica «medite novamente e professe os grandes mistérios da fé, antes da sua celebração na Eucaristia» (Ordenamento Geral do Missal Romano, 67). O Símbolo de fé vincula a Eucaristia ao Batismo, recebido «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo», e recorda-nos que os Sacramentos são compreensíveis à luz da fé da Igreja. A resposta à Palavra de Deus acolhida com fé expres-
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sa-se depois na súplica comum, denominada Oração universal, porque abraça as necessidades da Igreja e do mundo (cf. OGMR, 69-71; Introdução ao Lecionário, 30-31). É chamada também Oração dos fiéis. Os padres do Vaticano II quiseram inserir de novo esta oração depois do Evangelho e da homilia, sobretudo aos domingos e dias festivos, para que, «com a participação do povo, se façam preces pela santa Igreja, pelos que nos governam, por aqueles a quem a necessidade oprime, por todos os homens e pela salvação de todo o mundo» (Const. Sacrosanctum concilium, 53; cf. 1 Tm 2, 1-2). Por conseguinte, sob a guia do sacerdote que introduz e conclui, «o povo, exercendo o seu sacerdócio batismal, oferece a Deus orações pela salvação de todos» (OGMR, 69). E depois das intenções particulares, propostas pelo diácono ou por um leitor, a assembleia une a sua voz invocando: «Ouvi-nos, Senhor». Com efeito, recordemos quanto nos disse o Senhor Jesus: «Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedi tudo o que quiserdes, e vos será feito» (Jo 15, 7). “Mas nós não acreditamos nisto, porque temos pouca fé”. Se nós tivéssemos uma fé — diz Jesus — como o grão de mostarda, teríamos recebido tudo. “Pedi tudo o que quiserdes, e vos será feito”. E neste
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momento da oração universal depois do Credo, é o momento de pedir ao Senhor as coisas mais fortes na Missa, as coisas de que precisamos, aquilo que desejamos. “Vos será feito”; de uma maneira ou de outra mas “vos será feito”. “Tudo é possível para aquele que crê”, disse o Senhor. O que respondeu aquele homem ao qual o Senhor se dirigiu para dizer estas palavras — tudo é possível para aquele que crê — ? Respondeu: “Senhor, eu creio. Ajuda a minha pouca fé”. E neste momento da oração universal depois do Credo, é o momento de pedir ao Senhor as coisas mais fortes na Missa, as coisas de que precisamos, aquilo que desejamos.
Também nós podemos dizer: “Senhor, eu creio. Mas ajuda a minha pouca fé”. E devemos proferir a oração com este espírito de fé: “Senhor, eu creio, mas ajuda a minha pouca fé”. As pretensões de lógicas mundanas, ao contrário, não levantam voo rumo ao Céu, assim como permanecem desatendidos os pedidos autorreferenciais (cf. Tg 4, 2-3). As intenções pelas quais se convida o povo fiel a rezar devem dar voz às necessidades concretas da comunidade eclesial e do mundo, evitando recorrer a fórmulas convencionais e míopes. A oração “universal”, que conclui a liturgia da Palavra, exorta-nos a fazer, nosso, o olhar de Deus, que cuida de todos os seus filhos. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018/documents/ papa-francesco_20180214_udienza-generale.html
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ESPIRITUALIDADE POR PE. FR. RAFAEL GOMES, O. DE M.
O PECADO: OPÇÃO FUNDAMENTAL EGOÍSTA
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O ser humano, criado no amor por Deus e por Ele, vocacionado à felicidade plena, decide, na liberdade, afastar-se da luz divina. Cedendo às sugestões do inimigo da natureza humana, esquece-se de Deus, da alegria de estar em comunhão profunda de vida com Ele. Pecado, pecar, vem do grego hamartia, que, no contexto esportivo da Grécia Antiga, significava "errar o alvo", ou "falhar na execução de uma atividade, em competição".
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ESPIRITUALIDADE POR PE. FR. RAFAEL GOMES, O. DE M.
Na versão latina, pecar significa dar passos em falso, vacilantes. Todas as semânticas citadas apontam para uma rejeição objetiva de um projeto ou plano. Não há propriamente ofensa a Deus, mas renúncia ao seu projeto de vida e de felicidade. O ser humano rompe com o desígnio de Deus, não de maneira etérea, mas real, concreta. Quando não nos colocamos diante d’Ele na oração (pública ou pessoal), nós o recusamos; quando colocamos os bens materiais no centro de nossas vidas, e como motivações para o nosso trabalho, falhamos. Quando, por palavras, atos e omissões, passamos ao largo das necessidades físicas e espirituais de nossos semelhantes, nós nos fechamos ao grande mandamento do Senhor – o amor, autodoação – e assim pecamos. Pecar, enfim, significa tentar negar uma dimensão propriamente “intratrinitária” que está como que espelhada em nossa composição criatural: a capacidade de nos relacionarmos. O que comete pecado, corta relações com Deus e com seus irmãos. Negamos, com nossas iniquidades, o que de mais precioso possuímos: o dom de sermos imagem e semelhança de nosso criador e Senhor. Olhar para nossas iniquidades significa reconhecer nossa humana condição, naquilo que de mais limitante ela
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possui. Reconhecer nossos erros nos faz humildes, permitindo-nos um retorno à nossa condição original. "Do pó viestes, ao pó hás de tornar". Deus só age em nós se nós nos reconhecermos fragmentos frágeis de criação em suas mãos (S. Agostinho). A autossuficiência e o orgulho nos afastam da face de Deus. Ele não pode ajudar quem já se sente bom e "pronto".
PREPARAÇÃO PARA A ORAÇÃO: encontrar um “santuário”, lugar todo seu, favorável à oração. Tranquilizar-se, respirar profundamente, recolher-se. ORAÇÃO PREPARATÓRIA: Senhor, que todos os meus pensamentos e sentimentos estejam voltados para ti. GRAÇA: Ajuda-me, Senhor, a reconhecer meus limites e iniquidades. TEXTOS BÍBLICOS: Gn 3, 1-19; 2Sm11, 1 – 17; II Cor 12, 1-10. QUESTÕES PARA A REVISÃO DA ORAÇÃO: Consigo nomear meus defeitos? Como me sinto diante deles? Confio na misericórdia de Deus? 13
Revista Mercê - 13
CAPA SOLIDARIEDADE E REDENÇÃO EM TEMPOS DE COVID 19
SOLIDARIEDADE E REDENÇÃO EM TEMPOS DE COVID-19 14
Em meio à pandemia do novo Coronavírus (COVID 19), muitas têm sido as iniciativas redentoras, que brotam do esforço apostólico e carismático dos frades da Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria das Mercês espalhados pelo mundo, que objetivam levar acalento e esperança aos cativos da enfermidade e do desânimo, nesses tempos difíceis.
Essa presença confortadora dos herdeiros do carisma e da missão de São Pedro Nolasco no contexto atual, marcado por profunda crise sanitária mundial, se dá desde as mais variadas frentes de trabalho. Em primeiro lugar, faz-se necessário notar que as restrições de circulação e de aglomerações físicas permitiram à Igreja em geral, e consequentemente à Ordem, avançar para novos espaços de convivência e de interação. Nesse sentido, destaca-se o crescimento do apostolado redentor virtual, que se dá por meio de transmissões on-line de reuniões de formação e mesmo de atividades espirituais. Vê-se que cada esforço apostólico virtual é movimentado pelo desejo de comunicar a autodoação do Deus de misericórdia, fonte de toda a consolação, que tem refri-
gerado a vida de muitos que, mesmo em suas casas, se sentem cativos do anseio pela sobrevivência e pela vida plena. Os frutos oriundos de tais atividades permitem perceber que o imperativo da visita redentora, comunicadora de paz e de alegria, continua válido e prenhe de sentido nos tempos atuais. Outra frente de apostolado, que tem sido utilizada pela família mercedária, com o objetivo de comunicar a misericórdia do Pai à Humanidade afetada pela COVID 19, é a sacramental. Todas as fraternidades mercedárias têm se esforçado por comunicar os sagrados mistérios àqueles que lhes foram confiados pastoralmente. Potencializa-se, assim, por meio da Eucaristia transmitida virtualmente, uma comunhão real de pessoas que, misteriosamente, se congregam a partir de seus lares, em torno da
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mesa santa. Nutridas pela presença de Cristo, e alentadas pelo frescor do Espírito de Santidade, nossas comunidades rendem glórias ao Pai das Misericórdias e suplicam dele, clemência, ânimo e piedade para a Humanidade cativa. Por fim, destacam-se também as obras de misericórdia corporais realizadas pelas nossas comunidades redentoras, no âmbito das mais variadas províncias da Ordem das Mercês. Muitas ações sociais multiplicaram seu alcance em virtude das demandas das duas grandes ondas desse novo Coronavírus, a saber: a sanitária e a econômico-social. Nota-se ainda uma grande solidariedade apostólica por parte dos religiosos, no que tange ao atendimento dos enfermos e de suas famílias, bem como uma solicitude em prestar assistência cristã às vítimas fatais da COVID 19. COMÉRCIO PERMANECE FECHADO
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A crise econômica e social, agravada nesse momento em virtude da pandemia já citada, impôs e impõe à Igreja uma necessidade pontual: tornar-se cada vez mais uma instituição “em saída”. Dessa maneira, muitas comunidades de fé têm se movimentado na direção dos pobres, especialmente desassistidos nesse tempo. Constata-se o crescimento da partilha e da solidariedade, vertidas na partilha de bens, ou mesmo na socialização de serviços e de esforços. Que a mercê de Deus continue a inspirar e a qualificar as ações apostólicas de todos os atores eclesiais nesses tempos
SOLIDARIEDADE GANHA DESTAQUE DURANTE PANDEMIA
difíceis enfrentados pela Humanidade. E que a solidariedade redentora, valor experimentado no momento presente, marque decisivamente a caminhada desse novo ser humano que emergirá dessa crise.
FONTE: OMS JUNHO 2020
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CARISMA MERCEDÁRIO
POR PE. FR. INÁCIO JOSÉ, O. DE M.
AS ATITUDES LIBERTADORAS DE JESUS NOS EVANGELHOS
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EVANGELHO DE MATEUS Caro leitor. Continuamos a nossa caminhada, meditando os evangelhos, em busca das ações libertadoras de Jesus que possam inspirar aqueles que bebem do carisma mercedário. Hoje leremos o evangelho de Mateus. Segundo os estudiosos da Bíblia, o evangelho de Mateus foi escrito por uma comunidade de judeus que acreditavam em Jesus como Messias (Cristo), por volta dos anos 80 d. C. Quando Mateus escreve seu evangelho, os judeus cristãos estão sendo expulsos das sinagogas pelos fariseus e, por isso, ele pretende mostrar em seu evangelho que Jesus é o Messias esperado pelo povo de Israel. Apresenta Jesus como um “novo Moisés” que haverá de libertar o povo de seus pecados. Outro detalhe importante é que, quando Mateus escreve seu evangelho, ele já tem o evangelho de Marcos pronto em suas mãos. Grande parte da narrativa ele copiou de Marcos, acrescentando material catequético que era próprio de sua comunidade. Por isso, os textos que aparecem em Mateus que já apareceram anteriormente em Marcos, não vamos repetir. Vamos buscar aquilo de novo que Mateus apresenta acerca do mistério de Cristo como Redentor da Humanidade. Tome a Bíblia em suas mãos e, a cada citação, confira a passagem.
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Logo após o nascimento de Jesus e a adoração dos magos do Oriente, a família de Jesus é obrigada a fugir para Egito a fim de salvar a vida do menino (2,13-18) e, quando o perigo cessa, eles não voltam para a terra natal, mas buscam abrigo em Nazaré (2,19-23). Ou seja, Cristo, em sua infância, foi um refugiado e depois, foi um migrante. É por esta razão que os mercedários reconhecem nos refugiados e nos migrantes, que saem de suas terras em busca de uma situação de vida melhor, a presença de Cristo que clama por libertação. Eles são cativos dos tempos atuais. Nos capítulos 5 a 7 de Mateus (aqui aconselho lê-los integralmente), temos o sermão da montanha. Da mesma forma como Moisés, da montanha entregou a Lei de Deus para o povo de
Israel, agora Jesus, tal como “novo Moisés” dá a nova Lei para quem quiser ser seu discípulo. A Lei foi dada para que o povo não voltasse à casa da escravidão. Cristo agora nos dá nova Lei para que não caiamos na escravidão do pecado que gera as demais escravidões no mundo. Nesta parte do evangelho de Mateus, é interessante notar que Jesus propõe a sua interpretação acerca da Lei (“eu, porém, vos digo”). Trata-se de uma interpretação libertadora e radical: libertadora porque ultrapassa a letra da Lei e mostra a sua raiz numa conduta interior do ser humano. Em Mt 8,5-13, Jesus cura o criado do centurião romano. A misericórdia de Jesus supera a fronteira étnica, curando até mesmo alguém que faz parte do sistema opressor do povo.
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MOISÉS APRESENTA OS DEZ MANDAMENTOS
O verdadeiro amor não está preso a nenhuma condição, mas age, inclusive, em solidariedade aos que lhe são inimigos. Já em Mt 8,18-22, Jesus coloca exigências para quem o quer seguir: a pessoa deve estar livre de seguranças mundanas e livre também do apego à própria família. Cristo é o valor essencial. Em Mt 9,1-8, temos Jesus curando um paralítico, perdoando-lhe os pecados. Esse texto aparece também em Marcos, mas não o havíamos meditado. Nesse texto se demonstra a necessidade da libertação interior para que a pessoa possa se desenvolver plenamente na vida. Libertação interior significa libertação da condição de pecado, que só Cristo é capaz de nos proporcionar. No texto de Mt 11,28-30, Jesus anuncia descanso para aqueles que se sentem cansados pelo peso das leis religiosas judaicas. O fardo e o peso de Jesus são leves. “Jugo” era a expressão técnica usada na época para se referir aos preceitos religiosos. Jesus não veio trazer uma religião enfadonha e legalista, mas, veio vincular a Humanidade a Deus, mediante a prática do amor fraterno. Um tema que aparece neste evangelho é o perdão que deve ser dado 70 × 7, ou seja, sempre, e que deve ser característica de uma comunidade seguidora de Jesus. 20
JESUS CURA O CRIADO DO CENTURIÃO ROMANO.
JESUS CURA PARALÍTICO NA FRENTE DA MULTIDÃO
O perdão liberta a vítima da vingança e a faz semelhante ao Pai do Céu (Mt 18,21-35). Em Mt 23, temos a controvérsia de Jesus com os fariseus acusando-os de hipocrisia. Colocam pesados fardos nas costas dos outros, mas eles mesmos não carregam esses pesos. Aqui Jesus liberta a religião da sua pior escravidão, que é hipocrisia de pretender ensinar um caminho moral e ético para os demais, sendo que seus próprios líderes não praticam absolutamente nada daquilo. Mt 25,31-46, Jesus, descrevendo como será o juízo final, identifica as obras de misericórdia como condição para a salvação. Aqui se concretiza aquele dito de Jesus no mesmo evangelho, quando afirma que naquele dia (o dia do juízo) muitos dirão “Senhor, Senhor” e não entrarão no reino dos céus (Mt 7,21) pois, apesar de serem pessoas religiosas, não praticaram o verdadeiro amor, a caridade para com o próximo mais necessitado. Vale ressaltar que esse texto é muito querido do Carisma das Mercês, pois São Pedro Nolasco o meditava constantemente, inspirando neste texto o seu trabalho redentor. O cativo cristão se identificava com o sedento, faminto, nu, estrangeiro, doente e preso. Atualmente todos os que estiverem nessas condições são os cativos dos tempos atuais. Mt 27,45-53 narrando a paixão de Cristo, mostra que, quando Cristo morreu, os santos ressuscitaram; em outras palavras: Cristo, ao descer à mansão dos mortos, destruiu a morte e libertou-nos de sua escravidão. Em síntese: Jesus, no evangelho de Mateus, foi apresentado como o novo Moisés, que veio libertar o povo de Israel da escravidão, que naquele momento era a escravidão legalista religiosa imposta pelos fariseus após a destruição do templo de Jerusalém dos anos 70. Além de não terem reconhecido Jesus como Messias, esse era o outro grande pecado que os fariseus estavam cometendo naquele momento, expulsando os cristãos das sinagogas, inclusive. Não é que Jesus seja contrário à lei religiosa, mas esta é submissa ao valor fundamental da vida, que está acima de todos os preceitos religiosos e condicionados à prática do amor fraterno vivido e ensinado por Jesus. Retome, novamente, esses textos próprios do evangelho de Mateus. Releia-os em oração procurando perceber como eles nos aprofundam no carisma das Mercês. No próximo artigo, veremos as atitudes libertadoras de Jesus no evangelho de Lucas. Boa leitura e boa oração. Até a próxima. 21
SEMENTES DE REDENÇÃO
POR PE. FR. FERNANDO CASCÓN RAPOSO, O. DE M.
DOM FREI PEDRO PASCUAL MIGUEL, O. DE M. Existem pessoas que não precisam percorrer o caminho da canonização para resplandecer com a auréola da santidade. Uma delas é o primeiro bispo da hoje Diocese de Bom Jesus do Gurguéia no Brasil, Dom Pedro Pascual Miguel Martínez, alma de apóstolo e esforçado missionário neste sertão piauiense desde 1922 até 1926. Nasceu na pequena cidade de La Puebla, perto de Burgos, na Espanha, no dia três de maio de 1870, numa família profundamente católica, ornada de valores espirituais. O nome de seus pais era Damásio Miguel e Paulina Martínez. Foi
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batizado com o nome de Crescéncio. De criança e adolescente, certamente, correu atrás de ilusões que o levaram a decisão de ser sacerdote, e algum missionário mercedário o incentivou na vocação religiosa e missionária da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, pois, em 1887, no dia 27 de janeiro, ingressava no Seminário mercedário de Conjo, em Santiago de Compostela, com 17 anos. No dia 15 de maio do mesmo ano, já dava início ao noviciado vestindo o alvo hábito da Ordem das Mercês. Nesta mesma data, muda o nome para Pedro Pascual, como era
PRIMEIRO BISPO PRELADO DE BOM JESUS DO GURGUÉIA/PI
costume entre os religiosos e como homenagem ao santo mártir mercedário São Pedro Pascual, bispo de Jaén, na Espanha. Emite os votos religiosos no dia 14 de junho de 1888, no Convento de Conjo, Santiago de Compostela e os votos solenes no dia 21 de junho de 1891 no mesmo convento. Recebeu a Ordem de Subdiácono no dia 29 de novembro de 1891, na Igreja Catedral de Santiago de Compostela. Piedoso e muito inteligente, logo terminou os estudos de Filosofia e Teologia, ordenando-se sacerdote em Santiago de Compostela no dia 17 de dezembro de 1892. Prendado de dotes de governo e sabedoria, logo foi escolhido para Comendador do convento de Verín, Ourense, no ano 1898, onde permaneceu até 1907, transferido logo para o convento de Sárria. Lá permaneceu pouco tempo pois, no mesmo ano, encomendaram-lhe a difícil tarefa de reerguer a Província do México, nomeando-o Superior do convento de Lagos de Moreno, em 1907, e em 1909 é nomeado Provincial de dita Província, cargo que ocupou até 1920, deixando-o por causa da indicação do Mestre Geral Pe. Inocêncio López Santamaria, como bispo preconizado de uma Prelazia em terras do Brasil, no Piauí. De um manuscrito de Dom Inocêncio, transcrevo o seguinte: “Sem mais delongas, depois de consultar o caso com os Padres Assistentes, chamei que viesse à Roma o
então Padre Provincial do México, M. Rdo. Pe. Fr. Pedro Pascual Miguel Martínez, e chegando a Roma apresentei-o ao Papa, que, brincando, lhe disse: - “O Senhor pensava morrer no México, porém irá morrer no Brasil” (Morreu na Espanha). Continua o escrito: “tudo ficou combinado, não seria nomeado, por motivos que a Santa Sé estimava convenientes, e o novo Prelado, recebendo as instruções, preparando o necessário partiu para a Espanha e de lá, acompanhado do Pe. Francisco Freiria Mallo, desde o convento de Poio (Pontevedra), zarparam rumo ao Rio de Janeiro. De lá, depois de conferenciar com o Sr. Núncio Apostólico, Enrique Gasparri, sobrinho do falecido Secretário de Estado de S. S., seguiram para o Piauí, (via marítima), para encontrar-se com o Sr. Bispo Dom Otaviano, em Teresina, e desde lá, pelo Parnaíba até Floriano e São João do Piauí, para encontrar-se na primeira cidade com o Pe. Marcos, que, muito dedicadamente e com grande afeto e carinho, os acompanhou até São Raimundo Nonato, dando posse ao Prelado[...]”. No dia oito de junho de 1920, era escolhido por S. S. Bento XV para ser bispo da Nova Prelazia de Bom Jesus do Gurguéia, no sul do Piauí, Brasil. Juntamente com o secretário Pe. Francisco Freiria Mallo, saíram de Vigo (Espanha) rumo ao Brasil no dia 24 de fevereiro de 1921. Tomou posse como bispo preconizado no dia 22 de junho 1921, na
Igreja Matriz de São Raimundo Nonato, dada a dificuldade de chegar até Bom Jesus, Sede da Prelazia; e, por uma autorização especial da Santa Sé, permaneceria nessa cidade de São Raimundo Nonato pastoreando a Prelazia. Ele mesmo nos descreve a odisseia para chegar até São Raimundo Nonato, numa carta datada de 11 de julho de 1922: “Embarcamos no dia 27 de fevereiro e chegamos a esta cidade de 2.500 habitantes no dia 28 de junho. Quatro meses! Mais tempo do que necessário para dar uma volta ao mundo. Pois foi assim, nem um dia de menos! Após uma viagem extremamente penosa, no dia 29 de junho tomei posse solene da minha prelazia. Não o fiz, porém, na vila de Bom Jesus do Gurguéia, por razões de conveniência, como exporei em seguida. A viagem foi terrível, e somente não morri, porque Deus é grande. Foi bom até o Rio de Janeiro, apesar da monotonia da vida do mar: comer, dormir e passear. No Rio de Janeiro, onde fomos recebidos amavelmente pelo Sr. Núncio, houve 12 dias de espera pelo vapor que nos havia de conduzir a um porto do norte deste Estado. Chegamos à cidade de Parnaíba a 9 de abril, domingo de Ramos, depois de 15 dias de navegação, tanto como para a Europa. Em Parnaíba mais 20 dias de espera por outro vapor que nos havia de levar rio acima até Teresina, capital do Estado e residência do bispo do Piauí. 23
Neste trajeto de 90 léguas empregamos 17 dias, subindo e descendo o rio para de novo subir por causa de correntes muito fortes, algumas vezes, por bancos de areia aflorando à superfície, outras vezes por falta de lenha e por uma constante desorganização. No dia 11, chegamos a Teresina, onde o bispo nos recebeu de braços abertos, porque, desta forma, se lhe tirava o peso desta prelazia do sul do Estado. Fomos muito bem acolhidos nos dias que passamos com ele. Visitei o governador, que logo telegrafou para as autoridades desta região para que nos recebessem conforme nossa hierarquia de altos dignitários da Igreja Católica”. “Dois dias após, tendo recebido das mãos do bispo o pergaminho em que consta o desmembramento da diocese do Piauí e a criação da Prelazia por Bento XV, tomamos outro vapor que nos conduziu pelo rio Parnaíba até a cidade de Floriano em 7 dias. Lá chegamos a 26 de maio, e tivemos que esperar 12 dias até a vinda de um sacerdote que devia nos acompanhar até aqui”. No dia 4 de julho, teve início nosso calvário verdadeiro, o qual não sabemos quando terminará. De Floriano a São Raimundo Nonato são 75 léguas, ou seja, 450 quilômetros, pois as léguas são de seis quilômetros mais ou menos. Tínhamos que viajar por dia 60 quilômetros sob pena de dormir na floresta, expostos aos ataques 24
das feras e de enormes répteis. Na realidade, ao final de cada percurso não era muito grande o refrigério: uma casa de barro coberta de palha, ninho de insetos sem conta; não obstante, havia gente, e era um consolo. Os bosques e as florestas, até mesmo em pleno dia, causam pavor e espanto. No caminho não se ouve outra coisa que o resfolegar dos cavalos, a algazarra dos papagaios, e o rugido longínquo do tigre ou da onça. Era necessário algum descanso e comida para os cavalos, e, com isso, as marchas deveriam ser mais forçadas. Por essa razão, ao chegar ao quinto dia, felizmente, já na paróquia do sacerdote que nos acompanhava, caí de cama por 8 dias. Graças, porém, a uma raiz que existe nestas matas, hoje me encontro um pouco melhor do que antes. Aqui, não há médicos: o único auxílio vem de Deus e de alguns remédios caseiros que esta gente conhece”. (O sacerdote que veio acompanhá-los era o Pe. Marcos Francisco de Carvalho, vigário de São Raimundo Nonato e São João do Piauí). Ainda o aguardava mais “calvário” nesta seara a ele encomendada. Com zelo apostólico e como administrador dos tesouros espirituais do rebanho a ele confiado, iniciou pelo conhecimento desta
vasta região do sul piauiense, desde São Raimundo Nonato até Cristalândia e em lombo de burro, pois nem estrada havia naquele tempo. Podemos chamá-lo com toda propriedade “O Homem das Dores” como a Jesus, pois foi sempre muito fraco de saúde, como deduzimos de uma carta enviada aos superiores em Roma, datada de 02 de agosto de 1922. Conta ele: “No dia 03 de agosto de 1921, (recém chegado à missão) parti em visita pastoral... Voltei para casa no dia 1º de setembro, às 10 horas da noite, esquartejado e moído, pronto para entrar num hospital se aqui houvesse. Viajando a cavalo, já pude perceber o quanto sofrerei com minha enfermidade e aqui não há remédios além da Divina Providência’’. Referia-se a um câncer na Próstata que o vitimou mais tarde, além de alguns cálculos renais para aumentar o seu sofrimento. Na mesma carta ele continua: “No dia quatorze (de setembro), desejo partir para visitar o norte da prelazia com mais de quatrocentas léguas quadradas, (cada légua
são seis quilômetros), caso a minha enfermidade se agrave, talvez não regresse mais desta viagem ou, se voltar, será para permanecer de cama o tempo que Deus for servido”. A quatorze de outubro, do mesmo ano, dava novas informações depois de fazer um balanço dos trabalhos missionários. “De saúde estou para ser colocado em conserva. A alimentação é deficientíssima, a água um verdadeiro lodo, um calor tropical estupendo e sem despir-me em todo o mês... pode-se imaginar em que condições estarei.” (Boletín de La Ordem Mercedária. 1922. P. 29). Apenas era preconizado para bispo da nova Prelazia. Foi o Papa seguinte, Pio XII, que o nomeou 1º Bispo da Prela-
zia de Bom Jesus do Gurguéia, com o título Agatópolis, a 18 de dezembro de 1924. Muito debilitado pela doença, foi à Espanha, onde recebeu a Sagração Episcopal de mãos do Arcebispo de Madri Dom Leopoldo Eijo Garay Mons, Manuel Castro, bispo de Segóvia e Mons. Frei Albino Menéndez Reigada, O. P. bispo de Tenerife. A cerimônia religiosa foi realizada na Capela do Colégio das Irmãs Mercedárias de Dom Juán de Alarcón, em Madri, no dia 25 de junho de 1925. Na intenção de fazer exames médicos, foi a Barcelona, onde, internado, submeteu-se a uma operação e, após algum tempo de convalescença, veio a falecer. Era o dia 5 de maio de 1926. O seu corpo
está sepultado na Basílica de Nossa Senhora das Mercês, em Barcelona (Espanha). Dom Pedro Pascual foi um exemplo de missionário que não mediu consequências em se tratando de evangelizar. “Quem vai me separar do amor de Cristo? A dor? A tribulação? A angústia? A fome? ... No lema do brasão episcopal deste bispo, está escrito: “BONE JESU NOS TUERE”, traduzindo: “Bom Jesus, cuida de nós”. Entregou-se como holocausto pela nova Prelazia que hoje se orgulha de ser uma florescente Diocese no Sul do Piauí, com 22 paróquias todas providas de Vigário, além de uma Diocese Irmã, São Raimundo Nonato.
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CALENDÁRIO MERCEDÁRIO
2020
JUNHO 01- Serva de Deus Teresa de Jesus Bacq 06- Sábado Mercedário 08- Fundação das Mercedárias Descalças 12- Missa pelos fiéis defuntos 13- Sábado Mercedário 20- Sábado Mercedário 27- Sábado Mercedário
JULHO 04- Sábado Mercedário 09- Festa do Santíssimo Redentor 11- Sábado Mercedário 17- Serva de Deus Lúcia Etchepare 18- Sábado Mercedário 24- Beata Margarida Mª López de Maturana 25- Sábado Mercedário
AGOSTO 01 e 02- Inspiração de fundação da Ordem por Maria 01- Sábado Mercedário 06- Servo de Deus Antônio Pisano 07- Venerável Pedro Urraca da Santíssima Trindade 08- Sábado Mercedário 09- Serva de Deus Lutgarda Mas e Mateu 10- Fundação da Ordem das Mercês 14- Missa pelos fiéis defuntos 15- Assunção da Virgem aos céus 22- Sábado Mercedário 23- Mártires Mercedários de Castilla 28- São Agustín, Bispo e Doutor da Igreja 29- Sábado Mercedário 31- São Raimundo Nonato 26
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