Revista Mercê 44

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Revista

Publicação Trimestral da Família Mercedária no Brasil - junho de 2019

FÉ CRISTÃ

DOM E MISSÃO PARA O CRISTÃO

Ano 15

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o 2

CONGRESSO INTERNACIONAL MERCEDÁRIO DE PASTORAL PAROQUIAL

Da experiência Paroquial para as periferias existenciais

19 a 23 de Agosto

Local: Casa de Retiro São José | Avenida Itaú, 475 - Dom Bosco Belo Horizonte - MG Mais Informações: Tel: (61) 3346-1952 / 9 8114-0873 E-mail: paroquiamercedaria@gmail.com

Província Mercedária do Brasil


O

EDITORIAL

Caros amigos, louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Com muita alegria apresentamos a edição 44 de nossa revista Mercê. Nela procuramos oferecer algumas reflexões que ajudam no crescimento da qualidade de nossa fé. Crer em Deus, Pai misericordioso, é um dom: Ele sempre vem amorosamente ao nosso encontro, tomando a iniciativa de visitar nosso ser com Sua presença na graça. Contudo; é também tarefa: precisamos corresponder ao Deus da vida, por palavras, obras e comportamentos.

é bom para conosco e que continua a fazer surgir mensageiros de sua misericórdia para nossa família redentora. Que O Cristo Redentor das Mercês nos ilumine com sua presença de luz, fazendo-nos crescer em zelo por esta obra de libertação dos cativos. Boa leitura! Frei Rafael Gomes, O. de M.

Para além de nossos textos formativos, partilhamos contigo nestas páginas alguns momentos de vivência fraterna de nossa Província Mercedária do Brasil. Celebramos com muita esperança a Ordenação Presbiteral de mais um religioso de nossa província. Nota-se que Deus

Ordem Mercedária no Brasil Avenida L2 Sul, quadra 615, Bloco D CEP 70200-750 - Brasília- DF Fone: (61) 3346-3890 www.revistamerce.com.br

Superior Provincial: Fr. John Londerry Batista, O. de M.

Site www.revistamerce.com.br

Editor Chefe: Frei Rafael Gomes, O. de M.

Projeto Gráfico e diagramação Rodrigo Sales

Jornalista Responsável: Rodrigo Sales - Reg. 8316-DF

Impressão e Acabamento Mídia Gráfica LTDA.

Correção e Revisão: Vânia Meire

Tiragem 3.000 exemplares

Participaram nesta edição:

Publicidade 61-3345 1278

Ir. Afonso Murad Frei Rafael Gomes, O. de M. Frei Elionaldo Elcione, O. de M Jeovah Fialho

Central de Assinantes imprensa@mercedarios.com.br 61-3346 1952


SUMÁRIO

PALAVRA DO PAPA SANTA MISSA

MERCÊ NO BRASIL

ORDENAÇÃO FREI FÁBIO

SANTOS REDENTORES SÃO PEDRO NOLASCO

PÁGINA 07

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PÁGINA 11

CAPA

ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA SETE ALEGRIAS DE MARIA

FÉ CRISTÃ

OS VINGADORES E A FÉ CRISTÃ

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A FÉ CRISTÃ

CALENDÁRIO

CALENDÁRIO MERCEDÁRIO MAIO DOM

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SAB


RECORTAR

Ag. 212/412 Correios 70275-970 - Brasília- DF

Remetente Revista Mercê - 05


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PALAVRA DO PAPA

SANTA MISSA

Saiba um pouco mais sobre o Ato Penitencial Retomando as catequeses sobre a celebração eucarística, consideremos hoje, no contexto dos ritos de introdução, o ato penitencial. Na sua sobriedade, ele favorece a atitude com a qual se dispor para celebrar dignamente os santos mistérios; ou seja, reconhecendo, diante de Deus e dos irmãos, os nossos pecados, reconhecendo que somos pecadores. Com efeito, o convite do sacerdote é dirigido a toda a comunidade em oração, porque todos somos pecadores. O que pode dar o Senhor a quem já tem o coração cheio de si, do próprio sucesso? Nada, porque o presunçoso é incapaz de receber o perdão, satisfeito como está da sua presumível justiça. Pensemos na parábola do fariseu e do publicano, na qual somente o segundo — o publicano — volta para casa justificado, ou seja, perdoado (cf. Lc 18, 9-14). Quem está ciente das próprias misérias e abaixa o olhar com humildade, sente pousar sobre si o olhar misericordioso de Deus. Sabemos por experiência que só quantos sabem reconhecer os erros e pedir desculpas recebem a compreensão e o perdão dos outros. Ouvir em silêncio a voz da consciência permite reconhecer que os nossos pensamentos estão distantes dos pensamentos

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Papa Francisco divinos, que as nossas palavras e as nossas ações são muitas vezes mundanas, isto é, guiadas por escolhas contrárias ao Evangelho. Por isso, no início da Missa, realizamos comunitariamente o ato penitencial mediante uma fórmula de confissão geral, pronunciada na primeira pessoa do singular. Cada um confessa a Deus e aos irmãos “que pecou muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e omissões”. Sim, também por omissões, ou seja, que deixou de praticar o bem que poderia ter feito. Muitas vezes nos sentimos bons porque — dizemos — “não fiz mal a ninguém”. Na realidade, não é suficiente não praticar o mal contra o próximo, mas é necessário escolher fazer o bem aproveitando as ocasiões para dar bom testemunho de que somos discípulos de Jesus. É bom frisar que confessamos tanto a Deus quanto aos irmãos que somos pecadores: isso nos ajuda a compreender a dimensão do pecado que, enquanto nos separa de Deus, também nos divide dos nossos irmãos, e vice-versa. O pecado corta: corta a relação com Deus e com os irmãos, corta a relação na família, na sociedade e na comunidade. O pecado corta sempre, separa, divide. As palavras que proferimos com os lábios são acompanhadas pelo gesto de bater no peito, reconhecendo: Pequei precisamente por minha culpa, e não por culpa de

outros. Com efeito, muitas vezes acontece que, por medo ou vergonha, aponto o dedo para acusar o próximo. Custa-nos admitir que somos culpados, mas faz-nos bem confessá-lo com sinceridade; confessar os próprios pecados. Recordo-me de uma história, narrada por um missionário idoso, de uma mulher que foi confessar-se e começou a falar dos erros do marido; depois, passou a contar os erros da sogra e em seguida os pecados dos vizinhos. A um certo ponto, o confessor disse-lhe: “Mas senhora, diga-me: acabou? — Muito bem: acabou com os pecados dos outros. Agora comece a dizer os seus”. Dizer os próprios pecados! Depois da confissão do pecado, suplicamos a Bem-Aventurada Virgem Maria, aos Anjos e aos Santos para que intercedam junto do Senhor por nós. Também nisso é preciosa a comunhão dos Santos: ou seja, a intercessão destes «amigos e modelos de vida» (Prefácio de 1º de novembro). Sustém-nos no caminho rumo à plena comunhão com Deus, quando o pecado será aniquilado definitivamente. Além do “Confesso”, podemos fazer o ato penitencial com outras fórmulas, por exemplo: «Piedade de nós, Senhor / Contra Vós pecamos. / Mostrai-nos, Senhor a vossa misericórdia. / E concedei-nos a vossa salvação» (cf. Sl 123, 3; 85, 8; Jr 14, 20). Especialmente

aos domingos, podemos fazer a bênção e a aspersão da água em memória do Batismo (cf. OGMR, 51), que cancela todos os pecados. Como parte do ato penitencial, também é possível cantar o Kyrie eleison. Com essa antiga expressão grega, aclamamos o Senhor — Kyrios — e imploramos a sua misericórdia (ibid., 52). A Sagrada Escritura oferece-nos luminosos exemplos de figuras “penitentes” que, caindo em si mesmas depois de terem cometido o pecado, encontram a coragem de tirar a máscara e abrir-se à graça que renova o coração. Pensemos no rei David e nas palavras a ele atribuídas no Salmo: «Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade da vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade» (51 [50], 3). Pensemos no filho pródigo que regressa ao pai; ou na invocação do publicano: “Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!” (Lc 18, 13). Pensemos inclusive em São Pedro, em Zaqueu, na samaritana. Medir-se com a fragilidade do barro com que somos amassados é uma experiência que nos fortalece: enquanto nos leva a nos confrontarmos com a nossa debilidade, abre-nos o coração para invocar a misericórdia divina, que transforma e converte. E é isso que fazemos no ato penitencial, no início da Missa.

FONTE: PAPA FRANCISCO. Audiência Geral. 3 jan. 2019. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2018/ documents/papa-francesco_20180103_udienza-generale.html>. Acesso em: 17 abr. 2019. 08 - Revista Mercê


ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA

ORDENAÇÃO PRESBITERAL E PRIMEIRA MISSA PRESIDIDA POR FREI FÁBIO RIBEIRO SOARES, O. DE M. Revista Mercê - 09


Por Frei Rafael Gomes, O. de M.

A família mercedária no Brasil se alegra com a Ordenação Presbiteral de seu mais novo religioso de votos solenes: Frei Fábio Ribeiro Soares, O. de M. Natural de Redenção do Gurgueia, no estado do Piauí, o religioso recebeu o sacramento da Ordem, no grau do presbiterato, no dia 27 de abril de 2019, na paróquia Bom Jesus da Lapa, em sua cidade natal. Muitos familiares e amigos do religioso se fizeram presentes. A celebração litúrgica foi presidida pelo bispo diocesano de Bom Jesus do Gurguéia, Dom Marcos Antônio Tavoni. Estavam presentes ainda o Superior Provincial dos Mercedários no Brasil, Pe. Fr. John Londerry Batista, O. de M.,

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juntamente com os religiosos que compõem o Conselho Provincial. Outros religiosos mercedários, bem como sacerdotes do clero diocesano, também compareceram à celebração. PRIMEIRA MISSA No dia seguinte, o neopresbítero presidiu sua primeira missa, dentro do tempo pascal. Mais uma vez a celebração contou com a participação de muitos familiares, amigos e paroquianos. Os religiosos mercedários, presentes para a ordenação, também participaram da primeira Eucaristia presidida por Frei Fábio. A homilia dessa missa ficou por conta do Pe. Fr. Rafael Gomes.

Ele destacou, em sua fala, a alegria que um sacerdote experimenta quando consegue presidir a primeira Missa por ocasião da páscoa, mistério central da fé cristã. O sacerdote é testemunha de primeira hora do mistério da autodoação de Jesus Cristo, o Santíssimo Redentor, que, por sua paixão, morte de cruz e gloriosa ressurreição, nos resgata do mal para introduzir-nos na vida de Deus. O expediente da Revista Mercê agradece a Deus pelo dom da vida ministerial do religioso Frei Fábio, comprometendo-se em rogar a Deus pelo bom êxito de seu santo ministério.


ESPIRITUALIDADE MERCEDÁRIA

SÃO PEDRO NOLASCO Desde pequeno, um homem centrado no essencial, na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo; um homem devoto da Santíssima Virgem No período de São Pedro Nolasco, muitos cristãos eram presos, feitos escravos por povos não-cristãos. Eles não só viviam uma outra religião – ou religião nenhuma –, como atrapalhavam os cristãos. São Pedro Nolasco, tendo terminado os estudos humanísticos e ficando órfão, herdou uma grande herança. Ao ir para a Espanha, deparou-se com aquele sofrimento moral e também físico de muitos cristãos que foram presos e feitos escravos. Então, deu toda a sua herança para o resgate de 300 deles. Mais do que um ato de caridade, ali já estava nascendo uma nova ordem; um carisma estava surgindo para corresponder àquela necessidade da Igreja e dos cristãos. Mais tarde, fez o voto de castidade, de pobreza e obediência; foi quando nasceu a ordem dedicada à Santíssima Virgem das Mercês para resgatar os escravos, ir ao encontro daqueles filhos de Deus que estavam sofrendo incompreensões e perseguições. Em 1256, ele partiu para a glória sabendo que ele, seus filhos espirituais e sua ordem – que foi abençoada pela Igreja e reconhecida pelo rei – já tinham resgatado muitos cristãos da escravidão. Peçamos a intercessão deste santo para que estejamos atentos à vontade de Deus e ao que Ele quer fazer através de nós. São Pedro Nolasco, rogai por nós!


CAPA

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Por Jeovah Fialho

A FÉ CRISTÃ

"CREIO EM DEUS PAI, TODO-PODEROSO, CRIADOR DO CÉU E DA TERRA"

Aos domingos, durante a missa, costumamos “professar juntos a nossa fé”. Essa profissão fé é chamada de Credo. No Credo está resumido todo o conteúdo no qual acreditamos. Quando nos perguntamos em que verdades nós acreditamos por sermos católicos, podemos, de modo resumido, dizer: Cremos em um Deus uno e trino: Pai, Filho e Espírito. São três pessoas (três maneiras de Deus se comunicar) em uma só natureza. O Credo é também conhecido como “Símbolo de Fé” pois é um sinal que identifica nossa comunhão como cristãos. “Professar juntos a nossa fé” é a maneira que encontramos de entrar em união com Deus e com toda a Igreja. Quando dizemos, todos juntos, “Creio em Deus Pai Todo Poderoso...”, toda a Igreja se une numa mesma fé, numa mesma crença, e tem condições de caminhar professando unida nas mesmas verdades. O Credo, como nós conhecemos hoje, tem uma origem distante de nosso tempo. Já desde os primeiros séculos, após a morte e a ressurreição de Cristo, a Igreja já buscava uma forma de sintetizar a sua fé. Nos anos de 325 e 381, respectivamente nos Concílios de Nicéia e Constantinopla, formulou-se um Símbolo de Fé chamado de Credo Niceno-Constantinopolitano, pois foi elaborado por esses dois concílios. Para facilitar o estudo e a compreensão do Credo, tradicionalmente nós o dividimos em 12 partes. Segundo a tradição, no dia de Pentecostes, cada um dos 12 apóstolos ditou uma

parte do Credo, mas não temos evidências para poder afirmar isso. Mas, de qualquer forma, é também número significativo para nós católicos, pois remete à totalidade do povo de Deus. No primeiro artigo do Credo, professamos: “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra”. Lembremos que se trata de uma síntese, um resumo. É importante, portanto, meditarmos sobre essas palavras e compreendermos as verdades para as quais elas apontam. Este é objetivo desse nosso texto: entender a fundo o significado dessas palavras do Credo. A primeira coisa que precisamos destacar é que Deus é único e é amor. A nossa fé nos faz apontar para um só Deus, que está no início e no fim de nossas vidas. Como nos ensina Santo Inácio de Loyola, “somos criados para amar e servir a Deus”. Deus se revela aos homens e apresenta-se como misericórdia e fidelidade. É assim que Ele se apresenta a nós. A segunda coisa que destacamos é que Deus é pai. Vejamos que a paternidade divina é professada antes de sua onipotência. Antes de ser Todo-Poderoso, Deus se faz primeiro Pai de todos nós. Deus se apresenta ao homem como Pai, Filho e Espírito Santo. Essas palavras representam maneiras de se relacionar, pois não existe pai sem filho, e não existe filho sem pai. Por meio do batismo, somos chamados a participar da vida da Trindade. Somos convidados a ser filhos adotivos. A terceira coisa importante é que Deus é Todo-Poderoso. Para Ele nada é impossível. Se não acreditamos nessa verdade, como podemos compreender que Deus criou todas as coisas, que o Filho de Deus Revista Mercê - 13


CAPA nos salvou e que o Espírito Santo nos santifica? Deus manifesta seu poder, principalmente, quando perdoa os nossos pecados e nos chama à sua amizade. A quarta coisa importante é que Deus é Criador. Não foi somente Deus Pai quem criou todas as coisas. A criação é obra da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). O mundo foi criado para que Deus manifestasse a sua Glória, ou seja, para que, por meio dos seus atos, Deus pudesse, também amar tudo aquilo que Ele fez. Deus cria o mundo bom e ordenado para o bem. Com sua sabedoria, observamos que todas as coisas foram pensadas por Deus, nada foi ao acaso. Pela nossa contemplação da natureza e das realidades criadas, podemos ver a beleza de Deus. A quinta coisa importante é que Deus criou o céu e a terra. Compreendemos que o céu e a terra significam tudo aquilo que Deus criou. Todas as realidades materiais e imateriais (espíritos) foram pensadas e criadas por Deus. Tanto os homens quanto os anjos; tudo o que podemos ver e, também, o que não podemos ver. As realidades angelicais não são simplesmente imaginação. Apesar de não podermos ver os anjos e os demônios, sabemos que existem e agem em nossa vida conforme Deus permite. Por fim, o último aspecto que queremos destacar é que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Diferentemente de 14- Revista Mercê

todas as outras criaturas, Deus convida o homem para uma comunhão especial com Ele. O homem é capaz de conhecer e de livremente amar os outros e estar em comunhão. É nisso que consiste ser criado à imagem de Deus: ser criado livremente para estar em comunhão. Deus cria o homem como uma única realidade, que é ao mesmo tempo “corpo e alma”. Essa liberdade que Deus nos deu na criação, para podermos amar, foi usada pelo próprio homem para se afastar de Deus. Deus prova o amor do homem e da mulher no paraíso. Pede ao homem que faça uma escolha pelo bem (estar totalmente submisso a Ele) ou pelo mal (decidir por ele mesmo o que for melhor). Pela desobediência do homem, o mal entra no mundo e com ele todas as consequências que trazem o sofrimento e morte para a vida do homem. Cremos que Deus criou o homem bom, mas o deixou livre para escolher ou recusar a Deus.

O pecado original é uma realidade que afeta toda a Humanidade. Os homens que nascem e os que vão nascer carregam consigo esta culpa de Adão e, também, as consequências dessa falta. A nossa inteligência se torna obstruída e escura, e a nossa vontade se torna fraca e debilitada. Por isso, ao longo de nossa vida, iremos travar um constante combate entre o bem e o mal. Vivemos nesta vida uma dramática história em que buscamos fazer o bem, mas somos tentados pelo demônio (Satanás) a fazer o mal. Deus, porém, não nos abandona e convida-nos a estarmos novamente unidos a Ele por meio de Jesus Cristo e seus méritos. Quando dizemos: "Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu e da terra", queremos professar todas estas verdades em que acabamos de aprofundar. Lembremos que o objetivo do Credo é sintetizar tudo aquilo em que nós acreditamos. Então, é necessário meditar e buscar cada vez mais compreender a nossa fé.


Maria

MERCÊ NO FÉBRASIL CRISTÃ

As sete alegrias de

A tradição cristã forjou, no correr dos séculos, a imagem das “sete dores” e “sete alegrias” de Maria. O número 7 é inspirador. Evoca perfeição, completude. O sete evoca dois símbolos: 3 + 4. Para nós, o “três” sinaliza a unidade na diversidade (a Trindade), enquanto o “quatro” faz lembrar a abrangência do mundo e os quatro elementos básicos (água, terra, fogo e ar). Felizmente, não existe qualquer definição sobre o número e a denominação das dores e das alegrias de Maria. Portanto, a tradição viva da Igreja pode modificar, com liberdade, essa lista. Há uma conjugação bela entre “dores” (ou tristezas) e “alegrias”. Todo ser humano, na medida em que faz uma opção de vida e persevera nela, enfrenta oposição e passa por dificuldades. Assim aconteceu também com Maria. Por outro lado, quem escolhe o caminho do Bem, mesmo que siga um caminho pedregoso, experimenta belos momentos de consolo, prazer, contentamento e confirmação interior. A pessoa que se faz aprendiz da vida, aprende tanto com as alegrias quanto com as dores.

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Por Ir. Afonso Murad No entanto, a tradição católica deu muito mais ênfase às dores de Maria do que às suas alegrias. É momento de resgatar com intensidade as suas alegrias. A partir dos Evangelhos, lidos com o olhar de hoje, podemos identificar ao menos sete alegrias de Maria.

(1) O contentamento na anunciação (Lc 1,26): A primeira palavra dirigida a Maria é exatamente esta. O anjo de Deus a convida a alegrar-se em Deus. Aliás, todo o relato da infância em Lucas está encharcado por esse sentimento de alegria. Quando o messias vem, o povo se alegra. Maria prova uma imensa alegria ao receber o convite de Deus. Sente-se de fato agraciada e envolvida num convite encantador. (2) A alegria do encontro com Isabel: Maria se dirige às pressas para visitar sua parente. Quando se encontram, Isabel é tomada de euforia. Proclama que Maria é “bendita entre as mulheres”, título no qual ecoa a participação de Maria no projeto salvífico de Deus. Que cena linda a ser contemplada: o encontro das duas mulheres, o cuidado cotidiano de uma com a outra, os sonhos e as esperanças em torno ao filho que vai nascer. Maria experimenta a alegria de ser missionária, de partilhar seu tempo e suas energias com alguém que necessita de proteção e ajuda. De fato, há mais alegria em dar do que em receber! (3) O cântico alegre de Maria: Lucas coloca nos lábios do Maria um belo cântico, durante a visita a Isabel. Este canto de louvor de Maria foi chamado de “Magnificat”, primeira palavra da sua tradução latina, que significa “engrandecer”, ou “cantar as maravilhas”. Maria está cheia do Espírito Santo e proclama as grandezas de Deus na sua história pessoal e na história de seu povo. É um cântico de alegria e de consciência profética. Maria nos ensina a exercitar a ação de graças, a reconhecer e a proclamar com alegria os sinais de Deus na existência pessoal e nas práticas coletivas. (4) O nascimento de Jesus: Lucas nos diz que o nascimento de Jesus foi motivo de alegria para todo o povo, a começar dos mais pobres, representados pelos pastores. Há alegria no céu e na terra! Todas as pessoas do Bem sentem-se amadas por Deus no momento em que o Filho assume a natureza humana. Maria participa dessa alegria de maneira única, como protagonista. Ela é a mãe do filho de Deus encarnado. Gerou, gestou e deu à luz a Jesus. O Natal é festa de alegria! (5) Alegria na missão de Jesus: Pouca gente descobriu esse contentamento especial que Maria provou, ao ver seu filho anunciar o Reino de Deus, curar os doentes, acolher os pobres e marginalizados, formar os discípulos e discípulas. Essa alegria não está descrita nos evangelhos, a não ser na cena de Caná. Maria e os discípulos experimentam um imenso prazer quando percebem que Jesus é o vinho novo! Ele realiza as grandes esperanças de seu povo. Quanta alegria Maria viveu, ao acompanhar a missão de seu filho, como a perfeita discípula! (6) Euforia da ressurreição: Depois de viver a decepcionante e trágica experiência da morte de Cruz, Maria e os seguidores de Jesus provaram uma alegria sem par. Jesus está vivo! Ele nos dá a paz. Ele venceu a morte! A ressurreição fez a comunidade de Jesus compreender que este Homem de Nazaré é o Filho de Deus! Com esse novo olhar, compreenderam tantas coisas que Jesus fez e disse. Maria participa da ressurreição de Jesus de forma original: refaz lembranças, ilumina fatos, nutre sua fé, está presente como mãe da comunidade. (7) Alegria de Pentecostes: O mesmo Espírito de Deus, que fecundou Maria e acompanhou Jesus, agora fecunda a comunidade cristã. Cria a comunhão na diversidade, reúne o novo Povo de Deus para além das fronteiras do Judaísmo. Maria, que, junto com outras mulheres e os familiares de Jesus, esteve em oração com os onze discípulos, acompanha a comunidade de forma discreta. É o tempo da história! A alegria de 16- Revista Mercê Maria e dos outros seguidores de Jesus se transforma na nossa alegria.


FÉ CRISTÃ

FONTE: MURAD, Ir. Afonso. As Sete Alegrias de Maria. Disponibilidade: http://maenossa.blogspot.com/search/label/Alegrias%20de%20Maria Revista Mercê - 17


ESPIRITUALIDADE

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Os Vingadores Ultimato ´

~

e a fe crista

Um dos maiores fenômenos de bilheteria do cinema neste ano de 2019 e que reproduz todo o “Universo Marvel”, o filme Vingadores Ultimato, é uma superprodução que envolve aventura, romance, reflexão e uma boa dose de ação. Esse filme mexe com imaginário do público, trazendo em sua trama a possibilidade da inexistência de metade da vida do cosmos. Um grande vilão, denominado “Thanos”, reúne todas as formas de poder existentes no Universo (as joias do infinito) num único artefato, uma espécie de manopla, que lhe confere o poder absoluto sobre toda a realidade material e até mesmo espiritual. Todos os heróis e heroínas da Marvel são convocados para fazer frente e a essa terrível ameaça. O filme trabalha com a ideia do passado e suas consequência para o futuro a partir das decisões que hoje podem ser tomadas. É uma provocação bastante pertinente, pois acena o tempo todo para o desejo do homem de voltar atrás, isto é, de poder corrigir o passado para evitar um futuro impensado e cruel. Não obstante, a tônica central do filme perpassa a temática do poder, do domínio e suas ambiguidades. Mais uma vez, surge o tema da divindade, do desejo de absoluto, do eterno e da plenitude tão presentes no primeiro filme dos Vingadores. Dessa vez, os heróis e heroínas revelam suas fragilidades e evidenciam sua impotência diante do absoluto. Em outras palavras, eles se valem daquilo que possuem de mais humano para fazer frente ao terrível vilão, que evoca, por sua figura, uma potência destruidora e inumana. O importante, dessa vez, é ser humano mais do que herói ou heroína. Na verdade, o verdadeiro herói é o ser humano, com tudo aquilo que faz parte da sua vida: família, amigos, trabalho, relacionamentos, emo-

ções, sentimentos, angústias, alegrias e esperanças. Entrementes, é abordado o tema do mundo quântico, uma realidade paralela a toda a realidade circunstante, que tem o poder de incidir na nossa realidade de maneira decisiva, conectando passado, presente e futuro. Essa possibilidade acaba sendo a chave de acesso dos super-heróis para uma virada radical, na qual conseguem viajar no tempo e projetar-se no momento em que a ameaça se formou. O filme nos mostra que a solução para uma ameaça iminente de destruição da vida encontra-se no impensado mundo quântico. Sua estruturação é de outra ordem; tempo e espaço não são categorias estruturantes como em nossa realidade. As leis são outras, o tempo é outro, é uma nova realidade que emerge como possibilidade. Essa possibilidade gera muita angústia, se pudéssemos voltar ao passado poderíamos evitar muitas coisas; mas quem poderia garantir que o nosso futuro estaria assegurado? Ou que, intervindo no passado, não teríamos outros problemas no futuro? Ou problemas ainda maiores? Nossa radical finitude nos insere no tempo e no espaço, no horizonte do presente, onde temos como único arrimo o hoje. Nossas escolhas nos revelam o futuro, que muitas vezes escapa de nossas próprias mãos. Santo Agostinho deixa bem explícito que o outro lado do tempo para o homem é a eternidade divina, uma vez que o homem é criatura, do mesmo modo que o tempo também é criatura . Destarte, podemos Revista Mercê - 19


Por Frei Elionaldo Elcione, O. de M. pensar no outro lado da realidade criada como o Reino de Deus na sua plenitude. Esse ‘Reino’ pode ser acessado no horizonte da fé em contato com o mistério de Deus, assim como afirma o Apóstolo Paulo aos Colossenses: “Foi ele que nos livrou do poder das trevas, transferindo-nos para o reino de seu Filho amado, no qual temos redenção, o perdão dos pecados” (Cl 1,13-14). Na perspectiva do filme, podemos enxergar a ameaça do ‘Thanos’ como a morte, pois a palavra ‘Thanos’ é derivada de Thánatos, que em grego: Θάνατος, é morte. Essa morte se reveste da escuridão, onde a vida é constantemente ameaçada pelos poderes que subjugam o cosmos, tais como: poder, realidade, espaço, tempo e alma. Isto é, tudo o que envolve o ser humano. Outrossim, o ser humano e também os personagens no enredo do filme estavam condenados à morte e ao total esquecimento. Olhando para o horizonte da fé cristã, podemos alimentar a nossa esperança, pois ela se encerra na vida eterna! Essa vida é comunicada por Deus na revelação humano-divina do seu Filho, que, de fato, transportou a humanidade para outra realidade, que a morte e as trevas não podem alcançar. Nesse sentido, o Deus-homem é o único lugar para a humanização de Deus e para a divinização do homem, porque é no Verbo encarnado que se dá a plena comunhão do divino com o humano, sem confusão, nem mistura . Só nele podemos ter acesso à plenitude da vida que está escondida com Cristo em Deus (Cl 3,3). Nele nos movemos, existimos e somos (At 17,28). No Deus cristão não corremos o risco da extinção e do esquecimento, mas nos projetamos para a eternidade, para a plenitude

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divina. E isso ocorre em cada liturgia, na qual celebramos o mistério pascal de Cristo. Ao fazermos a memória da sua paixão, morte e ressurreição, nós proclamamos a força de sua vitória que também é a nossa vitória, e o destronamento das forças da morte e das trevas. “O povo que estava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu” (Mt 4,16). Cada eucaristia é a possibilidade de um encontro com toda a humanidade e de todos os tempos, que se dá na mediação do Filho de Deus, centro gravitacional de todo o cosmos, que reúne numa única liturgia todas as realidades terrestres e celestes, toda a criação e suas criaturas, todo o cosmos no seu alcance e universalidade. Pensar num universo paralelo a nossa realidade não é um absurdo! É viver a fé cristã no mistério do amor de Deus, que nos amou e se entregou por nós. Sua redenção nos transportou para uma nova realidade, onde a morte e a escuridão foram subjugadas e onde a vida é constantemente renovada: Portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criatura (2 Cor 5, 17).


CALENDÁRIO MERCEDÁRIO

2019

JUNHO

D STQ Q S S 01 - Sábado Mercedário 08 - Sábado Mercedário 08 - Fundação das Mercedárias Descalças 15 - Sábado Mercedário 22 - Sábado Mercedário 29 - Sábado Mercedário

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CALENDÁRIO MERCEDÁRIO

2019

JULHO

D STQ Q S S 06 - Sábado Mercedário 09 - Santíssimo Redentor 13 - Sábado Mercedário 20 - Sábado Mercedário 24 - Beata Margarita Mª Lopez 27 - Sábado Mercedário

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S S

CALENDÁRIO MERCEDÁRIO

2019

AGOSTO

D STQ Q S S 01 - Inspiração de Maria para fundar a Ordem 03 - Sábado Mercedário 10 - Fundação da Ordem 10 - Sábado Mercedário 17 - Sábado Mercedário 23 - Mártires Provincial de Castilla 31 - Sábado Mercedário

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