Outdoor Regional - 125

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Cinema

Rafael Barbosa Jornalista r-barbosa@outdoorregional.com.br

O Diabo de Cada Dia Longa aborda nossa busca por Deus, sexo e poder de forma trágica, mas cativante

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Diabo de Cada Dia chega à Netflix com um elenco de peso e uma série de reflexões incômodas sobre nossa sociedade. O longa é baseado num livro de mesmo nome escrito por Donald Ray Pollock (que atua como o narrador) e retrata a história de um grupo de pessoas que vivem numa pequena comunidade de Ohio, nos Estados Unidos entre as décadas de 1940 e 50.

Somos o espelho de nossos pais? A obra do diretor americano não tem pressa em contar sua história, estabelecendo cuidadosamente as bases de seus personagens em meio aquele ambiente hostil, muitas vezes voltando às gerações passadas dos seus protagonistas. Mas este é um cuidado necessário para que não só entendamos de forma mais profunda quem são aquelas pessoas, mas também para propor uma reflexão muito importante: somos os erros e acertos dos nossos pais? Uma abordagem que o longa traz de forma literal ao mostrar como Arvin (Tom Holland) e Lenore (Eliza Scanlen) seguem trajetórias muito parecidas com a de seus pais, muitas vezes repetindo ações e decisões de forma idêntica. O problema é que muitas vezes alguns erros estão além da redenção e talvez este seja um dos pontos mais trágicos do filme, que ao lidar com núcleos muito bem estabelecidos de personagens, insere seus vilões em cada um deles unicamente para testá-los e estabelecer o seu argumento mais contundente: de como a busca por satisfazer nossas necessidades pode nos destruir. No topo destes desejos está a fé, que é discutida de forma mais abrangente por ser a base de formação e conflito de muitas pessoas presentes no longa. Ao estabelecer nossa busca por Deus, pelo sexo e por status, nos mostra como estes objetivos podem 12

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nos destruir, entre outras formas, por nos colocar na mira daqueles que vão usar nossos desejos contra nós. Figuras tratadas no longa como predadores, não só pelo modo como escolhem suas vítimas e se impõem sobre elas, mas também como as espreitam, muitas vezes longe dos olhos do próprio espectador.

Atuações de peso O Reverendo Preston de Robert Pattinson, o assassino Karl de Jason Clarke e o Sheriff Lee de Sebatian Stan são personagens que, apesar de trazerem modos de operação diferentes, têm entre si semelhanças perturbadoras, como o fato de não esconderem seus desvios de caráter, pois sabem o que oferecer para atrair suas vítimas. Três antagonistas que se juntam a um elenco de excelentes interpretações, desempenhadas por atores que embora tenham ótimos textos com os quais trabalhar conseguem se entregar totalmente a papéis complexos e que exigem atuações muitas vezes impactantes. Um ótimo exemplo é o trabalho de Bill Skarsgård, que consegue retratar com maestria os dilemas religiosos e

morais enfrentados pelo atormentado Willard Russel e que tecem a base de formação de um dos protagonistas do longa, vivido por Tom Holland. E se alguém tinha dúvidas do talento do jovem ator após encarnar o Homem Aranha no cinema, o jovem novamente acerta em cheio com um personagem totalmente diferente do introspectivo, porém animado, Peter Parker, compondo um Arvin atormentado e que luta para encontrar sua própria fé ao tentar perdoar e se desvencilhar dos erros cometidos por aqueles que vieram antes dele. Um trabalho de atuação excelente e que, ao se juntar tantos outros talentos, culmina num dos melhores filmes da Netflix.

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Direção: Antonio Campos Roteiro: Antonio Campos, Paulo Campos Elenco: : Tom Holland, Bill Skarsgård, Riley Keough, Jason Clarke, Sebastian Stan, Haley Bennett, Eliza Scanlen, Mia Wasikowska, Robert Pattinson Lançamento: Setembro de 2020

Nota: 9


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