Questões críticas da arte contemporânea angolana, em 2016
O ritmo lento da banda desenhada em Angola
A geração do cinema ou o cinema da Geração 80
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Sumario 03|Editorial: A arte subsiste à crise 04|Frases 05|Cronicando: E agora “cultura”? 06|Posfácio: O Regresso Do Soldado Excluído de Depacaça Barriga 10|Proposta Literária: Sugestões de livros dos leitores da revista Palavra&Arte 12|Perfil Artistico: Adriano Emanuel Cangombe 13| Atelier: A arte é cor de fénix 14|Na palavra com: Kussu Kappu, poeta emergente na lusofonia DOSSIER 20|Em Cena: Entrevista a Carla Rodrigues, directora artística do CIT 24| Em análise: 2016 – O ano da cultura em Angola? 28|Atelier: Resenha: O espaço da arte contemporânea angolana em 2016. 29 |Atelier: Questões críticas da arte contemporânea angolana em 2016 30 | Fora da caixa: Entrevista com à Deban Fusion, publicadora de fanzines 34| O QUE MOVE O ARTISTA 36 | Entrevista com Geração 80, a geração do cinema 44| Entidades: UNAC – União Nacional dos Artistas e
F i c h a Té c n i c a COORDENAÇÃO GERAL: Oliveira Prazeres COORDENAÇÃO EDITORIAL Luefe Khayari DIAGRAMAÇÃO: Luamba Muinga REDAÇÃO: Aneth Silva Cláudia Cassoma Cláudio Kimahenda Hélder Simbad Isis Hembe Leopoldina Fekayamãle Luamba Muinga Mário Henriques CARICATURA: Elias Jamba Sanjelembi REVISÃO: Mário Henriques COLABORAÇÃO: Dilma Costa E. Silva Edig Leonardo Edina Junior Emanuel Lima José Domingos Guemil Lucas Vicente O conteúdo aqui publicado pertence aos seus respectivos autores e não pode ser reproduzido sem prévia autorização
Compositores 46|Portfólio: Olhar a guerra, conhecer a historia de Sandro Jorge Dias 2 | Palavra&Arte
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E D I T O R I A L
A arte subsiste à crise
A
palavra “Crise”, com 31% dos votos, foi eleita como sendo a palavra do ano em 2016, ou seja, aquela que teve maior representatividade nas diversas esferas que representam o modo de vida angolano. Como se sabe, a escolha da palavra “crise” por parte dos angolanos (neste concurso online da iniciativa da Plural Editores Angola, do grupo Porto Editora) não constitui uma surpresa face à crise económica e financeira que o país atravessa, devido a baixa do preço do petróleo e a outros factores que não importam aqui citar. Os efeitos colaterais da crise são visíveis, atingindo vários sectores da nossa sociedade e o modo de vida da população. Com a crise, houve um défice nas arrecadações de receitas financeiras do estado, do sector público-privado, desvalorização do Kwanza face ao dólar, aumento do desemprego... Não obstante, quando olhamos para a cenário artístico-cultural angolano do ano transacto, vemos muitos feitos que são dignos de realce, e que demonstram que os artistas e promotores culturais são elementos que rapidamente se adaptam à realidade a fim de contornar os efeitos da crise. Assim, nesta edição, trazemos matérias cujas abordagens são reflexo da produção artístico-cultural em tempo de crise e apesar da crise. Isis Hembe, no seu artigo “A arte é da cor de Fenix”, sustenta que “a crise é um elemento preponderante na hora da renovação ou edificação de valores para uma sociedade”. Luamba Muinga e Cláudio Kimahenda fazem uma análise profunda de como foi o ano cultural angolano em 2016. Mário Henriques, na crónica “E agora, Cultura?”, questiona os futuros caminhos e políticas que devem ser adaptadas pelo ministério de tutela em prol da nossa cultura ante à crise. Trazemos ainda uma entrevista com a Carla Rodrigues, a diretora do CIT (Circuito Internacional de Teatro), um dos eventos artísticos mais expressivos da arena teatral e ainda o dossiê “O QUE MOVE O ARTISTA”, albergando o depoimento de vários artistas de como foi trabalhar diante dos desafios impostos pela crise. É preciso realçar que, no mundo das artes, a “crise” não é de todo uma palavra nova ou emergente, ela sempre esteve presente, ademais, é e sempre foi uma palavra desafiadora para os artistas que não limitam a produção artística à falta de apoios, incentivos, meios e formas para fazer acontecer a sua arte.
Por Oliveira Prazeres
oliveirap2001@gmail.com
Fevereiro | 3
“
Se disséssemos, antes da Trienal ter começado, que iríamos fazer, em 365 dias, mais de 2400 artistas e 1600 eventos, claro que iriam considerar utópico.
Fe r n a n d o A l v i m , s o b r e a efectivação do lema “Da u t o p i a à r e a l i d a d e ”, d a Tr i e n a l d e L u a n d a , e m entrevista ao Jornal Cult u r a ( n ° 1 2 4 - 1 9 /d e z / 1 6 )
Às vezes, fico sem saber que exercício crítico se faz no nosso país. Noto que textos elaborados por renomados autores passam com elogios. E obras artisticamente bem elaboradas passam à deriva, sem o aplauso dos críticos. Fico receoso em dar alguma valorização à crítica literária. Carmo Neto, actualmente secretário-geral da União dos Escritores Angolanos, no livro de entrevistas a escritores Pessoas com quem falar (UEA – 2011)
As regras têm de ser definidas e assumidas pelas instituições. As regras, as políticas e os apoios. É muito difícil que as pessoas assumam este género de iniciativa de forma individual. […] Sentimos que há uma grande frustração, justamente por falta de respaldo, das tais dinâmicas fundamentais para podermos trabalhar e para podermos existir. Maria João Ganga, realizadora, sobre a dinamização d a s i n i c i a t i v a s c u l t u r a i s , e m R e d e A n g o l a ( 0 7/ 1 1 / 1 6 )
Há muita gente que vendia cogumelos lá fora, mas quando chegou a Africa, só porque aprendeu a pintar alguma coisa um dia antes, declarou-se artista de primeira categoria, porque tem o primo que compra as obras. Tudo isto acaba por dilacerar o incentivo que temos recebido ao mais alto nível da nação.” A n t ó n i o To m á s A n a ( E t o n a ) , S e c re t á r i o - g e r a l d a 4 | Palavra&Arte
U n i ã o N a c i o n a l d o s A r t i s t a s P l á s t i c o s , e m e n t re v i s t a a o E c o n o m i a & M e rc a d o ( n º 1 4 9 – O u t / 2 0 1 6 )
CRONICANDO
E AGORA “CULTURA”? Por Mário Henriques
J
á estamos em 2017, mas fica difícil esquecer o ano de 2016. Pois dizem que o passado é para ser esquecido, mas diríamos que é para ser usado como meio de aprendizagem no presente e perspectivar o futuro. E é com este propósito que devemos voltar para o passado ano da famosa crise e aprendermos com os erros e principalmente com as superações que foram necessárias para que não caíssemos numa depressão de valores, que até já é nossa parente há anos. Por incrível que pareça, as maiores superações resultadas da necessidade de adaptação à crise vieram de um dos sectores que menos atenção recebe do executivo e da sociedade em geral. Enquanto o sector do comércio lutava com o Banco para encontrar divisas para importar os produtos necessários para alimentar o país, e, por conta disso, empresas se fechavam, empregos se perdiam, a cultura, sem precisar de importar mentes, corpos, imaginação, produziu mais do que se podia esperar. Pois, se este sector, mesmo no tempo de algumas vacas gordas, era visto por binóculo pelos olhos institucionais, era previsto que tivéssemos um dos piores anos em termos culturais. Porém, mesmo sem dinheiro, os artistas, os promotores culturais e artísticos e todos aqueles que se sentiam responsáveis por esse sector, revelaram-se capazes de não se deixarem mover apenas pela fama fácil proporcionada por uma elite que se recorda que existe arte e cultura nacional para
benefício próprio. Ou seja, o ano da escassez de quase tudo foi para a arte e cultura o ano em que estas foram movidas por elas mesmas, isto é, a arte moveu a arte e a cultura moveu a cultura, e da escassez veio a bonança criadora. Isto responde, na nossa visão, à pergunta “o que move o artista” ou, neste caso, “o que moveu o artista”. O supracitado mostrou também que os fazedores da cultura acabaram por mostrar que não precisam dos milhões aplicados nas estradas, no geral, nas obras públicas, para produzirem e contribuírem para a economia que até agora continua a ser-lhe madrasta. Não podemos tapar o sol com paneira, nem seria possível, porque foi estrondosa a quantidade de actividades, eventos culturais e artísticos tendo em conta a falta de dinheiro. Mas produzimos. De uma forma paradoxal, a arte e a cultura deram à economia o que há anos mendigaram à mesma. Depois de tantas evidências do que a cultura é capaz, provando que pode contribuir para o crescimento económico – sendo a maior preocupação no momento – e para o caduco problema de resgate dos valores culturais, perguntamos: e agora? Continuarão a olhar para os artistas como se não fossem capazes de contribuir, como se fossem meros pedintes? Seja como venha a ser o novo ano de 2017, se seremos olhados ou não, a verdade é que, evidentemente, continuaremos a produzir e, com isso, bofetadas sem mão levarão as instituições a fins.
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P O S FÁC I O
oscilações na poesia de Depacaça Barriga em O REGRESSO DO SOLDADO EXCLUÍDO
Texto: Hélder Simbad | hssandre32@gmail.com
Q
ualquer abordagem que se fizer em torno duma obra poética será sempre exógena, na medida em que ela emana múltiplas informações. «As obras de arte encerram uma mensagem fundamentalmente ambígua, uma pluralidade de significados e que, ainda que apresente uma forma acabada e “fechada” no seu organismo equilibradamente estruturado, se manifesta “aberta”, se se considera que pode ser interpretada de diferentes maneiras». (ECO,1962). A obra depois de publicada deixa de ser exclusivamente do seu autor, passando a ser, efectivamente, de toda uma comunidade literária, e o leitor é obrigado ou desafiado de forma implícita a descodificá-la e, raramente, consegue chegar à ideia original do autor. Por isso, a afirmação de que qualquer perscrutação em torno duma obra será sempre superficial. Por imperativo dessa afirmação, algo doutrinal, e reconhecendo, efectivamente, os limites das nossas capacidades cognitivas, fica patente que se torna impossível apresentar a obra de um ponto de vista global. Contudo, não nos vamos apegar a esta teoria para escondermos as nossas insuficiências epistemológicas. A obra que vos vamos apresentar é da autoria do poeta Depacaça Barriga, pseudónimo literário de Horácio Arnaldo Gomes Adolfo, reúne 47 poemas com multiplicidade de temas e intitula-se “O Regresso do Soldado Excluído”. Parece-nos que, possivelmente, a escolha desse título se deveu, também, em grande medida, a razões extra-literária, especificamente ao facto de ele exercer com solicitude e amor a sua profissão (quadro do ministério da defesa como
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consta da sua biografia). Porém, fazendo uma análise de um ponto de vista léxico-semântico, podemos concluir que, embora ínfima, há implicitamente uma relação inter-semiótica entre o título e o resto da obra condensada em muitos poemas. Se nos ativermos à palavra Soldado, o signo mais importante no que se refere ao título, apresentando-se como o elo entre o signo regresso, que encerra na sua matriz semântica termos como «retorno, volta, retrocesso» e o signo excluído cuja matriz semântica nos remete a termos como «rejeitado, afastado, banido», ademais Soldado apresenta-se como o único referente possível desses termos, pois que regresso e excluído se constituem como signos incompletos quando desassociados de qualquer contexto. O termo Soldado segundo Lopes (2013, p. 39) tem «origem em soldo [Do latim solidus, sólido], uma antiga moeda romana de ouro criada por Constantino em 309 d.C. Como os militares romanos eram pagos com essa moeda, receberam o nome de “soldados”». Dizia, aquele que é tido pela maioria como o pai da Linguística Moderna, Ferdinand de Seussaure, «os signos são arbitrários» e portanto, o termo soldado, alargando o seu campo semântico, fora das convenções linguísticas, pode ser entendido como aquele que se sacrifica por um determinado objecto material ou imaterial. A busca tenaz pelo amor, ao remar contra as ondas nascidas do conflito da alma contra as injustiças, a sua crença em Deus em tempos difíceis, não faz dele soldado? Ao evocarmos Depacaça Barriga com a alma, brotam-se-me vocábulos como “desconfiança”, “abandono”, “dor”, “desamor”, “angústia”, “deslealdade”, “injustiça” vivenciados pelos diversos sujeitos
poéticos por si criados. Todavia, se tivéssemos de escolher um tema para esta obra, tê-lo-íamos designado “Oscilação”. Oscilação em termos de poética, em termos de conteúdo e em termos gramaticais. OSCILAÇÃO POÉTICA Fazendo um enquadramento, embora subjectivo, traçando uma escala de valores estético, lembrando o mestre Macedo na sua obra Poéticas na Literatura angolana, a propósito do mais e do menos poético, encontrar-se-iam, em “O Regresso do Soldado Excluído”, poemas que oscilam entre o menos poético (a maioria) ao mais poético. O poeta oscila na sua criação, apresentando-nos, por um lado, textos de caris naturalista, como podemos observar nos poemas “Amor de mãe” (pág.17), “Sobrevivente” (pág. 21), caracterizados por uma linguagem directa, próxima da do sistema linguístico natural, com um conteúdo algo prosaico, mas insuficiente para anular o lirismo presente. Por outro lado, textos caracterizados por uma linguagem reticente, construída com imagens, metáforas, metonímias e etc., num simbolismo moderado, em que o conteúdo prosaico se diminui significativamente a favor do culto da linguagem, como podemos observar nos poemas “Um whisky por favor” (pág. 15), “Lágrimas” (pág.16) e ainda nos poemas (ecos do sentir 35, não direi 46, negro 31).
Por vezes, Depacaça, num atrevimento tremendo, derruba os muros da cobardia e encara a arte como um instrumento de denúncia abordando questões polémicas. Uma única frase: nas fratricidas batalhas todos saem a perder.
OSCILAÇÃO CONTEUDÍSTICA A oscilação, aqui, consubstancia-se na multiplicidade de temas, o que é normal e evidente, mas gostávamos de descrever as incertezas presentes em poemas como: Fevereiro | 7
“Quando a saudade morrer” (pág. 8), no qual o sujeito poético dirige-se a diferentes pessoas gramaticais do mesmo plano, num piscar de olhos. Ora num tu, ora numa terceira pessoa.
O tema mulher, fortemente predomina, a mulher que amamenta, ama com sofrimento, mas ampara, a mulher que machuca, com um gesto punhal ou palavras flechas e outras mulheres que se entrelaçam, formando uma circunferência de sentimentos distintos.
OSCILAÇÃO GRAMATICAL Em “Introdução aos Estudos Linguísticos”, aprendemos que não existem erros, e, sim, fenómenos linguísticos definidos como desvios à norma vigente, resultante das convenções político-linguísticas. Apesar dessas tentativas de se normalizar a língua, ela não se realiza do mesmo modo. Alguns poemas de Barriga revestem-se de traços da oralidade angolana, nomeadamente a próclise pronominal (me apaixonei, 28), oscilando com a ênclise tida como a certa pela norma Lisboa-Coimbra em casos de frases declarativas desde que não haja uma partícula que atraia o pronome para a próclise, e a ênclise arbitrária do linguajar popular angolano, presente em muitos poemas. Realçar a valorização do extracto fónico através da interposição à rima e à repetição intencional de certos fonemas, numa altura em que Angola, pelas obras poéticas publicadas, predomina o verssilibrismo (pág. 11, 26). Doutro modo, podemos também questionar, aqui, se tal oscilação não revela algum desconhecimento gramatical do poeta. OUTROS FOCOS Em “O Regresso Do Soldado Excluído”, encontrámos poemas de conteúdos vários. O tema mulher, fortemente predomina, a mulher que amamenta, ama com sofrimento, mas ampara (Amor de mãe, pág. 17), a mulher que machuca, capaz de ferir o coração com um gesto punhal ou palavras flechas (O desejo surreal, pág. 23) e outras mulheres que se entrelaçam, formando uma circunferência de sentimentos distintos, como angústia, amor, desamor, 8 | Palavra&Arte
desesperança, e, entre estas, surge aquela que marca como que se de cicatriz indelével se tratasse e merece culto, fê-lo o nosso poeta, estabelecendo simetrias entre a sua paisagem de músculos, mulher musa, e as paisagens naturais de Angola (Era ela, pág. 12). Por vezes, Depacaça, num atrevimento tremendo, derruba os muros da cobardia e encara a arte como um instrumento de denúncia abordando questões polémicas (Uma guerra de sangue sem propósito, pág. 19). Uma única frase: nas fratricidas batalhas todos saem a perder. A sua paixão por Cristo é evidenciada em poemas como “Vem comigo irmão” (pág. 39), uma clara assumpção da sua religião e exortação aos irmãos perdidos como nós, “Vida feliz no reino” (pág. 40) em que está implícita a crença numa vida após morte. Temos comentários infinitos relativamente a muitos trechos desse livro, todavia preferimos que os leitores descubram os diferentes enigmas pintados pelo poeta. E finalizamos deixando, eventualmente, algumas recomendações ao autor que ainda tem muito por evoluir: muita leitura. ECO, Humberto. (1968). Obra Aberta. São Paulo. Editora Perspectiva. LOPES, Reinaldo José. (abril 2013). Roma – A saga do império que nunca acabou. Wikipédia, a enciclopédia livre. http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/14591116022012Estilistica_aula_6.pdf
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P R O P O S TA L I T E R Á R I A
sugestões de livros dos leitores da revista PALAVRA&ARTE FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS DE GOCIANTE PATISSA Por Dilma Costa E. Silva É uma colectânea de pequenos contos, que nos mostra personagens singulares da cidade de Benguela e, ao mesmo tempo, nos ensina algumas palavras do vocabulário Umbundu. Creio que Gociante Patissa, ao escrever essa obra, quis mostrar o quanto algumas pessoas gozam ou fazem piadas de outras pessoas que se mostram diferentes das demais, e, ao mesmo tempo, mostra que sempre podemos aprender alguma coisa – muita ou pouca – com a diferença dos outros.
O OBSERVATÓRIO DO BALÃO DE ARNALDO SANTOS Por: Lucas Vicente Repleta de pertinências, esta obra enleva-nos pela frontalidade, às vezes, nas abordagens sempre recaídas à realidade angolana. Arnaldo Santo, neste Observatório, pela sua finíssima arte literária, convida-nos a olhar adentro da vida angolense e dos artefactos que nos fazem povo dia após dia. Intemporal e, às vezes, profético, o “Observatório do Balão”, reúne crónicas que nos embalam através da simbiose de vocábulos quer em Kimbundo quer em Português e misturados com o nosso calão. Desde as suas visões sociais às nossas visões comuns, Arnaldo Santos, com a mestria que lhe é característica, desvenda até os misteriosos fenómenos das nossas sociedades e nos ajuda, como bom cidadão e com vasta experiência, a construir um quadro superior a este que nos abraçou desde há muito tempo. Recomenda-se.
A CABEÇA DE SALOMÉ DE ANA PAULA TAVARES Por José Domingos Guemil Neste belíssimo livro, cruzamo-nos com vozes femininas que choram, gritam e reclamam pela dor e mudez que herdaram, e cujos corpos absorvem os perfumes, paladares e tradições do mundo tradicional e moderno angolano. Subvertendo o mundo bíblico, em vez da cabeça de João Baptista, é cortada a cabeça da dançarina Salomé e apresentada num cesto Cokwe. E numa oralidade poética, cheia de místicas, sensações e cantares, descobrimos que, afinal, esta cabeça de Salomé é a de todas as mulheres humilhadas, sem vozes e direitos, tristes como tecidos deitados sobre as dunas. Ou, talvez, seja também a da sociedade que, por impor estas injustiças, vai deixando ruída sua própria “costela” e caminhando para a auto-destruição. Depois de ler este livro, o leitor descobre que a sua cabeça já não está no seu corpo, mas está a ser exibida num cesto colorido feito pelas mãos doloridas e calejadas de mulheres algures neste mundo 10 | Palavra&Arte
REGINA DE FÁTIMA FERNANDES E ALTINO CHINDELE Por Emanuel Lima REGINA é um álbum de banda desenhada que, inicialmente, traz a imagem que parece ser apenas para os pequeninos. Entretanto, essa é mais uma daquelas vezes em que aprendemos que não se julga livros pela capa. As relações FILHO-PAI são abordadas de forma tão profunda, revelando aspectos como o amor incondicional dos pais pelos filhos e a forma como eles – filhos – são fortemente modelados pelas acções dos pais, contudo fazendo recurso de um linguajar do quotidiano angolano. Aqui, de uma forma alegre e bem-humorada, as crianças são educadas pelos adultos, e os adultos aprendem com as crianças. A forma como a Dra. Fátima Fernandes narra a relação Mãe-filha, torna a leitura agradável e simpatizante aos ouvidos e olhos dos filhos e dos pais. Talvez por ter atingido o nível de doutoramento em Letras, todavia, parece-me o coração de uma mãe dedicada e apaixonada traduzindo em letras os mistérios mais profundos dos que existentes no coopto de todos os mares.
CINCO DEDOS DE VIDA DE ISMAEL MATEUS Por Edig Leonardo Numa visão clara e, até, um pouco moralista, o autor descreve-nos Angola a partir de cinco contos. Dos contos, surgem, no primeiro, os personagens que se vão debatendo com a arte de não pensar para reconquistar o direito à privacidade. Haverá alguém capaz de mentir a profetisa da verdade? Aparece-nos ainda, num outro, Man João Trinta que nos vai guiando pelo seu diário antes da sua morte, dá-nos dicas de inglês, conselhos sobre como progredir na vida, traições, relacionamentos amorosos, e, ainda, como se não bastasse, é o maior organizador de óbitos que já vi entre personagens ficcionadas na literatura. Esse conto é um tutorial aldrabado de como dar o fim a sua vida. Tão crítico que chega a ser cómico. Mas vou deixar as interpretações para os leitores. O terceiro conto é aquele a que peço aos leitores uma atenção maior, pois, para mim, trata de um assunto em ascensão em Angola: Os Direitos da Mulher. No quarto, temos a história de um Doutor casado que é seduzido pelo perfume, charme e uendelu de uma Dama de vestido vermelho. O último conto é uma crítica engraçada sobre mediatização e fanatismo futebolístico praticado, constantemente, pelos treinadores de bancada.
UM ANEL NA AREIA DE MANUEL RUI MONTEIRO Por Edna Júnior Nas suas 104 páginas, o autor nos brinda com esta inebriante história de amor que acontece de um modo inusitado e incomum entre Lau e Marina. Uma trama interessante que, em seus diversos pontos, nos dá uma variedade de controversas suaves que são preponderantes em nossa sociedade, bem como uma luta de geração no que toca aos relacionamentos afectivos e amorosos dos nossos tempos em comparação com os do tempo dos nossos avós. É um livro, de facto, interessante que nos leva para análise cultural e social em relação às crenças místicas-religiosas, bem como os aspectos culturais que nos circundam.
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A R T E S P L Á S T I C A S | AT E L I E R
A ARTE É COR DE FÉNIX Por: Isis Hembe de Oliveira | quebra.tendencia@gmail.com
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o longo da história da humanidade, é recorrente a postura revolucionária que a arte e a cultura, em geral, emplacaram. Muitas vezes, como alicerces dos valores que, como faróis, nortearam os caminhos dos homens; outras vezes, como autênticos furacões que demoliram valores inertes cristalizados por civilizações apaixonadas pelo seu próprio reflexo nas águas. Aparentemente, não há um denominador comum entre essa polaridade: construção e demolição. Mas, limpando a lupa, e olhando com maior objectividade, nota-se que, quase sempre, há um elemento que faz o papel de terra arável para que o progresso, a nível de valores, possa se efetivar: a crise. Seja na construção ou na demolição, a crise sempre é um elemento preponderante na hora da renovação ou edificação de valores para uma sociedade. Manifestando-se das mais variadas formas, ora pela natureza política ora por natureza sociais ou económica, a crise nos oferece a dádiva da saturação. Quando não se tem caminhos para onde seguir, é a altura ideal para se inventar caminhos. É nesse contexto, que as artes, no geral, e, particularmente, as artes plásticas, contra todas as previsões, apresentaram caminhos para um novo “pensar Angola”. No decorrer do ano passado, houve exposições como não se via há algum tempo. Porém, além do factor quantidade, é de salientar o factor qualidade. Exposições como a de Grácia Ferreira que teve como título “Nguimbi” e de Guizef que teve como título “Minha Gente” parecem ser ponteiros que direcionam para uma preocupação por parte dos artistas de vasculhar a alma da nossa gente e, a 12 | Palavra&Arte
partir dela, extrair valores genuínos que possam iluminar a sociedade. Sob ponto vista material, não é extraordinária a preocupação e o retrato da nossa gente na arte plástica angolana. Sempre houve e haverá artistas com essa direcção. Mas, se analisarmos sob ponto de vista psicológico e, dado o contexto económico que o país atravessa, essa preocupação beira à poesia. Afinal, é na alma dos que têm as esperanças desmaiadas, nas almas
A crise nos oferece a dádiva da saturação. Quando não se tem caminhos para onde seguir, é a altura ideal para se inventar caminhos. das expectativas dilaceradas, dos sonhos comprometidos que os artistas misturam as cores e tentam extrair o belo, coisa que lembra muito a fénix que renasce das cinzas. E como resultado da dinâmica cultural empreendida pela paixão dos artistas, todo um mercado acabou por emergir. Galerias abriram, outras ressuscitaram e, a este nível, deve-se destacar o trabalho como o do Espaço Luanda Arte, onde a Palavra e a Arte tiveram a explorar com exclusividade. O espaço oferece residência aos seus artistas, na finalidade de proporcionar um clima propício para as criações. Prova inequívoca de que há quem olhe para as artes como ferramenta importante para a travessia deste período. E uma travessia que, ao olharmos para trás, nos leve a ver que nos tornamos mais fortes a todos os níveis: culturais, sociais, económicos e, até, políticos.
P E R F I L AP RE T ÍRSFTII L C OA R T Í S T I C O
ADRIANO EMANUEL CANGOMBE Nome artístico: Cangombe Data de nascimento: 25 de Março de 1993 Área de formação académica: 2º Ano no Curso de Artes Visuais e Plástica pelo Instituto Superior de Artes (ISART) O que te motiva nas artes plásticas? A arte é uma forma de se fazer presente na vida e no mundo, ela vem da alma e é trabalhada pelo corpo, que sente, que experimenta, que racionaliza, que relaciona e que, muitas vezes, não segue fiel às exigências do espírito. Quais são as suas aspirações artísticas? São muitas enquanto pessoa e artista ao mesmo tempo. Ser um artista consagrado ou, simplesmente, ter o reconhecimento nacional será, sem dúvida, uma das maiores conquistas. A pesquisa e a docência no campo artístico são também lugares onde eu desejo um dia estar e praticar. Como desenvolveu a técnica da pintura? Comecei como autodidacta experimentando com acrílico (com qual estou mais familiarizado) em pinturas pouco precisas, do ponto de vista técnico e formal. Misturei técnicas usando areia, spray, acrílico, cola branca, plástico e verniz sintético numa tela, resultando numa textura áspera e bastante interessante. Quais são os movimentos artísticos nos quais tens inspirações? Falar das inspirações é um tanto quanto delicado para mim, pois não me inspiro em movimentos artístico, necessariamente, isto porque continuo a pesquisar e a experimentar coisas dentro do universo artístico. Quantas e onde foram as exposições individuais e colectivas em que participou: Quanto às exposições, não tenho nenhuma participação catalogada. Minha carreira está apenas a registar seus primeiros momentos significativos como estudante de arte e como artista fora do circuito académico. Vale dizer que tenho participado em projectos, como as jornadas científicas onde pude, mais uma vez, trazer dados sobre os campos de pesquisa dentro do panorama artístico angolano. Contactos: • Telemóvel: 927 060 334 • Email: cangombeac25@gmail.com
N A PA L AV R A COM . . .
Kussu Kappu
poeta emergente na lusofonia Entrevista por: Cláudia Cassoma | claudiacassoma@hotmail.com
Aproveitando-se da publicação da segunda edição da Antologia “Emergente - Novos Poetas Lusófonos”, a Palavra & Arte senta-se “na palavra” com Kussu Kappu. Entre portugueses, espanhóis e brasileiros, Kussu Kappu marca presença como o único angolano na primeira edição da antologia poética que dá voz e oportunidade de publicação a 12 novos poetas lusófonos. Com nove textos divulgados, esse poeta, causador de orgulho nacional, obtém proeminência nesta edição.
14 | Palavra&Arte
Como um dos vencedores do concurso literário lusófono organizado pela editora portuguesa “Livros de Ontem”, fala-nos de como foi ser um dos selecionados para publicação na Antologia Emergente? Fomos mais de cem participantes oriundos dos diversos países da Lusofonia. Número correspondente ao de autores da primeira antologia “Emergentes”. O júri deve ter tido um trabalhão daqueles, tanto que o processo de recolha, análise e selecção dos textos levou, mais ou menos, 12 meses. Confesso ter ficado surpreso quando a Editora me notificou, pois tinha passado um ano após o envio dos textos. Antes pensei que o projecto teria feito voo baixo e descartaram dele, mas não, finalmente estava a ser trabalhado com os cuidados que desconheço. Embora tenha antes participado noutros projectos paralelos, revitalizou-me em continuar a escrever, o regozijo e orgulho de fazer parte deste projecto e sendo a primeira publicação, foram dois factos. Sei que está em curso o segundo projecto e sabendo que já passo da faixa etária e não poder voltar a participar aleija um pouquinho, mas, claro, reconforto-me tão rápido lembrando que já lá consto. É gratificante! Pois é! Não só fazes parte deste projecto promissor como fazes parte da sua primeira edição. Acrescento ainda que fazes parte dele como o único angolano selecionado. Será que isso tem algum significado especial para ti? Eu acho que tem uma responsabilidade mutável, ou seja, eu e como os outros novos autores angolanos devem sentir e saber que cada um de nós é um veículo que nos vai desmembrar para que as outras comunidades estejam dentro das flexões e valores culturais que nos comporta como angolanos. Em particular, esta e qualquer matéria relacionada a Angola são incomodativas no sentido correctivo. “Confesso ter ficado surpreso quando a Editora notificou-me”, disseste. Porquê dessa reação? Não esperavas ser selecionado? Como te convenceste a participar no concurso e qual foi a tua atitude inicial?
Recordo ter escrito um poema sobre uma criança da Síria que não queria sair de casa sem a sua bicicleta, mesmo com roncos de toda artilharia. A minha admiração foi mais pela demora do processo. Quanto à probabilidade de ser ou não seleccionado, me é transversal nestes concursos. Acredito sempre na capacidade de análise e selectividade do júri. Se bem lembro, teria visto o anúncio no Facebook e fui logo confrontar o regulamento na página web oficial da Editora “Livros de Ontem” e vi que constituía os requisitos e de imediato candidateime ao concurso. Sem esquecer que a minha atitude neste e noutras antologias tem sempre o suporte da pretensão de partilhar o que escrevo e duma certa forma ir interagindo com outros escritores. E por enquanto demora a publicação do meu primeiro livro, as antologias serão sempre projectos a encarar com prontidão. Esta foi a tua primeira participação em antologia, ou já havias participado em outras? Na verdade, esta, para mim, é a mais recente antologia em que participei. O meu primeiro texto poético está publicado na V antologia de Poetas Lusófonos pela Folheto Edições & Design, em Leiria, creio eu, em 2013. Desde esta primeira aventura, voltei a concorrer para a VI antologia de Poetas Lusófonos, II antologia Palavras Sem Fronteiras, antologia Poética da ACLAV e antologia Vingança 2 (Conto), Publicações da Literarte no Brasil e por cá, em Portugal, tive ainda a oportunidade de participar na antologia Universal-Rio dos Bons Sinais em 2014 e 2015 pela CEMD (Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora). Este é o meu gráfico de publicações colectivas Fevereiro | 15
e continuo atento para os próximos projectos que me parecerem ambiciosos.
desenvolvido várias actividades de incentivo à leitura, e os elementos que o compõem são um exemplo para estes novos escritores angolanos. Não há sequer um trabalho do género Quanto aos leitores, o número é ainda angolano na tua lista. Isso porque não reduzido. Infelizmente, há motivos vistosos existem, não os encontras, são difíceis de que desviam a probabilidade de mais leitura e participar, ou há outra razão para tal? isto é uma queda que se tem registado noutras sociedades também. Falo precisamente das Não as encontro. redes sociais, mesmo com a digitalização dos O facto de estar fora de Angola me tem livros em aplicações diversas a leitura continua limitado estar à corrente do que é desenvolvido lá nas últimas páginas de prioridades pessoais, em termos de antologias literárias. mas há também quem tenha uma dinâmica Há com certeza projectos do género em inversa e que faz a diferença. Angola, ainda que em proporções miúdas, mas Certamente, parece que estamos mais as mesmas não são divulgadas como devia ser. nos extremos, ou se lê bastante ou não se Creio que haverá mais concorrentes angolanos, lê. Aproveitando agora fazer uma “Proposta estejam eles em Angola ou não, se os próximos Literária”, fala-nos um pouco sobre o teu projectos vierem a ser divulgados. Mas também poema selecionado para a antologia? Sobre admito a minha desatenção nalgum projecto o que é? O que lhe inspirou a escrever? Como colectivo que tenha havido em Angola. e porque o escolheu? Como resultado desta “desatenção” que Um dos pontos do regulamento da Antologia tu mesmo mencionas, é seguro dizer que “Emergente” pedia que cada autor enviasse não tens uma opinião formada sobre o nove poemas, ou seja, no universo dos mais de estado actual da literatura angolana? 100 participantes, bastava que um poema dos nove estivesse além do critério do júri para que Francamente não. os outros oito ficassem sem efeito, pois a meta Mas é uma tarefa que reservo para um do projecto era publicar 12 autores com 108 momento oportuno. poemas. Ou seja, são nove poemas de minha Considerando outras fontes de autoria. informação, quando comparado com angolanos em Angola, penso ser seguro afirmar que tens mais acesso ao que é publicado online. Caso concorda, qual a tua opinião sobre o acréscimo do número de jovens interessados na literatura apontado por muitos? Isso acompanhando tuas publicações em blogues e noutros portais de informação online. Penso que sim. É considerável o aumento da população angolana nos últimos anos e consequente surgimento de novos talentos para a literatura. Conheço a partir de cá o Lev’ Arte que tem 16 | Palavra&Arte
A inspiração para compor os poemas em causa, normalmente, tem motivos, lugares até mesmo tempo. Escrevo por tudo que me desperte, desde as diversas notícias que a imprensa me faz chegar, até mesmo uma conversa entre amigos. Recordo ter escrito um poema sobre uma criança da Síria que não queria sair de casa sem a sua bicicleta, mesmo com roncos de toda artilharia. Este é um exemplo de muitos assuntos que me fazem reflectir e despertar a caneta e o papel. Todos os poemas que envio nas várias
Antologias em que tenho participado são os que leio, leio outras vezes e acho-os normais porque todos os outros que me parecerem excepcionais nunca os público, reservo-os para futuras publicações pessoais, mas posso estar enganado. Já recebi elogios da parte de leitores que já tiveram contacto com textos meus e a magia poética é precisamente democrática, pois cada um pode ter uma interpretação que difere do pensamento do autor no momento de composição de um poema. Esperamos ansiosos por outros trabalhos teus, principalmente os pessoais. Agrada-nos terminar em nota reflectiva. Há alguma coisa que queria deixar para os que por intermédio dessa entrevista te lêem, especialmente os que agora imergem no mundo literário?
São tão palpáveis as consequências produtivas na nossa sociedade, por certos indivíduos estarem a ocupar funções em áreas onde não se especializaram. É verdade que isto se deve a razões ramificadas desde o oportunismo, imposições e laços, o famoso “olho grande”, até mesmo por estratégias políticas.
Ainda tenho muito por aprender tanto que nem a metade da metade que escrevia o Heinz Konsalik por dia posso eu, embora não tenha a disponibilidade e outros suportes para que possa reunir todos os detalhes que me façam sentir cómodo neste universo da escrita e pesquisa. Para quem tiver o acesso a esta entrevista, deixo a minha energia de que nunca desistam daquilo que realmente gostam, pois é tão embaraçoso e mesmo doentio estar-se alojado naquilo que está no além do nosso prazer. São tão palpáveis as consequências produtivas na nossa sociedade, por certos indivíduos estarem a ocupar funções em áreas onde não se especializaram. É verdade que isto se deve a razões ramificadas desde o oportunismo, imposições e laços, o famoso “olho grande”, até mesmo por estratégias políticas. Angola precisa de acertos e novos projectos depois do que foi desmembrado durante a guerra, isto é, com formação e paixão devida para que cada um possa fazer como deve ser o seu trabalho. Ninguém faz bem o que mal percebe, antes só deteriora. Não peço que leiam números excessivos de páginas, mas, se o fazerem em dez minutos por dia, será o melhor começo, e quem lê com frequência que o faça mais e mais.
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DOSSIER
O ANO DA CULTURA EM ANGOLA
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Apesar de declarado como o ano de inumeras dificuldades, e o sector da cultura apresentar enormes cortes, desde o OGE a investimentos privados, foi possivel ver acontecer projectos culturais importantes. O teatro, as artes plรกsticas, a danรงa a banda desenhada, a literatura tiveram destaques em 2016
e a crise?
T E AT R O | F O R A D E C E N A
“Há pouca abertura entre os directores teatrais nacionais” ENTREVISTA A CARLA RODRIGUES, DIRECTORA ARTÍSTICA DO CIT Entrevista: Luamba Muinga | edymuinga@gmail.com
O Circuito Internacional de Teatro foi dos eventos teatrais mais expressivos na cena artística durante o ano de 2016, permitiu a troca de experiências entre actores e directores nacionais e estrangeiros durante o período de 1 de Julho a 17 de Setembro. Em conversa com Palavra&Arte, Carla Rodrigues, directora artística do circuito e directora adjunta da Companhia de Teatro Pitabel, falou dos desafios e motivações para a realização e lança a questão da falta de abertura para aprendizagem e intercâmbio entre os directores.
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Sei que o surgimento do Circuito Internacional de Teatro (CIT) é uma derivação do Projecto Cultura Para Todos. Pode falar-me dele? O Cultura para Todos é um projecto de inclusão social, vocacionado na formação, valorização e divulgação internacional do teatro angolano, que, por sua vez, pertencente ao Grupo Pitabel e esteve em carteira a partir de 2010. Em 2016 estabelecemos uma parceria com o Ministério da Educação, no sentido de darmos formação em teatro, dança, música, artes plásticas aos alunos nas escolas, tendo sido aceite. A sede do projecto foi a cidade do Kilamba, por ser uma cidade nova, e estávamos na Escola 14 de Abril. A partir daí, como surgiu o CIT e por que propósito? Depois dos espectáculos que exibimos, decidimos então fazer uma festa do teatro. Geralmente, os grupos teatrais realizam festivais, mas nós decidimos por um circuito de teatro que fosse internacional, onde a festa estivesse em torno. Que não estivesse parado. Sentámo-nos, então: a Solange Feijó, o Franpénio e o Adérito Rodrigues. A definição do período foi para aproveitar a comemoração do aniversário da cidade do Kilamba, do presidente da república e o Dia do Herói Nacional O que motivou a escolha deste tema (“Trazer o mundo para Angola e levar Angola para o mundo”) para o CIT? O tema surgiu dos propósitos do próprio Cultura para Todos, e foi feito a associação da valorização e divulgação internacional não só do teatro angolano, como das outras forças da nossa identidade. Levar o que nós temos de bom e eles
trazerem o que têm de bom para nós, constando, ainda disso, o intercâmbio entre os grupos nacionais e estrangeiros. As peças apresentadas foram curadas para corresponder a esse tema ou os grupos foram livres? Nós fomos escolhendo nas peças, porque a missão do teatro é educar, fazer as pessoas saírem da sala de espectáculo a pensarem no que faziam. Também trabalhamos com uma escola onde, para além das peças, levávamos uma mensagem. Observámos o repertório dos grupos e, como qualquer festival que possui regras, tivemos o cuidado de as peças não ultrapassar duas horas, possuir linguagem ponderada. Mas a corresponder pelo tema, como aconteceu essa selecção? Na verdade, o lema não foi escolhido para pôr entrave às peças que nós angolanos temos. Escolhemos os grupos que venceram o Premio Nacional de Cultura e Arte. Não fomos tanto pelo lema, e sim pela qualidade dos espectáculos que os grupos possuíam, porque, na verdade, é isso que queríamos: levarem aquilo que fizemos de bom para o mundo, e os internacionais trazerem o melhor deles. Se verificar, os espectáculos dos grupos internacionais não são muito diferentes, mas eles têm vantagem de terem a formação, muitos deles não fazem nada além do teatro: têm um salário, uma carteira profissional. Diferente deles, nós fazemos o teatro como um hobbie e com os nossos próprios dinheiros.
O ANO 2 0 1 6 DA CULTURA EM ANGOLA
Entre nós, os fazedores de teatro, fazendo uma estimativa: 2016 foi o ano do teatro. Porque, além da crise, o teatro não morreu, houve muitas actividades de teatro, e festivais que surgiram. Só não morreu por causa da nossa persistência em continuar a trabalhar, e olha que nós não ganhamos quase nada.
O evento deu espaço para actividades de reflexão e debates sobre a situação do teatro nacional? Tivemos, sim, esse tipo de actividade,
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As outras províncias nunca faltam. Nunca são lesadas em tais festivais: enquanto os daqui fazem inscrições, os das outras províncias, nós convidamos. Não pagam nada para participarem nos festivais. sobretudo, aos sábados, com os grupos que participaram no CIT e não só. Havia os que queriam dar palestras e queriam aprender. Aprendeu-se muito com isso. Não tivemos reflexões, apenas, em torno do teatro, falámos da sinistralidade rodoviária, da dança, tivemos uma palestra sobre a SIDA, fruto da parceria com Instituto Nacional da Luta Contra a Sida, e, em todos espectáculos, o público encontrava preservativos e brochuras sobre a SIDA nos bancos e nós explicávamos. Ouve-se muito a falar de pouca expressão do teatro a nível nacional. Porque o certame do CIT olha mais para o intercâmbio internacional quando há essa carência de intercâmbio a nível nacional? Em primeiro lugar, não tivemos de fora grupos nacionais. Tivemos grupos de Benguela e Huambo e os de Luanda, maioritariamente. É uma experiência nova, sem muitos apoios, não podíamos movimentar grupos das províncias. Alguns grupos internacionais vieram com o apoio das embaixadas, ajudando-os no alojamento e na alimentação. Agora digo que, entre nós, os artistas, não muito pelos actores e sim olhando para os directores, muitos pensam que são os melhores. Há pouca abertura, sobretudo para aprender. Recentemente, de 01 a 04 de Novembro, demos uma formação de direcção artística com uma professora cubana. E nós, aqui em Angola, somos média de 300 grupos teatrais, mas só tivemos a presença de 10 directores. E isto não é porque não demos esta oportunidade. Criamos condições para a formação com a professora, e os directores não pagaram nada para isso, mas não apareceram. Aliás, os outros grupos, como o Horizonte, têm realizado intercâmbios, mas os directores e actores não aparecem. A tendência com o internacional é, exactamente, colher diversas experiência de intercâmbio. 22 | Palavra&Arte
Está assim tão mal esse intercâmbio a nível nacional? Não. Felizmente, o “Cena Livre” e o “Actos & Cenas” têm realizado muitas actividades teatrais e lá há muitos grupos de teatro. Sempre que há uma temporada de teatro ou um festival, há esse intercâmbio. Entre nós, os fazedores de teatro, fazendo uma estimativa: 2016 foi o ano do teatro. Porque, além da crise, o teatro não morreu, houve muitas actividades de teatro, e festivais que surgiram. Só não morreu por causa da nossa persistência em continuar a trabalhar, e olha que nós não ganhamos quase nada. Há ou havia o aparecimento de grupos das outras províncias? As outras províncias nunca faltam. Particularmente, não gosto falar pelos outros, mas acredito que veio muitas províncias, vi muitos espectáculos destes grupos. Além da dificuldade de transporte, elas nunca são lesadas em tais festivais: enquanto os daqui fazem inscrições, os das outras províncias, nós convidamos. Não pagam nada para participarem nos festivais. Acontece de forma geral ou somente aconteceu assim com o CIT e o Cultura para Todos? Isto é relativo, porque cada grupo tem seu regulamento e normas para seus projectos. E como foi feito os contactos com grupos internacionais? Dizer que sempre que tu viajas para fora, a fim de fazer um espectáculo, és sempre o centro das atenções dos outros grupos. Eles gostam muito dos grupos angolanos e moçambicanos, dizem que nós somos muito naturais, e o mesmo achamos deles. Então, levamos sempre uma peça tradicional e nunca o que já se faz fora. Das nossas vestes, da nos-
sa naturalidade e dos temas, eles gostam. Fomos apresentar espectáculos no Brasil (onde fomos a cara do Festival Internacional da Língua Portuguesa), em Moçambique, em Cabo Verde (que desencadeou um convite para Portugal). Com isto, temos mantido sempre contacto com estes grupos, principalmente pelas redes sociais, onde os acompanhamos. Como foi para vocês realizar um festival como o CIT em um período de crise? Vocês sentiram o impacto da crise? O que fizeram para contornar? Essa é uma pergunta que não merece uma única resposta. Sentimos. A resposta é positiva, porque, na verdade, não tivemos nenhum apoio financeiro, de nenhuma empresa, de nenhuma instituição nem mesmo do próprio Ministério da Cultura. Muita coisa foi pela nossa “teimosia”. Trabalhamos com jovens muito dinâmicos, com o grupo Enigma. Na companhia de Teatro Pitabel, todos os actores têm carro, o que foi uma vantagem, porque todos vivemos aqui na cidade, e facilitou a deslocação do pessoal e das coisas com ajuda da companhia. Agora, quanto à questão financeira, como o teatro não dá dinheiro e precisamos dos actores, não os sacrificámos. Nós mesmos tivemos de abdicar de algumas coisas em nossas famílias e apostámos um pouco dos nossos próprios salários para custear as actividades. O próprio circuito não foi uma coisa muito estudada, tivemos pouco tempo de preparação, e as instituições não estavam abertas
(as respostas às cartas vieram muito tarde) devido também à situação. E ainda tivemos um casal de actores que disponibilizaram a sua casa que nos serviu para hospedar a Academia CIT. Fomos muito organizados internamente: nos distribuímos para corresponder as necessidades de divulgação para comunicação social que todas semanas tinham de sair, gerir as salas, a recepção e o alojamento dos grupos. Quanto tempo levou a produção do circuito? A ideia caiu-nos logo. Tivemos dois meses, sem muita antecipação. Em Junho, começamos a fazer a programação para o mês de Julho. Fizemos os contactos necessários, e havia o FESTECA a se realizar, e alguns grupos que nós conhecíamos e queriam conhecer Angola apresentaram-se disponíveis. Como foi a adesão de pessoas ao CIT? Tivemos êxito. A sala estava quase sempre cheia, e não esquecemos das crianças. Tivemos espectáculos infantis aos domingos, às 16 e às 20, para os adultos. Os bilhetes ajudaram o CIT a obter algum tipo de lucro? Não tivemos. A falta de apoios aparece novamente como condicionante, pois os bilhetes todos se revertiam para priorizar a alimentação e transporte dos actores durante os três meses. Todas as semanas tínhamos de comprar o lanche, além do pequeno-almoço e outras refeições que eram semanais. Fevereiro | 23
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EM ANÁLISE
O ano da cultura em Angola? Por: Cláudio Kimahenda |kontrazte@hotmail.com Luamba Muinga | edymuinga@gmail.com
Apesar de declarado como o ano de inúmeras dificuldades, e o sector da cultura apresentar enormes cortes, desde o OGE a investimentos privados, foi possível ver acontecer projectos culturais importantes.
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O ANO 2 0 1 6 DA CULTURA EM ANGOLA de se fazer um reajuste no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2016.
A
cultura fortalece a nação e não pode haver dúvidas sobre este argumento. O ideal “mais cultura mais angola” vincou face à crise que vivemos. A crise económica que Angola enfrenta, da qual ainda não se vislumbram saídas possíveis, é um dos momentos mais subtis da sua história. Ela trouxe consigo problemas conjunturais muito sérios: separou famílias, aumentou a taxa de desemprego e de inflação e dividiu o país em blocos. A “ascensão meteórica” dos Estados Unidos como produtor de Petróleo deu um “K.O” significativo ao preço do barril do “ouro-negro” que, até então, custava mais de 100 dólares. O preço do barril veio a cair mais de dois terços, chegando mesmo a 30 dólares. Por outra, a Arábia Saudita, ao recusar-se a “cortar a produção de petróleo para manter os preços e recuperar a sua posição no topo do mercado”, causou uma guerra de preços. Em consequência, os outros países produtores como a Nigéria, a Líbia, a Venezuela e Angola encontram-se num cenário de tensão. Angola, por muito tempo, dependeu inteiramente do Petróleo, e, por este facto, a sua projecção económica de 2014 para 2015 era de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Com a queda do preço do barril do petróleo, houve a necessidade
As limitações observadas no OGE revisto para 2016 acentuaram um corte substancial ao capital que se disponibilizava a cultura. Ainda que quiséssemos deixar os cálculos aos economistas de uma coisa teríamos certeza a cultura é o sector que mais ganho teve em 2016. E é aquela que mais vinca em tempos de profundas instabilidades sociais, económicas, políticas e até religiosas. Foi assim ao longo de todos os períodos, desde as eras antigas até a era Moderna-contemporânea. A crise sempre existiu ela acompanha o homem ao longo da sua historia, podemos dizer que, ela é antropológica. Para propósito desta exposição distingue-se que, longe de toda esta turbulência originada pelo impacto da crise, foi possível notar como os agentes culturais apresentaram propostas capazes de dinamizar a cultura, quer pela realização de actividades regulares como exposições ou concertos assim como festivais de abrangência a nível da capital e mesmo nacional. Diante das dificuldades de encontrar créditos e ou patrocinadores eis que surge deste imbróglio como Fénix ressurgida das cinzas a cultura nas Agentes culturais suas mais diversas apresentaram propostas formas: Literatucapazes de dinamizar ra; Música; Dança; Artesanato; Teatro; a cultura, quer pela etc. realização de actividades Em 2016 assistimos a realização de festivais e consertos musicais (Festa da Música, Festival da Canção, a 4ª Edi-
regulares como exposições ou concertos assim como festivais de abrangência a nível da capital e mesmo nacional. Fevereiro | 25
A nível mundial os países que optaram por uma economia da cultura, possuem um “gigantesco mercado” de produção, distribuição de conteúdos culturais
ção do Festival Sons do Atlântico); festivais de teatro e cinema (Festival Internacional de Teatro do Cazenga, Festival de Teatro das Acácias-Benguela, Festival de Curta-metragem em Luanda, Circuito Internacional de Teatro, Festival de Teatro Universitário etc.); festivais de poesia (Festival de Poesia do Huambo, Encontro de Gerações do Movimento Lev ‘Arte, Spoken Word); Festival de Dança (Festikizomba Angola 2016); diversas exposições individuais e outras colectivas (como o JAANGO, Projecto Olomgombe, etc.); lançamentos de livros, entre outros eventos que qualificaríamos como sendo o portento de salvação do país face as sequelas da crise. Com efeito, os inúmeros resultados positivos que estes eventos demonstraram, mesmo com insuficiências de recursos, fazem com que a cultura seja e pode vir a ser o sector alternativo da economia angolana. Destaca-se aqui contributos de fundações, associações e instituições culturais, como a Associação Sindika Dokolo, Instituto Camões, Espaço Chá de Caxinde, Casa de Cultura Brasil-Angola, Aliança Francesa, Fundação Cultura e Arte, e alguns produtores como Adriano Maia, Estúdio Olindomar, Lev´Arte, Kwatas & Koolies, Actos & Cenas, Cena Livre, Projecto Cultura Para Todos, entre outros que indubitavelmente diante as dificuldades têm optado em buscar saídas efectivas para colocar Angola num cenário de destaque a nível cultural. III Trienal de Luanda Este evento emancipatório que traz consigo um reportório determinado de atitudes, quase utópico (tema central da actividade), perante as dificuldades de varias índoles socioculturais e até socioeconómicas, se coloca como um modelo de unificação cultural. A Trienal de Luanda que já anda na sua terceira edição é um dos eventos que maior contributo deu a cultura durante o período 2015/ 2016 quiçá antes e depois deste período. Organizada pela Fundação Sindika Dokolo teve seu inicio em 30 de Novembro de 2015 e termino previsto a 30 de novembro de 2016. Produziu mais de mil e 559 actividades com mais de dois mil e 147 artistas. Por este facto foi prorrogado o prazo para 30 de Junho de 2017 começando em 05 de Janeiro com o Festival de
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Os inúmeros resultados positivos que estes eventos demonstraram, mesmo com insuficiências de recursos, fazem com que a cultura seja e pode vir a ser o sector alternativo da economia angolana. Teatro Angolano, a 12 de Janeiro. Do ponto de vista de cobertura e expansão é um projeto de grande vulto e pensamos que pode contribuir para internacionalização da cultura angolana. CIT – Circulo Internacional de Teatro A par de festivais já estabelecidos e festivais surgidos durante o ano de 2016, o Circulo Internacional de Teatro, levado a cabo pelo Projecto Cultura Para Todos do Grupo Pitabel, apresentou uma dinamica diferente ao teatro nacional a proposito de “trazer o mundo para Angola e levar Angola para o mundo”. Em entrevista a revista Palavra&Arte para este dossier, a directora artística do certame apresentou a motivação o repertório teatral de grupos de Luanda, Benguela e Huambo, e de grupos estrangeiros, numa ampla plataforma de intercambio entre estes, passando além da apresentação de peça. Com devido reconhecimento atribuído ao CIT pela delegação da cultura, pela comunicação social e pelos diversos grupos, Carla Rodrigues não mediu fôlego ao dizer que “2016 foi o ano do teatro”, observando o nível de dificuldade enfrentada para efectivação do circuito. Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação - Luanda Cartoon De igual impacto, a 13ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação, denominado “Luanda Cartoon” considerado uma peça fundamental na promoção das artes figurativas e do cinema
de animação angolano que contou com a participação de artistas de Portugal, Brasil, França, Congo, Gabão, Moçambique, Itália e Cuba e aconteceu no Centro Cultural Português. O festival, dinamizado pelo Núcleo da Banda Desenhada – este promovido pelo Estúdio Olindomar, destacou-se ainda por ter ganho a categoria de Artes Plásticas do Prémio Nacional de Cultura E Arte, onde o juri atesta a “execução meritosa das caricaturas apresentadas e o emprego da metáfora, onomatopeia nacional e a integração de técnicas do mundo digital”. Pela sua dimensão estes eventos constituem um movimento capaz de fomentar a indústria cultural onde os bens culturais se transformam em mercadorias. Neste contexto podemos falar também de “tecnologização da cultura”, aplicar a tecnologia à cultura, sendo que por este se tenha disseminado e tentado transformar bens culturais em bens de consumo. Deste modo a mercantilização da cultura dará lugar a “economia da cultura” que constituirá um suporte a economia do País. Pois hoje a nível mundial os países que optaram por uma economia possuem um “gigantesco mercado” de produção, distribuição de conteúdos culturais, Angola não pode ficar atrás. É tempo de encontrar formas de alavancar a nossa economia e a cultura mostrou-nos neste ano de 2016 que é possível com ela. Que venha 2017!
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O ANO 2 0 1 6 DA CULTURA EM ANGOLA
Resenha: o espaço da arte contemporânea angolana em 2016 Por: Luamba Muinga | edymuinga@gmail.com 2016 configurou-se também, a par de outras artes, com múltiplas propostas em torno do nosso mercado, como ano da arte contemporânea, partindo de apresentações individuais de artistas estreantes a artistas regressados em público, de nomes já estabelecidos.
CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS – CAMÕES
O
longombe (manada de gado em Umbundu) foi, talvez, dos mais representativos eventos no campo das artes plásticas, não descurando todos os outros que o incansável Centro Cultural Português – Camões nos possibilitou apreciar. Homenageando o poeta e antropólogo Ruy Duarte de Carvalho, estiveram, entre os “gados” consagrados, António Ole, António Gonga, Mário Tendinha, Paulo Amaral e Paulo Kussy, eles que também levaram a exposição para o sul (Namibe, Huila, Benguela). Esta agenda cheia do Camões chamou de volta Francisco Van-Dúnem (Van), 40 anos depois, em “Ícones e Paisagens da Minha Terra”, onde “fez aproximações com outras linguagem construtivas e interpretativas” nas noventas obras inéditas. Outro regressado foi Jorge Gumbe, onze anos depois, revisitando temas recorrentes ligados às tradições e à cultura angolana. Linu Damião, em homenagem ao grande Viteix; Wilson de Oliveria e Fernando Lucano, em estreia, deram “o ponto de partida”; Erika Jâmece, Grácia Ferreira, Imani da Silva, Leda Baltazar e Patrícia Cardoso reencontraram-se em alusão ao Março Mulher; assim como Álvaro Macieira, Guilherme Mampuya foram nomes que lá cruzaram suas obras.
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A
GALERIA DO BANCO ECONÓMICO
começar, Januário Jano fragmentou-se numa versão 1.0, com 30 obras inéditas, na expressão “kwicks pop”, na galeria do Banco Económico, espaço que, embora ainda tímido em regularizar actividades, assumiu presença no cenário da arte contemporânea. Situado na rua do 1º Congresso do MPLA, é uma intenção do deste “renovado” banco em dedicar-se à cultura e à promoção da arte. Daniela Ribeiro lá esteve em trabalhos com diferentes dimensões, predominantemente, tecnológica; Nelo Teixeira, com restauração urbana, curada pela Sónia Ribeiro. Pela mesma curadora, houve ainda conexões femininas entre Ana Maria Silva, Rita GT e Lola keyezua, com pintura, instalação, fotografia e vídeo.
ESPAÇO LUANDA ARTE – ELA
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esafiador e de estrutura agradável, o Espaço Luanda Arte – ELA, com intuito de democratizar a arte, abriu-se com “Bué Prá Frente” da quinta edição da “Vidrul Fotografia”. JAANGO – ainda ouviremos e leremos mais vezes esse nome na nossa praça artística – é um movimento que engloba vários artistas multidisciplinares, teve passagem por lá. Tivemos um “pop-up” (algo que se abre por pouco tempo) com Kapela Paulo e Binelde hyrcan em “Velhas Histórias, Novos Papeis”. Grácia Ferreira foi com a nguimbi dela e Guizef levou a gente dele neste bebé adulto, Espaço Luanda Arte. Esta galeria, que é antes uma residência artística, ambiciona também colaboração intercontinental entre artistas, tendo participado já na Feira de Arte 1:54 e em outra, em Joanesburgo.
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GALERIA TAMAR GOLAN
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galeria Tamar Golan tem notável entrega à arte contemporânea nacional, fazendo esse percurso já há 12 anos. Com novas instalações inauguradas no ano passado e com uma das agendas mais preenchidas, inaugurou-se com “Tamar Golan”, exposição com 15 instalações e 27 telas de artistas renomados e que já lá passaram. Expôs em estreia Alekssandre Fortunato (segundo balanço foi a que mais atraiu apreciadores), acolheu o designer, pintor e fotógrafo Thós Simões. E teve passagem por lá o nome de Niandu Kapela em “Eis o Artista”, Hamilton Francisco Babu com “Frágil”, Cândido Pascola com “Dentes de Leite”, “Um pouco disto… e daquilo” de Ângelo de Carvalho”, Tons e Reflexões” de Patrício Mawete – este transpôs o ano até Janeiro de 2017.
QUESTÕES CRÍTICAS DA ARTE CONTEMPORÂNEA ANGOLANA, EM 2016 A medida que se vai celebrando a pluralidade de propostas e tendências artísticas, técnicas e de expressão, fez-se e continua, mais do que nunca, ser necessário recair em profunda reflexão da situação do nosso mercado de arte. SISTEMA DE ARTE – ONDE ANDA O ESTADO? Reflexão que, por ora, esteja associada a uma resistência por uma intervenção acentuada do Estado, no campo da criação de políticas em que, mesmo não sendo apenas o Estado, estejam envolvidos todos os actores com medidas formalizadas – Intervenção no sistema de ensino e criação. Na edição passada do TEDxLuanda, o pesquisador Patrício Batsikama, em sua palestra, faz menção do tão sonhado Museu de Arte Moderna, promessa que já faz dez anos desde o discurso do Presidente da República no Terceiro Simpósio da Cultura. A reforçar, esteve António Tomás (Etona), secretário-geral da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), em entrevista ao Jornal Cultura, apresentando que, apesar dos esforços prioritários, este Museu é um irmão das dificuldades. 30 | Palavra&Arte
OS NÚMEROS DO MERCADO DE ARTE NACIONAL Num dossier levado a cabo pela revista Economia&Mercado (nº145), afirmou-se urgente o registo estatístico sobre o mercado de arte nacional. Este registo teria sua efectividade com a intervenção de galerias, associações, instituições tutelares, coleccionadores, artistas e curadores independentes e, senão mesmo, com instituições financeiras ligadas às indústrias culturais ou não. Ainda neste dossier, segundo Fernando Alvim, com base num circuito de galerias e coleccionadores, o mercado de arte angolano rondava, em 2010, em acerca de 2,5 milhões de dólares, considerando cinquenta artistas com quem tinham contacto e na possibilidade destes venderem obras a preços médios em 3.000 e 5.000 dólares. Porém, citado Nuno Pimentel em entrevista ao Rede Angola, «no pior das hipóteses, o mercado de arte nacional ronda actualmente em 1,5 milhões de dólares».
O ANO 2 0 1 6 DA CULTURA EM ANGOLA
O RITMO LENTO DA BANDA DESENHADA EM ANGOLA Entrevista com a Deban Fusion, publicadora de fanzines Entrevista: Luamba Muinga | edymuinga@gmail.com Um reconhecimento institucional e já na décima terceira edição. Por enquanto, é ainda assim que se pode falar de banda desenhada angolana que, na verdade, trata-se de uma simples descrição para identificar o Festival Internacional de Banda Desenhada Luanda Cartoon. É das expressões do mercado de BD nacional que mais soma reconhecimento generalizado. Buscamos explorar além deste mercado e fomos à conversa com a Deban Fusion que, em meio a alguns estúdios de banda desenhada, dedica-se na publicação de fanzines (termo para descrever revistas de produção de baixo custo e mesmo caseiro, direccionada a um circuito de fãs ou de amigos). Publica a preto e branco, quase como um estilo, mas é a impressão que está na base dos desafios. Rema contra dificuldades de se estabelecer e manter-se num mercado quase solitário, trazendo publicações em géneros que se marcam pela diferença. São casos das séries Descendentes, Universo Intelectual Bukada e Kambas, contando a publicação de novos títulos em carteira. Como surge a ideia de criação da Deban Fusion? Começamos em 2015 enquanto Deban Fusion, a publicadora, mas já trabalhávamos nessa tentativa, particularmente, com a EclypStudios, que já tem mais de dez anos. Na EclypStudios, começamos a trabalhar no estilo padrão de banda desenhada – clássicos, no estilo Mankiko. Neste percurso, ia aparecendo aspirantes e fomos um pouco mediáticos ao adoptar o que a juventude estava a consumir mais que é o estilo mangá (estilo de 31 | Fevereiro
banda desenhada muito difundido na cultura popular japonesa). Trabalhamos as nossas séries, buscámos maneiras de as difundir, mas não havia possibilidades. A ideia era fazer pequenas tiragens para, no mínimo, mostrar no Luanda Cartoon que é um espaço que se acolhe muito bem. A projecção daí, como já havia mais gente na intenção de publicar, foi criarmos uma revista que agregasse todos os trabalhos produzidos. Mas aquilo ficaria extenso e constituiria custos altos. Então, juntámos o pessoal dos estúdios EclypStuFevereiro | 31
UNIVERSO INTELECTUAL BUKADA Conta a história de um campeonato inter-galático de inteligência, na qual o mesmo começa em uma simples escola, com três meninos angolanos, mal vistos pelos professores por mau comportamentos, no entanto inteligentes e engraçados.
KAMBAS #1 Acompanha a história de seis meninos do Bairro Gonza que tudo fazem para verem as suas series favoritas, para isso terão de enfrentar a mãe de Bicudo, o operativo Tivo-Tivo e o professor. Nesta luta fazem algo: desligam a luz do bairro
DESCENDENTES #1 Há milhões de anos, no inicio da evolução da especie alguns seres humanos tiveram um processo sobrenatural, elementar, fenomenal, e podem controlar as coisas gerais da natureza. Devido as suas capacidades, denominavam-se como deuses, mas sábios dizem ser apenas descendentes . 32 | Palavra&Arte
dios, Omega Cosmos, PMS. Decididos começar nas fanzines, tiramos as séries Descendentes, Bukada e Kambas. A ideia da Deban Fusion é continuar uma publicadora de fanzines ou alargar a publicações de larga dimensão? Numa primeira fase, tentamos com fanzine na intenção de conquistar o povo. Com fanzines, não temos, necessariamente, aquela obrigação de legalização, cumprir parâmetros que ainda não podemos. O foco é de lá para frente atingirmos essa dimensão, não só a nível nacional. Estamos em busca de conquistar o mercado. Estudar e compreender como é o nosso mercado. Ainda nesse mercado de fanzines, há aceitação considerável? E, a partir desta aceitação, há como estabelecer-se a um nível superior? O projecto está feito, mas há um problema neste país, algo que não aprendemos enquanto EclypStudios, era aquela ideia de ser miúdos, criando uma editora, depois veio a ser questionado o estilo, por ser estrangeiro. Aconteceu-nos uma vez ao irmos ao Luanda Cartoon, com alguns exemplares sem fazer apresentação, simplesmente vender. Na mesma noite, os livros, que eram por volta de 80 livros, todos foram vendidos. Isto faz-nos perceber que há mesmo público, jovens que estão a consumir do mercado japonês e do americano. Embora estejamos parados agora, realmente, achamos que há uma aceitação. A que se deve esta paragem? Para ver uma nova estratégia. Verificar métodos de vendas. A princípio, pensávamos que o problema fossem as máquinas. Conseguimos as mesmas com nosso próprio financiamento, mas, depois, nos encarámos com essa questão das vendas. Somos uma equipa tipicamente de criadores. Chegou-nos alguém que se mostrou disponível para estar a frente das vendas, e atribuímos-lhe essa responsabilidade, e nada se conseguia obter de resultado. Optamos, inclusive, com ardinas que vendiam as séries, mas Fevereiro | 32
Só o Luanda Cartoon é que representa a banda desenhada. Apenas uma vez por ano, ou mesmo um dia por ano, porque, mesmo no Luanda Cartoon, é só o primeiro dia que tem algum destaque os pagamentos ficavam sempre adiados. Várias vezes, não apresentavam as vendas. Isto dificultava.
ticas sobre bandas desenhadas, embora os grafismos façam parte também do olhar da literatura.
No vosso modo operacional, vocês têm uma equipa responsável pelos roteiros próprios ou vocês recebem estórias de pessoas/escritores externos?
Olhando assim, para o lado autónomo, a Banda Desenhada já teve uma época boa: foram os anos 90. Foi uma época do auge da Banda Desenhada em Angola. Teve Henrique Abranches, mesmo Pepetela escreveu para revista do Mankiko, mas, depois, bruscamente, caiu, desde o princípio de 2000 até hoje e não se consegue recuperar. Talvez seja falta de motivação, porque estiveram metidas pessoas hoje conhecidas.
Há revista em que apenas uma pessoa trabalhou seja no roteiro, no desenho e pintura digital. O processo na banda desenhada está ligada, basicamente, a estes três, podendo ser mais, dependendo da periodicidade. Numa primeira fase, é um circuito fechado… já tivemos situações em que fomos chamando outros intervenientes. Algumas destas pessoas vêm, depois desaparecem. Mas, se há pessoas com estórias, nós recebemos, verificamos e indicamos a desenhadores. O mesmo acontece com desenhistas, porque há aqueles que, mesmo tendo habilidades para o desenho, podem não possuir um bom roteiro. Há um confronto entre as publicações nacionais e as internacionais que acabam por chegar? Não tem sido difícil, embora ainda se tenha aquela percepção de que a banda desenhada seja para criança, que não é verdade. Alguns livros entram, normalmente, como a Monica e estilos asiáticos. Agora, com a crise dos dólares, está um pouco difícil trazer as publicações estrangeiras. A oportunidade de nos estabelecermos com pouca presença estrangeira está aí. Mas esse confronto pode se resumir a estilo, a comédias, estilo de acção e os mangás. Há capacidade de nos situarmos neles, alguns tentam mesmo fazer frentes a publicações estrangeiras. Há muitos super-heróis já criados por angolanos. Sobre a crítica especializada de BD’s em Angola… Tem uma critica, mesmo não constante. Digo isso, porque, mesmo os críticos literários podem fazer crí33 | Palavra&Arte
Está assim tão mal o contexto actual, em todos níveis? Depois deste apogeu, só o Luanda Cartoon é que representa a banda desenhada. Só uma vez por ano, arrisca-se mesmo dizer que só um dia por ano, é que se fala de banda desenhada em Angola, porque, mesmo no Luanda Cartoon, é só o primeiro dia que merece algum destaque, de resto, o festival fica restrito à classe e um número reduzido de visitas. Outros nem vão tanto pela banda desenhada, mas talvez pela animação. Fora disso, há imenso trabalho engavetado… e se sair alguma publicação é no Luanda Cartoon que se poderá conhecer. Esse trabalho fica engavetado muito por causa do processo de impressão; o trabalho na gráfica fica com preços que mesmo as vendas não corresponderiam fortemente. O surgimento da Deban Fusion é uma prova de associativismo entre diferentes estúdios. Em toda comunidade da banda desenhada há este espírito de associativismo? Essa ideia de associação é antiga, mas há um choque enorme. Aparecem nisso os percussores (old school) e os emergentes (new school) com ligeiros confrontos. Mas há um respeito pelos principais percussores; está ali o Sérgio Piçarra, que agora lançou o livro, e faz publicações para o Rede Angola. Fevereiro | 33
O E V O M E U ? A Q T O ARTIS
entes r e f i d e d e artistas d s o t n e ove no m i m o s p o e e d u s Filtramo sobre o q o d n a t n nte dos e a i m d o r c a s h l e a expressõ o foi trab m o rise. c c e a l d e e p s s e o t as ar impost mundo d desafios Francisca Nzenze de Meireles aka Chiquinha, ilustradora
Gari Sinedima, músico O que me moveu para ser artista, foi ter dado conta que a arte movimenta não só pessoas, mas como também movimenta sentimentos e, acima de tudo, transforma. E esta é a minha filosofia de vida e esta é uma filosofia cristã. O evangelho serve para persuadir, ordenar ou orientar, e a arte tem também essas funções. O que me move é saber que eu, como artista, irei transformar o mundo em um lugar melhor. O que me move são esses sentimentos de humanidade e amor e, acima de tudo, bondade e fé, na graça de Deus.
2016 foi o ano em que realizei a minha primeira exposição individual e, logo de primeira, vendi quatro quadros e recebi muitos elogios! Fiquei muito feliz e me senti mais motivada do que nunca. Vou continuar a pintar e pretendo terminar este ano a história em banda desenhada. Mas só o futuro dirá. Pretendo continuar a realizar exposições e quero muito expor em Angola.
Gociante Patissa, escritor
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A minha preocupação é que a arte não acabe sendo um factor de exclusão, daí sublinhar a necessidade de estabelecer uma relação institucional de harmonia entre os três segmentos de cultura. Ou seja, olhar para o nosso panorama e almejar um estágio que minimize as assimetrias entre a cultura das elites (aquela herdada da civilização europeia), a cultura popular (aquela de matriz africana) e a cultura de massas (aquele produto mais efémero que resulta da excessiva projecção nos mass media).
Geração 80, produtora de audiovisual O que nos move é a possibilidade de criarmos conteúdos áudio visuais angolanos, contar histórias nossas para nós e também para divulgar para outros países africanos e para o resto do mundo. Somos movidos por ideias. Há sempre uma ideia. E a partir do momento que surge uma ideia, pelo menos em qualquer pessoa aqui, na Geração, nasce também aquele bicho, aquele vírus que é impossível de eliminar e não nos deixa quietos. E até essa ideia ser concretizada, divulgada e espalhada por todos, nós não ficamos satisfeitos. Portanto, essencialmente, a oportunidade de criar produtos áudio visuais, partilhar ideias, partilhar momentos com pessoas, é o que nos move todos os dias.
Agamoto, fotógrafo Como qualquer ser humano, sempre senti a necessidade de me expressar. Esta necessidade nasce do dia-a-dia, daquilo que nos rodeia. Eu quando quero fotografar é porque sinto necessidade de contar uma história, de despertar a atenção para algo com o qual me sinto ligado ou pelo qual sinto curiosidade. Um dos objectos da minha fotografia são as nossas mamães, as nossas irmãs, com as suas bacias em cima das suas cabeças; aliás criei uma tag no Instagram para agregar as fotos que retractam esses momentos (#omundonasuacabeça – porque, efectivamente, sinto que elas carregam o seu mundo diariamente nas suas cabeças, pois o pouco que têm, o seu mundo, encontra-se directamente ligado ao pouco que elas ali transportam) e embora cada uma delas tenha a sua história, existe uma linha base para todas elas: levar o seu pão para casa. Eu tenho um respeito muito alto por estas senhoras, pois creio que elas têm sido a espinha dorsal do nosso país. E através da fotografia procuro dar visibilidade a isto.
Djanira Barbosa, fotógrafa O ser jornalista, a fotografia e o gosto pela escrita ocupam grande parte do meu tempo e dos meus interesses, fazem parte da minha vida; é a fazer estas coisas que me sinto bem. Não saberia fazer uma divisão, mas revejo-me em cada um deles, de forma indissociável. Na fase da adolescência, veio o teatro, e, a partir daí, passei a querer descobrir o que este mundo tinha. Comecei a ler, a pesquisar, a estar atenta aos eventos e por aí foi.
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A geração do cinema ou o cinema da Geração 80
Vencedora do Prémio Nacional de Cultura e Artes 2016, na categoria de cinema, com o documentário Independência, a Geração 80 é uma produtora angolana que nasce de uma geração pós independência, apresentando em seus trabalhos a dinâmica urbana, e funde estes trabalhos no seu empenho ao desenvolvimento da cultura e artes.
Da direita para esquerda: Sérgio Afonso, Lee Bogotá, Jorge Cohen, Edvaldo António, Carlos Jorge, Gretel
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Marin, Ngoi Salucumbo, Fradigue, Tchiloia Lara, Ery Claver, Clemente Basílio, Kamy Lara e Paula Agostinho
O ANO 2 0 1 6 DA CULTURA EM ANGOLA Fomos a conversa com Mario Bastos, um dos realizadores, que falou-nos da “geração” em 2016. Não deixam de estar em questão o estado do cinema nacional e a futuras produções da Geração 80 para este ano. Entrevista por Leopoldina Fekayamãle
Como é que foi o ano de 2016 para a Geração 80, relativamente à realização de projectos? O ano de 2016 para a Geração 80 foi um ano bom. Tivemos muitos projectos (dentro do áudio-visual). Nós fazemos projectos no cinema, na publicidade, na música, fazemos filmes institucionais e corporativos, então, no ano passado, fizemos bastantes projectos nas diversas áreas. Também fizemos vídeo-clips e cobertura de concertos. Relativamente ao cinema, foi o ano em que nós estivemos a divulgar o filme “Independência” do qual fui realizador. Foi um filme que ficou completo e terminou a sua produção em 2015, mas 2016 foi o ano em que o filme esteve em festivais e teve destaque em festivais de cinema africano, como o festival de Durban, na África do Sul. Também, ainda dentro do cinema, produzimos um filme, como filme da CPLP que é “Do outro Lado do Mundo”. Este filme foi realizado por Sérgio Afonso, que também é da Geração 80, e foi produzido pela Tchiloia Lara e vai estrear neste ano. O filme foi produzido no ano passado, foi gravado, editado e terminado no ano passado, mas só neste ano vai estar nas televisões dos países membros da CPLP. Então, dentro do cinema, foi bom, foi um ano importante para nós, apesar de ainda estarmos a fazer muito cinema documental, e nosso objectivo é fazer também cinema de ficção. Foi um ano marcante, terminámos um projecto e começamos logo outro. No que concerne à publicidade, a maior que fizemos no ano passado foi para a Unitel. Esta foi a nossa pri38 | Palavra&Arte
meira publicidade, mas, além desta, também fizemos outras de menor porte. Relativamente aos vídeos, fizemos oito vídeo clips para o novo álbum do Nastio Mosquito. O álbum é visual e foi uma experiência interessante. Foi a primeira vez que fizemos oito vídeos para um artista que estava a lançar
Aqui, não só na área da cultura, temos sempre a ideia e a pressa de querer começar pelo fim e não começar pelas bases. Falta um pouco de estrutura de pensamento.
um álbum. Ou seja, aconteceu muita coisa, e, no final do ano, dá a sensação de que o ano foi muito longo, porque realmente estivemos em muitos sítios. Também viajamos bastante para fazer alguns projectos mais institucionais e corporativos, estivemos no Huambo, Lubango, Cunene, Kwanza-Sul, Moxico; então, foi um ano preenchido para nós. Entretanto, ao mesmo tempo que isso tudo estava a acontecer, obviamente que a situação económica do país também não ajudava, mas foi-nos dado por parte das pessoas que trabalham connosco um voto de confiança e foi necessária muita dedicação em tempos de crise. A Geração 80 foi o grande vencedor do Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de cinema e audiovisual, com o documentário “Independência”. O que esse prémio significou para vocês? Ganhar o Prémio Nacional de Cultura e Artes com o nosso documentário Independência teve um valor muito grande, porque é um prêmio importante, talvez o maior prémio que temos no país para cultura e artes. E ganhar com o projecto Independência, que foi longo e tinha como objectivo captar as memórias e partilhar os males daqueles que lutaram pela independência do nosso país, significou muito para nós. O Independência resultou de um encontro de gerações: a nossa, a geração de 80 e aquela que participou. Ganhar esse prémio para nós, equipa do Geração 80, teve um significado muito especial. Normalmente, não se recebe esse prémio tão cedo, e, provavelmente, este vai ser um daqueles momentos que ficará na nossa história para sempre. E talvez não teria sido possível, se não tivéssemos feito sobre este tema e/ou pela solidariedade entre as duas gerações: uma para partilhar e outra para ouvir. Como é que as pessoas reagiram ao documentário?
Mario Bastos/Foto: Rede Angola
As reações têm sido boas. Mas, inicialmente, pensávamos que estávamos a fazer apenas um documentário para geração mais nova, ou seja, a nossa. Mas cedo nos apercebemos que era um documentário que valia não só para a geração que não participou, mas também para a geração que participou, porque um dos motivos que nos fez fazer esse Fevereiro | 39
filme foi porque achamos que tinha que haver maior diálogo entre as gerações. Aqueles que participaram não partilham muito as suas histórias, e os que não participaram não mostram muito interesse e não querem ouvir, e, às vezes, fica esse vazio: ninguém está a falar com ninguém. Então, acho que a melhor reação que nós temos recebido, não só sobre a importância do filme, é como o filme inspirou algumas pessoas a conversar sobre esta época. Isso para nós tem sido o melhor feedback sobre a importância do filme. Vocês conseguiram levá-lo para todas as províncias? Não conseguimos levar para todas as províncias. Mas fomos o primeiro filme a estrear em quatro províncias: Luanda, Benguela, Lubango e Malanje, nas salas de cinema com nível profissional. Ou seja, o filme estreou em conjunto nessas quatro províncias, mas, infelizmente, porque não é um filme mega comercial, algumas salas de cinema não nos deram muito tempo. Acho que o mínimo que o filme esteve em exibição foi no Belas onde ficou duas semanas apenas, mas, por exemplo, em Malanje, ficou um mês. Entretanto, a nossa ideia – e nós já tínhamos noção disso – era, assim que acabasse o seu período nas salas de cinema, começar a divulgar o filme. Então tivemos muitas sessões em universidades, associações, escolas, sessões abertas onde nós mostrávamos o filme e depois falávamos com os estudantes e pessoas. Mas ainda temos o objectivo de divulgar o filme por alguns locais por onde passamos e recolher testemunhos. Todas as sextas-feiras vocês publicam na vossa página do facebook um REC. Qual o principal objectivo dos rec´s que vocês publicam? Quando a gente divulga um rec diz sempre que “são imagens num formato crítico-social e tudo mais...” tem lá uma explicação. A ideia com os rec´s surgiu, porque há tanta coisa a acontecer no país – não só na cidade de Luanda – que nós achamos que é importante gravarmos não só para o futuro, mas também para, no 40 | Palavra&Arte
presente, podermos reflectir um pouco sobre o que está a acontecer. Então, o rec é como um espelho da nossa sociedade, a gente capta vários momentos; uns não são tão bonitos como os outros, mas a nossa sociedade é composta por isso. O rec serve para reflectir sobre o nosso país, sobre as coisas que acontecem no dia-a-dia, e a ideia de não se pôr um comentário, não pôr ninguém a falar, é mesmo para isso: as imagens falam por si. Ainda sobre a vossa página no facebook. Na descrição consta que vocês estão empenhados no desenvolvimento da cultura e das artes em Angola. Vocês sentem que as vossas actividades têm contribuído para este fim? Nós sentimos que sim, mas também temos noção de que há muito ainda para ser feito e que não somos os únicos. A Geração tem essa vertente de estar presente na cultura e nas
artes, mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser uma empresa, e, para conseguirmos realizar alguns projectos, temos que explorar também o lado comercial, que é um lado que, às vezes, as pessoas gostam menos. Entretanto, temos que fazer publicidade, temos que fazer vídeos mais institucionais, etc.; é o que torna possível a gente conseguir fazer projectos mais artísticos, projectos mais culturais, e, na verdade, é porque também não existe no país um sistema que ajuda muito, que incentiva muito isso. O nosso Ministério da Cultura é um órgão pouco presente, e, pelo menos, no mundo do áudio visual, a gente pode falar isso com alguma propriedade. Já houve anos que, realmente, havia mais dedicação, mais empenho dentro do áudio visual e do cinema, mas, hoje em dia, é muito pouco presente. Então, os projectos nascem, porque as pessoas têm que se dedicar e colaborar umas com outras. Neste momento, nós queremos
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Que houvesse um plano mais estruturado e mais rigoroso quando se falasse de cinema. Que, realmente, se começa a pensar em finalizar todo esse processo que é a lei do Mecenato. continuar a fazer filmes, documentários, ficção, queremos fazer muito mais e achamos que esse é o único caminho, fazer com outras pessoas. Não queremos só ser a Geração 80 a fazer trabalhos sozinhos, queremos partilhar os trabalhos com outros artistas, outras associações, outras produtoras. Por isso é que, no ano passado, e sempre que podemos, colaborámos com outros artistas que não têm a ver com a Geração, que nos ajudam a dialogar, a fortalecer esses laços da cultura em Angola. Como Geração 80, dentro da vossa área de actuação, o que vocês gostariam que melhorasse? Dentro da nossa área de trabalho, gostaríamos que houvesse um plano mais estruturado e mais rigoroso quando se falasse de cinema. Que, realmente, se comesse a pensar em finalizar todo esse processo que é a lei do Mecenato, que vai permitir que empresas apoiem projectos culturais, porque vão ter alguns incentivos fiscais. E dentro da nossa área, a lei do cinema que iria nos proteger a nível profissional. Um Ministério que esteja mais presente, que diversifique a sua aposta em termos do que investir e como investir e não fazer só por fazer. Pensar um pouco, por exemplo, para quê fazer um festival interacional de cinema se não existe quase produtora nenhuma que consiga produzir um filme do princípio ao fim?! Se calhar é melhor investir na formação do cinema em vez de se fazer um festival. Existem poucas pessoas a fazerem um filme do princípio ao fim em Angola; temos o Mawete Paciência que é um grande exemplo, mas não faz sentido come-
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çar pelo fim e, às vezes, aqui, não só na área da cultura, temos sempre a ideia e a pressa de querer começar pelo fim e não começar pelas bases, e é isso que falta. Falta um pouco de estrutura de pensamento de como erguer este edifício que pode ser a cultura do país. Em relação ao cinema nacional, vocês sentem que há falta em termos de formação? Há! E isso não tem a ver com ter licenciaturas. Cinema não se faz apenas com pessoas licenciadas, mas tem a ver com experiência de trabalho. Nós produzirmos um filme por ano é muito (e pode ser para documentário ou ficção), ou seja, números muitos distantes de países que já têm uma indústria cinematográfica. Nós não temos uma indústria, porque as pessoas não estão a fazer filmes e porque não há pessoas que sabem fazer filmes, e também porque não existe estruturas para fazer filmes, portanto investir na formação é muito importante para nós e essa é uma das apostas que nós, Geração 80, queremos fazer a nível interno. Mesmo a nível interno, temos muitas pessoas que foram aprendendo ao longo dos anos, mas também precisam repensar aquilo que aprenderam e aprender coisas novas. Nós, a nível interno, não queremos cometer os mesmos erros e, por isso, temos investido na formação das pessoas. Além do documentário Independência, vocês têm outros projectos semelhantes, ou projectos que possam trazer narrativas com grandes figuras históricas da nossa cultura? Existem muitas ideias para novos projectos que
passam também por outras personagens históricas, ou seja, o trabalho não terminou pelo documentário Independência. Ou seja, vai continuar, não sabemos se vai ser logo o próximo projecto, provavelmente vamos ter que respirar um bocado depois de seis anos, pois, nesse tempo fizemos outros trabalhos; houve o filme da Rainha Ginga, houve um documentário da Deolinda Rodrigues, mas, de certeza, que vai haver espaço para mais filmes da Rainha Ginga, Agostinho Neto, Holden Roberto, Savimbe… filmes sobre as outras personagens históricas da nossa cultura. Quais são os projectos e actividades que vocês têm programado para este ano? Temos já para estrear o filme “O outro lado do Mundo”, depois disso, temos também um filme já em pós - produção que se chama “O último país”. Este é da Gretel Marin, uma das realizadoras daqui da Geração 80. Ela é cubana e o documentário tem um lado muito pessoal que fala dessa relação dela com o país, e as mudanças que ela própria tem sofrido ao longo dos últimos anos. Estes são os que temos já agen-
dados para cinema e documentários. Depois, a nossa ideia é continuar a fazer alguns vídeos clips neste ano; foi muito gratificante a experiência do ano passado, mas gostaríamos de fazer vídeos no mundo do Rock, Rap e Semba e, além disso, vamos tentar nos candidatar a alguns fundos fora, para conseguirmos dar os primeiros passos para conseguirmos fazer a nossa primeira longa de ficção. É difícil conseguir fundos a nível do país? Não são difíceis de conseguir. Simplesmente, não acontecem sempre, não é uma coisa regular. Não sabemos que dinheiro específico existe indicado para o cinema. Houve há alguns anos um fundo que supostamente era GRECIMA que era dedicado ao cinema, mas não sei como é que isso seguiu, portanto não temos alguma regularidade, algum plano de, anualmente, termos fundos dedicados à nossa área, não podemos planificar, então tentamos planificar com fundos de países lá fora que já estão a apoiar e apostar um pouco mais no cinema.
Temos para estrear o filme “O outro lado do Mundo”, depois disso, temos também um filme já em pós - produção que se chama “O último país”, que fala da relação da Gretel Marin, cubana e uma das realizadoras da Geração 80, com o país.
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ENTIDADES
UNAC
União Nacional dos Artistas e Compositores Entidades é um espaço que contempla a divulgação de instituições e órgãos ligados à área cultural, para lhes compreender a função, razão de existência e sua utilidade para os seus destinatários (artistas e criadores).
fixadas, reproduzidas, distribuídas (venda ou aluguer), comunicadas ou radiodifundidas publicamente. • Que possam mostrar a veracidade e conformidade dos registos de repertório.
Palavra & Arte traz para esta edição da revista a UNAC - União Nacional dos Artistas e Compositores
Como fazer para se registar como membro da UNAC?
O que é a UNAC-SA (porque foi criada)?
1. Apresentar os seguintes documentos:
A UNAC-SA é uma entidade pública de gestão colectiva, criada com a finalidade do exercício e gestão dos Direitos de Autor e Conexos, de autores, artistas (intérpretes ou executantes) e produtores, estritamente ligados à música, dança teatro e audiovisuais.
2. Ficha de inscrição devidamente preenchida e abonada, testemunhada por dois membros da UNAC no pleno gozo dos seus direitos.
O que a UNAC desenvolve na prática?
5. Historial sobre a vida artística do requerente.
• Promove a protecção dos direitos de autor, independentemente das fronteiras nacionais ou formas de utilização.
6. Cópia de documentos que atestam sobre o historial narrado (cartazes, fotocópias coloridas, fotos de espetáculos, capas de discos, recortes de jornais ou revistas, etc.)
• Gere e representa autores, artistas e produtores, seus membros e entidades estrangeiras com quem venha celebrar contracto. • Autoriza a utilização por todas as formas das obras, prestações e fixações, de que seus representados sejam titulares. • Cobrar em representação dos seus membros todos os direitos que lhe sejam devidos, pela utilização e exploração das suas obras. • Distribuir e pagar aos seus membros os direitos cobrados. • Emissão de carteira profissional. • Agir em representação dos seus membros junto de autoridades judiciais, policiais ou administrativas. Quem pode fazer parte da UNAC? Podem fazer parte autores, artistas (interpretes ou executantes) e produtores de fonogramas e audiovisuais, que preencham os seguintes requisitos: • Exerçam ou tenham exercido actividade no meio cultural e mandatem a UNAC para exercício dos seus direitos autorais em território nacional. • Que as suas obras tenham sido de alguma forma
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3. Fotocópia do BI. 4. Duas fotografias tipo passe.
OBS: a) Os grupos podem solicitar a inscrição dos seus integrantes através de lista única, ficando conjuntamente cumpridas as formalidades dos pontos 4, 5. b) As solicitações que não cumpram o exposto são rejeitadas. Que tipos de actividades têm realizado? Assembleias, reuniões, festivais, registo de obras, licenciamento de usuários, resolução de conflitos, acções de formação, diversas actividades sociais. Quando e onde funciona a UNAC? A UNAC funciona de segunda a sexta-feira das 08h00 às 15h30. Rua Amílcar Cabral, 135 R/C (Mutamba, ao lado do edifício do Governo da Província de Luanda – bem na frente da paragem dos táxis para os Congolenses) Contactos: (224) 222 39 61 97 E-mail: angolaunac@hotmail.com
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PORTFÓLIO | OLHAR A GUERRA, CONHECER A HISTÓRIA
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SANDRO JORGE DIAS Nasceu no Lubango, Huíla, a 27 de Fevereiro ¬de 1994. Solteiro e a residir em Luanda, é fotó¬grafo de profissão há já um ano e alguns meses. Formação média em Comunicação Social pelo Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL), pretende dar continuidade da formação na mes¬ma área e, consequentemente, trabalhar em te¬levisão, fotojornalismo… tendo um leque de referências maioritariamente nacional. Mérito enquanto fotógrafo foi o terceiro lugar de um prémio organizado pela Unitel, em 2016. É fundador da Dipanda Photo, agência de foto¬grafia, na qual assina as fotografias artísticas que produz.
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Carro que António Agostinho Neto usou Em Brazzaville Olhar A Guerra, Conhecer A História//Sandro Jorge Dias ©
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A Janela Gradeada, Museu de História Militar, Luanda Olhar A Guerra, Conhecer A História//Sandro Jorge Dias ©
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Os heróis d´outrora, Museu de História Militar, Luanda Olhar A Guerra, Conhecer A História//Sandro Jorge Dias ©
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A Entrada — Museu De História Militar, Luanda Olhar A Guerra, Conhecer A História//Sandro Jorge Dias ©
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Ponto de Controlo, Olhar A Guerra, Conhecer A História//Sandro Jorge Dias Š
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A entrada principal do museu Olhar A Guerra, Conhecer A História// Sandro Jorge Dias Š
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Canhão sem recuo do século XIX, Museu de História Militar Olhar A Guerra, Conhecer A História//Sandro Jorge Dias ©
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