PALAVRANDANDO Suplemento semanal da Revista Palavra & Arte |02
SHOW “Valores”, com alguns valores e muitas incoerências
O desnudar da ditadura em “A sociedade dos sonhadores involuntário”
TEDx LUANDA 2018 Vanguardistas nós somos Uma desconstrução necessária para estruturar o futuro
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O desnudar da ditadura em
A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS
Texto: Leopoldina Fekayamale |
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literatura tem em si a característica de imortalizar muitas coisas, de fazernos lembrar com carinho de livros, de autores e uma infinidade de ideias que nos marcam ao longo da vida. Então, para nunca nos esquecermos da força do sonho nem de como este nos pode levar a descobrir coisas impressionantes sobre nós mesmos e sobre o mundo à nossa volta, José Eduardo Agualusa, escritor angolano, deixa-nos um grande e significativo lembrete: o livro A Sociedade dos Sonhadores Involuntários.
pois fala por si só. E é por essa escrita, sempre envolvente, que somos cativados e levados a experimentar um mar de emoções.
“Todos os sonhos são assustadores, porque são íntimos. São o que temos de mais íntimo. A intimidade é assustadora.” (pág.96)
Na Angola descrita no romance, dentro de um contexto político e social profundamente marcado pela guerra civil, se forma e cresce um “gigante” que constituía um regime totalitário. Esse gigante, por exemplo, tem traços comuns com o “Grande Irmão/Big Brother” do livro 1984 do escritor inglês George Orwell, era aquele que tudo via e tudo controlava sem que a olhos nus um cidadão comum o pudesse ver também. Acções de corrupção e de acumulação individual de capitais a partir dos bens públicos eram a marca desse gigante, e quem sentia as consequências disso era o povo, era o cidadão a quem faltava no seu quotidiano as condições básicas para se ter uma vida digna.
A escrita de José E. Agualusa dispensa, actualmente, qualquer tipo de apresentações
O regime roubava partes de sonhos às pessoas: o sonho de ter uma casa, um em-
E nesses caminhos de descobertas aos quais os sonhos nos podem levar, o autor previne-nos:
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Essas linhas que perfazem ficção casam tão perfeitamente com várias realidades à nossa volta e nos fazem questionar se não estamos, afinal, a ler a nossa própria história. prego, de ter cuidados de saúde, de ter educação, de se sentir e ser livre para escolher as opções partidárias ou não, de participar na tomada de decisões relativas a vida do país, de ter liberdade de expressão, etc. Quando não roubava partes de sonhos, roubava sonhos inteiros ou destruía-os. Criava barreiras e dificultava o acesso a direitos fundamentais dos cidadãos. Procurava garantir que enquanto uns podiam ter direito a tudo, outros não podiam ter ou tinham quase nada: “Este país está dividido entre aqueles que podem reivindicar direitos, e os outros, os que não têm direitos nenhuns.” (pág. 156) Quantos sonhos terão sido roubados aqui, aí, lá, um pouco por todo mundo? Quantos sonhos foram divididos ao meio e destruídos por esse mundo fora? Quantos sonhos, que poderiam ter construído dias melhores, foram inutilizados? A ditadura se apresenta de várias formas no livro, ao abrigo de várias personagens, algumas até lembram-nos uma ou outra pessoa de quem já ouvimos falar ou de quem já sentimos a mão pesada. João Aquilino, um dos personagens do livro que conhecerá quem se propor a ler, era um dos representantes da ditadura e sobre ele nos dizem “… João Aquilino o director do Jornal de Angola… fora nomeado, não pelas suas qualificações enquanto jornalista, que não tinha nenhumas, e sim pelo seu passado de esforçado militante do partido” (pág.17). Acrescenta-se sobre ele que era “um polícia do pensamento ao serviço da ditadura” (pág.18). http://palavraearte.co.ao
Essas linhas que perfazem ficção casam tão perfeitamente com várias realidades à nossa volta e nos fazem questionar se não estamos, afinal, a ler a nossa própria história. Acontece ao longo de todo o romance esse questionamento que põe à prova a nossa realidade, que nos faz lembrar grandes bocados de Angola, do nosso quotidiano. Perguntamo-nos imensas vezes, até que ponto esse país do livro não faz também parte de nós. É no meio do realismo mágico e da sátira já características de Agualusa que nos questionamos sobre o “mundo real” que nos circunda. Além das personagens, a ditadura se apresenta também por meio da violência. E a par do romance, lembremo-nos dos vários relatos na história da humanidade que espelham regimes totalitários que cometeram genocídios e marcaram a vida de todos de formas significativas e provocaram várias mudanças sociais. Lembremo-nos também que violência é aquilo de que se socorrem os covardes e pobres de espírito para oprimir os outros. E “o que se alcança pela violência permanece envenenado pela violência” (pág. 43), não subsiste por muito tempo. Regimes totalitários usam também o medo como forma de opressão. Procuram enraizá-lo de forma profunda, procuram semeá-lo no consciente e inconsciente das pessoas de modos a fazerem com que haja silêncio enquanto a ditadura cresce. É preciso que as pessoas tenham medo de que o mal cresça e não seja contestado. Há que se lembrar ao cidadão comum, de maneiras explícitas e implícitas, que ele pode perder o pouco que já tem se se recusar a prosseguir calado info@palavraearte.co.ao
Palavrandando e aceitar as míseras condições em que vive. Entretanto, surgem, nesses contextos de ditaduras e de opressão da liberdade de expressão, aqueles que têm coragem para denunciar e criticar os erros do Governo. Daniel Benchimol, um dos personagens centrais do livro, atreveu-se a tecer críticas ao Governo nalguns momentos e foi mal interpretado, sobretudo, visto como “um inimigo do país”. É comum em regimes ditadores nomear como “inimigos” todos aqueles que se levantam para reivindicar justiça. Mas como disse o próprio Daniel “criticar os erros do Governo não era o mesmo que destratar Angola e os angolanos. Pelo contrário, eu criticava os erros do Governo porque sonhava com um país melhor.” (pág.16) Essa força de sonhar com um país melhor que Daniel tinha sente-se e vive-se com muito mais intensidade no livro por outros personagens. Personagens muito mais jovens e que representavam o futuro. A força e o valor do sonho colectivo surgem e impressionam-nos. Descobrimos nesse país fictício como o sonho faz a força e pode unir as pessoas para um bem comum. Mesmo quando se procura pisá-los, envenená-los ou destruí-los, às vezes, eles sobrevivem, regeneram-se, sincronizam-se e fazem renascer nas pessoas a esperança. E apresentam-se como: “Sonhos em sincronia. Como os corações dos cantores, nos grupos corais, que tendem a bater em uníssono, diminuindo e aumentando o seu ritmo consoante a estrutura da música.” (pág. 112) E essa sincronia é o que quebra o medo. O mesmo medo usado para oprimir, destruir e corromper o povo nas ditaduras. E a partir do momento em que se escolhe não se render ao medo, abrem-se possibilidahttp://palavraearte.co.ao
|04 des de fazer face à ditadura. E quando, principalmente, jovens se levantam para enfrentar regimes de opressão, então até ditadores estremecem. Enquanto cidadãos de qualquer país, de qualquer sociedade, importa ser participativo e consciente em relação às coisas que acontecem nos contextos em que se está inserido. Saber identificar ditaduras sob as vestes de democracias é crucial, pois, estas são, muitas vezes, as mais venenosas. Exibem ao mundo princípios democráticos, mas escondem mui-
ta podridão e corrupção em si. Contaminam com a sua podridão sociedades inteiras e perpetuam assimetrias sociais no que diz respeito ao acesso de direitos civis e políticos. Por isso, deve ser e é importante que seja sempre uma doença contagiosa os sonhos de justiça, liberdade e igualdade social. Não importa o tempo ou o espaço. São sonhos que devem se manter vivos, acesos, no nosso consciente e inconsciente.
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TEDx LUANDA 2018
VANGUARDISTAS NÓS SOMOS
Uma desconstrução necessária para estruturar o futuro
Texto: Oliveira Prazeres|
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esconstruir o passado, fragmentar o presente e estruturar o futuro foi a tónica máxima para melhor compreender o tema central da última edição do TEDxLuanda. “Vanguardistas nós somos” nos remetia a várias interpretações, que, com auxílio brilhante de 16 TEDx speackers (palestrantes do TEDx), se descortinou melhor o tema que doutrinou mais uma edição do TEDxLuanda, que decorreu no pátio da Academia BAI. O momento introspectivo sobre o nosso estado actual, proposto pelo colectivo Pés Descalço e com auxílio e curadoria de Januário Jano, desenrolou-se num clima eufórico onde cada astronauta buscava beber das experiências e ideias capazes de transformar a nossa sociedade de forma positiva e sustentável e, quiçá, moldar comportamento. Os novos tempos obrigam-nos a estar em constantes reflexões que visam não só o nosso modo de vida mas também o mundo à http://palavraearte.co.ao
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nossa volta. O tempo, este fragmento volátil precioso, faz-nos questionar o homem que fomos ontem, que somos hoje e que seremos amanhã, de modo que as nossas acções possam ser um referencial de identidade para as gerações vindouras. É nesta revisitação identitária de experiências vivenciadas por cada um dos oradores que foi possível se religar ao passado, compreender o presente e repensar o futuro. O tema vanguardista foi manifestado em acções concretas que vêm sendo empreendidas, umas no anonimato e outras em pleito mais populistas. Ao olharmos para alguns problemas actuais que têm surgido em decorrência de vários factores sociais, foi possível revisitar o passado cultural dos nossos ancestrais sem desprender deles na totalidade. A experiência fortemente vivenciada pela Doula e professora de youga integral, Sara Lopes, aquando info@palavraearte.co.ao
Palavrandando do nascimento de sua filha e o procedimento de cesariana a que foi submetida, da cisão do vínculo maternal e psicológico que pode ocorrer por tal prática, é um incentivo para que as mulheres possam estar cientes da necessidade de manter o vínculo maternal até os últimos dias da gravidez, optando, se possível, pelo parto natural conforme as práticas dos nossos antepassados. Está prática que, além de promover o bem-estar, é também uma porta que permite à própria mulher a consciencialização sobre o sagrado feminino e elevação da sua autoconfiança. As belas licções sobre a necessidade de aprofundarmos os conhecimentos histórico e cultural do nosso país para melhor empreendermos acções que permitirão posicionar o homem como o centro de qualquer acção foram, em suma, as abordagens da Advogada, blogger e produtora de cinema, Alexandra Gonçalves, que é hoje uma mulher aficionada pelas narrativas de viagens que empreende nas diversas comunidades do nosso país. É no seu blog “The Alexe Affair” que ela nos faz adentrar em várias comunidades desconhecidas, vivenciando experiências que desafiam o nosso lado emocional e o espiritual. Do mesmo modo, Cabuenha Moniz, instrutor de capoeira, foi um dos ted talks que nos fez viajar pelas fortes raízes da capoeira de Angola que hoje é um produto internacional. De forma inspiradora e por meio de uma performance transcendental, Cabuenha Moniz deu voz as canções e gritos de guerra que eram e são entoados em rodas de capoeira, nas noites recreativas pelos nossos antepassados. Júlio Leitão e Adriano Mixinge, dois grandes investigadores culturais do mercado artístico e cultural, cingiram as suas abordagens no conhecimento comercial e no antropológico cultural angolano e internacional. Júlio Leitão é hoje um coreógrafo com uma vasta obra de reconhecimento internacional. No palco do TEDx, apresentou algumas obras de valores http://palavraearte.co.ao
|07 culturais inestimáveis e falou da persistência e relevância cultural do trabalho que vem desenvolvendo. Por outro lado, Adriano Mixingue, crítico de arte, analisou o actual estado do mercado de arte angolano, focando-se, em parte, na história contemporânea da arte angolana, artistas e tendências, e exposições que realçam a diversidade cultural daqueles. Alguns oradores, apesar de não pautarem as suas abordagens passando pelo tema central, passaram as suas experiências sócio-profissionais de forma motivacional e descontraída, fazendo-nos olhar para aquelas questões de que, como bem disse Anabela Marques, “O essencial é invisível aos olhos”. É nesta linha de ideias que a actual técnica de recursos humanos falou da sua experiência psicológica ao lidar com a problemática de demissões resultantes da actual e não tão recente crise financeira. O jovem físico nuclear, Akiules Neto, mas que, pelos caminhos e voltas que a vida dá, actua hoje na bolsa de valores, realçou a necessidade de sermos multifuncionais, de sermos pessoas camaleónicas, “canivete suíço”, cuja funcionalidade não se restringe apenas a uma função. É deste modo que, assim como ele, qualquer pessoa poderá explorar outras ferramentas além das académicas, pois a inovação nasce ali onde há diversidade do saber. Os jovens por serem feitos de sonhos, feitos dessa matéria que nasce de forma consciente ou inconsciente, são sempre os mais questionadores do estado actual do homem que compõe a sociedade. A busca por ferramentas para superar os novos desafios não é apenas tema recorrente do seu quotidiano, mas de uma sociedade que a cada dia precisa dar respostas emergentes sem perder de vista a sua identidade e amor-próprio. É neste cenário quase que caótico que surgem jovens e pessoas inspiradoras como Erickson Mvezi – um sonhador e empreendedor info@palavraearte.co.ao
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em ascensão que aplica a sua experiência em ambientes de negócios multiculturais para fomentar o ecossistema de empreendedorismo no nosso país –; Saydi Neto, economista, poeta e filantropo – que é também um cérebro pensante da fundação EDUC, instituição sem fins lucrativos que, nos últimos anos tem desenvolvido projectos de cariz educacional em comunidades carentes no território nacional –; Cláudio Silva, um viajante, escritor e gourmet que empresta todo o seu saber em fazer conhecer vários estabelecimentos turísticos e restaurantes deste magnífico país através do portal de crítica culinária LNL – Luanda Night Life –, o primeiro e único portal de crítica a restaurantes, bares e hotéis. Estes e
os demais que, com as suas histórias de vida e persistência, passaram pelo palco do TEDxLuanda 2018 transformaram-se em referências com ideias e acções que visam inspirar a nossa sociedade. De forma geral, O TEDxLuanda, “Vanguardistas somos”, é, na verdade, uma tentativa concreta de se sair na linha da frente ante os desafios actuais. Ser vanguardista remete-nos a cada um de nós, fazer uma revisitação ao passado social, histórico, antropológico e cultural. Ser capaz de fazer reflexões introspectivas que visam a transformação do nosso eu e da sociedade com ideias e acções que inspiram gerações.
SHOW
“Valores”, com alguns valores e muitas incoerências
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Texto: Luefe Khayari|
ão é todos os dias que um artista da música, decide fazer a apresentação do seu álbum, CD, antes do mesmo ser disponibilizado ao público. Algo inédito de acontecer, aqui nas terras de Ngola, particularmente no Rap. E essa foi a promessa do Show VALORES, de MC K, como apresentação ao álbum com o mesmo nome.
cartaz oficail do evento
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Cerca de um par de dias antes, depois de algum reboliço, se o Show haveria de acontecer ou não, eis que vimos as redes sociais implodirem com a certeza de que o MCK VALORES veria, afinal, o ar da sua graça no palco do Cine Tivoli. O artista do “Sei lá Quê Uaué” levaria, uma vez mais, os seus fãs, adeptos, amigos e companheiros, ao rubro.
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Palavrandando Conforme constavam nos diversos anúncios e cartazes espalhados pelas vias, becos e ruas, assim como pelo mundo virtual, o Show estava marcado para as 18h00, entretanto, teve o seu começo, precisamente, uma hora depois, as 19h00. E isso fez surgir a conversa da maior e mais célebre das incoerências nos eventos realizados pelo país adentro: a PONTUALIDADE. Nalguns eventos, o cartaz, ou anúncio, vai acompanhado, por exemplo, da descrição: “Início do Show às 19h00 e abertura dos portões às 18h00”. Se assim fosse feito, no MCK VALORES, isso mostraria, de certo modo, algum valor, por parte da organização, e o devido respeito para quem viajou quilómetros, desembocando do seu bolso alguns valores, para um momento de descontracção, ou de euforia, para sorrir e não chorar em compensação as malambas da vida. Sempre que se toca na conversa sobre a “Hora real do início do Show”, muitos organizadores seguram-se na desculpa de que a maioria das pessoas tende a chegar tarde, cerca de uma hora depois da hora marcada para início do Show, e não dá muito jeito começar com cadeiras vazias. Uma sugestão, para tal, seria colarem no cartaz: “Encerramento das Portas as 19h30, como reforço da descrição acima, referente ao começo do evento. Aí veriam se as cadeiras lotariam, ou não, à horas. http://palavraearte.co.ao
|09 O D.J. do evento, Pelé, foi em várias ocasiões o homem do Show, do começo ao fim, com selecções, misturas e ‘scratchs’, que, certamente, levantaram os ânimos dos presentes e, também, dos transeuntes. Porém, favoreceu algumas incoerências ao evento, uma em particular, bem no começo do Show, garantiu-lhe apupos e reclamações, por abandonar a mesa de som e ter deixado um excerto publicitário, em modo de repetição, quando já havia sido chamado o artista que abriria o evento, que acabou vivendo um certo embaraço com a situação. António Paciência, o único representante do Spoken Word no evento, foi o primeiro artista em palco. E como se estivesse num palco de completos estranhos de si e da arte que representa, apresentou-se e questionou, logo de seguida, ao público se sabe o que é “Spoken Word”, para que, mais do que definir, haveria de mostrar. E fê-lo da forma que bem conhece. Ao artista do Spoken Word, seguiu-se a primeira interpretação de Rap, Kevin Kuller, a primeira voz feminina do evento, com uma performance apreciável, mas que não será lembrada como tal, devido ao traje com que se apresentou, que, impreterivelmente, revolveu toneladas das testosteronas presentes, mas, porque contrastava com o cartaz do evento, VALORES, viuse vaiada, pelo facto de ter as
Vale lembrar, que, o MCK VALORES, era um evento de Rap e o Spoken Word, na sua essência, tem proveniências do Hip-Hop e, como tal, sempre andou, de algum modo, de mãos dadas com o Rap, isso desde os primórdios do seu nascimento. Portanto, sugerir que o público, em geral, era desconhecedor do assunto, soou como estar num Show de Kuduro, em pleno 2018, e achar que o público nunca ouviu falar de Afro-House.
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Palavrandando nádegas à mostra. Todas as performances que se seguiram, apesar dos “apagões” dos microfones, elevaram o Show a apoteose de um momento no qual o Rap Consciente foi digno de ovação, com as mensagens contra as incoerências sociais, políticas e culturais a soltarem a voz e a chegarem aos quatro cantos da sala e, quiçá, do cérebro. Dr. Romeu, Mona Dya Kidi e o enigmático poeta, Phay Grande, fizeram da noite um espectáculo com vários clímax atingidos. Entretanto, o momento mais singelo, e o maior em termos de carga emocional, pertenceu, certamente, indubitavelmente e de forma claramente convincente, à Khris MC, que com sample da música “Choros de Oliveira”, trouxe uma música que representa as várias dores que se agregam ao coração. Uma belíssima música, sobre momentos da vida que causam marcas irrepressíveis. A ausência de Kid MC, por motivos de saúde, foi justificada pelo anfitrião do evento, Kool Klever, que ao longo das suas aparições, sublinhou, repetidas vezes, a base do evento, inédita para Angola no quesito Rap: apresentação, em primeira mão, das músicas do Álbum VALORES. E foi quem chamou ao palco, aquele que era então a cabeça do cartaz do evento.
|10 músicas mais difundidas e, uma vez mais, esqueceu-se nalguns momentos da letras das músicas tendo sido salvo pelo seu suporte vocal, onde se encontrava, também, o D.J. Pelé. A noite não terminou sem referências ao Sherokee e ao Rufino, duas vítimas do sistema que, dentre outras, turbinam a inspiração do artista. A maior e mais inaceitável incoerência no Show foi, contra todas as previsões, o incumprimento do prometido: Apresentação Oficial do Álbum, dos temas, das músicas, que, como dito pelo anfitrião da noite, Kool Klever, serviriam como uma espécie de barómetro para a compra, ou não, do CD. Em toda a performance do MC K, não se ouviu mais que duas músicas, se tanto, completamente inéditas, caso que, para muitos presentes, fez ao artista e à ideia inicial do evento perder muito dos prometidos VALORES, que haviam sido propagados, bem como fez adiar a expectativa do que trará o referido álbum.
MC K, mais que esperado, tomou o palco introduzido pelo Hino Nacional, sublinhando no final a revolução que diz o Hino e, logo, retomando aos tempos de ensino primário, relembrou o que era ensinado e, inclusive, vinha estampado na contracapa dos livros: ESTUDAR É UM DEVER REVOLUCIONÁRIO. Tudo isso como uma retórica para reafirmar que o próprio sistema que ensinou a revolução, agora a teme. Vários números foram apresentados. MC K fez um roteiro pelos seus álbuns, com as http://palavraearte.co.ao
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