Edição nº 52 Abril 2017
Distribuido em mais de 600 pontos
Notícias em Português no Reino Unido
Negócios de adopção Pedro Proença é um advogado português que tem vindo a defender e aconselhar famílias portuguesas no Reino Unido envolvidas em processos de adopção forçada. São 160 os casos que identifica desde Fevereiro de 2016.
O interesse da criança
De montanha em montanha até ser Serrana
Brexitmania
O psicólogo português a residir em Londres João Botas fala das consequências que um processo de adopção forçada pode trazer ás famílias e no desenvolvimento da personalidade das crianças adoptadas.
Uma história que se reveste do êxito conseguido pelo empresário Adelino Mendes num percurso profissional que se explica com a honestidade de carácter.
É um dos temas mais falado na imprensa europeia com especial incidência no Reino Unido. Apesar de se tratar de um assunto discutido de forma planetária, são quase nulas as informações sobre o que vai ser decidido sobre a vida de milhões de imigrantes europeus e viver no Reino Unido e de ingleses a viver nos países da União Europeia.
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Nomes famosos do espectáculo português em Londres É já no próximo dia 23 de Abril que Londres recebe três dos maiores nomes do show business português no Leicester Theatre pela mão da TUPS (The Ultimate Portuguese Scene). Palop News Londres
A Organização do evento tem Direcção Inglesa mas a Direcção criativa é portuguesa e pretende “Mostrar o melhor de Portugal aos Ingleses com o foco de exibir o que de melhor se faz na língua de Camões”. A fórmula escolhida pela Organização “é seduzir os ingleses, para além da extensa comunidade portuguesa e luso-descendente, com o que de melhor se faz em português no Mundo. Portugal está na moda!” – revela o comunicado. O primeiro a entrar em cena às 5.15pm será Ruy de Carvalho, um dos maiores ícones do teatro português e um dos rostos mais acarinhados pelo público português com «Trovas e canções» que ao melhor nível do actor promete satisfazer a exigência do público que se prevê possa esgotar a sala para os três espectáculos. A interpretação de Ruy de Carvalho será em Português com legendas em inglês. Pelas 7 horas da tarde, será a vez de Ricardo Vilão com um
espectáculo de stand up comedy que será integralmente em inglês. O comediante a residir em Londres, assegurou ao Palop News que está “tudo pronto para um grande espectáculo a que os portugueses a residir em Londres não vão querer faltar a esta bipolar desorder”. A fechar a série de três espectáculos, um nome incontornável da música portuguesa que no início da sua carreira musical assinou alguns dos maiores êxitos da banda Trovante e que hoje na carreira a solo se dá pelo nome de Luís Represas e que entrará em cena ás 8.45pm. O Leicester Sqare Theatre fica no coração de Londres no endereço 6 Leicester Pl, London WC2H 7BX Ingressos podem ser com-
prados: Compra de bilhetes À venda no Teatro @ the adress: 6, Leicester Place, London, WC2H 7BX Online em www.tups.org.uk - www.leicestersquaretheatre. com - and Ticketmaster Pelo telefone 020 7734 2222 (Monday to Friday 10 am – 5 pm)
Londres/Atentado: Polícia liberta sem acusação último dos 12 detidos Palop News Londres
A polícia de Londres anunciou ter libertado, sem acusação, a última das 12 pessoas detidas no âmbito de um inquérito sobre o atentado que matou quatro pessoas na capital britânica na semana passada. “Todas as pessoas que tinham sido detidas no caso do ataque terrorista de Westminster de 22 de março foram libertadas sem acusação”, escreve a Scotland Yard num comunicado, citado pela France-Presse. A pessoa libertada é um homem de 30 anos que tinha sido detido em Birmingham (centro), precisou a polícia. Cinco pessoas morreram, incluindo o atacante, e cerca de cinquenta outras ficaram feridas no atentado perpetrado por Khalid Masood, de 52 anos, na ponte de Westminster e frente ao Parlamento britânico. O atentado foi reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), mas a polícia anunciou na segunda-feira não ter “encontrado provas de qualquer ligação” de Masood ao EI ou à Al-Qaeda, ou qualquer prova de que se tivesse radicalizado na prisão. No entanto, o homem, que se converteu ao Islão, tinha “claramente um interesse na ‘jihad’”, precisou um responsável do combate ao terrorismo na polícia londrina. Entre 1983 e 2003, Adrian Russell Ajao, também conhecido como Adrian Elms ou como Khalid Masood, foi condenado várias vezes por agressões, posse ilegal de armas e perturbação da ordem pública.
EDITORIAL
O Brexit acaba de ser dado à luz. A saída do Reino Unido da União Europeia, tornou-se uma realidade que vai mexer com a vida de todos e cada uma das pessoas a residir em Inglaterra e até com a vida de todos os ingleses. Não há ainda certezas sobre o que vai acontecer com toda uma população que tem aqui a sua vida enraizada nem tampouco com o que vai acontecer com todos os ingleses que vivem nos países da União Europeia. Tem sido neste clima de incerteza que políticos e líderes têm vindo a público tentar tranquilizar a população sem contudo trazerem respostas que na verdade tranquilizem as pessoas. A revolução legislativa que se espera venha a acontecer em Inglaterra, arrasta um clima de incertezas quer em relação ao próprio Reino Unido, quer em relação a toda a Europa. A certeza que podemos ter neste momento, é que os migrantes de um lado e outro, estão a ser usados como moeda de troca nas negociações entre Londres e Bruxelas, duas capitais que consideram o dinheiro mais importante que as pessoas. Por outro lado, o clima político internacional mostra hoje uma instabilidade que levanta questões sobre o futuro de cada um de nós. Será que o Reino Unido vai continuar unido? Será que vai ser interessante viver em Inglaterra no futuro a curto prazo?
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Negócios da adopção Um advogado português interessou-se pelos casos de adopção forçada no Reino Unido com famílias portuguesas, e trouxe para a imprensa os casos escondidos de muitas famílias que estão envolvidas por intervenção dos Serviços Sociais ingleses. Palop News Londres
- Precisa de alguma coisa? - Não. Estou a aguardar a senhora que vive naquela casa. Pouco tempo depois, a senhora chega e o homem sentado nas escadas da casa ao lado aproxima-se. Era já tarde da noite. - Está alguém em sua casa? - Não. Apenas o meu gato. - Então abra a porta porque o seu gato chora como uma criança. Esta história que não podemos identificar ilustra de certa forma como em muitos casos, a retirada de crianças que pode ter uma justificação. Foi-nos contada a alguns metros do Social Worker que protagoniza este episódio. Trata-se de um homem que detém a autoridade para denunciar e aplicar a Lei quando perante uma situa-
ção em que uma criança corre riscos. Mas serão todas as histórias assim? “São cerca 160 os casos de crianças portuguesas retiradas aos pais desde Fevereiro de 2016” – diz Pedro Proença, advogado que tem acompanhado vários casos no Reino Unido de famílias portuguesas. Dos casos relatados, o advogado aponta que “são cerca de 20 os casos em que provavelmente os pais nunca mais vão poder ver os seus filhos. Dois ou três desses casos estarão a ser discutidos em Tribunal porque de alguma forma e através dos nossos contactos conseguimos arranjar apoios para essas famílias” - refere. Há relatos de casos que já foram definitivamente encerrados e as crianças foram já adoptadas em termos definiti-
vos. “Tenho conhecimento de um caso recente que envolve duas crianças irmãs portuguesas que já foram definitivamente entregues para adopção e nesse caso já não há nada a fazer” – acrescenta. Na esgrima dos tribunais, em alguns casos as famílias conseguem reagrupar-se. “Que nós tenhamos acompanhado, há três casos de crianças que foram recuperadas pelas famílias” revela Pedro Proença. Perto de uma centena e meia de crianças estão neste momento com o futuro ainda indefinido. O advogado calcula que muitos dos casos pendentes ficarão resolvidos em 2017. Afinal, quanto custa a uma família enfrentar um processo de defesa contra os Serviços Sociais em Tribunal? O valor ascende a vários milhares de libras. “Neste tipo de proces-
sos é praticamente impossível encontrar um «barrister» que trabalhe pro-bono – o custo do serviço de um barrister cujo valor foi fornecido pelo Consulado de Portugal em Londres, tem um valor inicial de 5 mil libras. Estes processos são muito trabalhosos e exigem muita intervenção pelo que presumo que ao longo do processo estamos a falar de alguns milhares de libras. Do outro lado da barricada, o Governo Britânico desembolsa verdadeiras fortunas.
A primeira despesa acontece quando as famílias não têm possibilidade de contratar os serviços de um advogado. Quando há estes processos e a família não dispõe de recursos financeiros os serviços sociais ingleses nomeiam oficiosamente um advogado para a criança e outro para a família. Pedro Proença conhece esta informação mas refuta o desempenho destes advogados. “A ideia que temos é que são advogados que estão metidos no sistema e que têm interesse
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em serem nomeados porque muitos deles vivem desse tipo de patrocínio e na quase totalidade dos casos que conhecemos, o apoio que é prestado a essas famílias é nulo e traduz-se na comunicação de que devem acatar tudo o que for exigido pelas decisões dos serviços sociais. Entendemos que isso não constitui qualquer tipo de apoio jurídico” – diz. Contrariamente à informação dada pela Cônsul Geral de Portugal em Londres que disse na comunicação social que as famílias tinham o apoio dos advogados nomeados pelo Governo Inglês. Para Pedro Proença, não é o caso. “Os advogados são nomeados pelos Serviços Sociais e são advogados que obviamente têm interesse em continuar a ser nomeados e que têm ali um conflito de interesses que não lhes permite ter uma postura diferente nestes processos. Nos processos que nós rastreamos percebemos que a conduta destes advogados é praticamente sempre a mesma. Limitam-se a recomendar às famílias que devem dizer «sim» a
tudo o que lhes for imposto e dito pelos Serviços Sociais” informa. Para as somas milionárias que as famílias têm que despender para enfrentar em Tribunal o colosso dos Serviços Sociais, o Estado responde com somas mais milionárias ainda. Quando uma criança é retirada a uma família, outro negócio começa o seu percurso. “Estas crianças tanto podem ser institucionalizadas em unidades de acolhimento que são privadas, como em famílias de acolhimento. Os valores são pagos semanalmente e por cada cabeça e oscilam entre as 600 e as 900 libras e no caso das famílias de acolhimento podem ter até quatro crianças” – revela Pedro Proença. O Palop News somou e multiplicou a informação e conclui-se que uma família de acolhimento pode auferir qualquer coisa como 156 mil libras por ano. Durante quanto tempo? “Estas crianças ficam nas famílias de acolhimento durante todo o processo. Se considerarmos que muitas destas crianças já estão numa idade
pouco atractiva para adopção e há muitos casos de crianças que são retiradas aos pais e que já estão acima da idade simpática para serem adoptadas e portanto há uma grande dificuldade em encontrar adoptantes e as crianças vão permanecendo nestas famílias de acolhimento e instituições «eternamente» até atingirem a maior idade” – afirma Pedro Proença Quanto ao negócio das agências, são outros os contornos mas a mesma fonte de rendimento. “Estas agências são muitas vezes procuradas por potenciais adoptantes para encontrarem crianças para adopção e estas agências cobram pelos seus serviços. Por outro lado, estas agências fazem acordos com os “foster carers” e com as unidades de acolhimento e recebem uma comissão por cada criança que entregam a uma família de acolhimento. Supondo que esta família recebe 700 libras por criança por semana, cerca de 250 a 300 libras são entregues à agência como comissão por ter escolhido aquela família ou unidade de acolhimento para
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receber a criança” – revela o advogado. Quanto às agências que tratam os processos de retirada das crianças e da adopção, Pedro Proença revela: “Há uma panóplia de receitas que as agências têm que resulta desta actividade. Muitas dessas agências são geridas pelos próprios funcionários dos Serviços Sociais ingleses. São as próprias pessoas que fazem a promoção destes processos que estão por trás dos relatórios de avaliação e que acompanham as famílias que depois têm no terreno interesses muito grandes com estas agências privadas no encaminhamento destas crianças” afirma o advogado. Para as famílias, começa um calvário difícil de explicar. “Logicamente que uma pessoa que está a ser avaliada por estas pessoas dificilmente poderá ter esperanças de reaver o filho porque os relatórios são trabalhados no sentido de prolongar o processo o máximo de tempo possível a institucionalização das crianças. É um esquema em circuito fechado e altamente lucrativo. Por isso não é de
admirar que hajam agências que apresentam lucros anuais verdadeiramente astronómicos, no valor de milhões de libras. Há uma agência que em 2015 apresentou resultados de mais de 120 milhões de libras de lucros. O CEO dessa agência tem uma remuneração mensal de 50 mil libras” – informa. Estas agências acabam por oferecer os seus serviços ao público com todo o tipo de anúncios em toda a imprensa. “É impressionante a quantidade de pop ups que aparecem na internet de novas agências e novas foster carers. É um negócio que dá dinheiro e aparecem como cogumelos” – diz o nosso entrevistado. Por seu turno, os funcionários públicos dos Serviços Sociais alimentam a possibilidade de passarem para o sector privado onde são melhor remunerados. “Falei com uma funcionária dos Serviços Sociais ingleses que me disse que se sentia prejudicada porque aufere mensalmente menos do que auferem colegas e ex-colegas que trabalham nas agências e a ambição dela é deixar de ser funcionária dos Serviços
Sociais para ser sócia de uma dessas agências por ser muito mais lucrativo” – diz. O início destes processos começa muitas vezes através do sistema escolar, pelo que os pais devem informar os filhos sobre todas as questões que possam despoletar a intervenção dos Serviços Sociais. “Muitas destas crianças são instrumentalizadas no sistema escolar para denunciarem os seus pais. Verificamos que grande parte destes casos partem de uma denúncia das crianças junto das suas escolas porque levaram um puxão de orelhas ou uma palmada ou porque o pai ou a mãe repreendeu a criança mais severamente. As crianças são treinadas para serem delatores dos pais sem terem consciência dos riscos que correm”. As escolas são alegadamente, um instrumento para que estes casos sejam despoletados. “Há um inquérito anual que é feito em Inglaterra junto das crianças entre os 8 e os 16 anos de idade que é alegadamente anónimo e que é feito nas salas de aula e entregues aos professores. Este inquérito
é composto por um conjunto extenso de perguntas pelo sistema de «X sim/não» e as crianças são convidadas a relatar o tipo de relação que têm com os seus pais ao mesmo tempo que são convidadas a relatar detalhes da vida privada da família para aferirem da possibilidade de haver riscos para as crianças. São mesmo questionadas
sobre a actividade sexual dos pais” – ironiza o nosso entrevistado para continuar “Já questionamos esta situação e foi-nos dito que é um inquérito anual criado desde o início da década passada e que as crianças o preenchem de forma anónima e apenas para propósitos estatísticos. Tenho dúvidas de que não haja depois identifica-
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ção. Por outro lado revela, na minha perspectiva, o clima que se vive em Inglaterra é que as crianças desde muito novas, são estimuladas a fazer queixa dos pais na escola. Para uma cultura latina em que dar uma palmada quando a criança se porta mal é absolutamente normal torna-se um risco para as famílias portuguesas” diz. Para se evitarem este género de casos, as soluções são poucas. “Ou há um trabalho muito bem feito por parte dos serviços consulares junto destas famílias para os fazerem perceber que há comportamentos que em Portugal são perfeitamente normais e aceitáveis e que em Inglaterra podem levar à intervenção dos Serviços Sociais” conclui Pedro Proença. O advogado reconhece que “desde que a comunicação social se interessou por este assunto, desde que começamos a intervir mais activamente junto destas famílias e divulgando casos que houve uma diminuição muito significativa dos casos que nos são relatados. Embora seja um período ainda curto, leva-me a crer que haja uma maior sensibilização das pessoas para identificarem comportamentos” refere. Torna-se importante informar os pais portugueses que quando os Serviços Sociais intervêm as coisas tornam-se muito complicadas. Para o nosso entrevistado, a recomendação é “que não entrem em pânico. Fomos contactados por muitas famílias que nos perguntaram se o ideal seria voltar para Portugal antes que aconteça alguma coisa. Enquanto os Serviços Sociais não aparecerem as coisas estão bem. A partir do momento em que haja uma intervenção a querer saber o que se passa em relação a uma determinada família, então aí a nossa recomendação é clara. Venham rapidamente para Portugal com as crianças porque uma vez que haja a intervenção dos Serviços Sociais ingleses dificilmente a situação é revertível e muitos problemas vão aparecer” – termina. Informado pelo Palop News que a idade criminalmente imputável no Reino Unido é de 10 anos, Pedro Proença classifica a legislação britânica. “É típico dos sistemas anglo-saxónicos. Há muitos casos de crianças que são condenadas a penas de prisão elevadas pela práti-
ca de crimes. Acho isso uma distorção na medida em que é entendimento geral a nível científico que uma criança entre os 14/15 anos dificilmente tem condições para ter uma
consciência formada à licitude ou ilicitude dos seus actos. Acho de uma violência extrema, a imputação criminal aos 10 anos. Acho quase medieval” finaliza.
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O superior interesse da criança As adopções forçadas continuam na ordem do dia e nesta edição, decidimos também saber mais sobre o superior interessa da criança. Confrontamos o psicólogo João Botas com algumas questões que se prendem com o sistema de adopção no Reino Unido.
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Numa primeira abordagem, solicitamos ao nosso entrevistado que explicasse como uma jovem com 24 anos e profissionalmente estável, tenha medo de ser mãe. “A ideia de engravidar as-
socia-se na mente feminina - tem influência sobre como foi a relação da própria com a sua mãe - Se a mãe foi fria ou distante pode levar a filha a pensar que vai ser uma má mãe ou mãe ausente” diz para ser de novo confrontado com a relação deste medo com a
adopção forçada. “O medo é estar associado a não conseguir ter uma atitude mais flexível em relação à lei. O que é que há de errado em educar uma criança? Enquanto pais, psicologicamente o trabalho nunca é bom e nunca está feito. Há sempre um caminho que nunca se fez e isso resulta numa acusação pessoal. Essa acusação permanece para sempre. Por isso, em termos da adopções quando a criança é muito jovem é importante não dar um ambiente muito desestruturado irregular ou caótico que resulta numa nova mudança de família como acontece cá muitas vezes” – diz para acrescentar “Apesar dos bebés não saberem falar e pensarmos que eles não têm a mesma percepção, o que é facto é que há um grande vínculo e assim que eles nascem, há uma grande ligação auto-
mática de cheiros toques sons que se não for estruturada e consistente, não estrutura o desenvolvimento emocional do bebé”. - O que podemos esperar de um adulto de 30 anos que foi retirado da família entre os 0 e os 3 anos? Depende do tipo de pais adoptivos e o quanto desestruturante foi ou não. Se houve muitas separações ou não. Se o trabalho dos pais adoptivos foi um trabalho cuidado, carinhoso e estruturado com amor e cuidado com as necessidades do bebé. Se não for esse tipo de modelo que é o primeiro modelo de relação humana, o que fica logo, é um tipo de vínculo desestruturado e inseguro e isso faz com que a pessoa quando se torna adulta não confie em relações humanas. Será uma pessoa desconfiada e que não confia
em ninguém. Será um adulto solitário. Pode casar um dia mas não terá uma boa relação emocional com o cônjuge e terá problemas de interacção social. Pode ser uma pessoa incapaz de confiar nos outros e em si própria em que a experiência inicial indica que o adulto falhou ao bebé. Essa repetição ao nível inconsciente está a ser inactivada quando se é adulto. Isto é a nível inconsciente e não é perceptível mas a falta de confiança está sempre lá e isto não é só em relação a outros mas também ao próprio e advém da sensação de que num minuto o pai está lá e depois deixa de estar e eu não sei onde está e tenho fome. A nível de desestruturação extrema, este tipo de vítima será uma pessoa isolada, solitária e sem capacidade de auto estima, sentido de direcção em termos de relação humana e será uma pessoa vazia em termos de relação humana até consigo próprio. Numa idade diferente vai ser determinante a beleza da vida. Todos somos diferentes e temos experiências diferentes. Não se trata de passar a vida
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a culpar os pais. O bebé que passa a criança, a adolescente e a adulto, também tem uma personalidade e isso também arrasta os seus aspectos relacionais. Quase como um jogo de troca e baldroca e a dinâmica dessa conjugação e o que é que isso faz. Há aqui algo que se de início falhar uma experiência mais positiva, tem consequências. Um bebé quando é deixado faminto durante horas não se sabe regularizar. Nós somos os piores animais possíveis. Estes episódios terão consequências no futuro da pessoa. Pessoas que não comem carne porque têm que ver com agressividade e que têm dificuldade em se auto regular. Falamos de pessoas que se auto mutilam e isto é um problema de auto regulação emocional que não consegue ser adequadamente saciada que cria a necessidade de num acto mais concreto e físico, de ver o sangue circular. Há todo um processo químico quando o sangue sai do corpo mas também de alívio da tensão e do stresse que se sente emocionalmente.
- Uma criança que é retirada à família pode no futuro, chegar a esse extremo? Exacto. E não é extremo. Tenho imensos casos que estou a trabalhar de bancários ou médicos que de vez em quando vão à casa de banho dar o seu corte físico. A um nível socialmente mais aceitável, podemos falar no copinho ao fim do dia e as pessoas não se consideram alcoólicas. Tudo isso são esquemas que usamos como soluções face a um problema que é difícil de resolver a não ser que se faça um trabalho de psicoterapia de fundo e aí dá-se o regresso às falhas iniciais, na descoberta das causas e dos traumas iniciais e encontrar soluções mais integradas. Passamos a entender que podemos falhar, que podemos não fazer as coisas tão bem sem que isso cause um pânico em que as pessoas se cortam ou querem matar alguém ou endoidecem ou porque vai ao emprego durante um período e depois desiste porque não tem confiança em si mesma e acha que não presta ou que merece mais ou que o esforço não vale a pena.
- Como se repete este conceito para quem perde o filho? O tipo de sofrimento é o mesmo ou é outro? Precisamos saber primeiro porque razão é que o filho perdido. É mais interessante saber como um pai perde um filho. Se calhar é essa a ra-
zão do medo de ter um filho. Até que ponto isso passa por problemas ou identidades culturais? Trabalhei em tempos com uma família africana a viver em Londres, num centro de avaliação para pais orientado pelos tribunais e foi interessante a forma como os in-
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gleses viram este caso. Eu tive muitas vezes que explicar que em termos de cultura angolana, o facto de as crianças ficarem ao cuidado dos avós ou pela comunidade é uma coisa normal e que as meninas aos 12 ou 13 anos já têm funções de mulher e que para os ingle-
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ses continua a ser vista como uma criança. A família acabou por ficar junta ao final de muitos anos e voltaram para Angola. Pode também acontecer que os pais foram criados de uma forma abusiva e mentalmente deficiente e aparece um ciclo que se repete e o problema passa a ser hereditário. É um modelo que é repetido pela família porque é o que aprenderam. - Apesar disso a idade de resposta criminal é aos 10 anos. Nesta idade uma criança tem noção da responsabilidade criminal? Acho que aos 10 anos uma criança tem noção do bem e do mal e do que é aceitável. Mais uma vez depende das figuras parentais. - Mas a Lei não considera as figuras parentais. Acho que há aí um parâmetro de injustiça porque penso que a relação anglo-saxónica com as crianças é um pouco cruel. Os adultos dos países do norte olham para as crianças com um sentimento de quase culpabilizar a criança quando esta ainda está em desenvolvimento. A criança pode
ter uma noção do que está ou não correto mas em termos legislativos é punitivo. - Come se explica que um país com uma ciência tão desenvolvida tenha permitido que o legislador tenha captado da ciência que uma criança possa ser punida numa idade tão inocente?
Não consigo perceber nem explicar. Na verdade aos 10 anos uma criança está em desenvolvimento. A partir dos 18 entendo mas não o entendo aos 10. Em termos legislativos, eu acho que não está correcto. Não sou inglês embora viva em Inglaterra não consigo perceber. Culpabilizam e pensam
que aos 10 anos, uma criança tem que perceber tem que saber o que está certo ou errado. Há famílias que acabam por ficar prejudicadas com este ciclo abusivo da adopção e de serem famílias onde o facto se refere. Penso que no tempo de Tony Blair tentaram introduzir escolas para pais para tentar
quebrar esse ciclo. - Em que estado está um pai quando lhe é retirado um filho? Estará em condições de responder a um teste? É preciso saber qual a razão pela qual a criança foi retirada. Se for um pai cuidadoso que deu um tabefe num filho que se queixou na escola, penso que seja uma grande imposição dos Serviços Sociais e de uma grande interferência e uma grande rapidez. Em certas famílias os serviços actuam muito rapidamente. Se calhar em outras famílias não actuam tão rapidamente como deviam. Para os pais a quem a criança é retirada é uma grande humilhação enquanto pai cuidadoso e prestador de cuidados. Pode ser muito destrutivo até porque o pai pode entrar numa depressão muito grande ou mesmo entrar numa posição agressiva e não comparecer ao Tribunal por exemplo, ou insultar o Juiz ou a supervisão. Não é um mau pai. O problema é que neste país, todo o comportamento está a ser estudado. - Onde fica a nossa parte animal?
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Exactamente. E depende também do técnico que está a estudar o caso se tem capacidade para se aperceber das dinâmicas. - Isso significa que há técnicos que não têm competências para o desempenho? Os serviços têm vindo a ser destituídos cada vez mais com psicoterapeutas de crianças, psicólogos por cada vez haver mais cortes no NHS (Serviço Nacional de Saúde) e até mesmo a nível dos juízes ou a qualidade dos relatórios apresentados pelos assistentes sociais e análises das avaliações que não tocam só esses aspectos do pai que deu o tabefe mas que depois não olham para tudo o resto. Tenho colegas que estão muito preocupados com os cortes financeiros nos serviços mentais e com o que tem vindo a ser noticiado que a saúde mental infantil é preocupante porque as crianças não estão a ser bem acompanhadas e os pais também não. As famílias não estão a ser bem apoiadas e isso deixa certas famílias vulneráveis por causa da tal humilhação de sentimento de culpa por terem feito algo errado e estão a ser avaliados. Tudo isso pode desequilibrar as pessoas e por vezes fazer tudo ao contrário porque nes-
sa situação o Mundo fica virado do avesso e as pessoas ficam contra o mundo. - Quando a justiça actua torna-se criminosa? Exacto. Em certas famílias sim, noutras famílias torna-se permissiva e cruel como foi o caso do Baby P onde havia dados concretos que a criança tinha imensas mazelas e aspectos óbvios da manipulação dos pais e que foram sempre ignorados por médicos e técnicos de saúde. No caso do Baby P acho que os profissionais que estavam a acompanhar a família não quiseram ver o nível de agressividade. Nós não queremos acreditar que uma criança seja tratada daquela forma mas também há pais com perturbações mentais e nesses casos, é melhor tirar as crianças assim que nascem e dar a uma família adoptiva que trate a criança com respeito, amor e carinho. Há bons testes hoje para avaliar as pessoas e perceber que tipo de relacionamento os novos pais vão ter com a criança. Não é 100% fiável mas oferecem muito boas garantias. - Podemos pensar que há pessoas que adoptam uma criança como quem compra um animal de estimação? Podemos. Hoje em dia basta
ter dinheiro e até pela internet se pode fazer o negócio. - A saúde mental tem uma fronteira? Tem e é fácil passar especialmente a este nível do abuso emocional. Em alguns destes casos são os serviços que abusam a família, noutros é a família que abusa da criança. - As duas situações podem coexistir? Podem coexistir porque a família quase que instiga os serviços. É quando a família precisa de ajuda para tomar conta das crianças. Pode-se tornar uma situação dinâmica e complexa. Lembro-me do que está a acontecer na Ásia sobre o abuso sexual de famílias inteiras a abusarem de bebés e crianças muito novas. Sei que se está a fazer um trabalho de fundo para quebrar este ciclo. Não conheço em detalhe o mundo asiático e não sei se são só as famílias ou se há outras entidades a permitir que isso exista. - A raça humana perdeu o respeito por si própria? Não sei se perdeu o respeito por si própria mas sei que há um grande desespero. O modelo capitalista é muito redutor em termos emocionais. O Mundo está a mudar mais depressa do que é humana-
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mente possível entender. Acho que os níveis de desespero e de violência emocional têm aumentado. É o stresse, é o excesso do consumo de bebidas alcoólicas, é a depressão, é a vontade de querer mal a tudo e todos porque se está zangado, socialmente há uma certa desumanização. A mim assusta-me as imagens que são transmitidas na televisão de guerras e acidentes. Cada vez mais acho que são concretas e que antes eram mais editadas. Acho que estamos a ficar anestesiados ao sofrimento humano. - Estamos a criar resistências? Sim estamos. Hoje ver outra pessoa sofrer incomoda menos. Reagimos fazendo compras, bebendo, optando pela diversão e emocionalmente deixamos de estar em contacto com esses sentimentos que são mais difíceis. Cada vez mais, há menos mecanismos para as pessoas falarem disso e integrarem de uma maneira mais salutar o nosso mundo emocional. - Estamos a perder emoções?
Acho que o nível de desespero, agressividade e frustração são maiores. Temos hoje uma certa falta de respeito no sentido da crueldade e um diálogo mais honesto e sincero ao que é ser humano. - Passamos a ter uma violência financeira? Financeira, política, ou emocional como aconteceu com o Brexit em que uma deputada foi assassinada e isso foi pouco levado enquanto ambiente. O assassino, de certa forma, virou-se para ela como uma mãe que não tomou conta dele, que não o punha em primeiro lugar e que estava mais preocupada com os outros como os refugiados e ele disse “Primeiro eu - primeiro os ingleses”. É um grito psicótico de quem está absolutamente transtornado porque não é fácil matar outro ser humano mesmo em teatro de guerra. Os níveis de violência estão a tornar-se mais permissivos e o desespero vem também da falta de figuras quase parentais com mais capacidade reflectida, de contenção e orientação que apoie mais as estruturas e a regulação das emoções.
- Esta regulação abre a porta a muitos negócios? Exacto. Os negócios são feitos precisamente nessa tentativa de regular. É um caminho em que vamos investir, vamos à procura e ao mesmo tempo estamos a revelar alguma coisa com esse negócio. Seja a nossa segurança financeira porque por detrás de uma transação há sempre um aspecto emotivo que é importante. - No caso da adopção forçada? Pode tornar-se num mercado. Há postos de trabalho que dependem desse mercado que exista para que as pessoas sejam pagas ao fim do mês. Pode haver um conflito de interesses e por isso considero interessante que haja estudos sobre que tipo de famílias que são abordadas pelas assistentes sociais, que tipo de assistentes sociais e também o nível social das famílias. Então e as famílias de nível social elevado? Eu vejo na minha clínica privada casos de pais qualificados mas que por exemplo fecham a filha em casa a sete chaves porque querem ser protectores ou que
não querem que a filha tenha actividade sexual independente e são pessoas qualificadas e de altos níveis de rendimento. Tenho um caso de uma mãe que proíbe a filha de ler os livros do Harry Potter porque a
filha tem que estudar e queima os livros e esses pais não são incomodados pelos assistentes sociais e não há registo de adopção forçada. Há aqui todo um esquema social e funcional que mantém o aparato.
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Promover Portugal através do vinho Palop News Londres
A Portugalia Wines, uma das maiores e mais antigas empresas britânicas com chancela portuguesa, reuniu num conhecido hotel do centro de Londres, um conjunto de empresários ingleses para uma prova de vinhos. “O mercado vitivinícola vai conhecer uma nova realidade já a partir de 1 de Abril com a entrada em vigor de nova legislação” disse João Pedro ao Palop News. Para este gestor, o mercado
de bebidas alcoólicas tem vivido os últimos anos com alguma anarquia. “Estimo que principalmente com o mercado português e italiano possa haver uma cota de 80% de comércio irregular e pelas informações que disponho, mais de um quarto desse movimento vai desaparecer com a entrada em vigor da nova legislação” - informa. Para alguns empresários portugueses contactados pelo nosso jornal, trata-se de uma situação profundamente “injusta para as empresas que cumprem com as suas
obrigações fiscais” revela o nosso entrevistado. Esta forma de importar e distribuir o vinho português “não favorece o público, já que a receita escamoteada não se reflecte no valor de venda ao cliente final” - acrescenta outro empresário português que prefere não ser mencionado. Para lá da rotina dos últimos anos, a nova legislação vai acrescentar dificuldades ao mercado paralelo pelo que para quem está no comércio de vinhos, convirá reforçar a atenção às novas regras que entram em vigor a 1 de Abril. Portugal, devido a sua reduzida dimensão territorial, está mais apostado na promoção dos vinhos de maior qualidade e tenta um consumidor mais exigente sob o ponto de vista do palato e não tanto pela referência do preço. As empresas de bandeira portuguesa vão-se assim afastando aos poucos do mercado da saudade, na procura de novas avenidas de encontro ao mercado britânico. Este evento levado a cabo pela Portugalia Wines, é mais um passo no reforço da posição da empresa que tende a ampliar a cota de mercado junto da distribuição.
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De montanha em montanha até ser Serrana Adelino Mendes foi mais um português a chegar à Capital de Inglaterra disposto a encontrar uma vida diferente. Duas décadas depois, garante tê-la encontrado numa esquina de Stockwell, um dos locais com maior concentração de portugueses em Londres. Hoje, festeja o 11º aniversário dessa aventura que nasceu em Lambeth e que dá pelo nome de Serrana e alberga um café e um supermercado numa simbiose de espaços. Palop News Londres
Iniciou o seu primeiro negócio paredes meias com o British Museum a trabalhar com um italiano que foi a sua escola para os negócios em Londres. “Foi um patrão e um amigo. Quase um pai” - diz Adelino Mendes a desfolhar memórias - “Entrei a lavar loiça e fazia o possível para ter a pia vazia rapidamente. De pouco adiantava. Assim que estava vazia, vinham as polacas e enchiam a pia de novo” - diz. Foi este italiano que reconheceu a confiança e a fidelidade do empregado que mais tarde lhe daria as ferramentas para arrancar com a sua própria actividade comercial. “Era uma pessoa desconfiada e atenta. Nessa época ganhamos o prémio da melhor casa de sandes de Londres. Por vezes, deixava-me levar as gorjetas para casa e trabalhei com ele seis anos” afirma Adelino Mendes. Com a doença do patrão italiano, Adelino Mendes dá o primeiro salto e aluga um espaço com 150 lugares sentados. “Pagava 3 mil libras de renda por semana e a casa continuava a não ser minha. Deus ajudou-me a sair deste compromisso” - diz. “Parei a actividade comercial por algum tempo e fui trabalhar para o Frescos” - revela. Foi aqui
que o patronato terá convencido Adelino Mendes a uma aventura comercial. Desse tempo, recorda um episódio que deixou marcas. “Todos os dias chegava às 6 da manhã. Um dia, cheguei com um ligeiro atraso de dois minutos e mandaram-me sentar e assim fiquei todo o expediente. Foi um momento muito duro. Nunca mais cheguei atrasado. Foi com esta gente que cresci e aprendi muito do que sei hoje” - revela para acrescentar - “Todos os meus colegas desse tempo têm hoje os seus estabelecimentos. Foi uma escola” - finaliza. Para o empresário, o segredo está em manter “uma boa relação com os colegas de trabalho e a dedicação e fideli-
dade à empresa. No dia que me despedi, recebi uma prenda” adianta. A primeira aventura começou em Victoria no centro de Londres onde hoje existe a House of Fraser. “Como no resto da vida, foi importante o apoio da minha família e a minha mulher foi uma ajuda preciosa” - confessa. Ainda em Victoria, Adelino Mendes lança os olhos aos portugueses em Stockwell e pouco tempo depois tomava como seu o restaurante “Conquistador” e logo a seguir, com a saída de um banco português numa esquina, haveria de aparecer a Serrana que agora completa 11 anos. Em pouco tempo, o empresário detinha três estabelecimentos.
Nem tudo terá corrido bem. O restaurante “foi o meu maior erro” - confessa. Perdeu dinheiro, viu baloiçar a estabilidade familiar e seguiu em frente com a força de que queria conseguir. Victoria ficou para trás mas não esquecida. “Ainda hoje quando visita Victoria as clientes lhe oferecem prendas e chamam por ele” - diz Vera Ramos, filha do empresário para acrescentar - “Quando não temos maldade não cultivamos a maldade”. Acabou por restar apenas o estabelecimento de Stockwell que viria a crescer para uma dimensão que hoje se conhece. “Com o tempo foi entrando pessoal. Part-time ao início, passaram mais tarde a full-time e hoje são 10 as pessoas que trabalham no estabelecimento” - revela. Há cinco anos atrás as designers inglesas que ocupavam o espaço ao lado, decidiram mu-
dar deixando o espaço livre. A Serrana cresceu para o dobro. Loiças, congelados, mercearia, charcutaria e sobretudo vinhos, acabaram por entrar num lote de produtos que hoje atende a milhares de portugueses que residem em Londres mas é na charcutaria que a Serrana assenta uma boa parte dos seus argumentos com os queijos e enchidos de eleição. “São os produtos da nossa nostalgia que se tornam uma referência” - diz Vera Ramos. As reclamações vão para o Município que parece não acarinhar as empresas portuguesas com a deferência merecida. “Nunca dei problemas ao «Council» e creio que eles poderiam olhar para nós com maior disponibilidade” - reclama Adelino Mendes. Sem dias de encerramento ao longo do ano com excepção para o dia de Natal, a Serrana
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prepara-se para permanecer no local pelo tempo possível. A nova legislação que desobriga os senhorios de renovar o “lease”, pode também ser a oportunidade de continuar a crescer em função dos estabelecimentos circundantes. Para o empresário, crescer é sempre o melhor caminho. “Quem sabe um dia o vizinho do lado vai embora e podemos continuar a crescer” - pergunta. O empresário que optou por investir em Portugal, olha agora para Londres como uma oportunidade maior e percebe que é em Londres que vai continuar. “Quando vou a Portugal canso-me depressa da falta dos clientes e da família” - revela para acrescentar - “Em pouco tempo quero voltar”. Será tempo para pensar de outra forma e olhar um futuro diferente? “Não penso na reforma. A palavra reforma é uma palavra idosa” - diz o empresário que afirma que vai continuar a trabalhar como até aqui e a contar com o apoio da filha que o acompanha na gestão das empresas. Apesar dessa vontade, o empresário admite que os negócios estão já maduros
o suficiente para poderem continuar, mesmo na sua ausência mas não cede. “Eu preciso de viver as empresas e acredito que as empresas precisam de mim” - conclui. O êxito da Serrana é para o empresário a simbiose de uma personalidade e um estilo que só se interpreta de uma forma. “O que me leva a confiar nas pessoas, é o facto de eu confiar em mim. Confio nas pessoas que trabalham comigo porque enquanto fui empregado transmiti essa mesma confiança. Confiro as contas da empresa de forma semanal. Não sinto um apelo diário pela gaveta do dinheiro. Sei que as pessoas que trabalham comigo merecem a minha confiança. É essa mesma confiança que sinto que os nossos clientes têm em nós” - afirma. Sobre a massa empresarial portuguesa no Reino Unido, Adelino Mendes não faz por menos: “São tudo boa gente. Várias vezes tentaram prejudicar a Serrana mas quando somos fortes, quando temos uma família forte, quando somos fieis aos nossos fornecedores e aos nossos clientes todas as montanhas são ultrapassadas. Fomos visi-
tados várias vezes, fiscalizados de forma intensa mas sempre apresentamos o nosso trabalho dentro da Lei. O respeito, é também ele uma forma de confiança” - diz e acrescenta - “Cada vez que me empurram, é força que me dão”. Quanto aos portugueses no Reino Unido, Adelino Mendes
diz que são fantásticos. “O importante é sermos capazes de ajudar. A generalidade dos portugueses que conheço são solidários. Há outros um pouco diferentes mas são poucos”. Questionado sobre passar a operar também fora de Londres, Adelino Mendes recusa a ideia. “Penso noutros espaços mas
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sempre em Londres. Gosto de estar perto da família. Acho que a minha mãe é culpada por eu ser assim” - risos. Quando perguntamos a quem se deve o êxito, a resposta é pronta. - Aos nossos clientes sem dúvida. Sem eles nada seria possível.
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Comércio português cresce a Sul de Londres Palop News Londres
Abriu em Norbury mais um estabelecimento de produtos portugueses, vocacionado para o mercado da saudade. António Lopes e Armando Oliveira inauguraram o novo espaço “Sabores Intercontinental Delicatessen” situado na London Road. Os recentes investimentos imobiliários na margem Sul do rio Tamisa tem levado a comu-
nidade portuguesa a deslocar-se mais para Sul da cidade, aproximando-se de Croydon e é neste sentido que os investimentos do mercado da saudade se têm movimentado como acaba de acontecer, aumentando consideravelmente o volume de estabelecimentos na zona que na última década atingiu um crescimento de mais de 1.000% na última década. A equipa de gestores conta com António Lopes que tem já uma vasta experiência no Mer-
cado tendo no seu percurso, investimentos produzidos em Camden Town e mais tarde em Lambeth onde ainda se mantém. Já Armando Oliveira cuja experiência vem da importação de vinhos, faz a sua estreia no negócio aberto ao público. O estabelecimento conta com diversos produtos desde, a mercearia fina, congelados, vinho, charcutaria e café. O estabelecimento está situado no 1451 London Road—Norbury—London SW16 4AQ.
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Histórias de vida - José Guerreiro Deu-lhe o nascimento um nome de família a que parece ter feito jus a vida toda. Regressou definitivamente a Portugal depois de 45 anos em Londres. José Guerreiro regressa definitivamente a Portugal aos 88 anos e uma vida de trabalho deixada para trás. Palop News Londres
Nasceu em Faro em 1929 e veio para Londres em 1971 trazido pela mão de um português que era proprietário do Restaurante Caravela e gerente do bar de um hotel em Victoria. Veio um mês antes da esposa recentemente falecida em Londres. Quando chegou, tinha já o seu lugar assegurado no Grovesnor Hotel, o mais antigo hotel de Londres e uma das maiores referências hoteleiras da capital Britânica. “Não sei como foi o 25 de Abril em Portugal. Não ligo a essas coisas e não gosto, assim como não gostei que tivessem trocado o nome da ponte Oliveira Salazar. Fiquei danado” - recorda. A esposa chegou também já com emprego assegurado no mesmo hotel onde estava José Guerreiro e se a esposa permaneceu no emprego por 20
anos, José Guerreiro ficou por 45 anos. “Reformei-me aos 65 anos e a Administração pediu-me para ficar até ao 70 o que veio a acontecer. Depois pediram-me para continuar após os 70 mas eu recusei” - lembra. Quando chegou ao hotel, foi trabalhar para a cozinha e um mês depois, tinha já a companhia da esposa. Mais tarde vieram as duas filhas do casal. No emprego, foi transferido para a “cela”, lugar de onde saiam as bebidas e as refeições para os clientes do hotel e onde permaneceu até ao último dia de trabalho. Durante esse período, o casal saia de casa para o emprego e do emprego para casa. “Vim para cá para trabalhar” reforça. Quanto a eventos, José Guerreiro deu sempre a preferência aos eventos que organizava em casa. “Os aniversários em minha casa sempre foram banquetes. A eventos públicos
lembro-me de ter ido ao Dia de Portugal umas oito vezes. Deixei de ir por causa das sessões de pancadaria que sempre aconteciam. Deixei de ir” - afirma. Este português que regressou a Portugal e deixa Londres em 2017 deixa uma filha em Londres. A outra vai acompanhar o pai. “Já lá tem emprego” - revela. Os seis netos que tem, são todos eles nascidos em Londres. Ao longo dos anos, nunca sentiu atracção pela vida mundana. “Jogava em casa à bisca e ao dominó com a minha mulher” diz o português que regressa a Faro. “Gosto da minha terra, gosto do clima embora não possa ir à praia por recomendação médica mas vou poder ver a minha irmã de uma forma mais frequente e os meus amigos” - prevê José Guerreiro que é também associado de uma agremiação
de reformados e por onde partilha o gosto das viagens. “ F a ç o muitas excursões ao Norte de Portugal e a Fátima, já fui três ve-
Luanda Grill
zes. Gosto muito da minha terra” - diz. Quando chegou a Londres, existia apenas uma casa a vender produtos portugueses. “Juntava-me com amigos que tinham carro e íamos juntos fazer as compras na Casa Lisboa. Era a
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única que havia” - lembra para acrescentar - “hoje existem muitas lojas e muitos portugueses. No hotel onde trabalhei, havia apenas três portugueses e uma mistura muito grande de diversas nacionalidades” - afirma. Sobre o Brexit, fala de forma desconfiada. “Não acredito que corram com a imigração. Quem é que vai trabalhar? Os ingleses? Esses querem é bebida e descanso. Há quem receba o
dinheiro do Governo e continue a dormir debaixo das pontes” afirma. Depois do seu regresso a Portugal, José Guerreiro admite voltar a Londres de visita para ver a filha que cá fica e os netos “A minha filha veio cá fazer 11 anos quando chegamos. Nunca gostou de Londres e do clima da cidade. ” - afirma. José Guerreiro, o português que viveu em Londres 45 anos e não aprendeu a falar inglês.
Brasil: Polícia Militar Silenciada Leis usadas para suprimir demandas por reforma policial. As autoridades brasileiras devem reformar leis que têm sido usadas para impor punições desproporcionais a policiais militares que se manifestam publicamente para defender mudanças no modelo policial ou fazer reclamações, disse a Human Rights Watch. PN Londres
“Um país com quase 60.000 homicídios por ano precisa urgentemente considerar novas abordagens à segurança pública”, afirmou Maria Laura Canineu, diretora do escritório Brasil da Human Rights Watch. “Aqueles que enfrentam diariamente o crime nas ruas podem oferecer perspectivas valiosas sobre as políticas de segurança e reforma policial, e devem
ter o direito de expressar suas opiniões sem o receio de serem punidos arbitrariamente”. Os 436.000 policiais militares do Brasil exercem o policiamento ostensivo nas ruas, uma atividade de caráter essencialmente civil, mas estão sujeitos à jurisdição militar por serem técnicamente considerados forças auxiliares do exército. O código penal militar brasileiro e diversos códigos disciplinares estaduais impõem amplas limitações à liberdade de expressão
“Sei o suficiente para me orientar. A minha mulher aprendeu o inglês porque trabalhava só com ingleses. Eu trabalhei com uma mistura de nacionalidades. Aprendi o suficiente para me «desenrascar» e para manter o meu trabalho. Agora regresso a Faro onde tenho outro clima e onde gosto de estar” - finaliza. Por nós, desejamos boa sorte ao Guerreiro que foi guerreiro ao longo de 45 anos. dos policiais. Policiais que excedem esses limites podem acabar sendo presos conforme determina o código penal militar. De acordo com os códigos disciplinares, os comandantes da polícia militar também têm amplo poder discricionário para impor punições severas. Segundo o artigo 166 do código penal militar, criticar um superior ou uma decisão do governo configura crime com pena de até um ano de detenção. Incitar à “indisciplina” é passível de punição de dois a quatro anos de reclusão de acordo com o artigo 155. Códigos disciplinares estaduais que regulam a conduta de policiais militares em serviço, fora de serviço e da reserva contêm infracções similares, passíveis de punição de até 30 dias de detenção e expulsão da força policial. Essas condutas infraccionárias são definidas de forma tão ampla que permitem punições severas completamente desproporcionais à gravidade dos actos – e, em alguns ca-
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sos, é exactamente isso o que ocorre. As leis internacionais de direitos humanos conferem aos países considerável – embora limitado – poder discricionário para impor restrições à liberdade de expressão de membros das forças de segurança. Elas não autorizam, no entanto, que autoridades imponham sanções desproporcionais à gravidade das infracções. Darlan Abrantes, um policial militar do estado do Ceará, foi condenado a dois anos de prisão em Julho de 2016 após publicar de forma independente um livro afirmando que a política militar deveria ser desmilitarizada. Um juiz substituiu a pena privativa de liberdade por liberdade condicional, mas ele já havia sido expulso da polícia militar do estado em 2014 por causa do livro, o que destruiu sua carreira. Outros policiais também disseram à Human Rights Watch que sofreram punições arbitrárias como retaliação por terem manifestado suas opiniões de uma forma que desagradou seus superiores, e que não tiveram acesso a um sistema recursar efectivo e imparcial dentro da polícia militar. Autoridades brasileiras devem reformar as leis para garantir que qualquer punição imposta a policiais militares que excedam os limites legais à liberdade de expressão seja proporcional à gravidade da infracção cometida, disse a Human Rights Watch. As leis devem garantir que todos os policiais tenham acesso a um sistema recuperável efectivo e imparcial.
As autoridades devem considerar também se é necessário e apropriado que os policiais militares brasileiros estejam sujeitos aos limites relativos à liberdade de expressão impostos pelo código penal militar, que data de 1969 e pelos códigos disciplinares dos estados, ou se um sistema jurídico menos restritivo deveria ser adoptado, conforme as normas internacionais e regionais de direitos humanos. Actualmente há diversas propostas de reforma nesse sentido, que resultariam em um policiamento mais efectivo e responsável perante a sociedade. Elas incluem iniciativas legislativas que tramitam no Congresso propondo desvincular a polícia militar do exército e abolir a detenção administrativa, ou ainda propostas nas esferas estaduais para reformar os códigos disciplinares. As punições excessivamente severas aplicadas contra alguns policiais têm um grave efeito inibidor em outros membros da força, que frequentemente se abstêm de expressar sugestões ou opiniões sobre reformas da polícia por medo de represálias, disse a Human Rights Watch. “Policiais podem ser presos e ter suas carreiras destruídas por expressarem opiniões que desagradem seus comandantes”, disse Maria Laura Canineu, diretora do escritório Brasil da Human Rights Watch. “Essas punições são completamente desproporcionais a qualquer que seja a motivação das autoridades em limitar a liberdade de expressão dos policiais”.
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Brexitmania
Toda a Europa acordou incrédula quando em 24 de Junho de 2016 se verificou que o referendo tinha optado pela saída do Reino Unido da União Europeia a que o Reino Unido pertencia desde 1973 também pela “mão” de um referendo que teve o apoio de dois terços do eleitorado. Já em 1975 tinha sido realizado um referendo com um resultado que apoiou a permanência do Reino Unido na EU. PN Londres
Este referendo foi usado como argumento na campanha eleitoral que deu a vitória a David Cameron que se arrisca a inscrever o seu nome na história como o homem que pode ter destruído duas uniões. Poucos dias antes do referendo, uma deputada Trabalhista favorável à permanência do Reino Unido, foi assassinada com dois tiros no Norte de Inglaterra. O agressor terá alegadamente gritado “Britain First”, nome de um movimento anti-imigração. De resto, as relações entre a
EU e o Reino Unido nunca foram pacíficas. O Reino Unido nunca aceitou integrar a moeda única nem fazer parte do espaço Schengen e no Parlamento Europeu o Reino Unido sempre foi visto como um parceiro complicado e difícil para a manutenção da União. União Europeia amputada A União Europeia fica para já, amputada com a saída do seu maior poderio militar. Pese embora a existência da NATO que nos leva a considerar as relações ainda pouco claras, entre a EU e a nova Administração de Donald Trump. Recorde-se que o Presidente dos EUA se recusou a cumprimen-
tar Angela Merkel aquando da sua visita à Casa Branca, o que deixa adivinhar um clima pouco simpático entre Bruxelas e Washington. O Reino que se separa O tabuleiro das negociações para a saída do Reino Unido da União, não se fica apenas pela negociação com Bruxelas. Escócia e Irlanda do Norte, são a dor de cabeça interna com que Theresa May terá que se defrontar. A Primeira-Ministra britânica está a braços numa esgrima com Nicola Sturgeon, Primeira-Ministra da
Escócia que promete tudo fazer para manter a Escócia na União Europeia nem que para isso tenha que convidar os escoceses para um novo referendo sobre a independência. Outra leitura política que é que na verdade, o Brexit perdeu em termos eleitorais já que dos cinco países que votaram no referendo, três deles votaram pela permanência e este
dado pode ainda vir a ser chamado ao Parlamento em Westminster. Imigrantes como moeda de troca Os imigrantes residentes no Reino Unido entraram em pânico no dia seguinte ao referendo. Ninguém, nem mesmo Da-
vid Cameron, Nigel Farage ou Boris Johnson, tinham previsto que o referendo pudesse ter o resultado que se apurou. Imediatamente começou uma corrida à documentação que assegure a permanência no Reino Unido e na mesma s e mana, o tratamento de um do-
cumento que tem um custo de £65.00 teve por parte de algumas empresas, um valor redondo de três mil libras. Poucos dias depois do referendo uma empresária de serviços confessava que tinha mais de cinco mil pedidos para o Cartão de Residente. Muitos dos imigrantes gastaram vários milhares de libras para garantirem que não sejam deportados do Reino Unido. Vários membros do Governo de Portugal se desloca-
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ram ao Reino Unido (Londres e Manchester) e as visitas dos deputados pela imigração Circulo da Europa (Paulo Pisco e Carlos Gonçalves), tornaram-se mais frequentes que na última década. Até mesmo o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa acabou por visitar a Comunidade Portuguesa em Londres para se inteirar do que estava a acontecer com os portugueses no âmbito do Brexit. Os imigrantes sentem agora que estão a ser usados como moeda de troca nas negocia-
ções da saída do Reino Unido da EU. Supostamente, também os cidadãos britânicos que residem nos países da União Europeia sentem o mesmo. Numa primeira análise, os ingleses que vivem fora do Reino Unido foram impedidos de votar no referendo, um assunto que os toca directamente. Calcula-se que em Portugal vivam mais de 40 mil ingleses e em Espanha mais de meio milhão. Segundo rumores a circular nos mentideiros da imigração em Londres, presume-se que no tabuleiro das negociações
estejam também os ingleses a viver nos países da Europa que falam numa população britânica em idade avançada que deixa antever diversos problemas de saúde e cujos custos poderão ser imputados ao Reino Unido. O paradoxo parece ser que também o Parlamento em Westminster deixa sair a informação de que os britânicos que residam fora do País há mais de 5 anos, tenham perdido o serviço de saúde gratuito do NHS (National Health Service). O homem que destruiu duas uniões? David Cameron anunciou o referendo em plena campanha eleitoral e mais tarde foi chamado a cumprir a sua palavra. Acabou a fazer campanha pela permanência do Reino Unido e perdeu, o que acabou por ditar a sua demissão como Primeiro-Ministro dando o lugar a Theresa May que assim subiu ao cargo sem que para isso tenha sido eleita. Apanhado com o nome do pai no caso dos Panamá Papers, David Cameron não resistiu e renunciou ao cargo, acção que iria alterar o elenco governativo do Reino Unido. O percurso do Brexit São várias as propostas que têm vindo a público, apontando soluções para o Reino Unido no período pós-Brexit. Nenhuma delas porém está ainda dada como definitiva. Muitas empresas ameaçam sair do Reino Unido e as instituições europeias preparam a sua saída de forma irreversível. Uma das propostas postas a circular passa por penalizar as empresas que contratem imigrantes com o valor de mil libras/ano, por cada trabalhador contratado. As empresas que assentam o seu quadro de pessoal maioritariamente com
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a imigração fazem as contas e muitas delas têm vindo a revelar que caso esta proposta seja aprovada, prometem sair do Reino Unido. Londres, conhecida como a capital financeira da Europa, corre o risco de deixar de o ser passando a primeira praça financeira europeia para outro país da União. Portugal está a formalizar várias propostas para cativar estas empresas a operar no seu território e o Ministro da Saúde anunciou já a candidatura para a instalação do Observatório Europeu da Ciência. O empresário britânico e dono da Virgin Media, Richard Branson, admite deslocar o seu império para outro país da Europa até porque a generalidade do seu quadro de pessoal é composto por imigrantes. “É mais fácil trabalhar com os imigrantes e beneficiar dessa mistura do que trabalhar com ingleses” – afirmou o empresário. Por outro lado, o discurso político insiste em que a massa crítica é sempre bem-vinda ao Reino Unido ou seja, o Reino Unido continua disponível para aceitar a imigração que possua qualificações profissionais ele-
vadas. Londres assume querer manter os cérebros europeus e dispensar a mão-de-obra menos qualificada o que levanta outro problema. Num recente programa televisivo num debate entre diversas personalidades, algumas opiniões defendem que a imigração por si não incomoda os cidadãos britânicos. O que estes participantes no debate referiram é o custo de mão-de-obra, acusando os imigrantes de trabalharem por um custo inferior ao do trabalhador britânico o que deixa estes na posição de terem que trabalhar pelo mesmo custo dos imigrantes ou ficarem no desemprego. E agora? O que se espera que vai acontecer e porquê? Na verdade, ninguém sabe. As páginas das redes sociais de vários deputados, nada dizem sobre decisões efectivas para a questão da negociação do Brexit entre o Reino Unido e a União Europeia. Sabe-se que existe um livro branco para acolher as propostas para as negociações mas não transparece qualquer informação sobre o que possa estar como garantido. Garantida, está a recomendação para que todos
os imigrantes peçam do Cartão de Residência Permanente que para já divide dois tipos de situação, os imigrantes que tenham mais ou menos de cinco anos de residência no Reino Unido. Alguns especialistas referem que o Home Oficce (Entidade do Governo que gere a imigração) pode levar até 50 anos para tratar os quase 4 milhões de pedidos que se esperam deiam entrada durante as negociações do Brexit. Rumores apontam que as negociações podem demorar mais de 10 anos, podendo vir a sofrer diversos adiamentos ao longo do percurso. O jornal The Guardian publicou recentemente que um terço dos pedidos do Cartão de Residência têm estado a ser recusados, alguns por falta de pagamento de impostos, outros porque o candidato não cumpriu os cinco anos de residência. Já o Sunday Times publicou que está a ser considerada a possibilidade de emissão de vistos por cinco anos mas sem acesso ao sistema de Segurança Social no Reino Unido. Os cidadãos que consigam obter o desejado Cartão de Residência Permanente podem candidatar-se à nacionalidade britânica após um ano. Depois que se tornou conhecido um caso de uma cidadã holandesa a residir no Reino Unido há 24 anos e a quem foi recusado o Cartão de Residência, outros casos têm vindo a público. Uma engenheira foi notificada da recusa da sua
candidatura ao cartão de Residência permanente e informada que deveria providenciar a sua saída do Reino Unido, além de não poder reclamar da decisão nem apresentar queixa junto das autoridades britânicas. A maior consequência no imediato são os relatos de diversos casos de xenofobia a que se assiste um pouco por toda a Inglaterra com excepção para Londres, onde reside a maioria da população imigrante no país. Em jeito de conclusão, podemos apenas pensar que ter ou não ter o cartão de residência é agora uma questão de lotaria. Os dados estão lançados. O regresso não anunciado Uma das maiores preocupações que os portugueses residentes no Reino Unido apontam, vai de encontro às soluções que a Europa e nomeadamente Portugal, pos-
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sam ter em relação ao seu regresso. Que solução oferece Portugal aos portugueses que tenham que regressar a Portugal? Como vai o Governo reagir em relação aos portugueses que tenham que regressar em situação forçada? Que mecanismo tem a Europa para responder a uma demanda de 3 milhões de europeus a viver como imigrantes no Reino Unido? Se a média se mantiver na taxa de recusas, cerca de 300 mil portugueses podem ter que abandonar o Reino Unido, apesar de Portugal não estar ainda no top 10 das recusas, situação que pode ainda ser alterada. Muitos portugueses afirmam ainda que não querem viver num país onde não são desejados e esperam para ver o que vai acontecer. O futuro está agora mais incerto que nunca.
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Manifestação em Londres
taram-se com bandeiras da União Europeia no dia em que esta festejava 60 anos desde a sua fundação e cartazes com Palop News os mais diversos tipos de menLondres sagens a apoiar a manutenção Muitos portugueses partici- da residência dos imigrantes param na manifestação a 25 europeus no Reino Unido. Várias bandeiras portuguesas de Março de 2017, pelo direito a participarem nos termos puderam ser vistas entre os grida saída do Reino Unido da tos de ordem dos manifestantes União Europeia cujo processo que começaram a marcha juncomeçou em 23 de Junho de to ao Hyde Park até Westminster onde se situa o Parlamento 2016. No lote das reivindicações, Britânico. Ainda no início da os manifestantes realçam que marcha, os manifestantes fizea participação no Mercado ram um minuto de silêncio pela Único implica os direitos pela memória das vítimas do atentacidadania para os cidadãos do da quarta-feira anterior que europeus poderem continuar matou cinco pessoas e feriu 50. A Organização denominada a residir no Reino Unido. Os manifestantes apresen- “United for Europe” entende
que a sociedade civil britânica deve ser consultada e que a palavra final sobre o Brexit deve ser dada ao Parlamento através da consulta à população. Na impossibilidade de frear a saída do Reino Unido da União Europeia, os manifestantes pretendem aliviar a rigidez de alguns discursos que se mostram particularmente duros com a imigração. Entre as diversas questões que a imigração tem levantado, uma delas prende-se com o facto de o Reino Unido assumir o tempo de descontos feito no Reino Unido. Outra das preocupações prende-se com o facto de haver a ameaça de várias empresas deixarem o Reino Unido, o que vai contribuir para o desemprego no país. Muitas famílias temem neste momento o que possa acontecer, prevendo que o Brexit possa contribuir para a separação de famílias, algumas das quais com membros nascidos em Inglaterra. Alguns cartazes sugeriam que os imigrantes estejam a ser usados como moeda de troca nas negociações para o Brexit que resulta do referendo realizado em 23 de Junho de 2016 e que deixou a Europa suspensa do que poderá acontecer com o primeiro país da União Europeia a pedir a saída da União.
Gilberto Ferraz o depósito da história TERRAS DE S. MAJESTADE que Londres vai já na sua segunda edição (edição revista). Neste trabalho, Foi jornalista da BCC durante Gilberto Ferraz relata o evoluir da quatro décadas tendo mesmo vida em comunidade pelos porsido presidente - e o primeiro tugueses que se foram alojando estrangeiro a ocupar semelhan- no Reino Unido, particularmente te cargo - do Sindicato dos (jor- em Londres. Como jornalista, foi nalistas) Profissionais da BBC, observador interventivo no caso uma das maiores catedrais da invasão de Timor Leste pela mundiais do jornalismo. Ao lon- Indonésia tendo sido alvo de go da sua carreira, entrevistou contactos privilegiados com a personalidades como George resistência timorense e muitos W. Bush, Margaret Thatcher, dos políticos que na época foTony Blair ou a Princesa Diana. ram decisivos para o desfecho No exercício da sua profissão, que acabou com a independênfoi observador privilegiado de cia do antigo território português. acontecimentos como a Guer- Em duas obras, Gilberto Ferraz ra no Iraque e das Falklands, transporta-nos por um pedaço tendo igualmente sido corres- de história real de factos que enpondente da TSF, do Jornal de volveram os portugueses tanto Notícias e colaborador da RTP, no Reino Unido como na questão de Timor. Num estilo de escrita em Portugal. Liderou a Secção do PSD absolutamente absorvente, o (Partido Social Democrata) jornalista transporta o leitor para tendo mesmo sido convidado cada situação, para cada pedaa deputado pela mão de Sá ço da história, fazendo entender Carneiro, convite que declinou a quem lê, a verdade do que em favor da carreira. Ao longo aconteceu. Duas obras a não da sua vida em Londres, re- perder. Os pedidos podem ser gistou histórias fantásticas que feitos para o jornal Palop News o envolveram como jornalista pelo valor de £25.00 (ambos os mas foi sobretudo como cida- livros) com os portes incluídos dão que eternizou da história para o Reino Unido. POR TERda Comunidade Portuguesa no RAS DE S. MAJESTADE – 580 Reino Unido. Desse registo his- páginas TIMOR-LESTE DÍVIDA tórico, lançou a sua obra POR POR SALDAR – 348 páginas Palop News
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