Janeiro de 2021 • Ano 04 • Nº 08 • R$ 15,99
perspectivas e desafios
Desmatamento recorde na Amazônia é o maior dos últimos dez anos. Pág. 06
Alto índice de contaminação por mercúrio ameaça saúde de indígenas. Pág. 44
Designer brasiliense faz sucesso com inspiração e matéria-prima amazônicas. Pág. 56
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Editorial www.revistacenarium.com.br
EXPEDIENTE Diretora-Geral Paula Litaiff – MTb-793/AM www.paulalitaiff.com Editores–Executivos On–line Luís Henrique Oliveira Carolina Givoni Editora–Executiva–Impresso Márcia Guimarães Reportagem Bruno Pacheco Carolina Givoni Gabriel Abreu Gabriel Ricardo Luís Henrique Oliveira Márcia Guimarães Mencius Melo Michele Portela Paula Litaiff Paulo Guimarães Victória Sales Caroline Viegas Ana Luiza Pastana Fotografia Paulo Guimarães Ricardo Oliveira Projeto Gráfico/Diagramação Hugo Moura (92) 98100-5056 Social Media Marcele Fernandes Gisele Coutinho Designers Guilherme Reis Samuel Castro Revisão Jesua Maia Diretor Comercial Wilson Gonçalves (+55 92) 98144-5657 Equipe Administrativa Ariel Cesário Simões Edne Stephane de Queiroz Elcimara Oliveira Assessor Jurídico Christhian Naranjo (OAB 4188/AM) Telefone Geral da Redação (92) 3071-8790 Circulação Manaus (AM), Belém (PA), Brasília (DF) e São Paulo (SP)
Desconstruindo estereótipos
2021, uma nova odisseia
Estereótipo - um conceito que remete a uma imagem preconcebida sobre algo ou alguém - é, sabidamente, o martírio dos amazônidas. Seja qual for o termo étnico generalista, os conceitos pré-estabelecidos pelo senso comum brasileiro já designaram e ainda designam os moradores da Amazônia como seres incautos, omissos ou padecentes de desídia.
Se 2020 foi, para muitos, o ano em que a Terra parou, 2021 carrega a expectativa de libertar o mundo do estado de transe em que foi colocado pela pandemia de Covid-19. Para as perdas econômicas, recuperação. Para a crise política, entendimento. Para a devastação das matas, preservação. Para o caos na saúde, menos doentes. Para o mal da doença, a vacina. Nada menos do que isso é o que se espera para o ano que se inicia.
Inserida na internet em 15 de abril de 2020, a REVISTA CENARIUM passou a existir para cumprir, entre outras missões sociais, uma principal: desconstruir falsos ideais sobre os povos da região amazônica e lutar pelo seu empoderamento territorial. Essa visão não é uma “jogada de marketing”, é responsabilidade de todo veículo de comunicação, se todos seguissem a tese do respeitado jornalista norte-americano Walter Lippmann publicada em 1922. Em sua obra clássica “Opinião Pública”, Lippmann alertou sobre a criação do “ser estereotipado” que é fabricado a partir do que as pessoas recebem de conteúdo da mídia e os acontecimentos reais. Observando esse estudo, a CENARIUM mostrou, em oito meses, o amazônida empreendedor, independentista, coadjuvante, protagonista... Não há tipos, há histórias, como ocorre em todo o Brasil e em todo o mundo, e a publicação dessas histórias continuará sendo a nossa missão em 2021.
Pensando nisso, a REVISTA CENARIUM traz para esta edição as perspectivas do que está por vir para a Amazônia em setores cruciais para a região, como saúde, economia e defesa do meio ambiente. Na capa, a menina cabocla é o símbolo de esperança em tempos menos sombrios. Com o olhar curioso de quem descobre o mundo, ela nos lembra que a semente da vida precisa de rega e solo fértil para germinar. Esta edição traz, ainda, reportagens exclusivas sobre novos números do desmatamento na Amazônia, panorama político após as eleições, crimes ambientais nos rios da região que incluem a maior apreensão de madeira ilegal de todos os tempos, a expectativa sobre a vacinação contra a Covid-19, belezas turísticas e personalidades da cultura amazônida.
Paula Litaiff
Márcia Guimarães
Diretora-Geral
Editora-Executiva
Sumário Janeiro de 2021 • Ano 04 • Nº 08
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
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Devastação............................................................ 06 Legado Verde......................................................... 08 Em perigo.............................................................. 10 “Queimadas no Pantanal e na Amazônia são provenientes de ações humanas”, diz Carlos Nobre.................................................... 12
ARTIGO – CARLOS SANTIAGO Pessoas extraordinárias........................................ 13
PODER & INSTITUIÇÕES Parlamento nada verde......................................... 14
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Reforço contra a Covid-19..................................... 16 Cerco fechado à corrupção................................... 18 Esquerda, centro ou direita? ................................ 20 Atrás do prejuízo................................................... 22
MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS
ECONOMIA & SOCIEDADE
Maré de Plástico.................................................... 52
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021.................. 24
Compasso de espera............................................. 54
Evolução na gestão ambiental.............................. 26
ARTIGO – FLÁVIA OLEARE
Vacinação é desafio............................................... 28
A raça humana é uma só....................................... 55
O que dizem de 2021............................................. 30
ENTRETENIMENTO & CULTURA
Retomada do crescimento.................................... 32
Design Amazônico................................................. 56
Desatar os “nós”................................................... 34
Amazônia em quadrinhos...................................... 58
Expectativa pela vacina........................................ 36
VIAGEM & TURISMO
Semente de preservação....................................... 38
Exótica e misteriosa ............................................. 60
Retrospectiva: o peso de 2020.............................. 40
Tupé amarga prejuízos.......................................... 64
POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
Conexão com o paraíso......................................... 66
Tragédia silenciosa................................................ 44
AfroTurismo........................................................... 68
Milícia dos rios...................................................... 46
ARTIGO – ODENILDO SENA
Dano irreparável.................................................... 50
A leitura é o alimento da escrita .......................... 70
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Devastação
REVISTA CENARIUM
Com fiscalização deficiente, desmatamento da Amazônia bate recorde dos últimos dez anos, diz Imazon Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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ANAUS – A Amazônia continua registrando crescimento no índice de devastação em seu território. De acordo com levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgado em 20 de novembro do ano passado, o desmatamento da região, em outubro foi o maior dos últimos dez anos para o mês. Os dados foram coletados por meio dos satélites do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do órgão, que registraram um desmatamento de 890 quilômetros quadrados no mês, um crescimento de 49% em relação a outubro de 2019. Segundo o instituto, de janeiro a outubro de 2020, a floresta amazônica perdeu 6.920 quilômetros quadrados de área verde, 23% a mais que no mesmo período de 2019. Conforme mostra o estudo, o Estado do Pará foi o que mais desmatou, com 53% do total registrado no mês. Rondônia (12%), Acre (9%), Mato Grosso (9%), Amazonas (9%), Maranhão (5%), Roraima (2%) e Amapá (1%) completam a lista, respectivamente. “Em outubro de 2020, a maioria (53%) do desmatamento ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante do desmatamento foi registrado em Assentamentos (28%), Unidades de Conservação (15%) e Terras Indígenas (4%)”, segundo trecho do levantamento.
DEGRADAÇÃO Os satélites do SAD registraram que as florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 2.351 quilômetros quadrados em outubro de 2020, um crescimento de 279% em relação ao mesmo período de 2019, quando a degradação detectada foi de 621 quilômetros quadrados. 06
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“Os incêndios florestais são alguns dos exemplos de degradação. Eles podem ser causados por queimadas controladas em áreas privadas para limpeza de pasto, por exemplo, mas que acabam atingindo a floresta e se alastrando. A extração seletiva de madeira para fins comerciais é outro exemplo de degradação”, mostrou o instituto.
FALTA DE CONTROLE Para o ambientalista mestre em Ecologia Carlos Durigan, diretor da Associação Conservação da Vida Silvestre (WCS Brasil), a pressão para a ocupação da Amazônia com atividades exóginas, como aquelas voltadas para o setor agrícola, principalmente, e falta de controle sobre a ocupação ilegal de terras são os fatores fundamentais para o aumento do desmatamento. “Uma grande promotora do desmatamento da Amazônia é a ocupação ilegal ou irregular de terras públicas, como nós chamamos a grilagem, e isso é um dos fatores que estão levando a essa expansão de atividades que são mais degradantes. A ocupação se dá com o desmatamento, com o uso do fungo para a limpeza das áreas, e isso leva a todo esse cenário bastante degradante”, explicou. Segundo Durigan, é preciso haver um forte trabalho da gestão pública em todos os níveis, sejam eles municipal, estadual ou federal, e do envolvimento da sociedade civil e de instituições de pesquisa, para construir um plano de ordenamento territorial na Amazônia que inclua incentivos às práticas sustentáveis. No início de novembro de 2020, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que também é presidente do
Conselho Nacional da Amazônia Legal, sobrevoou o Amazonas na companhia de embaixadores de dez países, para mostrar tanto as áreas afetadas pela ação humana quanto as partes preservadas. A viagem foi realizada após oito países europeus enviarem uma carta a Mourão afirmando que a alta do desmatamento poderia dificultar a importação de produtos brasileiros.
PLANO CONTRA O DESMATAMENTO Sete partidos de oposição, aliados a 10 Organizações Não Governamentais (ONGs) ambientais, apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação para tentar obrigar o governo federal a recolocar em prática o plano de prevenção e controle de desmatamento na Amazônia, aprovado em 2014. A ação exige que o governo cumpra as metas previstas na lei brasileira e em acordos internacionais assinados pelo Brasil e internalizados na legislação nacional.
Avanço do Desmatamento O desmatamento na Amazônia Legal atingiu
uma área de 11.088 quilômetros quadrados. O avanço é de 9,5% em relação ao ano de 2019. É o maior patamar desde 2008. A informação foi coletada pela ferramenta Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite e divulgada, em São José dos Campos (SP). O índice equivale ao desmate ocorrido entre agosto de 2019 e agosto de 2020.
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com informações do O Globo.
Ranking Tocantins Amapá
Crédito: Ricardo Oliveira
0,7%
Maranhão
2,6%
Roraima
2,7%
Acre
O desmatamento na Amazônia tem avançado rapidamente nos últimos anos
0,2%
Rondônia Amazonas Mato Grosso
5,9% 14,4% 13,7% 15,9%
Pará
46,8%
Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com informações do O Globo.
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Com 60 mil árvores plantadas em oito anos, arborização em Manaus está acima da média nacional Victória Sales – Da Revista Cenarium
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Crédito: Fábio Leite | Divulgação Semcom
Legado Verde
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
REVISTA CENARIUM
Cobertura vegetal
40,1 metros quadrados Esta é a cobertura vegetal por habitante
alcançada por Manaus, nos últimos oito anos.
Crédito: Fábio Leite | Divulgação Semcom
15 metros quadrados
Este é o mínimo estabelecido pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU) para a cobertura vegetal por habitante.
Gestão de Arthur Neto lançou olhar de atenção à arborização de Manaus, e a primeira-dama, Elizabeth Valeiko, esteve à frente do pacote de ações.
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ANAUS – A gestão do ex-prefeito Arthur Neto (PSDB) entrega o sistema urbanístico ao novo prefeito de Manaus com um ‘Legado Verde’ deixado pela sua administração. Em oito anos, foram plantadas cerca de 57.975 novas árvores, sendo 48.472, a partir de 2016. Os projetos de arborização na capital amazonense foram acompanhados pela então primeira-dama Elisabeth Valeiko, que é arquiteta e pertencia à Comissão Municipal de Paisagismo e Urbanismo. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Manaus alcançou uma cobertura vegetal de 40,1 metros quadrados por habitante, acima do mínimo estabelecido pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), que é de 15 metros quadrados por habitante.
EVOLUÇÃO AMBIENTAL Coordenador-executivo da Fundação Vitória Amazônica (FVA) e mestre em Relações Internacionais Ambientais pela Universidade de Columbia, Fabiano Silva ressalta que existem pontos principais de evolução na gestão do prefeito de Manaus, como a construção da Área de Proteção Ambiental (APA) do Corredor do Sauim. “A recuperação de alguns parques urbanos e, principalmente, a criação do
Corredor do Sauim, que se tornou uma grande APA urbana, busca assegurar a conectividade de vários fragmentos florestais urbanos. Isso permite o deslocamento natural do animal símbolo da cidade e ameaçado de extinção”, ressaltou, referindo-se ao sauim-de-coleira, sagui encontrado na Amazônia brasileira, mais especificamente em partes dos municípios de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara, no Amazonas.
MUDAS ORNAMENTAIS Ao longo dos oito anos de gestão de Arthur, de acordo com a Semmas, foram plantadas 340.324 mudas ornamentais, sendo 220 mil, de 2018 até novembro de 2019. A Prefeitura de Manaus também afirma que adotou medidas para melhorar a questão. Em 2017, o projeto “Arboriza Manaus” fomentou o plantio de mudas de espécies nativas e exóticas em áreas públicas, englobando praças, parques e áreas verdes feitos dentro do Plano Diretor de Arborização Urbana de Manaus (PDAU). “Vale destacar que no processo de plantio ocorrem as perdas naturais e por vandalismo. Mas, a partir do Arboriza, o trabalho passou a ter um caráter efetivo com a redução dos índices de perdas”, assinalou a prefeitura, em nota.
A Prefeitura de Manaus também conta com o projeto de paisagismo da capital, conhecido como “Ornamenta Manaus”, que oferta condições necessárias para o plantio de mudas em áreas públicas. “A arborização urbana é constituída por toda cobertura vegetal de pequeno, médio e grande porte existentes nas cidades e lembra a importância da questão estética da cidade, além de garantir mais sombra aos pedestres, reduzir o impacto da água da chuva e de preservar a fauna silvestre”, finaliza.
PACOTE DE AÇÕES Novas ações de paisagismo e urbanismo devem abranger 35 áreas da capital amazonense, com os trabalhos nas avenidas Jacira Reis, São Jorge e Ipase, na zona Oeste. A Comissão Especial de Paisagismo e Urbanismo, que foi presidida pela ex-primeira-dama Elisabeth Valeiko Ribeiro, coordenou o pacote de ações. “A gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto teve um olhar especial e atencioso para os detalhes da cidade. As ações de paisagismo são isso, detalhes que podem ser melhorados para dar a Manaus o semblante de grande cidade que ela merece”, destacou Elisabeth Valeiko. 09
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
EM PERIGO Dia Nacional da Onça-Pintada chama atenção para o risco de extinção da espécie Victória Sales – Da Revista Cenarium
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REVISTA CENARIUM
Crédito: Rubens Fraulini | Itaipu Binacional - Fotos Públicas
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ANAUS – Animal símbolo brasileiro da conservação da biodiversidade, a onça-pintada é celebrada no dia 29 de novembro. Instituído em 2018, o Dia Nacional da Onça-Pintada é uma data comemorativa, mas também de conscientização sobre a importância dessa espécie animal emblemática da Amazônia e do Pantanal, que está criticamente em perigo, estágio que antecede a entrada da espécie na lista de animais em vias de extinção. A Portaria do Ministério do Meio Ambiente (MMA), nº 8, de 16 de outubro de 2018, atribuiu à data a função de celebrar e atrair atenção especial para a preservação da espécie. Incluída no calendário de outros países, a data pretende aumentar a compreensão quanto às ameaças enfrentadas pelo animal. A data é importante para unir esforços em ações de divulgação sobre a importância ecológica, econômica e cultural da espécie. Sendo um dos animais mais ameaçados do mundo, a onça-pintada pesa em torno de 60 a 160 quilos. Atualmente, não existem números exatos sobre a quantidade de onças ameaçadas no Brasil, mas a perspectiva de extinção da espécie é cada vez mais grave no decorrer dos anos. De acordo com informações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a onça é o maior felino das Américas e, por ser topo de cadeia alimentar e necessitar de grandes áreas conservadas para sobreviver, ocorre somente em áreas preservadas. No Brasil, a onça-pintada vive em diversos biomas: Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica e Caatinga, mas é na Caatinga que ela é mais ameaçada, sendo considerada criticamente em perigo de extinção.
PROTEÇÃO
A onça-pintada está no topo da cadeia alimentar e necessita de grandes áreas conservadas para sobreviver
De acordo com o Instituto Mamirauá, associação de pesquisa e desenvolvimento sustentável que atua no Amazonas, a onça-pintada é a terceira maior espécie de felino do mundo, atrás somente do tigre e do leão. E apesar de ser admirada pelo ser humano, o animal prefere evitar o contato, que ocorre apenas quando a espécie se sente ameaçada, quando precisa proteger seus filhotes ou seu alimento.
No ano de 2020, os incêndios florestais que atingiram o Pantanal, que concentra, atualmente, a maior população de onças-pintadas do mundo, colocaram ainda mais tensão na situação de ameaça da espécie. De acordo com o Instituto Centro Vida (ICV), as onças-pintadas, além de serem ameaçadas de extinção, agora são ameaçadas também pelas queimadas. Conforme destacado no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do ICMBio, o felino está em estado de vulnerabilidade, sendo vítima principalmente da perda de seu habitat natural e da caça ilegal de animais silvestres.
PERIGO Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento no bioma cresceu 27,2% entre 2018 e 2019, em comparação ao mesmo período entre 2017 e 2018. A onça-pintada ocupa 19% do bioma e está criticamente em perigo. Já no Cerrado, ela ocupa 32% da região.
Sobre a onça-pintada Com o nome científico de Panthera onca, a onça-pintada ocorre em quase todos os biomas brasileiros, com exceção do Pampa. 50% da área do país ainda é considerada adequada à ocorrência da espécie. O tamanho populacional efetivo estimado é menor do que 10 mil indivíduos. O declínio populacional da espécie foi estimado em aproximadamente 30% nos últimos 27 anos ou três gerações. Declínio equivalente pode ser projetado para os próximos 27 anos. Portanto, a espécie é categorizada como vulnerável. Principais ameaças: perda e fragmentação de habitat e eliminação de indivíduos por caça ou retaliação por predação de animais domésticos.
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MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Para Carlos Nobre, grande parte das queimadas na Amazônia e Pantanal provém de fogo de agricultores e fazendeiros Da Revista Cenarium*
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Crédito: Ricardo Oliveira
“Queimadas no Pantanal e na Amazônia são provenientes de ações humanas”, diz Carlos Nobre
ÃO PAULO - O climatologista Carlos Afonso Nobre, pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disse em entrevista à CNN, que os incêndios detectados, atualmente, no Pantanal e na Amazônia são “praticamente todos ilegais”. Ele explicou que isso acontece porque não há tempestades que causem descargas elétricas ou raios que possam desencadear o fogo em uma vegetação seca.
O climatologista destaca que, a médio e longo prazo, é preciso mudar a cultura brasileira. “Agricultura que usa fogo é uma agricultura do século 19, 20. Agricultura do século 21 não usa fogo”, disse. Ele lembrou que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já informou a respeito de métodos que não utilizam fogo e têm resultados positivos na produção.
“Eles [incêndios] todos são de origem humana. Quase todos são fogo de agricultores, pecuaristas, fazendeiros vão e colocam. Não é uma faísca acidental que surgiu em um trator que está operando ali, isso é muito raro”, afirmou Nobre.
Sobre a confiabilidade dos dados sobre os incêndios, Nobre disse que eles “são muito confiáveis”. “Os satélites não mentem. Eles estão mostrando com muita clareza o que está acontecendo na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal, em termos de focos de incêndio”, declarou.
No dia 16 de setembro de 2020, Dinamarca, França, Holanda, Alemanha, Itália, Noruega, Reino Unido e Bélgica assinaram uma carta enviada ao vice-presidente Hamilton Mourão expressando preocupações com a degradação da Amazônia. No documento, os signatários afirmam que “na Europa, há um interesse legítimo no sentido de que os produtos e alimentos sejam produzidos de forma justa, ambientalmente adequada e sustentável” e por isso os números do desmatamento na floresta amazônica estariam preocupando “consumidores, empresas, investidores e a sociedade civil”.
USAR FOGO É PRÁTICA TRADICIONAL NA AGROPECUÁRIA Para o climatologista, as chamas no Pantanal derivam da prática tradicional da agricultura e da pecuária brasileira de usar o fogo para renovar o pasto. Segundo Nobre, ações que poderiam auxiliar a reduzir a incidência do fogo a curto prazo são “fiscalização e uma ação muito mais proativa e eficaz”. Mas, ele ressalta que ainda é preciso analisar por que os incêndios continuam tão altos, mesmo com os cerca de 3,6 mil homens do Exército tentando apagar as chamas. “Pode ser porque a estação está muito seca” disse.
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CONFIABILIDADE NOS DADOS
Ele explicou ainda que, apesar da limitação dos satélites – que não enxergam através das nuvens, segundo Nobre, não há muitas nuvens nessas regiões na época de seca. A situação se agrava em decorrência das mudanças climáticas, já que elas dificultam o processo de recuperação da vegetação. Nobre afirmou que no Cerrado e no Pantanal o fogo sempre esteve presente, em decorrências das descargas elétricas ou pela transição da estação seca, mas o bioma acabou se adaptando à ocorrência das chamas. “O que está acontecendo aqui no Cerrado, na Califórnia, na Sibéria, na Austrália é que o aquecimento global está trazendo temperaturas muito mais altas, estamos tendo recordes no Pantanal, e um ar muito seco”, disse ele. “Os incêndios se repetem com muita frequência. Não há mais tempo de a vegetação se recuperar naturalmente. Se não controlarmos o aquecimento global e não mudarmos essa prática de usar o fogo na agricultura e na pecuária, vamos acabar com todos esses ecossistemas”. (*) Com informações da CNN.
ARTIGO – CARLOS SANTIAGO
Crédito: Divulgação
Pessoas extraordinárias Carlos Santiago*
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uero citar pessoas extraordinárias que movem o mundo e fazem a vida ficar leve e esperançosa. Não vou escrever sobre os ganhadores do Prêmio Nobel e nem de grandes ídolos do cinema ou do esporte. Não foram vencedores de concursos de beleza ou de campanhas eleitorais. Não possuem as riquezas iguais a de Bill Gates e de Jeff Bezos e não estão nas televisões, como Silvio Santos. Nunca cantaram uma música afinada e jamais tocaram piano clássico. Não descobriram a fórmula descrita por Albert Einstein ou escreveram um clássico da literatura. Não são santidades, mas poderiam residir no céu, ao lado de Deus, por suas atitudes e crenças. Elas não moram em mansões, vivem em áreas simples. Seus filhos não possuem carrões, nem estudam em escolas com intercâmbio internacional, a maioria usa um transporte velho, sujo, com tarifa cara e com horários atrasados. Poucas vivem de trabalho normatizado com férias, salários fixos, viagens para outras cidades. Não descansam nos períodos oficiais de folga e nem no tradicional de descanso religioso. Convivi e convivo com inúmeras pessoas, mas essas são pessoas extremamente especiais. Ensinam, acreditam no trabalho lícito, promovem fraternidades, choram de alegria pela felicidade dos
amigos, ainda botam fé nas autoridades públicas e religiosas, visitam os familiares mortos, brincam nas festas juninas e emprestam ou doam roupas e comidas aos seus próximos. Rezam o Pai Nosso e ainda suportam a violência estatal e dos grupos de criminosos organizados. Lembro, por exemplo, do seu Waldir Pereira, um taberneiro que abastecia com pães e outras mercadorias o povo do bairro Aleixo. Todo dia, acordava bem cedinho, não tinha feriado em sua rotina. Em seu comércio, quem possuía dinheiro comprava os pães, quem não tinha dinheiro levava também, depois pagava. Ele dava trabalho a jovens e velhos, que arrumavam e vendiam produtos do seu comércio. Recordo também da senhora Maria Teixeira, com 58 anos de idade e que cuida, até hoje, dos doentes. Técnica de enfermagem, nunca se negou a fazer aferição da pressão dos idosos da rua onde mora. No hospital onde trabalha, ainda empurra macas e dá banho nos vulneráveis. Tem um filho que trabalha numa ambulância recolhendo corpos de pessoas falecidas para levar ao Instituto Médico Legal (IML). Vem, ainda, à memória o seu Pedro Monteiro e o Paulo César. Aquele trabalha no serviço de coleta de lixos, toda noite sai de casa e corre todo período
noturno, colhendo sujeiras nas vias públicas. Durante o dia, cuida do filho e da casa. E não deixa de, sistematicamente, ir ao templo de Deus para agradecer o trabalho e a família que tem. Este é um catador de papelão. Vende o suor do seu trabalho na área comercial do Centro Histórico da cidade e, com seu “lucro”, sustenta a família, incluindo a mãe idosa diabética. Há, ainda, a Mônica Miranda, uma babá que cuida de crianças. Todos os dias sai de sua casa às cinco horas da manhã para chegar ao local de trabalho às sete horas. Quando retorna ao local de moradia alugada, desenvolve resgate e adoção de cães e gatos que estão nas ruas. Outro herói anônimo, Ramos Filho é um borracheiro. Experiência de duas décadas, conhece todo tipo de pneu e atende a qualquer hora. No mundo existem bilhões de pessoas extraordinárias que não possuem riquezas materiais, belezas físicas, títulos acadêmicos, glamour televisivo, mas estão em todos os tempos e lugares e em todas as formas de trabalho lícito, contribuindo com a coletividade. Pessoas que um dia saberão da sua força social e política, então o mundo poderá ser ainda melhor. *Carlos Santiago é sociólogo, analista político e advogado.
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PODER & INSTITUIÇÕES
PARLAMENTO NADA VERDE Capitais da Amazônia elegeram apenas seis vereadores com bandeiras sustentáveis Mencius Melo – Da Revista Cenarium
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ANAUS – Dos 235 parlamentares eleitos para atuar nas câmaras municipais das nove capitais da Amazônia Legal, apenas seis vereadores foram eleitos por siglas identificadas com as causas ambientais, entre eles: Manoel do Partido Verde, em Porto Velho; Albuquerque, do Rede Sustentabilidade, Ruan Kenobby também do mesmo partido, em Boa Vista, Roraima. Cuiabá foi a cidade que mais elegeu, são eles: Marcus Brito, Mario Nadaf e Paulo Henrique, todos do PV. Manaus (AM), Belém (PA), Rio Branco (AC), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Macapá (AP), Palmas (TO), São Luís (MA) e Cuiabá (MT) têm em comum o fato de serem capitais dos Estados que compõem o maior bioma brasileiro: a Amazônia. Em que pese tal realidade, natural seria a presença de inúmeros políticos ‘verdes’, porém não é bem assim. Mas, por que Estados que compõem o mapa verde do país, quase não elegem representantes perfilados com bandeiras que elevem o meio ambiente à condição de debate social das grandes cidades da Amazô-
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nia? Por que mesmo enraizadas em região que é o epicentro dos debates nacionais e globais sobre meio ambiente, não se elegem candidatos com esses discursos e práticas?
SEM MOVIMENTO Sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio Nascimento avalia que esse quadro advém de uma realidade urgente. “Não
De acordo com o sociólogo, outros fatores também contribuem para endurecer essa realidade. “As demandas das populações amazônicas são pragmáticas, são de primeira necessidade. São condições objetivas que no caso da região amazônica saltam à realidade brasileira. Aqui temos as piores condições sociais e econômicas do país”, detalhou. “Fora que lideranças dessas bandeiras tendem a se opor a setores empresariais que
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Na Amazônia, os partidos de esquerda lutam por demandas populares, como saúde, transporte e educação. Quem vier falar de meio ambiente será derrotado fragorosamente”
Luiz Antônio Nascimento, sociólogo. temos movimentos ambientalistas na Região Norte. Houve uma experiência nos anos 1980 no Acre, que elegeu lideranças, mas, fora isso, não ocorreram mais iniciativas dessa natureza”, observou.
precisam de facilidades ambientais para fazer negócio”, ponderou. “Na Amazônia, os partidos de esquerda lutam por demandas populares como saúde, transporte e educação. Quem vier falar de meio ambiente será derrotado fragorosamente”, lamentou.
Crédito: Guilherme Reis
REVISTA CENARIUM
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Crédito: Tacio Melo | Secom
PODER & INSTITUIÇÕES
REFORÇO CONTRA A
COVID-19
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Termo de cooperação assinado entre Governo do Amazonas e organização internacional fortalece enfrentamento à pandemia Da Revista Cenarium*
REVISTA CENARIUM
posta rápida a surtos e notificações de casos da doença causada pelo novo coronavírus. A assinatura do termo, que representa apoio nas ações de interesse da saúde pública do Estado, foi realizada entre o governador Wilson Lima; a diretora-presidente da FVS-AM, Rosemary Costa Pinto; o secretário de Saúde do Estado, Marcellus Campêlo; e, de forma remota, pela representante da Opas/OMS no Brasil, Socorro Gross Galiano. Através do documento, as instituições comprometem-se a aprimorar e a desenvolver estratégias para a melhoria da qualidade de vida da população do Amazonas.
O governador do Amazonas, Wilson Lima, assinou termo de cooperação no dia 26 de novembro
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ANAUS - O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) e da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), assinou, no dia 26 de novembro de 2020, junto com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), um termo de cooperação para o enfrentamento à pandemia de Covid-19 no Estado. A cooperação fortalece o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. A assinatura faz parte de uma nova etapa do acompanhamento feito pela Opas, braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, que colabora com o Amazonas apoiando as ações implantadas pela FVS-AM e fortalecendo a capacidade de vigilância, assistência, comunicação e de fornecimento de res-
“Nós tivemos e continuamos tendo a humildade de reconhecer que precisávamos de ajuda e continuamos precisando de ajuda, principalmente de instituições como a Opas, que tem um trabalho de referência mundial, sobretudo na América do Sul. Estou muito feliz e lisonjeado com a vinda da Opas pra cá, com a comitiva e a continuidade da nossa parceria e formalização de mais uma etapa, levando em consideração que a gente ainda não superou a Covid-19”, afirmou o governador Wilson Lima, sobre a importância do apoio da Opas para o enfrentamento da pandemia no Amazonas. A assinatura do termo vai permitir o acompanhamento da Opas nas ações de enfrentamento à Covid-19 no Estado, assim como o assessoramento dos consultores da instituição, como explica a diretora-presidente da FVS-AM, Rosemary Costa. Posteriormente, serão feitos relatórios periódicos que serão enviados à central da Opas no Brasil. ”Do ponto de vista da vigilância, nós temos o acompanhamento e o monitoramento da Organização Pan-Americana de Saúde, que vem, desde o início da pandemia, se fazendo presente oferecendo o seu apoio, oferecendo o seu conhecimento técnico e oferecendo, também, um apoio de forma material, com a oferta de consultores que têm estado presentes conosco desde o início da situação de Covid-19, no estado do Amazonas. A Opas observa o que está sendo bem feito aqui e presta sugestões, traz experiências, expertise para que nós melhoremos o
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Nós tivemos e continuamos tendo a humildade de reconhecer que precisávamos de ajuda e continuamos precisando de ajuda, principalmente de instituições como a Opas”
Wilson Lima, governador do Amazonas.
nosso processo de trabalho. Além disso, é um observador externo, um observador da Organização Mundial de Saúde. É alguém que analisa todos os nossos procedimentos. É alguém que está acompanhando juntamente conosco os dados epidemiológicos, o que está sendo publicado, os nossos bancos de dados, a veracidade do que nós dizemos”, explicou a diretora. A representante da Opas/OMS no Brasil, Socorro Gross Galiano, ressaltou o comprometimento das instituições com o atendimento da população local. “Para nós, trabalhar com o Amazonas sempre é um aprendizado e nessa construção da saúde, sempre trazemos e também aprendemos. O Amazonas é um Estado muito rico, com diversidade, beleza e força. Nós temos essa parceria essencial, mas, agora, nós queremos estar mais juntos. Esse protocolo de intenção nos compromete ainda mais. Nossa intenção, enquanto organização, é atender melhor os estados, aprender, compartilhar experiências de nossa região e do mundo, trazer e também compartilhar as boas experiências”, declarou. 17
PODER & INSTITUIÇÕES
Crédito: Ricardo Oliveira
Conhecido pela atuação na Força-Tarefa do “Caso Wallace”, o procuradorgeral de Justiça, Alberto Nascimento, quer fortalecer repressão ao crime organizado
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REVISTA CENARIUM
CERCO FECHADO À CORRUPÇÃO Chefe do MP-AM promete apertar a vigilância aos gestores públicos: ‘Estamos trabalhando para ampliar a fiscalização’ Paula Litaiff e Victória Sales – Da Revista Cenarium
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ANAUS – “As promotorias estão ainda mais independentes e a nossa missão é trabalhar para ampliar a estrutura de fiscalização”, declarou o procurador-geral de Justiça, Alberto Nascimento Júnior, responsável pela administração do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), no biênio 2020 a 2022.
Em visita à sede da REVISTA CENARIUM, Nascimento, conhecido por ser um dos integrantes da Força-Tarefa no “Caso Wallace” (2009-2010), disse que a sua experiência em investigações criminais e administrativas, principalmente, no interior do Amazonas, dá a ele condições para avaliar a conjuntura de atuação dos membros do Ministério Público. A Força-Tarefa desarticulou uma organização criminosa que atuava no tráfico de drogas e em grupo de extermínio, e que levou à cassação do deputado estadual Wallace Souza e à condenação do filho dele Raphael Souza por envolvimento com o grupo criminoso. “Com dois meses à frente da Procuradoria-Geral de Justiça do Amazonas, eu e minha equipe avaliamos as necessidades prioritárias do Ministério Público e analisamos a convocação de 15 a 20 promotores para as cidades do interior”,
disse. Hoje, 51 promotores trabalham para dar conta de 72 promotorias. “Está muito sobrecarregado para os colegas”, completou. Natural de Itacoatiara, Alberto é formado em Direito, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e, após ingressar no MPE-AM, em 1996, atuou nas Promotorias de Justiça das comarcas de Benjamin Constant, Anori, Urucurituba, Beruri, Codajás, Careiro, São Paulo de Olivença, Santo Antônio do Içá e Rio Preto da Eva.
sa, inclusive, dar capilaridade para ações em todo o Amazonas”, disse Alberto.
PARTICIPAÇÃO POPULAR Alberto Nascimento enfatizou, ainda, a importância de a população contribuir com o Ministério Público, por meio de denúncias anônimas ou não, acompanhando a conduta de seus representantes com mandato eletivo, responsáveis pela nomeação de gestores públicos. “Além do combate à corrupção, iremos trabalhar com ênfase no combate à má gestão. Por isso, pedimos que a população nos informe e queira saber como estão sendo aplicados os recursos repassados às gestões”, concluiu. Atualmente, o Ministério Público do Amazonas possui pelo menos quatro meios de acesso ao cidadão para a formalização de denúncias. Pelo telefone 0800-0920500, pelo WhatsApp (92) 3655-0745, registrando um formulário no site da instituição (https://www.mpam. mp.br/) ou indo à sede do MP-AM, na avenida Coronel Teixeira, nº. 7995, bairro Nova Esperança, na zona oeste de Manaus. “A sociedade deposita em nós a esperança de dias melhores, de combate à corrupção, de defesa dos direitos humanos, de busca por melhores serviços públicos, como forma de assegurar a estabilidade de nossa democracia. Buscamos cumprir essa missão da forma mais transparente possível”, finalizou Alberto Nascimento.
CRIME ORGANIZADO O procurador-geral de Justiça informou que uma de suas marcas de gestão será o fortalecimento do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), um departamento que atua em parceria com todas as promotorias especializadas. “Iremos fortalecer o Gaeco e estamos reestruturando esse núcleo fundamental e sensível para a instituição. Vamos reaparelhar o setor e buscar ferramentas mais evoluídas e de ponta. Ao mesmo tempo, estamos incluindo quatro promotores de Justiça, para que tenhamos uma ação mais efetiva, célere e que pos-
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Além do combate à corrupção, iremos trabalhar com ênfase no combate à má gestão”
Alberto Nascimento, procuradorgeral de Justiça.
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PODER & INSTITUIÇÕES
Esquerda, centro ou direita? Saiba como classificar os partidos no Brasil de acordo com suas visões de mundo e ações Da Revista Cenarium*
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ANAUS - É comum que dúvidas sejam levantadas sobre se um partido político se insere no campo
da esquerda ou da direita. Especialmente no caso brasileiro, a resposta para esse problema é ainda mais complexa, dada a
Crédito: Roque de Sá | Agência Senado
quantidade de legendas que competem nas eleições, atualmente 33 partidos.
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REVISTA CENARIUM
Outra opção frequente é analisar a composição social do partido, quem são seus quadros e o perfil dos seus eleitores. Partidos que tendem a ter entre seus eleitos empresários estão mais próximos da direita, ao passo que partidos que elegem mais trabalhadores estão mais perto da esquerda. Há quem prefira analisar a votação dos deputados em matérias específicas que separam as posições de esquerda e direita. Partidos que apoiam privatizações e redução de impostos tendem a ser considerados dentro do espectro da direita. Já aqueles que votam em matérias que defendem o papel do Estado na regulação da economia estariam na esquerda. Existe, ainda, quem olhe para como o partido se comporta na eleição, com quem faz alianças: se com mais parceiros de um lado do que de outro do espectro ideológico. Ou quem olhe para o que os partidos dizem de si mesmos através de seus manifestos ou programas de governo. Uma forma de entender ideologicamente os partidos é também olhar para seus financiadores. Partidos que possuem suas receitas advindas de sindicatos de trabalhadores, por exemplo, estão mais à esquerda do que legendas que recebem doações de associações religiosas, que tendem a estar ligadas à centro-direita. A crítica é que tais classificações são, quase sempre, realizadas para partidos europeus ou americanos e desconsideram as especificidades do Brasil. Mas o problema principal é que não há partido que seja absolutamente coerente em suas posições, assim como a maioria dos seres humanos. Então os cientistas políticos costumam criar classificações intermediárias como centro-direita ou centro-esquerda. Há posições predominantes (e não exclusivas) vinculadas mais à direita no primeiro caso e mais à esquerda no segundo. Já os partidos de centro seriam aqueles que mesclam posições ora mais à direita, ora mais à esquerda, sem que
ocorra o domínio de uma visão de mundo sobre a outra. Para solucionar esse tipo de dilema, onde exatamente os partidos políticos se posicionam, nós resolvemos perguntar para quem estuda, escreve e publica sobre partidos políticos: os próprios cientistas políticos. Aplicamos, então, um questionário para 519 cientistas políticos, residentes no país e no exterior. A pesquisa foi realizada em julho de 2018, antes da campanha eleitoral daquele ano. A partir da resposta de cada um deles para os então 35 partidos existentes no Brasil fizemos a média da posição ideológica dessas legendas. Os respondentes foram instados a classificar os partidos em uma escala de zero a dez, em que zero representava a posição mais à esquerda e dez, mais à direita. As posições de cada partido aparecem na figura abaixo. A pesquisa foi realizada pelo Laboratório de Partidos Políticos e Sistemas Partidários da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e enseja alguns comentários. O primeiro é que, no momento da pesquisa, o presidente Jair Bolsonaro flertava com o Patriota, o que explica a posição deste sobreposta ao partido mais à direita da escala, o DEM e, também, uma posição mais moderada do PSL.
Quando foi feito o levantamento, a Unidade Popular (UP) não havia sido fundada. Posteriormente, o PRP foi incorporado ao Patriota, o PPL ao PCdoB e o PHS ao Podemos. Além disso, posteriormente a essa pesquisa, houve algumas mudanças de nomes em partidos: o PMDB mudou o nome para MDB, o PPS para Cidadania e o PR hoje é PL. Ainda que contemos com a valiosa contribuição da comunidade de Ciência Política, não sustentamos que erros ou equívocos não apareçam nos resultados. O que podemos afirmar é que a pesquisa com experts através de survey apresenta vantagens como contar com conhecimento especializado e despreocupado com pressões políticas como eleições ou votações legislativas. Essa metodologia possui alta validade. Quando comparada com outros métodos para mensurar ideologia, apresenta resultado semelhante. Por fim, é interessante observar que o espaço à direita é muito mais povoado do que o lado oposto. Isso não só dificulta posicionar ali os partidos, mas revela também uma indiferenciação muito maior entre as legendas à direita do que entre as que estão no centro e na esquerda. (*) Com informações do UOL.
Crédito grafismo: Guilherme Reis
Algumas soluções são possíveis. Há cientistas políticos que optam por perguntar para os parlamentares onde estes posicionam seus próprios partidos e os partidos dos adversários na escala esquerda-centro-direita.
No Brasil atual, os partidos estão mais concentrados na direita, segundo avaliação de cientistas políticos 21
Atrás do prejuízo
Crédito: Bruno Batista | Vpr Fotos Públicas
PODER & INSTITUIÇÕES
Mourão reconhece atraso no combate ao desmatamento na Amazônia e especialistas criticam falta de soluções Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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Desde o momento em que o Conselho Nacional da Amazônia Legal iniciou suas atividades e quando nós conseguimos lançar a Operação Verde Brasil 2, que ocorreu em maio, eu deixei muito claro para todos que nós tínhamos começado atrasado”
Hamilton Mourão, vice-presidente da República.
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ANAUS – A fala do vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), que comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal, reconhecendo um atraso do governo Bolsonaro nas ações de combate ao desmatamento na Amazônia, repercutiu nacionalmente e foi criticada por especialistas da área do meio ambiente.
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A declaração de Mourão foi feita no dia 30 de novembro do ano passado, em entrevista coletiva, após visita ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de São José dos Campos, no interior de São Paulo, que divulgou dados do sistema do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), revelando que o desmatamento na Amazônia Legal avançou em 9,5% em relação a 2019, e atingindo o maior patamar desde 2008. Mourão, que estava acompanhado do diretor do instituto, Clezio de Nardin, e do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, ao ser questionado pela imprensa sobre os dados do desmatamento admitiu atraso nas ações de combate. “Desde o momento em que o Conselho Nacional da Amazônia Legal iniciou suas atividades e quando nós conseguimos lançar a operação Verde Brasil 2, que ocorreu em maio, eu deixei muito claro para todos que nós tínhamos começado atrasado”, admitiu o vice-presidente.
Confrontado com dados do Inpe sobre aumento recorde do desmatamento, Mourão disse que deixou claro que governo começou atrasado
REAÇÃO Nas redes sociais, o ambientalista Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, criticou a postura do general sobre o aumento do desmatamento da Amazônia. Para ele, os números da devastação são tratados com indiferença. “Mourão falou por menos de cinco minutos e não apresentou plano, solução, meta, nada. O ministro do meio ambiente sequer estava lá. Dá a exata noção de como tratam o assunto: e daí?”, desabafou, em uma publicação no Twitter. Astrini completou em outro post: “Acabaram de fazer uma segunda coletiva. Mourão apresentou planos ou metas? Não. Alguma estratégia para combater o desmatamento? Nada. Simplesmente
REVISTA CENARIUM
jogaram o número do desmatamento na mesa e o País que se vire com isso. Não estão nem aí”, publicou.
PRESSÃO À REVISTA CENARIUM, o ambientalista mestre em Ecologia Carlos Durigan, diretor da Associação Conservação da Vida Silvestre (WCS Brasil), explicou que o aumento do desmatamento ocorre em meio à pressão para a ocupação ilegal da floresta amazônica. Para ele, o modelo de desenvolvimento sustentável que está sendo imposto para a região é o principal responsável pelo cenário de desmatamento atual e que, se nada for feito, a tendência é que o aumento da devastação aumente a cada ano. “A fiscalização, isoladamente, não resolve o problema. É preciso haver um plano forte e estratégico, com envolvimento local, para que, de fato, nós tenhamos planos e ações bem embasadas para reverter esse cenário de degradação”, salientou.
AÇÕES DO GOVERNO
Crédito: Romério Cunha | Vpr Fotos Públicas
Na mesma entrevista, Mourão disse, ainda, que se não fossem as medidas do governo, a devastação na Amazônia seria ainda pior, podendo ser em, pelo menos, 10% a mais do que os dados registrados pelo Inpe. “As estimativas que tínhamos eram mais negativas ainda para esse resultado que está sendo apresentado, com aumento de 20% em relação a 2019”, declarou. Para Mourão, mesmo registrando índice menor do que o esperado, não há algo a se comemorar. “O nosso estado final desejado era de não ter mais desmatamento ilegal na Amazônia, em hipótese nenhuma. Iremos continuar com a operação [Verde Brasil 2], que está estendida até abril de 2021 que vem. Já estamos planejando operações utilizando os meios disponíveis, que sabemos da situação fiscal do País e as dificuldades de conseguir alocar mais recursos para esse tipo de atividade”, salientou o vice-presidente. 23
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
Crédito: Clóvis Miranda
ECONOMIA & SOCIEDADE
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M REVISTA CENARIUM traz as perspectivas para setores cruciais da região na visão de autoridades e especialistas Paula Litaiff – Da Revista Cenarium
ANAUS - A Amazônia, com os seus mais de 29 milhões de habitantes, distribuídos em 5 milhões de quilômetros quadrados e um terço das florestas tropicais do mundo, será, mais do que em anos anteriores, o centro do debate ambiental em 2021, após a vitória do democrata Joe Biden sobre Donald Trump, nos Estados Unidos da América (EUA), que, equivocadamente, demorou a ser reconhecida pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Marginalizada pelo governo federal, a região amazônica atrai o interesse de Biden e, agora, de aliados políticos e econômicos dos EUA. Mas, o que era uma despreocupação de Jair Bolsonaro até 2020 passará a ser sua principal aflição em 2021. Seu dilema será seguir o discurso negacionista de normalidade ambiental ou ceder à pressão internacional por mais zelo ao desenvolvimento sustentável da Amazônia e de seus povos tradicionais. Embora seja o principal foco do mundo, a questão ambiental da região não compõe, obviamente, toda a sua base estrutural. Há outros segmentos que precisam ser pensados e planejados, como a cultura, industrialização, educação, saúde, entre outros setores. Especialistas ouvidos pela REVISTA CENARIUM alertaram sobre a importância de trabalhar paralelamente os segmentos para a manutenção ambiental, ou o seu detrimento será a consequência.
Com nove Estados brasileiros em sua composição, a Amazônia Legal abrange 775 municípios no Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e cidades do Maranhão. A região, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui um Mapa Integrado dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos que deverão ser mais observados a partir deste ano. A Zona Franca de Manaus (ZFM), que abrange outros quatro Estados da Região Norte (Acre, Rondônia, Roraima e Amapá), será, mais uma, vez confrontada por congressistas sulistas em Brasília (DF) na votação da inadiável Reforma Tributária. Por outro lado, não há nem em Manaus nem no interior do Amazonas, estado que compreende a maior área da região amazônica, alternativa econômica às isenções tributárias. Em meio aos desafios econômicos e ambientais da região, está a pandemia do novo coronavírus, que já matou, aproximadamente, 200 mil no Brasil e atinge metade dos indígenas, povos nativos da Amazônia, com peculiaridades culturais não consideradas pelo Poder Público. O mesmo poder que mal dá conta da população não-indígena. Diante dessa conjuntura, a CENARIUM procurou pesquisadores e autoridades governamentais e não-governamentais para obter perspectivas factíveis para a Amazônia nos próximos meses, considerando os seus variados aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos.
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ECONOMIA & SOCIEDADE
EVOLUÇÃO NA GESTÃO
AMBIENTAL
Victória Sales - Da Revista Cenarium
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ANAUS – Redução dos índices de desmatamento, planejamento da gestão ambiental, revisão de planos diretores, atenção às áreas verdes e tratamento adequado para resíduos sólidos são algumas das expectativas de especialistas em meio ambiente para a gestão dos prefeitos eleitos na Amazônia, que iniciaram seus mandatos em 2021. O coordenador-executivo da Fundação Vitória Amazônica (FVA) e mestre em Relações Internacionais Ambientais pela Universidade de Columbia, Fabiano Silva, deseja um planejamento mínimo na gestão ambiental dos municípios. “Ini-
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cialmente, o ideal é revisar, criar ou implementar os planos diretores das capitais de forma participativa. O segundo ponto é uma atenção especial também para as Áreas de Preservação Permanentes (APP) e os parques municipais”, ressaltou. Segundo Silva, o terceiro ponto crucial seria implementar, de fato, a lei de resíduos sólidos. “O quarto ponto é promover uma mobilidade urbana mais limpa, por meio da melhoria da qualidade do transporte público e o estímulo ao uso das bicicletas onde for possível para reduzir a queima de combustíveis fósseis”, disse.
DESMATAMENTO Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em novembro de 2020, o desmatamento na Amazônia alcançou um novo recorde. Um total de 11.088 quilômetros quadrados foi desmatado entre agosto de 2019 a julho de 2020, atingindo o nível anual mais alto desde 2008, que teve 12.911 quilômetros quadrados desmatados. Os dados preliminares estão previstos de serem confirmados ainda no início deste ano. No Amazonas, prefeitos de municípios que estão entre os maiores desmata-
Crédito: Ricardo Oliveira
Atenção às áreas verdes e parques municipais é medida esperada nas cidades da Amazônia
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
dores da Amazônia, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), se comprometeram, nos planos de governo, a tratar as políticas ambientais como prioridade. Marcos Lise (PSC), prefeito eleito de Apuí, destaca que irá revisar todo o Plano Municipal de Captação, Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos, Orgânicos e de Saúde, além de implementar o Programa Municipal de Ajardinamento e Arborização Urbana. Por sua vez, Zeca Cruz (PP), eleito em Boca do Acre, destaca que irá garantir um programa permanente de assistência técnica aos produtores rurais e criará o Plano Municipal do Meio Ambiente e de Educação Ambiental. Em Lábrea, Gean Barros (MDB) diz ter como principal objetivo implementar o Plano Municipal de Preservação do Meio Ambiente, além de criar uma política municipal de sustentabilidade.
POVOS INDÍGENAS Em quatro capitais da Amazônia é possível identificar planos para os povos indígenas que, espera-se, devem ser implementados a ainda em 2021. Em Belém (PA), Edmilson Rodrigues (PSOL) ressalta que indígenas sejam reconhecidos independente do lugar e do modo em que vivem. Arthur Henrique (MDB), de Boa Vista (RR), salienta que irá ampliar o incentivo às atividades produtivas nas comunidades indígenas. Em Palmas (TO), Cinthia Ribeiro (PSDB) frisa que irá criar Bikers Parques da Serra e da cidade ligando o bairro Cesamar ao Parque dos Povos Indígenas, com sinalização, pontos de apoio e segurança. No que se refere à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o que os povos indígenas esperam para 2021 é o reforço no enfrentamento à doença. Para o presi-
dente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), Marivelton Barroso, a implementação das barreiras sanitárias nos locais indicados e definidos dá condição para que os aldeados possam se proteger contra invasores. “É uma obrigação do Estado poder cumprir com o papel de proteção na defesa dos direitos territoriais, além de assegurar uma proteção máxima aos povos indígenas, principalmente, nesse momento de pandemia”, disse Marivelton.
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É uma obrigação do Estado poder cumprir com o papel de proteção na defesa dos direitos territoriais”
Crédito: Ricardo Oliveira
Marivelton Barroso, presidente da FOIRN.
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ECONOMIA & SOCIEDADE
VACINAÇÃO
É DESAFIO
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
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ANAUS - Em meio à pandemia de Covid-19, a Amazônia iniciou 2021 na expectativa por um plano de vacinação para imunizar os mais de 28 milhões de habitantes da região. Alguns Estados registram aumento e outros vivenciam a estabilidade no número de casos da doença. Ao todo, são mais de 1,1 milhão de pessoas infectadas e 25,5 mil mortes, se somados os números dos nove Estados coletados de março até o início de dezembro de 2020.
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Apesar de os casos e óbitos terem apresentado uma leve queda em relação aos meses anteriores, provavelmente, nos próximos três meses voltarão a apresentar um gradativo crescimento”
Allan Sérgio, pesquisador da UFAM.
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De acordo com dados do consórcio dos veículos de imprensa do dia 8 de dezembro de 2020 Pará, Maranhão, Amazonas e Mato Grosso lideram o ranking da pandemia na Amazônia Legal. Acre e Amapá são os Estados que possuem menos casos da doença, mas a pandemia avança na região em Estados que até então estavam controlando a Covid-19. O pesquisador Allan Sérgio, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM),
explica que fica difícil saber o comportamento da pandemia pelos próximos três meses. Allan faz uma análise usando dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) que mostram a perspectiva de evolução dos casos e óbitos no Amazonas para os próximos três meses. “Apesar de os casos e óbitos terem apresentado uma leve queda no último período (07/11 a 06/12), em relação aos meses anteriores, provavelmente, nos próximos três meses o número de casos e óbitos voltarão a apresentar um gradativo crescimento, em reflexo ao aumento no número de testagens e na diminuição da adoção de medidas preventivas, como por exemplo, a não utilização de máscaras e a ocorrência de aglomerações, com destaque para as festas de final de ano e o retorno das aulas nas instituições de ensino superior públicas, previsto para o início do mês de março”, explicou o pesquisador. Em reunião com governadores da Amazônia, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que existem três negociações sendo realizadas para a aquisição de vacina com o Instituto Butantan, Pfizer e AstraZeneca. Todas estão na terceira fase de testes e devem passar pela avaliação da Agência de Vigilância em Saúde (Anvisa), que deve ser feita em até 60 dias.
Ranking de casos de Covid-19 na Amazônia Legal ESTADOS
CASOS
MORTES
*POPULAÇÃO
PA
276.221
6.959
8.602.865
MA
195.221
4.344
7.075.181
AM
182.875
4.964
4.144.597
MT
163.002
4.203
3.484.466
TO
83.544
1.184
1.577.866
RO
83.392
1.604
1.777.225
RR
65.084
744
605.761
AP
61.393
830
845.731
AC
37.428
736
881.935
TOTAL
1.148.160
25.568
28.990.627
Fonte: Consórcio de veículos de imprensa. Dados coletados até 8 de dezembro de 2020. *Dados de população estimados pelo IBGE.
Crédito: Ricardo Oliveira
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
Pesquisadores apontam tendência de aumento nos números da pandemia nos próximos três meses
Inimigo Voraz A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) divulgou, no final de dezembro de 2020, o relatório “Nossa Luta é Pela Vida”, que retrata os impactos da pandemia de Covid-19 entre os povos indígenas do Brasil. A entidade aponta que mais de 50% dos indígenas foram atingidos diretamente pelo novo coronavírus, até novembro de 2020. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), existem 225 povos indígenas, além de referências de 70 tribos vivendo em locais isolados e que ainda não foram contatadas. O último Censo (2010) apontou que o Brasil tinha 896 mil indígenas.
“Em um período crítico da pandemia houve um salto de sete óbitos, no início do mês de abril, para 383 mortes até o final do mês de junho de 2020. A Funai havia gasto apenas 1,18% do seu orçamento para o combate à Covid-19 entre os povos indígenas”, diz um dos trechos do estudo da Apib. No documento, a organização faz um panorama dos primeiros oito meses da crise sanitária e humanitária e, junto com o Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, conseguiu investigar e confirmar que 161 povos já registraram casos confirmados do novo coronavírus. 29
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Em 2021, avançaremos com a elaboração do nosso planejamento estratégico e buscaremos garantir a qualidade da nossa produção científica e inovação tecnológica” Antônia Maria Ramos Franco Pereira, diretora do INPA.
Crédito: Diego Peres | SECOM
Crédito: Cimone Barros | INPA
Crédito: Luís Macedo | Câmara Federal
ECONOMIA & SOCIEDADE
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Chegou a hora de atrair investimentos, como o turismo, que tem caráter de preservação e pouco impacto ambiental. Precisamos de um plano de ação do Conselho da Amazônia” José Ricardo (PT), deputado federal.
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Em 2021 e em todos os anos, o que deve prevalecer é a união apartidária de líderes políticos e econômicos para o desenvolvimento da Amazônia e de seus povos” Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas.
O que dizem de 2021 M
ANAUS – Após enfrentar os desafios da pandemia do novo cronavírus em 2020, personalidades, figuras públicas e políticos da Amazônia Legal revelam planos de esperança e recomeço. Nas frases colhidas pela REVISTA CENARIUM, também dizem quais são as perspectivas à frente de instituições de grande importância para o desenvolvimento da região e da qualidade de vida da população em 2021.
Crédito: Luís Macedo | Câmara Federal
Carolina Givoni – Da Revista Cenarium
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Retomaremos nosso percurso normal que o Brasil tanto precisa. Nós (Congresso) vamos votar e fazer avançar, pela recuperação da economia e solução para a pandemia” Plínio Valério, senador.
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Crédito: Divulgação | SEMCOM
Crédito: Divulgação | PF
Crédito: Divulgação | SEMCOM
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
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Só posso desejar mais união, amor e solidariedade. Devemos caminhar e acreditar nas sementes que serão plantadas hoje, no presente, para colher o futuro”
Arthur Virgílio Neto, ex-prefeito de Manaus.
Alexandre Saraiva, superintendente da Polícia Federal no Amazonas.
Elisabeth Valeiko, ex-primeira-dama de Manaus
Crédito: Ricardo Oliveira
Crédito: Divulgação | TCE
Queremos continuar trabalhando junto às instituições e à sociedade, para garantir que os avanços da Operação Arquimedes sejam ampliados a toda a Amazônia”
Crédito: Divulgação | UEA
O futuro da Amazônia depende de cada um de nós, incluindo o presidente da República. Só teremos futuro pra valer, se soubermos trabalhar a biodiversidade”
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Em 2021, a UEA completa 20 anos de história, com mais de 56 mil pessoas formadas pela universidade, que é estratégica para o desenvolvimento do Amazonas”
O maior desafio, como procuradorgeral, é investir na qualificação dos membros e servidores do Ministério Público, para que a gente possa buscar o diferencial”
Cleinaldo Costa, reitor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Alberto Nascimento, procurador-geral de Justiça do Amazonas.
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Desejo pôr em prática, em 2021, as lições que 2020 nos impôs. Que tenhamos saúde para realizar os projetos adiados pela Covid-19 e bem servir o povo do Amazonas” Mario Manoel Coelho de Mello, presidente do Tribunal de Contas do Amazonas.
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ECONOMIA & SOCIEDADE
RETOMADA DO CRESCIMENTO
Crédito: Ricardo Oliveira
Victória Sales e Náferson Cruz – Da Revista Cenarium
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ANAUS – A retomada do crescimento industrial com estratégias para driblar a crise econômica, a chegada da vacina contra a Covid-19, projetos para unir agronegócio e sustentabilidade e o estímulo a empreendimentos voltados à biotecnologia. Estes são alguns dos fatores que deixam economistas otimistas e na expectativa pelo crescimento da economia na Amazônia em 2021. O otimismo dos especialistas tem como base notícias como a que aponta que sete em cada dez indústrias no Brasil já retornaram para o mesmo nível pré-pandemia na produção, segundo levantamento da Confederação Nacional de Indústrias (CNI). Algumas empresas, aponta a CNI, destacam entre as estratégias montadas para vencer a crise, a
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busca por novos fornecedores, aquisição de máquinas e novas técnicas de gestão em produção. Essas iniciativas garantem que pelo menos, 45% dos empresários mantenham a produção maior que a de fevereiro desse ano. Para o economista e consultor de empresas Marcus Evangelista, com a chegada da vacina contra a Covid-19, a tendência é que a economia mundial volte a se recuperar e a Zona Franca de Manaus (ZFM), por exemplo, não ficará de fora disso. “Lembro que nessa mesma época do ano, em 2019, em entrevistas a vários jornais, falava das expectativas para 2020, que eram muitos boas, mas aí veio a pandemia e tudo mudou. Nosso foco está na vacina, será o grande divisor de águas agora em 2021”, destacou.
No Amazonas, Evangelista ressaltou também que o agronegócio vem despontando como um segmento que pode dividir a sustentação da economia do Estado e que, atualmente, temos apenas o Polo Industrial de Manaus (PIM) como esteio principal hoje. “Para ocorrer a expansão (do agronegócio), fez-se necessária a flexibilização que, desde que respeitada, possibilitará o incremento da economia sem detrimento do meio ambiente. É importante destacar também que quando se fala em alimentos, tudo que se consome aqui vem, praticamente, 100% de fora. Uma vez tendo produção de escala dos agronegócios na região, além da geração de empregos, teremos uma possível redução dos preços ao consumidor”, salientou.
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
Crédito: Ricardo Oliveira
A indústria já começa a dar sinais de recuperação, aponta levantamento da CNI
BIOECONOMIA Com um grande potencial de geração de emprego e renda, além da ampliação de matrizes econômicas sustentáveis, negócios voltados à bioeconomia podem ganhar impulso com a implantação de atividades ligadas à biotecnologia e processos industriais de menos impacto ambiental na Amazônia. Para o economista Orígenes Martins Junior, o potencial econômico da região amazônica está, até hoje, dependente excessivamente do governo federal. A chegada de novos prefeitos com uma conjuntura diferente pode gerar um novo modelo de gestão das potencialidades econômicas dessa região. “Isso engloba desde o setor turístico, passando pelo setor agrícola e, principal-
mente, o aproveitamento da indústria de beleza natural de biomedicina. Os prefeitos precisam ter a consciência de seu papel de captadores de investimentos para os municípios, tornando-os independentes”, declarou o economista. Desde o início do segundo semestre de 2020, cerca de 180 cientistas entre brasileiros e estrangeiros deram início aos debates que visam ao desenvolvimento de diferentes estratégias voltadas para a sustentabilidade da região amazônica. A iniciativa de pesquisa batizada de Painel Científico para a Amazônia (Science Panel for the Amazon, ou SPA), realizada em plataforma virtual, está prevista para o primeiro semestre de 2021, com atendimento à Bacia Amazônica e seus biomas.
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Nessa mesma época do ano, em 2019, falava em entrevistas das expectativas para 2020, que eram muitos boas, mas aí veio a pandemia e tudo mudou. Nosso foco está na vacina, será o grande divisor de águas”
Marcus Evangelista, economista. 33
ECONOMIA & SOCIEDADE
DESATAR OS “NÓS”
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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ANAUS - Em ano de transição nas prefeituras, as capitais da Amazônia Legal esperam para o tão sonhado Ano-Novo, uma nova perspectiva de futuro. A mudança desejada inclui desatar os “nós” da mobilidade urbana e do transporte público. A partir de 2021, os prefeitos eleitos terão que “arregaçar as mangas” para fazer com que os projetos apresentados em campanha saiam do papel. Com 3,1 milhões de veículos circulando nas nove capitais da região amazônica, sendo 37.083 entre ônibus e micro-ônibus, de acordo com os dados de outubro de 2019, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a viabilização de projetos de melhoria do transporte público é um ponto essencial quando se fala de Amazônia, afinal, de acordo com o especialista em meio ambiente, engenheiro agrimensor há quase 40 anos, Ricardo Ninuma, a falta de manutenção e inspeção veicular causa influência direta na agressão ao meio ambiente, como na emissão de gases do efeito estufa. “Os gestores precisam dar prioridade total para a circulação do transporte público, pois os condutores de transporte individual e coletivo sofrem com a falta de escoamento natural do fluxo dos veículos. Aqui cabe uma pergunta: como os condutores de veículos particulares serão motivados ao uso do transporte coletivo, se os mesmos sofrem com congestionamentos? A razão para o encorajamento dos condutores particulares migrarem para o transporte coletivo é um sistema viário com implantação das vias arteriais e ampliação das vias coletoras”, disse o ambientalista. Recentemente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que o Brasil pode antecipar a meta prevista no Acordo de Paris de neutralidade na emissão de gases causadores do efeito
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estufa até 2060, caso o compromisso das nações desenvolvidas de repassar US$ 10 bilhões anuais ao Brasil seja cumprido. Para Ninuma, no entanto, além do acordo para redução do poluente, o País precisa desenvolver programas de conscientização, disciplinando a população quanto aos cuidados necessários para a diminuição dos gases tóxicos que afetam o meio ambiente. Nos nove estados da Amazônia Legal, diversos projetos para a área foram apresentados no período da campanha. Em Belém, por exemplo, o prefeito eleito, Edmilson Rodrigues (Psol), pretende agregar o “Plano de Mobilidade de Belém (PlanMob), que tem como um dos objetivos conectar Belém com a Região Metropolitana, segundo apresentou em seu plano de governo de 25 páginas. Em Boa Vista, Roraima, o prefeito eleito Arthur Henrique (MDB) também apresentou, em plano de governo, que buscará continuar com projetos de ampliação da frota do transporte público; o apoio às reivindicações dos taxistas e a implantação de sistemas de geração de energia solar, como forma de melhorar o meio ambiente e reduzir despesas. O Mdbista se comprometeu, ainda, com a manutenção e ampliação das ações de drenagem, pavimentação, recapeamento, construção de calçadas, ciclovias e urbanização. “Para quem anda de ônibus pela cidade, como eu, um transporte público com segurança é essencial, principalmente, à noite, horário que é mais perigoso devido ao risco de assalto”, disse o estudante de Direito, Matheus Rocha, 22, que mora na zona sul de Manaus, mas estuda em uma universidade particular da centro-sul da capital e precisa pegar dois ônibus para chegar ao seu destino, em meio ao horário de pico, entre as 16h e 18h, no trânsito da cidade.
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
Crédito: Ricardo Oliveira
Gargalos do transporte público e da mobilidade urbana são desafios para os prefeitos das capitais da Amazônia
Frota de veículos nas capitais da Amazônia ESTADOS
CAPITAL
TOTAL DE VEÍCULOS
ÔNIBUS
MICRO-ÔNIBUS
Acre (AC)
Rio Branco
192.734
8.602.865
235
Amazonas (AM)
Manaus
778.466
7.075.181
3.062
Amapá (AP)
Macapá
166.023
4.144.597
356
Roraima (RR)
Boa Vista
206.083
3.484.466
551
Mato Grosso (MT)
Cuiabá
445.731
1.577.866
935
Pará (PA)
Belém
481.563
1.777.225
2.185
Rondônia (RO)
Porto Velho
294.886
605.761
582
Tocantins (TO)
Palmas
202.848
845.731
359
Maranhão (MA)
São Luís
427.449
881.935
1.435
TOTAL
3.195,783
27.383
9.700
Fonte: Denatran. 35
ECONOMIA & SOCIEDADE
Organizadores de grandes eventos da Amazônia estão na expectativa pela imunização para a retomada das atividades do setor
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Se o Brasil conseguir organizar um programa eficaz de vacinação, entre janeiro e julho, é muito provável que possamos realizar as procissões”
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AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
Expectativa pela vacina Mencius Melo – Da Revista Cenarium
Com a pandemia, todos foram cancelados em 2020. Para 2021, resta a expectativa de vacinação em massa. Para o presidente do boi Garantido, Antônio Andrade, o momento é de observação. “Estamos observando a evolução das vacinas e tenho certeza que o brasileiro irá forçar o governo a tomar uma atitude e todos irão se vacinar”, avaliou. “Com isso, poderemos ter o nosso festival de volta”, previu.
NO PARÁ Maior evento em aglomeração popular do norte brasileiro, o Círio de Nazaré, em Belém (PA) não pôde acontecer em 2020. A expectativa, segundo Albano Martins, da organização do Círio, é também pela vacina. “Se o Brasil conseguir organizar um programa eficaz de vacinação entre janeiro e julho, é muito provável que possamos realizar as procissões”, declarou.
EM MANAUS Com o ínicio de uma nova gestão, a maior metrópole da Amazônia também aguarda o de-
senrolar dos fatos em 2021. Com eventos como o festival ‘Passo a Paço’ e editais vultosos da fundação Manauscult, em Manaus os agentes culturais fazem previsões e até indicações do que pode vir a ser uma gestão plural para a capital do Amazonas e seus atores e atrizes da cena artística. Para Otoni Mesquita, jornalista, historiador e artista plástico, o futuro da cultura em Manaus passa por um entendimento básico e fundamental para a manutenção da democracia e do livre pensamento. “Penso que a atual gestão seja uma administração que pense na política como uma coisa laica e que tenha profissionais gabaritados”, declarou Mesquita.
ARTE NA GRADE ESCOLAR Professor universitário e ativista cultural, Mesquita acredita e defende que investir na base é a melhor solução. “É preciso investir na educação básica e inserir a arte, que é fundamental na escola. A arte é algo que pode contribuir muito para o pensamento”, ponderou.
Crédito Thiago Gomes | Ag Pará Fotos Públicas
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ANAUS – Palco verde da arte brasileira, a Amazônia reúne inúmeros eventos que fazem parte do calendário regional e nacional de grandes festas. Entre os quais o aclamado Festival Folclórico de Parintins (AM) e o monumental Círio de Nazaré, em Belém (PA). Além deles, existem, ainda, a Festa do Çairé, em Santarém (PA), Ciranda de Manacapuru (AM), Festribal, em Juruti (PA), entre outros.
Além de apontar caminhos, Mesquita chama atenção para os papéis que a arte pode desempenhar. “É preciso criar novos espaços com equipes especializadas, com pessoas comprometidas, afinal a arte não é só fazer espetáculo, arte é formação. Especialização. Oferecer condições para que os profissionais possam avançar”, finalizou Otoni Mesquita. 37
ECONOMIA & SOCIEDADE
Semente de preservação Em Novo Airão, nossa menina da capa mostra seu amor e conexão com a natureza Náferson Cruz e Caroline Viegas – Da Revista Cenarium
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OVO AIRÃO – “Amo a natureza, e não se pode queimar a floresta”. Com a voz suave e serena, assim Maria Izabella Cauache, de 7 anos, demonstrou o amor pela Amazônia, enquanto era retratada para a capa da REVISTA CENARIUM pelas lentes do fotojornalista Ricardo Oliveira. Com seus traços caboclos e olhar de quem tem um mundo a descobrir, a menina simboli-
Maria Izabella com a família em Novo Airão
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za o desejo de uma nova perspectiva de mundo, e lembra que, assim como na natureza, onde a semente precisa de água e solo fértil para germinar, há que se “regar” as crianças da Amazônia, com educação, saúde e qualidade de vida, para sonhar com um futuro de preservação. Maria Izabella mora com os avós maternos, em Novo Airão, município do Amazonas a 230 quilômetros de Ma-
naus, porta de entrada para a beleza do Parque Nacional das Anavilhanas, um dos mais ricos patrimônios biológicos e ecológicos do Brasil. O perfil delicado e o semblante peculiar da região amazônica acentuam a impressão angelical de Izabella, estudante do ensino fundamental. A pequena esbanjava harmonia em meio à exuberante flora da região durante a sessão de fotos. “Se a semente bem cuidada um dia virará uma árvore, uma criança bem cuidada um dia virará uma pessoa adulta. Decidir como queremos que esse adulto seja é papel de todos nós hoje”, diz Clara Lomas, 42, agricultora e avó de Maria Izabella. Clara reside há 6 anos em Novo Airão. A humilde casa de madeira, adornada de plantas e árvores, abriga ela, o marido, autônomo, duas filhas e duas crianças. Para manter a casa, ela cultiva pés de plantas frutíferas e hortaliças. “É com o meu suor e minhas lágrimas de felicidade que rego as mudas, que mais tarde viram árvores e florescem os frutos que sustento a minha família”, declarou a moradora do bairro Alemão, localizado na periferia da cidade.
Crédito: Ricardo Oliveira
AMAZÔNIA: O QUE ESPERAR EM 2021
Após meia hora de conversa com a equipe da CENARIUM, Clara, antes de se despedir, relatou que ela e o marido lutam arduamente para quitar as parcelas da moradia e que parte da renda da lavoura investe na educação dos filhos e netos. “A educação é a base de tudo, aprendemos a lidar com a vida e, principalmente, com a diversidade da floresta”, completou. A filha de Clara, Daniela Silva, mãe de Izabella, trabalha em uma companhia de telefonia móvel em Manaus. Ela conta que as feridas sociais, como a desigualdade, a fizeram procurar um caminho distante da família, mas, no tempo que sobra não perde a oportunidade de abraçar a mãe e a filha. “Fazia tempo que não vinha aqui (Novo Airão), um lugar tão belo, incrível e preservado”, disse Danie-
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Se a semente bem cuidada um dia virará uma árvore, uma criança bem cuidada virará uma pessoa adulta. Decidir como queremos que esse adulto seja é papel de todos nós hoje”
Clara Lomas, 42, agricultora, avó de Maria Izabella. la, enquanto observava a filha tomando banho de praia, próximo aos botos.
Maria Izabella posa para o fotojornalista Ricardo Oliveira, para a capa da REVISTA CENARIUM
A equipe da CENARIUM percorreu 2h30 de carro de Manaus. O acesso é pela rodovia AM-070 (Manaus-Manacapuru), em obras de duplicação, até o KM-080, início da AM-352 (Manacapuru-Novo Airão). São mais 96 quilômetros até a cidade. Entre as atrações de Novo Airão, estão o passeio pelo arquipélago das Anavilhanas, as belas praias e os botos-cor-de-rosa. 39
ECONOMIA & SOCIEDADE
RETROSPECTIVA:
O PESO DE 2020
Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium
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ANAUS – Uma pandemia causada por um novo vírus; mais de 1 milhão de infectados na Amazônia e milhares de mortos por Covid-19; a perda de dezenas de lideranças indígenas vítimas da doença e da falta de acesso à saúde; recessão econômica; queda da produção industrial; desemprego em alta; colapso do sistema de saúde; devastação recorde na floresta amazônica e no Pantanal; racismo; intolerância. 2020 ficará marcado na memória de muitos como um ano que não deveria ter existido. Nesta edição, a REVISTA CENARIUM traz uma retrospectiva de acontecimentos que marcaram a Amazônia neste ano.
Em fevereiro, um ataque à educação e à cultura chamou atenção. Em Rondônia, a Secretaria de Educação determinou o recolhimento, nas escolas do Estado, de uma série de livros clássicos da literatura brasileira, por terem “conteúdos inadequados” às crianças e adolescentes. Dentre os 43 títulos citados no documento, apareciam “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Para especialistas em linguística, um absurdo. O assunto viralizou em todo o País.
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Crédito: Agência Brasil
Em março, a pandemia de Covid-19 chegou com força ao Brasil. No Amazonas, o primeiro caso foi confirmado no dia 13 daquele mês. O Estado foi um dos primeiros da Amazônia a ser afetado e, em pouco tempo, a capital, Manaus, se tornou um dos epicentros da pandemia no País, enfrentando o colapso dos sistemas de saúde e funerário.
Logo no início do ano, ativistas e ambientalistas se questionaram quando o Conselho da Amazônia foi reativado sem representantes dos dois órgãos com atuação direta na proteção do meio ambiente e das populações tradicionais da Amazônia, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a Fundação Nacional do Índio (Funai). O presidente do Conselho, vice-presidente da República, Hamilton Mourão, convidou 15 coronéis, sendo 12 do Exército e três da Aeronáutica, um general, dois majores-brigadeiros e um brigadeiro, além dele mesmo ser general da reserva. Nem os governadores dos Estados que compõem a Amazônia Legal fazem parte do conselho.
No dia 1º de abril, também no Amazonas, foi confirmado o primeiro caso de coronavírus entre indígenas. A paciente era uma jovem de 20 anos da etnia Kokama, que trabalha como agente de saúde indígena de Santo Antônio do Içá, no oeste do Amazonas. Dezesseis dias depois, uma das mais importantes lideranças do povo Sateré-Mawé, o tuxaua Otávio dos Santos, de 67 anos, morreu vítima da doença em Maués (a 641 quilômetros da capital do Amazonas).
REVISTA CENARIUM
Crédito: Ricardo Oliveira
Perdas na economia também foram impactantes. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estimava, à época, que a crise provocada pelo novo coronavírus iria acarretar uma queda de 59,2% no faturamento real do setor no Dia das Mães, em maio.
No mesmo caminho foi o desemprego. Cerca de 100 mil belenenses estavam desempregados, em maio, de acordo com um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sociecônomicos (Dieese/PA). Os dados analisados faziam um comparativo entre o primeiro trimestre de 2020 e o último trimestre de 2019. No maior Estado da Amazônia não foi diferente. Com o comércio fechado, o desemprego atingiu 235 mil amazonenses, em junho, quando houve o fechamento de 11 mil postos de trabalho.
No mês seguinte, em julho, a Amazônia apresentou crescimento de 28% no número de focos de calor, em relação ao mesmo período de 2019. Foram registrados 6.803 focos de calor na Amazônia em julho, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Crédito: Alex Ribeiro | Ag Pará Fotos Públicas
Mas, uma notícia se tornou luz no fim do túnel. O Amazonas foi o único que conseguiu recuperar todas as perdas amargadas na pandemia no setor de produção industrial, influenciado pela venda de bebidas e motos, principalmente, segundo dados divulgados em agosto de 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia alcançou um novo recorde. Um total de 11.088 quilômetros quadrados foi desmatado, entre agosto de 2019 a julho de 2020, atingindo o nível anual mais alto desde 2008, que teve 12.911 quilômetros quadrados desmatados. Segundo o Inpe, uma área de 836,23 quilômetros quadrados estava sob alerta de desmate, em outubro. O maior para o mês, desde que o monitoramento começou.
Crédito Lucas Peceu | Divulgação SEC
As grandes festas tradicionais da Amazônia também sofreram o impacto da pandemia. Em Belém, a Arquidiocese cancelou as 13 procissões tradicionais do Círio de Nazaré. O mesmo ocorreu com a disputa entre Garantido e Caprichoso, no Festival de Parintins, que deveria ocorrer em junho e foi transferido para esse ano, e o Festival da Canção de Itacoatiara (Fecani), no Amazonas, que foi oficialmente cancelado em 2020.
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ECONOMIA & SOCIEDADE
Em novembro de 2020, o Amapá foi o Estado que ficou em maior evidência. Treze, das dezesseis cidades do Estado ficaram no escuro. Após forte chuva no terceiro dia do mês, uma explosão seguida de incêndio comprometeu os três transformadores na mais importante subestação do Estado, que fica na capital. Por conta da crise energética, até as eleições, realizadas no dia 15 de novembro no restante do País, precisaram ser adiadas para dezembro. Após 22 dias de apagão, o governo federal anunciou que a energia foi retomada em 100%.
Crédito: Acervo Pessoal
Crédito: João Paulo Guimarães
Ainda no segundo semestre do ano, o Inpe informou que as queimadas na região do Pantanal brasileiro aumentaram 210%, em 2020, quando comparado ao mesmo período do ano de 2019. Considerando o período de janeiro a setembro de 2019, foram registrados 4.660 focos de incêndio. Em 2020, foram registrados 14.489 focos, no mesmo período.
Em dezembro, nova alta de casos e mortes por Covid-19 no Brasil e o anúncio do início da vacinação em países da Europa e em São Paulo trouxeram um misto de novo temor e expectativa de imunização. Na Amazônia, os governadores se movimentam junto ao Ministério da Saúde na busca por um programa seguro e organizado de imunização. Para o início de 2021, resta uma pergunta para a qual muitos amazônidas esperam a resposta para breve: quando teremos uma vacina acessível a todos? 42
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Crédito: GoveSP Fotos Públicas
Ao longo do ano, casos de mortes por racismo ocorridas em outros países e em outras regiões do Brasil, como o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, a morte do menino Miguel, em Recife, e o espancamento e morte de João Alberto no Carrefour, em Porto Alegre, repercutiram também nos Estados da Amazônia, com manifestações antirracistas e eventos e campanhas que buscaram debater o tema.
A NOTA FISCAL AMAZONENSE VOLTOU COM MAIS DE 150 MIL REAIS EM PRÊMIOS.
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POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
TRAGÉDIA SILENCIOSA Estudo aponta alto índice de contaminação por mercúrio em indígenas da Amazônia Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
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ANAUS – Os povos da Amazônia continuam sofrendo com os impactos devastadores causados pela contaminação do mercúrio usado pelo garimpo ilegal nas florestas brasileiras. Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Organização Não-Governamental (ONG) WWF-Brasil, apontou que a infecção chega a todos os indígenas da etnia Munduruku participantes da pesquisa, sendo que nove em cada dez pessoas que vivem às margens dos rios apresentaram alto nível de contaminação. De acordo com a pesquisa, no médio rio Tapajós, nos municípios de Itaituba e Trairão, no Estado do Pará, níveis de mercúrio acima de limites seguros foram detectados em seis a cada dez participantes (57,9%). O limite máximo considerado seguro pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no uso da substância, é de 6µg.g-1 (microgramas). Em crianças, o levantamento revelou que nove (15,8%), em um total de 57 menores de cinco anos avaliadas, apresentaram problemas nos testes de neurodesenvolvimento. Conforme o coordenador do estudo e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz Paulo Basta explicou ao WWF-Brasil, o projeto foi realizado para atender a um pedido da Associação Indígena Pariri, que representa o povo Munduruku, por conta da elevada devastação do ambiente natural e da
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contaminação provocada pelo mercúrio no rio Tapajós e seus afluentes. “Os resultados nos mostram que a atividade garimpeira vem promovendo alterações de grande escala no uso do solo nos territórios tradicionais da Amazônia, com impactos socioambientais diretos e indiretos para as populações locais, incluindo prejuízos à segurança alimentar, à economia local, à saúde das pessoas e aos serviços ecossistêmicos”, explicou.
RISCOS A contaminação por mercúrio chama a atenção para certos problemas de saúde, identificados por especialistas. Segundo um estudo da neurocientista Claudia Feitosa-Santana, mesmo morando em áreas não afetadas por hidrelétricas, extração de ouro, desmatamento ou sem nenhum contato direto com potenciais fontes de contaminação por mercúrio, ribeirinhos apresentam prejuízos na visão. Os efeitos tóxicos da substância incluem, também, danos ao cérebro, rins e pulmões, o que pode resultar em doenças como a síndrome de Minamata (nome derivado de uma cidade japonesa que sofreu com uma contaminação em massa pelo metal, provocando a morte de milhares de pessoas).
ALIMENTO INFLUENCIA O consumo de peixes contaminados por mercúrio pode, ainda, ser irreversível. O estudo da Fiocruz e da WWF-Brasil
também apontou que a principal fonte de proteína das comunidades, o pescado, foi atingida. Segundo nota técnica da pesquisa, foram capturados 88 exemplares de peixes, pertencentes a 18 espécies distintas, que correspondem aos níveis tróficos piscívoro, onívoro, herbívoro e detritívoro. O levantamento mostrou que todos os exemplares capturados estavam contaminados, indicando a magnitude do impacto da atividade garimpeira na região. Além disso, dados obtidos a partir das entrevistas mostram que 96% dos participantes ingerem peixes regularmente.
RECOMENDAÇÕES No estudo, as organizações consideram que os resultados do levantamento “convertem-se em evidências inequívocas dos efeitos deletérios da contaminação por mercúrio entre os habitantes das três aldeias Munduruku avaliadas” e apresentam uma série de recomendações ao poder público. Entre as medidas solicitadas, o estudo requer a interrupção imediata das atividades garimpeiras e a completa desintrusão (medida legal tomada para concretizar a posse efetiva da terra indígena a um povo) das terras indígenas afetadas pela mineração ilegal; além do desenvolvimento de um plano de descontinuidade do uso de mercúrio na mineração artesanal de ouro em todo o País, seguindo recomendações da Convenção de Minamata.
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Crédito: Ascom Ibama | Fotos Públicas
Avanço do garimpo ilegal tem intensificado a contaminação do pescado e dos povos tradicionais da Amazônia
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POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
MILÍCIA DOS RIOS Milicianos combatidos em ‘zona de guerrilha’ dos rios agem em outro território na Amazônia Náferson Cruz – Revista Cenarium
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ANAUS – Uma ação violenta, opressora e ilegal das milícias dos rios, próximo ao município de Coari, a 363 quilômetros de Manaus, pode estar se direcionando para a região mais acima da cidade do gás e do petróleo, o município de Alvarães, a 530 quilômetros da capital amazonense.
A cidade está situada na cabeceira das confluências dos rios Japurá, Içá e Solimões, rota da droga mais aquecida no Estado do Amazonas. A localidade também tem ligação após alguns dias de caminhada pela mata com o Rio Negro.
Segundo o Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), o motivo para tal redirecionamento das ações criminosas praticadas pelas milícias dos rios foi a instalação da Base Arpão, no trecho mais estreito do rio Solimões, próximo à Base da Petrobras, no município de Coari.
Segundo analistas de segurança pública, a instalação da base Arpão, no dia 14 de agosto de 2020, conseguiu dar um duro golpe no crime organizado, levando segurança aos ribeirinhos e moradores dos municípios do Alto Solimões. As apreensões de entorpecentes e crimes ambientais tota-
Base Arpão, instalada próximo a Coari, inibiu ação criminosa na região, provocando o deslocamento das quadrilhas, segundo a SSP
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BASE ARPÃO
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Essa estratégia da polícia levou baixa aos criminosos que, agora, tendem a procurar outros territórios, um deles que já está sendo monitorado é Alvarães”.
Paulo Mavignier, delegado.
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territórios, um deles que já está sendo monitorado é Alvarães”, revelou Mavignier.
“Coari é uma cidade estratégica devido a sua localização, no meio da confluência das três principais rotas no Estado, os rios Japurá, Içá e Solimões. Esses rios se unem em Alvarães e, logo depois a rota passa por Tefé e Coari. Isso favoreceu o surgimento de facções ribeirinhas e grupos de piratas armados, que começaram a roubar armamento, evoluíram e se transformaram em uma espécie de milícia”, comentou o delegado Paulo Mavignier, diretor do Denarc.
ZONA DE GUERRILHA
Segundo o delegado, o projeto Arpão tem o viés de combater a biopirataria e o narcotráfico e a instalação naquele ponto estratégico fez com que os índices de criminalidade tivessem um declínio. “Essa estratégia da polícia levou baixa aos criminosos que agora tendem a procurar outros
De acordo com informações do Denarc, a região no entorno de Coari, antes da base Arpão, era uma verdadeira “zona de guerrilha”. “Os piratas ou milicianos dos rios atacavam as comunidades, assaltavam e roubavam mercadorias e mantimentos dos ribeirinhos. Faziam vigilância de dia e noite, com rádios e outros tipos de equipamentos tecnológicos, os criminosos atacavam qualquer embarcação, incluindo uma emboscada à lancha da Polícia Militar, com armamento pesado”, contou.
LIGAÇÃO COM O PCC Questionado quanto à aliança dos piratas dos rios com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Paulo Mavignier disse que é muito prematuro
afirmar se existe ligação entre os grupos criminosos. “Esses milicianos dos rios são independentes e têm seus compradores de droga em Manaus, mas vale ressaltar que com a Arpão, a violência naquela região amenizou bastante”, explicou. Apesar da instalação da base Arpão numa área estratégica, por outro lado, ou melhor, pelos céus, houve um aumento no fluxo de aeronaves transportando drogas, entretanto, Mavignier confirmou, mas preferiu não entrar em detalhes para não mudar o curso das investigações, que consiste até no mapeamento de pistas clandestinas. Atualmente, as cargas de cocaína partem de regiões da fronteira próximas a Letícia, pelo rio Solimões, Tarapacá, pelo rio Içá e Distrito de Vila Bitencourt, pelo rio Japurá. Logo depois, a rota cai em apenas uma confluência, próximo a Alvarães, no rio Solimões. Crédito: Arthur Castro | Secom
lizam prejuízo de mais de R$ 5 milhões ao crime organizado.
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O TRABALHO fala pela gente
Falar que vai construir obra é fácil. Difícil é colocar o primeiro tijolo e concluir o que foi prometido. Falar que vai melhorar a vida das pessoas é fácil. Difícil é garantir de verdade serviços básicos de qualidade no dia a dia de quem mais precisa. Nos últimos dois anos, o nosso estado conheceu um novo tipo de governo: responsável, comprometido e, acima de tudo, trabalhador. Falando menos e fazendo mais, o Governo do Amazonas avançou com obras estruturantes e investimentos sociais importantes em todas as regiões. Muita coisa que, inclusive, talvez você desconheça. Mas o resultado já começa a aparecer, com o benefício chegando à casa de quem antes não tinha vez nem voz. Agora é daqui para melhor. Deixa o trabalho falar!
www.amazonas.am.gov.br
SAÚDE Fim da fila de espera para tratamento de radioterapia na FCECON.
Fim da fila de consulta em 14 especialidades no Hospital Adriano Jorge.
300 novas vagas para hemodiálise.
29 mil atendimentos pelo Programa Melhor em Casa, beneficiando pacientes com dificuldade ou impossibilidade física de locomoção até uma unidade de saúde.
100% dos municípios do Amazonas com ventiladores mecânicos e digitalizadores de exames.
INVESTIMENTOS SOCIAIS Inclusão de mais 220 mil famílias na Tarifa Social de Energia Elétrica.
Incentivo à produção rural da agricultura familiar e na assistência a pessoas em situação de vulnerabilidade social, que beneficiou 1.911 produtores rurais com a aquisição de 5.365 toneladas adquiridas por meio de 45 itens.
Apoio e assistência técnica a 35 mil agricultores dos 62 municípios.
EDUCAÇÃO 400 mil estudantes beneficiados com o Projeto Aula em Casa, criado para os alunos não perderem o ano letivo por conta da pandemia.
13 mil professores conquistaram progressões, garantindo ganhos salariais de 2% até 55%.
284 escolas, em 43 municípios, foram revitalizadas, construídas ou ampliadas.
400 mil estudantes beneficiados pelo Programa Merenda em Casa, criado durante a pandemia para levar à casa dos alunos alimentos de qualidade.
SEGURANÇA Mais de 29 mil itens adquiridos, como armamentos, munições, computadores, granadas, capacetes balísticos, escudos balísticos, lanchas blindadas, micro-ônibus e carros.
Implantação do programa ‘Rocam Motos’, com a entrega de 60 motocicletas.
R$ 100 milhões de prejuízo ao crime organizado. Queda em todos os índices de criminalidade em
Manaus. 27% mais orçamento para a segurança.
Base Arpão para reforçar o patrulhamento dos rios e combater o tráfico de drogas e os assaltos a embarcações.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL E CRIAÇÃO DE EMPREGOS 183 mil pessoas beneficiadas pelos 688 cursos destinados a especializações técnicas e formação profissional ofertados pelo CETAM.
Mais de 6.800 novos servidores efetivados, por meio de concursos públicos, nas áreas de educação, segurança, saúde e setor primário.
16 mil operações de crédito realizadas na capital e no interior concedido a micro e pequenos empreendedores.
INFRAESTRUTURA Construção do Viaduto do Anel Viário Sul, o maior de toda a Região Norte.
Mais de 500 mil pessoas beneficiadas com a recuperação do sistema viário em 15 municípios.
60 quilômetros implantados de rede de água e esgoto.
119 obras retomadas em 51 municípios.
100 obras executadas e entregues. Todos os municípios com obras.
POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
DANO IRREPARÁVEL Maior apreensão de madeira na história representa tragédia ambiental, aponta ambientalista Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium
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REVISTA CENARIUM
De acordo com o MPF, as investigações tiveram início em meados de novembro de 2020, após a apreensão de uma balsa em Parintins, com 3 mil metros cúbicos de madeira extraídos do Pará.
Em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), a PF conseguiu chegar à quantidade de 43.700 toras de madeira no Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, em uma região que faz fronteira com o Amazonas, por meio do município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus). Pesquisadores ouvidos pela REVISTA CENARIUM comentaram os impactos do crime à floresta.
RAMAIS IRREGULARES
Informações sobre a origem desse carregamento e análise de imagens de satélite por meio do Sistema Planet levaram a Polícia Federal, em sobrevoos de helicóptero, aos pontos onde foram encontradas as toras de madeira no rio.
O ambientalista Carlos Durigan explicou que a extração ilegal de madeira é feita sem nenhuma boa prática de manejo, o que leva a produzir grandes impactos, seja sobre as espécies exploradas e cortadas, assim como em toda a área onde ocorrem, com a abertura irregular de ramais e picadas para acesso às áreas e extração. “Na falta de manejo, acabam por extrair grandes árvores que numa área de manejo não seriam retiradas. Muitas delas com centenas de anos. Assim, uma área com esse tipo de exploração,
43.700
A Polícia Federal apreendeu 43.700 toras de madeira no Pará, no final de dezembro.
dificilmente voltará a ter a mesma fisionomia”, disse o especialista. Durigan também avalia que o dano é irreparável, porque muitas das áreas desmatadas passam a ser utilizadas por outras atividades impactantes, como agricultura e pecuária extensiva. Segundo ele, as áreas ficam ainda mais frágeis. “Com essa mudança de cenário, o local desmatado fica mais propenso a incêndios florestais”, explicou. De acordo com o procurador da República Leonardo Galiano, a estimativa inicial em relação ao volume de madeira apreendido é de 131,1 mil metros cúbicos, mas esse número pode ser ainda maior. O combate à exploração de madeira na floresta Amazônica foi tema de reunião do MPF com o Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e resultou no encaminhamento de medidas para prevenir a prática do crime na região. Também foram discutidos os resultados da Operação Arquimedes, o impacto da repressão à exploração ilegal de madeira e os índices de desmatamento na Amazônia.
ESPÉCIES AMEAÇADAS A necessidade de inclusão do ipê na lista de espécies florestais ameaçadas de extinção ou em situação de alerta da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites, na sigla em inglês) também foi pauta da reunião entre MPF, MMA e Ibama. A medida é objeto de procedimento do MPF no Amazonas. O ipê, cujo nome científico é Handroanthus, é a espécie mais explorada da região amazônica, de acordo com dados consolidados da Operação Arquimedes.
Apreensão foi feita no Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, em uma região que faz fronteira com o Amazonas, pelo município de Parintins
O Ministério do Meio Ambiente, o Ibama, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e outras instituições estão levantando os dados e identificando os estudos sobre o tema para atender às requisições do MPF, que deverão subsidiar as providências adotadas pelo órgão. 51
Crédito: João Paulo Guimarães
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ANAUS – Considerada a maior da história, a apreensão de mais de 130 mil metros cúbicos de madeira retirada da floresta de forma ilegal no final de dezembro de 2020 levantou o debate entre especialistas que apontaram ser este um “dano irreparável” ao meio ambiente. As toras de madeira foram apreendidas pela Polícia Federal (PF), durante a Operação Handroanthus GLO.
MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS
MARÉ DE PLÁSTICO
Segundo estudo, o volume anual do produto que entra no oceano subirá de 11 milhões de toneladas, em 2016, para 29 milhões de toneladas, em 2040. 52
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REVISTA CENARIUM
MARÉ DE PLÁSTICO
Da Revista Cenarium*
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RASÍLIA – Caso não sejam tomadas medidas urgentes e de impactos ambientais e financeiros, o volume de plástico existente no mercado dobrará. O volume anual do produto que entra no oceano subirá de 11 milhões de toneladas, em 2016, para 29 milhões de toneladas, em 2040, e a quantidade nos oceanos quadruplicará, atingindo, no mesmo período, mais de 600 milhões de toneladas. A projeção foi feita pelo estudo Breaking the Plastic Wave (Quebrando a Onda dos Plásticos, em tradução livre), publicado pela Pew Charitable Trusts e a Systemiq e feito em parceria pela Fundação Ellen MacArthur, Universidade de Oxford, Universidade de Leeds e Common Seas. Os 29 milhões de toneladas de plástico que poderão entrar nos oceanos em 2040 representarão 100% de emissão de gases de efeito estufa, envolvendo um cenário sem mudanças na cultura ou no comportamento do consumidor. O cus-
75%
A emissão de gases poluentes na atmosfera diminuiria para 75% ao ano, com uma economia circular do plástico.
to líquido desse vazamento é estimado em US$ 940 bilhões por ano.
Em entrevista por e-mail à reportagem, o líder da iniciativa Nova Economia do Plástico, criada em 2016 pela Fundação Ellen MacArthur, Sander Defruyt, explicou que o cenário descrito no estudo é uma projeção do que pode ocorrer, caso o cenário permaneça como está. “Ele revela o quanto é poluente e desperdiçador o atual sistema e reforça a necessidade de uma mudança. A transição para uma economia circular do plástico poderia gerar economia anual estimada em US$ 200 bilhões, em comparação ao cenário atual, além dos benefícios ambientais e climáticos”.
SOLUÇÃO PRÉVIA Para a idealizadora da fundação, Ellen MacArthur, a solução tem que ser encontrada muito antes que o plástico chegue aos oceanos. Ela reiterou que uma mudança em direção a uma economia circular, com a máxima redução do uso do plástico, da coleta e reciclagem, e a substituição do produto sempre que possível, permitiria que, até 2040, o volume que entra nos oceanos caísse para 5 milhões de toneladas por ano. O custo líquido total para todo o sistema, que abrange desde a matéria-prima até a produção e o gerenciamento pós-uso, seria reduzido para US$ 740 bilhões. Considerando dados de 2016, que indicam um vazamento de 11 milhões de toneladas de plástico nos oceanos, a redução seria de 52%. A emissão de gases poluentes na atmosfera diminuiria para 75%, ao ano. A economia circular é um conceito econômico que faz parte do desenvolvimento sustentável. É uma nova forma de pensar o futuro e como nos relacionamos com o planeta, dissociando o crescimento econô-
mico e o bem-estar humano do consumo crescente de novos recursos.
MEDIDAS A Fundação Ellen MacArthur enumera, entre as ações urgentes a serem adotadas pelos países e pela sociedade, a eliminação dos plásticos não necessários, “não só removendo os canudos e as sacolas, mas também ampliando modelos de entrega inovadores, que levem os produtos aos clientes sem embalagem ou utilizando embalagens retornáveis e estabelecendo metas ambiciosas para reduzir o uso de plástico virgem”. A entidade avalia que a redução do uso em cerca de 50% até 2040 equivaleria a um crescimento líquido nulo no uso de plásticos para o período. Todos os itens plásticos devem ser projetados para ser reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis, indica a fundação. Para ela, é essencial financiar a infraestrutura de modo a aumentar a capacidade de coleta e circulação desses itens, o que demandaria recursos em torno de US$ 30 bilhões anuais. Por essa razão, recomenda que devem ser implementados em todo o mundo, com urgência, “mecanismos que melhorem as condições econômicas da reciclagem e forneçam fluxos de financiamento estáveis com contribuições justas da indústria”, como a responsabilidade estendida do produtor e outras iniciativas. Sander Defruyt afirmou que não existe uma solução única para o problema do plástico, como mostra o estudo. “Reduzir, reutilizar e reciclar são todos elementos que precisam compor a solução”. Ele informou que, atualmente, apenas 14% das embalagens são recolhidas para reciclagem no mundo. (*) Com informações da Agência Brasil. 53
Crédito: Marcus Eriksen Algalita | Marine Research Foundation - Fotos Públicas
Quantidade de plástico nos oceanos pode chegar a 600 milhões de toneladas, em 2040
Crédito: GoveSP | Fotos Públicas
MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS
Compasso de espera Organização Mundial da Saúde alerta que maior parte da população será vacinada em 2022 Da Revista Cenarium* Inicialmente, o acesso à imunização com a vacina de Covid-19 será limitado, segundo a OMS
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ANAUS – A OMS (Organização Mundial da Saúde) alerta para a possibilidade de grande parte da população só ser vacinada contra a Covid-19 em 2022. Para a entidade, não há como todos os habitantes do planeta serem imunizados em um único ano. Na visão da OMS, também não há capacidade de produzir doses suficientes para abastecer o mundo todo em 2021. Para a entidade, os grupos prioritários para receber a vacina esse ano serão os profissionais da saúde, idosos e pessoas com vulnerabilidades. Juntos, esses gru-
“
No entanto, ela afirma que o acesso será limitado e que uma “pessoa comum, jovem, talvez vai precisar esperar até 2022”. Swaminathan ponderou que a esperança será de que, ao vacinar uma parcela da população, a taxa de mortalidade caia. Segundo ela, a vacina só vai gerar imunidade de rebanho, após 70% da população ser imunizada, o que equivale a 5 bilhões de pessoas. A meta da OMS até o final de 2021, é vacinar 2 bilhões de pessoas, o que será a maior campanha de vacinação da história.
Uma pessoa comum, jovem, talvez vai precisar esperar até 2022”
Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS. pos representam menos de 20% da população total do planeta. A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, disse que grande parte do mundo deve ter uma vacina em 2021.
2 bilhões 54
A diretora técnica da OMS, Maria van Kerkhove, insiste que não é necessário esperar uma vacina para controlar o vírus. Segundo ela, temos “instrumentos para impedir a transmissão”, citando países
A meta da OMS é vacinar 2 bilhões de pessoas até o final de 2021, o que será a maior campanha de vacinação da história.
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5 bilhões
que conseguiram manter baixas as taxas de contaminação, mesmo sem a vacina. Mesmo com o grande salto de novos casos, a esperança da entidade é que, agora, as taxas de mortalidade sejam menores, porque médicos estão mais preparados e existem alguns tratamentos para pacientes mais graves. Além disso, nesse momento, são os jovens os mais atingidos pela doença, e os diagnósticos têm sido dados cada vez mais cedo. A OMS afirmou também que “nunca recomendou” um lockdown completo nos países e que sempre insistiu em um pacote de medidas para o enfrentamento da pandemia. A diretora técnica declarou que muitos países precisaram tomar a atitude de um fechamento completo para aliviar os sistemas de saúde sobrecarregados. “Alguns países não tiveram opção”, pontuou. Kerkhove disse esperar que os governos, diante da segunda onda da doença, optem por medidas localizadas, em regiões mais afetadas. *Com mais informações do Poder360.
A vacina só vai gerar imunidade de rebanho após 70% da população ser imunizada, o que equivale a 5 bilhões de pessoas.
ARTIGO – FLÁVIA OLEARE
A raça humana é uma só Flávia Oleare*
O Ser Humano merece respeito. Independente de classe social. Cor. Idade. Opção Sexual. Estado Civil. Gênero. Religião. Estado de saúde. Nenhum governo, partido político, pessoa física, pessoa jurídica, pastor, padre, mãe de santo, político ou qualquer outro pode dizer o contrário. Você não precisa concordar com a forma de ser, com o jeito, com as opções, com NADA que diga respeito ao outro. Mas é obrigado a RESPEITAR. A não agredir. A não tratar mal. A não agir com violência. A não xingar. Isso é um princípio básico da convivência em sociedade. É sério que é preciso que uma lei diga que agredir um ser humano que ama uma pessoa do mesmo sexo é crime? Que para uma criança, é muito melhor viver em um lar com dois homens ou duas mulheres do que crescer em um abrigo? Que uma pessoa com idade avançada precisa ser bem tratada? Isso não seria o básico?
– Mas Flávia, o que isso tem a ver com o Direito? Simples, meus amigos! Se houvesse respeito, 90% dos litígios não iriam para o Judiciário. Se houvesse respeito, não seriam necessárias tantas leis. Se houvesse respeito, tantas coisas seriam evitadas… Será tão difícil assim entender algo tão elementar? Precisou de uma pandemia para mostrar isso? E o pior é que ainda não conseguiu! Mas, não percamos a esperança… Estamos todos no mesmo barco, vulgarmente conhecido como planeta Terra, tentando sobreviver. A raça humana é uma só. (*) Flávia Oleare é advogada civilista, especialista em direito de família e sucessões. É membro da Comissão de Direito de Família e Sucessões e da Comissão de Idosos da OAB. Sócia do escritório Oleare e Torezani Advocacia e Consultoria.
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ENTRETENIMENTO & CULTURA
Design Amazônico
Crédito: Reprodução Instagram
Crédito: Divulgação Matheus ERN
A designer Flávia Amadeu tem uma forte ligação com a Amazônia
A “Funtastic Mask” foi criada no início da pandemia e parte da renda de sua venda é revertida a comunidades na Amazônia
Designer brasiliense usa Amazônia como inspiração para criar joias orgânicas e produtos sustentáveis Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium
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ANAUS – Aos 15 anos, a hoje designer de joias Flávia Amadeu, 42 anos, visitou a região amazônica pela primeira vez com a turma do curso de Ecologia. Foram sete dias navegando pelos rios da região. O que Flávia não previa na época era que, mais tarde, a Amazônia se tornaria sua fonte de inspiração e de matéria-prima para a criação de joias orgânicas, moda e decoração sustentável. Tudo desenvolvido a partir da borracha proveniente do látex extraído de seringueiras espalhadas na floresta. Atualmente, a brasiliense comemora a parceria de mais de 16 anos com a região amazônica. É da floresta, mais precisamente dos Estados do Acre e do Pará, que vem a principal matéria-prima — a borracha nativa colorida chamada Folha Semi-Artefato (FSA), que ela pro-
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duz juntamente com as comunidades seringueiras –, utilizada na elaboração dos produtos desenvolvidos pela marca que aliás, leva o nome dela, Flávia Amadeu. Pioneira na utilização da borracha na indústria da moda, a designer é mais conhecida no hall internacional. Em 2013, a atriz e modelo inglesa Lily Cole usou, durante o Met Ball, um vestido da estilista britânica Vivianne Westwood confeccionado com a borracha FSA da Flávia Amadeu. As peças de Flávia já foram expostas no Museu Victoria & Albert, em Londres e na Art Basel de Miami, ambas em 2018. A grife também participou de duas edições do maior evento de moda do Brasil — São Paulo Fashion Week. Em 2019, a grife faturou mais de R$ 265 mil. “A Amazônia veio ao meu reencontro e eu a abracei”, disse a designer.
Os produtos são comercializados pelo e-commerce da marca e em lojas no Brasil, em Brasília, Acre, Rio de Janeiro e São Paulo ou exterior como Austrália, Holanda, Dinamarca, Noruega, Quênia, Argentina, Itália, Canadá, Nova Zelândia, Eslováquia, Espanha e Japão. Os preços vão de R$ 75 a R$ 1.200, dependendo da peça.
RELAÇÃO COM A AMAZÔNIA A união entre a designer e a floresta começou a se fortalecer em 2004, no mestrado em Artes Visuais, na Universidade Federal de Brasília (UnB), no qual tinha o objetivo de explorar novos materiais para wearable computers [moda computacional], que estava em voga na época. Durante o curso ela conheceu o professor Floriano Pastore Júnior, do Lateq
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(Laboratório de Tecnologia Química) da UnB, de pesquisa de produtos não-madeireiros para sustentabilidade na Amazônia. Um dos resultados dessas pesquisas era justamente a borracha colorida FSA. “As borrachas coloridas foram desenvolvidas com o intuito de gerar renda na floresta. Na época, eu já trabalhava com outros grupos e decidi que seria a especialista neste material, iria ensinar as pessoas na floresta, e criar minha própria marca”, disse a designer.
produção. Mas, seu trabalho já impactou mais de 660 pessoas (direta e indiretamente), só na região amazônica.
Ao todo, são impactadas cerca de 120 pessoas de comunidades parceiras da marca, do Acre e do Pará, onde a designer compra a borracha colorida para sua
A designer brasiliense aproveitou a quarentena no início da pandemia de Covid-19 para criar, empreender e gerar renda. Em parceria com Flávia Vanelli,
A criação das cores também foi desenvolvida pela designer. Ela padronizou as cores e ensinou aos comunitários o modo exato da mistura. De acordo com Flávia, as misturas são simples, têm pouquíssimo pigmento e nada volta para o meio ambiente.
A iniciativa, denominada “Funtastic Mask”, produzida a partir de plástico 100% sustentável oriundo de cooperativas do Sul do país e borracha amazônica foi desenhada por Flávia. Segundo ela, 20% da venda de cada produto são destinados a comunidades ribeirinhas da Amazônia impactadas pelo vírus. As máscaras seguem todos os padrões recomendados pelas autoridades de saúde.
Crédito: Divulgação Flávia Amadeu
Crédito: Reprodução Instagram
PARCERIA DURANTE A PANDEMIA
do Estúdio Ratorói, lançou máscaras ecológicas reutilizáveis, desenvolvidas para combater a propagação de Covid-19 e para arrecadar verba para o futuro de amparo para comunidades ribeirinhas dos municípios de Feijó e Taraucá.
Joias criadas por Flávia Amadeu com borracha da Amazônia
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ENTRETENIMENTO & CULTURA
AMAZÔNIA EM QUADRINHOS Amazonense ganha repercussão internacional com ‘tirinhas’ que retratam questões da região Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium
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ANAUS — O ilustrador e roteirista amazonense Ademar Vieira, 39 anos, jamais imaginou que uma de suas “tirinhas”, batizada de “O Teatro”, retratando o elitismo social na cidade de Manaus, ganhasse repercussão internacional. O desenho postado nas redes sociais do ilustrador no dia 3 de setembro de 2020, em pouco tempo, alcançou mais de 25 mil curtidas e, aproximadamente, 780 comentários. Segundo Ademar, que ainda está atônito com o sucesso, alguns ambulantes que trabalham em torno do Teatro Amazonas — um dos mais imponentes cartões-postais da capital do Amazonas — nunca entraram no local ou sequer sabem como é o espaço por dentro. “Como havia alcançado um público nacional e internacional, por meio da série de tirinhas sobre a pandemia, lançada em março, achei importante mostrar para as pessoas minha origem, ou seja, onde eu nasci e moro até hoje. Por isso, ilustrei o Teatro Amazonas como cenário principal da história. E também criei o personagem do funcionário do teatro retirando o menino vendedor de bala, para representar o elitismo social existente em Manaus e
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retratar que, na realidade, o menino, na visão do funcionário, não pertence àquele lugar”, ressalta Ademar. O ilustrador destacou, ainda, que os funcionários do Teatro comentaram no post, por qual motivo ele havia ilustrado eles como “estúpidos”. “Faço uma homenagem a minha cidade natal, Manaus, no Brasil, e ao seu maior símbolo e peço desculpas aos funcionários do Teatro, pois tive que criar um funcionário estúpido para a tirinha, o que não corresponde à realidade. Todos os funcionários são muito educados e gentis. Recomendo a visitação”, explicou Ademar, na legenda da ilustração publicada no Instagram.
QUEIMADAS Em meio ao alto índice de queimadas na Amazônia e no Pantanal, que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) bateu recordes históricos em 2020, o ilustrador também resolveu criar uma série de 10 tirinhas intitulada “Mãe”, para retratar a matriarca de todos os seres vivos, a “Natureza”, e a devastação na visão dos animais. Em sua página do Instagram, o ilustrador explica aos seguidores — principal-
mente ao público internacional —, que no Brasil há notícias diárias de incêndios criminosos na Amazônia e no Pantanal, as duas maiores reservas de biodiversidade do planeta. “Talvez por meio da arte, nós possamos nos colocar no lugar deles [animais] e tentar ver as coisas por outra perspectiva”, esclareceu o ilustrador como forma de alertar ao mundo para que a sociedade e autoridades brasileiras tenham mais consciência em relação ao que estão fazendo com o meio ambiente. Ademar ressalta, ainda, que a ideia da tirinha “Mãe”, é sensibilizar as pessoas de uma forma mais profunda, já que os noticiários, com o tempo, perdem força.
CRIAÇÃO DA TIRINHA ‘PANDEMIAS’ Em março de 2020, o ilustrador lançou as tirinhas “Pandemias”, em decorrência dos transtornos sociais, econômicos e de saúde causados pela pandemia do novo coronavírus. Uma das postagens, que homenageia as pessoas que precisaram se expor em meio ao pico da pandemia, em Manaus, viralizou nas redes e, rapidamente, ultrapassou 100 mil curtidas.
Crédito: Divulgação Acervo Pessoal
REVISTA CENARIUM
Em ‘Mãe’, o ilustrador retrata a devastação da Amazônia e do Pantanal na visão dos animais
Em ‘O Teatro’, Ademar aborda a presença dos vendedores ambulantes em um dos cenários turísticos mais emblemáticos do Amazonas
Ademar Vieira lançou as ‘tirinhas’ ‘Pandemias’, em março de 2020, e, depois, retratou a desigualdade social no Largo São Sebastião e as queimadas na floresta
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Exótica e misteriosa A forma como Manaus é vista por turistas mundo afora tem atraído cada vez mais visitantes Caroline Viegas – Da Revista Cenarium
624,7 mil
Em 2019, Manaus recebeu 624.744 turistas, segundo a Amazonastur, um crescimento de 2,76% em relação a 2018.
223,7 mil
Do total de turistas em Manaus, em 2019, 223.714 eram estrangeiros. Estados Unidos, Alemanha e França estão no topo da lista dos países de origem dos visitantes.
70%
O relatório da Amazonastur mostra que mais de 70% dos turistas estrangeiros afirmaram que desejam retornar a Manaus.
R$ 36 milhões
Estudo da CoHotel Consultoria Hoteleira projetou para Manaus uma receita bruta com hospedagem de R$ 36.122.586,00 de janeiro a setembro de 2020. As perdas foram na ordem de R$ 33 milhões em relação ao mesmo período de 2019, segundo a CoHotel Consultoria Hoteleira.
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ANAUS – A cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, recebe todos os anos milhares de turistas atraídos pelas riquezas naturais e históricas, a maioria estrangeiros ou de outras regiões do País. Apesar de ser uma das principais metrópoles da Amazônia, para muitos destes visitantes, a cidade ainda é vista como exótica e misteriosa. Uma visão baseada em estereótipos, que acaba se desfazendo quando se começa a conhecer as verdadeiras belezas da região e que tem atraído mais e mais viajantes. Para a holandesa Liza Silva, de 35 anos, fundadora da Organização Não Governamental (ONG) Pessoas Desaparecidas Brasil-Holanda (PDBeH), houve um certo receio em pisar em solo amazonense. “Eu tinha muito medo de ir a Manaus, porque achava que em todos os lugares teria bichos, como cobras, aranhas e outros animais perigosos que podem nos atacar. Foi muito estranho, pois eu vi que era totalmente diferente, que existia uma cidade de verdade, que tem tudo. Casas, apartamentos, grandes prédios, é normal”, contou. Liza disse que, após a primeira impressão, acabou se apaixonando por Manaus e pelo Amazonas. “Eu realmente me apaixonei pelo Amazonas, já visitei 14 Estados brasileiros e Manaus é a cidade mais bonita por onde passei, com cer-
teza. Acho que todo mundo deveria conhecer. É como se você visitasse mundos diferentes no mesmo lugar. Fiz passeios amazônicos e posso dizer que quando você sai da floresta e chega na capital parece que são dois mundos diferentes. É incrível”, destacou.
SELVAGEM Em uma rápida pesquisa pela web, é possível localizar vários anúncios de agências de turismo que oferecem “pacotes aventura”, reforçando a ideia de “cidade primitiva” e a exploração do turismo selvagem, em que animais são utilizados como principal atração turística. Por essa razão, turistas estrangeiros, como o estudante norte-americano Antony Mont, de 28 anos, endossam o discurso estereotipado quando questionados sobre uma visita à cidade. “Com certeza seria um dos lugares brasileiros que eu gostaria de visitar, por ser diferente de tudo, exótico, talvez?”, disse ele. Antony também destacou que a capital amazonense seria um local ideal para ter contato com a vida silvestre. “Acho que é o único lugar no mundo que eu encontraria um turismo realmente diversificado. Eu gostaria muito de conhecer, principalmente para ver de perto aqueles animais bonitos, como a onça. Aqui (nos EUA) nós não temos essa chance”, explicou.
Crédito: Janailton Falcão | Amazonastur
VIAGEM & TURISMO
REVISTA CENARIUM
Belezas naturais e culturais do Amazonas atraem turistas estrangeiros e de todo o País
OCUPAÇÃO HOTELEIRA Manaus tem se destacado na ocupação hoteleira urbana. Segundo o Boletim Informativo do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (InFOHB), a capital amazonense obteve, nos meses de julho, agosto e outubro do ano passado, o melhor desempenho em taxa de ocupação hoteleira entre as 15 capitais auditadas pela instituição. Em setembro, Manaus figurou em segundo lugar com um índice de 41,77%, superada em décimos pela capital do Espírito Santo, Vitória, que atingiu a marca de 41,95%. Para a presidente da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Roselene Medeiros, o indicador
confirma o Estado como destino seguro nesse período de recuperação do setor. Ao avaliar o mercado de meios de hospedagem, o Fórum não leva em conta toda a capacidade instalada, mas apenas os hotéis ligados a uma rede nacional ou internacional. Em Manaus, são considerados 10 estabelecimentos, que representam 1.628 unidades habitacionais (aproximadamente, 3.300 leitos).
RECOMENDAÇÃO Uma pesquisa realizada em julho de 2019 pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (FeComércio) apontou que 60% dos turistas estrangeiros afirmaram que a viagem a Manaus superou as expectativas e que 79% deles pretendem recomendar a cidade como rota turística.
“
Eu tinha muito medo de ir a Manaus, porque achava que em todos os lugares teria bichos, como cobras. Foi muito estranho, pois eu vi que era totalmente diferente”
Liza Silva, holandesa.
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A NOTA FISCAL AMAZONENSE
VOLTOU COM SORTEIO ESPECIAL.
Todas as notas com CPF, emitidas entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2020, podem concorrer ao sorteio especial em janeiro de 2021. Para concorrer, cadastre-se no site nfamazonense.sefaz.am.gov.br. E sempre que fizer compras, coloque o CPF na nota. No site da Nota Fiscal Amazonense, você também escolhe uma instituição social para ajudar. Se você for sorteado, sua instituição também será premiada. Nota Fiscal Amazonense. Boa ação e boa sorte!
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VIAGEM & TURISMO
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Devido à falta de turistas, o comércio de artesanato na aldeia enfraqueceu e, hoje, contamos com doações voluntárias”
José Maria Diákuru, cacique.
Crédito: Ricardo Oliveira
Tupé amarga prejuízos
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Tupé amarga prejuízos Quase sem turistas, indígenas de aldeia em Reserva de Desenvolvimento Sustentável enfrentam crise Náferson Cruz – Da Revista Cenarium
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ANAUS – Mesmo de posse da autorização para o recebimento de turistas, a aldeia Tupé, lar de indígenas dos povos dessana, ticuna, tucano e tuyuka, localizada à margem esquerda do Rio Negro, amarga a falta de demanda turística. Desde que recebeu a validação para o retorno das atividades, com medidas de proteção em função da Covid-19, no início da segunda quinzena de agosto de 2020, a aldeia vem recebendo pequenos grupos de turistas, número bem inferior ao fluxo de “gringos”que visitava o local antes da pandemia. O cacique José Maria Diákuru acredita que a baixa procura se deve à mudança no roteiro dos pacotes turísticos das agências, que direciona o trajeto para outras localidades da região do Tupé, deixando a comunidade indígena sem demanda. “Se não bastasse a pandemia, agora estamos enfrentando esse outro problema, os turistas estão sendo levados para outros pontos até mais distantes, pois preferem os flutuantes onde aparecem botos”, comentou.
Para o cacique José Maria Diákuru, além da pandemia de Covid-19, uma mudança no roteiro dos pacotes turísticos das agências tem afetado a demanda turística
Diákuru diz ainda que as famílias indígenas estão se mantendo com doações. “Devido à falta de turistas, o comércio de artesanato na aldeia enfraqueceu e, hoje, contamos com doações voluntárias”, lamentou o indígena.
A aldeia Tupé é um dos destinos mais comuns para quem visita Manaus. Distante 25 quilômetros da capital amazonense, a localidade está dentro de umas das maiores áreas de selva preservada do Amazonas. A atividade turística desenvolvida pelos indígenas residentes na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé foi regulamentada, em julho de 2019, com regras estipuladas pela Prefeitura de Manaus, por meio do Conselho Deliberativo da RDS, formado por representantes das seis comunidades que integram a reserva, incluindo núcleos indígenas e órgãos, como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Fundação Municipal de Cultura Turismo e Eventos (Manauscult), Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Desde a regulamentação, somente as operadoras que tenham cadastro de prestadores de serviços turísticos (Cadastur), do Ministério do Turismo, e autorização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), órgão gestor da RDS do Tupé, podem levar turistas à RDS. O Tupé é a primeira unidade de conservação do mosaico do Baixo Rio Negro a regulamentar a atividade turística indígena. 65
VIAGEM & TURISMO
CONEXÃO R COM O PARAÍSO
IO BRANCO – Imagine um lugar onde é possível ouvir os sons da Amazônia, respirar o mais puro ar e sentir a energia que só a natureza é capaz de proporcionar. No rio Croa, no Acre, todas essas possibilidades são reais para aqueles que se permitem vivenciar uma experiência única. Uma verdadeira conexão com o paraíso no meio da floresta acriana.
Turismo no rio Croa, no Acre, proporciona experiência única de contato com a Amazônia
Crédito: Gleilson Miranda | Secom Fotos Públicas
Da Revista Cenarium*
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Suas águas escuras e calmas, o verde intenso da vegetação, imponentes árvores centenárias e fauna em abundância são características que fazem do Croa um local paradisíaco e que chama a atenção de turistas do mundo inteiro, atraídos por sua beleza fascinante. Observar o vai e vem de canoas, e acompanhar parte da rotina das 70 famílias que vivem na comunidade ribeirinha é um atrativo à parte. Uma sensação marcante, que ficará guardada
REVISTA CENARIUM
Águas escuras e calmas, vegetação de verde intenso, árvores centenárias imponentes e fauna em abundância fazem do Croa um local paradisíaco
Crédito: Gleilson Miranda | Secom Fotos Públicas
para sempre na memória de quem teve o privilégio de contemplar essa maravilha natural. Localizado em Cruzeiro do Sul, segundo maior município do estado, o Croa é de fácil acesso. Seguindo pela BR-64, no sentido Rio Branco, são apenas 22 quilômetros de distância totalmente asfaltados. Cada visitante paga, em média, R$ 15 pelo passeio nas embarcações. Os guias são os próprios moradores da comunidade ribeirinha, um novo ofício que chegou para ficar e ainda complementa a renda mensal. Não é qualquer pessoa que tem o privilégio de trabalhar em um lugar assim. Sorte a do seu João Saraiva de Mendonça. O homem, de 65 anos de idade, já perdeu as contas de quantas viagens fez subindo e descendo o rio com o barco cheio de turistas. No começo, ele achou estranha aquela movimentação e o interesse de tan-
tas pessoas em conhecer o Croa. Morador do local há 45 anos, João do Boi, como é popularmente conhecido, entendeu que o paraíso em que vive era o motivo do alvoroço. “A gente achou estranho aquele monte de gente vindo aqui. De repente, era turista de todo lugar do Brasil e de outros países vindo conhecer esse lugar. Isso foi muito bom, porque ajudou a melhorar nossos ganhos e deu emprego para muitos moradores do Croa, que vivem dessa renda do barco”, explicou. Questionado sobre o local onde mora, o ribeirinho, nascido no Seringal Valparaíso, no alto rio Juruá, é enfático: “para mim, o melhor lugar que tem para morar é aqui. Um lugar tranquilo, calmo e fácil de conseguir alimento. Vou viver aqui até o meu último dia de vida”.
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Para mim, o melhor lugar que tem para morar é aqui. Um lugar tranquilo, calmo e fácil de conseguir alimento”
João Saraiva de Mendonça, ribeirinho morador do rio Croa.
*Com informações da assessoria. 67
VIAGEM & TURISMO
AfroTuri Agências se especializam em pacotes sobre a cultura negra
Crédito: Bruno Santos | Folhapress
*Da Revista Cenarium
Bia Moremi é a idealizadora da Brafrika, que oferece serviços como exames de DNA para descobrir a ancestralidade
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ismo M
ANAUS - Fazer um teste de DNA e descobrir em qual parte da África nasceram os seus ancestrais. Essa é uma das experiências que podem ser vivenciadas por pessoas negras que buscam os serviços de agências de viagens especializadas em atender quem possui interesse no continente africano. As empresas têm serviços não só para pessoas negras e o leque de produtos vai além de pacotes de viagens, com passeios pelos pontos turísticos mais tradicionais. As agências têm também roteiros chamados de experiências afrocentradas. Nesse caso, há visitas a locais importantes para a história e para a cultura negra, além da preferência por hotéis e restaurantes comandados por empresários negros.
É o caso da Brafrika, que já atende cinco estados no Brasil, três países na Europa e também leva seus clientes para três nações da África. A ideia de elaborar um projeto com esse tipo de enfoque começou há quase dois anos, mas a pandemia do novo coronavírus precipitou a ideia de incluir a descoberta das origens ancestrais no pacote da agência. “A ideia surgiu desde o começo. Eu queria que as pessoas fizessem o teste de DNA, descobrissem de onde era sua ancestralidade e que a gente fosse viajar por esses lugares”, diz Bia Moremi, idealizadora da empresa. “Mas, depois percebi que seria um pouco mais difícil implantar, aí eu engavetei essa parte do projeto”, disse. A empresária, formada em química, não tirou a ideia de oferecer DNA de sua
cabeça, mas pegou os testes que já eram ofertados por laboratório e transformou a descoberta em um evento. “Procurei um laboratório que faz esse tipo de teste e propus uma parceria”. Ela mesma já fez o teste e descobriu ter raízes na Nigéria. Além do resultado, o pacote inclui um jantar para duas pessoas com a comida típica da região identificada no DNA, um álbum de fotos de resgate ancestral da área de origem e uma pulseira de metal gravada com o nome da terra
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“Em 2020, em razão da pandemia, nós vimos todo o setor de turismo sendo congelado. Abrimos uma outra plataforma com atividades on-line, com palestras, terapias, vivências, de diferentes temas ligados à cultura negra ou com profissionais negros”, diz Carlos Humberto da Silva, 41, representante da empresa que já atua no mercado há três anos e também fica em São Paulo. Silva enfatiza, entretanto, que a agência não atende somente pessoas negras e que o modelo de experiências afrocentradas pode ser vivenciado por qualquer pessoa. “A nossa missão é criar pontes com serviços qualificados para negras e negros, mas não somente para a população negra”. Ele afirma que este tipo de abordagem afrocentrada é importante para dar dimensão a coisas que “não aprendemos nem na própria universidade ou na escola”. “Nós também ajudamos em uma inclusão significativa de empreendedores negros e profissionais negros do setor de turismo”. Guilherme Soares Dias, 35, sentia falta de um roteiro que indicasse locais
A nossa missão é criar pontes com serviços qualificados para negras e negros, mas não somente para a população negra”
Carlos Humberto da Silva, representante da Diáspora Black. natal africana, além de consultoria para aprender sobre as influências estéticas do local. O serviço está disponível desde junho do ano passado e ajudou a manter a agência em 2020. Apesar da pandemia, Moremi já planeja retomar roteiros agora em 2021.
HOSPEDAGEM Há um pouco mais de tempo no mercado, a Diáspora Black começou como um serviço de hospedagem. A ideia da empresa era intermediar o contato entre os clientes e os locais de estadia. Depois a empresa passou a oferecer experiências e viagens.
em que pudesse conhecer mais sobre a história da população negra. “A gente percebe que muitas pessoas falam de viagem, mas poucas falam sobre essa perspectiva da negritude”, afirma Dias, sócio da BlackBird, outra agência que atua com turismo especializado. Ele conta que os roteiros incluem caminhadas pela cidade de São Paulo, visitas à Pequena África, na região portuária do Rio de Janeiro –local que reuniu diversos grupos de ex-escravos–, bem como passeios para contar a história da cultura negra em Curitiba, além de roteiros em Salvador. *Com informações da Folhapress. 69
ARTIGO – ODENILDO SENA
A leitura é o alimento da escrita Odenildo Sena*
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osto dessa afirmação. Ela sintetiza, numa abrangência enorme, o papel indispensável que o ato de ler exerce na prática da boa escrita. Afinal, é decorrente do hábito da leitura que apreendemos e incorporamos as estruturas possíveis e até inimagináveis de administração das ideias em um texto.
perfície do que está escrito são, muitas vezes, apenas a ponta de um iceberg que esconde uma vasta proliferação de sentidos. Por fim, como diz Ítalo Moriconi no posfácio ao livro de Francine Prose (Para ler como um escritor), “a leitura é a oficina básica do escrever. Atividade produtiva, aquisição de capital”.
Quando esse processo se dá de forma consciente, fruto da leitura crítica e mais atenta, melhor ainda, pois o trajeto se torna mais curto. É a leitura que nos oportuniza a descoberta de que as palavras, em si e por si, representam apenas a mesmice, se não forem trabalhadas com habilidade para tocar a sensibilidade do leitor e gerar seu encantamento. É a leitura, também, a fonte de informações que não apenas nos abastece dos acontecimentos factuais, como também nos permite descobrir que a realidade pode ser mais criticamente compreendida pelo olhar sensível da criação literária.
Prestemos, entretanto, atenção em um detalhe posto por Moriconi: “a leitura é a oficina básica (grifo meu) do escrever”, o que significa a compreensão de que o básico é o fundamental, é apenas o começo necessário, mas não opera milagres! Isso porque, como digo em meu livro “A engenharia do texto”, ao lado da leitura alimentar a escrita, cada uma também mobiliza mecanismos e exigências cognitivas específicas.
Sem prejuízo de outras tantas possibilidades, é na leitura que somos postos diante da evidência de que os arranjos nas palavras, frases e parágrafos na su-
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Assim, aquele que se entrega ao hábito da leitura desenvolverá, a princípio, habilidades que irão torná-lo um bom leitor, com todas as implicações que essa prática agrega. Já aquele que faz da escrita um hábito permanente, por sua vez, desenvolverá habilidades que irão torná-lo um bom escritor, com todas as impli-
cações que essa prática agrega. Enfim, a leitura é a oficina básica de desenvolvimento do talento para a escrita, mas esse talento só se efetivará se for aprimorado no exercício constante da escrita. Deu para entender? O ideal mesmo é promover a simbiose entre as duas práticas, de tal modo a colocar as habilidades próprias da leitura a serviço das habilidades próprias da escrita e de tal modo que a primeira alimente a segunda e a segunda alimente a primeira, numa reciprocidade permanente. Mas há um preço a ser pago por isso: quem se dispuser a colher os louros dessa vitória terá que se entregar à servidão voluntária permanente da leitura e da escrita, ciente de que fraquejar em uma significará fraquejar em outra. É pegar ou largar. (*) Odenildo Sena é linguista, com mestrado e doutorado em Linguística Aplicada e tem interesses nas áreas do discurso e da produção escrita.
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