SURREAIS
Extremistas criam realidade paralela baseada em teorias conspiratórias e cenários infundados para tentar justificar um golpe de Estado e a ascensão de um governo autocrata
Extremistas criam realidade paralela baseada em teorias conspiratórias e cenários infundados para tentar justificar um golpe de Estado e a ascensão de um governo autocrata
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(OAB 4188/AM)
Inspirada na obra surrealista do pintor René Magritte, “Os Amantes I” (1928), e no livro sobre a dissonância cognitiva cole tiva no período da pré-eleição presidencial brasileira, do escritor João Cezar de Castro (2021), a capa da REVISTA CENARIUM de novembro aborda três elementos da atual fase política do País como a superficialidade nas relações, os debates infundados e a criação de uma realidade paralela para justificar o preconceito e a ascensão de um governo autocrata.
Magritte contestava a psicanálise - principal base do surrea lismo -, mas era fascinado pela filosofia. O pintor ficou conhecido por usar sua arte para criar situações bizarras com o objetivo de provocar a reflexão. Nesta edição, a CENARIUM expõe o “lado sombra” do conceito surrealista nos discursos extremistas baseados no fundamentalismo religioso, em teorias conspirató rias e nos atos antidemocráticos que incitam o golpe de Estado.
Bizarro é um termo ameno, mas mais aplicável a quem cria a sua própria realidade para amparar um fanatismo polí tico, atacando o sistema democrático de direito, como ocorre com os atentados ao Supremo Tribunal Federal (STF), por coibir disseminação de “defesas” da volta da Ditadura Militar, a exemplo do que faz o Judiciário da Alemanha ao punir quem incita o nazismo.
Esses que falam em parcialidade do Supremo Tribunal Federal reconheceram e não questionaram a condenação dos 25 aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no caso conhecido como “Men salão” (2014) e não confrontaram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na vitória de Jair Bolsonaro (PL) em 2018.
Após o resultado das Eleições 2022, no dia 30 de outubro, que elegeram, democraticamente, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, como presidente do Brasil, manifestantes da extrema-direita, que apoiam o atual presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), rebelaram-se contra o sistema eleitoral do País. Num primeiro momento, os simpatizantes de Bolsonaro blo quearam rodovias, impedindo o direito de ir e vir da população e, em seguida, passaram a acampar em frente aos quartéis do Exército de vários Estados brasileiros.
Os acampamentos são superequipados e, em alguns deles, como, por exemplo, no do Amazonas, os protestantes recebem alimentação diária, com direito a churrasco no menu.
Os apoiadores do presidente não reeleito contestam o resul tado das urnas eletrônicas e afirmam que os movimentos são em defesa da pátria, família, princípios religiosos e democracia. Democracia esta que já respirava por aparelhos, desde o impe achment da ex-presidente Dilma Rousseff e que, mais uma vez, sofre uma tentativa de golpe fatal, ao não ter a escolha de mais de 60 milhões de eleitores respeitada.
Os fatores psicológicos de quem cria uma visão infundada de cenários políticos são abordados na “Guerra Cultural e Retórica do Ódio: Crônicas de um Brasil Pós-político” (2021), de João Cezar de Castro - fonte de inspiração para a matéria de capa - onde o autor estuda a linguagem estruturada no pensa mento composto por teorias, limitando ao adversário político o papel de inimigo a ser destruído.
Nós, da REVISTA CENARIUM, não temos a pretensão de mudar o pensamento surreal e doentio daqueles que defendem a volta de um sistema de governo marcado por torturas e assas sinatos, mas pretendemos deixar registrado que estamos ao lado da racionalidade, do humanismo e, principalmente, ao lado da responsabilidade na missão de informar.
Democracia é o regime político, amparado pela Constituição brasileira, que tem como principais fundamentos a soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e o pluralismo político. A Consti tuição garante, ainda, que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição”.
Mas, se todo poder emana do povo e a maior parcela da população já escolheu o próximo comandante do País, o que, afinal, os manifestantes defendem? A democracia garantida na Constituição ou a democracia paralela que representa somente as suas próprias vontades?
Mesmo diante de fatos que comprovam a legalidade do pleito, os apoiadores de Bolsonaro preferem acreditar em teorias da conspiração criadas e disseminadas em grupos de WhatsApp, principal ferramenta de desinformação usada por aqueles que tentam, mais uma vez, acabar com a democracia no Brasil.
Paula Litaiff Diretora-GeralMerece destaque a matéria “Inova ção: Tocantins é o último em ranking” que a REVISTA CENARIUM trouxe no mês de outubro! A inovação tecnoló gica é um tema de extrema importân cia e capaz de transformar o mercado, desenvolvendo muito a economia da Região Norte. Parabéns à equipe da revista pela excelente matéria!
Samantha Martins Manaus, AMAcho muito importante a forma como a REVISTA CENARIUM vem tratando as pautas sobre o desmata mento, um problema constantemente omitido pelo atual governo federal. Se não fossem os dados oficiais e a divul gação deles, com contexto, ouvindo importantes fontes jornalísticas, talvez as coisas estariam bem piores em nosso País. Por isso, a importância dos alertas e das reportagens publicadas.
Lucas Ribeiro Vilhena, RO
Gostaria de parabenizar os respon sáveis pela reportagem sobre os frutos de saúde. São muitas pessoas afetadas pela obesidade e é importante saber que as bebidas típicas da nossa região à base de (açaí+bacaba) ajudam a combater esse mal. Amo açaí.
Joselene Teixeira Manaus, AM
A CENARIUM, na minha opinião, é superimportante para aqueles que se importam com qualidade e res ponsabilidade. Em meio a tantas fake news, é muito bom ter uma fonte de informação confiável. A Região Norte agradece por estar bem representada. Sem contar com o fato das principais matérias serem relacionadas a questões ambientais, incluindo denúncias, feitas diariamente, expondo boa parte da podridão que o atual governo promove.
Maison Bertoncello Vilhena, RO
Uma revista maravilhosa e com pleta. A cada edição, passando infor mações verídicas que trazem segurança e confiança para a nossa leitura. Para béns à equipe, pelo trabalho lindo e ético.
Antônio Albuquerque de Souza Manaus, AM
Confesso que a REVISTA CENA RIUM foi muito importante na minha escolha de voto, li as duas últimas edições e, a partir daí, não tive mais dúvidas em quem votar.
Talita Costa Pereira Belém, PA
‘Sou um soldado à disposição dos meus comandantes’ 08
COP27: Brasil busca protagonismo ............................... 10 Reconstruir para preservar a Amazônia .......................... 12 Agenda integrada 14 ► ARTIGO – PROFA. DRA. SIMONE ENEIDA E PEDRO PAULO (AURORA BOREAL)
A esperança nas mãos do povo 16 ► PODER & INSTITUIÇÕES
Mulheres no comando .................................................... 18 ‘Ciranda’ das alianças 20 Transparência nível Diamante 22
► ARTIGO – PAULO QUEIROZ
O futuro da Amazônia e o ‘Amor Fati’: razões para se respeitar o destino ....................................................... 24
► ECONOMIA & SOCIEDADE
SURREAIS
Realidade paralela 26
O perfil dos manifestantes 30
O que eles defendem? 32
Conhecimento que liberta 40
Amazônia no topo dos endividados 42 Favelas em expansão ....................................................... 44 Terapia com botos ........................................................... 46
TRABALHO E FELICIDADE
Viver suave 50 Autoconhecimento é ponto de partida 52
►
Força-tarefa em terras indígenas 54
► ARTIGO – CAROLINA NOBRE CASTELLO BRANCO ‘Cherry-picking’ constitucional....................................... 56
► MUNDO E CONFLITOS INTERNACIONAIS
Catar 2022: marca veta nomes religiosos em uniformes 58
► ENTRETENIMENTO & CULTURA
Sucesso ‘turbinado’ com guaraná ................................... 60 Olhar ancestral sobre o conhecimento 64
► VIAGEM & TURISMO
Temporada de cruzeiros aquece turismo no AM 66
► DIVERSIDADE
MANDE
�� E-mail: cartadoleitor@revistacenarium.com.br | WhatsApp: (92) 98564-1573
O que diz a Psicologia? ................................................... 34 Repertório e método para criar o caos cognitivo ........... 36 Avaliação do especialista 38
‘Resistir para Existir’ 68
► ARTIGO – ODARAS
Governo Lula e o enfrentamento ao racismo 70
Em entrevista à CENARIUM, ex-superintendente da PF Alexandre Saraiva diz que está à disposição para coordenar o Ibama, se for convidado
Gabriel Abreu – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – O ex-superin tendente da Polícia Federal do Amazonas (PF) e delegado fede ral Alexandre Saraiva afirmou à REVISTA CENARIUM que, se fosse convidado pelo Governo Lula, aceitaria coordenar o Ins tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ele é um dos cotados para assumir a pasta. Na entrevista exclusiva, ele se diz espe rançoso em relação às pautas de meio ambiente, após o período que chamou de “hecatombe ambiental” na gestão Sal les-Bolsonaro.
O delegado federal sofreu retaliação após apresentar uma queixa-crime contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por interferir e obstruir investiga ção da Operação Handronthus GLO. Seis dias após a apresentação da queixa contra Salles, o governo federal trocou a Superin tendência da Polícia Federal no Amazonas; na ocasião, o delegado Leandro Almada da Costa substituiu Saraiva. Atualmente, Saraiva atua na Polícia Federal, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
Durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), os órgãos de fiscalização como Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Polícia Federal e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sofreram com a falta de recursos e críticas de ambientalistas em virtude do desmantelamento desses órgãos. Ques tionado se aceitaria coordenar o Ibama,
Saraiva respondeu: “Em toda a minha carreira como servidor público, nunca recusei missões em prol do meu País e, especialmente, da Amazônia. Sou um soldado à disposição dos meus coman dantes”, afirmou o delegado.
Ao longo da gestão Bolsonaro, a Amazônia foi alvo constante de crimes ambientais, como o caso de repercussão mundial após o assassinato do indige nista Bruno Pereira e do jornalista britâ nico Dom Phillips, mortos na região da Terra Indígena do Vale do Javari, distante 1.136 quilômetros de Manaus. Durante as investigações, depoimentos colhidos pela PF mostram que, na região, existe um esquema de pesca ilegal em atuação. O delegado, que já atuou no Amazonas, defende um trabalho coordenado entre as forças para coibir os crimes ambientais na região.
“Para fazer cessar o caos instalado na Amazônia pelo Governo Bolsonaro serão necessárias medidas emergenciais. Ressuscitar o Ibama e a área ambiental da PF, desmontados pelo governo atual. Acrescentaria ainda nesta lista o combate à caça ilegal, o comércio de carne de animais silvestres abatidos ilegalmente, o comércio ilegal de quelônios e a pesca ilegal de pira rucu, pois estas atividades estão colocando em risco grave nossa biodiversidade e podem colocar a humanidade em contato
Alexandre Saraiva, delegado da PF.
com um novo vírus, ainda desconhecido, com consequências que podem ser catas tróficas”, afirmou o delegado.
Saraiva disse, ainda, que está espe rançoso com o novo governo e com a nova política ambiental, que vai precisar desenvolver novas ferramentas de combate aos crimes ambientais para preservar a Amazônia.
“É preciso um trabalho coordenado, mas que não pode ser baseado em ações pontuais. É preciso demonstrar a pre sença do Estado. Podemos fazer isso com a tecnologia e a expertise já existentes. Estou muito esperançoso que depois desta hecatombe ambiental, que foi a gestão Salles-Bolsonaro, que dias melhores virão para a Amazônia”, destacou.
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, também deve anunciar o novo ministro do Meio Ambiente. Um dos nomes mais cotados para assumir a pasta é o de Marina Silva (REDE), depu tada federal eleita por São Paulo. Ao ser questionado se o nome da ex-ministra é um dos ideais para o novo desafio, o delegado destacou que não existe um nome melhor.
“Marina Silva é o nosso maior expo ente em meio ambiente. Seu nome tem reconhecimento internacional e sua even tual nomeação para o cargo já passa um importante recado à sociedade brasileira e à comunidade internacional de que a Amazônia será levada a sério. Tenho pro funda admiração por ela. Acho que não existe nome melhor”, finalizou Saraiva.
“Nunca recusei missões em prol do meu País e, especialmente, da Amazônia”.Saraiva atuou contra o crime ambiental no Amazonas e, atualmente, é delegado da Polícia Federal, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro Marina Silva é cotada para assumir Ministério do Meio Ambiente
A atuação diplomática brasileira é tida como mais discreta na COP27, segundo observadores ouvidos pela Folha. O País, de forma geral, agiu alinhado a grupos –como o G77 + China e o formado junto a Argentina e Uruguai.
Uma possibilidade aventada para isso é o processo de mudança de governo. Outro ponto levantado foi a ausência de liderança na equipe do Brasil, com pouca atuação do ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite, chefe da delegação. No dia 18 de novembro, passou a manhã prati cando mergulho e, à noite, deixou a cidade da conferência, antes de seu encerramento.
Do ponto de vista político e de deslo camento de massas, porém, certamente, o Brasil chamou a atenção. A passagem de Lula lotou salas de reunião, estandes e corredores da Conferência. Vale destacar que a delegação brasileira era a segunda maior no evento.
“Quero dizer que o Brasil está de volta”, afirmou o presidente eleito, que tem colo cado a questão climática como uma de suas principais agendas.
Na passagem pela COP27, Lula tam bém anunciou, junto ao consórcio de governadores da Amazônia, a intenção de sediar a COP30, em 2025, em um Estado amazônico.
Apesar da atenção majoritariamente positiva, a ida de Lula à COP27 também ficou marcada pelo uso do jatinho do empresário José Seripieri Filho. Conhecido como Júnior, é fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.
Na COP27, Brasil, Indonésia e Repú blica Democrática do Congo, países que concentram enormes florestas tropicais, formaram um bloco para fortalecer suas posições no cenário internacional.
Ao mesmo tempo, no entanto, o Brasil ficou de fora da Parceria de Líderes para Floresta e Clima. O País nem mesmo chegou a responder aos convites para fazer parte do grupo, segundo a Folha apurou.
reverter a perda da floresta e a degradação do solo até 2030.
A equipe ambiental de Lula, por sua vez, ainda não tem definições sobre uma possível entrada na parceria. Antes de qual quer passo, há a necessidade de entender exatamente o que envolveria fazer parte desta iniciativa, afirmam participantes do governo de transição.
EGITO – O Brasil que entrou na 27ª Conferência do Clima da Organi zação das Nações Unidas (COP27) sob o Governo Jair Bolsonaro (PL) viu o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar o palco internacional, com encontros bilaterais e uma equipe de transição ambiental ativa desde o começo da conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas.
A COP27 assistiu ao futuro governo tomar o bastão das questões do clima da gestão atual, que sempre relegou o assunto. Mas o Brasil, ainda sob Bolsonaro, não agiu de modo a travar negocia ções na COP egípcia, como ocorrido na COP25, realizada em Madri, em 2019. Na ocasião, a delegação brasileira foi chefiada por Ricardo Salles, então ministro do Meio Ambiente. A conferência,
inclusive, deveria ter ocorrido em solo brasileiro — a mudança de local ocorreu a pedido de Bolsonaro.
Na edição seguinte, na cidade esco cesa de Glasgow, a diplomacia bra sileira formulou uma proposta para destravar as discussões sobre o mercado de carbono. O texto foi entregue ao Japão, que levou o assunto à mesa de negociações.
O presidente eleito cancelou, de última hora, uma entrevista coletiva que daria para jornalistas na Conferência e deixou o Egito sem dar explicações sobre o caso. Vale destacar que as emissões associadas ao transporte de poucas pessoas em um voo particular, historicamente são alvo de críticas de ambientalistas.
A última conferência climática sob o Governo Bolsonaro também foi marcada por dois acordos de florestas. Um foi assi nado e o outro, ignorado.
O acordo foi desconsiderado por uma questão de liderança no tema, de acordo com apuração da reportagem. Ou seja, a posição atual do País seria estar à frente dos principais acordos e fóruns sobre florestas.
O Brasil teria entendido também que, com o acordo com Indonésia e República Democrática do Congo, a outra parceria, no momento sob presidência dos Estados Unidos e Gana, não teria relevância.
A ideia da Parceria de Líderes para Floresta e Clima é, em suma, verificar os avanços na conservação das florestas. Tal acordo é um seguimento da Declaração de Florestas, assinada pelo Brasil na COP26. A declaração apontava o comprometimento em trabalhar conjuntamente para frear e
À Folha, o Itamaraty disse haver foros com melhor formato para “tratar das necessidades dos países em desenvolvi mento”.
Segundo o documento lançado durante a COP27, os membros da parceria têm o compromisso de liderar em áreas como colaboração internacional na economia do uso sustentável da terra e apoio a ini ciativas de comunidades locais e de povos indígenas.
Nos últimos anos, o Brasil tem apresen tado taxas crescentes de desmatamento e, consequentemente, aumento nas emissões de gases do efeito estufa, o que coloca em risco seus compromissos perante o Acordo de Paris.
(*) Com informações da Folhapress.
Conferência climática foi marcada por Lula, diplomacia e acordos Da Revista Cenarium* A COP reúne representantes de diversos países para negociar metas globais de combate às mudanças climáticas Esta é a primeira vez que um presidente eleito no Brasil participa de uma COP antes de assumir o cargo Crédito: Reprodução - Ricardo Stuckert Crédito: Ricardo StuckertAmbientalistas e entidades listam eixos para reconstrução de órgãos de fiscalização e de políticas ambientais
Gabriel Abreu – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – Ambientalis tas e entidades ligadas ao meio ambiente divulgaram uma lista com eixos que a nova gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve priorizar, a partir de janeiro de 2023, no Palácio do Planalto. As medidas vão servir para reconstruir os órgãos e as políticas ambientais de fiscalização.
Órgãos listados para ter reforço e mudanças são a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM Bio) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O acumulado de alertas de desma tamento, em 2022, na Amazônia Legal, área que engloba nove Estados do Brasil, marca o quarto ano consecutivo da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL), em que os alertas, por ano civil, ficaram acima da marca de 8 mil. O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal foi de 9.277 quilômetros quadrados (km²), de janeiro até o último dia 21 de outubro, segundo dados divulgados pelo Inpe.
O Greenpeace Brasil destacou em nota que os desafios que o governo eleito tem
pela frente não são triviais e exigirão a abso luta reconstrução de tudo aquilo que foi enfraquecido pelo atual governo. “Também sabemos que boa parte dos parlamentares eleitos para o Congresso Nacional continua representando ameaças à pauta social e ambiental. Será preciso que os compromis sos assumidos pelo Governo Lula saiam do campo das promessas e sejam concretiza dos”, consta no comunicado.
O secretário executivo do Obser vatório do Clima, Marcio Astrini, elen cou que o momento no Brasil é de reconstrução e que a área ambiental será uma longa jornada para refazer o que foi arrasado.
“Acima de tudo, o País escolheu a democracia. Agora, temos que reconstruir um País destruído pela irresponsabilidade e pela incompe tência. Na área ambiental, será uma longa jornada para refazer o que foi arrasado, começando pela retirada dos invasores das áreas indígenas e pela retomada do combate ao crime ambiental”, destacou. Ele fala, ainda, que o pesadelo está quase no fim “porém, não podemos esquecer que Bolsonaro ainda tem a caneta na mão e ainda pode, neste fim de mandato, promover mais retrocessos na agenda ambiental”, afirmou Astrini.
A Organização Não Governamen tal considera alguns eixos importantes para reconstruir os órgãos e as políticas ambientais de fiscalização, preservação e regeneração das nossas florestas e demais ambientes naturais: Garantir os direitos, territórios e proteção dos povos indígenas e das comunidades tradicionais; garantir a produção, distribuição e acesso dos bra sileiros à comida de verdade, a um preço justo e sem veneno; recriar espaços de participação da sociedade civil e retomar o diálogo com os movimentos sociais.
“Continuaremos atuando da mesma maneira, em 2023: observando e denun ciando ameaças de retrocessos e pressio nando governos e empresas em favor de ações ambientais e climáticas ambiciosas e justas”, finaliza a nota.
Eliesio Marubo, coordenador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), entidade que fica localizada na região onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Philips foram mortos, em junho de 2022, próximo à cidade de Atalaia do Norte, distante 1.136 quilômetros de Manaus, diz que a região é alvo constante da pesca ilegal e sofre com a falta de segurança. Marubo defendeu que o ministro do Meio Ambiente seja um técnico da área e que o novo governo fortaleça as instituições ambientais.
“Um dos maiores desafios é fortalecer as instituições e fazer com que a política de proteção ao meio ambiente volte a funcionar. Eu acredito que o outro desafio é reorganizar uma militância, uma atuação que venha por meio de organização, no próximo período. Tem muito trabalho pela frente, além disso, tem a questão de fazer prevalecer recursos financeiros, para que os órgãos voltem a funcionar”, afirmou. Marubo diz também que esse desafio passa pelo fortalecimento das instituições e por priorizar o orçamento. “Um fortalecimento que vai requerer muita responsabilidade, concurso público, con curso que está vigente, chamar os servidores, repassar os valores devidos desses órgãos e ter alguém que saiba lidar com esse tema à frente do Ministério do Meio Ambiente, um técnico da área do meio ambiente”, elencou Marubo.
O WWF-Brasil também divulgou uma nota em que cita que a eleição de Lula prova que o brasileiro quer a natureza protegida e o respeito aos povos originários. “Escolhido, democraticamente, por 51% dos brasileiros e brasileiras, num processo eleitoral que, assim como os anteriores, mostrou-se seguro, confiável e limpo. O WWF-Brasil é uma organização da sociedade civil brasileira, apartidária e sem fins lucrativos que trabalha em defesa da vida e, para isso, tem o propósito de mudar a atual trajetória de degradação socioambiental”, diz a nota.
“O resultado das eleições demonstra que, pelo menos, esse último existe: o presidente eleito disse, mais de uma vez, e voltou a reafirmar, em seu primeiro discurso após a vitória, que iria atuar firmemente contra o desmatamento ilegal, contra a invasão de terras indígenas e contra a ameaça a defensores ambientais, ao contrário do que disse e vem praticando o Governo Bolsonaro. Podemos considerar, portanto, que sua vitória é um endosso popular a essa proposta”, realçou o WWF-Brasil.
Órgãos listados para terem reforço e mudanças são Funai, ICMBio e InpeMANAUS (AM) – Voltada para a proteção ambiental, inclusão social e desenvolvimento econô mico, a iniciativa “Uma Concertação pela Amazônia” lançou o documento “100 primeiros dias de governo: propostas para uma agenda integrada das Amazônias”. O texto apresenta ações efetivas que podem ser adotadas logo no início dos mandatos do Executivo federal, estadual e Congresso Nacional, acolhendo a complexidade da Amazônia com base em conhecimento sistematizado da região.
“Uma Concertação pela Amazônia foi criada em 2020, como um espaço demo crático de discussões, para que diversas iniciativas que atuam em prol da região pudessem se encontrar, dialogar e ampliar
A secretária executiva explica que o período que compreende os 100 pri meiros dias é estratégico, pois repre senta um momento de renovação, no qual os eleitos contam com a máxima confiança da sociedade para implan tar políticas e mudanças necessárias.
“Também com diretrizes para o médio e longo prazo, o documento propõe um novo modelo de desenvolvi mento, capaz de gerar riquezas e renda com conservação ambiental, inclusão social, ampliação dos direitos civis e baixa emissão de carbono. A proposta do fundo é que a Amazônia deixe de ser vista como um problema e passe a ser uma solução para o Brasil”, diz Renata.
Aos que desejam conhecer mais detalhadamente e participar nas ela borações de propostas futuras em prol da Amazônia, Piazzon ressalta que a Concertação é um espaço demo
crático, aberto a qualquer pessoa, empresa ou entidade que queira con tribuir com a discussão sobre a região. Além de entidades representativas dos moradores da Amazônia e de lideranças indígenas, a rede também é formada por representantes de ONGs, do agronegócio, da área de educação, meio ambiente, ciência e Academia.
“Empresas nacionais e multina cionais, bancos e representantes de diversos níveis de governo. Em comum, todos têm o desejo de institu cionalizar, no Brasil, um debate plural e democrático sobre a preservação e o desenvolvimento sustentável da região. Hoje, pouco mais de um terço dos integrantes são do setor privado (38%), um terço de OSCs (33%) e o restante está dividido em representan tes do poder público (14%, incluindo aí também os que tiveram cargos nos governos e não têm mais), da Acade mia (11%) e da mídia (4%)“, explica.
O texto apresenta ações efetivas, que podem ser adotadas logo no início dos mandatos do Executivo federal, estadual e Congresso Nacional
O documento de mais de 200 pági nas cita que a região é um cenário múltiplo e complexo, tendo como pre missa as diferenças ambientais, sociais, culturais e de uso da terra e que é pos sível identificar a existência de Quatro Amazônias.
“A primeira é a Amazônia da floresta bem conservada, em especial, na porção oeste do bioma. Não há acesso direto por estradas e existe uma maior extensão de áreas protegidas, como Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs)”, diz o documento.
“A segunda é a Amazônia do Arco do Desmatamento, no centro-leste, com a floresta sob o risco de mudanças do uso da terra pela agropecuária. E, finalmente, a Amazônia já convertida pela produção de commodities agrícolas e minerais; e a Amazônia das cidades”, conclui.
Longe de tentar simplificar um cená rio complexo, as análises e os debates mobilizados pela Concertação buscaram elencar as atividades predominantes para cada uma dessas realidades, além de estabelecer as prioridades de ação de forma direcionada.
o impacto de suas ações. Um dos principais objetivos da rede é aproveitar sinergias, o que exige uma intensa colaboração”, conta a secretária executiva da iniciativa ‘Uma Concertação pela Amazônia’”, Renata Piazzon.
De acordo com Renata, que também é diretora do Instituto Arapyaú (institui ção privada, sem fins lucrativos que visa à construção coletiva de soluções com base na sustentabilidade), mais de 500 líderes, entre representantes dos setores
público e privado, academia, sociedade civil e imprensa, reuniram-se em busca de propostas e projetos para a floresta e as pessoas que vivem na região.
Criar a Secretaria de Estado de Emergências Climáticas diretamente vinculada à Presidência da República;
Criar Grupo de Trabalho voltado para a Saúde na Amazônia Legal;
Restabelecer o Programa Bolsa Verde, priorizando famílias em situação de extrema pobreza localizadas em áreas florestais na Amazônia Legal;
Restituir o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no âmbito dos órgãos da Presidência da República e dos ministérios;
Priorizar a destinação dos recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para proje tos que atendam comunidades tradicio nais e pequenos produtores rurais, em especial, para equipamentos públicos de educação e saúde;
Desenvolver alternativas tecnológi cas para soluções descentralizadas de esgotamento sanitário em territórios especiais rurais e periurbanos;
Estabelecer comissão para estudar a viabilidade técnica e jurídica operacional para integrar os cadastros imobiliários e fundiários. Entre outros.
Após 12 rodadas temáticas, foram priorizadas propostas viáveis, com res paldo jurídico numa agenda que traz 14 proposições normativas direcionadas às questões de saúde, educação, segurança, regularização fundiária, mineração, infra estrutura e cidades.
Questionada sobre como funcionaria a fiscalização efetiva para saber se, de fato, o governo eleito estaria colocando em prática as proposituras, Renata destaca: “Essa agenda é um primeiro passo. Vamos fortalecer nossa ação de advocacy, para monitorar e estimular a adoção dessas propostas. As 14 propostas centrais do documento são acompanhadas de instru mentos normativos robustos, do ponto de vista de viabilidade jurídica e política. Mas, são apenas um meio. A adoção das propostas pode acontecer por outros cami nhos normativos e esferas de governo. Ou seja: são propostas que não dependem de um único ator político”.
de que “as minorias têm que se calar e se curvar diante da maioria”. E, aproveitando a fala do próprio, o questionamento que fica é: após a derrota nas urnas, o mesmo irá se calar e se curvar para a maioria que escolheu não o reeleger, sendo ele, o primeiro presidente da República a tentar a reeleição e não conseguir um segundo mandato, desde que a reeleição foi insti tuída, em 1997?
Este cenário é caótico e desumano, mas a luz no fim do túnel surgiu no coração de milhares de brasileiros, que vivem na pobreza e na desesperança, essa luz é um estadista, eleito democraticamente, em 30 de outubro de 2022, chamado Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda nem iniciou o seu mandato e já demonstra força e vontade política de fazer valer os direitos sociais para quem, de fato, necessita.
Antes de tratar sobre o novo cenário brasileiro, é necessário, de início, abordar a desconstitucionalização tanto do sistema político, quanto das esfe ras social e cultural dentro do paradigma do Estado Democrático de Direito. Para situar este contexto, é preciso compreender o que foi o golpe contra a democracia brasileira, instalada pela perseguição e pelo desmonte da vontade popular, a partir do governo de Dilma Rousseff, em curtas palavras, o Golpe de Estado!
Iniciado desde 2016, o golpe foi um processo que culminou no desacordo com as regras constitucionais e no combate ao estado de bem-estar social. O estado, que cria as políticas públicas sociais, não é mais interessante, pois a natureza do estado neoliberal, é o mínimo para o social e máximo para o capital.
Este cenário foi se fortalecendo, ao longo de 2018, a atualidade, e atingiu em cheio a maioria da sociedade (as cama das sociais empobrecidas), em todos os aspectos da vida social, seja na educação, saúde, moradia, emprego, cultura, lazer, entre outros. O paradigma do desmonte do Estado ganhou volume e forma, princi palmente, no governo de Bolsonaro, onde a extrema-direita, reforçou o desmonte dos direitos trabalhistas e dos demais direitos sociais, além de uma administração polí
tica nefasta, para o conjunto da sociedade, principalmente, no enfrentamento de uma das maiores pandemias já vivenciadas no Brasil e no mundo.
A tratativa do atual governo e o nega cionismo, verbalizado pelos meios de comunicação nacional, levou milhares de pessoas a incertezas e as desconfianças para com a ciência. A ciência foi despre zada ao longo de 4 anos de desgoverno, foram quase 700 mil vidas perdidas pela pandemia da Covid-19, o mundo assistiu e chorou as mortes de seus entes queri dos, mas o Brasil poderia ter evitado essa catástrofe, se tivesse comprado as vacinas como os demais países compraram, com planejamento, antecedência e competên cia técnica.
Aliado a tudo isso, o atual governo, cortou 3,3 bilhões da Saúde Pública, para o orçamento de 2023, atingindo 12 pro gramas de saúde e programas voltados à Ciência, Tecnologia e Inovação. Na prática, esses cortes representam a falta na compra, produção e distribuição de medicamentos para pessoas em tratamento com HIV, doenças como hepatite e infecções sexu almente transmissíveis. Atualmente, no Brasil existem 33,1 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da
Covid-19 e, o atual governo, propôs o corte de 43 milhões destinados ao Programa de Alimentação e Nutrição para a Saúde.
O candidato derrotado democratica mente nas urnas nunca escondeu o seu des prezo para com a população LGBTQIAP+ e ganhou fama por seus discursos radicais, desrespeitosos e raivosos, cheios de pre conceito. Enquanto deputado, Bolsonaro, foi contra o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/2006, que criminalizava a LGB TQIAPfobia (crimes de discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero), assim como sempre se mostrou contrário a toda e qualquer política pública que assegurasse a essa população o direito básico ao respeito para com a sua dignidade humana, tudo isso, muitas vezes, disfarçado de “direito a opinião”.
O Brasil vem se destacando negati vamente, há 13 anos, por encabeçar a lista dos países que mais matam pessoas LGBTQIAP+ no mundo, ainda assim, em seu governo, Jair Bolsonaro extinguiu o Departamento de Promoção dos Direitos LGBTQIAP+, ignorando todas as estatís ticas alarmantes e vergonhosas no que se refere à violência física e moral vividas diariamente por essa população.
Em certa ocasião, Bolsonaro afirmou, categoricamente, em um de seus discursos,
É notório que o novo governo fede ral enfrentará um grande desafio, afinal, reconstruir o país após todos os desmontes feitos em áreas preciosas para uma nação, como a saúde e educação, não é algo que se faz da noite para o dia. O presidente eleito, Lula, devolve a esperança, que foi arrancada das mãos do povo, que clama por dias melhores, de comida na mesa, de mais livros e menos armas, de mais inclusão e tolerância, de mais oportuni dades aos jovens, mais saúde aos idosos, proteção às mulheres e de respeito para com a nossa democracia e às Instituições.
*Profa. Dra. Simone Eneida Baçal de Oliveira
Docente titular aposentada da Uni versidade Federal do Amazonas (Ufam), assistente social, com graduação pela Ufam, mestrado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutorado pela Ponti fícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Pedro Paulo de Oliveira Costa (Aurora Boreal)
Ativista LGBTQIAP+ há 8 anos, produtor audiovisual, fundador do primeiro canal LGBTQIAP+ do Amazonas na plataforma YouTube e criador de conteúdo digital. Drag Queen (Aurora Boreal), que atua também como cantora, apresentadora, podcaster e performer.
Pela primeira vez em mais de 100 anos, duas mulheres são eleitas para comandar o Tribunal de Justiça do Amazonas Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – O Tribunal de Jus tiça do Amazonas (TJAM) elegeu as desembargadoras Nélia Cami nha Jorge, para a presidência, Joana dos Santos Meirelles, para a vice-Presidência do órgão, e o desembargador Jomar Ricardo Saunders Fernandes para ficar à frente da Corregedoria-Geral de Justiça do Amazonas (CGJ/AM). Esta é a primeira vez, em 131 anos, que o TJAM tem duas mulheres à frente dos maiores cargos do órgão.
Presidente, vice e corregedor-geral de Justiça assumem o biênio 2023-2024, começando os trabalhos a partir do dia 2 de janeiro, data da posse. Essa também é a primeira vez que o TJAM inicia os trabalhos em janeiro, anteriormente a posse ocorria no mês de julho.
A mudança foi decidida pelo plenário da instituição, em 2021, sendo, posterior mente, aprovada pela Assembleia Legisla tiva e sancionada, com a publicação da Lei Complementar Estadual n.º 228/2022. A medida considerou o princípio da efici ência na administração pública e a melhor aplicação da lei orçamentária, quando feita de forma simultânea ao exercício financeiro que, no Brasil, coincide com o ano civil.
Para que a posse da nova gestão ocorra em janeiro, foi acertado que, neste segundo semestre de 2022, o Tribunal seria admi
nistrado por uma gestão de transição, cujos dirigentes são os desembargadores Flávio Pascarelli, Graça Figueiredo e Anselmo Chíxaro, respectivamente presidente, vice-presidente e corregedor-geral de Justiça.
A eleição dos novos dirigentes se deu após a desistência dos demais candidatos. Dos cinco desembargadores inscritos para
Caminha Jorge, eleita presidente, perdeu o objeto na inscrição, após ser eleita pre sidente da Corte.
Em discurso após ser aclamada, a desembargadora Nélia Caminha agradeceu a escolha e disse que planeja fazer uma gestão participativa. A nova presidente do TJAM ainda disse estar consciente do momento histórico que vive.
“Ser a terceira mulher a assumir o cargo mais importante do Tribunal de Justiça do Amazonas é uma honra”, disse a magis trada, que dedicou a eleição aos pais, Adalberto de Lima Caminha e Edmeé Pereira Caminha (que foi magistrada), ao seu marido, filhos, demais familiares e à memória da desembargadora Liana Mendonça – falecida em maio deste ano – pelo incentivo e apoio.
a Presidência, quatro desistiram de concor rer: a desembargadora Maria do Perpétuo Socorro Guedes Moura e os desembargado res Lafayette Carneiro Vieira Júnior, Airton Luís Corrêa Gentil e Cezar Luiz Bandiera.
Já para o cargo de vice-presidente, os desembargadores Airton Luís Corrêa Gen til e Cezar Luiz Bandiera desistiram antes de a sessão ser iniciada, já o desembar gador Elci Simões anunciou desistência em plenário. A desembargadora Nélia
Eleita vice-presidente, a desembarga dora Joana Meirelles também agradeceu aos demais magistrados e à família. “É com muita alegria e também sentimento de gratidão por ser reconhecida pelos meus pares, que recebo essa missão. É gratifi cante isso. Acredito que nossa gestão será de entendimento e de cooperação. Não mediremos esforços para atender ao nosso jurisdicionado. A sociedade nos demanda todos os dias, em busca de Justiça”, disse Meirelles”.
o cargo mais importante do Tribunal de Justiça do Amazonas é uma honra”
A eleição dos novos dirigentes se deu após a desistência dos demais candidatos Presidente, vice e corregedor-geral de Justiça assumem o biênio 2023-2024“AssumirNélia Caminha, desembargadora
“Acredito que nossa gestão será de entendimento e de cooperação”
Joana Meirelles, desembargadora
Mesmo derrotado nas urnas, Jair Bolsonaro conquistou políticos aliados em vários Estados do País
Divisão dos governos no Brasil
No Amazonas, Wilson Lima (União) foi reeleito, com 56,65% dos votos válidos, para mais quatro anos de admi nistração, assim como em Rondônia, onde a disputa foi vencida pelo Coronel Marcos Rocha (União), que obteve 52,47% dos votos válidos.
A sigla carregada por ambos os governadores eleitos em segundo turno faz parte da gama de partidos que antes apoiavam o principal rival de Lula, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas.
Com o anúncio de alguns nomes para o Grupo de Transição do presi dente eleito, os partidos que compõem a base governista são: PT, PSB, PV, Rede, PSOL, PCdoB, PROS, PDT, Cidadania e Solidariedade.
Os partidos que já declararam oposi ção foram o PL de Bolsonaro e o Partido Novo. Há, ainda, partidos que não se pronunciaram, como o Avante, MDB, PP, União Brasil, Podemos, PSC, PTB, PSD e o Patriotas. Por outro lado, os partidos PSDB e Republicanos decla raram postura independente.
DIVISÃO NA AMAZÔNIA
Fonte: Baseado nas declarações de cada partido até o dia 13.11.2022
Tribunal de Contas do Estado do Amazonas alcança selo Diamante, em avaliação Nacional de associação que coordena tribunais no País
MANAUS (AM) - Em solenidade realizada no Rio de Janeiro, o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) alcançou o selo Dia mante, em avaliação realizada no âmbito do Programa Nacional de Transparência Pública da Associação dos Tribunais de Contas do País (Atricon).
Com o anúncio, o TCE-AM passa a compor um seleto grupo de 13 Tribunais que possuem o selo Diamante, dentre as 31 Cortes de Contas avaliadas.
O anúncio foi feito durante o VIII Encontro Nacional dos Tribunais de Con tas (VIII ENTC), que ocorreu no Centro de Convenções Windsor Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e a entrega do selo Diamante será realizada em data oportuna pela Atricon.
O Programa Nacional de Transpa rência Pública promove ações volta das à ampliação da transparência das informações do Poder Público. Dentre as ações, estão a realização do Levan tamento Nacional de Transparência Pública; o desenvolvimento do Radar da Transparência Pública Nacional; e a institucionalização do Mês da Transparência Pública Nacional, em novembro.
O programa foi desenvolvido pela Atricon para, entre outros, examinar o nível de transparência ativa nos sites institucionais do Poder Público, nas três esferas de governo (União, Estados e municípios).
O programa tem como diretrizes e critérios as regras de transparên cia estabelecidas na LRF e na LAI.
Os Tribunais de Contas fiscalizam questões, como: O foco é o cidadão?; É assegurado ao cidadão o direito de acesso a dados?; Os dados abertos disponibilizados são completos, atu ais e acessíveis?; Há controle sobre a divulgação de informações sigilosas?, dentre outros.
O selo Diamante indica que o TCE-AM atende a 100% dos 120 critérios essenciais e nível de transparência está entre 95% e 100%. No cálculo, o TCE-AM alcançou 97,15% de transparência.
“É uma honra, termos recebido o nível Diamante, alcançando 97,15% de trans parência, segundo os índices da Atricon.
Isto demonstra que o TCE-AM está no caminho certo, buscando a transparência pública, a disponibilização de informações à sociedade em geral de forma ativa, ou seja, sem que seja requisitado por tal. Seguiremos em busca de 100% da transpa rência, segundo a legislação prevê e a Atricon organizou em índices e métricas adequadas às Cortes de Contas”, afirmou o presidente do TCE-AM, conselheiro Érico Desterro.
A solenidade de anúncio foi acompa nhada pela vice-presidente do TCE-AM, conselheira Yara Lins dos Santos; o correge dor do Tribunal, conselheiro Ari Moutinho Júnior; o auditor Luiz Henrique Pereira Mendes; a procuradora-geral do MPC, Fer nanda Cantanhede; os procuradores de Contas Carlos Alberto Almeida, Elizangela Marinho e Ruy Marcelo Alencar, além de servidores da Corte de Contas amazonense.
“Os TCEs são atores com força indu tora para que os entes sob sua jurisdição
O evento marcou, ainda, o lança mento do Radar da Transparência, uma ferramenta organizada pelo Tri bunal de Contas do Estado do Mato Grosso (TCE-MT) e pela Atricon, com apoio dos demais Tribunais e organi zações que compõem o sistema de controle externo.
O Radar é uma plataforma eletrô nica disponível à sociedade, na qual é possível filtrar as buscas por Estado, por órgão, por nível de transparência, por área temática, entre outros.
adotem a Transparência. A lei diz que a Transparência é a regra e o sigilo é a exceção, mas, depois de uma certa euforia, houve um período de tropeços, com a decretação de certos sigilos. É preciso fazer a conciliação da Lei Geral de Proteção de Dados com a Transparência pública. É preciso dotar de acesso à informação o cidadão, porque ninguém controla o que não conhece”, afirmou o presidente da Atricon, conselheiro Cezar Miola.
Selo de transparência foi instituído pela Associação dos Tribunais de Contas do País, de forma inédita O selo Diamante indica que o TCE-AM atende a 100% dos 120 critérios essenciais e possui nível de transparência entre 95% e 100% Camila Carvalho - Especial para Revista CenariumMe perguntaram recentemente se um homem é obrigado a aceitar uma sorte que lhe fora imposta pelo destino e que desagrada sobremaneira o seu coração. Respondi o óbvio, sem, todavia, ser raso na resposta e sem deixar de examinar o desgosto do meu interlocu tor. Argumentei com ele dizendo que essas coisas são desafios, e que há destinos – por assim dizer – que temos alguma chance de mudar, caso específico em que há em nós o dever de lutar para transformar os seus efeitos, sendo o fator reação uma característica central da superação dos desafios. Noutros casos, quando nada podemos fazer para mudar as consequên cias da realidade, aí temos que invocar o espírito do que os estoicos chamavam de “amor fati”, isto é – em sentido latino –, dizer sim ao não, e agir com objetividade posicional aceitando o destino, ainda que ele nos pareça cruel e frustrante. Ser estoico não representa exatamente uma tarefa das mais fáceis. Encarar o destino com
a visão fria e resiliente, de um indivíduo que se sente sobrepujado pelas urnas, é algo assim insólito.
A Amazônia, nesse sentido, quanto ao seu futuro e à atmosfera animosa das mani festações contra o resultado das eleições presidenciais, está sendo – como sempre foi – ignota. Sobre os insatisfeitos com o resultado das urnas, dizem que determi nadas atitudes de quem busca o exercício da liberdade, afrontam e violam a mais crucial tarefa principiológica do Estado Democrático de Direito, o de assegurar o princípio da constitucionalidade, da democracia, do sistema de direitos fun damentais, da justiça social, da igualdade, da divisão de poderes, da legalidade e da segurança jurídica. Se esses indivíduos não consideram os preceitos normativos, quanto mais reputarão preciosismo à Ama zônia, que eu chamo de a “Primeira-Mãe”. Liberdade substantiva não guarda veros similhança com insubmissão e com o desregramento protestativo. O momento
é de resignação e pelejas pelo futuro da Amazônia.
A propósito de destino, a verdade cabe aqui como um arpão certeiro no peito do pirarucu: a história política brasileira não tem sido assim tão benigna com a Amazônia concernente às suas mais cru ciformes necessidades. Nossas “comuni dades vegetais” não vislumbram, ainda, a guardianidade estatal ovacionada (e não consagrada) na pluralidade dos códigos; as comunidades humanas ainda pere cem na miséria logística, na pouquidade de elementos produtivos eficientes e na carência limítrofe de condições; as organi zações e o empreendedorismo amazônicos quase não gozam… Quase não gozam, no sentido do desiderato e do usufruto de expertise para o aprimoramento, e de atenção à necessidade de investimentos; as instituições científicas e de ensino não dispõem de aparato digno para o exercício da Ciência, da pesquisa e do conhecimento necessários.
O que se pode, historicamente, afirmar acerca dos cuidados governamentais com a Amazônia, é que muito pouco se fez por ela, até aqui. Mas, para os que acham que a esperança é a última que morre, convém afirmar que aqui, nestes biomas do amor futurístico – tão proféticos e, ao mesmo tempo, escatológicos quanto este artigo –, a esperança nasce a cada novo governo, a cada nova oportunidade, feito cada hectare incendiado que teima em voltar à vida. É nesse mesmo diapasão que nós, homens e mulheres amazônicos, valsamos, desde que nascemos, nos acordes de uma música meio ilusória, mas que nos encanta, por que suas partituras sempre têm muito de esperança.
Eu nunca seria tolo de duvidar que os prosélitos do quase-ex-presidente Bolso naro demorarão um paneiro de tempo inteiro para admitir que foram derrotados legitimamente nas urnas, e que a Demo cracia devorou os seus anelos, e que a liberdade de escrutínio gritou dentro dos ouvidos quase-moucos daqueles mais vergonhosamente exaltados. Eles não res peitam o destino e desconhecem o “amor fati”, e quando marchavam nos portões dos quartéis, vociferando seus desgostos bradados e imitando de maneira esdrúxula
os integralistas (outros ensandecidos arre medadores de Mussolini, aquele espírito maligno putrefato), também acamparam nas vizinhanças urbanas, perturbando o repouso dos idosos, apoucando a já parca quietude das crianças autistas e dilace rando o sossego das famílias que tiveram os seus dias ultrajados por atitudes que habitavam corpos cheios de cretinices e loucuras.
Quanto ao destino propriamente dito, para nós que respeitamos os resultados da Democracia, não podemos também cruzar os braços e dar lugar à inércia, como fizemos até aqui. Temos que exercer doravante a nossa capacidade de defesa concreta da Amazônia, cobrando, fiscali zando, ‘policiando’ os passos dos novos governantes, ofertando ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao governador reeleito, Wilson Lima, o con curso necessário e intransigente visando à eclosão de um progresso real e verídico, mormente nos âmbitos da Pesquisa, da Ciência e do Conhecimento. É preceito nosso respeitar as governanças e coadjuvar com eles no desenvolvimento dos povos amazônicos, pugnando por um destino decente, agregador, glorioso… Isso sim, depende de nós todos!
Não seria tão impróprio dizer que nós, os que acreditam e respeitam o destino, estamos dando, mais uma vez, ao presi dente Lula e ao Governador Wilson Lima, o benefício da confiança… A confiança pelo respeito verdadeiro à Amazônia. Para os prosélitos, o que nós estamos fazendo mesmo é escancarando uma janela enorme de ambiguidades, precedentes perigosos para esculhambar de vez o destino. Mas, claro, ainda que tivessem algum número de razão, não podemos dar ouvidos a eles, pois eles marcharam, sujaram os arredores de seus acampamentos, emporcalharam as praças e ruas, precarizaram a higiene urbana, e eles são extremistas de direita, aspirantes de que a mera insatisfação seja a instância derradeira da Justiça.
O futuro da Amazônia não são ape nas os governos, somos nós, e não deve mos cultivar o pessimismo, ao contrário, devemos nutrir razões suficientes para se acreditar que experimentaremos mudanças reais, que tornarão a Amazônia mais feliz. É isso: devemos nutrir razões suficientes, respeitando sempre o destino, pois razões de sobra seria exagero cultivar.
*Escritor, Antropólogo, Jornalista, Pro fessor de Ciência Política, Antropologia Jurídica e Direito Constitucional.
Manifestantes da extrema-direita se apropriaram de teorias da conspiração, para tentar invalidar o resultado das urnas que apontaram Luiz Inácio Lula da Silva como novo presidente da República Luciano
CenariumMANAUS (AM) – No último feriado do Dia de Finados, 2 de novem bro, não havia completado três dias da proclamação do resultado do segundo turno das eleições que consagrou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) – o primeiro presidente da história brasileira a não conseguir se reeleger, desde que a reeleição foi instituída –, quando, insatisfeitos com a derrota, os bolsonaristas mais radicais iniciaram uma série de protestos contes tando o resultado da votação e pedindo uma intervenção militar para impedir a posse do ex-presidente petista.
Inicialmente, estradas foram bloquea das por todo o País, desencadeando dias de caos social e econômico que só foram contornados após a atuação mais incisiva do Judiciário e de Bolsonaro, pressio nado, pedir para que seus apoiadores não
obstruíssem as vias. Os radicais, então, resolveram se instalar em vigília em frente a quartéis das Forças Armadas.
Os acampamentos reuniram milhares de pessoas e neles foi possível ver cenas que escancaram o nível de descolamento da realidade que parte expressiva da sociedade está experimentando. Despre zando os fatos e consumindo exclusiva mente conteúdos extremistas e falsos, muitos dos inconformados demonstraram que têm plena convicção de que houve fraude eleitoral. Novas teorias a todo momento alimentam essa base bolso narista, que desafia a lei, ao defender o indefensável.
O próprio Bolsonaro, ao longo do mandato, havia manifestado em diversas ocasiões que não aceitaria uma derrota nas urnas e estimulou uma radicalização de sua base neste sentido.
Por sua vez, Bolsonaristas que estão inseridos na política institucio nal ouvidos pela reportagem dizem não defender intervenção militar e relativizam os atos antidemocráticos em frente aos quartéis. Segundo eles, os atos são uma manifestação legí tima e natural da sociedade.
“As pessoas estão nas ruas por livre e espontânea vontade”, afirma Coronel Menezes (PL), principal aliado de Jair Bolsonaro no Amazonas.
Para o vereador de Manaus Capi tão Carpê Andrade (Republicanos), o protesto é uma forma de sinalizar ao presidente eleito que “a oposição não será mais tão conivente com ele, como foi nos seus governos passados”.
Essa “realidade paralela” experimen tada pelos manifestantes bolsonaristas é construída por meio do que o ensaísta e professor titular de Literatura Comparada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) João Cezar de Castro Rocha chama de “midiosfera extremista”, uma verdadeira usina de produção ininterrupta de fake news e teorias conspiratórias que tornou possível o cenário que ele chama de “dissonância cognitiva coletiva”.
Em artigo publicado recentemente, o autor de “Guerra Cultural e Retórica do Ódio” amplia o conceito do psicólogo social norte-americano Leon Festinger, o primeiro a descrever, nos anos 1950, a dissonância cognitiva. O brasileiro inclui o caráter coletivo “de um poderoso cir cuito comunicativo” que permite que o caos cognitivo se transforme em uma realidade alternativa para uma grande parte da sociedade. “Como lidar com o Brasil paralelo de dezenas de milhões de pessoas?”, questiona o estudioso.
Para entender como chegamos até aqui, outro conceito de Rocha é necessário: a retórica do ódio, uma estratégia discursiva da extrema-direita que, em cinco passos, objetiva a tomada do poder em sistemas democráticos ao redor do mundo, nas últimas décadas.
Os passos incluem a desqualificação do outro, a desumanização e o extermínio,
Falbo – Especial para Revistausando esse arsenal comunicativo, que, no Brasil, inclui, principalmente, as correntes de grupos de aplicativos (WhatsApp e Tele gram), as redes sociais, canais do YouTube e aplicativos como o Mano e a TV Bolsonaro.
As pessoas envolvidas nesta corrente, para serem aceitas, não podem discordar ou apresentar argumentos contrários, sob o risco de serem banidas e tachadas de “comunistas”. Assim, sem contraditório, consomem apenas os conteúdos extremis tas feitos sob medida para atingir objetivos específicos dos líderes políticos.
No pior dos cenários, um conflito civil armado poderia ser desencadeado, mais uma mancha na imagem do País na comu nidade internacional e que abalaria, ao menos temporariamente, as dinâmicas sociais, econômicas e políticas internas. Mas, especialistas veem isso como impro vável e avaliam que os atos em frentes aos quartéis tendem a perder fôlego.
As razões que levam as pessoas a viverem nessa realidade paralela são questões ainda em aberto dentro da Academia, sobre a qual ainda não exis tem respostas totalmente conclusivas. É o que explica o cientista político Ludolf Waldmann Júnior. Mas, há indicativos que apontam para o fenômeno das Novas Direitas.
No Brasil, segundo ele, o bolsonarismo é uma expressão desse fenômeno político, que se consolidou no início deste século em outros países, como o trumpismo, nos EUA, o tradicionalismo de Putin na Rússia, o governo Orbán, na Hungria, entre outros, e que está associado à própria crise da democracia em escala global.
“Como observado por estudos recen tes sobre este fenômeno, as Novas
Direitas partem do pressuposto de uma rejeição ética, epistemológica e política das instâncias tradicionais de produção e reprodução dos regimes de verdade, ou seja, a mídia mais tradicional, as universidades e institutos científicos, já que estes estariam, na visão deles, dominados por uma suposta elite pro gressista-autoritária (chamada de globa lista ou comunista) que visa destruir os valores tradicionais e impor sua ‘agenda ideológica’”, detalha o cientista.
Dessa forma, a única fonte de infor mações confiáveis para eles e que, de fato, representaria a realidade são estas bolhas formadas através das redes sociais, no qual estes grupos de extrema-direita trocam informações e coordenam suas atividades.
As manifestações já duram mais de 15 dias. Por suas dimensões e radicalismo, demonstram que o bol sonarismo ainda tem vigor no cenário político, reflete o cientista político e professor do Departamento de Ciên cias Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Ludolf Wald mann Júnior. Ele, no entanto, acredita que não conseguirão obter qualquer sucesso em suas reivindicações.
“Afinal, tanto a comunidade inter nacional quanto a vasta maioria dos atores políticos relevantes no Brasil, rapidamente, reconheceram o resul tado eleitoral e a vitória de Lula, eliminando, praticamente, qualquer possibilidade de questionamento mais sério da legitimidade do processo eleitoral”, pondera’.
O ensaísta e professor da UERJ, João Cézar de Castro, classifica os transtornos causados por apoiadores da extremadireita como dissonância cognitiva coletiva”Bolsonaro teve seu melhor desempenho entre homens, brancos, pessoas com curso superior, evangélicos e entre os mais ricos
Luciano Falbo – Especial para Revista CenariumMANAUS (AM) - A maior prova da força social do bolsonarismo foi expressa nas urnas, no segundo turno da eleição presidencial deste ano. Apesar de ter sido derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela reeleição, o ainda presidente Jair Bolsonaro (PL) foi votado por 58.206.354 eleitores (49,10% dos votos válidos), uma votação absoluta ligeiramente maior que aquela que garantiu vitória a ele, em 2018, quando teve 57.797.847 votos.
O balanço do resultado mostra que Bolsonaro teve melhor votação nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste, enquanto a disputa foi mais parelha no Norte e, no Nordeste, ele teve sua pior votação.
O mapa da votação e as pesquisas realizadas antes do pleito indicam que Bolsonaro teve seu melhor desempenho entre homens, brancos, pessoas com curso superior, evangélicos e entre os mais ricos. É nesse grupo que se concentraria o que se convencionou chamar de “núcleo duro” ou o “bolsonarismo raiz”, os mais radi cais, fiéis e alinhados ao atual presidente, que dariam sustentação às manifesta ções antidemocráticas. Essa fatia repre sentaria entre 15% e 30% da sociedade, segundo analistas.
Mesmo com as suspeitas de que os atos que permanecem em frente aos quartéis estejam sendo financiados por empresá rios – o que é alvo de investigação nos
Ministérios Públicos, quem acompanha de perto diz ver algo de “orgânico” e um público com perfil mais diverso do que o que ficou rotulado.
Isso quer dizer que não há somente pessoas com boa condição financeira e de meia-idade acampadas nesses locais, por exemplo. Há gente “do povo”, conforme contou à CENARIUM o jornalista Yan Boechat, que acompanhou de perto o início dos protestos em São Paulo.
Yan diz que o movimento pode ter apoio de empresários, financiamento de políticos e “ser insuflado pelo gabinete do ódio de dentro do Planalto, mas é, antes de tudo, orgânico e espontâneo”.
O volume de pessoas que se dirigi ram aos portões do Comando Militar do Sudeste no dia 2 deste mês e que ainda per manece por lá impressionou o jornalista, que possui larga experiência na cobertura de conflitos sociopolíticos ao redor do mundo. “Não se trata de meia-dúzia de bolsonaristas radicalizados”, garante ele.
“Me impressionou também a diversi dade social das pessoas que estavam ali.
Não se tratava apenas da classe média branca do Centro Expandido, havia gente da periferia, gente pobre e gente rica, cató licos, protestantes. Havia povo ali”, relatou.
Yan observa que, desde 2014, quando os primeiros movimentos pró-ruptura constitucional ganharam as ruas, aqueles
O balanço do resultado mostra que Bolsonaro teve melhor votação nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste
que defendiam o golpe militar sempre esti veram à margem. Com o passar do tempo, como “malucos”, os radicais dos protestos.
Mas, na avaliação do jornalista, os últi mos atos pós-eleição mostraram que esses grupos deixaram de ser minoritários para se tornarem protagonistas entre os bolso naristas. “Foi como se tivessem cruzado uma fronteira. Agora, as pessoas estão indo para as ruas pedir um golpe militar, uma ditadura, sem subterfúgios”.
Segundo Yan, quem foi às ruas acom panhar de perto o que está acontecendo percebe, com clareza, que “não se trata de um grupo minoritário de radicais, das tias do zap”. “Há volume, há organicidade e há diversidade em quem acredita que os militares devem assumir o poder para salvar o País”.
“Essa parcela da população está abso lutamente apartada da realidade. Ignora a imprensa como a imprensa os ignora. Estão todos à espera de um salvador, que
restituirá a verdade num mundo de men tiras”, observa.
Ele diz que, sem pressão e sem dinheiro, essas pessoas foram estimuladas por sen timentos muito fortes, ainda que difusos em sua essência.
O jornalista Cley Medeiros, que moni tora os grupos de aplicativos de mensagens pelos quais os manifestantes do CMA se organizam, considera que, apesar da repercussão, o protesto em Manaus está sofrendo com baixa adesão, quando com parado aos atos bolsonaristas realizados ao longo dos últimos anos.
Os primeiros grupos de aplicativos, conta Medeiros, foram criados nas primei ras horas após o resultado do dia 30 de outubro. Nos nove grupos que ele moni tora, além da disseminação dos conteúdos de desinformação, os manifestantes arre cadam doações e prestam contas inter namente dos gastos com as despesas do acampamento.
Crédito: Ricardo OliveiraMANAUS (AM) - A CENARIUM procurou lideranças do acam pamento montado em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), na Zona Oeste de Manaus, mas não con seguiu contato.
Uma jovem que participa do protesto ativamente, mas que recusa ser conside rada líder da manifestação, disse que todos ali estão “pensando apenas no melhor para o Brasil” e que a principal pauta é o não reconhecimento do resultado da eleição presidencial, que eles consideram ter sido fraudado. Assim, diz ela, seria necessária uma intervenção militar.
“Não é por Bolsonaro. É para que a Constituição seja cumprida”, resumiu, ao pedir para não ser identificada.
Mesmo com a pressão e as críticas por causa do barulho e congestionamento nas redondezas do acampamento, o protesto tem a simpatia da maioria dos parlamen tares da Câmara Municipal de Manaus (CMM).
No dia 8 de novembro, o vereador Capi tão Carpê Andrade (Republicanos) saiu em defesa dos manifestantes na tribuna da CMM. Ele rebateu críticas de colegas
que classificaram os atos antidemocráticos como criminosos e baderna.
À CENARIUM, Carpê disse que, embora entusiasta, não é líder do movimento em Manaus. “Tampouco faço parte da mani festação em si”, disse.
Ele explicou que as pautas são diversas “e, em sua grande maioria, são expressões de uma parcela descontente com o resul tado eleitoral, algo que faz parte do jogo democrático”.
O vereador afirma ser “contra a obstru ção de rodovias e de qualquer ação que interfira no direito de ir e vir do cidadão”.
Carpê afirmou que não aprova os pedi dos de intervenção. “Sou legalista, defensor da democracia acima de tudo, e acredito que é no voto que tudo é decidido”.
Para ele, não é possível prever até quando vão durar as manifestações. “Desde que resguardando a legalidade, não vejo problema nenhum de conti nuar”, disse.
O parlamentar diz que, acima de tudo, o protesto é uma forma de sinalizar ao presidente eleito que “a oposição não será mais tão conivente com ele, como foi em seus governos passados”. “Milhões
de brasileiros não aceitarão mais passi vamente que nosso país seja assaltado e saqueado para financiar um projeto de poder”, vaticinou.
Correligionário, amigo e padrinho de casamento de Bolsonaro, Coronel Menezes (PL) disse à CENARIUM que “as pessoas estão nas ruas por livre e espontânea von tade”. Candidato ao Senado pelo Amazo nas neste ano, Menezes disse que não viu “nenhum político incentivando quaisquer atos”. Porém, ele próprio esteve várias vezes no acampamento do CMA e fez questão de registrar as visitas nas redes sociais.
“Sou contra qualquer ação que impeça o ir e vir das pessoas, isso é uma garantia constitucional e devemos respeitá-la”, disse, sobre o fechamento de estradas nos primeiros dias de protesto.
Em relação aos pedidos de intervenção, ele disse não ter nada a declarar. “Isso cabe ao poder discricionário de cada um”. Menezes declarou que “tem muita gente que pede e não sabe sequer o que está pleiteando”.
Sobre a previsão de duração do movi mento, o político disse que “cabe a cada um, individualmente, determinar o tempo e o espaço que vai suportar os protestos”.
Procurados pela REVISTA CENARIUM, lideranças dos atos antidemocráticos preferiram não se pronunciar
pessoas estão nas ruas por livre e espontânea vontade”
Cel. Menezes, amigo de BolsonaroCrédito: Ricardo Oliveira
Profissionais da área apontam processo de luto pela derrota eleitoral, identificação mútua e neuroses pessoais como fatores que resultam na criação e adesão a manifestações
Luciano Falbo – Especial para Revista Cenarium
MANAUS (AM) – Ao refletirem sobre o que leva as pessoas a entrarem nesse ciclo de realidade paralela e se mobilizarem nesses protestos em frente aos quartéis militares, profissionais da Psicologia apontam razões que vão desde o processo de luto pela derrota eleitoral e identificação mútua a neuroses pessoais como fatores que resultam na criação e adesão a esses grupos.
O psicólogo José Trintin Jr., especialista em Psicologia Positiva, pontua que após
o resultado das eleições são observados, invariavelmente, uma sensação de alegria, bem-estar e vitória do lado vencedor e um sentimento de fracasso, tristeza e revolta na perspectiva dos vencidos.
“A derrota eleitoral pode ensejar um sentimento de perda, desencadeando as tradicionais fases do luto, tais como a negação, raiva, barganha, depressão e, após a passagem de todas as fases, a esperada aceitação, caracterizando a funcionalidade do processo psíquico”, detalha.
Porém, Trintin Jr. ressalta que, dada a subjetividade humana, a passagem pelas fases do luto pode apresentar os mais variados desdobramentos e, nos dias iniciais após o fim das eleições, a sensibilidade, agressividade, nega ção, medo e não aceitação ou legiti mação em relação ao vencedor podem atingir níveis altíssimos, “exigindo um acerto de contas interior com a frustra ção vivenciada pelo não atingimento da expectativa”, conta.
Sem fazer juízo de valor quanto a ques tões ideológicas, o psicólogo diz que as multidões diante dos quartéis retratam um luto coletivo, no qual há profunda identificação entre os participantes “diante do extremo sofrimento psíquico pela frus tração e consequente não aceitação dos resultados das urnas”.
Psicólogo e doutor em Linguística, Sérgio Freire também cita a identificação entre as pessoas para a formação desses grupos. Freire diz que há algo em comum que os une, como, por exemplo, “o medo do comunismo, o medo de destruírem suas famílias e todas essas coisas que ouvimos eles alegarem”. “Embora para quem está fora isso seja irracional e irreal, para quem está dentro é uma verdade incontestável”, observa.
Para ser aceito e se manter no grupo, Freire explica que o preço é suspender suas crenças e valores e aderir ao que é propagado – nesse caso, uma enxurrada de notícias fal sas e distorcidas por meio das redes sociais e aplicativos de mensagens, “passando a repetir essas verdades construídas”.
O psicólogo propõe imaginarmos alguém que abdicou de seus valores e bom senso para ser aceito em um grupo desses. “O nível de investimento é imenso e, por isso, eles entram de cabeça na coisa
e passam a funcionar numa realidade paralela, beirando o delírio”, reflete.
Outro fator que leva pessoas a aderi rem a essas causas, explica Freire, são as neuroses, os problemas e as questões mal resolvidas de cada um. “Geralmente, cui damos disso no processo terapêutico. Mas, essas pessoas não cuidam e uma forma de lidar com a neurose é a sublimação, que é a transferência do problema para outro lugar, no caso específico, a questão política”, explica.
Como alternativa para deixarem esse ciclo, Freire defende que é preciso que essas pessoas não recebam a legitimação de seus comportamentos – nesse caso, de não aceitação do resultado das urnas. Isso, segundo ele, inclui o poder público desfazer as manifestações, no nível cole tivo, e essas pessoas cuidarem de seus problemas, ao nível pessoal. “Além disso, é fundamental fechar a torneira das fake news, que funcionam como combustível para essa dinâmica do grupo”, destaca.
José Trintin Jr., por sua vez, diz que este luto é um processo normal na busca da identidade coletiva. Embora cause dor psíquica, ele ressalta que o processo precisa passar por todas as fases, observando “a real possibilidade de enfrentar as perdas sem negá-las”.
“A derrota eleitoral pode ensejar um sentimento de perda desencadeando as tradicionais fases do luto, tais como a negação, raiva, barganha, depressão, e, após a passagem de todas as fases, a esperada aceitação”
José Trintin, especialista em Psicologia Positiva. Outro fator que leva pessoas a aderirem a essas causas são as neuroses, os problemas e questões mal resolvidas de cada umA possibilidade do Brasil “virar uma Venezuela” com a eleição de Lula, a criação de “banheiros unissex”, o fechamento de igrejas e o famigerado “kit gay” foram usados à exaustão, dando trabalho extra para as agências de checagem de fatos e para o Judiciário
Luciano Falbo – Especial para Revista Cenarium
MANAUS (AM) - Ao longo do período eleitoral, uma avalanche de notícias falsas, distorcidas e teorias da cons piração foram usadas pelo bolsonarismo na tentativa de arrancar votos do então líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Repetiu-se, parcialmente, a estratégia de 2018, com o próprio Jair Bolsonaro (PL) propagando parte do repertório para minar a candidatura do oponente e a massificação disso pelas redes sociais e aplicativos de mensagens.
A possibilidade do Brasil “virar uma Venezuela” com a eleição de Lula, a cria ção de “banheiros unissex”, a invasão de propriedades privadas, o fechamento de igrejas e o famigerado “kit gay” foram usados à exaustão, dando trabalho extra para as agências de checagem de fatos e para o Judiciário.
Mas, a semente que resultou nas mani festações recentes foi plantada ainda em 2018. Logo após vencer o pleito no segundo turno, Bolsonaro aventou fraudes nas urnas e que teria tido votos suficientes para vencer ainda no primeiro turno.
De lá até a nova disputa presidencial, Bolsonaro promoveu uma verdadeira cam panha de ataque ao sistema eleitoral, que se intensificava a cada nova pesquisa que apontava sua possibilidade de derrota.
Na internet, proliferaram teorias que colocavam em xeque o processo de votação digital brasileiro. E, apesar das inúme ras vezes em que a segurança e lisura do sistema foram atestadas por diferentes entidades da sociedade, essa avalanche de desinformação serviu para atiçar os mais devotos simpatizantes do presidente em busca da reeleição.
ele – só fez isso na véspera do segundo turno, após o debate na TV Globo. Resultado apurado e confirmada a vitória de Lula, o derrotado silenciou, não reconhe cendo expressamente a derrota, até agora.
Os inconformados então se organi zaram em protestos por todo o Brasil contra o resultado eleitoral e, inicialmente, fecharam estradas, impedindo o tráfego de veículos. Eles pediam intervenção federal evocando, erroneamente, um artigo da Constituição pelo qual acreditavam que seria possível que as Forças Armadas fizes sem uma intervenção militar para tomar o poder após 72 horas de protesto.
Passadas as 72 horas e como nada acon teceu, eles se agarraram na esperança de que o resultado da fiscalização realizada pelas Forças Armadas nas urnas apontasse que houve fraude e só desobstruíram as passagens após Bolsonaro ser pressionado a fazer um apelo para a liberação das vias.
As manifestações então se concentraram em frente a quartéis militares, e a crença era tanta que, em alguns desses locais, manifestantes chegaram a comemorar a notícia falsa de que havia sido confirmada a fraude ou que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexan dre de Moraes, teria sido preso.
A cada novo revés discursivo, novas metas e teorias passaram a ser criadas para manter o fôlego da mobilização. Mesmo com as Forças Armadas admi tindo que não foi possível comprovar fraude, as margens semânticas deixadas para não dizer isso de forma enfática foram suficientes para manter o ânimo daqueles que ainda permanecem acam pados. A previsão de pessoas que man têm contato mais estreito com líderes dos atos é de que os mais radicais estão dispostos a ficar acampados, pelo menos, até o dia 1º de janeiro, quando ocorrerá a posse de Lula.
Bolsonaro promoveu uma verdadeira campanha de ataque ao sistema eleitoral
Bolsonaro relutava em afirmar que aceitaria pacificamente o resultado das urnas, mesmo que fosse desfavorável a
Crédito: Ricardo Oliveira Crédito: Ricardo OliveiraMANAUS (AM) - Para falar sobre as manifestações e os motivos que levaram apoiadores da extrema-di reita a tomarem determinadas atitudes, a
REVISTA CENARIUM entrevistou o cien tista social Pedro Santos Mundim, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).
REVISTA CENARIUM - Como o senhor avalia o resultado do segundo turno? O Judiciário e a institucionalidade como um todo cumpriram bem o seu papel, até aqui?
PEDRO SANTOS - Sim. O Judiciário, prin cipalmente, especialmente o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), cumpriram bem o papel que era atribuído a eles. Felizmente, a gente observou que em relação ao poder Legislativo também as instituições se com portaram da maneira devida. Logo que o resultado da eleição foi confirmado, tanto o presidente da Câmara dos Depu tados quanto do Senado vieram a público parabenizar e aceitar o resultado. Eu acho que isso foi um movimento importante, porque, dos Três Poderes, não dava para esperar muita coisa do Executivo. Então, os demais fizeram o que tinham que fazer. E é importante frisar que as Forças Armadas não são poder. Então, realmente, tinham que ficar caladas, não tinham que dar opinião em relação ao que aconteceu no âmbito civil.
RC – Como o senhor avalia esses movi mentos que questionam o resultado das eleições e que ganharam as ruas após o resultado?
PS - Não me surpreendeu. Apesar de o Bolsonaro e de sua claque mais próxima não estarem tão atuantes, pelo menos do
ponto de vista do espaço de visibilidade institucional, você tem aí um movimento nas redes sociais e também nos aplicati vos de mensagens de um grupo muito específico e pequeno de apoiadores que protestam pelo resultado da eleição. Mas, basicamente, o que a gente vê ali é choro de perdedor. E o choro é livre.
Até onde isso vai? Vai depender muito da motivação e de como eles estiverem sendo insuflados, apesar de eu achar que isso não vai durar muito tempo.
RC - Por que isso?
PS - Eles vão começar a se dar conta que é um movimento inútil, porque o resultado da eleição não vai mudar. Ninguém vai retroceder em relação a isso, não vai ter intervenção militar, como ficam deman dando. E eu acho que eles têm que enten der que, na democracia, às vezes você ganha, às vezes você perde. Quando perde, você não questiona as regras do jogo, você continua jogando. Obviamente porque você tem a oportunidade, depois de um tempo, de voltar a ser vencedor.
Imagina se daqui a quatro anos eles ganham e aí tem um questionamento tão efusivo quanto o que eles tão fazendo. Eles não vão aceitar de maneira nenhuma, eles vão dizer que é um absurdo. Então, assim, eu acho que esse movimento que a gente está observando é compreensível, mas é completamente desnecessário e, de um certo modo, até chega a alcançar um nível de idiotice que a gente nunca tinha visto antes.
RC – As pessoas envolvidas nesses atos antidemocráticos parecem viver numa realidade paralela. Por que isso
acontece? Qual o papel e influência das redes sociais nisso?
PS - Tudo sugere que elas vivem numa realidade paralela. E, de um certo modo, essa realidade paralela é criada por elas mesmas. Claro que existem forças ou influ ências externas. Mas, em última instância, é o quê? É a pessoa que se identifica com um determinado grupo político, ideológico e que defende determinados valores e que, ao longo do tempo, vai, simplesmente, criando hábitos informacionais e de outras esferas, da própria convivência pessoal, que, simplesmente, reforçam essas mesmas convicções. Então, você tem vários nomes para isso no campo da psicologia ou da psicologia política, vieses de percepção que ajudam a entender o que está acontecendo. E tudo isso vem pelas mídias sociais, redes e aplicativos de mensagens.
RC – E de onde surgem essas versões da realidade?
PS - Muitas dessas percepções sobre a realidade política advêm da influência das elites políticas, tanto políticos pro fissionais quanto comentadores, que são os analistas que essas pessoas acabavam ouvindo. E elas acabam se informando, basicamente, por esses grupos de pessoas e canais. Geralmente, essas informações que elas recebem simplesmente reverberam primeiro aquilo que elas querem acreditar. E um segundo ponto que a gente tem que levar em consideração é que, quando essas pessoas entram em contato com informa ções divergentes daquilo que elas pensam, que elas queriam acreditar, ou elas rejei tam, ou ironizam a informação. Daí você vê nomenclaturas como Globolixo, Foice São Paulo. Enfim, é todo um movimento
que elas acabam fazendo, simplesmente, para reforçar suas próprias convicções, visões de mundo, crenças.
RC - Mas, apesar de impulsionado pela internet, esse não é um fenômeno novo...
PS - Basicamente, é um tipo de com portamento que não é recente, tanto na literatura quanto do ponto de vista prático da realidade. Não é restrito ao Brasil, isso acontece em outros países também. Mas que, por uma circunstância muito espe cífica, a gente está tendo a nossa eleição agora, a gente está vendo essas pessoas exporem publicamente a maneira como elas pensam e enxergam a realidade. E como hoje em dia tudo é muito fácil de ser filmado, a gente começa a ver vídeos de coisas absurdas, como pessoas rezando para pneu, achando caminhão com contê iner carregado com fuzil [para uma inter venção militar], que existem mensagens subentendidas em pronunciamentos de autoridades.
A gente vê essa realidade sendo cons truída, felizmente, até onde eu consegui enxergar, por um grupo muito pequeno. Depois, eventualmente, a gente espera que alguns estudos tentem mapear as carac terísticas desses indivíduos. Eles fazem barulho, eles incomodam. Mas, para usar uma metáfora futebolística, provavelmente vão ser os vizinhos barulhentos, vão fazer seu barulho, mas sem grande poder de influência na realidade política.
RC - Para o senhor, há uma forma de reverter isso? É possível reabilitar essas pessoas ou parte delas? Qual seria o caminho?
PS - Talvez uma saída seja certas lideranças políticas com as quais as pessoas se infor mam começarem a modelar o discurso, aceitarem o resultado, entenderem que, na democracia, como eu disse antes, você ganha às vezes e, às vezes, você perde. Com isso, elas vão se tornando um pouco mais conscientes do que realmente é a realidade e vão mudar um pouco o seu comporta mento, mas isso também não depende só delas. E aí, no curto prazo, eu não consigo ver esse cenário modificando. O que vai acontecer é que elas vão perceber que con
tinuar protestando não faz mais sentido nenhum. Vão voltar para casa, mas vão continuar pensando da mesma maneira, com as mesmas convicções.
PS - Análise do cientista Ludolf Wald mann Júnior: Eu penso que as instituições conse guiram, com algum sucesso, garantir um mínimo grau de normalidade nestas eleições. Vejo que elas, em particular o Judiciário, conseguiram lidar melhor com as tensões do período eleitoral e com os excessos típicos do bolsonarismo do que nas eleições de 2018, até em razão da
experiência derivada daquele momento, principalmente em relação à dissemina ção em massa de fake news. Isso, porém, não significa que o desempenho delas foi excelente, o que ficou claro com as dificuldades em lidar, por exemplo, com o uso da máquina pública para fins elei torais, em coibir as informações falsas e no caso bastante estranho da ação da PRF (Polícia Rodoviária Federal) no dia da eleição. Acredito que podemos pensar que as instituições “balançaram”, porém conseguiram resistir e se manter em pé frente ao radicalismo e intentos autoritá rios do bolsonarismo.
Cientista social, Pedro Santos Mudim fala sobre analisa os atos da extrema-direita
Luciano Falbo – Especial para Revista CenariumQuase 800 detentos de unidades prisionais do Amazonas se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio, em 2022 Ívina Garcia – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – O resgate da dig nidade e o estímulo à educação são as bases dos programas sociais desenvolvidos pelo Governo do Estado nas Unidades Penitenciárias (UP) do Amazo nas. Por meio dos projetos “Conhecimento que Liberta”, “Trabalhando a Liberdade” e “Terapêutico Carcerário”, o Estado conse gue manter um sistema de ressocialização em todas os presídios estaduais.
A ressocialização é parte importante da manutenção da sociedade. A realização desses processos de educação e oferta de oportunidades tem em vista afastar os condenados de uma possível reincidência e oferece a eles e às famílias, oportunidades de mudança na vida.
No Amazonas, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), a maioria dos presos tem envolvimento com o tráfico de drogas, ou seja, a venda
e transporte de entorpecentes como pro fissão. Conforme o Secretário-executivo Adjunto Coronel André Luiz Barros Gioia, ainda no primeiro mês após a chegada do preso na penitenciária, os projetos de ressocialização são apresentados.
As pessoas privadas de liberdade (PPLs) alocadas nas UPs do Estado possuem tra tamento diferenciado quando aderem aos programas de ressocialização, mas conforme o Coronel André, a escolha de participar dos projetos é livre e respeitada.
Os apenados que aderem ao programa recebem uma farda diferente dos presos regulares, chamados de “amarelinhos”. Os ressocializandos são identificados pelo fardamento amarelo, enquanto os presos regulares utilizam laranja.
O projeto “Conhecimento que Liberta” é um dos destaques dentro das UPs, com cursos de alfabetização, técnicos, profissio
nalizantes e cursos de ensino superior ofe recidos nas penitenciárias, os reeducandos recebem a oportunidade de, ao completar a pena, saírem com certificados e conse guirem voltar ao mercado de trabalho.
O estímulo ao estudo e o potencial restaurador do ensino tiveram como conse quência o registro recorde de reeducandos das Unidades Prisionais do Amazonas inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2022. Conforme dados da Escola de Administração Penitenciária (Esap), houve aumento de 76% em relação ao ano passado.
No total, 793 pessoas privadas de liber dade estão inscritas para o Enem 2022, em 2021 foram 451 inscritos. As provas regulares do Enem aconteceram nos dias 13 e 20 de novembro, enquanto a prova para os PPLs deve ocorrer nos dias 10 e 11 de janeiro de 2023.
O Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM), bem como outras unidades do Estado, possuem apoio do Governo do Estado, por meio da Escola Estadual Giovanni Fiogliolo. Os projetos tanto de ensino como de trabalho ajudam na remição de pena defendida Recomendação n. 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A recomendação diz que para estudo, por exemplo, o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto pode remir um dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar, caracterizada por atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, superior, ou ainda de requalificação profissional.
“Nosso objetivo é sempre expan dir, graças a Deus a gente tem tido ideias, às vezes mirabolantes, mas que no final funcionam. Temos hoje um projeto, já iniciado, onde 100% das nossas unidades estão remindo pena”, revela o Coronel.
Um dos internos conversou com a REVISTA CENARIUM e contou sobre como recebeu a oportunidade de prestar vestibular. “É uma chance muito boa para mim e para todos nós que vamos fazer o Enem porque nós precisamos alcançar nossos objetivos, nós temos objetivos também aqui dentro, apesar de estarmos
privados de liberdade, a gente continua querendo realizar os nossos sonhos”, diz. O interno, que teve a identidade preser vada, contou que sonha em cursar Psico logia. “Eu gosto muito disso, de trabalhar com pessoas, de conversar e o curso me traz isso, me dá essa possibilidade de conviver mais com as pessoas, ajudar e poder me colocar no lugar do outro”, revelou.
“Eu e minha família sonhamos juntos, o meu sonho é o sonho deles também e isso é muito importante, traz um valor muito grande para gente, para o nosso dia a dia e para o nosso futuro. Além da nossa relação, que foi fortalecida”, pontua.
O reeducando afirma estar ansioso para as provas e tem se preparado para esse momento. “Eu não conhecia o sistema aqui dentro, mas acreditava que poderia passar por isso e mudar não só o meu pre sente, como o futuro, e eu fico muito feliz, minha família também conta com isso e espera pelo meu sucesso no Enem”, diz.
O Secretário-executivo, Coronel Gioia classifica os projetos de Ensino e de Traba lho como os mais importantes na unidade prisional. “Os dois são importantes, mas principalmente o projeto educativo, por que ele traz o conhecimento e o certificado para que eles possam atuar lá fora”, diz.
Os apenados que aderem ao programa recebem uma farda diferente dos presos regulares e são chamados de “amarelinhos”
Conforme dados da Escola de Administração Penitenciária (Esap), houve aumento de 76%, em relação ao ano passadoAmapá (50,76%), em segundo lugar; Mato Grosso (48,70%), na quinta posição; e Roraima (46%), na sétima posição. Todos estavam acima da média nacional, de 42,22% da população que deixou de pagar algum compromisso.
Na comparação com o levantamento do mês de agosto, o número de inadim plentes no Acre aumentou, já que, anterior mente, o Estado ocupava a nona posição, com 43,77%, ou seja, 396 mil pessoas. À época, o ranking ainda era liderado pelo Amazonas (51,44%), seguido do Amapá
(50,79%), Mato Grosso (48,78%), ainda na quinta posição, e Roraima (46,17%), no sexto lugar.
Se compararmos os dois meses, é possí vel perceber que a inadimplência aumen tou apenas no Amazonas, enquanto nos outros Estados da Amazônia Legal, que estão no “Top 10”, o número de consu midores adultos que deixaram de pagar alguma dívida diminuiu.
A economista Denise Kassama pontua que a explicação para a alta inadimplência nos Estados da Amazônia se dá pela influ
MANAUS (AM) – O Acre ocupou a oitava posição no ranking dos Estados com população mais inadimplente do Brasil, com 44,58% dos habitantes com alguma dívida em aberto no mês de setembro, de acordo com o Serasa. Eram, pelo menos, 400 mil consumidores devedores na Unidade
Federativa. A inadimplência significa o não pagamento de uma conta ou dívida e os dados são do último levantamento do órgão, realizado em setembro deste ano.
Além do Acre, outros quatro Estados da Amazônia Legal estão no “Top 10” com o maior número de inadimplência registrada. A REVISTA CENARIUM consi
derou que a população acriana estimada, em 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era de 906 mil pessoas, para chegar ao número de afetados pela inadimplência.
Os Estados da Amazônia Legal que dividiram o ranking com o Acre foram: Amazonas (51,50%), na primeira posição;
No cenário nacional, eram 68,39 milhões de inadimplentes, em setem bro. A porcentagem média dos brasi leiros nessa situação foi de 42,22%, maior que em agosto, quando chegou a 42,01%. Ficar inadimplente pode acarretar ter o CPF negativado, o que é popularmente conhecido como ter o “nome sujo”.
“Ficar inadimplente e ter o nome na Serasa, além de restringir direta mente o acesso ao crédito e desor ganizar a vida financeira das famílias, também afeta o ‘score’ de crédito do consumidor”, diz o órgão.
A instituição apontou ainda que o principal vilão da vida financeira das famílias, em setembro, foi o cartão de crédito, responsável por causar 29,45% das dívidas. Logo após vem o varejo (12,38%) e Utilities (21,86%), que são as contas básicas, como água, luz e gás de cozinha.
O valor médio da inadimplência, por pessoa, foi de R$ 4.324,42, e o valor médio de cada dívida foi de R$ 1.227,71, apontou a Serasa. Quanto ao gênero dos inadimplentes, as mulheres foram responsáveis pelo maior número, 50,2%, e os homens por 49,8%.
ência de outros indicadores, que dificultam o pagamento de dívidas.
“A questão da inadimplência na Região Norte corrobora com outros indicado res, como o alto nível de desemprego na região, renda reduzida. Ou seja, menos pessoas trabalhando, menos renda, mais dívidas. Chega o momento em que, consi derando a taxa de juros atual, o consumi dor não consegue mais honrar com suas responsabilidades financeiras e entra na inadimplência”, explica.
Além do Acre, outros quatro Estados da Amazônia Legal estão no “Top 10” com o maior número de inadimplência registrada Ranking dos Estados com a população mais inadimplente Estados da Amazônia Legal lideram ranking, mostra Serasa Marcela Leiros – Da Revista Cenariumtopo da lista: Belém (PA), que está em ter ceiro lugar, com 5 mil hectares ocupados. Os dados confirmaram que 50% de toda a área urbanizada em Aglomerados Subnormais (AGSN) – definição do Ins tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para favelas – está concentrada em 25 dos 738 municípios mapeados, e mais cidades de Estados da Amazônia Legal – Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Amapá e Maranhão – ocupam a lista.
Em sexta posição está São Luís, no Maranhão; Ananindeua, no interior do
Pará, ocupa a 11ª posição; Porto Velho, capital de Rondônia, está na 13ª; Santa rém, capital do Pará, ocupa a 17ª; José de Ribamar, também no Maranhão, está na 19ª; Cuiabá, capital do Mato Grosso, na 21ª; e Palmas, capital do Tocantins, na 24ª posição.
Nos últimos 37 anos, as áreas urba nizadas no País passaram de 1,2 milhão de hectares para 3,7 milhões, apontou o Mapbiomas. As imagens de satélite ainda permitiram identificar que a ocupação
urbana como um todo em áreas de risco aumentou três vezes, entre 1985 e 2021, e em áreas informais esse avanço foi ainda maior: 3,4 vezes. De cada 100 hectares de favela, 15 foram construídos em áreas de risco.
Das 887 cidades com alguma área urbanizada em áreas de risco, apenas 20 respondem por 36% de toda a área de risco ocupada nos últimos 37 anos. Salvador (BA), Ribeirão das Neves (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE), São Paulo (SP), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG) são as seis primeiras da lista.
Amazônia concentra maior crescimento de favelas do Brasil, em 37 anos
Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS (AM) – A Amazônia lidera o percentual de crescimento de favelas no País, com 29,3% da expansão urbana em áreas informais, no bioma, em 37 anos. Os dados são do levantamento do MapBiomas sobre áreas urbanizadas, feito a partir da aná lise de imagens de satélite captadas entre 1985 e 2021. Manaus, capital do Estado do Amazonas, está no topo do ranking, com quase 10 mil hectares.
O estudo mostrou que as áreas infor mais, popularmente chamadas de favelas, totalizaram 106 mil hectares, e a maior parte da área urbanizada, nessas localida des, está concentrada nas capitais. Além de Manaus, outra capital amazônica ocupa o
Quanto aos biomas, o Cerrado lidera o ranking com o maior aumento das áreas urbanizadas em risco, com 382%, seguido da Caatinga, com 310%, Amazônia, com 303%, Mata Atlântica, com 297%, Pampa, com 193%, e por último o Pantanal, com 187%.
Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, localizados na Mata Atlântica, têm as duas maiores áreas urbaniza das do País e, juntos, perderam quase 38 mil hectares de vegetação nativa: foram perdidos, respectivamente, 26.655 hectares e 10.982 hectares.
MarcelaConheça a bototerapia, técnica assistida com botos-cor-de-rosa no Amazonas que ajuda crianças e adolescentes com deficiência na saúde física e mental
Gabriel Abreu – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – As águas da Amazônia criam um ambiente favorável para acolher crianças e adolescentes com deficiência. É nas margens do Rio Negro que acontece a bototerapia, uma prática terapêutica que usa o mamífero aquático da região para criar um vínculo com meninas e meninos para a melhoria da saúde física e mental.
Os exercícios são realizados com o auxí lio de um coterapeuta e ajudam a melhorar o condicionamento respiratório e cardio vascular dos pacientes. O contato com o “golfinho da Amazônia” conforta, diminui o estresse e ajuda a combater a depressão. A sessão é realizada uma vez por mês.
A prática foi criada pelo fisioterapeuta Igor Simões de Andrade, que alinhou técnicas profissionais à interação com o animal. A bototerapia ou o rolfing assis tido por golfinhos de rio é uma técnica
O projeto bototerapia busca parcerias para dar continuidade às atividades de interação ou terapias assistidas com os botos livres da Amazônia. Desde novem bro de 2021, o projeto, que atende crian ças e adolescentes com deficiência do Abrigo Moacyr Alves, está suspenso devido ao período de chuvas e, também, por causa dos gastos com o transporte via fluvial.
As sessões de bototerapia que unem Yoga Rolfing e botos da Amazônia acon tecem uma vez por mês, na Praia Amigos do Boto, nas proximidades da Vila de São Tomé, e no Flutuante Boto Ama zônico, próximo a Acajatuba. Os dois locais necessitam de uma travessia, no
rio, tornando dispendioso o transporte, que custa, em média, o valor de R$ 1 mil, por viagem.
“Se conseguirmos apoiadores que possam custear os valores do transporte, podemos levar mais vezes as crianças e incluir mais pessoas na terapia. Podemos ajudar uma criança a se permitir ter mais contato com as pessoas, ter mais movimento e equilíbrio, melhorar a respi ração, dentre muitos outros benefícios”, afirmou Ygor.
Os interessados podem entrar em contato nos telefones: (92) 99363-4484 ou 99142-6764 que também funcionam como WhatsApp.
utilizada com sucesso na reabilitação de seres humanos em diversos países e em centros de pesquisa e tratamento da saúde humana. A bototerapia trabalha com os princípios físicos da água, como: empuxo, pressão hidrostática e flutuação.
A bototerapia é um método de intera ção ou terapia assistida com os botos livres da Amazônia, que realiza a atividade de forma totalmente voluntária. As atividades proporcionam às crianças e aos adolescen tes uma maior integração com a natureza e a melhoria da qualidade de vida.
A adolescente Glenda Neves tem parali sia cerebral e, desde os 4 anos, faz sessões de bototerapia. Hoje, aos 14 anos, a mãe conta os benefícios que a terapia propor ciona para a filha.
“É gratificante. Ela já está, há uns 10 anos, fazendo tratamento e toda vez que ela vem, é melhora no convívio, né? Para mim, se esse tratamento fosse regular para todas as crianças, seria um benefício bem amplo, independente da patologia”, disse Jéssica Neves, mãe de Glenda.
Para cada tratamento existe um benefício diferente. O método é utilizado para melho rar o desempenho de pacientes com autismo, paralisia cerebral e Síndrome de Down.
“Por exemplo, no autismo, a criança tem atenção mais difusa, tem dificuldade
de foco, então, o trabalho na água com o animal entra como coterapia. Então, o autista tende a ficar mais concentrado, coisa que não consegue no consultório, por conta daquele ambiente entre quatro paredes. Assim, aqui, ele quebra barreiras e se reintegra mais com o ser humano”, afirmou Glenda.
O programa da bototerapia é feito gra tuitamente, com o apoio da comunidade, e atende crianças e adolescentes com defi ciência que não possuem condições de pagar um tratamento como este. Em 15 anos, já deu suporte a mais de 300 famílias.
Para realizar a bototerapia com os ani mais subaquáticos foi necessário pedir autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno váveis (Ibama). “Sim, é o único parecer técnico que existe na interação com o ser humano, com o golfinho de rio, ou boto, é o da bototerapia, da interação terapêu tica. Existe o ordenamento do turismo, só que a bototerapia passa por fora do turismo, a gente, justamente, quer é trazer o grupo de crianças sozinhas”, afirmou o fisioterapeuta.
A bototerapia já foi tema da disser tação de mestrado de Tarciano Batista e Siqueira, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). No estudo científico, foram avaliados os “Impactos socioam bientais potenciais da terapia assistida com o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), no município de Iranduba, no Amazonas”.
A partir do estudo dos impactos socio ambientais da terapia assistida com o boto-cor-de-rosa, é possível identificar
seus aspectos positivos e negativos. Um dos principais pontos positivos é inerente à percepção do boto. Na bototerapia, parece haver potencial para promover mudanças na forma de ver esse animal. Ao ver um animal dócil em companhia de crianças, capaz de melhorar sua saúde e seu bem-estar, a figura cultural de traiçoeiro e gerador de conflitos pode ser deixada para trás, o que pode contribuir como estratégia de conservação do boto.
Wallace Araújo tem paralisia cerebral e foi, pela primeira vez, na bototerapia Glenda Neves durante a sessão da bototerapia Luís Felipe pratica a bototerapia, há dois anos Crédito: Boterapia RO Crédito: Boterapia ROMANAUS (AM) – Abandonar um emprego em cargo de alto esca lão, que requer horas e horas de trabalho, e que pode acarretar um estresse emocional, para aceitar receber um salá rio menor e ter mais qualidade de vida tem suas vantagens e desvantagens. Para especialistas, essa tendência, contudo, traz um importante ganho ao profissional: a saúde mental.
O fotógrafo manauara Tadeu Rocha, de 33 anos, é graduado em Administração de Empresas e era funcionário público, até 2017, quando tinha 29 anos. À época, o fotógrafo ocupava um cargo de chefia no local onde trabalhava, mas resolveu pedir exoneração do emprego para ter mais qualidade de vida e realizar o sonho de atuar na fotografia.
“Eu iniciei (no serviço público) como estagiário, em 2008. Até que gostava do trabalho, mas o funcionalismo público, na visão que eu tinha, me travava um pouco. A gente vai ficando muito acomodado, com o tempo, seja pelo trabalho que a gente está executando, seja pelo clima; o ambiente, que, muitas vezes, possui um quadro de funcionários antigo que, com o passar do tempo, começa a relaxar nas obrigações e começa a pensar que está fazendo (o trabalho) pelo público um favor, quando não é. E isso me frustrava”, lembra Tadeu, ao falar do motivo que o fez pedir exoneração.
O fotógrafo lembra ainda que, em 2017, questionou-se se estava feliz, mesmo com o cargo alto. Após refletir, Tadeu viu que a resposta era não. Foi, então, que a ideia de
um cargo que eu tinha, para assumir outro com salário 30% menor do que o anterior. Eu saí para ganhar menos e para me realizar”
Tadeu Rocha, fotógrafo.
trabalhar com o hobby que tinha, desde criança, veio à tona: fotografar.
“Sempre fui apaixonado por fotografia. Desde cedo, no meu primeiro emprego, aos 16 anos, já fui tirando dinheiro para investir em câmera, mas era um hobby. E eu nunca achei que um passatempo fosse virar uma profissão. Em 2015, começa ram a surgir propostas de serviço e eu fui aceitando; em 2016 também e, em 2017, chegou ao ponto de a repartição atrapalhar a fotografia. Foi quando eu tomei a deci são de pedir exoneração para me dedicar somente à fotografia”, frisou Tadeu Rocha.
Aos 29 anos, Tadeu conta que sentiu um certo medo de sair do emprego e trocar o “certo pelo duvidoso”. Além disso, o fotógrafo conta que a família dele tomou um susto quando ele anunciou a decisão. Atualmente, o profissional trabalha como freelancer, nas áreas de fotografia docu mental, fotojornalismo e foto de produtos.
“Larguei um cargo que eu tinha para um com um salário 30% menor que o
anterior. Eu saí para ganhar menos e para eu me realizar. A partir do momento que se é freelancer, você pode decidir se pega ou não um serviço. Então, tem momentos que eu tenho muito mais tempo, mas por decisão minha”, salientou.
A advogada Ana Clícia Guilherme também decidiu sair da empresa onde trabalhava para que pudesse ter mais tempo com a família, com a sobrinha e a avó. Além disso, Ana afirma que foi em busca de um novo desafio profissional, mas que lhe desse espaço para afazeres pessoais e lhe proporcionasse uma vida mais confortável.
“A minha tomada de decisão vinha sendo trabalhada há algum tempo, porque o ritmo do meu trabalho não era o que eu queria para a minha vida. Com a proximi dade dos meus 30 anos, o envelhecimento da minha avó, que foi a pessoa que cuidou de mim, eu queria estar mais perto dela e da minha sobrinha. Isso me fez querer parar com esse ritmo frenético de trabalho, pois,
eu queria sair mais cedo da empresa para levar a minha sobrinha ao parque, passar mais tempo com a família, o que meu antigo emprego não me dava a liberdade, pelo contrário”, contou a advogada.
Segundo Ana Clícia, a pressão no tra balho para que ela produzisse cada vez mais foi lhe causando traumas, desgaste físico e mental. Por conta disso, lembra a advogada, ela passou a fazer terapia profissional, o que a ajudou a tomar a decisão de mudança de emprego.
“Eu faço terapia, desde 2018. Sempre foi muito prejudicial a pressão do trabalho para mim e, como eu sempre falo, eu tra balhava para pagar terapia pelos traumas que o meu emprego me causava. Isso virou um ciclo. O ambiente de trabalho e as pessoas eram legais, mas a pressão de algumas pessoas lá de dentro foi me adoecendo, e eu vi que não era aquilo que eu queria para mim. Teve um dia que, simplesmente, eu levantei da minha cadeira, fui até a minha superior, e pedi a minha demissão”, relatou.
No novo emprego onde advoga e é sócia, Ana Clícia narra que ela tem total liberdade para resolver os problemas pessoais e, ainda, o direito a mais folga que usa para ficar com a família. A advogada reitera que a mudança na vida profissional “foi a decisão mais acertada da vida” dela, algo que não trocaria por nada, e que, ainda, foi fundamental para uma melhor saúde mental. “Estou me sentindo muito mais leve”, expôs.
“(Agora) tenho tempo livre e flexi bilidade, algo que eu queria demais: ser dona do meu tempo e dizer o que quero fazer. Eu não me importo de trabalhar um sábado ou um domingo a mais, ou trabalhar à noite, porque eu consigo organizar meu tempo e dizer o que é importante. Hoje consigo, por exemplo, priorizar a minha família e levar a minha avó ao médico, levar minha sobrinha à escola. Fazer parte dessa aliança com a minha família é pri mordial para mim”, reforçou Ana Clícia.
Profissionais abandonam cargos de alto escalão para terem mais qualidade de vida, mesmo com salários menores Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium“Larguei
Especialista aponta que grandes mudanças de carreira devem ser embasadas em profundas análises sobre si mesmo
Bruno
Pacheco – Da Revista CenariumMANAUS (AM) – A decisão de tro car de emprego deve ser muito bem planejada. As perspectivas de desenvolvimento profissional, um bom ambiente de trabalho e a qualidade de vida devem ser considerados. Para o psicólogo e mestre em Psicologia Cássio Peres, espe cialista em Sexualidade, Gênero e Direitos Humanos, ganhar menos passa a valer a pena quando a pessoa reconhece seus limites e sabe, efetivamente, que outras coisas podem causar prazer. Cássio des taca que isso é fruto de intensa reflexão e autoconhecimento.
“Conhecer-se pode ser um grande passo, para se conseguir identificar qual o sentido do trabalho em nossas vidas. Um acompanhamento psicoterapêutico pode auxiliar na investigação desses fatores”, salientou o psicólogo Cássio Peres.
O especialista lembra que um trabalho começa a ser prejudicial quando a pessoa deixa de ter energia para se dedicar a outras áreas de sua vida. “O investimento é tão grande naquela área, que o trabalho passa a ser a fonte de satisfação total da pessoa. O que, em algum momento, vai frustrá-la”, frisou.
“Digo isso porque nossa satisfação está ligada a diversos contextos de nossas vidas: família, amizades, relacionamentos amorosos, investimento em autoconheci mento. Uma vez que nos dedicamos em desequilíbrio a uma só delas, acabamos
por negligenciar todas as outras. O mais recomendado é sempre se reavaliar, para saber qual o nosso objetivo naquele traba lho e o que realmente estamos buscando ali”, contou Peres.
Cássio Peres reforça que, em grande parte das vezes, o indivíduo desenvolve a tendência de reduzir o seu valor ao que faz, e pensa que só é alguém importante se cumprir um trabalho com perfeição.
Ou seja, se reduz ao trabalho. Para o especialista, isso pode gerar uma grande sobrecarga à pessoa. O psicólogo pontua que aceitar ou não grandes cargos deve acontecer sempre depois de muita refle xão e compartilhamento com pessoas de confiança que, talvez, tragam diferentes perspectivas sobre aquela situação.
“É necessário saber que sempre iremos renunciar a algo, ao fazermos uma escolha. Será que o tempo e a energia que vou dedicar a este trabalho valem a pena em detrimento do meu bem-estar, da minha saúde, do meu lazer? Será que vou con seguir, minimamente, gozar de algo, se eu investir tanto tempo e intensidade em uma só função? Sobrará tempo para mim e/ou para as pessoas que amo? Acredito que são bons pontos de partida”, realçou.
Em meio à pandemia da Covid-19, onde o modo de se trabalhar precisou passar por alterações, o mundo ficou mais estressado, mais triste, com mais raiva
e mais preocupado do que nos últimos 15 anos, segundo o relatório global de emoções feito pela Gallup.
Segundo a pesquisa, quatro em cada dez adultos disseram ter experimentado preocupação ou estresse (40%), em 2020.
Três em cada dez experimentaram dor física (29%) e cerca de um em cada qua tro experimentou tristeza (27%) ou raiva (24%). De 2019 para 2020, o estresse aumentou em 5%, em pleno ano de pan demia, quase 190 milhões de pessoas a mais se sentiram estressadas.
Os fatores que tornam alguém mais sus cetível ao estresse são múltiplos, segundo o psicólogo Cássio Peres. O especialista cita alguns exemplos: pessoas que são chefes ou chefas de família, que precisam trabalhar para sustentar outras pessoas.
“Muitos trabalhadores precisam aceitar condições precárias de trabalho porque precisam do dinheiro. Isso, infelizmente, estimula a permanência em funções que sugam sua energia e força vital”, relatou Cássio Peres.
Outro exemplo, conclui Cássio, são pessoas que sentem que sempre precisam provar que são boas, pois, estão, constan temente, buscando satisfação no outro; em mostrar para o outro que podem ser boas. “Entender esse movimento pode auxiliar no processo de percepção do que é realmente importante para si mesmo”, concluiu.
“Nossa satisfação está ligada a diversos contextos de nossas vidas: família, amizades, relacionamentos amorosos, investimento em autoconhecimento. Uma vez que nos dedicamos em desequilíbrio a uma só delas, acabamos por negligenciar todas as outras”
Cássio Peres, psicólogo e mestre em Psicologia, especialista em Sexualidade, Gênero e Direitos Humanos.
Mestre em Psicologia, Cássio Peres, que também é especialista em Sexualidade, Gênero e Direitos Humanos, avalia que ganhar menos vale a pena quando a pessoa reconhece seus limites
Batizada de Dubim, operação durou três dias e destruiu 15 acampamentos utilizados por garimpeiros
Iury Lima – Da Revista CenariumVILHENA (RO) – Uma ação em Terras Indígenas (TIs) de Rondônia termi nou em uma nova ofensiva contra a mineração ilegal em áreas protegidas. A operação, batizada de Dubim, durou três dias e contou com a ação de agentes da Polícia Federal (PF) e do Instituto Brasi leiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), reprimindo o avanço do crime ambiental no interior da Terra Indígena Roosevelt e do Parque Aripuanã.
A força-tarefa localizou e destruiu 15 acampamentos utilizados por garimpei ros, dois barcos, duas escavadeiras hidráu licas, além de 29 motosserras. Ao todo, 30 agentes participaram da ação e dois heli cópteros foram utilizados, segundo a polícia, nas abordagens e transporte das equipes da PF e fiscalizadores do Ibama.
“A inutilização dos equipamentos foi feita para que não fossem reutilizados na prática do crime ambiental, uma vez que era inviável retirá-los do local”, garantiu a
A Polícia Federal não informou sobre o cumprimento de prisões durante a operação
Polícia Federal. “A mineração ilegal produz diversos impactos ambientais e sociais, sendo uma das principais responsáveis pelo aumento do desmatamento, pelo assoreamento e contaminação de rios e nascentes – principalmente, pelo uso do mercúrio”, ressaltou em nota.
Mais de 2 mil pessoas vivem espa lhadas pelas duas reservas indígenas localizadas no interior de Rondônia, segundo dados do Instituto Socioam biental (ISA).
Na TI Roosevelt, entre os municípios de Espigão d’Oeste (RO), Pimenta Bueno (RO) e Rondolândia (MT), vivem cerca de 1.800 indígenas Cinta Larga e Apurinã. Já a população nativa do Parque Aripuanã é formada, também, pela etnia Cinta Larga e pelos indígenas isolados do Rio Tenente Marques. O grupo é formado por quase 400 pessoas e o território deles fica entre as cidades de Vilhena (RO) e Juína (MT).
Segundo a polícia, além de desativar garimpos, a operação também visou repri mir crimes ambientais associados à prática, como o desmatamento. O Estado é um dos
recordistas em desmatamento na Amazô nia. Nos últimos quatro anos, por exem plo, a derrubada de floresta aumentou 15% em Rondônia, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que considera os dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Além disso, a exploração irregular de madeira também cresceu, atingindo algo em torno de 2 mil campos de futebol, em um período de 12 meses, entre agosto de 2020 e julho de 2021, de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
A Polícia Federal não informou sobre o cumprimento de prisões durante a operação. Disse apenas que a extração ilegal de minérios é prevista na Lei n.° 9.605/98, cuja pena é de seis meses a um ano de prisão, além do pagamento de multa.
Também de acordo com a PF, as informações colhidas pelas equipes devem contribuir para os próximos passos da investigação, que será comandada pela Delegacia de Polícia Federal, em Vilhena, a 706 quilôme tros de Porto Velho, “com o objetivo de preservar as terras indígenas”.
Ao todo, 30 agentes participaram da ação e dois helicópteros foram utilizadosNa língua inglesa, a expressão “cher ry-picking” significa, em tradução literal, algo como “escolhendo as cerejas”, mas o seu verdadeiro significado vai além. Na verdade, trata-se de uma forma de supressão de evidências, tam bém entendida como a falácia das evidên cias incompletas. Com um exemplo fica melhor de compreender. Suponhamos que eu precise afirmar que um argumento A é a verdade, contradizendo aquele que pre fere o argumento B. Em minha pesquisa, seleciono todas as evidências que susten tam o argumento A, ainda que eu tenha encontrado muitas evidências que também sustentem o argumento B. Como tenho interesse em fazer valer o meu argumento e identificá-lo como verdade, ignoro as evidências que contrariam e fragilizam o meu argumento, ou seja, eu “escolho as cerejas” que convêm.
O debate social está, cada vez mais, constitucionalizado. Não há dúvidas de que a Constituição faz parte da ativi dade política e social do País e a própria população tem demonstrado interesse em pautas constitucionais. Sempre vejo isso como algo positivo, mas vejo também um aumento na responsabilidade dos juristas na explicação da matéria. Isso porque, dada a relação do Direito Constitucional com a política, fica fácil se perder em argu mentos ideológicos, escolhendo aquilo que convém para ratificar determinada posição política.
Nesse aspecto, é preciso frisar que “convicções ideológicas não se baseiam em motivos, e sim, em interesses” ¹*. Na advocacia, por estarmos comprometidos em defender um interesse na causa, é comum escolhermos as cerejas. Porém, a ideia precisa ser diferente na Academia,
sobretudo, se pensarmos no Direito como ciência. Se a intenção é descobrir a verdade do Direito, por meio de um método cien tífico, não podemos nos ater às falácias derivadas de evidências incompletas.
Quando estamos defendendo interes ses, é natural que as cerejas sejam esco lhidas para que o argumento se torne convincente. No entanto, um jurista, um professor ou um pesquisador do Direito Constitucional deve se preocupar em expor todas as evidências, todos os dados, para encontrar uma verdade que seja conside rada válida e possível, já que o seu dever de informar precisa estar lastreado em uma conclusão derivada de uma ampla análise da questão. Somente dessa forma será possível fomentar um debate, verda deiramente, democrático.
Se não for assim, partiremos sempre do lugar que queremos chegar, de modo
que todos os argumentos são construídos a partir dos dados que são convenientes, e descarta-se aqueles que podem prejudicar a validade do nosso ponto de vista. Perdere mos a maior vantagem que o método cien tífico nos proporcionou: a racionalidade. Validaremos, por consequência, o rótulo ideológico, ultimamente, endereçado aos professores pesquisadores formados por cursos de pós-graduação stricto sensu.
Por óbvio, isso pode acontecer de modo acidental. Aqueles que não possuem expe riência com o método científico podem acreditar que essa é apenas uma forma de realizar escolhas e não percebem que a racionalidade da escolha já foi compro metida pelo ponto de partida ideológico que não o permite conhecer os dados ou reconhecê-los como possíveis de serem avaliados.
Em um país democrático, essa prática fragiliza o pluralismo e dificulta o diálogo. Ademais, quando essa seleção de infor mação serve para ratificar a ideologia de grupos, a tendência é robustecer os pontos divergentes e esquecer que existem pontos convergentes (sim, eles existem!). Assim, nos distanciamos da possibilidade de con cretizar o ideal democrático, sustentado por escolhas conscientemente debatidas pela população.
Não custa lembrar que a Constitui ção Federal de 1988 já realizou algumas escolhas importantes para a vida social no País e concretizou uma verdadeira agenda para o nosso Estado Constitu cional Democrático. Nela, encontramos princípios, objetivos, direitos e garantias fundamentais que estabelecem não apenas os limites daqueles que estão no poder, mas também indicam o propósito a ser perseguido por todos aqueles que ocupem um cargo ou função pública.
Desse modo, não podemos falar de competências dos Poderes da República, por exemplo, sem deixar de observar os fundamentos da República, dentre eles, o pluralismo político, a dignidade da pessoa humana e a cidadania. Quando a Cons tituição estabelece como fundamento da República os valores sociais do trabalho, o mesmo dispositivo também dispõe como fundamento a livre iniciativa²*. Não há como, por exemplo, falar em liberdade de expressão, sem perceber que o anonimato é vedado no mesmo inciso, e sem notar que a responsabilidade pelo exercício da liberdade de expressão vem logo no inciso seguinte³*.
Isso nos faz perceber que a Constituição é um corpo consistente de normas que jamais deve ser interpretado em partes, colhendo-se os artigos que convêm. Se vamos escolher as cerejas, que sejam aque
las – e todas aquelas – escolhidas por nossa Constituição.
[1] KRIELE, Martin. Introdução à Teoria do Estado: Fundamentos históricos da legitimidade do Estado Constitucional Democrático. Tradução: Urbano Carvelli. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2009, p. 336.
[2] Art. 1° da Constituição Federal de 1988: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Esta dos e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento: (…) IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”.
[3] Art. 5° da Constituição Federal de 1988: “(…) IV – É livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato; V – é assegurado o direito de resposta, pro porcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.
(*) Doutora em Direito Constitucional, pela Unifor. Mestra em Direito Constitu cional e especialista em Processo Civil, pela PUC-SP. Membra da Associação Brasileira de Direito Processual Constitucional. Advo gada e professora de cursos de graduação e pós-graduação.
Nike faz acordo sobre termos religiosos em camisa da Seleção
Com informações do UOL
CATAR - Poucos dias depois do lança mento da nova coleção de camisas da seleção brasileira pela Nike, em agosto, uma onda de postagens nas redes sociais chamava a atenção para o fato de que uma série de palavras ligadas a religiões de matrizes africanas apareciam como “indisponíveis” no serviço de cus tomização oferecido pela marca.
Internautas apontaram que, enquanto não se permitia que “Exu” e “Ogum” fos sem inscritos nas costas da camisa, termos como “Jesus” e “Cristo”, por outro lado, estavam liberados.
Foi a discussão sobre possibilidade de a prática configurar discriminação religiosa
que levou um funcionário público a enviar uma representação ao Ministério Público Federal (MPF) solicitando que o órgão apurasse o caso.
Por meio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro, o MPF se reuniu com a Fisia, distribuidora da Nike no Brasil, e no último dia 11 de novembro firmou acordo com a empresa.
A companhia se comprometeu a garan tir que a política de marketing da marca - que proíbe a customização das camisas de times e seleções esportivas com pala vras ligadas a temas religiosos - não seja praticada de forma a incorrer em discri minação religiosa.
a quaisquer outras religiões. As palavras “Jesus” e “Cristo” já haviam sido incluídas na lista de termos de uso vedado, pouco após a polêmica ter surgido.
Segundo a procuradora da República Aline Caixeta, não cabia ao MPF ques tionar a política de marketing em si da empresa, por se tratar de uma determina ção internacional. O esforço, ela afirma, foi o de garantir que não houvesse discri minação religiosa.
Nesse sentido, a empresa se com prometeu a “aperfeiçoar” a lista de termos proibidos e a criar um canal de comunicação para receber reclamações e alertas de consumidores. “No curso da investigação também entendemos que era importante trazer esse debate para o espaço público”, diz Caixeta, referindo-se às ações e eventos para discutir e celebrar a diversidade reli giosa que também constam no termo de compromisso.
Entre elas está a previsão de elabo ração de um estudo sobre a diversidade no futebol, com ênfase em religião, gênero e raça, financiado pela Fisia e
feito em parceria com o Observatório de Discriminação Racial do Futebol. O levantamento tem previsão de divul gação durante a Copa do Mundo de Futebol Feminina de 2023, que ocorre entre 20 de julho e 20 de agosto do próximo ano.
Também foi pactuada a inserção do tema na pauta de três eventos que serão realizados antes e durante a Copa. Um deles é a gravação de um podcast com o jogador Paulinho, do Bayer Leverkusen. Ao fazer um gol pela seleção brasileira olímpica em um jogo contra a Alemanha, em Tóquio, em 2021, o atleta comemorou fazendo
um gesto em referência à flecha do orixá Oxóssi.
“Achamos que podíamos avançar, buscando essas medidas de reforço positivas para levantar a discussão pública sobre a diversidade religiosa, o respeito à diversidade e a tolerân cia”, disse.
A camisa da Seleção Brasileira custa R$ 349,99 e a customização com nome, R$ 14,99 adicionais.
A lista de termos “indisponíveis” no site da Nike vai além das palavras de cunho religioso e inclui vocábulos de cunho racista, palavrões e nomes de políticos.
A camisa da Seleção Brasileira custa R$ 349,99 e customização com nome, R$ 14,99 adicionaisAos 63 anos, Silvio Proença usa o fruto típico da Amazônia, como base para vitamina e licor requintados
MAUÉS (AM) – Silvio Proença, 63, escolheu a cidade de Maués (a 267 quilômetros de Manaus) como lar, há mais de 20 anos. Natural de Esteio, no Rio Grande do Sul, ele passou grande parte da vida trabalhando como desenhista-projetista de Arquitetura pela Amazônia brasileira e encontrou, na cul tura do guaraná, uma oportunidade e um estilo de vida.
Usuário do fruto, como gosta de se referir, ele enxergou o potencial comer cial do guaraná como poucos e ajudou a agregar valor à produção tradicional, uma herança do povo sateré-mawé, que hoje é o principal motor econômico do município amazonense.
Silvio é o criador do famoso “turbi nado”, uma vitaminada com base no fruto que faz sucesso na capital e nas festas do interior. Ele também criou uma receita que transforma o xarope de guaraná em um requintado licor.
Ao longo dos anos, Silvio virou um divulgador do guaraná nos quatro cantos do País e do mundo. E, com a sua produ ção artesanal, abriu um aconchegante pub batizado de “Barão do Guaraná”, no bairro Maresia, na orla da cidade, onde vende, além do licor e do “turbinado”, outros produtos, como o guaraná em bastão, o guaraná em pó e as cachaças saborizadas com frutas.
Oficialmente cidadão mauesense, desde 2010, Silvio disse à REVISTA CENARIUM que não tem nada de barão e que o título é apenas uma licença poética que acabou ganhando na cidade. Ele se orgulha que suas iniciativas, além de abrir novos mercados para o guaraná, movimentam uma cadeia produtiva no município que vai dos pequenos produ tores rurais até os artesãos.
“A gente tem as bebidas, mas aqui a gente vende também o bastão do gua raná. Eu poderia vender só o bastão, o que já beneficia o produtor, mas eu vendo com uma case, um saquinho que uma costureira fez e tem um olhinho de guaraná feito por uma artesã. Então, todo mundo sai ganhando”, diz.
“Nos kits para bebidas, nós temos a caixinha de madeira feita por outro artesão com caixa de verdura, que iria para o lixo e a gente reaproveita. Aqui,
nós sempre procuramos desenvolver a coisa de forma coletiva, de modo que todo mundo ganhe. Eu não sou um plan tador ou grande investidor de guaraná, eu sou um simples beneficiador do produto e também faço parte da cadeia. Tem um homem que planta, tem um homem que administra e tem quem vende. Eu beneficio e vendo nessa lojinha que a gente chama de Barão do Guaraná, que é uma licença poética, porque aqui não tem barão nenhum. E, esse trabalho que eu desenvolvo, acredito que também é uma maneira de disseminar a cultura do guaraná”, completa.
Um dos fornecedores de Silvio, o agri cultor José Cristo de Oliveira, vê como positivo o trabalho, principalmente, de divulgação que o “Barão” faz do fruto.
“Nós, da região do Urupadi, já vendemos para ele, mas, hoje, ele compra mais de outros produtores. O Barão dá uma visi
bilidade boa para a cultura do guaraná. Ele viaja bastante e sempre faz uma boa propaganda”, ressalta.
Silvio Proença é figura frequente nas feiras de empreendedorismo e de produtos amazônicos, dentro e fora do Brasil. Na Itália, por exemplo, ele aprendeu a téc nica de fazer licores e adaptou a receita, criando o licor de guaraná, o carro-chefe do Barão.
“Em uma dessas minhas idas, várias idas que eu tive na Europa, inclusive com o apoio da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), eu conheci freis capuchinhos, de uma ordem que já vem desde 1500. Era época da chegada dos europeus aqui e lá os capuchinhos já se embebedavam dentro do mosteiro. Eu levei uns cinco quilos de grão de guaraná torrado e eles me ensinaram como fazer o licor com a técnica deles”, lembra.
Luciano Falbo – Especial para a Revista Cenarium Silvio é o criador do famoso “Turbinado”, uma vitaminada com base no fruto que faz sucesso em Manaus e nas festas do interior O pub virou ponto de encontro para bater papo e “parada obrigatória” para os turistas Crédito: Luciano FalboAntes de fundar o Barão do Gua raná, Silvio foi um dos pioneiros no beneficiamento do fruto amazônico. Com um amigo, fundou a Guaraná Maués, que vendia o fruto moído. O parceiro viajou, a empresa fechou, mas o legado ficou e foi o ponto de partida
para a criação do Barão. “Aí, a gente foi incubado no Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam), em um projeto da Suframa com a Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Ama zonas). A gente foi incubado no Sidia também”.
O pub, localizado na orla da Praia da Maresia, virou um ponto de encon tro para conversar na hora do almoço e no happy hour, e “parada obriga tória” para os turistas, que lotam a cidade, principalmente, durantes os períodos do Carnaval, Festival de Verão e da Festa do Guaraná.
Silvio diz que na Terra do Guaraná, o fruto “é paisagem”. “Tem em todo canto e todo mundo toma”, reforça ele, ao revelar a ideia para criar o famoso “turbinado”. “Mas, o indígena mesmo e o caboclo, eles tomam na cuia, às vezes com mel de abelha e outras misturas. Então, a gente resol veu levar isso para uma xícara, um copo, uma coisa mais dos costumes do branco”.
O nome da vitamina considera as propriedades energéticas que o gua raná tem. “Uma turbina levanta avião. Entendeu como é que é? Toda vez que se tomava o ‘turbinado’, essa mistura do guaraná, tu ficavas mais esperto, serelepe. Então, a gente pegou e colocou o nome ‘turbinado”. A gente que eu falo são várias pessoas que opinaram. Eu perguntava ‘o que tu achas de botar um nome assim e tal?’ e, então, a gente colocou esse nome em referência a isso”, conta.
Silvio registrou o nome no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpe). O sucesso foi tão grande que virou metonímia. “Nós vemos mui tas pessoas usarem indevidamente, mas como a gente vai chegar com a pessoa e dizer ‘olha essa marca é registrada?’. Não dá. Então, a gente deixa”, diz.
O “Barão” conta que uma vez estava chateado com isso, mas uma coach do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) o fez mudar de ideia. “Ela me disse ‘Poxa vida, sabia que Gillette era o nome do cara e hoje é sinônimo de lâmina de barbear? Sabia que Brastemp virou sinônimo de motor de qualidade?’. Então, eu tenho orgulho de ter inventado um produto que virou referência, sinônimo de qualidade”.
Endereço: Avenida Doutor Pereira Barreto, n.º 268, na orla da Praia da Maresia, em Maués, Amazonas
Telefone: (92) 99144-4166
Instagram: @baraodoguarana
A 41ª Festa do Guaraná acon tece nos próximos dias 1, 2 e 3 de dezembro, época que coincide com a colheita do fruto. O evento é Patrimô nio Cultural e Imaterial do Estado do Amazonas, desde 2014 (Lei n.º 4.046).
O guaraná é um arbusto nativo da Amazônia, consumido por povos indígenas, principalmente da região de Maués e proximidades, há milhares de anos. Seu fruto possui a guaraína, uma substância parecida com a cafe ína, que possui propriedades estimu lantes, diminui a fadiga e aumenta a resistência nos esforços mentais e musculares. É utilizado na produção de barras energéticas, pós, xaropes e bebidas.
O guaraná produzido em Maués, bem como suas lendas, mitos e cos tumes, são considerados como Patri mônio Cultural Material e Imaterial do Estado do Amazonas, desde 2016 (Lei n.º 4.294).
João Paulo Lima Barreto é do povo Tukano e lançou o livro
“O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro”
MANAUS (AM) – O primeiro indí gena doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Amazo nas (Ufam), o professor João Paulo Lima Barreto, da etnia Yepamahsã (Tukano), lançou o livro “O mundo em mim: uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro”. A obra é resultado da tese de doutorado apresentada por ele na instituição. O lançamento foi realizado no Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, em Manaus.
A publicação foi lançada pela Edi tora Mil Folhas, em parceria com o Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (Neai), do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Ufam, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Na obra, o autor apresenta uma teoria de interpreta ção própria dos povos indígenas sobre a composição do corpo e a relação com outros elementos do cosmos.
“O mundo em mim – Uma teoria indígena e os cuidados sobre o corpo no Alto Rio Negro” está disponível no Neai, na Ufam, e na Amazon, pela Editora Mil Folhas.
“A publicação marca o esforço em fazer um exercício de reflexividade sobre nosso sistema de conhecimento para além de mera tradução”
João Paulo Tukano, doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
“A publicação marca o esforço em fazer um exercício de reflexividade sobre nosso sistema de conhecimento para além de mera tradução, com o intuito de mostrar que os povos indígenas têm epistemolo gias e sistemas de conhecimentos pró prios fundados nos conceitos e noções claros que norteiam as práticas, as relações sociais-políticas-econômicas e as relações cosmopolíticas”, explicou.
Natural da comunidade São Domingos, no Alto Rio Negro (a cerca de mil quilô metros de Manaus), João Paulo apresentou a tese de doutorado em fevereiro de 2021, de forma on-line, por conta da pandemia.
Na época, o educador falou à REVISTA CENARIUM sobre o desejo de “quebrar paradigmas” e da luta em mostrar que as populações indígenas têm um modelo diferente de conhecimento, sobre a mesma realidade, que não é pior e nem melhor, mas é uma outra epistemologia.
Além de doutorado, João Paulo Tukano tem mestrado em Antropologia e forma ção em Filosofia. Segundo o escritor, a publicação “O mundo em mim” marca o esforço de fazer um exercício de reflexão sobre o sistema de conhecimento para além da tradução e traz, para a Academia e para a sociedade, o debate em torno do conceito de corpo, a partir do sistema de conhecimento indígena Yepamahsã (Tukano).
Segundo João Paulo Tukano, junto ao lançamento do livro, o evento tam bém comemorou os cinco anos de fundação do Centro de Medicina Indí gena Bahserikowi, cuja iniciativa foi idealizada por ele, em 2017. O local é o primeiro centro de medicina indígena da Amazônia e disponibiliza atendi mentos como a reza, o benzimento e tratamentos com plantas, realizados por especialistas das etnias Dessana, Tuyuka e Tukano do Alto Rio Negro.
João Paulo Tukano reforça que a publi cação não foi um trabalho produzido de forma solitária, mas em companhia de colegas, professores e orientadores. Ele salienta que o companheirismo de todos os membros, em especial de indígenas, foi fundamental para o aprofundamento de termos conceituais indígenas do Alto Rio Negro. Crédito:
Arte de divulgação do lançamento do livro de João Paulo Lima Barreto Primeiro indígena doutor em Antropologia pela Ufam lança livro que aborda conceitos dos povos originários sobre cuidados com o corpo Bruno Pacheco –MANAUS (AM) – Os rios da Ama zônia terão alguns componentes a mais que vão enfeitar as paisagens e devem impulsionar o turismo sobre as águas. Os navios começaram a chegar em Manaus, no fim de novembro, período em que inicia a “Temporada de Cruzei ros 2022/2023”, no Brasil. A previsão da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) é que venham para a capital amazonense 18 navios com um fluxo de, aproximadamente, 25 mil turis tas, trazendo um incremento de mais de R$ 35 milhões na economia local.
O navio Insígnia, da empresa marí tima Oceania Cruises, foi o primeiro a atracar no porto de Manaus, com mais de mil pessoas a bordo, entre tripulantes e passageiros. A maioria dos turistas vem, predominantemente, dos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.
De acordo com o presidente da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Ama zonastur), Gustavo Sampaio, a área de desembarque internacional de turistas está dotada com uma melhor infraestrutura portuária para atracação das embarca ções, acesso à internet, serviços da Polícia
Turística do Amazonas (Politur) e Casa de Câmbio para melhor atender os turistas que visitarão a cidade nesta temporada.
“Aproximadamente, 25 mil turistas pisarão no Estado do Amazonas: na cidade de Manaus e em Parintins, na Serra da Valéria. Estamos tratando essa temporada com muito carinho. Ela ainda não vai ser a maior da história, não vai ser do tamanho que esperávamos, mas, estamos preparados e vamos trabalhar com excelência para que, no próximo ano, tenhamos uma temporada mais gran diosa”, afirmou Sampaio.
A “Temporada de Cruzeiros 2022/2023” no Brasil receberá, entre cabotagem e trânsito, 49 navios, dos quais, 18 estão previstos para ancorar na “Paris dos Trópi cos”. Nos primeiros três meses da tempo rada, atracarão em Manaus, o Insígnia, da Oceania Cruises; o Seven Seas Navigator, da Regent Seven Seas; o Voledam, da Holland America; o MS Marina, da Oceania Cruises; o Viking Sea, da Viking Ocean Cruises; e o Costa Luminosa, da Costa Crociere S.p.A. O encerramento da tem porada está previsto para maio de 2023.
Alonso Oliveira, diretor-presidente da Manauscult, comenta que, desde o ano
passado, sua equipe técnica, junto com as secretarias integradas à matriz de responsabilidade, e o trade turístico vêm realizando reuniões periódicas para tratar sobre o ordenamento da temporada de cruzeiro marítimo em Manaus.
“Há seis meses, junto ao trade e aos órgãos municipais, estaduais e federais, iniciamos um cronograma com ações preventivas e estruturais, que abrangem segurança, limpeza, trânsito, receptivo dos navios, assistência médica, dentre outros. Para esta temporada, em parce ria com a Amazonastur, disponibilizare mos uma pequena imersão cultural nos
receptivos, além de orientações quanto às empresas credenciadas para passeios, como city tours e river tours”, explicou Alonso Oliveira.
A administração do porto de Manaus vai acoplar um flutuante com 180 metros de cais para atender os navios de até 230 metros. Em uma eventual possibilidade da chegada de dois navios, em simultâ neo, naquela plataforma, o menor deles ficará fundeado até que o outro desocupe o espaço.
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A “Temporada de Cruzeiros” no Brasil iniciou em 7 de outubro e vai até 17 de maio de 2023. A previsão é de que 35 navios de longo curso farão 309 paradas, em 45 destinos localizados em 15 Estados brasilei ros como Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, com grandes expectativas de geração de impacto econômico para a economia nacional.
Com duração de quase seis meses, o Brasil contará com nove embar cações que disponibilizarão 780 mil leitos, número 47% maior do que o período pré-pandemia (2019/2020), que ofertou 530 mil leitos.
O Ministério do Turismo entende a importância desta temporada para o setor, no País, já que serão injetados cerca de R$ 4 bilhões na economia nacional, motivado pelos gastos das armadoras, cruzeiristas e tripulantes nas cidades portuárias de embarque/ desembarque e visitadas. Existe a expectativa, também, de serem cria dos 44 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, que beneficiarão, ainda, os brasileiros que residem nas cidades próximo às paradas dos navios.
“Os cruzeiros são a melhor maneira de conhecer o mundo, pois oferecem, em uma única viagem, hospedagem, transporte, entretenimento, alimen tação e uma vista diferente a cada dia. Iniciamos esta temporada com responsabilidade, sempre colocando as pessoas, os tripulantes, o meio ambiente e o compliance em pri meiro lugar, e entregando as viagens memoráveis que os cruzeiristas já conhecem”, disse Marco Ferraz, pre sidente da Clia Brasil.
“Além disso, vemos muitas opor tunidades de expansão do setor, no Brasil, à medida que a atividade cresce no mundo, com novos navios em construção, investimentos em eficiência, tecnologia e sustentabili dade. Estamos trabalhando, continua mente, para que a indústria brasileira de cruzeiros siga evoluindo e possa contribuir, ainda mais, para a econo mia e geração de empregos no País”, completou.
administração do porto de Manaus vai acoplar um flutuante com 180 metros de cais para atender aos navios de até 230 metros A previsão da Manauscult é que venham para a capital amazonense 18 navios com um fluxo de, aproximadamente, 25 mil turistasMANAUS (AM) – Lideranças indí genas brasileiras, missionários, missionárias e ex-dirigentes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se reuniram em Luiziânia, no interior de Goiás, para comemorar os 50 anos de existência da entidade.
Entre os participantes, estavam pre sentes lideranças indígenas como Rosa Tremembé, Rodrigo Pataxó, a cacique Hozana Poruborá, Simão Guarani Kaiowá, representando a Aty Guasu – Assembleia Geral do povo Guarani e Kaiowá e a Articu lação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib) e o secretário executivo da organização, Antônio Eduardo Oliveira, dentre outros.
Para a cacique Hozana Poruborá, da aldeia Aperoi, em Rondônia, relembrar a trajetória de seu povo e revisitar as memó rias de sua infância diz muito sobre a relação com o Cimi. “Nasci e me criei sabendo que era cabocla. Minha mãe falava a sua língua escondida, nós não podíamos falar. Esse direito, os invasores nos tiraram. Só depois dos 30 anos pude falar que era indígena, agradeço muito ao Cimi, por abrir essas portas para nós”, recordou a indígena.
Já Rodrigo Pataxó, liderança da Terra Indígena Comexatibá, avaliou positiva mente a contribuição do Cimi para a luta dos povos originários e a resistência que se fortaleceu ao longo de cinco décadas de entrelaçamento da instituição com a causa indígena no Brasil: “O Cimi tem sido um ponto de equilíbrio entre as comunidades, pois tem sabido articular os povos sem interferir nos modos de vida”, destacou.
O Pataxó salientou ser necessária a mobi lização e o envolvimento da juventude das aldeias, pois “é preciso resistir para existir”, observou.
Durante o congresso de 50 anos do Cimi, foram estabelecidos quatro eixos norteadores das linhas de atuação da entidade. O Cimi abraça a “Mística” de que os missionários e missionárias são também militâncias; a “Memória”, que foi amplamente discutida na primeira mesa de debates do evento; a “Resistência”, vastamente debatida no segundo dia do evento; e a “Esperança”, que pautou o debate e as discussões do terceiro e último dia do encontro. Esses eixos marcam os próximos passos da entidade.
“Há 522 anos, os indígenas vêm mostrando sua resistência e garra, e as parcerias sempre foram fundamentais para a gente”, afirmou Edinho Macuxi,
coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR). O indígena ainda desta cou que é hora de celebrar a luta ao longo de meio século de caminhada. “Tudo o que enfrentamos nos motiva a ser for tes e ser guerreiros. Reconhecemos que fomos reduzidos, mas nunca vencidos”, triunfou o Macuxi.
Ao término dos trabalhos, Wilson Pataxó Hã-Hã-Hãe, liderança da Terra Indí gena (TI) Caramuru Catarina Paraguaçu, no sul da Bahia, ressaltou: “Temos um desafio muito grande de lutar pela saúde e educação indígena, mas, principalmente, de defender a demarcação dos territórios e, para isso, precisamos existir para resistir e continuar. Portanto, resistência é você persistir, resistir, para garantir o seu terri tório”, finalizou.
A memória, a história e o futuro do Cimi foram tema dos debates no congresso de 50 anos da entidade Lideranças lembraram as contribuições do Cimi para os povos originários com os quais a entidade atuou Congresso de 50 anos do Cimi reúne lideranças indígenas em GoiásNas palavras de Milton Ribeiro, um dos fundadores do Movimento Negro Unificado: “O papel da extre ma-direita é fazer a população oprimida se reestruturar. Nós temos que derrotá-la”.
A pergunta que não quer calar é, como?
O primeiro turno das eleições para presidência, governos estaduais, senado, câmara federal e assembleias legislativas estaduais escancarou toda a radicalização, intolerância, discurso de ódio, dissemina ção de notícias falsas. O cenário perfeito para desestabilizar o que resta da nossa democracia.
Muito se fala em representatividade e ocupação de espaços, pois bem: o Ama zonas não elegeu nenhuma pessoa preta, nenhuma pessoa indígena e, mais uma vez, pouquíssimas mulheres estão nos representando nas casas legislativas.
A reserva do fundo eleitoral para can didaturas negras foi alvo de inúmeras fraudes, algumas trazidas a público, outras não, o que iniciou um debate acerca da necessidade de fiscalização dessa política afirmativa.
O candidato eleito Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou seu compromisso com a promoção à equidade racial. Em seu projeto de governo, existe a proposta de criação de uma pasta específica voltada a esse tema, o Ministério da Igualdade Racial.
A futura primeira-dama, Janja Lula da Silva, também firmou o compromisso no combate à fome, à violência doméstica e ao racismo, inclusive fazendo menção ao racismo religioso.
Mas, será que a criação de um Ministé rio resolve o problema? Óbvio que não. Num país de dimensões continentais e com um processo de escravização e desi gualdade racial tão enraizado como é o Brasil são inúmeros os setores que impac tam a vida das minorias étnico-raciais.
Cidadania, Cultura, Desenvolvimento Social, Economia, Educação, Justiça, Infra estrutura, Saúde, estes são alguns exemplos de áreas cuja gestão impacta diretamente a vida de pessoas negras. No entanto, pou quíssimas pessoas pretas ocupam espaços de destaque na equipe de transição do governo Lula.
É urgente pensar na pauta da equidade racial de forma interseccional e multi disciplinar. As demandas da população negra são muitas e são urgentes. Não basta confinar pessoas negras ao debate sobre racismo.
Precisamos de mais pessoas negras nos espaços de poder, pensando políticas públicas para as minorias étnico-raciais em todas as áreas do governo. Assim como precisamos que a pauta climática esteja presente em todas as áreas do governo. Assim como precisamos que a equidade de gênero esteja presente em todas as áreas do governo.
*Odaras é formado por quatro advogadas (Carol Amaral, Laila Alencar, Luciana Santos e Rhaiza Oliveira) e surgiu da necessidade de estabelecer um diálogo com empresas, gesto res, entes públicos, colaboradores e servidores acerca de pautas identitárias. A construção de uma sociedade verdadeiramente plural, inclusiva e igualitária passa pela conscienti zação das instituições. Somos quatro mulheres negras, amazônicas, que buscam compartilhar conhecimento, vivências e transformar.
O Governo do Amazonas está levando asfalto de qualidade para todo o estado, com o Asfalta Amazonas. Depois da parceria de sucesso do Asfalta Manaus, mais de 30 municípios estão com as obras em andamento e 270 km de vias já estão em recuperação no interior. Asfalta Amazonas é qualidade de vida para o nosso povo e progresso para o nosso estado.
O trabalho pela gente. fala