Abril de 2020 Ano03-N04
/12 e 13 ELEIÇÕES Prefeitura de Manaus tem ao menos 14 na disputa.
/20 e 21 CRISE ECONÔMICA Governo do AM e Prefeitura de Manaus buscam alternativas.
/22 e 23 MAPA DA PANDEMIA Novo coronavírus se espalha pela amazônia.
‘Gratidão não se paga com toga, nem prescreve’
TV CENARIUM WEB
A MELHOR PROGRAMAÇÃO PARA QUEM ESTÁ EM CASA
Acesse www.revistacenarium.com.br
CONHEÇA NOSSOS REPÓRTERES E APRESENTADORES
ARTHEMISA GADELHA
GABRIEL RICARDO
STEPHANE SIMÕES
CAMPANHA
#LeiaEmCasa
CENARIUM EM MINUTO BOLETIM COM AS PRINCIPAIS NOTÍCIAS DA REVISTA CENARIUM DIGITAL CENTRAL DA POLÍTICA ANÁLISES DE CENÁRIOS ELEITORAIS E BASTIDORES DO PODER ESTÚDIO C UM PROGRAMA COMPLETO DE POLÍTICA, ECONOMIA E ENTRETENIMENTO
Editorial EXPEDIENTE Diretora Geral Paula Litaiff Editora Executiva | Versão Impressa Márcia Guimarães Editora Executiva | Versão On Line Luana Dávila Editora Executiva – TV Web Arthemisa Gadelha Reportagem Bruno Pacheco Carolina Givoni Luana Dávila Luiz Henrique Michele Portela Nícolas Marreco Paula Litaiff Stephane Simões Fotografia Márcio Silva Frank Garcia Arlesson Sicsú Assessorias Apresentadores Web TV Arthemisa Gadelha Gabriel Ricardo Equipe técnica de vídeo Ricardo Moraes – Produtor de Conteúdo Digital Ribamar Xavier – Editor de Imagens Alexandre Araújo – Assistente de Estúdio Projeto Gráfico/Diagramação Natália da Silva Nakashima Revisora de Conteúdo Arthemisa Gadelha Jornalista Responsável Paula Litaiff MTB/AM - 793 Assessoria Jurídica Christhian Naranjo de Oliveira (OAB 4188/AM) Comercial e Marketing Elcimara Oliveira (92) 99450-7462 www.revistacenarium.com.br
UMA NOVA CENARIUM A Revista Cenarium mudou. Agora, além da versão impressa, a revista contará com o seu conteúdo na internet, no domínio www.revistacenarium.com.br. Propondo-se a buscar um olhar diferenciado, a versão on line e o novo layout do material impresso passam a ter as editorias de Meio Ambiente & Sustentabilidade, Poder & Instituições, Economia & Sociedade, Polícia & Crimes Ambientais, Mundo & Conflitos Internacionais, Entretenimento & Cultura e Viagem & Turismo, além das análises de articulistas. A primeira editoria da nova Cenarium traz a preocupação ambiental. Decidimos priorizar a nossa região. A revista falará da “Amazônia para o Mundo”. O foco continuará sendo o jornalismo técnico e investigativo, mas com uma visão mais ampla da notícia. A Cenarium on line, também produzirá reportagens em vídeos, lives, entrevistas, boletins em TV Web. A nova visão de interação mundial e a extensão de cenários sociopolíticos obrigam as empresas de comunicação a se adaptarem às necessidades do leitor mais exigente, que encontrará na Cenarium uma fonte confiável de informação. Paula Litaiff
Diretora Geral
FORÇA, RAÇA E GANA “Mas é preciso ter força. É preciso ter raça. É preciso ter gana sempre”. Esse verso de Milton Nascimento, me veio à cabeça ao escrever este editorial. Em 2020, completo 20 anos de jornalismo. Decidi comemorar com um novo desafio. E novos desafios pedem força, raça e gana. Nesses 20 anos, vivi muitas experiências. No jornal A Crítica, fui repórter de Esportes, subeditora de Economia, repórter e subeditora do caderno de Cidades, onde pude atuar em coberturas marcantes, como a da queda do avião da Gol em 2006. Deixando A Crítica, parti para o cargo de subeditora de Política no Diário do Amazonas, onde permaneci por dez anos como editora, tempo em que destaco a atuação na linha de frente de coberturas de grande alcance, como a do Caso Wallace e da Operação Vorax, que até hoje ecoam. E foi no Diário que conheci Paula Litaiff, que agora me apresenta este novo desafio, o de manter o nível elevado de conteúdo em uma publicação impressa mensal frente à voracidade da internet. Mais uma vez “é preciso ter força. É preciso ter raça. É preciso ter gana”. Sempre. Márcia Guimarães
Editora Executiva | Impresso
Índice Fotos Públicas
12 05 CAPA Presidente do TCE fala de sua experiência como homem público e dos desafios à frente do Tribunal de Contas. 10 MEIO AMBIENTE Pesquisadores afirmam que Terra treme menos com isolamento social. 12 POLÍTICA Pelo menos 14 estão na disputa pela Prefeitura de Manaus. 14 ELEITORES Cidadãos devem estar atentos às normas para regularização de títulos eleitorais. 16 FISCALIZAÇÃO MP faz recomendações sobre distribuição de bens durante pandemia. 18 COMBUSTÍVEIS Josué Neto cobra fiscalização de preços no Amazonas. 19 PARTIDOS PCdoB ganha reforço com filiação de Marcelo Amil.
20
22
20 CRISE ECONÔMICA Governo do AM e Prefeitura de Manaus buscam estratégias.
32 NEGÓCIOS Empreendedores se reinventam na crise da pandemia.
22 MAPA DA PANDEMIA Contágio da Covid-19 se espalha pela Amazônia.
34 REINTEGRAÇÃO Suhab garante que pagamento de auxílio aluguel será mantido.
24 FICA EM CASA Amazonenses têm dificuldades de aderir ao isolamento social. 26 ZONA FRANCA DE MANAUS Indústria se prepara para crise pós-pandemia. 28 DECISÃO JUDICIAL Empresa do PIM pode usar verba de P&D no combate ao coronavírus. 30 CLOROQUINA Pesquisa do AM apresenta resultado preliminar. 31 SOLIDARIEDADE Campanha arrecada alimentos para catadores.
36 QUARENTENA Amazonenses que vivem no exterior falam da rotina na pandemia. 38 RELAÇÕES INTERNACIONAIS Declarações no Brasil causam tensão com a China. 39 DIVERSÃO Tik Tok ganha força na internet em tempos de isolamento social. 40 TURISMO Barcelos pretende se tornar referência na pesca esportiva.
ENTREVISTA / 5
Para Mário de Mello, ser representante do governo em Brasília é a arte administrar a vaidade. Foto: Márcio Silva
‘Em Brasília, quem tem mandato popular manda mais do que quem tem dinheiro...’
Paula Litaiff. Da Cenarium.
C
onsiderado o agente público do Amazonas que mais durou na função de chefe da Representação do Estado em Brasília, 26 anos, o presidente do Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM), conselheiro Mário de Mello, 60 anos, revela em entrevista à REVISTA CENARIUM como eram os bastidores na capital brasileira e sem receios admite que o poder político vale mais que o econômico no centro político do país. Um fato pouco comentado na sua biografia, Mario de Mello atuou na política partidária na juventude, sendo militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no fim da década de 1970, onde disse ter aprendido sobre a luta por direitos. Nordestino de Ala-
goas, Mello é casado com a juíza amazonense Elza Vitória de Mello, tem oito filhos, e há mais de 30 anos trabalha na gestão pública do Estado. Ele foi escolhido, em 2015, para compor a Corte de Contas e quatro anos depois, em 2019, foi eleito presidente da instituição. Explicou que a sua habilidade nas relações sociais nunca interferiu na magistratura. “Gratidão não se paga com toga”, declarou, ao ser questionado sobre cobranças políticas. CENARIUM – Antes de o senhor se tornar um técnico da gestão pública, o senhor foi um agente político/partidário? MÁRIO DE MELLO – Sim. Comecei a minha vida política muito cedo, aos 16 ou 17 anos, quando
6 / ENTREVISTA
militei em movimento estudantil lá em Maceió (AL), foi uma breve passagem, mas um importante aprendizado. CENARIUM – Chegou a se filiar a partidos políticos, defender ideologias partidárias? MÁRIO DE MELLO – Inicialmente, eu tinha um foco no movimento estudantil, mesmo sem uma definição partidária. O grande “guarda-chuva” do movimento estudantil naquela época (1978 e 1979) era o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), depois o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), voltando novamente à mesma sigla. Depois do MDB, foi PCB, o chamado ‘Partidão’ que passou a abrigar o movimento estudantil e naturalmente acabei envolvido com as duas legendas em função da influência política que havia entre os estudantes. CENARIUM – Então, o senhor tinha uma inclinação esquerdista bem tradicional? Chegou a se candidatar? MÁRIO DE MELLO – (Risos) Sim, nessa linha. Fui candidato a vereador em Maceió pelo PMDB, fui eleito. Foi aquela grande explosão que o partido fez no Brasil inteiro. Eram 21 vagas e o PMDB fez 13 vagas. Foi quando eu comecei a militar verdadeiramente com mandato popular. Fui membro da Comissão de Turismo da Câmara Municipal em 1982 e 1983. Tive o mandato de vereador que naquela época era de seis anos e a eleição era em 1988. CENARIUM – Lembra o cenário político e social na época em que teve um mandato eletivo?
MÁRIO DE MELLO – Em 1988/1989 se iniciava a campanha de presidente do Brasil. Eu com primo do então governador de Alagoas, que era o Fernando Collor (meu pai era irmão do pai dele), fui participar da campanha para presidente em São Paulo; fui ser o coordenador da campanha à Presidência da República no oeste paulista. No segundo turno, foi uma coisa mais abrangente, foi em todo o Brasil. Após essa experiência, eu vi uma necessidade de ser candidato a deputado federal e fui pelo estado de Roraima. CENARIUM – Como surgiu a aproximação com a região Norte do Pais, sendo o senhor do Nordeste e tendo trabalhado em São Paulo? MÁRIO DE MELLO – Veja bem, estamos falando das eleições de 1990. Surgiu a oportunidade de ser candidato a deputado federal pelo Norte, porque dois territórios, que eram o Amapá e Roraima, estavam sendo transformados em Estados e eu me identifiquei com essa luta inicial da região por mais autonomia. Dentro do movimento Brasil Novo, busquei a vaga na Câmara Federal, mas não alcancei a legenda partidária. Fiquei na coligação que elegeu o (Fernando) Collor, com os partidos PRN e PTR. No fim da eleição, fui convidado pelo governador eleito de Roraima, Ottomar Pinto, para ser secretário de Estado de Ação Social em Roraima, onde iniciei meu trabalho na gestão pública da região Norte a partir da década de 1990. CENARIUM – Na condição de secretário de Ação Social, conseguiu implementar políticas públicas que um dia lutou, quando jovem, no Movimento Estudantil?
MÁRIO DE MELLO – Em Roraima, havia um foco muito grande daquele contexto dos garimpeiros. Era o Romeu Tuma, o chefe da Polícia Federal (PF), da época, E começou a bombardear as pistas dos garimpeiros porque era uma linha política que se tinha naquela época, para acabar com aquela situação. Imagina o governador (Ottomar Pinto) era quem dava apoio a toda essa estrutura (garimpo) e o presidente da República, na época, (Fernando Collor, primo de Mário de Mello) era contra essa estrutura, o que era uma incongruência. Assim, comecei a avaliar uma proposta em outro estado. CENARIUM – Foi nessa época que surgiu o convite do ex-governador do Amazonas Gilberto Mestrinho (1991-1994) e quando iniciou sua trajetória pública no Estado? MÁRIO DE MELLO – O governador Gilberto Mestrinho me convidou para ser assessor dele em Brasília. E aí, deixei de ser secretário em Roraima, até porque era uma situação desconfortável que estava vivendo na minha função. Em 1991, fui para o Distrito Federal para ser assessor do Mestrinho, depois fui ser subsecretário do Mestrinho, depois secretário em Brasília. Daí fui ser secretário do Amazonino (Mendes, ex-governador do Amazonas – 1995 a 1998), continuei na segunda gestão de Amazonino (1999 a 2002), depois fui do Eduardo Braga, atual senador (2003 a 2010), passei por Omar (Aziz, ex-governador, atual senador – 2010 a 2014). Continuei com o professor (José) Melo (2015-2017). Nesse período, fui indicado pela vaga da Assembleia Legislativa do Estado (ALE-AM) e escolhido para o TCE. Após 26 anos prestando serviço ao Amazonas em Brasília, fui nome-
ENTREVISTA / 7
ado para conselheiro do Tribunal de Contas em 2015 e, no ano passado, fui eleito para a missão na presidência. CENARIUM – Pelo tempo que o senhor passou em Brasília, 26 anos, sabe dizer quem tem mais poder? Quem tem dinheiro ou quem tem mandato eletivo? MÁRIO DE MELLO – Eu vou ser sincero com você. Existem dois tipos de poder no histórico da humanidade. Existe o poder político e o poder econômico. Isso aí definiu a história da humanidade inteira. E em Brasília, não podia ser de forma diferente. São poderes completamente distintos, mas indiscutivelmente o poder político (mandato eletivo) é um poder muito mais consistente, mais forte. É um poder que faz acontecer e faz você ser respeitado. A história de Brasília, que é um grande laboratório do Brasil inteiro, é o tambor que faz ecoar no país inteiro e eu convivi com aquilo ali durante 26 anos. Foi uma grande escola, é uma grande escola. E eu posso lhe afirmar que, com plena categoria, que o poder político ele é muito mais forte que o poder econômico. Principalmente, em Brasília, quem tem mandato popular manda mais do que quem tem dinheiro. CENARIUM – Apesar de a classe política e os técnicos da gestão pública resistirem a esse termo, o lobby, desde que dentro da lei, era uma de suas principais funções como representante do Amazonas em Brasília. Qual foi o lobby mais difícil que o senhor teve que fazer pelo Estado? MÁRIO DE MELLO – Em 26 anos em Brasília, representando o governo do Amazonas, eu fazia o
chamado lobby institucional. A minha função era essa, era ter um bom relacionamento. Tive muita importância, tive muitos bons relacionamentos, era muito respeitado. E, modéstia à parte, cumpri com muita competência a minha função. E ser representante do governo na capital federal, é a arte – eu tenho uma frase muito interessante – é a arte de administrar a vaidade, porque você está com quem define, com quem faz. E é uma arte muito difícil, mas eu consegui me relacionar muito bem em Brasília durante 26 anos e eu acho que ajudei muito o estado, principalmente, a manter seu desenvolvimento econômico. CENARIUM – Então, a principal dificuldade nas relações institucionais era manter os incentivos da Zona Franca de Manaus? MÁRIO DE MELLO – Exatamente. De conscientização, de mostrar, de fazer as pessoas entenderem o que é esse modelo. Tive uma importância muito próxima dentro da área do Judiciário. Assim, também, como junto ao governo federal, junto às embaixadas. Eu tinha uma participação muito grande na área internacional do Estado do Amazonas, principalmente, no relacionando diplomático em Brasília. Era uma coisa que me encantava. CENARIUM – Como o senhor avalia os parlamentares e empresários de outros estados que criam barreiras contra a manutenção e desenvolvimento do Polo Industrial de Manaus (PIM)? MÁRIO DE MELLO – É assustador, isso é assustador. A imagem que se cria, é uma pedrinha de dominó que vai se multiplicando. A cada momento, você tem que falar o que é a Zona Franca. As pes-
soas pensam que aqui é um grande buraco negro. (Eles) não têm ideia do que isso representa para o Estado do Amazonas e, principalmente, para o Brasil. A preservação da nossa floresta devemos, um dos fatores primordiais, à nossa Zona Franca. CENARIUM – O Judiciário de Brasília parece, também, ter suas restrições ao modelo econômico do PIM, tanto que foi necessária uma intensa atuação da bancada do Amazonas para convencê-los da importância da Zona Franca de Manaus, no último julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), no processo do Polo de Concentrados em 2019... MÁRIO DE MELLO – É incrível, mas hoje, o Supremo já tem uma outra visão, já tem uma conscientização da importância disso. Então, eu acho que no principal tribunal, na mais alta Corte, que é o Supremo Tribunal Federal, já há um entendimento consolidado com relação à Zona Franca. Cada vez é uma história diferente, cada vez que elege um novo presidente é uma guerra. Mas com todo respeito à São Paulo, mas São Paulo sempre foi uma “pessoa” que nunca encarou a Zona Franca como uma coisa positiva. Parece até ciúmes, não consigo entender... CENARIUM – Falando em STF, o senhor tem parentesco com um dos membros da Corte. MÁRIO DE MELLO – Sim, sou primo-irmão do ministro Marco Aurélio de Mello. Somos muito próximos. Meu pai é irmão do pai dele. Temos uma relação muito próxima, de muita admiração. Criamos nossa história ao longo de muitos anos, e ele é uma pessoa que eu tento me espelhar,
8 / ENTREVISTA
porque ele é um grande cidadão. Uma das coisas que eu mais admiro do Marco Aurélio, além dele ser um bom juiz, é que o processo para ele não tem capa, e verdadeiramente não tem capa. Ele não é passional, ele consegue ser um juiz que julga verdadeiramente com o conteúdo do processo. CENARIUM – A relação com o ministro Marco Aurélio pode ter ajudado na sua escolha para compor a Corte do Tribunal de Contas, em 2015, ou não teve nenhuma influência? MÁRIO DE MELLO – O Marco Aurélio me ajudou muito. Ele sempre foi uma pessoa que teve muito carinho pelo Estado do Amazonas, sabe da minha história do estado. CENARIUM – Ele foi um dos “cabos eleitorais” na corrida para ser conselheiro do TCE? MÁRIO DE MELLO – Isso não, ele não foi um cabo eleitoral! Ele sempre foi uma pessoa que torceu para que esse reconhecimento acontecesse. Depois de 26 anos, a Assembleia Legislativa do Estado indicou meu nome, porque sabia da minha bagagem, conheci os problemas do lado de lá, eu sempre vou dizer que a minha vida inteira eu fui “prego”; hoje, eu sou “martelo”. Então, eu consigo ter a visão dos dois lados e poderia ajudar o Estado, agora, sim, como “martelo”, no bom sentido, porque a minha visão é pedagógica, não é punitiva. CENARIUM – Essa é uma pergunta que sempre se faz aos membros de órgãos fiscalizadores, como conselheiro do TCE-AM, o senhor acumulou mais inimigos ou amigos?
MÁRIO DE MELLO – A minha linha é pedagógica: endurecer sem perder a ternura (pensamento do principal líder da Revolução Cubana, Ernesto Guevara - 1928-1967). Eu, indiscutivelmente, sempre fui o conciliador. Mas, gratidão não se paga com a toga, nem prescreve. Gratidão sim, pagar com a toga jamais. Então, você tem algumas inimizades, você contraria alguns interesses, é bem natural. Mas, continuo tendo grandes amigos, que me respeitam e entendem a função que eu exerço hoje e não ousam vir aqui pedir coisas que eu não possa atender. CENARIUM – O senhor já foi muito procurado para acelerar ou “retardar” julgamento de processos? MÁRIO DE MELLO – Muitas pessoas vêm aqui para fazer acompanhamento de algum tipo de processo e a gente tem a obrigação de dar informações. Afinal, essa Casa de Contas é uma Casa transparente, mas nunca me pediram nenhuma ilegalidade. CENARIUM – Como conselheiro e, agora, presidente de um Tribunal de Contas já recebeu alguma proposta de suborno? MÁRIO DE MELLO – Não, nunca, nunca abri esse espaço. Isso, jamais alguém esteve aqui para me oferecer. Nunca tiveram essa ousadia. Se tivessem, daria voz de prisão! CENARIUM – Como lida com amigos que lhe pedem favores? MÁRIO DE MELLO – Posso ou não posso! A minha metodologia é essa. O que estiver dentro da Lei, eu estou pronto a orientar, estou pronto a auxiliar, mas está fora disso, aí já fica uma coisa complicada. Tem uma situação muito
interessante. Têm muitos prefeitos decentes, têm muitos prefeitos de bem, têm muitos prefeitos que têm capacidade, têm muitos prefeitos que não entendem o que é serviço público, que mistura “público com privado”, têm muitos prefeitos com capacidade técnica. E eu sempre tenho um pensamento, que inclusive foi feito por Ruy Barbosa, que diz o seguinte: “O chicote muda de mão, hoje, o chicote está na sua mão, você é um gestor, cuide deste chicote porque ele vai mudar de mão para o seu eleitor.” CENARIUM – Falando de gestores públicos bons e ruins, o senhor já viu alguém, de fato, ser impedido de disputar uma eleição ou reeleição por conta da Lei da Ficha Limpa? MÁRIO DE MELLO – Já vi muitos. Políticos muito conhecidos, confesso que não. CENARIUM – A Lei da Ficha Limpa pegou no Brasil ou ela é seletiva? MÁRIO DE MELLO – Tivemos um grande passo. Eu acredito que vá melhorar. CENARIUM – Quando assumiu a presidência do Tribunal de Contas do Amazonas, o senhor falou em melhorar a tramitação dos processos. Como pretende fazer isso? MÁRIO DE MELLO – Dentro de toda a legalidade, a nossa ideia é quebrar algumas etapas, essas diligências que chega a ser uma coisa absurda, que faz o processo ficar travado. Isso tudo nós estamos trabalhando para acabar com isso. Com todo respeito ao Ministério Público de Contas, é feito três ou quatro diligências em um assunto que já está muito claro. Aquilo ali atrasa um ano. Então, hoje, o foco
ENTREVISTA / 9
nosso é isso para que a gente tenha mais agilidade. CENARIUM – Nos primeiros meses na presidência do Tribunal de Contas, o que foi mais desafiador? Existe muita pressão política sobre a função?
Hoje presidente do TCE, Mário de Mello atuou por 26 anos como representante do governo do Amazonas em Brasília. Foto: Márcio Silva
MÁRIO DE MELLO – Você tem uma alegria muito grande quando é escolhido pelos colegas para presidir o Tribunal, mas depois você tem flashes de alegria (risos). Só que pressão política não há, mas existe a demanda da Casa, mesmo, para fazer todo o processo administrativo fluir. Eu só tenho a dizer uma coisa: desafio eu sei que é muito grande. Coragem eu tenho, e como tenho falado: tenho coragem de mamar em onça. E estou com a certeza da minha responsabilidade. Sempre na minha vida encontrei desafios e desafio é bom porque você se fortalece. CENARIUM – A população tem ajudado o TCE-AM nas denúncias de ilegalidades nas gestões públicas do Estado? MÁRIO DE MELLO – A verdade é que, hoje, o Brasil é outro. Eu digo pela nossa Ouvidoria do Tribunal de Contas. A demanda aumentou assustadoramente. O cidadão faz denúncia até no papel de pão. O tribunal transformou isso em processo e dá retorno ao cidadão. Hoje, se identificando ou não, ele (o povo) está completamente mais denunciativo. O cidadão está querendo denunciar, está preocupado. Nós temos o telefone e o whatsapp, não precisa se identificar. É uma demanda grande, no interior também. Recebemos muitas denúncias nesse sentido. E todas são apuradas.
CENARIUM – Como o senhor avalia a gestão do governo federal? MÁRIO DE MELLO – Acho que está iniciando, tem muito chão pela frente, mas acabou a lua de mel com o povo brasileiro... CENARIUM – O senhor foi da esquerda, votou na esquerda na última eleição para presidente do Brasil?
MÁRIO DE MELLO – (Risos) Eu não votei na esquerda. Votei naquele sentimento, indiscutivelmente, de querer mudar o país... CENARIUM – Então, o senhor é decepcionado com a esquerda brasileira? MÁRIO DE MELLO – Eu acredito na alternância de poder. Não posso ter mais ideologia política.
10 / MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
Sismólogos registram uma queda de 30% a 50% no ruído sísmico, com redução da circulação nas ruas. Foto: Francediplomatie/Fotos Públicas.
Sismólogos dizem que pandemia do coronavírus fez a Terra tremer menos Com informações das Agências.
O
mundo ficou mais silencioso e a Terra tremendo menos. Sismólogos explicam que a diminuição do ruído sísmico provocado pela circulação de pessoas e, principalmente, rodoviária, faz com que as vibrações na crosta terrestre diminuam. Com o isolamento obrigatório decretado em vários países em resposta à pandemia da covid-19,
não foi só a poluição que diminuiu. Cientistas têm alertado para uma outra observação menos perceptível ao ser humano: a Terra está tremendo menos. Em todo o mundo, os sismólogos têm detectado muito menos ruído sísmico, isto é, vibrações geradas pela circulação de automóveis, comboios, ônibus e mesmo pessoas durante o seu dia a dia. Na ausência deste ruído, explicam os sismólogos, as vibrações na
crosta terrestre diminuem, o que faz com que esta se mova menos. Thomas Lecocq, geólogo e sismologista do Observatório Real na Bélgica, observou o fenômeno pela primeira vez em Bruxelas. Segundo Lecocq, Bruxelas tem registrado uma redução de 30% a 50% do ruído sísmico desde meados de março, quando a Bélgica implementou medidas de distanciamento social e fechamento do comércio.
MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE / 11
“Desde o início do confinamento, observamos um nível de ruído sísmico semelhante ao que geralmente detectamos nos fins de semana ou durante os períodos de férias. Uma queda de 30% a 50%”, disse o sismólogo, citado pelo Daily Science Brussels. Ele explica que o ruído durante o dia é agora semelhante ao registrado à noite. Nos Estados Unidos, também foi observada esta diminuição das vibrações terrestres. Uma imagem partilhada por Celeste Labedz, aluna de doutorado em geofísica na Califórnia, mostra uma quebra do ruído especialmente acentuada em Los Angeles ao longo de março. SISMOS MENORES MAIS FACILMENTE DETECTÁVEIS Thomas Lecocq revelou ainda um outro efeito interessante relacionado com a diminuição do ruído: os cientistas conseguem detectar terremotos menores e outros eventos sísmicos que algumas estações sísmicas nunca conseguiriam registrar. Ele dá o exemplo da estação sísmica de Bruxelas que, em situações normais, é “basicamente inútil”. Como explica Lecocq, as estações sísmicas são habitualmente instaladas fora das áreas urbanas, uma vez que, quanto menor for o ruído humano, mais fácil é a captação de vibrações no solo. No entanto, a estação de Bruxelas foi construída há mais de um século e a cidade expandiu-se, dificultando o trabalho. Os sismólogos passaram a utilizar um aparelho instalado no subsolo para monitorizar a atividade sísmica. No entanto, atualmente, com a tranquilidade da cidade, Lecocq explica que a estação de Bruxelas tem detectado atividade quase tanto como esse apare-
lho. “Atualmente, somos capazes de detectar eventos muito fracos, como pequenas explosões nas pedreiras do país”, afirmou. Para o sismólogo, os gráficos são uma prova de que as pessoas estão cumprindo os conselhos das autoridades e, assim, evitam sair de suas casas. “Do ponto de vista sismológico, podemos motivar a população ao dizer ok, vocês sentem-se sozinhos em casa, mas podemos dizer que toda a gente está em casa. Todos estão fazendo o mesmo, todos estão respeitando as regras’”, finalizou Lecocq.
“
Observamos um nível de ruído sísmico semelhante ao que geralmente detectamos nos fins de semana ou durante os períodos de férias” - Thomas Lecocq, geólogo e sismologista.
Sem a circulação normal de pessoas Terra fica mais estável. Foto Nasa NOOA
12 / PODER & INSTITUIÇÕES
Lideranças políticas de Lenit modigni Manaus se movimentam minimpo rendesto para eleições municipais. eiumquis molor aut Foto: Fotos Públicas. omnihil illabo.
Prefeitura de Manaus terá, no mínimo, 14 candidatos na disputa Na lista de pré-candidatos estão os nomes de Amazonino Mendes, David Almeida e Josué Neto Luana Dávila. Da Cenarium.
D
epois de quase oito anos do prefeito Arthur Neto (PSDB) à frente do Executivo municipal, a eleição em Manaus para o mandato de 20212024 será bastante acirrada. Devem entrar na disputa, no mínimo, 14 candidatos que precisam conquistar a confiança da população para sobreviver ao segundo turno. Entre eles, está o ex-governador Amazonino Mendes, o melhor
colocado nas pesquisas, até o momento, com histórico de quatro mandatos como governador, passagem pela prefeitura de Manaus e pelo Congresso Nacional. Amazonino saiu do PDT no ano passado e migrou para o Podemos, do deputado estadual Wilker Barreto, em busca não só de condições partidárias, mas financeiras para a campanha. O ex-governador David Almeida também fez a troca partidária. Saiu do PSB, de Serafim Corrêa,
e migrou para o Avante, também em busca de protagonismo nas eleições, aparecendo em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. Corre nos bastidores da política que ele é “apadrinhado” de Arthur Neto. O petista José Ricardo enfrenta uma disputa interna no partido com o deputado Sinésio Campos e com o vereador Sassá da Construção Civil. José Ricardo já chegou a receber as bênçãos do ex-presidente Lula para a prefeitura
“
Vamos aguardar primeiro passar a pandemia e a calamidade pública. Estou em casa, mas estou conversando com as pessoas, articulando, recebendo sugestões e ideias” - José Ricardo, deputado federal.
PODER & INSTITUIÇÕES / 13
de Manaus e teve uma votação expressiva como deputado federal. Ricardo disse à Cenarium que ainda não há definição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre alterações no calendário eleitoral por conta da pandemia de covid-19, mas o Tribunal manteve a data limite para mudança partidária no dia 4 de abril. “Não sabemos como vai ficar a situação por conta do coronavírus. O PT ainda não teve a definição sobre a pré-candidatura, embora isso deveria ter sido definido. Todo o calendário está suspenso, além de todas as reuniões. Vamos aguardar primeiro passar a pandemia e a calamidade pública. Estou em casa, mas estou conversando com as pessoas, articulando, recebendo sugestões e ideias”, afirmou José Ricardo. Sinésio, apesar de não ter o nome confirmado, pontuou que quer fazer uma gestão democrática, popular e participativa, explorando ao máximo o potencial econômico do Estado. “Estão mantidos os nomes inscritos e serão mantidas as prévias”, afirmou Sinésio. Após se desentender com o senador Omar Aziz, o presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), Josué Neto deixou o PSD e migrou para o PRTB, obtendo o comando de um partido pela primeira vez, depois de 15 anos de vida pública. Neto é, oficialmente, o pré-candidato da sigla, deixando o desejo do vice-governador, Carlos Almeida, de disputar a prefeitura de Manaus para traz. Apesar de não ter migrado para o Aliança pelo Brasil, partido de Bolsonaro, Josué tem as
bênçãos do presidente e mantém o perfil conservador de direita. Na mesma linha, segue o deputado federal Capitão Alberto Neto (Republicanos), que com pouco mais de 16 meses do seu primeiro mandato, vem avançando nas pesquisas como pré-candidato, seguindo o discurso de Bolsonaro. Alberto Neto já chegou a dizer que “sentiu um chamado à população” para governar a prefeitura de Manaus. O vice-prefeito Marcos Rotta, após ter rachado com o prefeito Arthur Neto, deixou o PSDB e se filiou ao DEM com a expectativa de concorrer ao cargo de prefeito. A ex-deputada federal Conceição Sampaio (PSDB) é a mais cotada para ser a pré-candidata pelo partido tucano. O ex-ministro Alfredo Nascimento (PR) é bem articulado e estava a todo vapor nos bairros, antes da explosão da pandemia do novo coronavírus. Se não for pré-candidato à prefeitura de Manaus, tem chances de costurar a vaga de vice. O deputado estadual e ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB) tem figurado nas pesquisas de intenção de votos e tem a simpatia da população por seus posicionamentos em relação à política e à economia, sendo referência nesses temas. É importante dizer que é a pessoa com quem o PSB mantém diálogo. O ex-deputado federal Hissa Abraão (PDT) também deve entrar na disputa, além do vereador Chico Preto (Democracia Cristã) e do empresário de direita Romero Reis (Novo). O PCdoB terá candidato e tudo indica que será a ex-senadora Vanessa Grazziotin.
14 / PODER & INSTITUIÇÕES
Eleições 2020: prazo para regularização de título e nova regra para pagamento de multa eleitoral Com informações das Agências.
T
ermina no dia 6 de maio o prazo para que cidadãos que tiveram o título de eleitor cancelado regularizem a situação. Quem não estiver em dia com o documento, não poderá votar nas eleições municipais de outubro, quando serão eleitos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores nos 5.570 municípios do país. No ano passado, 2,4 milhões de títulos foram cancelados porque
os eleitores deixaram de votar e justificar ausência por três eleições seguidas. Para a Justiça Eleitoral, cada turno equivale a uma eleição. COMO REGULARIZAR O TÍTULO Para regularizar o título, o cidadão deve comparecer ao cartório eleitoral próximo a sua residência, preencher o Requerimento de Alistamento Eleitoral (RAE) e apresentar um documento ofi-
cial com foto. Além disso, será cobrada uma multa de R$ 3,51 por turno que o eleitor deixou de comparecer. O prazo para fazer a solicitação termina em 6 de maio, último dia para emissão do título e alteração de domicílio eleitoral antes das eleições. Além de ficar impedido de votar, o cidadão que teve o título cancelado fica impedido de tirar passaporte, tomar posse em cargos públicos, fazer matrícula em uni-
PODER & INSTITUIÇÕES / 15
Para estar apto a votar, eleitor precisa estar com o título eleitoral em dia. Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas.
146 mi
Em 2020, cerca de 146 milhões de eleitores devem estar aptos a votar.
versidades públicas, entre outras restrições. A situação de cada eleitor pode ser verificada no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O primeiro turno será realizado no dia 4 de outubro. Se necessário, o segundo turno será no dia 25 do mesmo mês. Cerca de 146 milhões de eleitores estarão aptos a votar. MULTA ELEITORAL Considerando o aumento da demanda por serviços à distância, dadas as restrições de circulação de pessoas no momento atual, a Corregedoria-Geral Eleitoral (CGE) anunciou a adoção de uma nova
funcionalidade do Sistema Elo, em âmbito nacional, para evitar que os eleitores precisem se dirigir aos cartórios eleitorais para comprovar o pagamento de multas eleitorais. A partir de agora, aquele cidadão que pagou uma multa eleitoral está dispensado da obrigatoriedade de apresentar o comprovante junto ao cartório. A Guia de Recolhimento da União (GRU) para o pagamento de débitos eleitorais pode ser emitida pelo Portal do TSE, sem sair de casa. Em despacho enviado aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), no último dia 31 de março, sobre a solução a ser adotada em todo o país, a Corregedoria-
-Geral Eleitoral esclareceu que a comprovação do pagamento se dará de forma automática por meio do Sistema ELO, até 48 horas após o recolhimento. O cartório eleitoral acessará as informações sobre a quitação da multa e a registrará no cadastro. No documento a unidade informou que a nova funcionalidade do sistema evoluiu para permitir a geração de relatório com a opção “multas pagas”, contendo todas as multas dos eleitores de determinada zona eleitoral cujos pagamentos foram identificados e permanecem na situação “emitida”, viabilizando o acompanhamento e a atualização das quitações no sistema.
16 / PODER & INSTITUIÇÕES
O procurador regional eleitoral, Rafael Rocha, assina a orientação sobre a distribuição de bens. Foto: MPF/Divulgação.
Ministério Público orienta sobre distribuição de bens no AM durante pandemia de covid-19 Com informações da Assessoria.
O
Ministério Público Eleitoral expediu orientação aos promotores eleitorais do Amazonas para que recomendem a gestores públicos municipais a observância das leis eleitorais em relação a eventual distribuição de bens ou valores como medidas de socorro durante a pandemia de covid-19.
A Orientação Conjunta nº 1/2020 foi assinada pelo procurador regional eleitoral, Rafael Rocha, e pelo coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias Eleitorais, Públio Caio Cyrino. De acordo com o documento, os promotores eleitorais no Amazonas devem encaminhar reco-
mendação a prefeitos, vereadores, secretários municipais e dirigentes dos órgãos da administração indireta municipal ressaltando que a distribuição de bens, serviços, valores ou benefícios, diante da situação de emergência declarada após o surto do novo coronavírus, deve ser feita com prévia fixação de critérios objetivos – quantida-
PODER & INSTITUIÇÕES / 17
de de pessoas a serem beneficiadas, renda familiar de referência para obtenção do benefício, condições pessoais ou familiares para a concessão, entre outros – e garantindo a impessoalidade. A recomendação deve indicar também a proibição de uso promocional da distribuição em favor de qualquer agente público, candidato, partido ou coligação. Caso qualquer destas medidas seja descumprida, o infrator, seja ele agente público ou não, pode ser condenado ao pagamento de valores que variam de R$ 5 mil a R$ 106 mil e à cassação do diploma do candidato beneficiado, além de se tornar inelegível.
Qualquer medida de distribuição gratuita de bens, serviços, valores ou benefícios deve ser comunicada ao Ministério Público Eleitoral, com a antecedência que for possível. Caso a comunicação prévia não possa ser realizada, as medidas deverão ser informadas ao Ministério Público Eleitoral em até cinco dias após a execução. Os promotores eleitorais no estado devem ainda acompanhar, por meio dos sites das prefeituras na internet, as contratações ou aquisições autorizadas pela Medida Provisória nº 926/2020 e pela Lei nº 13.979/2020, relativas ao enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus.
CALAMIDADE E EMERGÊNCIA O Ministério Público Eleitoral reconhece que as diversas medidas adotadas pelo poder público para conter o avanço do coronavírus, inclusive com suspensão ou restrição de atividades econômicas, por motivo de emergência sanitária, também provocarão situações de emergência social e econômica, com reflexos nas atividades de profissionais autônomos, empresários individuais e microempresários. As situações de calamidade e emergência decretadas pelo poder público diante da pandemia de covid-19 permitem que a administração pública execute medidas de socorro às pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, por meio da distribuição gratuita de bens, valores e benefícios, mesmo em ano eleitoral, o que constitui uma exceção. Ainda que permitida por conta das situações de calamidade e emergência, a distribuição precisa observar a legislação eleitoral e o Ministério Público Eleitoral deve atuar de maneira preventiva na defesa do regime democrático, evitando as irregularidades e a imposição de sanções graves e com repercussões importantes para eventuais candidaturas.
18 / PODER & INSTITUIÇÕES
Assembleia cobra de Procons fiscalização para assegurar baixa nos preços de combustíveis Com informações da Assessoria.
O
presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), deputado Josué Neto (PRTB), está cobrando os Programas Estadual e Municipal de Proteção e Orientação ao Consumidor (Procons) para que intensifiquem fiscalizações para redução do preço dos combustíveis na capital e no interior do Estado durante o período de pandemia do novo coronavírus (Covid-19). “O valor dos combustíveis foi reduzido nas refinarias e devem ser repassados ao consumidor”, afirmou o presidente da Aleam, no dia 2 de abril. Segundo Josué, já existe uma Lei estadual, proposta por ele, que proíbe o aumento sem justa causa de preços de produtos e serviços
no Estado do Amazonas durante o surto de coronavírus. NÚMEROS Segundo dados da Petrobras, devido ao Covid-19 o preço do petróleo internacional acumula baixa de 60% neste ano. No Brasil, a estatal projetou na gasolina, a redução nas refinarias a média de R$ 0,0566 por litro, com o corte de 5%, enquanto que no diesel a queda será de R$ 0,0498, uma média de 3%. Nas bombas, o repasse havia sido de 1,5% para a gasolina e 4,4% para o diesel. No entanto, no Amazonas a prática abusiva contra consumidores e o não repasse da redução para o preço final já chega a 40% nos últimos anos. A média em Manaus chega a R$ 4,68 (gasolina) e R$
3,59 (diesel). Em outros Estados, o preço da gasolina já reduziu para R$ 3,94 e o do diesel para R$ 3,35. DEBATE No dia 19 de fevereiro deste ano, Josué Neto também debateu com motoristas de aplicativos, caminhoneiros, autarquias, órgãos de proteção ao consumidor, parlamentares e dentre outros sobre a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dos combustíveis do Amazonas. Na época, a Assembleia Legislativa do Amazonas foi a primeira a debater a redução de impostos sobre os combustíveis para baratear os preços de venda ao consumidor amazonense.
Josué Neto pede fiscalização para garantir repasse de queda nos preços ao consumidor. Foto: Danilo Mello/Aleam.
“
O valor dos combustíveis foi reduzido nas refinarias e deve ser repassados ao consumidor” - Josué Neto, presidente da Aleam.
PODER & INSTITUIÇÕES / 19
Um novo comunista para disputar a Prefeitura de Manaus Com informações da Assessoria.
A
pós um mês de conversas e análises, o advogado Marcelo Amil aceitou o convite do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e será o mais novo filiado da sigla no Amazonas. Jovem e com ideais pautados em um projeto político que traz novos rumos para a cidade de Manaus, Amil vê a filiação como uma “volta para casa”. “Um dos principais pontos de escolher o PCdoB foi voltar para casa. Isso porque eu já fui filiado ao partido quando eu tinha 18 anos. Foi o primeiro partido da minha vida e, inclusive, deixei muitos amigos lá. E voltar nesse momento em que o Brasil precisa afirmar uma posição é muito importante porque o PCdoB sempre teve uma posição firmada”, relata Amil, que pretende continuar com a mesma visão política sendo uma frente de defesa da democracia em oposição à direita. Além do advogado, aproximadamente 50 pessoas, que decidiram deixar o Partido da Mobilização Nacional (PMN) e seguir ao lado de Marcelo, também vão integrar a nova sigla. Um dos que continua ao lado de Amil nessa nova trajetória é o sociólogo Luiz Carlos Marques. Ele revelou que a decisão de ir para o PCdoB se pautou na tradição do partido que milita ao lado dos trabalhadores. “O PCdoB tem espaço para participar do jogo político. Um partido de tradição! Nós fomos basicamente banidos da construção de um partido, que abandonou a sua essência socialista e partiu para
a extrema direita. A nossa opção foi buscar conversar com um partido que tem o nosso perfil, que pudesse agregar os valores que nós defendemos. E todos os valores que nós defendemos estão no Partido Comunista do Brasil, que é um partido que busca a transformação da sociedade via o parlamento, com políticas voltadas, principalmente, para o povo trabalhador. A nossa ida junto com o Marcelo para o PCdoB aconteceu porque nós somos um grupo unido, que quer mudanças efetivas e, para isso, nós temos que agir juntos”, ressaltou Marques. O presidente estadual do PCdoB, Eron Bezerra, comentou sobre a chegada de Marcelo Amil e deixou as portas abertas para a construção do processo democrático também para os novos filiados. “É com imensa alegria que nós recebemos a filiação de um expressivo grupo de militantes, oriundos do PMN, liderados pelo jovem e talentoso advogado Marcelo Amil, que agora se juntam as fileiras do centenário do PCdoB. São militantes da cultura, da comunicação, do esporte, comunitários, profissionais liberais, ativistas religiosos, indígenas. Um bom time. Gente da melhor qualidade, que se junta na luta para construir um mundo sem fome, sem desemprego, sem corrupção, sem violência e de prosperidade: um mundo socialista. Aqui, como militantes, terão o legítimo direito de disputar qualquer cargo e posto dentro do PCdoB. Sejam bem-vindos”, disse Eron Bezerra.
“
“Aqui, como militantes, terão o legítimo direito de disputar qualquer cargo e posto dentro do PCdoB. Sejam bem-vindos”
- Eron Bezerra, presidente estadual do PCdoB.
20 / ECONOMIA & SOCIEDADE
Governador Wilson Lima (ao centro) reunido com o vice-governador Carlos Almeida e equipe econômica. Foto:Diego Peres/Secom
Sem ajuda do governo federal, Governo do Amazonas e Prefeitura de Manaus tentam conter crise econômica Nícolas Marreco. Da Cenarium.
C
om uma estagnação cada vez mais acentuada pela pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), os governos são desafiados a amenizar ao máximo a recessão que é “muito pior” que a crise financeira de 2008, como classificou o Fundo Monetário Internacional (FMI) no início de março. No Amazonas, o governador Wilson Lima (PSC), determinou a redução de, no mínimo, 10% nos contratos e despesas. Em casos específicos, no entanto, a intenção, é chegar a até 50% de redução, segundo informações divulgadas
pela Secretaria de Comunicação no site do governo no dia 7 de abril. A medida foi determinada no Decreto nº 42.146, de 31 de março de 2020, que instituiu o Plano de Contingenciamento de Gastos, em razão dos impactos da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19) nas finanças do Estado. “Nós tínhamos um planejamento orçamentário feito para uma previsão de receita de cerca de R$ 21,5 bilhões, com a crise do Coronavírus podemos chegar a R$ 17 bilhões, sobretudo se não vier a ajuda do governo federal. Então, a conta é simples: caindo a receita e havendo necessidade de alto
investimento na saúde, é natural que haja reduções para que consigamos fechar as contas”, afirmou o governador na matéria publicada no site do governo. O governo também já tomou algumas medidas, como a abertura de crédito a micro e pequenos empreendedores pela Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), no valor de R$ 40 milhões. Para a aplicação dos recursos, Wilson estipulou como regra o uso apenas em atividades produtivas que já estejam funcionando no setor secundário e terciário. A ideia é cobrir custos fixos como despesas com água, energia, tele-
ECONOMIA & SOCIEDADE / 21
fonia e salários. Outra ação foi o auxílio de R$ 200, com duração de três meses, para 50 mil famílias, aproximadamente, em situação de vulnerabilidade.
o repasse de uma renda mínima de R$ 300 a grupos menos favorecidos e a flexibilização do fornecimento de água a inadimplentes, além da prorrogação do pagamento de tributos e taxas municipais.
ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA A Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) reconheceu o estado de calamidade pública em Manaus. A partir de agora, o governo do estado poderá administrar o orçamento com mais liberdade para conter a Covid-19. O deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) concordou com a necessidade de recursos mais elevados, de posse do governo federal, para fazer jus à recessão. “Estados e municípios têm as suas limitações, embora o Estado tenha arrecadado no primeiro trimestre R$ 500 milhões a mais que no ano anterior. As demandas terão que ser negociadas com a sociedade e os diversos setores da economia”, declarou.
A principal ação da prefeitura foi a suspensão de despesas de pessoal por 120 dias no que diz respeito às contratações temporárias, nomeações de cargos comissionados e de concursados, horas extras, gratificações e benefícios aos servidores, com exceção da área da Saúde. A equipe econômica estimou uma economia de até R$ 500 milhões, número que cobre o rombo de R$ 350 milhões na arrecadação pública causado pela pandemia, segundo informou o prefeito.
PREFEITURA DE MANAUS O prefeito Arthur Neto (PSDB) adotou medidas parecidas como
Prefeito de Manaus Arthur Neto. Foto: Marcio James/Semcom.
O decreto passou a valer desde o dia 1º deste mês. A prefeitura estima uma entrada, em média, de R$ 400 milhões nos próximos meses, a partir do pagamento da folha dos servidores. A ação também determina a revisão dos contratos de serviços, no que se refere aos custeios, reduzindo 25% e estabelece essa meta de economia para todas as secretarias. O corte será feito por supressão ou renegociação contratual.
Os Executivos estadual e municipal ainda instalaram auxílios na alimentação das famílias que impactam no orçamento doméstico. No caso da prefeitura, uma bolsa de R$ 50 ao mês está sendo destinada aos alunos que dependiam da merenda escolar. Já no governo, doações de cestas básicas a grupos como idosos, Pessoas com Deficiências (PcDs) e artistas independentes. Instituições de caridade selecionadas pelo Governo ficam responsáveis pela distribuição dos alimentos.
AJUDA INSUFICIENTE Ainda que as medidas citadas ajudem grupos seletos em momentos distintos, especialistas criticam a ausência de uma coordenação entre o governo federal e estados e municípios. O economista Inaldo Seixas disse à Cenarium que é o Estado Brasileiro quem deve “se endividar para garantir a renda das indústrias e dos informais”. “Tudo o que entra numa família que não tem renda mínima a curto prazo para sobreviver é válido. Medidas de grande impacto deveriam ser do governo federal. [Este] é o momento em que o estado pode ao máximo aumentar a dívida pública para combater a pandemia”, disse. “A economia depende da atividade industrial. Com a Zona Franca parada, como vai demandar? Não existem empresas e bancos, ninguém vai querer dar”, completou o economista.
22 / ECONOMIA & SOCIEDADE
Casos do novo coronavírus na Amazônia Legal já ultrapassam 2 mil
RR 75
AP 222
AM 1050 50
AC 70
RO 32
Mapa da pandemia na Amazônia Legal. Atualizado em 11 de abril de 2020. Fonte: Ministério da Saúde
MA 344 20
PA 217
TO 23 MT 112
Número de casos Número de mortes
Luana Dávila. Da Cenarium.
A
Amazônia Legal tinha 2.145 casos confirmados da Covid-19 pelas autoridades de Saúde nos nove estados que compõem seu território, até o dia 11 de abril. O novo coronavírus já se espalha de forma intensa e descontrolada em alguns estados, e governadores procuram cada vez mais medidas para evitar que o vírus continue se proliferando com rapidez. Os dados são do Ministério da Saúde.
Formada por Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, Mato Grosso, Amapá, Maranhão e Tocantins, a Amazônia Legal Brasileira, apesar de ter a maior biodiversidade do planeta em flora e fauna, utilizada pela indústria farmacológica mundial, ainda não oferece a cura tão procurada para o vírus. O uso da cloroquina e seus derivados ainda é objeto de estudo, inclusive no Amazonas. Todos os estados já decretaram situação de calamidade pública e têm investido em políticas de
prevenção para enfrentar a pandemia, que já matou 1.124 pessoas no país e que soma quase 21 mil infectados. Entre as medidas está a higienização e restrição de aglomerações. Por enquanto, o único remédio é o endurecimento do isolamento social. AMAZONAS Amazonas, o maior estado da região com 1.571.000 km², já decretou estado de calamidade pública por 120 dias e confirmou 1.050
ECONOMIA & SOCIEDADE / 23
casos, entre eles, 50 mortes. A primeira delas foi a do empresário de Parintins, Geraldo Sávio, 49 anos. O primeiro caso registrado foi o da amazonense de 39 anos que viajou para Londres no mês de março. Segundo a Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), a paciente já está recuperada e fora do período de transmissão da doença. No estado, os servidores públicos acima de 60 anos e gestantes estão trabalhando de casa. Todos os eventos com aglomerações foram suspensos, incluindo o Campus Party Transire Amazônia, o maior festival de cultura digital do mundo. Os transatlânticos vindos de outros países também estão proibidos de desembarcarem em solo amazonense. As aulas das redes municipal e estadual também foram suspensas. Comércios, shoppings, bares, restaurantes, públicos e casas legislativas também foram fechados. A fronteira com a Colômbia, entre Tabatinga (AM) e Letícia foi fechada. *O estado faz divisa com Roraima, Rondônia, Acre, Mato Grosso e Pará. ACRE O acre teve 70 casos confirmados para o Covid-19. O governador Gladson Cameli (Progressistas) afirmou que o estado vai monitorar as fronteiras e o secretário de saúde, Alysson Bestene, pediu que os acreanos que estão chegando de outros estados ou países, principalmente, façam o esforço de ficar em casa por até sete dias, mesmo que não estejam com sintomas. *O estado faz divisa com Roraima apenas com o Amazonas. PARÁ Segundo maior estado da Amazônia, o Pará, tem 217 pessoas con-
taminadas. O governador Helder Barbalho (MDB), no dia 16 de março, decretou algumas medidas de prevenção à pandemia como proibição de aglomeração de mais de 500 pessoas, a dispensa de servidores para que realizem suas atividades home office, quando a mesma puder ser realizada de modo eletrônico ou telefônico, e a dispensa do grupo de risco. *O estado faz divisa com Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Amapá, Maranhão e Tocantins. MARANHÃO O governo do Maranhão também está adotando medidas preventivas e tem 344 casos confirmado do novo coronavírus. As mortes já passam de 20. No estado, as aulas forma suspensas. Restaurantes, bares e comércios também estão fechados, com exceção dos serviços de delivery e drive thru. *O estado faz divisa com Pará e Tocantins. RORAIMA O estado de Roraima confirmou 75 casos do Covid-19. Entre as principais medidas preventivas está o pedido de fechamento das fronteiras com a Guiana e a Venezuela, além da suspensão das aulas, com a antecipação das férias escolares do meio do ano e sem prejuízo para o calendário escolar, suspensão das visitas nos hospitais (acompanhantes não serão afetados) e sistema prisional. Apenas os serviços essenciais como farmácias, açougues, padarias e supermercados podem funcionar. *O estado faz divisa com Roraima Amazonas e Pará. MATO GROSSO A secretaria de Saúde do Mato Grosso confirmou 112 casos no
novo Covid-19. No último dia 25 de março, o estado decretou estado de calamidade pública. Com o documento, o governo fica dispensado de atingir os resultados fiscais e a limitação de empenho. Isso autoriza o estado a fazer despesas que não haviam sido previstas no orçamento, para conter a transmissão do vírus e oferecer os cuidados de saúde necessários. *O estado faz divisa com Amazonas, Roraima, Pará e Tocantins. TOCANTINS Em Tocantins, há 23 casos confirmados do Covid-19. No estado, foi criado um comitê preventivo para monitorar o coronavírus, onde todas as orientações da OMS serão seguidas. *O estado faz divisa com Amazonas, Mato Grosso e Maranhão. RONDÔNIA Em Rondônia, com 32 casos confirmados da doença, o governador Marcos José Rocha dos Santos decretou situação de emergência por 180 dias e os servidores que viajaram para outros países ou estados onde há maior número de casos, deverá permanecer em casa por 14 dias. Os funcionários que puderem trabalhar em home office, se liberados por seus superiores, também poderão trabalhar em casa pelo mesmo período. *O estado faz divisa com Amazonas, Mato Grosso e Pará. AMAPÁ No estado do Amapá, 222 pessoas testaram positivo para o Covid-19. O governo irá reforçar a vigilância na fronteira com a Guiana Francesa, além de seguir todas as recomendações preventivas dos órgãos de saúde. *O estado faz divisa apenas com o Pará.
24 / ECONOMIA & SOCIEDADE
Em alguns bairros de Manaus, o isolamento social tem tido pouca adesão. Foto: Divulgação/Internet.
Em situação crítica do Covid-19, AM insiste em ‘furar’ quarentena Bruno Pacheco. Da Cenarium.
A
pesar de o governo do Amazonas e a Prefeitura de Manaus terem publicado decretos proibindo a comercialização de produtos e serviços não essenciais para conter a disseminação do Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, moradores de Manaus insistem em furar a quarentena, período definido para que as pessoas ficassem em isolamento social até a redução do pico de contaminação. No dia 7 de abril, dezenas de comerciantes do Centro da capital amazonense vendiam alimentos que eram comprados por quem passava pelo local. “Ou eu ven-
do ou não levo alimentos para os meus filhos. Quarentena é para quem tem dinheiro”, disparou Carlos Silva, 43, vendedor de sucos, na Praça da Matriz, a principal do Centro. Já o vendedor de tucumãs, uma fruta típica da Amazônia, Joelson Gomes, 35, afirmou que ainda há clientes comprando a fruta, inclusive, sem a casca. “O amazonense não tem frescura não. Essa doença é para rico”, disse Gomes, ironizando o risco de contrair o Covid-19. Diariamente, fiscais da Secretaria Municipal de Feiras, Mercados, Produção e Abastecimento (Sempab) têm retirado os comerciantes do Centro da cidade e das zonas
400
Hospital universitário particular oferecerá 400 leitos.
ECONOMIA & SOCIEDADE / 25
periféricas da capital, mas eles retornam no dia seguinte. “Só a gente que sabe como é difícil ficar em casa sem ter o ganho das vendas. O que o governo (federal) está oferecendo para a gente não sair de casa (R$ 600) é esmola. Não se vive com isso”, declarou a vendedora de verduras, Jane Silveira, 43. REGISTROS A equipe de investigação epidemiológica do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs), da Prefeitura de Manaus, informou que realizou o monitoramento de 1.420 notificações de casos da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Desse total, 473 tiveram confirmação para a doença no município de Manaus e 862 foram descartados após resultado laboratorial, com 70 pacientes internados e 15 óbitos. No início de abril, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, disse que a situação do Amazonas era crítica e que havia um risco de colapso por conta da falta de leitos. Além do Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará estão nas mesmas condições. ALTERNATIVA Como alternativa à falta de leitos, o governo do Amazonas decidiu firmar parceria com um hospital universitário particular que oferecerá 400 leitos. O Complexo, onde
funcionou até recentemente um hospital de um plano de saúde, possui 6 blocos de um e dois pavimentos, totalizando 22 mil metros quadrados e estrutura completa para a montagem do hospital que substituirá num primeiro momento a necessidade de contratação do hospital de campanha. A Susam, porém, já trabalha na projeção do hospital de campanha, mas para a terceira fase do plano, que vai depender do comportamento da epidemia no Estado. A unidade vai dar retaguarda ao Hospital Delphina Aziz, na zona Norte de Manaus, que centraliza o tratamento da doença, com leitos clínicos, quando o hospital estiver com sua capacidade esgotada. FAMILIARES No Hospital Delphina Aziz, pouco se viu a presença de familiares de pacientes. A maioria tem receio de acompanhar o parente e contrair a doença, como afirmou a professora Jucilene Almeida, 28 anos. “Não é que a gente haja com negligência, mas há muito medo na nossa família que no momento do acompanhamento, alguém seja contaminado e piore”, afirmou, com o primo de 28 anos internado em estado grave. O mesmo medo mostrou o industriário Marinaldo Santiago, 34, que está com a sobrinha adolescente isolada. “A gente torce que ela fique boa logo, mas infelizmente não estamos tendo condições de estar todos os dias aqui. O medo é muito grande”, disse.
RESPIRADORES O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-A), José Bernardes Sobrinho, defende que a preocupação maior com o Covid-19 deve ser com o risco de falta de respiradores e não com leitos. “O leito é importante para a alocação, mas o que salva vida são esses equipamentos que estão começando a acabar no estoque e com falta em todo o país”, declarou. Hoje, entre casos de infectados pelo novo coronavírus e pacientes com síndromes respiratórias, 55% dos respiradores estão ocupados. A Moto Honda da Amazônia irá ajudar no desenvolvimento de um protótipo de respirador artificial para atender emergências no transporte de pacientes com deficiência respiratória, com o objetivo de atender ao provável aumento de demanda desse tipo de atendimento causada pela disseminação no país da Covid-19, doença causada pelo coronavírus. A empresa assinou, no início desse mês, um termo de cooperação técnica com o Governo do Amazonas e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) para desenvolver o aparelho.
26 / ECONOMIA & SOCIEDADE Indústrias sofrerão com impacto da pandemia de Covid-19. Foto: Antonio Pinheiro/GERJ/Fotos Públicas.
Empresas do PIM se preparam para a crise pós-pandemia Stephane Simões. Da Cenarium.
N
o Amazonas, em média, 85% das empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM), reportaram medidas de enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19), segundo informou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Aproximadamente 15% das indústrias já entraram em férias coletiva, enquanto ao menos 35% das empresas já reduziram a produção, devido à falta de componentes. Algumas dessas empresas adotaram ações como férias parciais das linhas mais afetadas ou licença remunerada.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, afirmou à Cenarium que, entre os fabricantes da Zona Franca de Manaus (ZFM), o mais afetado será o setor de eletroeletrônicos. Porém, para ele, ainda é muito prematuro apontar os impactos que a economia deve sofrer, visto que o Amazonas ainda se encontra em meio à pandemia. “O que há são previsões e estimativas que não podem ser consideradas, visto que ainda não temos uma certeza de até quando teremos que ter parte da indústria local paralisada, bem como não
temos ideia de qual será o nível de produção desse período nem o valor de faturamento. A única certeza é que teremos uma queda considerável na produção e faturamento”, afirmou Silva. Em relação a estudos que possam buscar medidas para amenizar o impacto econômico no Estado, o presidente da Fieam pontuou que é necessário que haja um levantamento da economia local, em todos os setores. “Para isso, existe a necessidade de que os órgãos públicos forneçam os dados do período, o que achamos que deve demorar um pouco, porque eles também fo-
ECONOMIA & SOCIEDADE / 27
ram obrigados a entrar em recesso”, acrescentou Antônio Silva. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a produção de eletroeletrônicos, no Brasil, caiu 7% no mês de fevereiro deste ano, comparando ao mesmo mês do ano passado, por conta de problemas no recebimento de materiais, componentes e insumos vindos da China. Ainda conforme a Abinee, 30% das empresas acreditam que não irão cumprir o planejado para o primeiro trimestre deste ano, o que deve apresentar uma quebra de 34% para o setor, em todo o país. Para o economista Inaldo Seixas, do ponto de vista da produção, o PIM deve acompanhar impactos que ocorrerão no cenário mundial, não necessariamente apenas no Brasil, por conta dos insumos que vêm de outros países. Porém, é necessário buscar medidas para que o país, na pós-pandemia, consiga recuperar as demandas e os impactos da crise, para que se possa sair em um espaço de tempo mais ajustado possível. “Nós não temos ainda uma base da profundidade, pois estamos no meio da crise. O parâmetro mais próximo para fazer uma analogia seria a crise financeira de 2008, que muitos países custaram muito a sair daquela situação. A crise no Brasil e no PIM vai depender das políticas econômicas adotadas pelo governo atual. Pelo o que estamos vendo, o governo atual, já de início, não acreditava que a crise teria essa magnitude que estamos tendo”, pontuou. Seixas acredita que o PIM pode sofrer muito mais com políticas internas adotadas no Brasil. “No caso do Distrito Industrial, se a política do Brasil for errada, nós sofreremos com isso, pois nós de-
pendemos da demanda do país. Se as pessoas não retomarem seus trabalhos, suas rendas, o Distrito também vai acompanhar essa situação”, ressaltou. Segundo o economista, o que vai definir o tempo em que o País viverá em crise pós-pandemia são as políticas adotadas o quanto antes, enquanto estamos em meio a proliferação do vírus. “Os governos de cunho neoliberal não vão tirar nenhum país da crise, precisamos voltar à políticas keynesianas, políticas que dizem que é necessário que o estado aumente o gasto público para investir e manter a demanda. Existe a possibilidade de que essa crise tenha um impacto grande, mas que a gente possa ter uma saída em ‘V’”, explicou. “Nós vamos no fundo, mas teremos uma subida muito alta, como foi feito no Brasil de 2008, que no ano seguinte houve um grande crescimento no PIB. Ou pode ter uma saída dessa curva em ‘U’, quando você sai e fica lá embaixo por muito tempo”, afirmou. SUFRAMA ESTUDA POSSÍVEIS IMPACTOS O setor de estudos econômicos da Suframa tem emitido, semanalmente, nota técnica apontando medidas que podem ser adotadas no PIM em meio à pandemia, demonstrando riscos, desafios, fraquezas e oportunidade em três cenários. A nota emitida no dia 31 de março diz que, no primeiro cenário, é dar continuidade à produção. Porém, uma das fraquezas é a dependência de insumos da China, o que forçaria a paralisação de algumas linhas de produção ou fábricas inteiras. Neste cenário, o estudo visa
oportunidades para produtos com aumento nas demandas. No caso, o polo químico, relacionado à limpeza e higiene, medicamentos, produtos alimentícios e materiais hospitalares, poderiam manter a produção em alta. No segundo cenário, a nota técnica aponta o impacto que o PIM sofreria com a paralisação da produção por curto prazo, por até três meses, situação semelhante à China. Para a Suframa, essa medida impactaria diretamente na estratégia comercial das empresas, no fluxo de caixas, além de demissões ou suspensão de salários, o que afetaria a arrecadação federal, estadual e municipal drasticamente. O terceiro cenário apresenta o impacto nas indústrias com uma paralisação da produção por seis meses, caso a pandemia perdure. O estudo diz que tal pausa traria péssimas consequências para o PIM, que teria uma recuperação lenta. Além disso, ocasionaria, ainda, demissões em massa e fechamento de fábricas.
15% No PIM, aproximadamente 15% das indústrias já entraram em férias coletiva por conta da pandemia.
28 / ECONOMIA & SOCIEDADE
Instituto Transire obteve decisão judicial para usar verba de P&D na fabricação de respiradores. Foto: Divulgação.
Empresa da ZFM é autorizada pela Justiça a usar dinheiro de P&D para o combate ao Covid-19 Com informações da Assessoria.
A
empresa Transire Fabricação de Componentes Eletrônicos LTDA., do Polo Industrial de Manaus (PIM), conseguiu no dia 3 de abril, através de uma ação perante à Justiça Federal, impetrada por meio do escritório de advocacia Almeida & Barretto, autorização para que a empresa aplique a verba de R$ 25 milhões, que seria repassada para a Suframa, na fabricação de respiradores para auxiliar o combate ao Covid-19. Essa verba, originalmente, seria destinada para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O repasse, que é uma condicionante da Superin-
tendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Como é sabido cada setor empresarial que atua no Polo Industrial de Manaus é obrigado a aplicar anualmente um determinado percentual do seu faturamento bruto no mercado interno decorrente da fabricação de determinadas mercadorias consideradas incentivadas na Amazônia, sendo condicionado a cada empresa apresentação de um “Programa Anual de Aplicação em Pesquisa e Desenvolvimento”. “Estamos assolados com a pandemia do Coronavírus (Covid-19), sob um Decreto de Calamidade Nacional e Estadual, com
vidas ceifadas e uma crescente no número de casos suspeitos no país. Algumas multinacionais e grandes empresas no Polo Industrial de Manaus que possuem milhares de funcionários irão paralisar, sendo obrigadas a conceder férias coletivas. Apenas com o movimento dessas poucas empresas já se atinge cerca de 26 mil pessoas”, disse o advogado Eduardo Bonates, do escritório Almeida & Barretto. O advogado afirma que se trata de controle de danos à economia do Estado do Amazonas diante da importância que a empresa representa para o Polo Industrial de Manaus, a qual optou por preser-
var a vida humana dos seus funcionários, mas que necessita manter tais empregos diante da atual crise de saúde e econômica. Na decisão judicial, ficou estabelecido que o pagamento da dívida pode ser postergado, mas que a empresa terá de aplicar o dinheiro devido em ações de combate à pandemia. A empresa Transire juntamente com a empresa Samel, está desenvolvendo um protótipo do equipamento, que deve ficar pronto ainda neste fim de semana e começará a ser fabricado em série, logo após sua aprovação.
Advogado Eduardo Bonates, do escritório Almeida & Barretto. Foto: Divulgação.
O pneumologista Gilmar Zonzin, presidente da Sociedade de Pneumologia do Rio de Janeiro até 2017 e atualmente coordenador do serviço de doenças respiratórias da Casa de Saúde de Santa Maria, em Barra Mansa, explica que o respirador é acionado nos casos mais graves da Covid-19 para dar tempo de o organismo do paciente se recuperar, e a pessoa sobreviver. “Cada respirador é uma vida. Se o sistema de saúde não tiver o respirador disponível, as pessoas com insuficiência respiratória grave vão morrer”, disse o especialista.
“
ECONOMIA & SOCIEDADE / 29
Estamos assolados com a pandemia do coronavírus, com vidas ceifadas e uma crescente no número de casos suspeitos no país” - Eduardo Bonates, advogado.
30 / ECONOMIA & SOCIEDADE
Pesquisa do Amazonas com uso de cloroquina apresenta resultado preliminar Luiz H. Oliveira. Da Cenarium.
O
resultado preliminar dos estudos que o pesquisador Marcus Lacerda tem desenvolvido na pesquisa clínica ‘CloroCOVID19’, nas dependências da Fundação de Medicina Tropical, na capital do Amazonas, mostram que a aplicação de doses mais baixas diárias da cloroquina em pacientes graves é menos letal. A pesquisa visa avaliar a eficácia da medicação Difosfato de Cloroquina em pacientes com diagnóstico de doença respiratória grave. O estudo é feito com pacientes internados no pronto-socorro
Delphina Aziz, em Manaus, e deve atingir mais de 400 indivíduos de ambos os sexos e idade entre 18 e 80 anos, que não apresentem contraindicações à Cloroquina. “Vamos testar diferentes doses da cloroquina [em pacientes internados]. Estamos fazendo essa análise todos os dias”, afirma Marcus Lacerda. Os participantes são divididos de forma aleatória em dois grupos, onde um recebe Difosfato de Cloroquina e o outro placebo. No dia 6 de abril, Lacerda anunciou que a primeira grande conclusão é que a aplicação de doses mais baixas diárias da cloroquina em pacientes graves é me-
nos letal. “A cloroquina, numa dose mais alta, pode dar arritmias graves e levar à morte”, disse o infectologista. O pesquisador explica que ainda é cedo para tirar conclusões sobre a real eficácia do medicamento. Do total de 81 pacientes no estudo, 11 morreram de Covid-19. A letalidade identificada nos estudos do Amazonas é, em média, de 13%, abaixo do restante do mundo, onde este índice tem ficado entre 18% e 20%, segundo Lacerda. A pesquisa clínica liderada por Lacerda, conta com apoio de outros 40 pesquisadores de quatro instituições do Estado.
A cloroquina tem sido testada em pacientes em estado mais grave. Foto: Divulgação/FMT-HVD.
ECONOMIA & SOCIEDADE / 31 Cestas básicas são destinadas a catadores. Foto: Divulgação.
Economistas de Manaus fazem campanha de doação para ajudar catadores e já entregam as primeiras cestas básicas Com informações da Assessoria.
N
esse período de pandemia pelo novo Coronavírus, muitos segmentos estão passando por extrema dificuldade para continuar produzindo e gerando renda para garantir o seu sustento e o de suas famílias por conta do isolamento social. É o caso dos catadores de materiais recicláveis. Com a finalidade única de ser uma “mão amiga” neste momento de crise, não só na saúde, mas também na economia, duas economistas de Manaus iniciaram uma campanha de solidariedade nas redes sociais para a compra de cestas básicas. As primeiras remessas de doações às famílias de catadores da cidade que fazem parte do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis foram entregues na primeira semana de abril. “Temos em torno de 300 famílias
de catadores que precisam da nossa ajuda. São eles os responsáveis pelo recolhimento de itens que descartamos, evitando que parem nas ruas e que entupam bueiros e poluam igarapés. Estamos arrecadando as doações e já repassando para essas famílias. Quem tem fome não pode esperar”, explicou a economista e vice-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Denise Kassama, que junto com a também economista Gleisa Bessa, professora universitária, está encabeçando essa ação social. Ela disse que a campanha continuará enquanto a população precisar ficar em isolamento social. E conclama toda sociedade a se unir aos economistas e ajudar esse segmento que tanto está necessitando. “O poder público começará a fazer a sua parte, com uma pequena ajuda, que, tenho certeza, fará muita diferença na
vida dessas famílias. Mas, nós, enquanto sociedade, também precisamos fazer a nossa parte e dividir o pouco que temos com quem nada tem. Nossa corrente de solidariedade irá continuar. Por isso, convidamos toda a população a se unir conosco para a compra de mais cestas básicas”, frisou Denise, destacando que quem quiser fazer a sua doação pode entrar em contato pelos telefones 99383-3582 ou 999827132 para obter mais detalhes sobre como proceder.
“
Quem tem fome não pode esperar”
- Denise Kassma, economista e vicepresidente Cofecon.
32 / ECONOMIA & SOCIEDADE
No AM, empreendedores se reinventam em meio à crise de Covid-19 Carolina Givone. Da Cenarium.
M
anter a liquidez das finanças e os negócios rodando, são alguns desafios dos empreendedores manauaras em meio à pandemia do novo coronavírus. Empresas que dependiam do fluxo de clientes para realizar vendas em pontos físicos, precisaram se reinventar. Com isso, uma das saídas encontradas, foi o delivery, serviço de entrega à domicilio, e que se tornou a solução mais viável para aquecer a economia. Um levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em março, apontou que mais de 30% das empresas de todos os setores já sentiram os
impactos da pandemia. Na pesquisa, o setor da indústria representa 43% de perdas, seguida do comércio com 35% e serviços com 30,2%. Na projeção da FGV, os efeitos negativos ainda devem perdurar pelos próximos meses; aumentando os percentuais em 68,5% da indústria, 59,1% do comércio e 49,7% dos serviços. Dentro do universo comercial, Taynara Fernandes, proprietária da loja de confecções “Barezinha”, conta que mesmo antes dos impactos do isolamento social, já realizava atendimentos virtuais. Os preços das roupas comercializadas pela loja dela variam de R$15 a R$150. “A minha loja física, recém-inau-
gurada, fica localizada no Aleixo [zona centro-sul de Manaus]. No entanto, trabalho com moda feminina, virtualmente desde 2014. O movimento na loja física, não é tão intenso, mas conseguia manter meu faturamento. Na parte de divulgação da loja, procuro sempre estar postando mensagens, enquetes e outras formas de interação, visando melhorar o engajamento da página”, comentou. Sobre as dificuldades relatadas, Taynara explica que se deram, justamente pela falta de fluxo social na cidade. As proibições de aglomerações como show, festas e aniversários refletem na escassez da procura por roupas novas. “A
Casal Douglas Bartz e Rebecca Melchior, adptaram seu negócio para enfrentar crise da pandemia. Foto: Acervo Pessoal.
ECONOMIA & SOCIEDADE / 33
única barreira que enfrentamos como loja de roupas femininas é a falta de eventos, festas e demais interações sociais. Dessa forma, as mulheres não estão saindo de casa e se arrumando, portanto, não têm aquela ‘necessidade’ de comprar uma roupa nova. O movimento parou por conta disso, mas continuamos vendendo. Faço promoções e aos poucos estamos girando o estoque. Espero que isso passe logo”, desabafou. LANCHE SAUDÁVEL EM CASA As feiras sustentáveis realizadas de maneira itinerante em Manaus, que atraiam dezenas de adeptos ao consumo consciente, eram o ambiente de vendas dos salgados veganos do casal Douglas Bartz e Rebecca Melchior. E assim como outros empreendedores do ramo alimentício, desde o cumprimen-
to do decreto estadual que proíbe a abertura comércio e serviços não essenciais, o casal tem seguido com o serviço de entregas. Douglas explica a mudança ocasionada pelo vírus na rotina de produção dos pedidos de salgados. “Antes do vírus, trabalhávamos em várias feiras pela cidade, pelo menos umas três vezes por semana. Possuímos produtos que variam de R$3 a R$20. E o nosso faturamento sempre esteve atrelado ao fluxo de pessoas. A nossa adaptação tornou as nossas redes sociais nosso novo fluxo de clientes. Lá pessoas novas e conhecidas nossas, pedem diretamente e recolhemos esses pedidos durante a semana toda, até segunda-feira à noite. Nas quartas-feiras nós saímos para entregar todos os pedidos”, comentou. O empreendedor conta que a adaptação da produção caseira não
aconteceu somente na entrega do produto final, mas também na reestruturação da cozinha do casal, que passou a ser industrial para adequar o trabalho. “Somos apenas minha esposa e eu. Produzimos tudo em casa, adaptamos nossa cozinha para o modelo industrial”, finaliza.
30% Levantamento da FGV de março, apontou que mais de 30% das empresas já sentiram os impactos da pandemia.
PALAVRA DO ESPECIALISTA O economista Ailson Rezende, formado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), explica que independente dos produtos, tudo pode ser comercializado pela internet. Para ele, a internet mudou a forma de convívio na sociedade atual, bem como modificou a forma de comercializar e de consumir e ainda criou novos nichos de mercado. “A venda de comida pronta pela internet é uma nova forma de comércio e uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro e fazer sucesso. Outra vantagem sobre vender comida pela internet é o baixo custo do empreendimento. Fazer a produção na própria residência implica em custos baixos. Deixando um lucro maior e que pode ser investido em material de qualidade para a produção de uma alimentação saborosa, higiênica e barata, alcançando um público cada vez maior”, explica. Rezende ressalta que diante da pandemia do coronavírus, todo cuidado é pouco. “Devem ser tomados alguns cuidados para garantir a saúde dos clientes. Mesmo que até o momento, nenhum estudo comprove que a comida transporta o vírus, o importante é dar preferência às embalagens de papelão pelo tempo de vida do vírus no material”.
34 / POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS
Auxílio aluguel está mantido para exmoradores da comunidade Monte Horebe que assinaram acordo, diz Suhab Pagamento faz parte de processo de reintegração de posse Com informações da Assessoria.
A
o acatar o pedido da Defensoria Pública Especializada em Interesses Coletivos (DPEIC), a diretora-presidente da Superintendência Estadual de Habitação (Suhab), Keilla Cristina Cunha da Silva, afirmou à Revista Cenarium que o pagamento do auxílio-aluguel das famílias que residiam na Comunidade Monte Horebe, está mantido e foi realizado no dia 10 de abril. No dia 23 de março, a Defensoria Pública Especializada em Interesses Coletivos encaminhou um ofício para a Suhab pedindo a garantia de manutenção do pagamento do auxílio-aluguel às famí-
lias durante o período da pandemia. O intuito era que, com base nas respostas, a Defensoria pudesse repassar as informações aos assistidos, que continuam sendo acompanhados, em cumprimento ao acordo firmado com o Governo do Amazonas. “O pagamento do auxílio-aluguel para as famílias do Monte Horebe está mantido, não será afetado em nada. Todo o questionamento que foi feito pela DPE, nós respondemos por meio de ofício informando que nós estávamos fazendo um levantamento para informar o que precisava”, disse a diretora-presidente da Suhab à Cenarium.
Segundo a Suhab, para receber o benefício, que é uma ordem bancária nominal, os moradores poderão ir em qualquer agência do Banco Bradesco, portando RG e CPF e apresentar Certidão de Casamento e/ou Averbação de Divórcio, em caso de mudança de nome. A previsão era de que até o dia 9 de abril uma lista com os nomes dos moradores aptos a receber o benefício fosse divulgada na página da Superintendência. OCUPAÇÃO É A MAIOR DA CAPITAL O processo de reintegração de posse da Comunidade Monte Horebe terminou no dia 2 de março de 2020. Um acordo coletivo foi firmado entre a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), a Suhab e a Procuradoria Geral do Estado do Amazonas (PGE), no qual ficou definido o pagamento provisório de auxílio-social, para que as pessoas afetadas pudessem ter direito à moradia digna. Segundo a DPE-AM, das 2.204 famílias que firmaram o acordo individual com a Suhab e o Estado do Amazonas durante a ação, 99% receberam, no dia 10 de março, a primeira parcela do auxílio-aluguel, no valor de R$ 600. IMPACTO AMBIENTAL
Defensoria Pública do Estado, presta atendimento a famílias do Monte Horebe. Foto: Clóvis Miranda/DPE-AM.
Além da questão social, a ocupação na área onde ficava a comu-
POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS / 35
Atendimento da Defensoria a moradores do Monte Horebe. Foto: Clóvis Miranda/DPE-AM.
nidade Monte Horebe envolve problemas ambientais. A equipe técnica da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) está fazendo um levantamento dos impactos ambientais na região. Durante o processo de reintegração de posse, a equipe do órgão realizou um sobrevoo, com uso de drone, para identificar a área total afetada e avaliar a quantidade de resíduos sólidos deixados no local após a desocupação. Posterior ao levantamento das áreas antropizadas - isto é, que tiveram as características originais de solo, vegetação e relevo modificadas pela ação do homem -, a equipe da Sema realizará o processamento das imagens de drone para gerar mapas de alta resolução que, por sua vez, vão auxiliar nas ações de recuperação ambiental do espaço. Segundo o último mapeamento geoespacial executado pela Secretaria, em setembro de 2019, a área total do Monte Horebe ocupava cerca de 140 hectares, o equivalente a 200 campos de futebol. As informações do levantamento serão utilizadas, também, para elaboração do relatório de impacto ambiental da Sema, contendo dados do plano de recuperação ambiental das áreas afetadas e um cronograma de atividades para recuperação das funções ecológicas do ambiente, caso seja necessária.
2.204 Na ação de reintegração de posse, firmaram acordo individual 2.204 famílias.
36 / MUNDO & CONFLITOS INTERNACIONAIS
Covid-19: amazonenses contam como é enfrentar a pandemia no exterior
Michele Portela. Da Cenarium.
B
RASÍLIA – Há quase dois meses da primeira confirmação da presença do novo corona vírus no Brasil, o Covid-19 já matou mais de 700 pessoas no país e há milhares de infectados. O vírus fechou fronteiras, suspendeu eventos, fez o mundo entrar em quarentena, lota hospitais e mudou a rotina de todos que fogem da infecção. Apesar do drama que bate à porta, a realidade é ainda mais preocupante para muitos amazonenses que, em terras estrangeiras, convivem com a pandemia há mais tempo. A revista Cenarium conversou com quatro amazonenses que estão confinados nos países onde o vírus já causa centenas de mortes por dia, para onde eles foram em busca de realizações pessoais. Em seus relatos, a expectativa por dias sem crises políticas e sanitárias, rotinas de quarentena e o olhar de quem acompanha, de longe, a chegada da pandemia à sua terra natal. Um dos que vive o dilema é Rino Soares, professor de língua portuguesa e cultura brasileira na Nottingham University, na região homônima, na Inglaterra. Ele esperava receber a visita da mãe para as férias de verão em junho, mas os planos foram totalmente alterados. A cidade de Nottingham segue as regras de “lockdown” – trancar o país - implementadas na Inglaterra. “A universidade está vazia, porque as aulas presenciais foram suspensas e adotamos o trabalho on line. Moro num apartamento no campus, saio uma vez a cada três dias para ir ao mercado e percebo todo o restante do comércio fechado. Não vejo pânico entre os ingleses, estão calmos e seguindo vida. Não dá pra esquecer que se
trata de um país que já passou por duas guerras mundiais”. Ao olhar para o Brasil, o professor é contundente na sua observação. “Com o lockdown, apenas supermercados, farmácias e postos de combustíveis podem estar abertos. E a grande diferença entre a Inglaterra e o Brasil é que não há absolutamente nenhum setor da sociedade protestando a favor de voltar a trabalhar, embora haja preocupação com trabalhadores autônomos e profissionais liberais, mas não que determinada parcela da população seja contra o isolamento”, diz. Desde a Itália, um dos países mais atingidos pela pandemia, a jornalista Astrid Lima faz coro à crítica de Rino. “É totalmente necessário o isolamento radical das pessoas, mantendo apenas os setores essenciais em funciona-
“
É totalmente necessário o isolamento radical das pessoas” - Astrid Lima, jornalista.
A jornalista Astrid Lima está em isolamento desde março na Itália. Foto: Acervo pessoal.
MUNDO & CONFLITOS INTERNACIONAIS / 37
A relações públicas Maurília Gomes vive em Portugal. Foto: Acervo Pessoal
mento. Além disso, é fundamental garantir a logística e reorganização das estruturas hospitalares, e tomar medidas econômicas imediatas que permitam ao povo permanecer em casa sem passar fome. É preciso abrir o cofre sem hesitação”, ressalta. Para Astrid, evitar tomar tais medidas elevaria a taxa de mortalidade e comprometeria a credibilidade do governo perante o povo. “Não há como esquivar-se desse trinômio que deve ser atuado contemporaneamente. Evitá-lo não é apenas irresponsável, mas criminoso. Em tudo isso, os governos devem arquivar polêmicas políticas e disputas internas e agir com clareza, unidade, transparência”. Veletri, cidade há 40km de Roma, onde mora a jornalista, está em isolamento desde março, e pessoas que saem às ruas sem justificativa podem ser multadas. Há 24 casos positivos, com 11 internados, e uma onda de mortes que assola a Itália. “A realidade foi algo realmente assustadora, violenta, para a qual não estávamos preparados. Inicialmente, a situação é surreal,
RELATO - MAURÍLIA GOMES, RELAÇÕES PÚBLICAS O governo de Portugal decretou o estado de emergência em 18 de março (e renovado por mais 15 dias em 1º de abril), mas eu já estava em isolamento voluntário desde o dia 11 do mês passado. Aqui, a maioria da população tem seguido as recomendações de se manter em casa o maior período de tempo possível e os comércios que ainda permanecem abertos também têm organizado o atendimento de forma a seguir o distanciamento dos clientes. O governo não proibiu a circulação nas ruas, mas a polícia tem feito o trabalho de monitoramento e até de repressão em alguns casos de aglomeração de pessoas para além do permitido (o decreto atual prevê limitação de circulação na via pública, sendo permitidas apenas deslocamentos para fins profissionais, para assistência a terceiros, para obtenção de cuidados de saúde).
mas quando se multiplicam os mortos, tudo se torna assustador. Apesar de estamos traumatizados e cansados, vivemos um momento de unidade nacional de forma impressionante”, explica. Em auto isolamento desde fevereiro, Astrid não se calou diante da iminência da pandemia no Brasil. “Comecei a falar com o máximo de pessoas no Brasil, porque era uma obrigação moral, e não me interessava a cor da bandeira política da pessoa, isso é uma questão secundária agora. O mais importante era explicar que o que vivíamos na Itália era o futuro deles dali a poucas semanas. E eu estou contente porque boa parte dos familiares e amigos começaram a sensibilizar. Não é só uma gripezinha”. Ela faz um apelo aos amazonenses. “Todos estamos passando por um treinamento forçado para aprendermos a superar a pandemia. É preciso ter disciplina, não entrar em pânico, com instituições que tragam essa ideia de equilíbrio, porque é muito fácil perder essa referência numa situação de emergência”.
Nos Estados Unidos, a também jornalista Josely Fahrendorff, moradora do Estado do Arkansas, ressalta que não há mortes causadas pela pandemia na cidade, mas que o isolamento social também é a principal ação para evitar um possível quadro grave da doença na cidade. Ela trabalha na rede Walmart, que ofereceu home office aos funcionários, e também com entrega de alimentação. “Restaurantes e lanchonetes basicamente funcionam com drive-thru e os clientes estão pedindo para deixar a comida no chão, na porta. Então é relativamente seguro. Mas tenho ficado muito com medo quando chego em casa. Se sinto a minha respiração ofegante, já me apavoro e digo que não vou mais sair, mas não me obedeço”, relata. A rotina da cidade mudou completamente. “Os supermercados não abrem mais 24 horas. Eles abrem às 7h e fecham às 20h, com exceção das terças, quando abrem às 6h para os idosos. Como funcionária do Walmart, eles nos deram a opção de ficar em casa por duas semanas, sem receber”, disse Josely.
38 / MUNDO & CONFLITOS INTERNACIONAIS
Declarações de pessoas ligadas a Bolsonaro têm desagradado governo chinês. Foto: Estadão.
China ameaça corte no comércio se aliados de Bolsonaro insistirem em hostilidades Com informações de Agências.
O
chefe da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, Charles Andrew Tang, afirmou estar preocupado com a sucessão de atritos na relação entre os dois países em meio à pandemia do novo coronavírus. Os desentendimentos têm sido causados por comentários de pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As informações são do Uol. “Não adianta ficar atiçando um país que só quer o bem do Brasil”, afirmou Tang ao Uol. Em nota, a Embaixada da China também deixou claro seu descon-
tentamento e citou haver “influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais”. O país asiático é o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. Charles Tang alertou ainda que a China é o maior fornecedor de equipamentos médicos. “Nessa guerra atual contra o vírus, o mundo inteiro depende da China. Mesmo que se decida produzir localmente equipamentos fundamentais, como os respiradores, as peças e componentes de produção vêm da China”, afirmou ao Uol. Tang também ressaltou a importância da experiência chinesa
contra o coronavírus. “A epidemia foi derrotada na China em quatro meses. Não é hora de países ficarem trocando acusações”, disse. No início de abril, uma postagem do ministro da Educação, Abraham Weintraub, nas redes sociais provocou tensão entre Brasil e China. O ministro ridicularizou o sotaque dos chineses e depois disse que só pede desculpas à China por sua “imbecilidade”, se o país fornecer respiradores ao Brasil. Anteriormente, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, já havia responsabilizado a China pela pandemia, em uma rede social.
ENTRETENIMENTO & CULTURA / 39
Em alta, TikTok ameaça gigantes das redes sociais Com informações das Agências.
E
m vídeos de 15 segundos, Letícia Gomes, 25, é capaz de se transformar em famosos como Fátima Bernardes e Silvio Santos. O disfarce tem um tanto de maquiagem e outro tanto de tecnologia. Isso porque as imagens são gravadas, editadas e publicadas num só aplicativo: o da rede social chinesa TikTok. Na plataforma, cheia de filmetes ágeis e animados, Letícia tem mais de 3 milhões de seguidores. Está longe de ser um caso isolado: no Brasil, vários criadores de conteúdo da rede (os ‘tiktokers’) têm público na casa de sete dígitos, o que já preocupa gigantes das redes sociais, como o Facebook. “Meu propósito não é ensinar as pessoas a se maquiar, mas sim entreter”, diz Letícia, que fatura
R$ 10 mil por mês com suas criações. Ela também tem canais no Instagram e no YouTube, mas a maior parte do que ganha vem do TikTok. O Tik Tok nasceu do Musical.ly – app americano que foi comprado pela chinesa Bytedance e deu origem ao novo aplicativo, que soma hoje 500 milhões de usuários. A Bytedance, avaliada em US$ 75 bilhões, vale mais que o dobro de Twitter e Snapchat juntos. Segundo Letícia, o movimento na rede nunca foi tão alto. Em tempos de distanciamento social, com mais gente em casa, a procura por distração aumentou. Globalmente, as buscas pelo TikTok no Google cresceram 66% em março. No Brasil, o interesse triplicou. As pesquisas se converteram em downloads: entre setembro de
Tik Tok tem ganhado muitos adeptos durante pandemia. Foto: Divulgação.
500
milhões O Tik Tok tem 500 milhões de usuários em todo o mundo.
2019 e março de 2020, o número de vezes que o TikTok foi baixado no Android (usado por 9 entre 10 celulares do País) subiu 700%, segundo a consultoria AppAnnie. Analistas concordam que o TikTok deve ficar ainda maior depois da pandemia. Parte da força do app está em sua própria proposta, com vídeos curtos e ferramentas de edição espertas – tendência da internet nos últimos anos, lançada por apps como o Snapchat e copiada por Facebook e Instagram. Diferentemente do Snap, porém, o TikTok soube se apoiar na música para se catapultar. “Foi uma conexão que ajudou o app no mundo todo. Hoje, muitos desafios são criados por cantores e gravadoras que querem promover potenciais hits”, diz Edney Souza, diretor acadêmico da Digital House e especialista em redes sociais.
40 / VIAGEM & TURISMO
Barcelos: fronteira da pesca esportiva na Amazônia nativa Michele Portela. Da Cenarium
“Q
ueremos consolidar Barcelos como a capital brasileira da pesca esportiva”, diz o prefeito do município, Edson Mendes. A meta ousada teve o start no Carnaval deste ano, em fevereiro, quando
foi realizado o 1º Torneiro Internacional da Pesca Esportiva de Barcelos, numa parceria inédita com a Federação Amazonense de Pesca Esportiva. “A ideia é que o torneio aconteça todos os anos, no período do Carnaval, como parte do calendário de
Barcelos quer se tornar capital brasileira da pesca esportiva e aumentar seus ganhos com esse tipo de turismo. Foto: Frank Garcia.
eventos do município. A expectativa é atrair milhares de participantes, do Brasil e de outros países de onde já recebemos turistas. O cenário atual é de concentrar esforços para consolidar Barcelos como destino internacional da pesca esportiva”, explica o prefeito.
VIAGEM & TURISMO / 41
Barcelos está localizado a 396km de Manaus, capital do Amazonas, à margem direita do Rio Negro, e é o local de maior concentração de tucunaré da Amazônia, por isso mesmo, é bem quisto entre pescadores de peixes dessa espécie de todo o país. “Não temos dúvidas sobre a nossa capacidade de realizar o torneio e receber os turistas, mas estamos trabalhando para qualificar o trade turístico e melhorar a infraestrutura hoteleira da região para atrair mais turistas”. De acordo com levantamento realizado pela Federação de Pesca no Amazonas, a temporada, que vai de julho a março, atraiu mais de 6 mil turistas em 2017, chegou a 8 mil no ano seguinte, e ultrapassou a marca de 10 mil turistas em 2019. Em termos econômicos, os números ainda mostram que a pesca esportiva movimenta cerca de R$ 10 milhões no município e R$ 70 milhões em todo o Estado. Mas não apenas brasileiros se dirigem a Barcelos no período da pesca. Parte significativa dos turistas vem da Ásia, Europa e Estados Unidos. Eles costumam se dividir entre as sete rotas de pesca que compõem o circuito turístico da região, conforme mapeamento da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur). O fator que mais atrai turistas é que, nas sete rotas existentes, é possível encontrar todas as espécies de tucunaré, diversidade que só existe no município cravado no Rio Negro. “O turismo de pesca não para de crescer. A temporada de pesca emprega em Barcelos aproximadamente 2 mil pessoas. Os oito hotéis da cidade ficam lotados e em alguns dias o aeroporto chega a receber mais de dez aeronaves. É um ritmo que chama atenção. O torneio dará uma visibilidade ain-
da maior ainda à região”, diz o presidente da Federação Amazonense de Pesca Esportiva, Jorge Manarte. TORNEIO Além da participação dos grupos de pesca do Estado, o evento contou com premiação superior a R$ 500 mil. Além disso, teve cobertura de canais de televisão especializados em pesca esportiva e a participação de pescadores conhecidos no cenário nacional. Para a recepção dos turistas, a Praia Grande, a principal de Barcelos, recebeu estrutura para shows e entretenimento durante o período da competição. LEI QUE PROTEGE O TUCUNARÉ O prefeito do município de Barcelos (AM), Edson Mendes, sancionou no dia 11 de setembro de 2018, a Lei de número 001/2017 de autoria do vereador Allen Gadelha (PSB), que transformou o Tucunaré Açu em símbolo do arquipélago de Mariuá. A lei permite a pesca da espécie apenas na modalidade ‘pesque e solte’, preservando assim o maior responsável pelo turismo de pesca na região. BARCELOS Maior exportador de peixes ornamentais do Brasil, Barcelos é uma cidade do Estado do Amazonas
R$ 70 milhões
A pesca esportiva movimenta R$ 70 milhões em todo o AM.
42 / VIAGEM & TURISMO
que fica a 396 km de Manaus, situado à margem do Rio Negro, onde a temperatura média é de 35ºC. O município abriga o Parque Nacional do Jaú, além do Parque Estadual da Serra do Aracá e o Arquipélago de Mariuá, o maior arquipélago fluvial do mundo, com mais de 700 ilhas. Barcelos foi fundada em 6 de maio de 1758, é uma cidade histórica, tendo sido a primeira capital da província do Amazonas antes de a sede administrativa ser transferida para Manaus. O município foi criado em 1931. No mercado do peixe ornamental, o município exporta cerca de 20 milhões exemplares por ano, destinados a países da Europa, Ásia e Américas. Todos os anos, no mês de janeiro, a Prefeitura de Barcelos realiza o Festival do Peixe
Ornamental, considerada a maior atração cultural da cidade. A festa atrai milhares de visitantes e apresenta uma programação de pesca esportiva, ecoturismo e shows. OPERADORAS Existem operadoras de turismo especializadas em organizar passeios específicos voltados à pesca, mas é importante lembrar que a pesca predatória é proibida. Isso quer dizer que a utilização de instrumentos explosivos, ervas venenosas ou substâncias químicas tóxicas de qualquer natureza são vedadas na prática esportiva. Por medidas de proteção ambiental, também é proibida a pescaria entre os meses de dezembro e fevereiro, o chamado período do defeso, ou seja, da reprodução dos peixes.
TUCUNARÉ Os pescadores que costumam visitar a região conhecem de longe a fama da cidade de ter a maior concentração de tucunaré da Amazônia. Tucunaré é um peixe pertencente ao grupo Cichlids, cujo nome vem do Tupi “tucun” e “até”, ou seja, “semelhante ao tucum”. Voraz, o tucunaré pode pesar até 12 quilos e nada na superfície, sempre procurando águas mais quentes. O tucunaré evoluiu no grupo dos mais eficientes predadores do grupo Cichilds. Sua ferocidade, sua força, e seu notável tamanho permitem ao tucunaré predominar sobre quase todas as outras espécies.
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
O MUNICÍPIO HIDROGRAFIA
• O município pertence à bacia hidrográfica do Rio Negro, e conta com abundante malha de rios, paranás e lagos, destacando-se: • Rios: Negro, Aracá, Padaueri, Demini, Quiunim, Caurês Jufaris e Jaú; LAGOS
• Pedras e São Roque PARANÁS
• Floresta e Piloto ACESSO
• Fluvial: principal meio de acesso para Barcelos é a navegação fluvial. Duas vezes por semana, barcos tipo recreio fazem a ligação Barcelos-Manaus-Barcelos, transportando passageiros e cargas. • Aéreo: a cidade possui um aeroporto para aviões de pequeno e médio porte.
A PRIMEIRA REVISTA DIGITAL DO AMAZONAS ESTÁ NO AR! Acesse www.revistacenarium.com.br
DA AMAZÔNIA PARA O MUNDO JORNALISMO TÉCNICO E INVESTIGATIVO COM NOTÍCIAS SOBRE: - VIAGEM & TURISMO - PODER & INSTITUIÇÕES - ECONOMIA & SOCIEDADE - POLÍCIA & CRIMES AMBIENTAIS - MUNDO & CONFLITOS INTERNACIONAIS - MEIO AMBIENTE & SUSTENTABILIDADE
CAMPANHA
#LeiaEmCasa
Se puder, não saia para rua #FiqueEmCasa #LeiaEmCasa Não há, até o momento, outro remédio tão eficaz contra o Covid-19, como o isolamento social. Não brinque com a sua vida. Ela vale muito! Uma campanha do Grupo Cenarium
ACESSE www.revistacenarium.com.br facebook.com/revistacenarium instagram.com/revista_cenarium/