Jornal Andanças #4

Page 1

pára, lê e partilha!

Fotografia de Pualo Lima

Número de emergência

800 209 341 Ementa ----------

Almoço: Frango com Batatas/Feijoada de Chocos/Peixinhos da Horta Jantar:Espargete com Bolonhesa/Peixe Espada no Forno/Cuscus Orientais

2

Alerta laranja Alerta laranja


Danças Escocesas Ceildh Roger e Sue trouxeram até nós a Escócia, ensinando aos participantes alguns passos característicos das danças deste país. Via-se satisfação evidente nos rostos das pessoas. Até os mais pequenos se estavam a divertir ao som daquela música cativante e daquela dança.

Catraios d’Oliveira Ritmo e animação foi o que este grupo nos ofereceu durante a noite de ontem. Com música animada que não deixava ninguém ficar parado, estes 3 músicos garantiram que entre todos os participantes a boa disposição reinava.

2


Tambores de água Para quem foi jantar à Cantina do festival ontem pelas 21h00, ou foi simplesmente apreciar a vista da Barragem, foi brindado por um momento de pura calma e relaxamento com o concerto Tambores de Água. Se fechássemos os olhos ao som daquela música envolvente, parecia que estávamos a voltar às origens. Um momento essencial para repor as energias de um dia de danças que assim se havia de prolongar pela noite fora.

3 Texto Maria Cruz - Fotografia Bruno Mendes


ZECA DO ROLETE “uma experiência muito boa” Zeca do Rolete é um grupo de música tradicional brasileira, oriundo de Pernambuco no Brasil. Estão pela primeira vez em Portugal, marcando presença no Andanças’2013 com várias actividades. Desde logo, o baile que teve lugar na noite de quarta-feira, no Palco dos Carvalhos, contagiou todos os participantes e os pôs a dançar com os seus ritmos quentes brasileiros. Zeca do Rolete é um projecto familiar, composto por pais, filhos e netos, que tem na origem do seu nome uma comida típica do Brasil.

4

Durante a manhã de ontem, a formação brasileira participou também numa oficina de dança intitulada ‘À Roda Com Umbigada + Coco de Roda’. Nesta actividade, foi possível “divulgar aquilo que é a cultura tradicional brasileira”, afirmou o pai dos Zeca dos Rolete. Sobre a sua presença no festival, o grupo caracteriza-a como “uma experiência muito boa”, pois segundo eles “o pessoal gostou da cultura popular brasileira que trouxemos até aqui”.


A fechar a sua participação nesta edição do Andanças, Zeca do Rolete participou em mais um baile ontem à noite, que mais uma vez meteu toda a gente a mexer. Antes de partir, o grupo confessou a admiração pela “atenção especial que as pessoas deram à cultura brasileira”, caracterizando o público do festival como “muito atencioso”.

5 Texto André Rosado - Fotografia Bruno Mendes


Tradições seculares que renascem dentro e fora fora dos palcos, ritmos do mundo que se encontram e se enamoram, passos coreografados que contagiam e estimulam a coesão social. As danças no Andanças são assim. Das chulas aos viras e malhões, da salsa e bachata ao tango argentino, da hula haviana às variações para mazurka, o movimento do revivalismo que o festival ajudou a construir vive-se dia após dia, tanto através de oficinas como de bailes, que não excluem géneros, idades e saberes.

Dançar por um mundo melhor São mais de 80 tipos de danças e para cima de 150 oficinas e outros tantos bailes para os experimentar e saborear. Tadicionais portuguesas, ibéricas, africanas, egípcias, inglesas, israelitas, orientais ou ainda brasileiras. A panóplia é abrangente e representativa do movimento revivalista que se fez sentir há várias décadas um pouco por toda a Europa. Portugal importou-o com o nascimento do Andanças. Recupera-se a vivência das danças como forma de sociabilidade, despertando tradições antigas e recriando-as. Diferentemente do folclore, o movimento urbano revivalista baseiase na recuperação e partilha de danças

6

coreografadas com todos os tipos de público que, de roda em roda, de passo em passo, criam ou fortalecem laços entre si e com o património cultural, em ambiente de alegria e festa. Até domingo, as propostas satisfazem múltiplos gostos e preferências, ao mesmo tempo em que procuram fomentar uma sociedade civil mais ativa e participativa. É através da experimentação e da entreajuda que os participantes apreendem e dão vida a estas práticas. De cada um e de todos dependem, por isso, as danças do Andanças. Daí que a sua marca distintiva seja, acima de tudo, a vocação para construir, através do processo criativo e colaborativo, um mundo melhor.

As danças d


Alma africana faz corações disparar “E puxa e puxa e puxa”, “coração, coração, coração”, “em baixo, em baixo, em baixo”. Mestre Petchú executa e comanda mais uma oficina de afro-tribal, modalidade que integra o programa do Andanças desde a sua primeira edição. A coreografia não foi ensaiada, mas os participantes, dançando em uníssono, ao som da voz contagiante do mestre, parecem dominá-la. Em menos de nada, dezenas e dezenas de corpos transformamse numa entidade una, dinâmica e tribal. Petchú sabe bem como passar a mensagem. “Acima de tudo, oferecemos entretenimento e esse é um fator muito importante”, diz-nos, ainda com o suor a cair em bica dos movimentos que fizeram os corações do Andanças disparar. Além disso, diz-nos também: “recorremos à tecnologia, usando ritmos gravados, para melhor poder passar às pessoas, que não conhecem a língua, a história que a música conta, a melodia e os movimentos corporais”. É sempre assim, no Andanças, de cada vez que Petchú acorda a alma africana, revelam-nos os participantes assíduos das suas oficinas de diferentes modalidades. Muitos, na verdade, frequentam a Ballet Tradicional Kilandukilu, companhia nascida em Angola, mas com pólos fixados no Brasil e, desde 1996, em Portugal. Nela se ensinam, aprendem e se preparam espetáculos de ritmos africanos, sob a direção artística de Petchú e em ambiente de partilha cultural. A energia contagiante do projeto manter-se-á até ao final do Andanças, através da oficina Fusão Raiz Tradicional, agendada para domingo, às 17h45, no Palco do Meio.

do Andanças Texto Rita Basílio - Fotografia Paulo Lima, Bruno Mendes e José Pedro Lindo

7


Do Brasil para o mundo Dança social originária do nordeste brasileiro, importada para o sul pelo movimento do forró universitário dos anos de 1990, o forró apresenta-se, hoje, como uma dança do mundo. Não foi apenas a formação clássica das bandas – sanfona, zabumba e triângulo – que se viu ampliada pela introdução de outros instrumentos e sonoridades. É a própria heterogeneidade de praticantes que contamina a modalidade, transformando-a numa prática de partilha multi e intercultural. Disso mesmo nos têm dado conta as oficinas de Forró que Henrique Matos, do projeto Forró de Lampião, tem conduzido. A de quarta-feira decorreu ao som do Quinteto Luso-Baião e levou dezenas de participantes ao rubro com os movimentos ritmados e sensuais em que a prática se baseia.

Os requisitos para dançar forró não são exigentes. Longe disso. “Saber andar é a única coisa que é precisa para dançar”, revela o artista, para quem, mais do que uma modalidade de dança, o forró é um veículo para estimular práticas de sociabilidade, desenvolver a expressão corporal e cuidar da auto-estima.

Alguns dos alunos que frequentam as atividades promovidas pelo projeto que dirige, Forró de Lampião, dizem que a dança mudou as suas vidas. Henrique não mostra surpresa: “o forró só traz coisas boas”, afirma. “Muito boas mesmo. E é sempre tempo de começar”.

8

De hoje a domingo, a programação do Andanças cria pelo menos três oportunidades de experimentar a modalidade, também em contexto de baile. Projeto Forró de Lampião e Quinteto Luso-Baião estarão, hoje, às 23h00, no Palco Recanto, amanhã, às 2h45, no Palco Carvalhos, e domingo, às 19h30 mostrar-se-ão no Espaço Criança. Texto Rita Basílio - Fotografia José Pedro Lindo e Miguel Monteiro


Liberdade e Fusão com Sons Libres

No palco Mimosas esperava-se ansiosamente pelo início do concerto dos Sons Libres que começou à hora marcada. Ainda se estava no check sound, já alguns aficionados se juntavam e esperavam o início da hostilidades. Rapidamente, e ainda antes do início, a casa vai enchendo de crianças, jovens e graúdos. A coisa começa a prometer, e ao primeiro sinal de que a música vai “rebentar”, ouve-se a primeira ovação da noite.

Se é certo que nos dias que correm muitos tentam encontrar na fusão de sonoridades distintas um caminho a seguir, é também certo que nem todos o conseguem com a facilidade, destreza e suavidade com que os Sons Libres se apresentaram no Andanças 2013. No final, resta apenas agradecer a presença, e esperar que no próximo ano, os possamos reencontrar na Barragem de Póvoa e Meadas.

A música começa e, rapidamente, somos transportados por sons étnicos envoltos numa aura de mistério. Sons Libres, que remete para a liberdade sonora, é um grupo a dois, onde a fusão da sonoridade africana ao tradicionalismo europeu se dá de uma forma orgânica e natural. Estamos pois perante duas origens diferentes – África e Europa – que encontram na música uma forma de entendimento. E diga-se, que grande entendimento. Entre músicas de roda e músicas de pares, entre o intimista e o ousado, o público adere, o ambiente aquece e sente-se uma energia e animação no ar. O contagio é inevitável e o entusiasmo aumenta. O concerto prossegue em grande, quando de repente, somos surpreendidos com uns golpes de BeatBox, onde o moderno e o tradicional se encontram e misturam. Os músicos continuam a dar ares da sua graça e, no final são recebidos com uma grande ovação. Palmas e gritos são correspondidos com um Encore. Foi fantástico e todos ficámos felizes. Texto Gonçalo Mota - Fotografia José Pedro Lindo e Paulo Lima

9


Las Çarandas no Espaço Criança O dia já ia longo, a temperatura mais amena e por baixo de um final de tarde agradável, algumas crianças e pais aguardavam a chegada das Las Çarandas. Estamos no Espaço Criança (EC), um espaço dedicado a jovens a partir dos 4 anos. Rafaela, a respetiva coordenadora, refere que o EC é um espaço multidisciplinar que engloba artes plásticas, contos, teatro, e para finalizar, bailes. Como foi referido, o baile proposto para quarta feira está ao cargo das Las Çarandas. Um grupo de mulheres que encontra nos sons tradicionais de Trás os Montes e no Mirandês a sua zona de conformo e primazia. Neste estilo, marcadamente masculino, as Las Çarandas assumemse como uma contra corrente no pré-estabelecido. Este corte começa logo pela própria designação, que, traduzida do mirandês para “português corrente”, significa peneira. Um dos elementos do grupo, refere que esta escolha simboliza e homenageia o trabalho das mulheres do campo. O baile teve início um pouco depois da hora marcada, mas nem por isso a motivação dos jovens aprendizes diminuiu. Os pequenos continuavam em altas, a correr, a brincar e a rir, numa animação contagiante. Depois de captarem a atenção dos presentes, as Las Çarandas passaram ao ensaio da letra da “Saia da Carolina” e todos e todas se levantaram. Os braços estão finalmente no ar e está tudo pronto para dançar. Que comece o baile!

10 Texto Gonçalo Mota - Fotografia José Pedro Lindo


“Bom dia alegria! Como está o teu clima hoje? Aqui no Andanças vive-se um micro-clima desenhado por pessoas e cores lindas, que vão pingando de suor a dança que é esta atmosfera alentejana. O Andanças bateu à porta e pediu permissão para entrar: “Cucu!” Viemos espalhar magia no coração das pessoas, podemos? Esta grande árvore de folha caduca com quase duas décadas vai enraizando neste solo que ferve. O solo e as energias, o que nos vai na alma fervilha. Pé na água (parecem as termas de São Pedro do Sul!!), dizia o tropicalista Caetano “pé dentro, pé fora, quem tiver pé pequeno vai embora”. Mas o que realmente nos interessa é que o corpo flua e esse dito pé pequeno balance o outro e o de todos os outros, para assim a roda de cabelos esvoaçantes, mesmo dos carecas, não ter fim. Neste pedaço de terra que se converte na nossa casa, comunica-se pelo tacto e contam-se histórias pelo olhar. A comunicação é universal. Somos todos crianças com a alegria à flor da pele e bichinhos carpinteiros. Entranham-se e trocam-se conhecimentos e fundem-se gerações, nesta dança que é viver a sorrir. Eu aqui a pintar esta visão periférica com toda a escala cromática e provocar aquele quentinho no coração ao ser lido, mas … e que tal virem provar disto? Mas aviso já o controlo de entradas não deixa passar barreiras e os tuaregs do estacionamento só deixam sair com um sorriso, porque se não o fizeste é porque não saboreaste bem. Aqui desenham-se círculos dentro de quadrados sem arestas e colhem-se frutos das orelhas das pessoas. Bem-vindo ao Andanças! Texto Susana

Sugestões para hoje Joana Guerra – Anfiteatro - 17h30 Fruto de uma vontade incontrolável, Joana Guerra encara de frente o desafio de criar e tocar a solo. A procura da sua sonoridade leva-a a explorar mais a fundo os seus instrumentos – a voz e o violoncelo. O canto é a sua primeira forma de expressão, à qual se juntou o violoncelo, instrumento que, por ser sonoramente tão próximo, é encarado como a extensão do canto. Joana Guerra garante o choque e a harmonia entre os dois. Hoje, a sua voz exprime todo o seu percurso artístico e pessoal: há poder, sensibilidade, prazer de arriscar no agora e há sobretudo verdade. Lançou recentemente o seu primeiro disco, ‘Gralha’. Com canções em português, inglês e francês, Joana Guerra absorve as realidades contemporâneas com um sentido crítico para as transformar em música e consegue ter tanto de intemporal e atemporal como de atual. Concerto para Olhos Vendados, Luís Antero – Palco Flutuante - 19h30 Que importância tem o som no nosso dia-a-dia? Continua a ser, como preconizado por Murray Schafer nos idos de 1970 do século passado, o mais negligenciado elemento da nossa paisagem? Não será o som também caracterizador da identidade das nossas aldeias, vilas e cidades? Qual será, por exemplo, o som produzido por formigas em contacto com um microfone? E o dos veados na sua brama sazonal? E o dos moinhos e rodas de água, misturado com as histórias de vida de pastores e agricultores de mãos calejadas pelo tempo? É, pois, na tentativa de resposta a estas questões que surge o conceito Concerto Para Olhos Vendados, partindo da premissa de que muitas vezes paramos para ver, mas raramente o fazemos para ouvir! O público é, assim, convidado a vendar (o fechar) os olhos, deixando somente

os canais auditivos abertos…

11


Fotografia de Paulo Lima

Colaboradores: André Rosado - Bruno Mendes - Catarina Serrazina - Gonçalo Mota - Isabel Cruz José Pedro Lindo - Maria Cruz - Paulo Lima - Raquel Drumond - Rita Basílio Revisão: Catarina Serrazina - José Pedro Lindo


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.