Jornal Andanças #6

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Desenho de Ana Xavier

Número de emergência

800 209 341

2 Alerta laranja


Rondó da Carpideira Cultura tradicional portuguesa homenageada em concerto intimista Espetáculo multimédia que interage com o património português do século XX, visto a partir dos olhos do fracês Michele Giacometti, Rondó da Carpideira é também um conceito artístico que recria a música e a cultura de raiz tradicional. Foram precisamente as recolhas etno-musicais daquele especialista, apresentadas no programa de televisão da RTP “Povo que canta”, o mote de um espetáculo, que desenvolve os temas melódicos e rítmicos apresentados nos registos, gravados um pouco por todo o país entre 1959 e 1990. Na origem do projeto estão os músicos Mário Marques e Daniel Bernardes, além de Gonçalo Tarquínio, responsável pela conceção visual do espetáculo. Saxofone e piano colaboram com os vídeos, cujas imagens vão sendo, em tempo real, manipuladas, dando origem a um produto musical tão sedutor como inesperado.

acordou tradições e figuras ancestrais de diferentes regiões. A partir do choro cantado da carpideira das Beiras, da toada do agricultor nortenho ou ainda das vozes corais alentejanas, os espetadores percorreram paragens, O concerto a que, esta quinta- melodias e rituais ao ritmo do jazz de feira, a comunidade Andanças teve fusão contemporâneo. oportunidade de assistir, no Anfiteatro,

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“Gostei tanto das imagens gravadas por Giacometti que me interessei logo por fazer bandas sonoras”, conta o saxofonista Mário Marques. Daí até desafiar Daniel Bernardes a aventurar-se na composição de instrumentais foi um abrir e fechar de olhos. As vozes afinadas dos protagonistas da filmografia redirecionou o projeto. “Chegámos ao vídeo da carpideira e reparámos com entusiasmo que ela canta de forma afinada”, relata Daniel. “Havia, portanto, condições”, acrescenta ainda, “para criar música que interagisse com ela”.

Recriar e homenagear a música e a cultura tradicionais portuguesas e uma obra cinematográfica e discográfica fundamental para o seu conhecimento é a proposta do Rondó da Carpideira. A sua performance no Andanças criou um ambiente intimista, propício para o público saborear marcas identitárias do passado e refletir sobre a identidade portuguesa no presente.

3 Texto Rita Basílio - Fotografia de Paulo Lima


Os vales salpicados de socalcos, mimosas e carvalhos, onde se tem dançado noite e dia, lembram as histórias de encantar. Histórias daquelas que se têm ouvido ao cair da noite, junto da fogueira. As colinas de vegetação brava onde se acomodam tendas, tascos e barraquinhas parecem saídas de uma versão agreste da fábula de Lewis Carroll em que Alice ganhou vida. Sem esquecer a terriça que cobre o piso acidentado, de quando em vez agitada pelo vento suão, que tatua, ao estilo livre, os corpos de artistas, feirantes e festivaleiros. A décima oitava edição do Andanças decorreu na natureza em estado quase puro. E por mais que o piso poeirento e irregular, mil vezes calcorreado sob os horrores do sol alentejano, incomode, nem por isso tem afetado o humor da maioria dos participantes. Pelo contrário. Ouve-se à boca grande e pequena que o festival, ao abandonar, este ano, S. Pedro do Sul para fixarse na Barragem de Póvoa e Meadas, regressou à idade zero num ambiente tão mágico como selvagem. “Tem muito mais a ver com o espírito do Andanças que, em S. Pedro do Sul, decorria num espaço com estruturas de apoio próprias e de forma muito organizada”, pensa Nicolas. Frequentador do festival, participou pela primeira vez este ano como voluntário e está convicto de que o local foi a escolha acertada para um “regresso às origens”.

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“É um sítio maravilhoso, mágico até, que introduz um elemento muito importante: a presença da água”, diz, por seu lado, Joana. Dentro e fora das sessões de relaxamento como as que tem conduzido, “o local é mais do que propício para entrar em comunhão com a natureza”, acrescenta. É bem provável, afirma ainda, que “o maior interesse das pessoas pelas propostas de meditação e aprofundamento da consciência” que diz estar a observar também se deva à influência do próprio espaço.

“Vim sem expectativas”, conta a italiana Terry. “E estou maravilhada. Há um espírito de família que é incrível”, realça. Diz querer voltar na próxima edição do Andanças como voluntária. “Todos os estímulos que tenho recebido estão a mudar a minha vida, que vai, depois disto, dar uma grande volta para melhor”, acredita. Voltar como voluntária é a forma que encontra para retribuir. “Acho que o outro local conseguia um registo de maior proximidade e familiaridade por ser mais pequeno, mas a interação com a água é uma inovação a valorizar”, refere o músico Simão. Em especial, para quem se faz acompanhar de crianças pequenas, como é o seu caso, já que a albufeira é “um outro contexto aprazível, a juntar aos oferecidos pela programação”, para manter os miúdos entretidos. Que o digam os manos Francisca e João, de 10 e 5 anos respetivamente. É já a segunda vez que Francisca vem ao festival e os banhos de água doce são tentadores. Isto apesar de as suas atividades preferidas serem as oficinas criativas. Em particular as de pasta de

papel, que permitiu aos dois irmãos de Lisboa pôr as mãos na massa e criar recordações personalizadas do Andanças de 2013.


Afetos e criatividade “Convívio, definitivamente convívio” continua a ser a marca distintiva do Andanças, afirma Raquel. Alexandre e Elói concordam, embora não tenham termos de comparação, já que só este ano descobriram o Andanças pela porta do voluntariado. Nesse plano, dizem, a experiência é “sinceramente muito enriquecedora” e “gratificante”. Para Paulo, a característica distintiva do Andanças é, no entanto outra: o voluntariado, que é transversal a todas as áreas do festival. “A maior parte das pessoas que asseguram a sua realização fazem-no em regime de voluntariado, incluindo os artistas, o que não acontece noutros festivais”, salienta o coordenador das oficinas de dança. Dessa história nos dá conta, com detalhes, o filme “A dança do voluntariado: o outro sou eu”, que hoje será exibido no espaço Cinema, às 23h00.

também nas formas de solucionar problemas que um novo espaço, “com uma funcionalidade a ser testada”, acaba por causar. Os exemplos são numerosos. “Se estiveres a ler isto, dá um abraço”, sugere um cartaz fixado junto ao refeitório, na esperança de aliviar, pelos afetos, os estômagos esfomeados enquanto aguardam vez. Os músicos dão também o seu contributo, improvisando ensaios ao longo das filas. WC de compostos, a fazer lembrar outros tempos, fardos de palha a substituir sanitários em urinóis comuns, pontos de água construídos com recurso a madeira e a alguidares, a imaginação no Andanças é fértil e amiga do ambiente.

Além de uma produção colaborativa, o Andanças é também o resultado do uso de “doses elevadas de criatividade”, prossegue Paulo, que se manifestam numa programação “com um tipo de diversidade e quantidade a que o Andanças já nos habituou”, mas

5 Texto Rita Basílio - Fotografia Bruno Mendes


O futuro do Andanças?

Enquanto o balanço não for feito, o futuro do Andanças é um ponto de interrogação, embora a Câmara Municipal de Castelo de Vide tenha já manifestado, junto dos média, interesse em continuar a apoiar a realização do festival na Barragem de Póvoa e Meada. Em geral, o balanço dos participantes relativamente ao espaço, é positivo, mesmo quando identificam aspetos que a PédeXumbo é convidada a melhorar. Há 14 anos que Carlos está presente no festival. Habituou-se, portanto, em Carvalhais, onde o Andanças esteve fixado década e meia, a um espaço cuja funcionalidade estava “mais do que testada”. Daí que o campismo improvisado num “terreno sujo, acidentado e com pouca sombra”, as soluções em matéria de instalações sanitárias e até os palcos, “construídos demasiado juntos uns dos outros, causando interferências”, o desiludiram. “São aspetos que têm de ser revistos e melhorados”, porque, no que diz respeito ao espaço no seu todo, é paradisíaco”, reconhece.

Quem os observa passeando de tasco em tasco, de baile em baile, apercebese de que desempenham, com brio, o papel de anfitriões. Os próprios feirantes e taberneiros têm feito o esforço de se adaptar às exigências da comunidade Andanças. Bebida mítica do festival, para muitos, o hidromel não tem tradição nestas paragens, mas apenas um dia depois de a festa começar, poucos foram os espaços de restauração que não passaram a vendê-la. Fermentado à base de mel e água e com apregoadas propriedades revigorantes, o hidromel, consumido desde a antiguidade, aparece, em particular na mitologia nórdica, como o néctar favorito dos deuses. “E um Deus que se preze”, diz, gracejando, Joaquim, como “aqueles que por aqui andam no Andanças, têm de o beber!”

“Há pormenores, do ponto de vista da organização, que devem ser alterados”, sob pena de o festival “acabar por cair na mesma lógica dos outros: um festival comercial”, nota Raquel. “Paciência é o que é preciso para estar neste Andanças”, refere Rui. “Há filas para tudo. Há, diria mesmo, o perigo de se estar a dar um passo maior do que a perna ao querer dar ao festival uma dimensão tão grande”, adverte.

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A comunidade local parece rendida ao Andanças e disposta a continuar a acolhê-lo no seu seio independentemente das estruturas e condições disponibilizadas. Texto Rita Basílio - Fotografia Paulo Lima e Bruno Mendes

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Reflexologia Andantes ao encontro dos meridianos -

“A Reflexologia não é uma massagem para os pés”, diz o Professor do Workshop. Esta técnica de relaxamento não tem uma origem definida, sendo que existem registos que a mesma se praticava em locais tão distantes como a Índia, China e entre os índios das Américas. De acordo com o dinamizador desta oficina, a Reflexologia é uma terapia holística na medida em que trabalha o todo. Ou seja, baseia-se no facto de nos pés e nas mãos se encontrarem zonas que têm correspondência no corpo todo e, por isso, ao estilumar essas zonas se estimulam as diferentes parte associadas (convém notar que, ao contrário de algumas correntes da medicina tradicional chinesa, a Reflexologia trabalha zonas e não pontos energéticos). Essas zonas correspondem aos seis principais meridianos das mão e dos pés de acordo com a medicina tradicional chinesa. O objectivo da Reflexologia é movimentar a energia nesses mesmos meridianos.

e o silêncio entre os partipantes era absoluto. Após uma explicação teórica desta técnica, passou-se à prática. Os participantes agruparam-se em grupos de 2, sendo que primeiro um deles iria massajar e o outro receber as massagens, e depois, trocavam. É importante notar que na Reflexologia não há tempos mortos porque, quem massaja está a estimular os meridianos das próprias mãos, e quem recebe, está a ver os seus (dos pés neste caso) a serem estimulados. De acordo com o que foi referido pelo monitor da oficina, o workshop de sexta-feira foi mais energético e por isso os exercicios basearam-se apenas na estimulação de zonas nos dedos dos pés (e das mãos). Para sábado espera-se algo mais alargado, sendo que se passará à estimulação de mais zonas.

O workshop decorreu no Palco Carvalhos num ambiente relaxante e com música ambiente a puxar à reflexão interior. Estava bem composto

é para o ano Texto Gonçalo Mota - Fotografia Paulo Lima

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Biodanza

– A Conexão da Vida

O workshop de Biodanza, que ficou a cargo de Cristiano Martins, teve lugar no Palco Mimosas às sete e meia da tarde. De acordo com Cristiano, a Biodanza ou dança da vida, procura resgatar o significado antigo da palavra dança - Conexão, ao qual se junta bio – Vida. Consequentemente, Biodanza poderá ser entendido como a Conexão da Vida. A Biodanza, como explica o monitor do Workshop, utiliza conceitos provenientes da biologia, da psicologia e da filosofia, bem como conceitos provenientes da mitologia. Desta forma, pode encarar-se a mesma, como uma fusão, no qual intervem a ciência, a arte e o amor. A arte surge no facto da Biodanza ser uma forma de expressão do indivíduo enquanto parte integrante de um todo, e o amor o elemento que nos une, a ponte entre estas duas formas de expressão que por vezes se encontram tão distantes - Ciência e Arte. Esta triologia [arte, ciência e amor], pretende conectar o pensar, com o fazer e sentir, ao mesmo tempo que se assume como um agente de conexão de vida; um agente que permite a conexão do indivíduo consigo e com os outros. Neste sentido, os exercícios propostos pelo monitor baseavam-se, em primeiro lugar, na criação de círculos onde os participantes se uniam pelas mãos, seguido da formação de grupos menores, de duas ou mais pessoas, que interagiam entre si e entre os diferentes grupos. A roda parece ser um elemento central de todo o processo na medida em que, é esta forma geométrica que dá início e finda o workshop. Nestas rodas vivas, os exercícios vão variando de intendisidade, ora mais, ora menos intensos. Como qualquer exercício que vá buscar elementos onde as pessoas são forçadas a expôr mais o seu íntimo, o início de workshop deu-se de uma forma mais contida, e foi progressivamente evoluindo para um estado mais energértico. Neste momento as barreiras que nos prendem parecem ter desaparecido e o à vontade dos participantes torna-se total. Prova disso foi o final retumbante onde todos os participantes que, em virtude da progressão da aula, se encontravam de cócoras se levantaram em modo e salto e gritaram “Estou VIVO!!”. E é um facto que estavam... É a terceira vez que Cristiano Martis dinamiza este workshop. Quando comparado com Carvalhais, o mesmo assume que este novo espaço é mais acolhedor, mas por ser mais pequeno, notam-se algumas interferências sonoras, o que pode dificultar a progressão sadia dos workshops. Outro ponto apontado, e que também foi notado por alguns participantes, foi a falta de espaço para acolher todos os Andantes interessados em pariticipar no workshop. Se algum interessado assim o desejar, poderá encontrar mais informações sobre a Biodanza no site www.cristianocm.com.

8 Texto Gonçalo Mota - Fotografia Paulo Lima


lomografia no andanças

9 Fotografias JosĂŠ Pedro Lindo e Bruno Mendes


“A semana aproxima-se do final e com ela a edição deste ano do Andanças. Não consigo ou não quero acreditar que passou tudo tão rápido. Fiz amigos para a vida dos quais nunca me vou esquecer. Dancei, diverti-me, adorei. O meu primeiro ano aqui foi simplesmente espetacular, à parte do calor e algum cansaço. Participei como voluntária no jornal. Achei que os recursos disponíveis eram poucos e talvez por isso não tenhamos conseguido melhorar algumas coisas. O trabalho foi um pouco exaustivo, admito, mas o ambiente animado compensou. Não imagino alguém a vir ao Andanças sem se divertir: aqui tudo foi incrível! Todas as pessoas que aqui trabalhavam, ou toda a gente que conheci eram muito simpáticas. Espero mesmo que para o ano, o festival continue aqui porque assim tenho muito mais possibilidades de poder voltar, já que moro perto. E se continuar, voltarei a candidatar-me como voluntária novamente, sem sombra de dúvidas! Recomendo a toda a gente que venha ao festival para o ano. Garanto que não se irão arrepender, para mim foi uma experiência incrível e duvido que seja a única pessoa a pensar desta maneira.”

10 Texto Maria Cruz - Fotografia Paulo Lima e Bruno Mendes


Dica da Equipa da Saúde Um pé de dança, mas protege os teus pés! Os teus pés são o que te liga à terra e o que te permite dançar, portanto tens de os tratar bem. Usa calçado confortável e arejado, mas evita que pedras ou areia te causem desconforto. O terreno pode ser bastante irregular e ter alguns obstáculos, portanto evita andar descalço. Se tens calçado novo, usa-o antes de chegares ao Andanças, para assegurar que se torna confortável. (Dica da Equipa da Saúde)

Sugestões para hoje

A Equipa da Saúde agradece e considera um prazer ter tratado tantos pés e caganeiras! Sugestões para hoje: Vale das Expresões com Marta Correia – Espaço Criança – 11h00 Vale encantado, é um projeto infantil de carácter artístico, cultural e educativo, que visa estabelecer um laço entre a realidade e o mundo mágico. Através de contos, de música e dança, cria-se um espaço onde os mais pequenos sonham e crescem. É na magia dos vales encantados, na força dos elementos, nos ciclos da mãe Terra e nos espíritos da Natureza que se encontra o mistério da vida. Por entre vales e colinas, bosques, florestas descobriremos em forma de contos a magia o lar dos animais selvagens. Descobriremos os segredos das árvores, das plantas e da lua. Descobriremos o laço que nos liga: o amor, a dança, o teatro, a música, a alegria... a arte! Meditação com Gongo – Cosmic Gong – Palco Recanto – 17h45 -O Gongo é um instrumento poderoso que tem sido utilizado desde há milhares de anos nas tradições espirituais do Oriente. É um instrumento extremamente poderoso para a cura. Como todas as formas de terapias de som, funciona a todos os níveis – físico, mental, emocional e espiritual. Os gongos são feitos de ligas metálicas como as que são usadas nos sinos das igrejas e nas taças tibetanas. O resultado desta experiência é o desenvolvimento maior da intuição, criatividade e uma calma dentro da tempestade existencial. A alma, o sistema nervoso e sistema imunológico são fortalecidos, e a voz interior da nossa consciência sendo mais elevada, é mais facilmente ouvida. Isto é chamado de “o retorno da felicidade e a espiritualização da matéria”. Benefícios da Meditação com Gongo: Libertação de stress e tensões acumuladas; Relaxamento profundo; Melhora o bem-estar; Abre e limpa os Chakras (Centros Energéticos) Transformação pessoal; Integração de intenção; Desperta a intuição.

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Fotografia de Bruno Mendes

Colaboradores: André Rosado - Bruno Mendes - Catarina Serrazina - Gonçalo Mota - Isabel Cruz José Pedro Lindo - Maria Cruz - Paulo Lima - Raquel Drumond - Rita Basílio Revisão: Catarina Serrazina - José Pedro Lindo


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