Narrative architecture

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TXT ARQUITECTURA NARRATIVA E COMUNICANTE NARRATIVE AND COMMUNICATIVE ARCHITECTURE Storytelling architecure from this place to another PEDRO MANUEL ARAÚJO STORYTELLING ARCHITECTURE



INDICE INDEX

Posicionamento Social : Arquitectura e Sociedade da Informação Social Positioning : Architecture and Society of Information

Principais autores de referência Literary references: _ Michel Freitag Gilbert Simmondon Manuel Castells Anthony Giddens Tomás Patrocínio Gonçalo Furtado

Autenticidade e Identidade Aberta Authenticity and Open Identity

Principais autores de referência Literary references: _ René Boomkens Edwin Gardner Henry Jenkins Rogério Santos

Lugares sem Expressão e Territórios Anónimos Anonymous and Expressionless Places

Principais autores de referência Literary references: _ Marc Augé Gorjão Jorge

O Fenómeno da Comunicação : Meio e Intervenientes The Phenomenon of Communication :Media and Speakers

Principais autores de referência Literary references: _ William Mitchell Marshall McLuhan

A capacidade Narrativa da Arquitectura : Sítio e Ritual Architecture’s Narrative Ability : Site and Ritual

Principais autores de referência Literary references: _ Victor Conseglieri Emilio Garroni Jeffrey Inaba Georges Gusdorf Bruno Chuk Maurice Merleau-Ponty

Atitudes Comunicacionais : Limite, Propagação, Truncagem Communicational Attitudes : Limit, Propagation, Truncation


POSICIONAMENTO SOCIAL ARQUITECTURA E SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

SOCIAL POSITIONING ARCHITECTURE AND SOCIETY OF INFORMATION

A arquitectura enquanto disciplina tem, antes de todas as razões da sua existência, uma forte relação de complementaridade com a Sociedade, enquanto expressão de uma comunidade de seres sociais, seus valores e bens. Essa relação com o ser humano e a expressão desse pensamento tem valido à arquitectura diferentes posicionamentos quanto à verdade da existência efectiva desta relação.

Architecture as a discipline has therefore all the reasons of its existence a strong complementary relationship with the Society as expression of a human being community, their goods and values. This relationship with the human being, and the expression of that thinking, as worth to architecture different positioning.

A arquitectura parece estar a perder não só o processo de comunicação e de interactividade com o território, mas também com o ser humano e o público social para o qual é projectada. Ao mesmo tempo, ela acontece completamente desfasada do quotidiano do ser humano e não parece interligar as “vivências comuns” e as expectativas no seu processo metodológico de conceptualização e formalização do espaço. Estas vivências comuns, e a negação pela arquitectura das mesmas, dando origem a um processo de desacreditação e desqualificação do território, ao qual se tem subjugado e mal interpretado a função pública do próprio espaço público da cidade. Como refere Michel Freitag “ é necessário, nos momentos de crise de sociabilidade e de sociedade, que nos interroguemos sobre a natureza da linguagem, do trabalho, da técnica, da ciência, da arte ou da política, e até mesmo do amor, enquanto dimensões ou momentos fundamentais de ser/estar- aí, de um ser/estar no mundo humano, com outrem e de si próprio consigo, na comunidade e na identidade.”1 A consciencialização da existência das características que deram origem à Sociedade da Informação ao nível das Ciências Sociais, Económicas e Políticas tornam pertinente, no objectivo de relacionar a Arquitectura, enquanto serviço à Sociedade e às suas condições, o estudo de uma reflexão sobre o contributo que a Arquitectura, enquanto Arte da concepção da presença física construída da Humanidade sobre o território, poderá ter para potenciar, reciprocamente, a disciplina e a existência, vivência e identificação do ser humano com o espaço físico, que hoje apresenta grandes desafios de renovação, quer pela implementação de novas estruturas mais dinâmicas, quer pela renovação

Architecture appears to be loosing its process of communication an interaction with the territory, but also to the social public. Meanwhile, it happens completely lagged from the everyday life and doesn’t integrate the common life experiences and expectations in its methodological process of conceiving and giving form to space. As Freitag´s statement, “ its necessary, in moments of social crisis, that we ask ourselves about the nature of speech, work, technique, science, art and politics, even love as dimensions or fundamental moments of being in community with personal identity.”1 The awareness of this characteristic that led to the Society of Information in Social, Economic and Political Sciences, bring credibility to its Architecture interpretation, as service to society and its condition, fact that appears to be the contribute that architecture, as the art of conceiving the physical presence and expression of the mankind in the territory that nowadays presents great challenges of renovation with the introduction of more dynamical infra-structures and the requalification of cities abandoned tissues. This necessity becomes very important in the actual social, economical, cultural and political condition of this global Society of Information. The problem concentrates in the way architecture can contribute, simultaneously, to the reinforcement of society and territorial global identity and at the same time reinforce the individuality of the human being. The access to democratized information and the globalization of the social media led to a process in which seems to exist some undefined concepts of local, regional, national and global, leaving this movement to


“O Homem e as cabeças de pendrive”, Ilustração, Produção própria “Human being and pen drive heads”, Illustration, Own Production


de tecidos desqualificados. Esta necessidade torna-se muito importante sendo dada pelas características da Sociedade Global e da Informação, pelo seu estado social, económico, cultural e político. O problema centra-se em como a arquitectura se poderá tornar capaz de, simultaneamente, corresponder ao reforço da identidade global da sociedade e do território, num sentido mais amplo, e, ao mesmo tempo, reforçar a individualidade do ser humano. O acesso à informação democratizada e a globalização dos meios sociais originam um processo em que parece ainda haver alguma indefinição entre os conceitos de local, regional, nacional e global, deixando neste movimento, sempre em direcção ao exterior, momentos de total ausência de estímulo e de informação nas pessoas e nas nossas cidades. Como refere Castells “ por um lado, a libertação paralela de forças produtivas consideráveis de revolução de informação e, por outro, a consolidação de buracos de miséria humana na economia global” 2, parece apontar a existência de vazios existenciais do ser humano. Como processo de geração de novas condições sociais, económicas, políticas e culturais, a actualidade origina um processo distinto de percepção da realidade circundante e do interior do próprio ser humano. Gilbert Simmodon apresenta-nos o conceito de transdução, que especificamente relaciona a percepção do ser humano como um processo intuitivo e mental da relação com as coisas em si, onde o processo de formação da realidade se assemelha a um processo evolutivo, em que as experiências se sucedem. A precedente serve de estrutura de suporte emocional, cognitivo e mental da experiência seguinte. A Sociedade da Informação e a sua sede de acontecimentos e de estímulos justificam o estudo destas consequências no tempo, enquanto renovação do próprio edifício, e no lugar, enquanto renovação dos seus acontecimentos e do seu conteúdo programático, como paradigma comportamental e estratégico que a Arquitectura suporta.

the exterior, moments of total absence of stimulus and information. As Castells statement, “ the parallel liberation of productive forces of information revolution and consolidation of the existence” 2 is the proof of existential voids in the human being. As the generation of new social, economical, political and cultural condition, current times origin a distinct process of reality and human beings interior own perception. Gilbert Simmondon features the concept of transduction that specifically relates human beings perception as an evolutional process in which experiences simply succeed. The former is an emotional, cognitive and mental support structure of the next one. Society of Information and its events thirst justify the application of these consequences in time, as the behaviour renovation of the proposed buildings, and in place, as renovation of its happenings and program content as behavioural and strategic paradigm that Architecture supports.

1_ FREITAG, (2004), Michel, ”Arquitectura e Sociedade”, Publicações Dom Quixote, Lisboa 2_ CASTELLS, (2002), Manuel, “ A Sociedade em Rede”, in “ A Era da Informação Economia, Sociedade e Cultura”, Edições Calouste Gulbenkian,Lisboa


“O lugar é o mundo acessível ao pequeno toque”, Ilustração, Produção própria “The place is the world accessible to the small touch”, Illustration, Own Production


AUTENTICIDADE E IDENTIDADE ABERTA

AUTHENTICITY AND OPEN IDENTITY

Um período caracterizado por tal velocidade com que os acontecimentos se sucedem, se renovam e se esbatem no esquecimento, pode muitas vezes levar a um certo sentimento céptico na aceitação destes novos valores emergentes, como sendo novas características identitárias do comportamento social da sociedade actual.

A period known for such velocity that happenings succeed, renew and fade away, can lead to a certain sceptical feeling in the admission of this new emergent values as new characteristics of the social behaviour.

Este período origina a quebra de determinados limites e fronteiras, que acompanham a existência e convivência humanas, bem como as manifestações físicas e construídas da sua presença no território. Aparentemente, a condição social actual, os efeitos e as consequências da Sociedade de Informação, global e digital, parece levar-nos para um período de incerteza, uma presença atípica entre a existência da memória colectiva e a sobrevalorização do ser individual como portador de conhecimento, de experiências e, ao mesmo tempo, sedento da renovação desse mesmo conhecimento e desses mesmos acontecimentos que vão marcando a sua existência. Cada vez mais, o ser humano encontra nos Media uma plataforma de conhecimento mútuo, de exposição de si próprio e do conhecimento de outros seres sociais capazes de lhes fornecer novas experiências. Este facto acontece silenciosamente nas novas redes sociais como plataformas públicas resultantes da crescente importância dos Media no quotidiano dos seres sociais e resultando da crescente globalização dos interesses onde a velocidade e a necessidade de circulação de conteúdos e bens acelerou até ao ponto de, fisicamente, o território não suportar espaços capazes de oferecer a estas populações emergentes, locais onde a sua identidade global, e ao mesmo tempo individual, esteja exposta e acessível. A flexibilidade surge como palavra de ordem na Sociedade actual. Flexibilidade nas capacidades individuais de cada um, flexibilidade no relacionamento com a sociedade, flexibilidade intelectual, de movimentos e de velocidade onde a vida corre num processo dinâmico que engloba várias velocidades e várias formas de estar. Como refere René Boomkens, “ a flexibilidade tornou-se na palavra mágica do novo capitalismo e da globalização como

This period provides a break of certain limits and boundaries that accompany the human existence and acquaintanceship as well as physical and built expressions. Apparently, the actual social condition, the effects and consequences of Society of Information, digital and global, lead us to a period of uncertainty, an atypical presence between the existence of collective memory and overvaluation of humans individuality, as carrier of knowledge, experiences and at the same time, thirsty of renovation processes of its own existence. Increasingly, human being finds in Media a platform of natural knowledge, exposition of himself and the knowledge of other people that are capable of providing new experiences. This fact happens silently in the new social networks as public platforms resulting from the growth of importance of the Media in everyday life and with the growing process of globalization of interests where velocity and necessity of content circulation accelerated to the point that physically the territory can not longer support spaces capable of providing to this emergent people locals where their global identity, and even individual, be exposed and accessible to everyone. The flexibility arises as a watchword in current Society. Flexible individual capacities, flexible society relationships, intellectual flexibility, movements and velocity are facts where life runs in a dynamic process that acquires different ways of being. As it refers René Boomkens, “flexibility is the magical word of new capitalism and globalization as a new world order. Its magic is not descriptable but actually normative. It is the new categorical imperative of everyday life all over the world.”1 This concept of uncertainty leans to be seen in a negative way by more sceptical peaces of society, where global identity leans to be fought through orientation orders that never hide its own political agenda. On the left hand, voices of protest emerge against globalization


nova ordem global. A sua magia não é descritível, mas efectivamente normativa. É o novo imperativo categórico da vida no dia-a-dia em todo o mundo.”1 Este conceito de incerteza tende a ser encarado de forma negativa por parte de estratos da sociedade mais cépticos, onde a identidade global tende a ser combatida através de ordens de orientação que nunca escondem a sua evidente conotação política. Na ponta mais esquerda emergem as vozes de protesto contra a globalização que encaram como um processo de desigualdade social onde os países mais pobres, e consequentemente caracterizadores da infoexclusão, são explorados por uma cultura ocidental de velocidade e de progresso. Ao mesmo tempo, na margem oposta, emergem atitudes que rejeitam claramente a inclusão multicultural e multi-étnica de populações provenientes de outras culturas, de outros países e de outras regiões do globo. Estes extractos da população, que parecem se posicionar nos extremos da orientação social que caracteriza o estado social actual, são elementos que fazem este facto se tornar incerto pela constante dúvida que causam sobre o mesmo. A Humanidade sempre soube, em situações de incerteza, traçar um rumo para a sua continuidade e evolução. A multiculturalidade é um facto consequente da crescente globalização do território onde o bem da riqueza já não é o produto, mecânico, mas sim a informação que está em todo o lado e é constantemente referenciada e renovada pelo papel dos Media, flexível e infinito. Contudo, para além da afirmação da multiculturalidade emergente, da rede de conexões sociais globais potenciadas pelas novas plataformas dos Media, o ser social actual revela também uma forte tendência para a construção de uma personalidade aberta e flexível na medida em que parece fazer dele mesmo, um ser que desempenha diversos papéis e diversos modos de vida. Hoje, a sua projecção é imediata, o que faz com que sinta necessidade de renovação de forma muito mais acutilante e presente.

as a process of social instability, where poor countries, info-excluded, are exploited for an occidental culture of velocity and progress. On the right hand emerge attitudes that clearly reject the multicultural inclusion. These extracts of population appear to be in the opposite extremes of social coherence. These elements become the uncertain part of this permanent doubt. Mankind always knew in this kind of social condition, set a course to continuity and evolution. The multiculturalism is a growing fact and the benefit of richness is not the product, mechanical, but the information that it’s everywhere and its constantly referred and renewed by the infinite and flexible role of the Media. However, beyond the emergent multicultural statement, the social connection networks potentiated by the new Media platforms, the actual social being reveals a certain trend to the construction of an open and flexible personality in the way that makes himself performing different roles and different ways of living. Today its projection is immediate, which makes our need of renovation in a more conscious and sharp way. From this necessities, collective and individual, raises the necessity of envisage the architecture discipline as an evidence of built and physical expression of this new global social landscape, this happening performance potentiated by new ways of sociability and knowledge acquaintance submitted by technologies and Media as a vehicle of communication and by self characteristics of this social being in connection to its community and their own behavioural needs. Conscience, knowledge and appropriation by this new human being is built by layers of information and by several moments causing diversified scales of legibility of the reality. From general to particular, this knowledge and reality appropriation builds a complex identity in witch the particular gains the same importance that the general. They both emerge as knowledge and communication means of an authentic identity of the human being and Society making architecture a positive and flexible contribute, capable of unifying complementary


Das necessidades dadas pelas características deste ser social, enquanto indivíduo e ser colectivo, nasce a necessidade de encarar a disciplina da arquitectura de forma a se evidenciar como a expressão física e construída desta nova paisagem global, desta performance de acontecimentos e potenciada pelas novas formas de sociabilização e de aquisição de conhecimento, transmitidos pelos Media e pelas tecnologias, enquanto veículo de comunicação, e pelas características próprias deste novo ser social emergente, quer na sua relação com a comunida de, quer com as necessidades comportamentais próprias.

identities in a common narrative, completely different in their perceptive speech.

A consciência, o conhecimento e a apropriação das coisas por parte deste novo ser humano, é construída por camadas de informação e por diversos momentos, provocando diversas escalas de legibilidade da realidade exterior. Do geral até ao particular, este conhecimento e apropriação da realidade em movimento constrói uma identidade complexa em que o particular ganha a mesma ênfase e importância que o geral ou principal. Surgem ambos como meio de conhecimento e comunicação de uma identidade autêntica do próprio ser humano e da própria sociedade fazendo com que a arquitectura corresponda através de uma resposta positiva, flexível e verdadeiramente capaz de unificar identidades completamentes distintas num discurso percptível por todos ao qual está subjacente uma espécie de narrativa comum.

1_ BOOMKENS, (2009), René, “The New Power of Creolization” in VOLUME, nº19, Archis


“Identidade multiplamente aberta”, Ilustração, Produção própria “Multiply open identity”, Illustration, Own production


LUGARES SEM EXPRESSÃO E TERRITÓRIOS ANÓNIMOS

ANONYMOUS AND EXPRESSIONLESS PLACES

O crescimento desregrado e desqualificado, resultante da sociedade industrializada e capitalista tem neste momento como consequência territorial a existência de lugares com os quais os seres humanos não se identificam, lugares de acontecimentos inexistentes e que perdem o seu papel referencial no tecido construído, revelando a sua condição atópica, dado a apenas pertencerem a uma paisagem superficial, nem sempre bela, através da ausência de conteúdo por entre todo aquele conjunto de elementos físicos sem qualquer expressão de vitalidade.

Disqualified and unrulled development resulting from the industrial and capitalist society have as territorial consequence the existence of non recognizable places, where nothing happens, losing their referential role on the built tissue, unveiling their atopic condition, belonging to a superficial landscape, not even beautiful, through the absence of content between that physical elements ensemble without any expression of vitality.

A especificidade local não encontra nestes lugares sem expressão qualquer dimensão como e enquanto acontecimento. Estes lugares são anónimos por se tornarem iguais a tantos outros sem que existam elementos que os identifiquem e, portanto, os definam enquanto plataformas de suporte de vidas sociais necessariamente características e específicas. Esta é uma nova característica destes lugares repletos de amodernidade. Eles não nascem necessariamente da condição sobremoderna actual expressa enquanto excesso de um tempo persistente, mas sim da negação de qualquer conteúdo, de qualquer tempo, de qualquer especificidade. Metaforicamente, a condição destes lugares sem expressão surge como uma miscelânea de valores que no seu conjunto confundem o valor do tempo no espaço. São portanto lugares sem capacidade de representação, de manifestação de conhecimento e de acontecimento não completando o fenómeno artístico da construção desse mesmo território. E como é importante e fundamental afirmar a Arte em tudo o que fazemos tal como ela nos afirma como somos. Esta relação entre a Arte, a essência do espaço e fenomenologia dos lugares está bem expressa quando Gorjão Jorge refere que “ a Arte afirma a essência dos fenómenos através de um discurso de objectos que devem ser interpretados não como coisas que impõem a sua presença através da simples fisicalidade da matéria que as constitui, mas como suporte de formas, e portanto, também elas como representações.”1 A fisicalidade destes territórios é também uma forte característica contributiva para a ausência de expressão destes lugares.

The local specificity doesn’t find in this expressionless spaces any dimension as happening or performance. These places are anonymous for being the same as many others without the existence of elements that identify themselves and define them as specific social life support platforms. This is a new characteristic of this places fulfilled by an a-modern condition. They don’t necessarily born from the over-modern condition expressed by the excess of this persistent period but from the denial of any kind of content, a miscellaneous of values that together confuse time’s value over space. These are locals and places without any representation capacity, knowledge and happening manifestation not completing the artistic phenomenon on the territory aesthetic construction. Its fundamental affirm Art in everything we do as it affirm ourselves as human beings. This relationship between Art and essence of space is well expressed in Gorjão Jorge´s statement:“ Art affirms the essence of phenomenoms through it’s object speech that should be interpretive not as things that impose their presence simply through this matter’s physicality, but as a form meaning support, as a representation”. Physicality of these atopic territories is a strong characteristic that contributes to their absence of expression.

1_ JORGE, (2007), Gorjão, “Lugares em Teoria”, Col. Pensar Arquitectura, Caleidoscópio Edições, 1ª Edição, Casal de Cambra


“A condição atópica do território”, Ilustração, Produção própria sobre fotografia de Carey Young (Body technics II) “The atopy of the territory”, Illustration, Own production upon Carey Young’s (Body techincs II)


O FENÓMENO DA COMUNICAÇÃO: MEIO E INTERVENIENTES

Da tendência individualizada do ser social surge, ao mesmo tempo, um fenómeno simultâneo de maior interacção e conhecimento da sua própria realidade pública. Toda a dimensão pública da Arquitectura parece exigir ser portadora da comunicação de um determinado contexto, como limite geofísico, mas ao mesmo tempo a capacidade de ser encarada como plataforma de comunicação que permite uma relação aberta e multidireccional entre as pessoas, agregando as diferentes vontades, através da fruição activa e regulada dos diferentes tipos de público. Este facto parece exigir da disciplina um outro tipo de contorno comunicacional, na medida em que esta Sociedade da Informação é constituída por diferentes necessidades e expectativas consoante o próprio contexto temporal, social e económico em que se insere contrariando a ideia generalizada que a Sociedade da Informação é o mote para a perda de valores específicos de um contexto previamente existente e o símbolo da globalização aparentemente destruidora da identidade local. Isto parece ir de encontro ao que William Mitchell define como uma nova Economia de Presença. Este novo ser social e a sua relação com o acontecimento e o estímulo ganha diversas dimensões e sentidos, na medida em que podemos estar presentes num sítio ou num lugar, definido através de um contexto físico ilimitado, ou simplesmente estarmos presentes em relação a um dado conjunto informacional que recebemos viajando para esse outro contexto virtual.“Ao realizar as nossas transacções diárias descobrimo-nos pensando constantemente nos benefícios dos diferentes graus de presença do que temos agora à nossa disposição e ponderando-os ao seu próprio custo.”1 A forma essencial e primária de comunicação na Arquitectura está na geração de ambientes compondo, manipulando e utilizando diferentes meios e intervenientes para tal, como nos ensina a própria História. Mas, como refere McLuhan “os ambientes não são invólucros passivos, mas sim processos activos”2, o que a qualifica o espaço arquitectónico de múltiplos conteúdos e múltiplas formas de comunicação, promovendo a renovação

THE PHENOMENON OF COMMUNICATION: MEDIA AND SPEAKERS

By social beings individual trend arises at the same time a phenomenon of greater interaction and knowledge by their own public reality. All the architecture’s public dimension requires to be capable of communicating a certain context, as a geophysical limit, but at the same time be seen as a communication platform that allows an open relationship between people, adding different wills through the active and regulated fruition of the different types of public. This fact requires from discipline another type of communicational outline, because this Society of Information is composed by different necessities and expectations according to the own social and economic context, against the major idea that this actual social condition is the key to total loss of specific existing values and symbol of an apparent globalization that destroys the local identity. This is referred in Mitchells new Economy of Presence. This new social being and their relationship with the happening and stimulus acquires diverse dimensions and senses, in the way that actually we can be present in a place defined by its physical context, or simply be present relative to an informational ensemble that we receive travelling in a virtual context. “ Performing our everyday tasks we find ourselves thinks of the benefits of our presence and we ponder its own cost.”1 The essential and primary form of communication in Architecture is in the composition of environments manipulating and using different medias and stakeholders, like history tells us. But as Mcluhan refers, “ the environments are not passive sheaths, but active processes”2, qualifying the architectural space of multiple content and forms of communication, promoting the natural renovation of the message that in a certain intervention is capable of being captured by human senses. The interactive relationship between the media, speakers and its capacity to generate different methods of transition between different contents and messages, lead us to different communicational processes defended by William Mitchell. Asynchronous and synchronous


natural e controlada da própria mensagem que através de uma determinada intervenção tem a capacidade de ser captada pelos sentidos humanos. A questão do relacionamento interactivo entre o meio e os intervenientes, interligada com este método de transição entre diferentes mensagens e diferentes conteúdos , vai de encontro aos processos comunicacionais defendidos por William Mitchell. As comunicações assíncronas e síncronas são fenómenos distintos de comunicação entre o ser humano nesta Era da Informação. Podemos resumir que a comunicação síncrona corresponde a um tipo de comunicação definida, limitada e específica no tempo. O emissor e o receptor conhecem o significado do acto comunicante em si, sabem o seu uso e a mensagem é efectivada no próprio momento e no exacto lugar da experiência. Já na comunicação assíncrona o tempo, o espaço e o próprio conteúdo e razão comunicante da mensagem estão completamente separados, ou seja, o emissor e receptor respectivamente enviam e captam a mensagem em momentos diferentes, correspondendo a um “largo processo de desmaterialização da informação.” 1 Isto leva-nos a uma ponte com a divisão de Mcluhan dos meios em duas categorias sensorialmente distintas, os meios quentes e os frios, que basicamente se distinguem pela sua capacidade de concentrar informação, estímulo e comunicação. Assim, “um meio quente é aquele que estuda ou prolonga um único sentido em ‘alta definição’. A alta definição é o modo de ser plenamente saturado de informação.” 2 Por oposição os meios frios correspondem a meios de baixa definição e, à concentração dos meios quentes, dão origem ao processo oposto de dispersão, “exigindo por parte do utilizador um processo de preenchimento”2, o que alerta para o facto de “todos os meios serem metáforas actuantes na sua capacidade de traduzir a experiência em novas formas.” 2

correspond to different phenomenon of human being interaction in this Informational Era. We can resume that synchronous corresponds to a definite type of communication, limited and specifically intense. The transmitter and the receiver know the meaning of the message, its value and it’s captured in the same moment and in the exact place that is submitted. In the asynchronous type, time, space and content are completely separated. The transmitter and receiver send and capture the message in different timeline, corresponding to a “large process of information dematerialization.”1 This led us to drawn a bridge to Mcluhan’s division of the media in two sensitive distant ways, the cold and the hot media. Basically these are distinguished by their capacity to concentrate and divulge information, stimulus and communication. “ An hot media is the one who prolongs one only sense in high definition.This high definition is a mode completely saturated of information” 2. By the opposite, cold media corresponds to low definition and originates a dispersed process of communication, “making users an own process of fulfilling.” 2 , what alert us to the fact that “every media are active metaphors in their capacity of translate the experience in new forms.” 2

1_ MITCHELL, (2001), William J., “E-topia”, Editorial Gustavo Gili, Barcelona 2_ MCLUHAN, (2008) Marshall, “Compreender os Meios de Comunicação”, Relógio d’Água Editores, Lisboa


A CAPACIDADE NARRATIVA DA ARQUITECTURA: SÍTIO E RITUAL

ARCHITECTURE’S NARRATIVE ABILITY: SITE AND RITUAL

A capacidade narrativa da arquitectura nasce de uma crença que interpreta a Arquitectura, enquanto desenho e projecto, e também como construção, num produto e num veículo de desejos, ansiedades, devaneios e idealizações do mesmo tipo que as narrativas ficcionais.

Architecture’s narrative ability rises from a belief that interrelates architecture, as drawing, project and even construction, in a product and vehicle of desires, anxieties, dreams and ideals form the same kind as fictional narratives.

A capacidade da disciplina da Arquitectura conjugada com a necessidade actual do território e da paisagem atópica faz emergir a necessidade da geração de ambientes e situações definidas através de contextos delimitados, mas com a capacidade de proliferar a sua mensagem e a sua influência por todo o território, tendo como processo de propagação a narrativa dessa mesma experiência proporcionada. Dentro dessas aparências existe uma camada invisível e fora do alcance humano. Essa camada varia, estimula e surge como ideia de ordem e de reacção natural das coisas enfatizando o significado do acontecimento em si, importantíssimo na sua permanência na memória do ser social actual. Esta ideia de ambiente definido pela Arquitectura e da Narração enquanto processo de construção desse ambiente surge verdadeiramente como o acontecimento comunicado. Da atitude comunicacional inerte da generalidade das intervenções contemporâneas, apoiadas na mimetização dos conceitos e das linguagens do modernismo higienista do pós-guerra, esta atitude comunicante interactiva, e conceptualmente comprometida com a pertinência do gesto arquitectónico, parece ter como forte aliado histórico toda transversalidade da herança Situacionista. Não se pretende, contudo, explicitar a formação de uma nova e renovadora linguagem. Como refere Garroni, “sem ser linguagem, seria no entanto, um modo de fazer falar a realidade, que em si mesma está longe de ser loquaz” 1, aproximando a disciplina ao disciplinado. Os intervenientes desta atitude narrativa são uma espécie de código aberto que interessa abordar na construção da essência desse fenómeno de comunicação entre Arquitectura e ser humano. Tornam-se numa “constituição de grupos que se diferenciam qualitativamente uns dos outros ao imporem contradições

The discipline’s capacity and the actual atopic territory needs makes the emerging process of the conception of defined environments and situations through limited contexts but with the capacity of spreading his message and influence by all territory, having as propagation element the story of its narratives experience. Inside those experiences exists an invisible layer unreachable by human being. That layer varies, stimulates and occurs as an idea of order and natural reaction emphasizing the happening’s meaning. This idea of defined and closed environment and situation by architecture and narrative as process of construction actually occurs as an event statement. From the inert attitude of the most contemporary interventions, this interactive communication attitude, and conceptually compromised by architecture’s gesture, appears to have an allied in the Situationist inheritance. We don’t pretend to explicit a new language. As Garroni refers, “ without being language, is actually a way of making reality talk, that in itself is far way of being loquacious.” Approaching the discipline to the disciplined. The speakers of this narrative attitude are an open code species that interests to study in the construction of the essence of this communication phenomenon between architecture and human being. They become a “group contribution that qualitatively differentiate themselves imposing contradiction and own internal laws”, forming the essence, a whole interactive environment required by society of information. At same time, becomes an “object that is expressed by facts of life, by place and by knowledge.” This knowledge guarantees all the community’s mental construction. Therefore, the discipline’s approach to society, in this point, is a caused by the conceptual insertion of site and ritual as fundamental speakers in this process of


e leis internas inerentes a cada um deles” 2, formando a essência, um todo interactivo e vivo exigido pela condição social da Sociedade da Informação. Ao mesmo tempo torna-se num “objecto que se expressa pelos factos da vida, pelo lugar e pelo conhecimento”.2 Este conhecimento individual garante toda a construção mental de uma colectividade.

communication, allowing to the architectonic text being imbued by decipherable codes inserted in the everyday experiential. Knowing the objects narrative allows rituals to interconnect everyday life as a new reality caused by the interventions. “ This interaction composes the imagery, limited to a personal significance without a social reality” 2 .

Portanto, a aproximação da disciplina da Arquitectura à sociedade passa, neste ponto, pela inserção conceptual do sítio e do ritual como intervenientes fundamentais nesse processo de comunicação, permitindo ao texto arquitectónico estar imbuído de códigos decifráveis pelo ser humano, inserido no seu quotidiano vivencial.

So, site is defined by a physical shape and ritual, as the capacity of generating is own ambience. As topological definition, site is a system of topological spaces that have in common an ensemble of points and limits. Ritual corresponds to the identifying membrane that operates beneath the fragmentary stories of everyday life. The architecture’s narrative ability directly relates the reality’s content to expression. The story’s narrative occurs with the approach between architecture and human being qualifying the territory as a meaning of experience and happening.

Tomando conhecimento da realidade narrativa do objecto, passa a existir um conhecimento mútuo fundamental em qualquer tipo de relação. “O objecto é dado pelo conhecimento e o observador absorve a sensação do objecto”2. Como puro fenómeno de interacção, a narrativa permite que esse ritual interligue o quotidiano existente com uma nova realidade provocada pela intervenção. “É nesta interacção que se constrói o símbolo da imagem, limitado a um significado pessoal e sem uma realidade social” 2. Assim, o sítio define-se enquanto corpo físico construído e o ritual como a capacidade de gerar o próprio ambiente vivencial. Como definição topológica, o sítio é portanto um sistema de espaços topológicos que têm em comum um mesmo conjunto derivado, de pontos e do seu limite territorial, e o ritual, topologicamente, corresponde à essência identitária das superfícies portadoras da membrana definidora do contexto que opera sobre as histórias fragmentárias da vida quotidiana.Ou seja, a capacidade narrativa da arquitectura relaciona directamente o conteúdo com a expressão da realidade circundante. A narração da história surge com a aproximação entre o ser humano e a Arquitectura, enquanto conteúdo e expressão duma relação próxima e íntima, qualificando o território como significado de experiência e acontecimento.

1_ GARRONI, (1980), Emilio, “Projecto de Semiótica”, Colecção Arte & Comunicação, Edições 70, Lisboa 2_ CONSEGLIERI, (2007), VICTOR, “ Metáforas da Arquitectura Contemporânea”, Editorial Estampa, Lisboa


ATITUDES COMUNICACIONAIS: LIMITE, PROPAGAÇÃO, TRUNCAGEM

COMMUNICATIONAL ATTITUDES: LIMIT, PROPAGATION, TRUNCATION

Falar de Limite enquanto atitude comunicacional é estabelecer um fenómeno de interacção controlado pelo próprio ser humano, cuja acção do tempo, enquanto interveniente, que faz perdurar uma determinada mensagem, tornando-se imprevisível por ter a índole comportamental e o movimento de fruição do ser humano como factor fundamental da expressão.

Interrelating a limit as an architecture communicational attitude is like an establishment of an interactive phenomenon controlled by human being, whose action over time, as a speaker, makes the subsistence of the message becoming an expression almost unpredictability by having the natural movement, fruition and abrasion as main performing element.

Ao mesmo tempo limitar implica uma afirmação através da simplicidade do próprio acto comunicacional, de um contorno e de uma situação bem definida e identificável. Tornando-o num meio quente de comunicação, esta atitude pressupõe um papel referencial mais forte e um estímulo constantemente presente na memória proveniente dos sentidos do ser humano. Como atitude comunicacional o limite surge como um processo que garante uma maior objectividade perceptiva e referencial ao ser humano. A propagação tem o dever de proliferar o estímulo, de ser um elemento composto por diversas situações definidas, por diversos intervenientes formais. As matérias, num momento imediato da percepção, e a forma no momento perceptivo geral apresentam um papel fundamental nesta atitude comunicacional que tem os sentidos enquanto meio de gerar a particularidade dessas mesmas situações expressivas. Assim, falar de propagação é o garante de uma eternização dos valores fundamentais do lugar tomandoos para si e gerando uma mensagem múltipla, que não se desgastando, se renova infinitamente através do tempo e das suas sequências comportamentais. O processo de truncagem surge como um fenómeno de comunicação que nos remete para a ausência total de estímulo, não na sua manifestação sensorial, ou isso nos remeteria simplesmente para o vazio, o silêncio, ou a total escuridão, mas a total ausência de estímulo encarada enquanto total ausência de acontecimento colectivo. A truncagem funciona como elemento fundamental para acentuar a mensagem tanto do acontecimento que lhe precede como o que lhe sucede. Pretende num primeiro momento narrativo interligar as demais atitudes comunicacionais ou simplesmente afirmar a condição atópica do território como protagonista principal da mensagem e da simbólica da própria narrativa.

At the same time, limit implies a pronouncement attitude through simplicity of the act, like a well and strongly defined situation or element. Becoming a hot media, this attitude presuppose a stronger referential role and stimulus constantly present on the human beings memory. As a communicational attitude, limit becomes a process that guarantees a greater perceptive and referential objectivity to human beings perception. Propagation has the duty of spread stimulus, dealing with an element ensemble defined by diverse formal elements. Mater, in an immediate perceptive moment, and form as a general one, feature a fundamental role in the particularity and their expression. Talking about propagation as architecture communicative attitude is the guarantee of an immortality feeling of the local values, taken by themselves as a generation process of multiple messages that doesn’t waste and renew themselves through time in their own behavioural sequences. The process of truncation occurs as a communicative phenomenon that lead us to the total absence of stimulus, not in its sensitive manifestation, or it would relate us to the void, silence or total darkness, but the total absence of stimulus seen as total absence of collective happening. Truncation functions as a fundamental element to enhance happening’s message and happenings that preceded and succeeds. It pretends in a first narrative moment, connect the other communicative attitudes or simply as a form to make the atopic territory condition as principal performer of the critical and symbolic message by architecture’s narrative ability.


“ Territory and Media “, Illustration, Own Production “ Território e meios de comunicação ”, Ilustração, Produção Própria



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