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UM FREIO NA FEBRE

Da Cannabis

A indústria de alimentos e bebidas apostou alto no uso do ingrediente mágico. Faltou combinar com o governo

Estava tudo montado para a comemoração. Produtores rurais, indústrias de ingredientes, fabricantes de alimentos e bebidas e, no fim da cadeia, até mesmo grandes grupos de varejo. Bilhões de dólares foram colocados na mesa à espera da regulamentação da Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo americano encarregado de avaliar e liberar a comercialização de alimentos e medicamentos. Na hora H, porém, ela não veio e frustrou os planos de todos que investiram no surgimento de um enorme mercado: o de produtos de consumo à base de cannabis.

Era uma expectativa que já durava alguns anos. Em 2019, por exemplo, a cervejaria cana- dense Molson Coors anunciou parceria com produtores de cannabis. A Costellation Brands –com um vasto portifolio de marcas conhecidas como os vinhos Robert Mondavi e as cervejas Corona – reservou US$ 4 bilhões para investir no potencial desse mercado. As empresas lançaram produtos no Canadá e em partes do EUA, onde os produtos de cannabis são legais, como o Colorado. De refrigerante a jujubas, surgiu uma infinidade de produtos que infundiam a droga de diferentes maneiras.

Mas era uma aposta com certo risco. Embora o uso medicinal da cannabis seja legalizados em 37 dos 50 estados americanos, havia um vácuo na legislação federal em torno do assunto, o que deixava toda essa indústria em uma zona, digamos, esfumaçada.

A esperança de que essa fumaça se dissipasse estava em uma decisão a ser tomada pela FDA em torno de uma petição para que produtos com infusçao de cannabis pudessem ser comercializados como suplementos dietéticos. No dia 26 de janeiro passado, a resposta que ouviram foi não.

No comunicado da decisão, Janet Woodcock, vice-comissária da FDA, afirmou que a cannabis apresenta certas preocupações de segurança a longo prazo.

“Estudos mostraram o potencial de danos ao fígado, interações com certos medicamentos e possíveis danos ao sistema reprodutor masculino”, disse. “A exposição ao CBD [sigla para canabidiol, uma das substâncias presentes na cannabis] também é preocupante quando se trata de certas populações vulneráveis, como crianças e grávidas.” E comunicou que a FDA planeja trabalhar com o Congresso

A produção de cannabis e bebidas com infusão de canabidiol: mercado envolto em nuvem de incertezas americano para criar um novo caminho regulatório com salvaguardas para mitigar riscos, incluindo rotulagem clara, prevenção de contaminantes, limites de conteúdo de CBD e uma idade mínima de compra.

“A aprovação do FDA era para ser o momento em que grandes empresas pensariam em entrar no CBD”, disse Erwin Henriquez, consultor de pesquisa de mercado da Euromonitor International. A reação da indpustria veio, no entanto, na direção contrária e os primeiros movimentos foram de retirada. A Molson Coors anunciou o encerramento de uma parceria com a Hexo, empresa fornecedora de produtora de CBD. A Constellation, decidiu reduzir em US$ 1,1 bilhão o valor de seu investimento no setor.

O receio das empresas é o de que a incerteza demore por muito tempo ainda, adiando de forma indeterminada a possibilidade de que o mercado ganhe espaço nas gôndolas de supermercados e, assim, a escala necessária para trazer retorno a esses investimentos. Algumas empresas simplesmente desistiram de fazer negócios nos Estados Unidos.

Um exemplo é a Nextleaf Solutions, que produz CBD como ingrediente para aplicação em alimentos e bebidas e é dona de 19 patentes nos EUA para extração e purificação de canabinóides de cannabis e cânhamo. A falta de regulamentação fez com que a empresa evitasse fabricar produtos de CBD nos EUA, alegando não poder atender às suas necessidades de gerenciamento de qualidade – rastrear o ingrediente em toda a cadeia de suprimentos – da mesma forma que pode no Canadá.

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