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Ag Infraestrutura
from Plant Project #35
milho deverá acelerar em ritmo intenso nos próximos anos. Ou seja, o déficit de armazenamento poderá chegar a níveis insustentáveis. Atenta a essa questão, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) decidiu agir. Em 2021, lançou o programa “Armazém para Todos” para incentivar a construção de silos principalmente por pequenos e médios produtores. Em linhas gerais, o projeto consiste em facilitar o acesso a crédito para esse fim. Além disso, um simulador virtual ajuda os fazendeiros a calcular a viabilidade econômica do investimento, a despeito do tamanho da propriedade.
Afinal, quais são os impactos negativos gerados pela pouca quantidade de armazéns agrícolas disponíveis em território brasileiro? Sem áreas para estoques nas propriedades, os agricultores correm para vender a colheita de acordo com os preços praticados em um dia específico, e assim não acumular perdas. Com os silos, seria possível guardar a safra e negociá-la aos poucos, por valores melhores – ao estocar grãos de maneira adequada, o produtor poderia vendê-los na entressafra ao longo do ano, e certamente com preços mais altos.
De fato, falhas no processo de armazenamento geram prejuízos significativos para os agricultores. Um estudo recente realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) estimou que o produtor rural poderia melhorar sua lucratividade em até 55% caso houvesse lugar disponível para guardar todos os estoques. A conta leva em consideração a redução com os custos de frete e o aumento da rentabilidade das colheitas.
É fácil entender os benefícios. Para Adiemir Hortega Medeiros, gerente sênior de consultoria para Operações em Supply Chain da consultoria EY, a armazenagem adequada dos grãos resultaria “em perdas menores no transporte, maior controle da umidade dos grãos e melhores preços das commodities ao longo da safra”. O cálculo do frete é fundamental nessa equação. No Brasil, os valores disparam durante a safra. Se o produtor tiver armazéns instalados na fazenda, ele inevitavelmente reduz esse custo, evita filas para o escoamento da produção e, na ponta final, alivia a pressão sobre as operações logísticas nas estradas e portos.
No dia a dia das fazendas, a falta de espaço faz com que boa parte da produção permaneça fora dos silos, a céu aberto. Para dimensionar o problema, basta voltar os olhos para os anos anteriores. Superintendente do Imea, Cleiton Gauer lembra que, em 2022, a boa safra de soja na região não foi acompanhada pelo aumento das vendas. Com isso, os armazéns ficaram sem local adequado para receber o milho, que acabou armazenado ao ar livre porque a capacidade interna dos silos estava esgotada. Segundo ele, isso não ocorria há pelo menos dois anos.
Armazenar a produção ao ar livre provoca efeitos colaterais indesejados. Um deles é a dificuldade para regular a umidade dos grãos. Parece algo sutil, mas é de extrema importância no agronegócio. Para ter boa qualidade e, portanto, atingir bons preços no mercado, o grão de soja deve ter um índice de umidade em torno de 11% para armazenamentos que durem um ano ou entre 9 e 10% acima disso. Manter esses índices é muito mais fácil em ambientes controlados, que favorecem, por exemplo, o uso de tecnologias de secagem.
O excesso de grãos – algo sempre positivo que deveria ser potencializado pela melhoria da infraestrutura no País, ressalte-se mais uma vez – causa congestionamentos nos portos, em geral despreparados para receber o aumento explosivo da movimentação de cargas, deixa caminhões e trens à espera do despacho das mercadorias, adia entregas e, no final das contas, prejudica toda a cadeia produtiva.
Uma das maneiras mais rápidas e eficazes de combater o problema seria ampliar os desembolsos públicos em projetos de infraestrutura. Pouco tempo atrás, o Plano Safra destinou R$ 4,2 bilhões em recursos, por meio do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), para investimentos em armazenagem. O valor, contudo, é considerado insuficiente para reduzir a defasagem de silos. Eles, de fato, custam caro. Segundo dados da Kepler Weber, líder do mercado brasileiro de equipamentos desse tipo, um silo custa entre R$ 750 e R$ 1 mil por tonelada de grão armazenado. De acordo com especialistas, o investimento se pagaria em cinco ou seis anos de produção e valeria a pena especialmente para fazendas com área de produção acima de 400 hectares.
Um caminho para a redução de danos seria a fomentação de alternativas complementares. A consultoria EY cita os “silos bags”, equipamentos que suportam de 180 a 250 toneladas por unidade e que armazenam o grão em perfeitas condições de comercialização por até 18 meses e com a vantagem de possuírem uma vida útil de pelo menos dez anos. Além disso, diz o consultor da EY Adiemir Hortega Medeiros, eles são cerca de 40% mais baratos em relação ao silo metálico convencional.
Trata-se, entretanto, de medida paliativa que certamente não resolveria o problema por completo. Iniciativas como essa deveriam estar associadas a projetos mais abrangentes, como investimentos em processos e tecnologias que otimizassem, por exemplo, todas as etapas de transporte. “As pressões no escoamento rápido e sincronizado demandam um ecossistema eficiente de infraestrutura de transportes, como ativos portuários e marítimos robustos”, afirma o consultor Medeiros, da EY. “Nos dias atuais, quem está atuando como viabilizador dessa estrutura são as grandes tradings globais.”
A defasagem de armazéns não é um gargalo que atinge apenas o bolso dos produtores. No aspecto mais amplo, ela ameaça a própria segurança alimentar do País. Sem locais adequados para estocar a produção agrícola, o Brasil se expõe a riscos de abastecimento, especialmente se houver quebras significativas da safra, algo não tão desprezível assim em um contexto de mudanças climáticas. Portanto, a questão deveria merecer maior atenção dos entes públicos, na medida em que diz respeito ao conjunto de toda a sociedade. Com desabastecimento, lembre-se, vem a inflação, e ela costuma ser cruel com os mais pobres. O que traz algum alívio é que o tema tem recebido cada vez mais atenção. Isso é ótimo para o agronegócio, mas melhor ainda para o País.