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GRÃO DE OURO

Com ampla e aquecida demanda, que impulsiona vendas ao exterior, milho assume novo protagonismo na pauta do agro

Por Ronaldo Luiz

Ag Commodities

Líder em soja, líder em café, líder em cana, líder em proteína animal. O Brasil do agro é protagonista mundial na exportação de várias commodities agropecuárias... e continua avançando, conquistando mercados e ultrapassando competidores de peso. Agora é a vez do milho, cultura que há duas décadas praticamente se destinava apenas a abastecer o mercado interno. No início de fevereiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgou previsão de que sairão dos portos brasileiros cerca de 50 milhões de toneladas do grão em 2023. Confirmada essa previsão, o País torna-se o principal exportador global, superando os americanos, que devem embarcar 48,9 milhões de toneladas.

É um resultado impressionante. Segundo dados da Cogo Inteligência em Agronegócio, há menos de 15 anos nossas vendas externas eram pouco superiores a 10 milhões de toneladas. Uma convergência positiva de fatores impulsionou a demanda – tanto interna como externa – e os agricultores brasileiros responderam rápido. O grão amarelo ficou mais dourado nas contas de produtores, empresas e na balança comercial brasileira.

Quando se olha para fora, o apetite vem sobretudo da Ásia, onde população e renda per capita aumentaram e, em menor grau, também em algumas regiões da África. “O fato é que conforme há crescimento populacional, naturalmente há um consumo maior de proteínas, especialmente pelas carnes suína e de frango. Outro fator é que com a melhoria de renda nos países, a demanda por proteínas também aumenta. Este cenário gera uma procura óbvia maior pela produção de carnes e consequentemente de milho”, explica Edmar Wardensk Gervásio, analista do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná (Seab). Ao lado do Mato Grosso, o Paraná é um dos principais estados produtores do grão e tem a expectativa de colher cerca de 19 milhões de toneladas de milho na temporada corrente.

Internamente, a criação de aves e suínos caminha de braços dados com a produção de milho. Tiago Pereira, assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), esclarece que praticamente 70% da demanda nacional pelo grão é reservada para a alimentação desses animais. “Com a tendência de aumento ou pelo menos a manutenção dos patamares de crescimento dos últimos anos na avicultura e na suinocultura, a demanda pelo cereal certamente deve se manter”, projeta.

Nesta safra 2022/23, a previsão é de que, mundialmente, sejam produzidas 1,161 bilhão de toneladas de milho, segundo dados do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês). No Brasil, a expectativa é por uma colheita próxima a 127,9 milhões de toneladas, alta de 6%, de acordo com estimativas da Datagro Grãos. Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma produção de 123,7 milhões de toneladas, avanço de 9,4%.

“A produção nacional vem crescendo, refletindo o gigantesco potencial alimen- tício e energético do milho. Nosso grão vem ganhando espaço na comunidade internacional graças à vasta oferta que produzimos, bem como pela excelente qualidade do nosso cereal, que é vendido a preços competitivos”, diz Cesario Ramalho, coordenador do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e ex-presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho).

Guerra E Oportunidades

A engenheira agrônoma Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep/ Senar-PR), conta que uma combinação de dois principais fatores tem impulsionado a procura pelo milho brasileiro nos mercados internacionais.

“A lacuna aberta pela guerra no Leste Europeu e a nova demanda da China são os principais motivos que estão aquecendo os embarques do grão pelos portos brasileiros.” Com o conflito, a Ucrânia, tradicionalmente grande produtora e exportadora de milho, viu colheita e embarques se deteriorarem de modo acentuado, abrindo espaço para outros exportadores, como o Brasil. Por outro lado, a potência asiática, a despeito de também ser uma grande

Previsão do USDA é de que Brasil vai vender cerca de 50 milhões de toneladas do grão para o exterior em 2023, tornando-se o principal exportador global produtora do grão, enxergou, com a eclosão da guerra e todos os seus desdobramentos nos fluxos comerciais, a oportunidade para diversificar a origem de suas importações de milho, tradicionalmente concentradas nos Estados Unidos.

Ana Paula relata que Ucrânia e EUA costumavam ser os principais exportadores do grão para a China. “As exportações ucranianas registraram queda de 24%, já que tiveram menor produção e dificuldades para embarcar o produto, devido à guerra com a Rússia.” Já no caso dos

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