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Ag Commodities

Estados Unidos, salienta Flávio Roberto de França Júnior, líder de pesquisa da Datagro Grãos, o ponto crucial é a questão geopolítica. “O conflito comercial sino-americano fez e faz com que a China se movimente para diminuir suas importações dos EUA, e, com tudo isso, o Brasil começou a abocanhar fatias do mercado internacional de milho.”

Segundo a técnica da Faep, o Brasil, então, passou a despontar como uma alternativa importante. “O País vem se tornando uma potência na exportação de milho, com um crescimento anual bastante expressivo, e a tendência é que isso se mantenha para os próximos anos.”

Alysson Paolinelli, presidente executivo da Abramilho, acentua que a importação pela China veio para ficar. “Eles são grandes produtores, mas precisarão de cada vez mais milho, e somente a agricultura tropical, a nossa, será capaz de atender esta demanda, diferentemente da produção em clima temperado, que não tem para onde crescer.”

Perspectivas Para 2023

Estatísticas da Conab indicam que as exportações nacionais de milho atingiram 47 milhões de toneladas no ano passado. Assim como a USDA, a Datagro Grãos projeta que o Brasil deverá embarcar 50 milhões de toneladas neste ciclo 2022/23, montante que, se for concretizado, significará incremento de 9%.

Em janeiro, os embarques já totalizaram 6,35 milhões de toneladas, mais que o dobro do volume de 2,73 milhões exportado no primeiro mês do ano passado, mostraram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

A China foi destino de 1,165 milhão de toneladas de milho do Brasil em 2022, com quase a totalidade embarcada em dezembro – aproximadamente 94%. Neste caso, o arranque dos embarques brasileiros se deu após conclusão das negociações de acordo fitossanitário entre os dois países. Em novembro do ano passado, a alfândega chinesa atualizou sua lista de exportadores do Brasil, totalizando 136, dando sinal verde para o início dos embarques. “O milho a ser exportado para a China deve estar de acordo com a legislação fitossanitária daquele país e observar os regulamentos específicos sobre importação e padrões nacionais da China, como estar livre de insetos vivos e pragas quarentenárias de preocupação local”, pontua Pereira da CNA. A USDA prevê importações totais de milho em 18 milhões de toneladas pela China em 2022/23, com um volume significativo proveniente do Brasil.

Salatiel Turra, analista de desenvolvimento técnico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), menciona que independentemente do “fator China”, ao contrário da soja, produto agrícola em que os embarques brasileiros são altamente concentrados no país asiático, as exportações nacionais de milho são mais bem distribuídas, têm historicamente destinos mais variados e cativos.

“Tradicionalmente, Irã, Espanha, Japão, Egito, Vietnã, Arábia Saudita são os maiores clientes do milho brasileiro. Em 2022, as exportações para esses países também cresceram. Para o Irã, os embarques do grão mais que dobraram em relação a 2021, alcançando 6,6 milhões de toneladas. Para o Japão e a Espanha esse aumento foi de 183% e 142%, respectivamente.”

Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), cita, ainda, outro ingrediente, que tem potencial para impactar as exportações de milho neste ano. No seu mais recente relatório, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires reduziu a estimativa para a safra 2022/23 do grão na Argentina para 44,5 milhões de toneladas, contra 59 milhões de toneladas do ciclo passado. O principal motivo para o corte é a seca, que vem prejudicando o desenvolvimento das lavouras locais. “Quebras de safra em um país importante como é a Argentina trazem ganhos de oportunidade, já que a redução da oferta pode acarretar em uma pressão altista para os preços globais do milho.”

Etanol, nova fronteira sustentável para o milho

Estima-se que, em 2023, do etanol produzido no Brasil, 15% terá como matéria-prima o milho. Nos últimos cinco anos, a produção saltou de 520 milhões de litros para 4,5 bilhões de litros, um crescimento de 800%. A projeção da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) é de que ela chegue a 10 bilhões de litros até 2030, aumentando a participação no mercado nacional de etanol de 15% para 20%.

Tiago Pereira, da CNA, ressalta que, com um consumo doméstico cada vez maior e reforçado pela produção de etanol de milho, o cereal deverá aumentar sua importância na cadeia de suprimentos nacional e global.

Segundo ele, o etanol de milho tem crescido e se estruturado como uma alternativa sustentável em vários aspectos, entre os quais seu desenvolvimento atrelado à alimentação animal. Para a produção de etanol de milho são dispensados outros subprodutos, que são de grande relevância para essa indústria, como o DDG – grão de milho seco por destilação –, que apresenta elevado valor proteico, em especial para suplementação de rebanhos bovinos em confinamento.

“Então, além do potencial de substituição de parte dos combustíveis fósseis e contribuir com a redução da emissão de gases de efeito estufa, o potencial de ampliação da produção de etanol de milho, sem sombra de dúvidas, irá contribuir com a disponibilidade de coprodutos com forte impacto na disponibilidade de alimentos.”

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