Plant | Edição 1

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

AGTECH, A VISÃO DE FUTURO NO CAMPO

AGTECH, A VISÃO DE FUTURO NO CAMPO

O Brasil pode liderar a agropecuária digital? PODER BLAIRO MAGGI, O MINISTRO DAS BOAS NOTÍCIAS

Entrevista

Roberto Azevêdo, da OMC, e a onda global do protecionismo

edição 01 | novembro/dezembro 2016

PERFIL O estilo e os planos de Arnaldo Borges, a nova face da ABCZ

AUSTRÁLIA Zegna e a lã mais exclusiva do mundo PERSONAGEM O GENERAL CHINÊS NA GUERRA DA COMIDA venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br PLANT PROJECT Nº 1

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O valor do tempo é relativo. Ele depende do parceiro que sua empresa tem ao lado para fazer grandes negócios. Aqui no Itaú BBA construímos parcerias de longo prazo para entender cada vez mais as necessidades de sua empresa. Com uma estrutura ágil e profissionais especializados, transformamos ideias em resultados. Itaú BBA. O Corporate & Investment Bank da América Latina. www.itaubba.com

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E d ito ri a l

COMO ENXERGAMOS O AGRO

Muitos não entenderão, de imediato, o que significa a obra de arte abstrata estampada na capa da edição número 1 de PLANT PROJECT. Assim sendo, cabe, logo de início, um esclarecimento. O que se vê ali é a representação de uma nova era do agronegócio, a era digital. Produzida especialmente pela startup Agronow, a figura revela, a partir da análise de uma série histórica de imagens de satélite de um mesmo ponto do território brasileiro, um mapa de potencial de produtividade desse pedaço de chão. A paleta de cores aponta os trechos de cada talhão onde as colheitas serão mais (em verde) ou menos (em vermelho) fartas. A partir delas, o empresário rural poderá tomar decisões cruciais para o desempenho de sua propriedade. PLANT PROJECT inicia sua trajetória como publicação regular com uma visão de futuro do agronegócio. Não se trata de substituir o olhar apurado do agrônomo que suja a botina de terra ao caminhar entre as lavouras. O objetivo desta edição – e a partir dela, todas as outras que chegarão a você a cada bimestre – é apontar as tendências que transformarão o setor nos próximos anos e permitirão que ele dê saltos de eficiência e de produtividade. Uma das mais revolucionárias é a onda AgTech, tema da reportagem de capa, que está financiando a formação de um ecossistema de empreendedorismo e inovação em busca de soluções tecnológicas para questões que desafiam agricultores, pecuaristas e a agroindústria. A agricultura digital tira o produtor do chão, leva-o para o espaço e lhe oferece uma nova forma de enxergar a gestão de seus negócios. E depois lança-o de novo ao solo, com sensores e máquinas cada vez mais sofisticados, que abastecem complexos bancos de dados e, em tempo real, oferecem informações minuciosas sobre cada etapa da produção. Ela conecta o campo ao resto do mundo e permite que o consumidor também tenha informações mais precisas sobre a procedência dos alimentos que chegam à sua mesa. O Brasil, como potência global no agronegócio, está no epicentro do movimento AgTech. Com produtores tradicionalmente abertos às inovações, já começou a receber recursos de investidores, que acreditam poder colher aqui um futuro Google do setor. O País tem, de fato, terreno fértil para tanto, com gente capacitada e um mercado ávido por inovações. Mas faltam ainda uma cultura empreendedora e um ecossistema que incentivem nossas melhores mentes e os donos do capital a correrem riscos e posicionarem o Brasil como um protagonista dessa nova agropecuária. PLANT PROJECT propõe uma reflexão sobre o papel do País nessa corrida tecnológica. E mantém uma contribuição permanente para o desenvolvimento desse ecossistema, através da plataforma STARTAGRO (startagro.agr. br), criada para difundir informações sobre as melhores iniciativas AgTech mundo afora, conectar academia, mentores, investidores, empreendedores e ajudar a formar as gerações que assumirão o comando do setor. A cada edição, a partir de agora, PLANT PROJECT instigará os líderes do agronegócio a se debruçarem sobre temas fundamentais do setor. Promoverá discussões e atrairá para esse debate as melhores cabeças de vários segmentos, estejam ou não diretamente ligados à produção agropecuária. Convidamos você a participar e também mostrar a sua visão sobre o futuro do agro. Seja bem-vindo a PLANT PROJECT. Boa leitura. Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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I ndi ce

plantproject.com.br

G pág. 11 Ag pág. 21 Fo pág. 63 Fr pág. 69 W pág. 77 Ar pág. 91 S pág. 96 M pág. 120 G LOB A L

D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Phelipe Krisztan Pedroso Marketing e Publicidade Multiplataforma phelipe.pedroso@plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte Col ab o ra dores: Texto: Alyx Gorman, Ana Weiss, Ariosto Mesquita, Clayton Melo, Costabile Nicoletta, Denize Bacoccina, Emma Cowan, Gabriel Pillar Grossi, Márcio Kroehn, Núria Saldanha, Rachel Costa, Romualdo Venâncio, Simone Amorim, Vivian Oswald Fotografia: Adriano Machado, Claudio Gatti, Emiliano Capozoli, Karime Xavier, Zezinho Peres Design: Bruno Tulini, Pedro Matallo Revisão: Rosi Melo

AGRIBUSINESS

FO R UM

F RO N T E IRA

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ART E

Com un i cação Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação eliane.dalpizol@datagro.com Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Claudia Nastari Sérgio Nunes

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Datagro Publicações LTDA Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944


Mapa-múndi da informação Nos EUA, uma verdadeira batalha para decidir o destino dos cavalos selvagens

G GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: shutterstock PLANT PROJECT Nº 1

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GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

E S TA D O S U N I D O S

ESPÍRITO SELVAGEM

E

les já foram 2 milhões, vagando livremente pelos campos. Com o tempo, a imensa maioria morreu para dar lugar a fazendas cercadas com gado, ovelhas, cabras e porcos. Muitos criadores até hoje mantêm alguns cavalos selvagens soltos no campo, junto com os outros animais. Mas a disputa de espaço por pasto faz com que, ano após ano, ressurjam propostas de sacrificar milhares de mustangs americanos. Desde 1971 o governo monitora a população dos animais-símbolo da conquista do Velho Oeste. Em 2011, havia 34 mil cabeças – e muita pressão para eliminar boa parte delas (pecuaristas argumentam que, em todo o país, o limite máximo seria de 24 mil cavalos). Foi quando entrou em cena a bilionária Madeleine Pickens, na época ainda casada com um multibilionário do setor de petróleo, prometendo montar um rancho de 200 mil hectares para abrigar 30 mil cavalos selvagens. O projeto foi em frente, mas com sucesso relativo. Madeleine criou o Mustang

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Monument, um resort em Wells, no estado de Nevada, que oferece hospedagem luxuosa entre os meses de junho e setembro para quem quer ter a experiência de observar os animais de perto. A oportunidade é única, mas, segundo o próprio site do hotel, a reserva tem apenas 650 animais soltos. Agora, em plena campanha presidencial americana, o assunto voltou à tona. Em setembro passado, uma agência do Departamento do Interior (o Bureau of Land Management’s National Wild Horse and Burro Advisory Board) sugeriu sacrificar 45 mil desses cavalos que vivem nas fazendas do governo – justamente porque os custos com o rebanho estão muito altos para o poder público (US$ 49 milhões no ano passado, sem contar o que é gasto na captura dos mustangs na natureza selvagem). Críticos do programa argumentam que, em primeiro lugar, o governo não deveria ter criado essas fazendas, mas, uma vez que elas existem, a solução deveria ter sido o controle de natalidade – em vez da política de eutanásia geral. No ano passado, o Departamento do Interior vendeu 2 mil cabeças para matadouros. Tudo indica que essa disputa vai se arrastar por muitos anos e pode até chegar à Casa Branca. Afinal, Madeleine Pickens é uma ativa arrecadadora de fundos para o candidato republicano Donald Trump.


SUÍÇA

A TORRE DOS GRÃOS

Maior cidade da Suíça, com 400 mil habitantes, Zurique tem o principal aeroporto e o mais importante hub de trens do país. E também um dos cartões-postais mais curiosos do mundo. Às margens do Rio Limmat e a poucos metros da estação central, um gigantesco silo, capaz de armazenar 35 mil toneladas de grãos, acaba de ser inaugurado. Batizado de

LAOS

PLANTAR EM CAMPO MINADO No último dia 5 de setembro, Barack Obama tornou-se o primeiro presidente americano a visitar o Laos – país encravado entre China, Vietnã, Camboja, Tailândia e Mianmar – durante o mandato. Ele participou da reunião anual da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), mas a maior parte da agenda foi ocupada pelos esforços para compensar o país por uma terrível herança, sobra da não menos terrível Guerra do Vietnã. Durante nove anos, entre 1964 e 1973, os Estados Unidos e seus aliados despejaram perto de 80 milhões de bombas sobre o Laos. No total, foram 580 mil missões aéreas (o equivalente a um ataque a cada oito minutos, em média) e mais de 2,7 milhões de toneladas de explosivos (mais

Kornhaus (casa dos grãos), tem uma vista incrível de 360 graus no topo de seus 118 metros. O celeiro é propriedade da Swissmill, que negocia, processa e mói cereais desde 1843 – sempre no mesmo privilegiado e valioso endereço. Há cinco anos, num plebiscito, a população aprovou (por 58%) a substituição do velho prédio de 40 metros de altura pela nova construção, que teve início em maio de 2013 e foi concluída em setembro deste ano. Como bem descreveu um jornalista local, por mais que o colosso de concreto tenha sido muito criticado por sua arquitetura, o cheiro e a circulação de cereais acrescentam um ar romântico à vida na cidade. A Swissmill, com seus mais de 170 anos de história, é considerada um dos mais modernos moinhos da Europa e produz mais de 100 diferentes tipos de farinhas e produtos especiais, como granola e outros cereais matinais.

de 1 tonelada para cada habitante, na época). Milhões desses artefatos permaneceram em solo laociano – onde ameaçam as pessoas até hoje. Calcula-se que mais de 20 mil homens, mulheres e crianças tenham sido mortos por essas bombas não detonadas. Como não se pode plantar nesse solo minado, muitos caçam metal para vender e arranjar algum dinheiro – mas morrem ao provocar explosões. Desde 2010, a ajuda oficial dos EUA para limpar o terreno aumentou de 5 milhões para 19,5 milhões de dólares por ano. O objetivo é destruir até 100 mil bombas, empregando 3 mil trabalhadores locais. Com isso, o total de óbitos caiu de 300 (em 2008) para 48 (em 2014), mas tudo indica que esse número voltou a crescer. Todo o esforço empreendido até agora livrou dos explosivos apenas 1% do território. Com o intuito de criar melhores condições de vida por meio da

agricultura, a Stora Enso, empresa de origem finlandesa que é uma das maiores do mundo no setor de celulose, montou uma fazenda-modelo com 2.200 hectares, dos quais mais de 90% são ocupados por eucaliptos. O projeto teve início em 2007, sempre em parceria com os moradores da região. Desde 2014 está em curso o modelo de culturas rotativas, que é o mais comum no Laos. Nos primeiros dois anos, os agricultores cultivaram arroz e um pouco de mandioca entre as árvores. Agora, o local virou pastagem para o gado. A missão é criar empregos e dar suporte à economia local.

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BRASIL

UM BRINDE MUTANTE Foto: Claudio Gatti

Como o acaso colocou o Brasil no Por Márcio Kroehn mapa da produção de lúpulo

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rótulo da cerveja Baden Baden 15 anos guarda um segredo. O design simplificado traz a imagem da vegetação da região de Campos do Jordão, cidade do interior de São Paulo onde a cervejaria foi criada. O detalhe, que passa despercebido por aqueles que desconhecem o processo de fabricação da bebida, está em um dos ingredientes utilizados. O lúpulo – um dos quatro elementos básicos da cerveja, além da água, do malte e do fermento – é de origem nacional e aparece na embalagem como protagonista. A exibição tem motivo. Antes da Baden Baden, marca que pertence à nipo-brasileira Brasil Kirin, nenhuma outra cerveja nacional foi produzida com lúpulo cultivado no Brasil. “A variedade tem características aromáticas, o que é uma vantagem sobre os lúpulos em geral, por ser mais caro

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e difícil de encontrar”, diz o agrônomo Rodrigo Veraldi, proprietário do Viveiro Frutopia, onde a espécie foi produzida. “É uma chance de desenvolver o terroir brasileiro para a cerveja, com aromas de maracujá, frutas tropicais e temperos.” Terceiro maior importador global de lúpulo (cerca de 30 toneladas anuais), o Brasil parecia condenado a importar o ingrediente, apesar de ser um dos quatro maiores produtores mundiais de cerveja. A trepadeira tem origem europeia e se adapta ao clima frio de Alemanha, Estados Unidos e República Tcheca, os principais produtores (veja quadro). Há 12 anos, Veraldi acreditava ter na Serra da Mantiqueira a condição climática parecida com a da Europa para a produção. Sua experiência com o lúpulo, no entanto, foi um fracasso. Em seu sítio, em São Bento do Sapucaí, vizinha a Campos do Jordão, ele


desenvolveu as sementes em estufa, mas as plantas não vingaram em solo. O agrônomo, então, arrancou todas elas e usou como adubo. A surpresa, passados alguns anos, foi encontrar um pé íntegro e adaptado às chuvas da região. Ele passou a acompanhar o bravo sobrevivente e percebeu que uma mutação natural e espontânea fez nascer uma espécie capaz de resistir a fungos e doenças. “A planta que sobreviveu às intempéries tem um vigor especial, uma rusticidade com folhas mais rígidas e ásperas, características que ela conseguiu sozinha”, diz Veraldi. A partir dela, o agrônomo produziu clones, que se desenvolveram bem. Em 2014, o então mestre-cervejeiro da Baden Baden, Marcus Dapper, atualmente na microcervejaria Dama Bier, conheceu a experiência por acaso. Para atender à curiosidade dos visitantes da fábrica da Baden Baden, plantou 10 metros

quadrados de cevada. Com o sucesso da experiência, ele resolveu ter lúpulo no local, apenas para exibição. Descobriu, então, que na cidade ao lado Veraldi estava desenvolvendo a trepadeira numa área de meio hectare. O mestre-cervejeiro não só conseguiu três mudas (que floresceram pela primeira vez neste ano) como fechou uma parceria e a exclusividade da Brasil Kirin para o uso do lúpulo local. As flores frescas, algo inédito no País, foram direto do produtor para os tanques da cervejaria, numa receita criada especialmente para esse ingrediente. A primeira edição comemorativa dos 15 anos, de 2014, teve 30 mil litros. “O Rodrigo diz que sou o pai do lúpulo brasileiro, por ter levado o projeto dele para produção”, diz Dapper. “Se a cultura der certo, é importante pensar não apenas no lúpulo, mas num malte genuinamente brasileiro, para a criação de um estilo nacional.”

AROMAS DE FORA O Brasil importa 100% dos lúpulos utilizados para a fabricação da cerveja nacional. A Alemanha detém pouco mais de um terço da produção mundial...

Alemanha

7.308

EUA

Rep. Tcheca

15.383

4.460

China

2.655

Polonia

1.410

(Em milhares de toneladas)

...que vem aumentando nos últimos anos, com expansão estimada de 6,5% entre 2014 e 2015, apesar da estabilidade na produção global de cerveja.

2013: 46.246

2014: 47.766

(Em milhares de hectares plantados)

2015*: 50.900

Fonte: The Barth Report

*dado preliminar

Veraldi e a primeira cerveja com lúpulo 100% brasileiro

Entre março e abril deste ano, no início do outono, Veraldi realizou a primeira grande colheita do lúpulo brasileiro. A partir de agora, vai expandir a cultura com os produtores da região. A cada hectare, são plantados entre 2 mil e 2.500 pés. A trepadeira produz cerca de 1 quilo por planta, o que pode render R$ 400 mil por hectare. A produtividade é de cerca de 100 anos. “Este foi o pior ano para a agricultura que já vivi aqui, com muitas intempéries”, diz Veraldi. “Foi a prova de fogo para o lúpulo brasileiro. Se algo de errado tivesse de acontecer, seria este ano.” Como tudo está correndo bem, o Brasil pode sonhar em fazer parte do Beer Judge Certification Program (BJCP), o guia mundial de estilos para a produção de cervejas. “Sem atropelos, vamos consolidar naturalmente nosso estilo”, afirma Dapper. PLANT PROJECT Nº 1

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PALAVRA DE AUTORIDADE

Foto: Divulgação

Roberto Azevêdo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC)

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Em três anos à frente da OMC, o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo colecionou conquistas na costura de acordos para tornar mais justas e abertas as relações comerciais globais. O cenário das negociações internacionais, entretanto, parece mais desafiador do que nunca. Uma onda nacionalista e protecionista tem crescido mundo afora, atingindo inclusive países que tradicionalmente se alinhavam à frente do bloco de nações em favor de uma maior abertura das fronteiras para o trânsito de mercadorias e pessoas, como Estados Unidos e Reino Unido. Na entrevista a seguir, concedida a PLANT PROJECT da sede da OMC, em Genebra, Azevêdo analisa esse quadro.

conversas vão avançar nos próximos meses. De forma geral, o aumento da retórica anticomércio – e a consequente dificuldade de avançar mesmo em acordos bilaterais ou regionais – faz com que as negociações da OMC sejam ainda mais importantes. É preciso redobrar esforços e seguir avançando. Mesmo que o progresso não seja extremamente ambicioso nesse contexto difícil, temos de seguir caminhando na direção correta, na linha dos avanços recentes.

A decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia é um claro exemplo da emergente influência nacionalista e xenófoba. Quais as consequências mais imediatas dessa decisão no comércio mundial? Já é possível avaliar imO mundo assiste hoje a um avanço de políticos pactos do Brexit nas negociações comerciais com discurso nacionalista, inclusive em países internacionais, tendo em vista a relevância do com tradições mais liberais. O sr. entende que Reino Unido no mercado global? as negociações mediadas pela OMC correm ris- Ainda há muita incerteza associada à saída do Reico de retrocesso? Há uma nova onda protecio- no Unido da União Europeia. Formalmente, o pronista em curso? cesso nem mesmo começou e, Há, de fato, um aumento do portanto, ainda não sabemos sentimento antiglobalização e quais serão as condições dessa da retórica anticomércio em separação. De qualquer forma, Há um aumento diversos países. Na OMC, acho o Reino Unido é historicamendo sentimento que o risco não é de retrocesso, antiglobalização e da te uma economia aberta, com mas de dificuldade em avançar retórica anticomércio peso grande no comércio internas negociações, sobretudo se em diversos países nacional e nos fluxos de invesas ambições forem excessivas. timentos globais. O secretário Diante dessa situação, acho de Comércio, Liam Fox, esteve que o desafio é construir conrecentemente num evento vergência em torno de uma agenda que seja pos- público na OMC e disse que o Reino Unido será sível, de forma pragmática. Especialmente após os muito ativo na promoção da abertura comercial acordos que obtivemos nas conferências minis- em nível global, o que faz todo o sentido. teriais de Bali e Nairóbi, os países estão tentando identificar as áreas em que podem ter progresso Quanto tempo será necessário para que essas no próximo encontro de ministros, marcado para negociações, que incluíam o Reino Unido como Buenos Aires em dezembro de 2017. Há interesse país membro da União Europeia, sejam refeitas nos temas que já estão na agenda, incluindo agri- e as transações passem a correr de forma regucultura. Fala-se também em serviços e em regras lar? É possível haver negociações globais em para subsídios à pesca. Escuto cada vez mais falar torno do tema ou cada país terá de renegociar de comércio eletrônico e de pequenas e médias acordos individualmente? empresas como temas aos quais a OMC deve- Esta é uma situação sem precedentes para a ria dedicar mais atenção. Vamos ver como essas OMC. Tanto a União Europeia quanto o pró-

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prio Reino Unido são membros da Organização. incentivo para que as pessoas atravessem as fronA questão é que os compromissos comerciais do teiras em busca de novas oportunidades. Claro, Reino Unido na OMC fazem parte das obrigações isso vale para os refugiados econômicos, não para assumidas em conjunto pela União Europeia, em os que partem de zonas em conflito. nome de todos os seus membros. Por exemplo, o Reino Unido não tem compromissos individuais na A questão dos refugiados e a assinatura de acorárea de cotas agrícolas e não tem tetos individuais dos regionais de comércio, como o Nafta, são para a concessão de subsídios domésticos à agri- temas centrais na campanha eleitoral americacultura. Terá de haver uma lista de compromissos na. Para conquistar votos, tanto Hillary Clinton individuais do Reino Unido como país, fora do bloco como Donald Trump têm posições críticas aos europeu. Ajustes nessas mesmas áreas terão de ser acordos. O sr. teme que os Estados Unidos adofeitos pela União Europeia. Esses ajustes de parte a tem posições mais restritivas à circulação de parte podem desencadear negociações com os de- mercadorias e de pessoas? mais membros da OMC. Tudo isso levará tempo e O sentimento anticomércio está mais presente há incertezas quanto ao processo a ser seguido. O não apenas nos EUA, mas em diferentes partes do que queremos é o menor impacto negativo possível mundo. A realidade é que a economia americana para a economia mundial. Teremos ainda negocia- se beneficia muito do comércio, mas a maior parções fora da OMC, pois os acorte das pessoas não se dá conta dos comerciais da União Eurodisso. Precisamos ajudar a quapeia beneficiam diretamente lificar esse debate. A realidade é 60% do comércio do Reino UniComo instrumento que a vasta maioria dos empredo. Sem dúvida, os britânicos antipobreza poderoso, gos que desaparecem nas ecoprocurarão preservar o acesso o comércio pode atuar nomias avançadas cede espaço preferencial àqueles mercados, na raiz do problema para as novas tecnologias e que respondem por uma parcetécnicas produtivas – não para dos refugiados la muito importante de suas exo produto importado. Fechar as portações. Ou seja, ainda haverá fronteiras é um tiro no pé. É nemuita negociação pela frente. cessário mostrar as vantagens do comércio, mas também enA crise dos refugiados – e o consequente abrigo frentar os problemas onde vierem a ocorrer. dessas populações em outros países – é um tema que se coloca à mesa atualmente nas negocia- Há alguma maneira de promover campanhas ções comerciais? globais em favor do livre comércio? O sr. acredita A contribuição do comércio para o tema é indi- que a OMC deve deixar de trabalhar apenas no reta, mas é importante. O comércio internacio- nível governamental para levar sua mensagem nal tem uma capacidade extraordinária de gerar diretamente aos cidadãos? oportunidades em diferentes partes do mundo. Acredito que é importante ter um debate informaIsso é muito importante, especialmente nas re- do. Na OMC, trabalhamos para isso. E, como esse giões mais necessitadas, nas comunidades mais é um esforço coletivo, atuamos em parceria com pobres, no campo, nos países em que a economia outras organizações internacionais, como o Banco interna não é capaz de gerar novas possibilidades Mundial, o FMI e a Unctad (a Conferência das Napara a população. Como instrumento antipobreza ções Unidos sobre Comércio e Desenvolvimento). poderoso, o comércio pode atuar na causa, na raiz Algumas lideranças empresariais, como a Câmara do problema. Se os produtos e serviços puderem de Comércio Internacional, também estão agindo cruzar fronteiras mais facilmente, haverá menos nesta frente. Na última reunião de líderes do G20,

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na China, esse foi o grande tema de conversa entre os presidentes. Precisamos comunicar melhor os benefícios do comércio, reconhecer e atuar nos casos em que há problemas e agir para fazer com que o comércio seja mais inclusivo e beneficie mais as pequenas empresas também. Enquanto o comércio for percebido como algo em que apenas os grandes ganham, a batalha da comunicação será sempre difícil.

negócio no mundo. É o que fazem as grandes potências agrícolas, mesmo no mundo desenvolvido, como é o caso do EUA. Ao mesmo tempo, é importante lembrar que o tema da segurança alimentar é visto de maneira distinta em diferentes partes do globo. Alguns países entendem que precisam proteger seus mercados por causa disso, enquanto outros defendem que o comércio sem barreiras é a melhor maneira de promover a segurança alimentar.

O novo governo brasileiro tem adotado uma postura mais aberta a negociações individuais, em A agricultura sempre foi um tema sensível e espivez de manter todas as suas fichas em acordos nhoso nas negociações. Está havendo uma mufirmados pelo Mercosul. Qual sua opinião sobre dança de ânimo em relação a isso? esse movimento? Em 2015, conseguimos viabilizar a maior reforma O Mercosul está passando por mudanças signifi- das regras sobre o comércio internacional no secativas. Honestamente, não sei quais os impactos tor agrícola nos últimos 20 anos. Na conferência dessas mudanças para as negociações comerciais ministerial de Nairóbi, os membros da OMC decido Brasil. Ao mesmo tempo, diram eliminar os subsídios às acompanhando as notícias de exportações agrícolas, o tipo longe, vejo que as negociações de apoio que mais distorce o Fechar as fronteiras comércio e prejudica quem é Mercosul-União Europeia esé um tiro no pé. tão entre as prioridades do competitivo no agronegócio. É necessário mostrar Foi um avanço enorme, espeBrasil. Essas são negociações as vantagens de peso e que podem trazer cialmente para países com o do comércio impulso importante para a Brasil. Claro, há muito mais a economia nacional. Acho exser feito. Na área de subsídios tremamente positivo que a à produção doméstica, por política comercial esteja sendo exemplo, ainda há diferenças objeto de reflexão aprofundada no Brasil. significativas nas posturas negociadoras dos grandes atores. Mas, ao mesmo tempo, vários O ministro Blairo Maggi, da Agricultura, tam- países querem avanços nessa área. Muito recenbém ganhou um papel mais central nessas nego- temente, os EUA iniciaram uma disputa contra ciações. Recentemente, fez uma missão de mais a China na OMC exatamente com foco no apoio de 20 dias à Ásia, reforçando as conversas com doméstico à produção agrícola, questionando vários países da região e iniciando um novo ciclo vários programas chineses. Temos de ver como de relações com essas nações. O sr. acredita que essa disputa avança e se ela terá algum impacto a chamada Food Diplomacy, baseada na neces- na dinâmica das conversações. O Brasil é bastansidade que os países possuem de atender a uma te ativo nessa agenda. Além de insistir no tema demanda crescente de alimentos por suas popu- de apoio doméstico, os brasileiros falam muito lações, terá um papel cada vez mais relevante? O no impacto que barreiras sanitárias têm sobre Brasil pode se beneficiar disso? suas exportações agrícolas. E não estão sozinhos. Faz todo sentido que o Brasil, como grande pro- Acredito que esse tema pode ganhar importândutor e exportador agrícola, busque ampliar cia nos próximos meses, de olho na conferência oportunidades comerciais e promover seu agro- ministerial de 2017.

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Globetrotter

E S TA D O S U N I D O S

Inovação e pesquisa a serviço da agricultura A Fundação Golden LEAF anunciou em setembro que vai doar 45 milhões de dólares (de um total estimado em 160 milhões) para a construção de um novo complexo de prédios para a North Carolina Plant Sciences Initiative, ligada à Universidade Estadual da Carolina do Norte (NCSU, na sigla em inglês). A ideia é incentivar os estudos sobre os avanços na agricultura e, com isso, facilitar a vida dos produtores da região. “Esse investimento nos coloca como líderes internacionais em pesquisa e inovação agrícola, garantindo importantes oportunidades para nossas comunidades rurais e também abrindo

caminho para melhorar a oferta de alimentos em todo o planeta, com cientistas, funcionários públicos e indústrias atuando em conjunto para solucionar alguns dos desafios mais relevantes da agricultura hoje”, afirmou o reitor da NCSU, Randy Woodson. O presidente da Golden LEAF, Dan Gerlach, disse acreditar que “as pesquisas resultarão em colheitas mais eficientes, novas variedades de plantas e menores custos de produção, tanto para alimentar pessoas quanto animais”. Com receitas de 84 bilhões de dólares por ano, o setor agrícola é o principal motor da economia da Carolina do Norte.

SUÉCIA

Por enquanto, não é um produto, mas uma “inspiração”, nas palavras de um porta-voz da Ikea, gigante sueca do mercado de móveis e objetos para casa. E vem chamando a atenção de consumidores em várias lojas da rede. Composto de prateleiras de metal, caixas de plástico e lâmpadas de led, o kit The Farm (a fazenda) é um sistema de cultivo hidropônico vertical e está chamando a atenção de consumidores em várias lojas da rede. O projeto é resultado de uma parceria com a dinamarquesa Space10, que se define como um “laboratório 20

da vida futura”, e quer mostrar que até nos cafés da Ikea há condições de fazer crescer pés de alface romana, salsa ou endro. Simon Caspersen, diretor de Comunicações da Space10, explica que “precisamos produzir alimentos de novas formas, já que estimativas feitas pelas Nações Unidas indicam que essa produção terá de aumentar 70% nas próximas três décadas”. A Ikea acredita em alternativas mais sustentáveis, mas garante que, neste momento, seu papel é “estimular as pessoas a conversar sobre de onde vem a comida”. Nunca é demais

Foto: Divulgação

DE ONDE VEM A COMIDA?

lembrar que só no ano passado a empresa vendeu quase 2 bilhões de dólares em alimentos em suas megalojas.


Julgamento de gado de elite na Expoinel, em Uberaba A agropecuária sob nova direção

Ag AGRIBUSINESS

Foto: Emiliano Capozoli

foto: Airam Abel

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

O MINISTRO DAS BOAS NOTÍCIAS Blairo Maggi inaugura a fase da diplomacia agrícola do Brasil, muda a gestão do Ministério da Agricultura e começa a mostrar como o Brasil pode ganhar mercados com a proteção ao meio ambiente Foto: Adriano Machado

Por Denize Bacoccina, de Brasília

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Governo

Ag

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o dia 31 de agosto, pouco mais de uma hora depois de tomar posse como efetivo presidente da República no Congresso, o presidente Michel Temer reuniu o primeiro escalão para uma reunião ministerial. Disse que deveriam trabalhar pela eficiência do governo e sugeriu que copiassem o ministro da Agricultura. “Quero pedir a todos que nos respectivos ministérios criem um grupo para desburocratizar. O ministro Blairo Maggi apresentou um plano, depois que um grupo trabalhou reduzindo as dificuldades burocráticas em 63 pontos”, disse o novo presidente. A menção é uma amostra do prestígio que Blairo conquistou junto ao chefe poucos meses no cargo. Em um momento em que os investimentos ainda não saem do papel e a indústria e o consumo sofrem os efeitos da recessão, é no agronegócio, que representa metade das exportações e 21,5% do PIB brasileiro, que estão depositadas as esperanças do governo por boas notícias. O plano que encantou Temer, batizado de Agro Mais, havia sido anunciado uma semana antes, numa disputada cerimônia no Palácio do Planalto. Foi uma espécie de faxina nas portarias no Ministério, abolindo ou simplificando normas ultrapassadas ou em desacordo com as regras internacionais, que deve gerar uma economia estimada pelas empresas em R$ 1 bilhão. Blairo estava cumprindo a única ordem que recebeu do presidente, quando disse que nunca tinha tido chefe e queria saber como se portar. “Olha, Blairo, eu quero que você cuide da agricultura, que eu sei que você entende desse negócio. E eu só quero saber das notícias boas”, disse Temer. De agricultura, de fato Blairo entende. A família, gaúcha, migrou para o Paraná quando ele ainda estava na barriga da mãe. Duas décadas depois, foi uma das primeiras a desbravar o Mato Grosso, tornando-se um dos maiores produtores de soja do mundo – a liderança só foi perdida há alguns anos, para o primo Eraí Maggi Scheffer. E nos últimos anos, passou a entender também de política. Governador do Mato Grosso entre 2003 e 2010, deixou o governo com 92% de aprovação, e se elegeu senador pelo estado. Em busca de notícias boas, Blairo não estava no Salão Oval do Planalto quando seu nome foi citado. Dentro de um avião PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Governo

da Emirates Airlines, estava a caminho de Dubai, onde faria uma conexão para a escala final em Xangai. Na China, participou de um seminário com empresários chineses e brasileiros, acompanhou Temer na cúpula do G20 e seguiu para um giro rumo a outros seis países asiáticos – Coreia do Sul, Tailândia, Mianmar, Vietnã, Malásia e Índia. Foi acompanhado de uma comitiva de 40 empresários, de setores como carne, frango, couro, lácteos, madeira, açúcar, pescados, café e biotecnologia, e não escolheu a região por acaso. A Ásia tem 51% da população e 19% do PIB mundial, e uma demanda por alimentos impressionante. Consome 28% das aves, 20% dos bovinos, 31% dos lácteos e 37% do açúcar produzidos no mundo. Blairo buscou assegurar que o Brasil está preparado para vender. “O agro brasileiro é muito diversificado e temos condições de atender a toda a população brasileira e as demandas mundiais”, afirmou aos investidores chineses, inaugurando uma nova fase das relações comerciais com a região, a diplomacia agrícola do Brasil. Para países de população e economia crescentes, com grande demanda por alimentos e produção agrícola insuficiente, o Brasil pode ser um parceiro mais que estratégico – e Blairo quer se aproveitar desse trunfo para acelerar acordos e abrir novos mercados. Durante 25 dias, pegou 13 voos, ficou hospedado em 24

“ “

Vou pelo menos uma vez por semana com um assunto diferente e estamos contentes com o tratamento MARCOS DA ROSA, PRESIDENTE DA APROSOJA

14 hotéis, participou de dezenas de reuniões e eventos públicos e insistiu que o mundo deve reconhecer, por meio de preferências comerciais, que o País presta um serviço ao planeta ao produzir alimentos ao mesmo tempo que preserva a maior parte do seu território. “O Brasil tem que ser reconhecido e pago por ter preservado o meio ambiente. Não em dinheiro, mas em preferências comerciais”, afirmou em entrevista a PLANT PROJECT dias depois de voltar de seu périplo. A viagem rendeu entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões em investimentos e perspectivas de negócios, na avaliação do ministro. Várias negociações que se arrastavam há vários anos foram aceleradas. Aos coreanos, ele lembrou que o Brasil tem um mercado de 200 milhões de habitantes, que compra muitos produtos industrializados do país e espera ser tratado como um parceiro estratégico. “Não consigo entender porque vocês liberam carne bovina de países que podem oferecer muito menos contrapartidas e ainda não

liberaram a nossa”, reclamou. Conseguiu a promessa de que a abertura do país para carne suína brasileira pode sair até o início de 2017. Blairo também conseguiu a reabertura do mercado de carne bovina, suína e de frango no Vietnã, licenças de importação de carne, frutas e lácteos para Mianmar e a ampliação do mercado de carne de aves na Malásia. Na China, as visitas em várias províncias podem resultar em oportunidades até então pouco exploradas pelas empresas brasileiras. “Nosso papel é fazer os acordos, agora cabe às empresas fazer negócios”, diz o ministro. E trouxe um deles na bagagem. A multinacional indiana UPL aproveitou a presença de Blairo por lá para anunciar que vai investir US$ 400 milhões em uma fábrica para a síntese de agroquímicos no Brasil e outros US$ 100 milhões numa cooperação com a Embrapa, para desenvolver sementes de grãos como lentilhas e grão-de-bico, para exportar para os indianos. A busca por novos mercados é essencial para atingir a meta de aumentar de 6,9% para 10%, em cinco anos, a participação brasileira no mercado agrícola mundial – um negócio de US$ 1,1 trilhão. Para isso, é preciso acelerar os acordos internacionais. Um de fundamental importância foi a carta de reconhecimento de equivalência com os Estados Unidos. Entregue em agosto, ela encerra um processo que começou em 1999 e vai permitir a exportação


As três semanas de viagem de Blairo, ponto a ponto, e o que ele plantou por lá

COREIA DO SUL

6 e 7/09 SEUL

Pediu que os coreanos abram o mercado aos produtos agrícolas brasileiros, em contrapartida à importação de produtos coreanos. Governo de Seul prometeu concluir até o fim do ano o processo para aprovar a importação de carne suína de Santa Catarina, que se arrasta há uma década. 2/09 XANGAI

3

6

9 11

INDIA

2

21 a 23/09

3 a 4/09 HANGZHOU

1

Cúpula do G20. Acompanhou o presidente Michel Temer na reunião de cúpula.

54

8 7

VIETNÃ 15/09 HANÓI

MIANMAR Negociou a exportação de maçãs, ovos e pintos de um dia. Avançou na liberação de exportação de carne suína, que só depende de ajustes finais. Empresa UPL anuncia investimento de R$ 1 bilhão em fábrica de agroquímicos no Brasil. UPL vai investir R$ 100 milhões na Embrapa para pesquisa de hortaliças e leguminosas para exportação para o mercado indiano. Em reunião dos Brics, defendeu cooperação multilateral.

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14/09

TAILÂNDIA

Em seminário empresarial, disse que o Brasil tem condições de alimentar o mundo e reclamou de restrições à entrada de produtos brasileiros no país.

Conversas para tentar liberar comércio de produtos lácteos, carnes e grãos. Na rota do Oriente.

MALÁSIA

CHINA 8/09 CANTÃO

Propôs ao governo da província de Cantão um acordo para facilitar a troca de produtos brasileiros na China e vice-versa. 9/09

19 a 20/09

12/09 BANGKOK YANGON

Iniciou negociação para acordo bilateral de transferência de tecnologia da Embrapa.

KUALA LUMPUR

Anunciou acordo comercial para exportar carne bovina, suína e de frango. Equipe de técnicos virá ao Brasil em 60 dias para inspecionar frigoríficos.

HONG KONG

Visita feira de frutas com mais de 650 expositores de 35 países. 11/09 CHONGQING

Ministro fala para empresários em Encontro Brasil-China.

Fotos: Divulgação/Mapa PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Governo

Ele tem planos ambiciosos e como empresário de sucesso que é, está dando uma característica empresarial para o Mapa

CARLOS ALBERTO PAULINO DA COSTA, PRESIDENTE DA COOXUPÉ

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tores, satisfeitos por ver um deles no comando da pasta. “Peguei o primeiro cartão dele como ministro, vou pelo menos uma vez por semana com um assunto diferente e estamos contentes com o tratamento”, diz o presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa. “Ele tem planos ambiciosos e, como empresário de sucesso que é, está dando uma característica empresarial para o Mapa”, elogia Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooxupé, cooperativa de produtores de café no sul de Minas Gerais e Vale do Rio Pardo, que recebeu a visita do ministro em agosto. “O ministro já chegou em velocidade de cruzeiro e, para o setor da laranja, em pouco tempo teve atuação decisiva”, afirma Ibiapaba Netto, diretor executivo da Citrus-BR, entidade que representa a indústria exportadora de sucos cítricos. Um exemplo foi a mudança na legislação referente ao combate ao cancro cítrico, doença que afeta os pomares, uma demanda dos produtores que era discutida com o Mapa, sem sucesso, há cerca de sete anos. “Tive a felicidade de receber essa notícia dele em uma audiência”, afirma Netto. “Vemos com muito bons olhos esse início acelerado da sua gestão”. A nova postura também vale da porteira para dentro. No Bloco D da Esplanada dos Ministérios agora o expediente começa cedo e termina cedo – para os padrões da Esplanada – e impôs um ritmo

O ministro já chegou em velocidade de cruzeiro e, para o setor da laranja, em pouco tempo teve atuação decisiva

também para outros mercados, que usam o processo americano como referência. O primeiro lote, da Marfrig, já desembarcou nos Estados Unidos na última semana de setembro (leia reportagem nesta edição de PLANT). O diálogo com os empresários do setor, que andava meio truncado, foi aprimorado. “Aqui é a casa do produtor, podem contar comigo”, afirma o ministro. Além de receber representantes de entidades e empresários, Blairo foi ver a produção de fumo no Rio Grande do Sul, de ovos em São Paulo, de maçã em Santa Catarina e de café em Minas Gerais. A todos, levou o mesmo recado: o governo não tem dinheiro, portanto não contem com subsídios e se empenhem para exportar mais. Mesmo com o cofre trancado, Blairo tem agradado aos produ-

IBIAPABA NETTO, DIRETOR EXECUTIVO DA CITRUS-BR

empresarial ao Ministério, com reuniões objetivas e com resultados práticos. Blairo chega ao gabinete entre 7h30 e 8 horas da manhã, e não costuma ficar além das sete da noite. “O que eu não consegui resolver de dia, não é à noite que vou resolver”, diz. Também contrariando a prática brasiliense, é extremamente pontual. Começa e termina as reuniões no horário previsto, mesmo que o interlocutor não tenha terminado. “Passarinho cantou, a sua audiência acabou”, brinca, apontando para um relógio, na parede, que tem um canto de pássaro a cada hora cheia. Muito apreciada por técnicos e funcionários da pasta é a maneira cordata de tratar a equipe e a objetividade nas decisões – a antecessora, a também senadora Kátia Abreu, era criticada pela postura centralizadora. Blairo é diferente. “Ele ouve, pergunta a nossa opinião, não interrompe”, conta um técnico. Uma vez tomada a decisão, no entanto, todos já sabem que é melhor não insistir. Blairo não sabia como era ser chefiado, mas sabe ser chefe.


Foto: Adriano Machado

O senhor começou a usar esse conceito de ativo ambiental, sustentável, na Ásia. Deu certo? Deu certo. A receptividade é muito boa. Nós não temos retórica só, temos a prática. Usamos apenas 8% do território para agricultura e preservamos 61%. Nós merecemos preferências.

Qual a sua expectativa para aumentar as exportações para a Ásia? Isso depende do empresariado brasileiro. A função do governo é abrir, mostrar, negociar os certificados, acabar com os entraves. Agora vai depender da capacidade dos produtores de persistirem, correrem atrás.

O governo não pode é atrapalhar o agronegócio” B L A I R O

M A G G I

Dois dias depois de voltar da viagem à Ásia, o ministro Blairo Maggi recebeu a reportagem de PLANT PROJECT. Confira trechos da entrevista:

É o agro que vai segurar a economia no governo Temer? É o agro que tem segurado a economia nos últimos 20, 30 anos. O governo não pode é atrapalhar o agronegócio. Qual foi a maior dificuldade que encontrou no Ministério e onde acha que mais avançou? A dificuldade sempre é mexer com a máquina pública. O Agro Mais é uma resposta para isso. Precisamos transferir dinheiro da ineficiência para a eficiência, tirar a burocracia para deixar as empresas mais baratas, mais livres. Vai mudar a lei para permitir a propriedade de terras para estrangeiros? Eu defendo que sim, que o mercado deve ser livre. Culturas permanentes, como floresta, celulose, cana-de-açúcar, não teriam restrição nenhuma. Já na questão de produção de grãos a gente tem que ter mais cuidado para evitar que fique na mão de estrangeiros.

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Ag Exportação

O SONHO AMERICANO DA CARNE BRASILEIRA O que frigoríficos e pecuaristas podem esperar da abertura do mercado americano para os nossos produtos? A resposta deve vir de outros pontos do mundo e pode ser muito positiva Por Romualdo Venâncio

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porta de entrada foi o aeroporto de Miami, simbólico ponto de chegada para os brasileiros que querem realizar seu sonho americano. E o desembarque, no quarta-feira 28 de setembro passado, teve exatamente esse sentido para toda a indústria brasileira de carne. Foram descarregados ali, ao final do voo 930 da American Airlines, apenas dois contêineres de carne in natura que haviam sido carregados dias antes em caminhões em Bataguassu, no Mato Grosso do Sul, com destino a Guarulhos, em São Paulo, onde embarcaram para a viagem histórica. Vistoriados e liberados em poucas horas, eles marcaram a reabertura do mercado americano para o produto brasileiro, depois de anos de negociações. Os volumes, por enquanto, são irrisórios diante da capacidade

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exportadora dos frigoríficos nacionais. Mas já permitem que eles comecem a pensar em, em breve, fazer a América. As primeiras remessas aconteceram em prazos relâmpago, principalmente se comparados aos mais de 15 anos gastos nas conversações bilaterais em torno do tema. A liberação foi selada menos de 60 dias antes, em uma cerimônia realizada no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), na qual o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, e a embaixadora norte-americana, Liliana Ayalde, trocaram cartas de reconhecimento de equivalência dos controles oficiais do produto. Agora, o Brasil vai disputar com países da América Central, como Honduras e Nicarágua, uma cota de 64,5 mil toneladas com taxação mais baixa.


Foto: Shutterstock

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“Para este ano, falta preencher uns 30% dessa cota”, informa o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli, deixando clara a expectativa de mais embarques ainda em 2016. Em termos de volume, essa cota representa 8,6% das quase 737,8 mil toneladas de carne in natura que o Brasil exportou entre os meses de janeiro e julho deste ano, segundo dados da Abiec. À primeira vista, pode até não impressionar tanto, porém o efeito cascata que pode surgir desse acordo comercial tende a ser altamente positivo. “É um certificado para outros países, sobretudo na Ásia”, comenta o coordenador do Centro de Agronegócio da FGV-EESP, Roberto Rodrigues, que também participou do desenrolar dessa negociação quando foi ministro da Agricultura. “Eu mesmo fui aos Estados Unidos umas três vezes só por conta desse assunto” O atual ministro quer aproveitar ao máximo esse 30

momento. Em recente visita exatamente à Ásia, Maggi confirmou boas possibilidades no setor de carne bovina junto a nações como China e Coreia do Sul. E não economizou na argumentação: “Os sulcoreanos compram carnes do Uruguai, onde há pouco mais de 3,4 milhões de habitantes, enquanto no Brasil são mais de 200 milhões. Perguntei a eles onde acham que conseguiriam vender mais automóveis e equipamentos eletrônicos”, disse Blairo. No caso da China, as chances de exportar carne bovina in natura podem ser ampliadas até por conta de atritos diplomáticos do país com a Austrália, segundo o ministro da Agricultura. Nada como olhar o cenário bem de perto para ver melhor onde estão as oportunidades, inclusive mais diretamente para os pecuaristas. Ao visitar o maior mercado de carnes da região de Xangai, Maggi soube que os chineses compram carne bovina com osso de alguns países, mas não do Brasil. “A indústria

nacional transforma esses ossos em farinha, que é vendida no mercado externo por US$ 200 a tonelada. Se exportarmos a carne com osso para a China, os produtores vão ganhar US$ 700 por tonelada.” Voltando às Américas, as primeiras exportações de carne bovina in natura do Brasil para os Estados Unidos serão mesmo de matéria-prima para industrialização. O mercado de cortes nobres, no qual o Uruguai, por exemplo, já participa, ficará para um segundo momento e vai depender principalmente da demanda. O produto norteamericano é mundialmente reconhecido pelo alto padrão de qualidade, então seria necessário alguma grande diferenciação das carnes nobres do Brasil para ser competitivo nesse segmento. “Temos o diferencial da carne do gado criado a pasto, o que pode chamar a atenção”, sugere Camardelli. “Depois que andar a carruagem é que vamos saber o barulho. Aí veremos que tipo de produto conseguimos colocar.” Como não poderia deixar de ser, a preparação das indústrias interessadas em exportar carne bovina in natura para o mercado norte-americano já vinha acontecendo, independentemente de quando e como haveria a liberação. Responsável pelo embarque histórico, a Unidade Beef da Marfrig Global Foods, por exemplo, já conta com três unidades aprovadas pelo Departamento de Agricultura


Exportação

o Brasil precisa evoluir, urgentemente e de forma gradual, na ampliação de sua área livre de febre aftosa sem vacinação. Até porque o período sem ocorrências da doença nos estados já é mensurado em décadas. Para o especialista, essa condição sanitária seria um grande reforço para o avanço global da cadeia produtiva de carne bovina brasileira, inclusive agregando valor aos produtos. “O Brasil exporta a tonelada de língua por US$ 4 mil dólares. Esse valor poderia subir para US$ 20 mil se o país todo fosse considerado livre da aftosa sem vacinação”, explica.

Vale ressaltar que essa negociação entre Brasil e Estados Unidos tem mão dupla e os norte-americanos têm avaliado a compatibilidade do consumo dos brasileiros para negociarem seus produtos, principalmente os cortes nobres. Para Camardelli, é apenas uma questão de adequação de mercado e de aproveitar oportunidades. “Há espaço para os produtos deles por aqui, isso não é um problema”, afirma. O dirigente menciona que é preciso até mudar a percepção sobre o setor. “Não se fala mais em produzir boi, mas em produção de carne. E o consumidor é quem diz que alimento ele quer e como quer.”

Camardelli, presidente da Abiec: Brasil pode aproveitar diferenciais, como o de oferecer carne de gado criado a pasto

Foto: Pedro Dias/Ag. IstoÉ

dos Estados Unidos (USDA). Ainda não é possível definir dados de volume e faturamento, mas a empresa espera aproveitar o máximo possível, inclusive de olho em outras fronteiras. “A expectativa é de que essa abertura funcione como uma espécie de selo de qualidade para a carne brasileira, permitindo que outros países que seguem as normas do USDA, como Canadá, México e Coreia do Sul, também abram seus mercados para o Brasil”, avalia o diretor de Exportação da companhia, Alisson Navarro. O presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), Sebastião Costa Guedes, é mais econômico no entusiasmo em relação aos norte-americanos, com base no histórico de quem tem acompanhado a saga dessa transação. Não faz muito tempo, Guedes os viu recuarem da decisão quase certa. “Já fazia uns dois anos que sinalizavam a abertura de mercado, porém não se concretizava. Meu sentimento é de que agora estamos concluindo essa questão, mas é possível que o governo Obama deixe as negociações de fato para os próximos mandantes. E os democratas não são tão dedicados aos negócios internacionais quanto os republicanos”, observa. Guedes defende que, em paralelo às negociações e tratamentos diplomáticos,

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Ag Perfil

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Perfil

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ARNALDO MOSTRA A SUA CARA Depois de uma disputa acirrada, Arnaldo Borges assume a presidência da maior entidade de criadores do Brasil com o desafio de reunificar a ABCZ e aproximar a genética do gado de elite da pecuária comercial Por Luiz Fernando de Sá, de Uberaba | Fotos: Emiliano Capozoli

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sol queima forte e espanta as pessoas das ruas de Uberaba, no Triângulo Mineiro. É sábado, 24 de setembro, e o calendário avisa que falta pouco mais e uma semana para as eleições municipais, mas não há sequer sinal de campanha na área central, nem carreatas, nem distribuição de santinhos. Apenas os outdoors espalhados em torno do Parque de Exposições Fernando Costa estampam um rosto de candidato, de um pleito que realmente agitou a cidade, mas já se encerrou há quase dois meses. O homem dos cartazes, Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, 63 anos, é a face vencedora da mais ferrenha disputa da história da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), entidade com sede dentro do parque, mas com influência que vai muito além das fronteiras brasileiras, a ponto de colocar Uberaba no centro do mapa da pecuária mundial. As decisões tomadas ali pela diretoria da ABCZ têm efeito nos plantéis de cerca de 23 mil associados, que, juntos, representam

cerca de 80% dos 200 milhões de animas que formam o rebanho bovino brasileiro – o maior rebanho comercial do planeta, que transformou o Brasil no maior entre os países exportadores de carne. Mais do que a cara exposta na cidade, Arnaldinho, como é conhecido na região, será nos próximos três anos a imagem de uma atividade que, em grande parte em função da excelência do trabalho realizado pela entidade que agora dirige, incorporou tecnologia, modernizou sua gestão, ganhou peso político e musculatura econômica. O clima anda mesmo diferente naquele entroncamento simbólico para o desenvolvimento brasileiro. É a manhã do julgamento dos animais inscritos em algumas das principais categorias na Expoinel (Exposição Internacional do Nelore), segundo mais importante evento anual sediado no parque, perdendo apenas para a Expozebu. Os recintos estão repletos e a pista exibe o que de melhor a pecuária nacional tem sido capaz de produzir, mas muitos dos responsáveis

Outdoor em Uberaba: na véspera da eleição municipal, o que se via era o retrato da disputa na ABCZ

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Ag Perfil

pelo ótimo trabalho de seleção genética que mudou a imagem do zebu não estavam por lá, como em anos anteriores. Ainda há resquícios de ressentimentos no ar. A ABCZ não via uma disputa entre chapas pela sua presidência havia mais de 20 anos. Arnaldo Borges, candidato da oposição, venceu por apenas 151 votos de vantagem, num colégio eleitoral formado por mais de 23 mil associados. A geografia da votação talvez explique por que, desta vez, ao caminhar pelo parque, Arnaldinho não encontre alguns membros da elite dos criadores que costumava se reunir por ali nos grandes eventos. Boa parte desse grupo apoiava Frederico Mendes, o candidato da situação, que teve larga vantagem entre os votos depositados nas urnas da sede da entidade. A surpresa no resultado final veio de longe. “Foram dez meses em campanha”, conta Arnaldo. A voz é grave e a fala, sem pressa. “Nesse período estivemos em 19 estados. Eu, pessoalmente, fui a 16. Estive com representantes de mais de 150 sindicatos rurais e entidades ligadas à pecuária.” Assim, com números, o homem que traz no sangue 110 anos e três gerações de história familiar na pecuária justifica a votação que lhe deu a vitória. Na mesma conta apoia sua plataforma para a gestão na entidade, iniciada em setembro passado. “Minha marca será a da participação de todos, como dizia nosso slogan de campanha: ABCZ de A a Z, ABCZ para todos”, afirma. Enquanto fala a PLANT, Arnaldo se mantém em viagem. A todo momento busca causos e referências em algum canto da memória, cita locais e criadores distantes. “Meu primeiro evento como candidato foi na fazenda do Cícero de Souza, em Campo Grande.” “Nunca tinha ido ao Acre. Fiquei impressionado com o trabalho que fazem lá.” “Na Paraíba, o Manuelito (Emanuel Dantas Villar), primo do Ariano Suassuna, faz pecuária em cima da pedra, numa das regiões mais secas do País. É um trabalho fantástico.” A prosa segue no seu ritmo particular. Arnaldo evita crítica direta à gestão anterior. Ao contrário, frequentemente ressalta o trabalho 34


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Com os filhos, na fazenda Ipê Ouro, e a marca da família no Parque Fernando Costa: 110 anos de tradição na pecuária

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feito pelo grupo que derrotou. Tem muitos amigos ali e sua história está umbilicalmente ligada à ABCZ, da qual já foi diretor e integrante do corpo técnico por mais de 30 anos. Aos 63 anos, enfrentou um concorrente de 46, mas se apropriou do discurso de renovação. “Levei quatro meses para formar a diretoria, pedindo indicações e tentando fazer com que todos se sentissem representados, todos as regiões, todas as raças”, diz. Ao final, 91% da chapa (que inclui 96 pessoas, entre diretoria, conselho fiscal e diretores estaduais) era formada por gente que nunca participou da gestão da ABCZ. Dos 17 diretores nacionais, 15 não faziam parte da gestão anterior e apenas cinco são de Uberaba. “Antes, a renovação era restrita ao previsto no estatuto. A maioria dos diretores estava na quarta gestão.” É o máximo de crítica que fará aos antecessores. Nem mesmo a feita veladamente por muitos, de que a antiga ABCZ era muito fechada em Uberaba, ele encampa. Prefere dizer que “tem uma oportunidade de trazer para dentro gente que não participava”. Com tanta gente nova no grupo, assumir a gestão tem sido um trabalho árduo. Há muita informação a ser recebida e muitas decisões a serem tomadas. Arnaldo tem uma primeira questão em mente: a queda de registros de animais na ABCZ. Nos últimos três anos,

diz, foram contabilizados 177 mil registros de nascimento e 56 mil registros definitivos a menos. Isso traz duas preocupações imediatas ao novo gestor. A primeira é a queda de receita – os registros são a principal fonte de renda da entidade. A segunda é a redução do rebanho apto a participar dos programas de melhoramento da ABCZ, cujo objetivo é fazer chegar ao rebanho comercial as melhores características genéticas dos touros e vacas de elite. Arnaldo tem um diagnóstico e um plano para reverter o quadro. Para ele, os custos e o excesso de exigências para a realização desses registros têm espantado os pecuaristas. “Precisamos simplificar esses processos e dar mais autoridade ao nosso técnico de campo, diminuindo as idas e vindas de relatórios. Muitas vezes, por causa da burocracia, o prazo acaba se perdendo e os registros deixam de ser feitos”, explica. Arnaldo tem o olhar apurado. É um dos mais reconhecidos julgadores de gado do País e costuma ser convidado para avaliar animais em exposições e propriedades mundo afora – participou de mais de 500 julgamentos. Costumava passar uma média de 300 dias por ano na estrada trabalhando como consultor e visitando clientes em todo o Brasil (e também nos países vizinhos). Enquanto circula, mantém ouvidos também atentos. Tem


Perfil

escutado muitas demandas e afirma que atendê-las é, agora, um compromisso. “Cada região tem suas questões específicas, precisamos tratá-las isoladamente”, diz. De um grupo do Mato Grosso do Sul com mais de 30 mil matrizes Nelore, por exemplo, recebeu o pedido para que aproximasse mais a ABCZ dos rebanhos comerciais e dos grandes projetos de pecuária. “A marca ABCZ é muito forte e estar próximo a ela interessa aos grandes pecuaristas”, explica. Para Arnaldo, surge aí outra oportunidade, a de desenvolver um trabalho de melhoramento desse rebanho comercial a partir da capacidade técnica da entidade, que poderia fazer avaliação, diagnósticos, orientação genética de acasalamento e criar até mesmo uma certificação para o gado a ser abatido. Arnaldo pretende estimular também a expansão dos programas de integração lavoura-pecuáriafloresta (ILPF), que também tem interessado cada vez mais aos criadores já que alia a produção à recuperação de pastagens e a preservação ambiental. “O cliente internacional exige isso e precisamos estar prontos para entregar o que ele quer.” A expansão da zona de influência da ABCZ também é uma das marcas que Arnaldo pretende imprimir em sua gestão. Logo após a posse, ele seguiu para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde vários

brasileiros já possuem rebanhos de alta qualidade. O país é um dos mais antigos parceiros da ABCZ, que hoje forma técnicos e exporta conhecimento para lá. “Para os pecuaristas, a Bolívia é hoje um prolongamento do Brasil”, diz. A entidade está presente também em vários outros países do continente e também na África, através de convênios técnicos ou de assessoramento na criação de programas de registros ou de melhoramento genético. Missões estrangeiras continuam chegando a Uberaba. Arnaldo começa uma nova viagem. “Recebemos contatos de Costa Rica, Guatemala, Colômbia. Cuba, também. Estive lá por 12 dias em 2014 durante a Copa do Mundo.” Continua. “O Equador quer implantar um sistema de registro como o nosso.” E por aí vai. Até a Índia, berço das raças zebuínas, veio atrás dos avanços desenvolvidos aqui para o gir leiteiro. “Há um mercado imenso para a genética do zebu brasileiro. Podemos vender sêmen, embriões, tecnologia.” E também serviços. O próprio Arnaldo prestava consultoria em países vizinhos. Agora, na visita à Expocruz, na Bolívia, percebeu que o mercado pode ser bom também para técnicos, tratadores, casqueadores, especialistas em reprodução e laboratórios, entre outros. “Tinha muito brasileiro lá trabalhando.” Criado à base de leite de vacas gir, Arnaldo tem seu

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próprio rebanho em Uberaba. A fazenda Ipê Ouro, de mil hectares, tem 300 fêmeas PO, um patrimônio genético forjado com cuidado nos últimos 35 anos. Com a nova missão de presidir a ABCZ, ele transferiu a gestão dos negócios ao casal de filhos, encarregados também de perpetuar o nome da família Machado Borges na pecuária brasileira. Arnaldo fala com orgulho do busto do avô na entrada do Parque Fernando Costa, de como o antepassado ajudou a definir que aquela colina próxima ao centro de Uberaba seria escolhida para sediá-lo. Ali, ao lado do recinto de julgamentos, onde tantas vezes ajudou a premiar os melhores exemplares das raças zebuínas, ele sente-se em casa. Agora, a casa tem a sua cara.

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CAFEZINHO DA PAZ Governo busca uma saída para liberar importação de grãos especiais e encerrar uma antiga disputa na indústria de café Por Costábile Nicoletta

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Agroindústria

Fotos: Shutterstock

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ada vez que um brasileiro bebe uma xícara de café expresso, sobretudo os embalados por marcas internacionais, alimenta, sem saber, uma polêmica que se arrasta há anos nos bastidores de vários ministérios em Brasília. Trava-se, ali, uma queda de braço de interesses econômicos relevantes em torno do mercado nacional do grão, que tem o Brasil como maior produtor mundial. Produtores de um lado, indústria de outro, cada um faz força numa direção sobre a definitiva liberação da importação de grãos especiais para ser processados aqui. Por enquanto, esse movimento ainda é bem pequeno em nossos portos. Mas com a sofisticação do consumo de café mundo afora e o crescimento de mercados com maior valor agregado, muitos entendem que a cafeicultura nacional pode estar perdendo uma grande oportunidade. Com isso, a pressão aumentou e as chances de uma mudança no jogo cresceram significativamente. De nossas lavouras saem cerca de 50 milhões de sacas anualmente (cada saca tem 60 quilos). É praticamente o dobro da produção do Vietnã (o segundo no ranking) e quatro vezes mais do que a da Colômbia (a terceira). A qualidade dos tipos de grão cultivados no País também é reconhecida lá fora, tanto que grifes estrangeiras como Nespresso e Dolce Gusto (ambas da Nestlé), Illy, Starbucks e Lavazza se abastecem com matéria-prima brasileira para fabricar alguns dos cafés mais apreciados no mundo. Com tantos atributos em seu favor, não haveria por que, então, impor restrições à entrada de matéria-prima de outros países, sobretudo dos chamados cafés especiais não cultivados por aqui. Uma tímida tentativa

Ag

de aumentar as importações ocorreu no final da década de 1980, quando o governo autorizou a compra de uma pequena quantidade vinda do Equador, por causa da quebra da safra interna. Mas a aquisição foi praticamente simbólica. “Como maior produtor mundial, o Brasil não pode temer a importação de café”, afirmou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, durante recente visita à Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), maior exportadora de café verde do País. Maggi apontou estudos para a adoção de um regime de drawback, que concede benefícios tributários a quem importa o produto in natura, combina com outras variedades em blends exclusivos e o reexporta industrializado, com maior valor agregado, gerando ganhos para toda a cadeia. E, para reforçar sua posição em favor de uma maior abertura, citou as negociações que abriram o mercado para a carne brasileira in natura nos Estados Unidos, que tiveram como contrapartida a liberação do mercado brasileiro para produtos norte-americanos. “É preciso que haja salvaguardas sanitárias, econômicas e uma contrapartida de outros mercados”, ponderou, na ocasião, o presidente da Cooxupé, Paulino da Costa. “Mas esse é um assunto muito complexo cuja discussão cabe ao governo.” O mesmo argumento de contrapartidas comerciais foi usado por Kátia Abreu, antecessora de Maggi, para autorizar a importação de café verde do Peru em maio deste ano, pouco antes de deixar o ministério. Mas, diante da forte pressão de parlamentares da bancada ruralista cafeeira e de produtores do Espírito Santo e de Minas Gerais, a medida foi revogada PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Agroindústria

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O QUE SÃO CAFÉS ESPECIAIS • Os cafés especiais caracterizam-se por ser grãos de alta qualidade, com secagem e maturação uniforme e tamanho semelhante, que, depois de uma torração adequada, se tornam matéria-prima para uma bebida excepcional, com corpo, aroma, fragrância e sabor de grande destaque.

por Maggi, pouco depois de assumir o cargo. O quiproquó do autoriza/ não autoriza a importação de grãos in natura é a face política de uma disputa econômica entre fabricantes de cafés industrializados e produtores. O setor industrial pede a liberação das importações dos chamados cafés especiais, usados em blends de qualidade superior, como os das cápsulas de dose única notabilizadas pela Nespresso. Segundo esses fabricantes, a importação possibilitaria ampliar a escala de produção e reduzir o preço para o consumidor final. No final de 2015, a Nestlé inaugurou em Montes Claros, no norte de Minas Gerais, a primeira fábrica de cápsulas Nescafé Dolce Gusto fora da Europa, com investimento de R$ 220 milhões. A capacidade de produção anual é de 360 milhões de cápsulas, dos quais metade é comercializada no Brasil e a outra metade, nos países do Mercosul.

Juan Carlos Marroquín durante o GAF 2016

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• Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil também é o maior supridor de cafés diferenciados do planeta. Dos 33 milhões de sacas exportados todo ano pelo País, 8 milhões são de cafés diferenciados, que têm maior valor comercial. São os especiais, os sustentáveis, os produzidos em microlotes por produtores familiares e os de origem determinada (terroir). • A importação de café em grão cru (verde) é proibida. Assim como todo produto de origem vegetal, a compra em outro país só pode ser feita mediante a aprovação de um documento chamado Análise de Risco de Praga (ARP), para assegurar que não trará problemas fitossanitários para o Brasil. O processo de uma ARP pode demorar anos. • Os cafés industrializados podem ser importados, sem limite de quantidade, com o recolhimento de uma alíquota de 10% de imposto.

Juan Carlos Marroquín, presidente da companhia no Brasil, reconhece a qualidade dos grãos especiais brasileiros, mas considera necessária a importação de cafés in natura de outras regiões para a composição de blends diferentes dos disponíveis atualmente. A Nestlé aguarda desde o ano passado autorização do governo brasileiro para importar da Etiópia. Os produtores brasileiros de café defendem a proibição com o contra-argumento de que seria uma concorrência desleal, sobretudo no caso de países que não têm os custos das legislações trabalhista e ambiental brasileiras e onde os impostos e os juros são menores. Além disso, afirmam que a importação do café verde pode ser a porta de entrada para doenças e pragas inexistentes no País. Também alegam não ter garantias de que

a indústria vai continuar comprando deles o café verde. A disputa entre empresas de café industrializado e produtores dos grãos que servem de matéria-prima a essas empresas tem um componente adicional. Segundo Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), além de ser o maior produtor do planeta, o Brasil é o segundo maior consumidor da bebida, só atrás dos Estados Unidos. O mercado interno brasileiro consome 40% da produção nacional de café. Em números redondos, isso significa que 20 milhões de sacas se transformam anualmente no País em café torrado vendido em diversas apresentações: em grão, moído em pó, solúvel, em sachês ou cápsulas (os Estados Unidos consomem 23 milhões de sacas por ano).


Diferentemente do que ocorre com o grão cru, a importação do café industrializado é permitida com o recolhimento de uma alíquota de 10% de imposto, sem limite de quantidade. “O Brasil vive a estranha situação de vedar a entrada de matéria-prima que poderia servir de insumo para a indústria nacional competir com os produtos estrangeiros, que têm apelo de marketing e de qualidade diferenciados”, diz Herszkowicz. “O Brasil também produz cafés especiais. É o maior supridor mundial de grãos de alta qualidade e certificados como sustentáveis, iguais ou superiores aos da Etiópia, do Quênia, da Colômbia e da Costa Rica, considerados referência.” Para ter uma ideia de quanto a industrialização de cafés especiais pode trazer de valor agregado, pode-se fazer um cálculo que, embora superficial, demonstra como o processo é

vantajoso. Em meados de setembro, a saca (com 60 quilos) de café arábica, do tipo 6, duro – considerado de alta qualidade –, era cotada em Araguari (MG) a R$ 530. Uma caixa com 16 cápsulas de café expresso da marca Dolce Gusto, com peso total de cerca de 100 gramas, custa R$ 22 no site da empresa. Seiscentas caixas (equivalentes a 60 quilos), portanto, custam R$ 13.200, ou seja, 25 vezes mais que a cotação da saca do café arábica mineiro. De acordo com o diretor executivo da Abic, o Brasil fornece hoje mais de 50% dos grãos de qualidade superior usados pelas principais marcas mundiais de cápsulas. Da exportação brasileira de cafés em grão cru, que atinge 33 milhões de sacas anuais, mais de 20% (8 milhões de sacas) são de cafés diferenciados, que, por suas características, têm maior valor no mercado. São os especiais, os sustentáveis, os pro-

duzidos em microlotes por produtores familiares e os de origem determinada (terroir), como os do Sul de Minas, do Cerrado Mineiro, da Região da Alta Mogiana Paulista e do Nordeste do Paraná, entre outras localidades. Para Herszkowicz, é preciso haver uma grande articulação entre produtores e indústria para buscar um plano que compartilhe a importação e o uso simultâneo de mais café brasileiro com um rol de salvaguardas (como padrões mínimos de qualidade do café, quantidade máxima, evolução dessa quantidade ano a ano, regras com relação a financiamento e pagamento à vista). “Um conjunto dessas regras e de condições de reciprocidades negociado com as partes que se opõem à importação pode significar uma oportunidade de negócio para promover o próprio café de origem brasileira”, Acredita o executivo da Abic.

Uns produzem...

... outros lucram...

... e espalham suas marcas.

Principais exportadores de cafés especiais (grão cru): • Brasil • Colômbia • Quênia • Etiópia • Costa Rica

Principais produtores de cafés especiais industrializados e em cápsulas: • Estados Unidos • França • Bélgica • Espanha • Itália • Inglaterra • Holanda • Suíça

Onde estão as fábricas das principais marcas de café expresso e em cápsulas:

(Suíça) (Itália)

(EUA)

(Inglaterra, Espanha, Brasil)

(Itália)

(EUA)

(Itália)

(Portugal)

(EUA)

Fonte: Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) PLANT PROJECT Nº 1

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O GENERAL CHINÊS NA GUERRA DOS ALIMENTOS Por Vivian Oswald, de Pequim

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Personalidade

Foto: Divulgação

A

batalha está quase ganha. Faltam poucos obstáculos a serem superados para que as tropas de Ren Jianxin concluam um dos mais estratégicos movimentos da China em um território que, até pouco tempo, parecia estar em posição de grande fragilidade. São esperadas ainda para os últimos meses de 2016 as derradeiras sinalizações positivas de autoridades regulatórias ao redor do mundo para que o império químico estatal China National Chemical (ChemChina), comandado por Jianxin, assuma definitivamente o controle do grupo suíço de agroquímicos e biotecnologia Syngenta, numa aquisição avaliada em US$ 63 bilhões. O triunfo não fará da companhia do Império do Meio, pelo menos por enquanto, a maior do setor – principalmente após o anúncio recente da oferta de compra da concorrente americana Monsanto feita pela rival alemã Bayer. Mas é certamente a prova de que, daqui para a frente, os chineses vão apostar todas as fichas em negócios considerados cruciais para o país, que precisa alimentar 1,4 bilhão de pessoas, ou um quinto da população do Planeta.

A ordem do presidente chinês Xi Jinping é disputar espaço de igual para igual com líderes de mercado já consagrados e alargar as fronteiras corporativas da China. Talvez não exista hoje melhor nome para cumprir essa missão do que Ren Jianxin. Se confirmada como previsto, a operação será a mais importante já feita por uma companhia chinesa no exterior, e consolidará o nome desse executivo de 58 anos como um dos homens mais poderosos do país. A impressionante trajetória do economista – que prefere se manter distante dos holofotes que atraem outras figuras de destaque do mundo dos negócios da China – e a veloz evolução da ChemChina se confundem entre histórias de ousadia, sucesso e, claro, perfeita sintonia com o governo chinês. Tudo começou na década de 1980 com uma empresoca de limpeza criada pelo jovem Ren, então com 26 anos, recém-formado em Engenharia Mecânica. À época secretário do comitê da Liga da Juventude Comunista Chinesa, no Instituto da Indústria Química de Lanzhou – sua cidade natal e capital da empobrecida região

Ag

Sede da ChemChina, em Pequim: empresa criada com US$ 1,5 mil fez mais de 100 aquisições

PLANT PROJECT Nº 1

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Reunião de acionistas da Syngenta: depois da oferta frustrada pela Monsanto, empresa virou alvo de Jianxin

de mineração de Gansu, no noroeste da China –, encontrou e comprou a patente de um agente de ácido nítrico com propriedades anticorrosivas e de limpeza da água, engavetada há pelo menos cinco anos na entidade. Em meio a reformas, a China vivia uma transição econômica importante, e institutos como aquele em que Jianxin trabalhava precisavam buscar meios de se financiar no mercado e não apenas contar com patrocínio do governo. Sem pensar duas vezes, pagou 250 yuans pela patente e pediu emprestados ao próprio instituto outros 10 mil yuans (cerca de US$ 1,5 mil, ao câmbio atual). Como garantia pela operação, ofereceu o pouco que tinha. Foi assim que ele e outros sete colegas da Liga fundaram a BlueStar Cleaning, em 1984. O primeiro serviço prestado pela empresa foi a limpeza gratuita da chaleira de uma senhora da vizinhança. Satisfeita com o resultado, pagou-lhe 0,2 44

yuan. Aos poucos, a história foi se espalhando. Mas foi a limpeza do boiler velho, prestes a ser aposentado, de uma companhia de mineração de carvão que rendeu fama à recém-inaugurada BlueStar e o caminho para fechar o primeiro ano de funcionamento com faturamento de 240 mil yuans, para a alegria do instituto. Durante uma década, a empresa cresceu e, em vez de limitar-se a deter o monopólio do setor, vendeu os produtos e o equipamento necessário para que outras chinesas pudessem atuar no mercado. Assim receberia royalties e poderia continuar crescendo e aparecendo. Jianxin, àquela época, ficara conhecido como o "Rei do mundo da limpeza". Em 1996, as receitas da BlueStar (que empregava mil pessoas) já somariam 500 milhões de yuans e seus ativos líquidos, 200 milhões de yuans. Naquele mesmo ano, Jianxin se tornaria mestre em

economia pela Universidade de Lanzhou e vitorioso em nova empreitada. Ao abrir o capital, levantou 140 milhões de yuans para a companhia ao listá-la na bolsa de valores de Shenzhen, conhecida por negociar ações de jovens empresas chinesas, em geral de perfil mais ousado. A empresa não parou de se expandir. Foi um dos motores do crescimento de dois dígitos da China nas últimas décadas e, como "a economia socialista com características chinesas", como o próprio governo gosta de repetir, adaptou-se aos desafios dos tempos. Jianxin tornou-se um comprador serial. Esteve à frente de mais de uma centena de fusões e aquisições dentro e fora do país e passou a ser chamado de "Rei do mundo das fusões e aquisições". Com as bênçãos do Estado, a BlueStar mudou seu quartel-general para Pequim, incorporou e recuperou outras estatais de grande porte, muitas à beira da falência. Fez ressurgir


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Personalidade

das cinzas a Xinhuo Plant, na província de Jiangxi, no sul do país, um caso de fiascos sucessivos de produção de organosilicone. A reestruturação da empresa e a posterior aquisição da francesa Rhodia Silicones, a quinta produtora mundial do material, fez da China uma das seis nações capazes de produzir em grande escala, juntamente com Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. O executivo, então, passou a ser reconhecido internacionalmente. Sua atuação agressiva, com o aumento explosivo da produção chinesa, obrigou a concorrência a cortar os preços em algo entre 30% e 40%. Foi em 2004 que surgiu a China National Chemical Corporation como é conhecida hoje – fruto da fusão entre a BlueStar, que se tornou uma das subsidiárias da gigante, e a Haohua Chemical Corporation. Especialistas garantem que um dos diferenciais da ChemChina está no fato de a ideia do imenso império formado pela companhia ao longo de todos esses anos ter vindo do próprio Jianxin, com o apoio do Estado. Em geral, os grandes conglomerados chineses se formam por iniciativa do governo central. Sempre de terno e belas abotoaduras, o empresário é um dos poucos empreendedores da sua geração ainda em posição de comando depois de mais de três

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décadas de reformas. Ele ficou conhecido pelo bom trânsito no meio corporativo internacional e o estilo ocidentalizado (para alguns, acima da média). Quem o conhece diz que não tira férias há décadas e para apenas por ocasião do ano novo chinês, o feriado mais importante do país. Tampouco é visto fazendo atividades comuns entre empresários, como jogar golfe. Seu hobby preferido seria caminhar do trabalho para casa. Obstinado, não esconde a vontade de mudar e continuar crescendo. Na página da empresa, o recado do presidente é claro: "Desde a sua fundação, a ChemChina mantém a posição de liderança na indústria química da China com produtos de alta qualidade e serviços. Enquanto isso, acompanhamos ativamente as tendências e mudanças globais e buscamos parceiros do mundo inteiro. Até 2020, a ChemChina vai formar o padrão industrial "3+1", incluindo ciência dos materiais, da vida e do ambiente, e pretende se tornar um grupo com forte competitividade internacional". Em 2014, em um texto que escreveu por ocasião do aniversário de 10 anos da ChemChina foi taxativo: "Para uma versão melhorada da economia chinesa, precisamos de uma versão melhorada da empresa chinesa". E certamente esta tem sido uma das diretrizes da companha, que passou a investir também PLANT PROJECT Nº 1

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Ren Jianxin (no alto) e Demaré, chairman da Syngenta: negócio fechado em quatro meses

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em sustentabilidade e novas tecnologias. A manobra para abocanhar a Syngenta deve ter efeitos sem precedentes no mercado internacional, ao colocar a China entre os maiores produtores de transgênicos do mundo. A entrada do país no mercado de sementes deve garantir ao Partido Comunista mais tranquilidade no quesito segurança alimentar. A velocidade na qual precisa correr para alimentar os seus cidadãos, que equivalem a um quinto da população mundial, tem feito a China buscar opções fora de suas fronteiras, onde as terras aráveis (7% apenas do total do planeta) tem escasseado e a falta do domínio da tecnologia para produzir sementes deixava o país refém de outras nações – a produtividade média na China é 40% inferior à da média dos principais produtores de grãos, como Brasil e Estados Unidos. Com isso em mente, Jianxin passou anos avaliando oportunidades de aquisições que trouxessem mercado e tecnologia para as suas mãos. Um dos principais alvos em seu radar era a Syngenta. Jianxin repetiu com a companhia suíça a receita que havia usado na aquisição da Pirelli, no ano passado. Antes de fazer a oferta, ele se aproximou do presidente da companhia italiana, Marco Tronchetti Provera.

No momento oportuno, deu o bote. Manteve Provera no comando da empresa e transformou-o em um dos seus principais conselheiros, uma espécie de cicerone pelos salões corporativos globais. E, numa demonstração clara de suas intenções, recusou-se a transferir a sede da Pirelli da Itália para a Ásia. “Seria um erro cultural e industrial”, avaliou. No anúncio da aquisição da Syngenta, em um evento com a imprensa na sede da companhia, na Basileia, Suíça, ele se mostrava descontraído como poucas vezes se viu, deu tapinhas nas costas de jornalistas e, diante de perguntas sobre quais seriam seus planos para a empresa, cravou: “A Syngenta vai permanecer Syngenta”. Há outros nomes estelares dos negócios globais gravitando em torno de Jianxin. Gente como Michael Koenig, ex-Bayer, e Ze’ev Goldberg, ex-oficial do exército israelense que se tornou um dos nomes mais influentes do banco Lehman Brothers, um dos seus principais consultores nos processos de compra da Syngenta e da Pirelli. Com eles, aprendeu, entre outras coisas, que aquisições são feitas com muita coisa além de dinheiro. Uma delas, é a empatia com os executivos da empresa-alvo. Para eles, uma vez efetivada a transação, Jianxin costuma repetir uma espécie de mantra pessoal: “Eu sou seu chefe, mas

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Lavoura de arroz na China: país busca tecnologia para aumentar produtividade


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vocês são meus professores”. Tronchetti Provera, por exemplo, é tratado pelo chinês como “maestro”. Foi por intermédio de Provera que Jianxin chegou a Mike Mack, exCEO da Syngenta. Os dois passaram a conversar com regularidade, sobretudo depois que a companhia suíça teve recusada uma oferta para comprar a Monsanto, em outubro de 2015. Jianxin ligou de Pequim para Mack com uma contraproposta. De compradora, a Syngenta passava a comprada. Logo depois, Mack deixou a empresa. Quem apertou as mãos de Jianxin em frente às câmeras, quatro meses depois, foi o chairman da companhia, Michel Demaré. Com a entrada da gigante do agronegócio em seu

portfólio, o Brasil deve entrar definitivamente no foco do general chinês na batalha dos alimentos. A ChemChina não tem presença direta do Brasil e seus executivos em Pequim afirmam que é difícil adiantar quais serão os seus novos passos no mercado brasileiro. No entanto, atua por intermédio de algumas das suas companhias adquiridas nos últimos anos, como a Pirelli e a Adama, uma marca emergente no bilionário mercado de defensivos e, ela mesma, um exemplo do apetite corporativo de Jianxin. Sediada em Londrina, no Paraná, a empresa é filial de um grupo israelense comprado pela ChemChina em 2011. Na época, chamava-se Makhteshim Agan e já tinha negócios no Brasil desde 2001, quando ele próprio havia comprado uma

companhia local, a Milenia Agrociências. A Adama, atualmente, fatura mais de R$ 1 bilhão no Brasil. Com o Brasil, a Adama, a Syngenta e a estratégia expansionista de sempre, Jianxin tem por meta fazer da ChemChina a terceira maior do mundo até 2040. A anterior, de levá-la à lista das top 500 da revista Fortune até 2015, foi cumprida com quatro anos de antecedência. Em 2016, a estatal aparece na posição 234 da relação, onde se mantém há seis anos consecutivos. Com habilidade e resultados, Jianxin consolida suas posições no complexo front político interno da China, muito mais agora com o trunfo de entregar ao país um plano para garantir sua segurança alimentar. O general dos negócios sabe o quanto vale vencer essa batalha. PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Análise

O GENE DO APETITE DA BAYER Como uma nova tecnologia capaz de reinventar os transgênicos pode ter sido decisiva na compra da Monsanto pela companhia alemã Por Emma Cowan*, de Londres – Inglaterra

M

uitas foram as razões cogitadas sobre a aquisição da Monsanto pela Bayer. Manter-se forte diante da grande consolidação que acontece na indústria foi uma delas, mas existem vários outros benefícios estratégicos para a compra. Alguns deles, como a tecnologia de manipulação de genes, têm sido menos discutidos do que outros. Por trás das exigências e preocupações dos consumidores, o uso de culturas geneticamente modificadas em alimentos se tornou algo cada vez mais examinado por autoridades reguladoras, sobretudo nos Estados Unidos. O recente uso do rótulo OGM (Organismos Geneticamente Modificados ou Transgênicos) no estado de Vermont, nos EUA, deu início a uma nova era de incertezas para as grandes empresas de alimentos que começam a

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adotar o padrão de rótulo para produtos transgênicos, mas que ainda assim reclamam sobre o custo e a percepção de tal ação. Entre as que reclamam estão General Mills, Mars, Kellogg, Campbell Soup e Monsanto, que acreditam que tal lei estadual específica estabelece um precedente perigoso em Vermont, que poderia criar uma colcha de retalhos de políticas estaduais relacionadas a rótulos de produtos transgênicos. Em outra frente, porém, uma nova tecnologia -- ou um conjunto de tecnologias -- está ganhando impulso e pode potencialmente substituir a atual tecnologia de produtos transgênicos, permitindo uma nova forma de manipulação genética benéfica. O sistema CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas) Cas9 é a


melhor ferramenta de edição de genes presente no mercado, além de ser uma técnica muito mais palatável para aqueles que não concordam com a modificação genética, porque espelha um processo natural. O CRISPR utiliza, basicamente, um mecanismo semelhante ao utilizado pelos organismos vivos ao reparar o DNA danificado, excluindo fragmentos indesejados e substituindo ou reorganizando o que é deixado para trás. Como esse método não introduz nenhum DNA estranho, como no caso de algumas tecnologias de produtos transgênicos, é sem dúvida um método avançado de reprodução, que poderia ocorrer na natureza ao longo de vários anos de evolução. Assim, não está submetido aos mesmos níveis de testes regulamentares minuciosos que a tecnologia tradicional de produtos transgênicos. AVANÇO DO CRISPR Trata-se de um avanço, não só do ponto de vista da biologia, mas também do ponto de vista de aprovações. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) confirmou que o processo não requer aprovação regulatória. Uma variedade de milho desenvolvida pela DuPont Pioneer e modificada pelo CRISPR é um exemplo de uma cultura de genes modificados que não foi sujeita a regulamentações do USDA.

Já existem outros exemplos. O diretor do Instituto Suíço de Pesquisa para a Pecuária Orgânica fez uma declaração em favor do CRISPR, chocando muitas ONGs e grupos de lobby da agricultura orgânica. Até o Governo Chinês, conhecido pela sua oposição aos transgênicos, aprovou a iniciativa indicando o desejo de utilizar o CRISPR em contraste com a sua antipatia com a tecnologia transgênica tradicional. O CRISPR foi nomeado como Inovação do Ano em 2015 pela revista Science, da Associação Americana para o Avanço da Ciência. E em 2014 e 2016 esteve presente na lista das dez melhores tecnologias do MIT. No domínio das ciências da vida, essa é uma ótima notícia. A indústria da saúde humana é atualmente o foco para o investimento de uma grande quantidade de recursos para a tecnologia

CRISPR. Ela poderia liderar pesquisas para a cura de defeitos genéticos e doenças como o câncer, Alzheimer, fibrose cística, AIDS e apenas ao remover parte de DNA. Mas a iniciativa vem ganhando espaço no setor de agricultura e há um claro potencial para a sua aplicação da área da saúde para a de agricultura. Desde o ano passado, a Bayer tem reforçado as capacidades do CRISPR e em agosto de 2016 assinou um acordo com a CRISPR Therapeutics, por meio da sua unidade do LifeScience Center e com o objetivo de investir US$ 335 milhões em uma joint venture chamada de Casebia Therapeutics. A associação combina duas áreas: a CRISPR-Cas9 da CRISPR Therapeutics, e o know-how de engenharia de proteínas e doenças da Bayer. Por meio da joint venture, a Bayer obteve

Werner Baumann (Esquerda), CEO da Bayer, e Hugh Grant, da Monsanto

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DE ONDE VIERAM AS RECEITAS DOS GIGANTES* BAYER Por segmento 8%

9%

Por região CP, 80%

15%

28%

12%

30%

26%

15% Fungicidas H erbicidas Inseticidas

27%

29%

Sementes SeedGrowth Ciência do Meio Ambiente

Europa América Latina, África, Oriente Médio

América do Norte APAC

MONSANTO Por segmento

Por região

3% 4% 5% 15%

S&T, 68 %

40%

Sementes Vegetais Outras Culturas Algodão S&T

* em 2015 / somente Crop Science 50

Américas, 82%

57%

11%

32% Milho S&T Produtividade Agrícola Soja S&T

4% 4% 6% 5% 1% 12%

EUA Brasil Europa-África Ásia-Pacífico

Argentina Canadá México Outros

os direitos exclusivos para utilizar a tecnologia da CRISPR Therapeutics e a tecnologia proprietária da joint venture, a CRISPR-Cas9, além da propriedade intelectual em três áreas de doenças específicas que incluem doenças do sangue, cegueira e doenças cardíacas congênitas. A CRISPR Therapeutics pode obter acesso exclusivo ao know-how da engenharia de proteínas da Bayer para utilização em produtos do sistema CRISPR, bem como para a vasta experiência e conhecimento da Bayer nas três áreas de doenças visadas. O recém-criado know-how que se deu por meio da colaboração, além das três áreas de doenças citadas, será disponibilizado com exclusividade para a CRISPR Therapeutics para uso humano e para a Bayer para uso não humano, além de aplicações agrícolas. A partir disso, a Bayer comandará qualquer pesquisa e deterá o know-how para lidar com iniciativas de agricultura. Com a compra da Monsanto, a maior produtora de biotecnologia agrícola, a rota para o mercado se mostra de forma clara. A Monsanto tem se concentrado em outras ferramentas de manipulação de genes, que foram inicialmente utilizadas para fins de modificação genética – ou seja, para inserir genes com determinadas características benéficas em diferentes culturas,


com mais precisão. Neste ano, a empresa assinou dois acordos, um com a TargetGene e o outro com a Nomad Bioscience. Sob a fusão com a Bayer, a Monsanto pode potencialmente ter um arsenal com ferramentas mais recentes de manipulação de genes à sua disposição, e poderia haver um novo escopo para substituir sua carteira de produtos transgênicos com produtos de ferramentas para manipulação de gene. Simultaneamente, aumentaria seus ganhos e estaria de acordo com o movimento orgânico. Então, o que tudo isso significa para a fusão? A união dará para a nova empresa o controle de mais de 25% da oferta mundial de sementes e pesticidas. Isso também significa uma aproximação ainda maior do originador de sementes geneticamente modificadas com os fundadores da tecnologia CRISPR. Note-se que a cota de 25% se refere ao valor coberto pelos produtos da Monsanto. A real área cultivada de culturas plantadas com a biotecnologia que rendem royalties à Monsanto é muito maior. A Bayer não é o único player na corrida do CRISPR. Sabemos, no entanto, que outras empresas agrícolas estão olhando para o CRISPR. A DuPont Pioneer já tem um produto no mercado com base nessa tecnologia, como mencionado anteriormente, e fez uma parceria com a

Caribou Biosciences, que no início deste ano levantou US$ 30 milhões em financiamentos. Mas a aquisição da Monsanto pretende catapultar a Bayer para ser a provedora de biotecnologia líder na produção de alimentos no mundo inteiro. A capacidade de biotecnologia combinada da Bayer e da Monsanto será imensa e sua propagação geográfica será global. O mercado dominante da Bayer é na Europa e o da Monsanto, nas Américas. A única ameaça real para esse domínio agrícola mundial são os órgãos reguladores do mercado. Essa agora é a terceira megaconsolidação no setor. A primeira foi com a Dow-DuPont. Em seguida, com a Syngenta-ChemChina. Esta última aquisição é potencialmente a mais radical e profunda, mas pode ser a mais difícil de ser realizada.

Representação da edição genética do CRISPR cas9

*Emma Cowan trabalha no setor de agricultura toda a sua vida. Cresceu junto aos negócios de carne bovina e soja de sua família no Brasil. Sua carreira corporativa, que se estende por mais de 25 anos, inclui cargos importantes em empresas como Rabobank, Syngenta e Monsanto. Em 2007 criou a consultoria de agronegócios, Cardy-Brown and Co., com sede em Londres, e agora aconselha investidores Fundo de Oportunidades Agrícolas e Alimentícias. Ela também é colunista da AgFunderNews, onde esse artigo foi originalmente publicado. PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Finanças

CRAs

LETRAS QUE VALEM OURO

Alternativas para o financiamento de transações, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) atraem investidores e ocupam espaço em um cenário de escassez de crédito e podem injetar até R$ 30 bilhões no campo Por Costábile Nicoletta

E

m tempos de severo ajuste fiscal e de crescente cautela do sistema bancário em relação à concessão de financiamentos, até a pujança do agronegócio brasileiro é posta à prova. Os desembolsos totais de crédito rural nos dois primeiros meses da safra 2016/17 (julho e agosto) somaram R$ 26,3 bilhões, 16% menos que no mesmo período do ciclo 2015/16, segundo o Banco Central. Mas o mercado se adapta e busca saídas. Uma delas é o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), um instrumento de captação de recursos para financiar transações do agronegócio cuja procura vem crescendo com vigor, tanto por quem emite esse título quanto por quem investe nele. “O Banco do Brasil, principal agente fomentador do agronegócio, fechou as torneiras, assim como outros bancos privados”, explica Carlos Pimenta, diretor de operações

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estruturadas da consultoria Datagro Financial. “As tradings e as empresas de agroquímicos também estão financiando menos seus clientes e passaram a usar o CRA como um mecanismo para vender mais e diluir riscos.” A colheita de negócios tem sido farta nesse campo. Segundo a Cetip — empresa de serviços de registro, negociação e liquidação de ativos e títulos —, o estoque de CRAs no mercado cresceu de pouco mais de R$ 2 bilhões em janeiro de 2015 para R$ 11 bilhões em julho de 2016. Companhias do porte de Syngenta, Raízen, BRF, Suzano, Fibria, Duratex, JSL, Coopersucar, São Martinho, Bayer e Nufarm já realizaram oferta pública de CRA para buscar recursos a custo e prazo mais em conta, seja para bancar seus próprios projetos, seja para financiar seus clientes nesses momentos de baixa atividade econômica.


Os CRAs são emitidos por companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio. Trata-se de instituições não financeiras cuja finalidade é adquirir recebíveis (empréstimos, duplicatas, notas promissórias, entre outros), transformálos em títulos negociáveis (securitizá-los) e distribuí-los (vendê-los) aos investidores. O lastro dos CRAs é o fluxo de pagamentos dessas dívidas (recebíveis) adquiridas pela securitizadora. Diferentemente do que a prosódia da palavra securitização possa dar a entender, ela não guarda nenhuma semelhança com o setor de seguros. Sua origem é o termo inglês securitization, que deriva de securities (valores mobiliários). “A tradução mais adequada seria titularização, que é transformar esses recebíveis em títulos negociados na BM&FBovespa e na Cetip”, explica Renato de Souza Barros Frascino, diretor da securitizadora Gaia Agro. Portanto, em vez de financiarse com operações do sistema bancário de crédito rural, as empresas do agronegócio têm como alternativa ir ao mercado de capitais, cedendo os créditos que têm a receber a uma securitizadora para transformálos em títulos de CRA. Ao receber os recursos de uma emissão de CRA, as empresas antecipam uma receita que pode ser usada para

bancar outros investimentos produtivos, financiar fornecedores e clientes ou mesmo quitar outras dívidas. Para o investidor que compra um CRA, considerado produto de renda fixa, a remuneração ocorre por meio de juros fixos ou flutuantes e a atualização monetária é permitida, desde que seja a mesma dos direitos creditórios vinculados ao CRA. Com a demanda crescente, o mercado também tem se aprimorado. No final de agosto, o Senado aprovou a Medida Provisória 725/2016 que permite a emissão de CRA com correção pela variação cambial. “Com isso, as agroindústrias exportadoras vão poder tomar financiamento internacional com juro mais baixo”, afirmou a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), ex-ministra da Agricultura e ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). “É uma

CRAs

condição de financiamento muito moderna, que poderá representar a entrada de US$ 30 bilhões para o agronegócio no País.” Os CRAs com correção cambial, porém, só valem para investidores estrangeiros. Para os investidores brasileiros pessoa física, a principal vantagem do CRA é que seus rendimentos são isentos de Imposto de Renda (IR). Para a empresa cedente dos recebíveis, o benefício é que, depois de transformados em títulos e convertidos em dinheiro, não são taxados com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O governo federal abre mão desses tributos com o objetivo de estimular opções de financiamento da produção agropecuária. Para Renato Buranello, sócio especializado em agronegócios do escritório Demarest Advogados (com forte atuação no mercado de


CRA), esse segmento da renda fixa tem condições de crescer ainda mais, em razão da maior demanda por crédito privado como consequência da redução da oferta de dinheiro público no mercado. “Além disso, vem agora uma segunda fase de operações de CRA”, prevê Buranello. “Muitas empresas já conseguem demonstrar ter riscos de recebíveis mais aceitáveis e o investidor também já está mais adaptado ao CRA.” Embora atrativos, os investimentos em securitização têm seus riscos relacionados aos recebíveis aos quais estão atrelados. E esses riscos são transferidos para o investidor. Se houver quebra de safra de um produto cuja venda esteja incluída entre esses recebíveis e o agricultor colher menos, o resultado disso pode ir para o bolso do investidor. Em geral, as operações de CRA contam com alguns instrumentos para mitigar esses problemas, como seguro de safra, gestão de risco terceirizado, monitoramento do mercado físico e a cessão dos recebíveis em regime fiduciário, o que significa que são separados do patrimônio da securitizadora e destinados exclusivamente à liquidação dos CRAs. Para Renato Frascino, da Gaia Agro, o investidor tem de analisar muito bem os riscos de cada papel antes de decidir-se pela aplicação, mas ele também crê que ainda há muito espaço para a expansão do CRA. Ele 54

• Quem pode vender recebíveis utilizados no CRA? Empresas que atuam no agronegócio. Por exemplo, um produtor rural precisa de R$ 1 milhão ampliar o número de pivôs para irrigar suas plantações. Ele pode reunir os créditos que tem a receber dos clientes que compram seus produtos e transferi-los a uma securitizadora, que emitirá um CRA no valor de R$ 1 milhão, transferirá os recursos ao produtor rural e receberá os créditos dos clientes desse produtor que entraram na operação, à medida que forem saldados. • Quem pode emitir um CRA? Somente empresas securitizadoras. As principais são: Agrosec, Ecoagro, Gaia Agro e Octante. • Principais compradores de CRA - Family Offices (administradoras de fortunas familiares). - Clientes Private Banking (correntistas de banco com alta renda). - Investidores estrangeiros. - Investidores institucionais. - Seguradoras. • Quais as formas mais comuns de remuneração do CRA? - Percentual do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). - CDI + taxa pré-fixada. - Índices de preços ou inflação + taxa pré-fixada. - Taxa pré-fixada. • Qual a periodicidade da remuneração? Cada CRA pode ter um prazo diferente para ser concluído e para o fluxo de custos e receitas. Há emissões que remuneram o investidor mensalmente, semestralmente e até uma vez por ano. O mesmo se aplica ao prazo de vencimento de cada título. Fontes: Portal Caminho para a Riqueza, Demarest Advogados, Datagro Financial e securitizadoras.

faz uma comparação com outro título semelhante, o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), cujo estoque de operações na Cetip era de R$ 65,3 bilhões em julho. “O agronegócio é muito maior que o setor imobiliário, representa 22% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o setor imobiliário, 5%”, relaciona o diretor da Gaia Agro. “O potencial de

operações no agronegócio é muito maior. Além disso, o governo está com capacidade limitada de conceder crédito rural, ao mesmo tempo em que o agronegócio cresce e demanda capital para fazer frente a essa expansão. De onde virá esse dinheiro? As empresas terão de buscar fontes alternativas no mercado de capitais. E o CRA é uma delas.” .


A gênese do CRA Os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) foram criados em 2004, mas ganharam força a partir de 2012, com a primeira emissão da Syngenta, multinacional especializada em sementes e produtos químicos voltados para o agronegócio. Foi uma oferta de R$ 85,5 milhões. A partir de então, outros grandes grupos ligados à agropecuária seguiram o exemplo da Syngenta. “As operações de CRA habilitam o financiamento de diversos insumos sem caracterizar um endividamento bancário, ajudando a manter o balanço contábil de nossos clientes mais saudável e abrindo uma nova via de crédito direto com o mercado de capitais (investidores privados)”, informa a companhia. De acordo com Renato de Souza Barros Frascino, diretor da Gaia Agro, o CRA pode ser emitido com recebíveis de uma só empresa ou de um conjunto de companhias. Há dois tipos de oferta. Um, regido pela Instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é de abrangência restrita, só pode ser oferecido a 75 investidores profissionais e apenas 50 deles podem comprar os papéis. Em geral, usa-se para ofertas de menor valor. O outro tipo é disciplinado pela Instrução 400 da CVM, a opção adotada na primeira

emissão da Syngenta. Nessa modalidade, o CRA pode ser oferecido ao mercado de forma geral, porém, antes, tem de se submeter à análise e à aprovação da CVM, assim como ocorre em ofertas públicas de ações de empresas. A maioria das colocações de CRA é feita hoje pela Instrução 400, pois consegue-se pulverizar o número de investidores. Numa emissão de R$ 100 milhões, por exemplo, se for feita pelas regras da Instrução 476, cada um dos 50 investidores a ser habilitados para comprar o título terá de despender R$ 2 milhões. Numa oferta pela Instrução 400, como o número de investidores pode ser bem maior, o investimento individual tende a ser menor. Os CRAs podem ser adquiridos no chamado mercado primário, quando comprados pelo investidor no momento da oferta. Também podem ser negociados no mercado secundário, quando um investidor que comprou o título o revende para um terceiro. Embora a rentabilidade do CRA seja isenta de Imposto de Renda (IR) e de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para pessoas físicas, ele não está assegurado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), por ser uma emissão privada que deve contar com garantias próprias. PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Opinião

MENOS FERRO E MAIS INTELIGÊNCIA Inovação e integração são as palavras de ordem no futuro da produção de cana-de-açúcar Por Marco Ripoli*

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entro do cenário do agronegócio brasileiro e de todas as cadeias produtivas que o compõem, a indústria canavieira talvez seja o setor que melhor represente a nomenclatura indústria. A cana-de-açúcar demanda um modelo de negócio integrado, enxuto e acurado, com um grande planejamento operacional: do campo à usina (a logística envolvida no processo de colheita da cana, com carregamento e transporte); da usina para os destinos necessários para se chegar aos produtos finais; e, claro, de um planejamento dentro do “escritório”, voltado para uma gestão humana e administrativa do negócio. Some-se a isto a própria questão da cultura em si, cuja sazonalidade é longa e precisa de intensivas horas de trabalho, o que justifica uma vez mais uma gestão rural que tenha toda a operação em conjunto e sincronizada. O cenário todo faz

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com que o produtor de cana seja adepto da alta tecnologia para enfrentar, e ultrapassar, os desafios produtivos. Promovido pelo abandono da queima, o crescimento da colheita mecanizada cresceu muito na última década e gerou ganhos em produtividade ao setor sucroenergético. Atualmente, 90% da área plantada de cana em São Paulo é colhida de forma mecânica, com 80% do plantio realizado de forma automatizada. Outro efeito imediato da disseminação da colheita mecanizada foi a necessidade de mão de obra qualificada para gerir equipamentos, agregando segurança e agilidade à produção. Para evitar baixa eficiência na colheita, cada vez mais se indica a utilização de metodologias consagradas em outros segmentos, como a utilização da Mentalidade Enxuta na parte industrial da usina. Já consagrada na manufatura, o conceito


propõe focar ou eliminar tudo que não agrega valor aos produtos dos clientes. No entanto, a média produtiva nacional ainda é baixa e os custos são altos. Em testes realizados na frente da colheita, chegamos à conclusão de que menos da metade de um dia é de fato empregada na colheita efetivamente – gastando 27% do tempo em trocas de turnos, refeições, deslocamento de área e espera por transbordo e 2% sendo afetado pela chuva –, além de realização de funções inerentes, como 8% do tempo utilizado em manobras, 8% em manutenção corretiva e 9% em funções auxiliares (abastecimento, lubrificação, lavagem, troca de facas, limpeza do equipamento e manobra do transbordo). Nesse sentido, cada vez mais as tecnologias farão com que as máquinas sejam menos “ferro” e mais “inteligência” – atuando concomitantemente com big data, análise de dados e interação dos equipamentos tanto entre si como com a sede. E tudo isso também passa, obviamente, pela capacidade humana de trabalhar sem comprometer a performance da operação, utilizando ao máximo o potencial de cada colhedora. Hoje as máquinas já estão em uma fase avançada de entregar diversos dados para que os clientes possam trabalhar para reduzir o custo de tonelada colhida e o consumo de combustível, otimizando a utilização correta das máquinas e diminuindo a interferência dos operadores.

Além da transmissão dos dados operacionais do campo para o escritório (chamado de "Show me the Data"), o alerta – em tempo real – sobre situações anormais no campo é um processo que já é possível realizar e tende a crescer nos próximos anos, evitando, uma vez mais, gastos desnecessários de tempo e investimento. Por fim, uma inovação futura que irá aparecer nesta experiência de inteligência homem-máquina é a integração e parceria com consultores, que atuam conjuntamente para obter o máximo de produtividade no campo, sejam elas operacionais ou agronômicas. Muito se avançou em agricultura no Brasil nas últimas décadas. De um país marcado por uma agricultura manual e de modestas produções da primeira metade do século XX e de importador de alimentos até a década de 1970 para a potência agrícola atual. Em grande parte, esse processo se deu pela conjunção de sucesso entre adoção de tecnologia e utilização de ciência agrícola de ponta, resultando no salto qualitativo e quantitativo. Mas com o sucesso vem a responsabilidade: hoje, as demais nações depositam a confiança que vai sair de nossas terras a alimentação para uma população que cresce exponencialmente. Além disso, também nos cabe o desafio de contribuir para o avanço de fontes de energia sustentáveis, tal qual o etanol e a biomassa.

Os desafios econômicos que o setor canavieiro passou nos últimos anos ainda são sentidos pelo segmento e muito trabalho ainda é preciso para retornar ao ponto ideal. Em geral, sabemos que as usinas sucroalcooleiras são marcadas por grandes frotas, que implicam em eficiência operacional, produtividade das máquinas e otimização de custos como drivers da operação. Logo, as inovações se voltam para a melhoria contínua destes e da gestão rural – cujo efeito daqui para a frente vai ser a maior integração das soluções diversas, fazendo com que este diálogo entre a tecnologia e o homem seja profícuo e produtivo. *Marco Ripoli é gerente de Marketing Estratégico para a América Latina da John Deere. Doutor em Energia na Agricultura pela Unesp, Mestre em Máquinas Agrícolas pela Esalq–USP e Engenheiro Agrônomo pela Esalq–USP. PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Gestão

UM FOGO QUE NÃO APAGOU Quinze anos depois, o Reino Unido ainda convive com os dramas de uma das maiores crises de febre aftosa do mundo, que abalou o país e deixou um prejuízo na casa dos 10 bilhões de libras Por Rachel Costa, de Londres – Inglaterra

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á 15 anos, no dia 30 de setembro, era registrado o último caso de uma das maiores crises de febre aftosa do mundo. A derradeira infecção, ocorrida na região de Cumbria, no noroeste inglês, quase fronteira com a Escócia, punha fim a 221 dias de horror, que assolaram o interior britânico. Na verdade, naquele ano de 2001 o alerta acendeu-se por toda a Europa, com o registro de casos na Irlanda, França e Holanda. Mas o país mais afetado foi mesmo o Reino Unido, onde o pânico foi tanto que adiou as eleições nacionais pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, suspendeu torneios esportivos, fechou monumentos históricos, bloqueou estradas e matou entre 6,5 milhões (número oficial) e 10 milhões (estimativas não oficiais) de animais. O massacre de

rebanhos inteiros desestabilizou o campo e, durante aqueles fatídicos meses, foram contados pelo menos 60 suicídios de criadores. A epidemia custou aos cofres públicos cerca de 10 bilhões de libras. A relação de confiança entre autoridades e fazendeiros ficou arrasada. Acumularam-se acusações de que o governo do então primeiro ministro, Tony Blair, havia priorizado a política em vez da ciência e do bem-estar da população. Mudanças foram feitas para evitar um novo episódio como aquele, mas os meses de tensão deixaram marcas difíceis de se apagar. “Além de um desastre para os animais, foi uma tragédia humana”, registrou a pesquisadora Maggie Mort, do departamento de Sociologia da Universidade de Lancaster, que, após o fim da epidemia, acompanhou

foto: Ashley Cooper/Getty Images PLANT PROJECT Nº 1

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Ag Gestão

“Foi medieval. Até hoje me lembro das fogueiras, da fumaça e do cheiro de bicho queimado que sentimos por dias”

PAULA WOLTON, FAZENDEIRA NA REGIÃO DE DEVON, SUDOESTE INGLÊS.

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um grupo de 54 pessoas para avaliar o impacto da crise sobre quem teve de lidar diretamente com ela. Em quase metade (45%) foram encontrados sinais de estresse e ansiedade, enquanto 20% desenvolveu estresse pós-traumático. “Eles tinham pesadelos, flashbacks, insônia ou falta de concentração”, anota o estudo. Quem esteve no campo naquele período guarda na memória cenas do inferno que se abateu sobre a área rural. “Foi medieval. Até hoje me lembro das fogueiras, da fumaça e do cheiro de bicho queimado que sentimos por dias”, afirma a PLANT PROJECT Paula Wolton, fazendeira na região de Devon, sudoeste inglês. As fogueiras às quais ela se refere tornaram-se um elemento macabro e recorrente na paisagem rural. Eram usadas para queimar os animais mortos. “Houve um momento em que, de casa, avistava seis fogueiras ao redor”, recorda-se ela, a única em um raio de oito quilômetros que não teve o rebanho abatido. Para evitar o vírus, Paula passou semanas e mais semanas sozinha, sem seus filhos nem seu marido. As restrições à circulação tornavam difícil o trânsito e o temor de levar a doença sem querer para dentro da fazenda faziam com que o contato com outras pessoas se resumisse ao estritamente essencial.

Perder os animais de uma hora para outra tornou-se um medo comum entre os fazendeiros. “Lembro-me de viajar pelo interior e ver pastos inteiros vazios. Onde deveria ter vacas e ovelhas não tinha absolutamente nada”, recorda Michael Sanderson, fazendeiro em Cumbria, região mais atingida pela epidemia. Ele mesmo perdeu 450 ovelhas. Mas como se chegou a esse ponto? O que deu errado nas políticas de controle que elas não foram capazes de impedir que o vírus se espalhasse de maneira tão assoladora? Nos inquéritos que se multiplicaram após o ocorrido é apontada uma série de fragilidades que ajudam a entender a tragédia. Havia um despreparo geral para lidar com a doença: a última epidemia no país havia sido em 1967, o plano de contigenciamento estava desatualizado e a demora para identificar os primeiros casos deu tempo de sobra para o vírus se espalhar. Calcula-se que se passaram de 20 a 23 dias entre a primeira infecção e a descoberta de um animal doente em um abatedouro em Essex. Quando o vírus foi finalmente detectado, ele já estava em várias partes do país. Tentando dar uma resposta robusta e que permitisse controlar a situação antes das eleições, o governo tomou uma decisão polêmica:


deu ordem para abater sistematicamente os animais suspeitos de contaminação – o que assustou ainda mais os fazendeiros. A matança indiscriminada contrariou os cientistas convocados para ajudar durante a emergência. Soube-se dez anos depois, por meio do desabafo em forma de artigo científico publicado por Alex Donaldson, um dos mais renomados especialistas em febre aftosa no Reino Unido, que os pesquisadores, em mais de uma reunião do grupo, insistiram para se usar a vacinação emergencial. Donaldson conta que a ideia não foi para a frente por causa do Sindicato Nacional dos Fazendeiros (NFU, na sigla em inglês) e da indústria alimentícia. O sindicato até hoje defende a decisão. “Vacinar iria impactar a capacidade de comercializar nossos produtos, o que seria um custo muito alto”, disse a PLANT PROJECT John Royle, consultor do NFU para pecuária. Sem o uso do imunizante, o país conseguiu voltar a exportar apenas três meses após abater o último animal contaminado, porém a um preço altíssimo. “A estratégia de abate massivo não foi

a mais adequada. Uma alternativa muito mais custoefetiva (e que pouparia a vida dos animais) seria a combinação entre o abate onde havia registro de infecção e a vacinação, junto de restrições à movimentação”, afirma Sohini Roychowdhury, professora na Universidade de Washington-Bothell. Dados colhidos posteriormente corroboram essa ideia, mostrando que o pico do contágio aconteceu antes de se decidir pelas estratégias mais agressivas de abate. “Isso torna evidente que não foram essas medidas que controlaram a infecção”, diz Paula Wolton. O grande resultado delas foi mesmo a matança indiscriminada de rebanhos saudáveis. Como registrou em artigo o médico-veterinário Paul Kitching, apenas 65% das 2.062 dependências "infectadas" em 2001 tiverem a presença do vírus confirmada posteriormente por meio da análise de amostras. Mesmo depois do horror causado pela morte massiva de animais em 2001, o dilema entre abater ou vacinar diante da febre aftosa segue aceso no Reino Unido. “Entre os produtores, a percepção

SEM MEDO DE VACINA Polêmica no Reino Unido, a vacinação é tida como uma forma de contenção emergencial do vírus em diversas partes do mundo. Mike Sanderson, da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, em seus modelos matemáticos para o território americano, sugere a imunização emergencial. A medida, calcula pesquisa publicada por ele e colegas em 2015, seria capaz de reduzir em até 48% as perdas para produtores e consumidores. Sanderson também frisa que o consumo de carne ou laticínios oriundos de animais vacinados não oferece nenhum risco para humanos. O problema no passado, explica o cientista, era diferenciar animais infectados de animais vacinados. “O monitoramento é feito por meio do teste para anticorpos para o vírus da febre aftosa. Antes era difícil diferenciar o animal vacinado do infectado porque os anticorpos apareciam em ambos. Agora, com as novas vacinas (conhecidas como Diva) isso já é possível”, conta.

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Ag Gestão

geral sobre a vacinação não reconhecidos como 'livres de é boa, porque mesmo que febre aftosa sem necessidade o animal sobreviva, ele se de vacinação' tendem a matar torna um animal de segunda todos os animais sob risco de classe”, afirmou a PLANT contato com a doença, para PROJECT o presidente da poder proclamar, o mais rápido Associação Nacional da Carne, possível, que não têm casos”, David Thomlinson. A raiz da critica Critchley. questão está na proibição Afinal, se houve uma dentro da União Europeia lição aprendida durante os (UE), principal mercado para sete meses e uma semana os produtores britânicos, da da epidemia, foi a de que o venda de produtos frescos Reino Unido não está imune oriundos de animais vacinados. à febre aftosa. “Naquela época “A vacinação contra a febre a maior parte dos fazendeiros aftosa foi banida na UE há 25 não imaginava que veria anos porque há uma vantagem febre aftosa dentro do Reino comercial se o país mostrar que Unido. Agora estamos mais não tem casos endêmicos da atentos”, considera John Royle, doença”, fala Mary Critchley, do NUF. Uma das medidas editora do site Warm Well, implementadas após a crise foi criado durante a epidemia de a chamada regra dos seis dias, INFECTADAS 2001. “Por isso, os paísesAREAS que são que impede a saída de animais Infected premises by county

de uma fazenda sempre que ela recebe novas reses. A ideia é justamente dar tempo para que, caso o animal esteja infectado, haja o diagnóstico antes que ele transite para outra fazenda, um dos problemas-chave na epidemia de 2001. A medida ajuda, mas não afasta o risco. “Hoje há um fluxo muito grande de pessoas e de animais. Importamos e exportamos para muitos países. Sempre há o risco de um produto contaminado vir parar aqui, seja pelo comércio, seja na mala de alguém que entra no país”, avalia Paula Wolton. A grande esperança é que, diante da inevitabilidade de uma infecção, as proporções não sejam tão assustadoras quanto aquelas de 2001.

1967-68

221 DIAS DE HORROR • O primeiro caso foi observado em 19 de fevereiro de 2001 e o último em 30 de setembro do mesmo ano.

2001 Número de casos

1 a 10

• Durante esse período, calcula-se entre 6,5 milhões e 10 milhões o número de animais mortos. • O prejuízo para os cofres públicos beirou os 10 bilhões de libras. Além do setor agropecuário, o turismo também foi muito afetado pela epidemia. • A doença chegou a se espalhar para Holanda, França e Irlanda.

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11 a 100 101+


A aplicação de políticas de comércio racionais pode resultar em um sólido e benéfico impacto sobre as mulheres produtoras rurais ao redor do mundo

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Ideias e debates com credibilidade

foto: Shutterstock PLANT PROJECT Nº 1

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Usando o comércio para emponderar as produtoras rurais EMBAIXADORA DARCI VETTER Chefe de Negociações Agrícolas do Escritório do Representante Comercial dos EUA

As mulheres cultivam uma grande parte da produção agrícola mundial e, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), representam mais de 40% da força de trabalho agrícola mundial. Como Chefe das Negociações Agrícolas do Escritório do Representação Comercial dos Estados Unidos da América (USTR), sou orgulhosa do modo como a agenda de comércio do Presidente Obama está empoderando mulheres produtoras rurais ao redor do mundo. Mulheres sempre enfrentam sérios obstáculos em sua capacidade de produzir alimentos para suas famílias e comunidades, o que pode torná-las menos produtivas e menos lucrativas do que a contrapartida masculina. Em algumas partes do mundo, mulheres produtoras rurais têm dificuldade em adquirir recursos e produtos para cultivar suas lavouras e são proibidas de negociar diretamente com homens, ou são incapazes de obter as informações necessárias para negociar preços justos para suas produções. De acordo com a FAO, se produtoras rurais tivessem o mesmo acesso aos recursos de produção relativamente aos produtores homens, a produção agrícola em países em desenvolvimento aumentaria entre 2,5% e 4%. O Presidente Obama e sua administração reconhecem que as mulheres têm a chave para alcançar segurança alimentar e exportações agrícolas crescentes. Isto é em parte a razão de os Estados Unidos da América (EUA) haverem estabelecido a iniciativa "Feed the Future" (Alimente o Futuro) em parceria com países ao redor do mundo para melhorar a produtividade agrícola e combater a fome, especialmente para mulheres e meninas. No 64

USTR, complementamos esses esforços apoiando políticas de comércio sólidas e guiadas por valores que auxiliam produtoras rurais a obterem um preço justo por seus produtos e melhorando a variedade e acessibilidade às comidas consumidas por suas famílias. Em particular, estamos avançando em cinco objetivos para apoiar aumento de renda, padrão de vida e criação de um mercado global mais justo para mulheres produtoras rurais nos EUA e ao redor do mundo. Primeiro, estamos trabalhando para reduzir tarifas de importação e mantê-las previsíveis através de nossos acordos comerciais, como o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), e nossos programas de comércio preferencial, como o Ato de Crescimento e Oportunidades para a África (Agoa) e o Sistema Geral de Preferências (GSP). Tarifas reduzidas fazem nossos produtos agrícolas mais acessíveis e mais competitivos em novos mercados, criando mais oportunidades para produtores rurais dos EUA e nossos países parceiros para comercializar seus produtos e alimentar o mundo. De fato, muitos produtores norte-americanos estão percebendo os benefícios de tarifas menores, as quais auxiliaram a aumentar as exportações agrícolas dos EUA de US$ 101 bilhões em 2009 para US$ 155 bilhões em 2014. Tarifas menores também contribuem para dietas mais variadas e de melhor valor nutritivo. Por exemplo, consumidores nos EUA têm acesso a uma ampla variedade de frutas e vegetais frescos e acessíveis financeiramente durante 365 dias por ano porque nós temos baixas tarifas que permitem importações durante os meses de inverno, quando não podemos suprir nossa demanda doméstica. Produtores norte-americanos exportam esses mesmos produtos para o hemisfério sul durante sua entressafra. Segundo, estamos trabalhando para reduzir tempo e custo para mover produtos entre fronteiras, tornando mais fácil para produtoras rurais comercializar seus produtos no exterior. A implementação do Acordo de Facilitação do Comércio (AFC) da Organização Mundial do Comércio (OMC) melhorará procedimentos de aduana, e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que tais procedimentos reduzirão custos de comércio em cerca de 15% para países em desenvolvimento e 10% em países desenvolvidos,


resultando em economia de centenas de bilhões de dólares anualmente. Isto é muito importante para nações em desenvolvimento de baixa renda per capita, cujas comunidades são especialmente dependentes da atividade agrícola e frequentemente lutam para exportar seus produtos nos mercados mundiais. Em conjunto com menores tarifas de importação, medidas como aquelas incluídas no AFC impulsionam a competitividade das empresas e, segundo pesquisas, têm indicado a possibilidade de redução da discriminação por gênero. Terceiro, estamos tornando o mundo real dos negócios mais transparente e mais fácil para a participação de mulheres. A implementação da AFC fornecerá maior transparência nos procedimentos de aduana e facilitará os requerimentos para exportação. Para as mulheres que não têm acesso às redes sociais informais controladas por homens, informações claras e publicamente disponíveis auxiliam a nivelar o ambiente de trabalho. A aplicação consistente de procedimentos ajuda em possibilidades de exportação mais previsíveis. Quarto, os EUA estão auxiliando governos a projetar novos sistemas de saúde animal e vegetal e de segurança alimentar, facilitando o desenvolvimento de qualificações em países em desenvolvimento, incluindo nos parceiros Agoa na África. Esses programas ajudarão produtores individuais a cumprir procedimentos de segurança e auxiliarão nossos parceiros de comércio a melhorar a quali-

A engenheira agrônoma que se tornou banqueira SYLVIA COUTINHO

Presidente do Banco UBS Brasil

Sou engenheira agrônoma formada pela Esalq-USP e apaixonada por esta área. Mas, por uma série de obras do destino, acabei enveredando para o mercado financeiro, no qual trabalho

dade e a segurança alimentar local e também para mercados internacionais. Quinto, estamos lutando por uma disciplina maior em medidas como restrições às exportações. Mulheres produtoras rurais são mais suscetíveis a choques, como condições climáticas adversas ou volatilidade de preço, uma vez que elas potencialmente têm menor controle de suas terras e ativos. Isto representa uma dificuldade adicional às mulheres para gerenciar flutuações de renda anuais ou sazonais, especialmente para produtoras rurais de pequeno porte. Quando nações impõem restrições à exportação em produtos agrícolas, os preços domésticos desses produtos podem cair dramaticamente, enquanto o preço para os consumidores de tais produtos em países importadores aumenta, porque seus mercados estão restritos a esses produtos. Estabelecer disciplinas mais sólidas nessas restrições a exportações pode auxiliar a melhorar a estabilidade para mulheres produtoras rurais e consumidores finais. A aplicação de políticas de comércio racionais pode resultar em um sólido e benéfico impacto sobre as mulheres produtoras rurais ao redor do mundo. Eu espero ansiosamente trabalhar com nossos parceiros, tanto nos EUA quanto no exterior, para renovar os programas Agoa e GSP, além de finalizar e aprovar o TPP e avançar o AFC. Quando mais mulheres tiverem uma chance justa nos mercados globais, todos vencerão.

há mais de 30 anos – hoje como presidente do banco UBS no Brasil. Costumo brincar que, ao invés de cuidar do verde da agricultura, acabei cuidando de outro tipo de verde, apesar de nunca ter abandonado o sonho de voltar um dia a me envolver, direta ou indiretamente, com o Agronegócio. A verdade é que quando me formei, em 1983/1984, tendo feito uma pós-graduação em Economia Agrícola também na Esalq, o setor passava por grandes dificuldades, ainda maiores para profissionais do sexo feminino. A não ser que a minha vertente fosse pesquisa, o que definitivamente não era. Sou mais de fazer e empreender do que de pesquisar, apesar de admirar muito os pesquisadores, especialmente da nossa querida Embrapa e muitos outros órgãos de pesquisa agrícola no nosso país, sem os quais jamais seríaPLANT PROJECT Nº 1

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mos a potência agrícola que somos hoje. Éramos de fato poucas mulheres na turma da Esalq. Assim, quando enveredei para o mercado financeiro, iniciando minha carreira no Citibank, não estranhei o fato de, à medida que fui subindo os degraus, continuar sendo uma das poucas mulheres em um meio preponderantemente masculino. Antes mesmo de optar, aos 15 anos, pela Engenharia Agronômica, eu fazia muito esporte. Alguns mais radicais na época para mulheres, como futebol e motocross. Outros, mais normais como tênis e natação. Mesmo assim, acabava convivendo no clube em um meio também mais masculino. A ideia era que eu escrevesse sobre empoderamento feminino. Decidi falar do empoderamento de dentro para fora, que acaba se traduzindo para mim em a mulher profissional se sentir bem sendo quem é, em qualquer meio que esteja, mesmo se ela for uma das poucas do sexo feminino ao redor da mesa. De fato, na maioria das vezes acabo sendo a única mulher ao redor da mesa no meu meio profissional, especialmente

A jornada das mulheres na agricultura PAMELA JOHNSON Produtora rural e ex-presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho dos Estados Unidos (NCGA)

Não há um meio singular, uma maneira única de ser uma mulher na agricultura ou ser uma mulher líder na agricultura. Há muitos caminhos e o percurso nem sempre é linear, mas parece ser um processo de desdobramento. Uma viagem que começa por dizer “sim, eu estou aberta a um futuro de novas possibilidades”. Uma rede de mulheres que compartilham suas histórias pode ajudar a iluminar o caminho para outros encontrarem o seu caminho e usar seus próprios talentos e habilidades. Diz-se frequente66

depois de ter ascendido a cargos mais altos. Lamento essa situação, mas vejo uma mudança, especialmente nas novas gerações e nos mercados mais desenvolvidos, onde tive a oportunidade de trabalhar e morar por mais de 12 anos. Se você gosta e domina o que faz, se é curiosa e continua aprendendo e se reciclando constantemente, e se faz acontecer ao seu redor, com visão de futuro e percebendo como conectar as oportunidades, o sucesso acaba chegando. Então, ser diferente ao redor da mesa acaba sendo um fator menos relevante. Não vou, no entanto, negar que ser diverso em um meio homogêneo, sendo essa diversidade advinda de gênero, raça ou background, é muito mais difícil. Há mais barreiras, há mais preconceitos a serem vencidos para se impor frente aos demais. E são essas as barreiras que não fazem sentido e que devem ser derrubadas uma por uma, pois nada mais rico do que um grupo com perspectivas diferentes entre seus membros, já que a qualidade da decisão é invariavelmente melhor na minha experiência profissional e pessoal.

mente: se você pode ver, você pode ser. É por isso que mentores e modelos são tão importantes para todos nós, para nos ajudar a encontrar o nosso próprio caminho. Cabe a nós aprender com eles e sermos modelo para os outros. Muitas vezes me pedem para compartilhar a história de minha jornada. Para mim, um futuro de possibilidades se desenrola na medida em que continuo dizendo sim e continuo caminhando através das portas para mais oportunidades no mundo da agricultura. As oportunidades educacionais e de carreira para as mulheres melhoraram muito ao longo da minha vida. Sou integrante da sexta geração de uma família de fazendeiros e a primeira mulher eleita para atuar como presidente da Associação Nacional de Produtores de Milho dos Estados Unidos (NCGA, na sigla em inglês). Fundada em 1957, a entidade representa mais de 40 mil produtores de milho em todo o país e os interesses de mais de 300 mil agricultores que contribuem através de programas “corn checkoff” (Verificação de milho) em seus estados. A NCGA e suas 48 afiliadas estatais trabalham juntas para criar e aumentar as oportunidades para os produtores de milho.


Os homens e mulheres da minha família sempre trabalharam duro e trabalharam em conjunto para criar uma vida melhor para si e para a próxima geração. Eles são uma inspiração para mim, aprendo com as suas experiências e me beneficio de seus esforços. Minha mãe e avós, como muitas de suas colegas, foram pilares invisíveis de força. Eu aprendo com o passado e olho para o futuro. Comemoro cada vez que uma mulher se torna a "primeira". Celebro as mulheres que estão apenas começando a ver as possibilidades e as mulheres

A energia da flexibilidade SALLY THOMSON Consultora e coordenadora da Nuffield International Farming Scholars

Lembro-me da minha reação a primeira vez que alguém que me disse: “Vou trabalhar de casa amanhã, me ligue em um número diferente”. Crescendo em uma fazenda da família na Austrália Ocidental, minha visão do mundo na época via a casa como um espaço dinâmico comprometido com a família e com os negócios familiares. A ideia de levar trabalho do escritório para o próprio domínio da família aparentava ser ineficaz, na melhor das hipóteses, e uma distração completa na pior delas. Eu precisava que essa senhora trabalhasse em alguns detalhes para que pudéssemos lançar o nosso projeto e eu não queria que ela não estivesse focada. A ideia de que alguém pode trabalhar para uma empresa enquanto está fisicamente em outro local certamente não é estranho para mim agora, mas anteriormente, quando tive a conversa acima, senti que a minha colega de trabalho estava comprometendo a sua vida pessoal e profissional. Comecei a minha consultoria de agronegócio com 30 anos, trabalhando de casa e na estrada. Com um pouco de tentativa e erro, desenvolvi processos e novos hábitos para separar e manter os meus mundos “trabalho” e “casa”, enquanto aproveitava a flexibilidade que isso trouxe. Agora vivo

que estão mais longe no caminho e que estão rompendo os padrões que eram barreiras no passado. Minha geração está forte e sólida quanto aos esforços e defendemos aquelas que vêm até nós. Ao olharmos para o futuro, nossa grande esperança e foco de nossos esforços estão em incentivar a próxima geração e em criar uma cultura onde as mulheres e os homens podem atingir seu pleno potencial e o trabalho de todos é valorizado, seja na fazenda, na sala de reuniões, seja como líderes em universidades, empresas e governo.

e trabalho nas geografias do Brasil e da Austrália, me dando uma visão muito mais ampla de onde a minha “casa” é, como eu atendo aos compromissos de trabalho e como gerenciar o equilíbrio entre o trabalho e a vida. Muitas vezes me perguntam onde eu considero minha casa e eu observo que as pessoas podem ficar confusas quanto ao que faz uma casa ser a sua “casa”, e se é possível alguém se sentir em “casa” em dois lugares que estão a 14 mil quilômetros de distância. Mais do que nunca, as nossas vidas são ativas, diversificadas e em constante evolução. A Segunda Guerra Mundial levou ao reconhecimento generalizado da capacidade das mulheres para contribuírem de maneira muito significativa para a força de trabalho formal e muitos países têm focado em fechar a lacuna do gênero como uma forma eficaz de melhorar a sua economia nacional. A maneira mais rápida de aumentar a força de trabalho feminina é proporcionar horas de trabalho flexíveis, seja trabalhando à partir de diferentes locais ou em meio período. Os empregadores podem envolver indivíduos dinâmicos, como a minha colega de trabalho mencionada acima, no local de trabalho formal e se beneficiar de suas habilidades, bem como possibilitar que combinem outros interesses, como educar os filhos, cuidar dos pais, estudar ou realizar atividades de lazer. Alguns trabalhos nunca serão capazes de ser feitos remotamente, porém muitos podem. O maior incentivo para a produtividade é nos fazer sentir valorizadas. No difícil oceano das leis trabalhistas e de suas restrições, não devemos esquecer o desejo humano de levar uma vida significativa. Se a cultura é definida por aquilo que fazemos quando ninguém está olhando, então a supervisão e o monitoramento do desempenho não é tão importante como o estímulo e o respeito. PLANT PROJECT Nº 1

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Floresta de eucalipto em Três Lagoas Como a cidade do Mato Grosso do Sul se tornou a "capital mundial da celulose" e se prepara para manter o crescimento acelerado

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FRONTEIRAS

As regiões produtoras do mundo

foto: Fibria PLANT PROJECT Nº 1

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FRONTEIRAS

As regiĂľes produtoras do mundo

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O PAPEL DE TRÊS LAGOAS A "capital mundial da celulose" cresce à margem da crise, se prepara para concentrar mais de 40% da produção brasileira do setor e vive, há uma década, uma expansão em ritmo chinês Por Ariosto Mesquita, de Três Lagoas (MS)

foto: Kelsen Fernandes/Ag. IstoÉ PLANT PROJECT Nº 1

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Três Lagoas

"É

lindo!” A expressão, carregada de satisfação, cumplicidade e nostalgia, resume bem o sentimento da corretora de imóveis Ana Helena Matsumoto com relação ao crescimento de sua cidade, Três Lagoas (320 quilômetros a leste de Campo Grande). Pudera! Foi ela, no final dos anos 1980, a intermediária da venda da Fazenda Barra do Moeda. “Era uma propriedade de 2.800 hectares às margens do Rio Paraná, distante 25 quilômetros do centro”, lembra. Além do ótimo negócio (recebeu, como honorários, 1.080 hectares no vizinho município de Inocência), ela estava fazendo história. Foi essa negociação que sedimentou a base para um boom econômico sem precedentes que mudou a matriz produtiva local (até então, de economia eminentemente pecuária) e de todo o estado. O maior complexo de celulose do Brasil deve se tornar, em pouco mais de um ano, o número 1 do mundo. O pontapé inicial da implantação da Votorantim Celulose e Papel (VCP), na área da fazenda. Em 2009, com a fusão da VCP e da Aracruz, a empresa foi rebatizada de Fibria. Três anos depois, foi inaugurada a fábrica da Eldorado Brasil (criada pela J&F Investimentos S.A., mesma controladora da JBS). Hoje, as duas produzem, juntas, 3 milhões de toneladas por ano de celulose, o equivalente a 18% do total contabilizado no país em 2015. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, o Produto Interno Bruto (PIB) de Três Lago-

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as disparou entre 2010 e 2015, de R$ 3,9 bilhões para R$ 7,9 bilhões. E a projeção para 2016 é de R$ 8,7 bilhões. Antes mesmo da ativação da primeira unidade de produção, Três Lagoas já sentia os efeitos da enorme onda empreendedora. Para produzir celulose é necessário um maciço florestal de eucalipto plantado com antecipação mínima de sete anos (prazo médio para o corte da árvore). Ou seja, as empresas já estavam investindo na compra de terras ou em parcerias com produtores rurais. Tanto que, de 2002 a 2007, a cidade teve a maior valorização de terra no Brasil: 294%. Daí em diante, o município não parou de crescer, quase sempre na casa dos dois dígitos. Números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicam que Três Lagoas fechou 2015 como a primeira cidade de Mato Grosso do Sul em volume financeiro de exportação: US$ 1,15 bilhão, deixando Corumbá em segundo (US$ 549 milhões) e Campo Grande em terceiro (US$ 528 milhões). De janeiro a agosto de 2016, só a celulose produzida no município representou 21,68% das exportações do estado, perdendo apenas para o complexo soja (33,79%). Além das duas indústrias, a cidade abriga também uma fábrica de papel da International Paper (IP) com capacidade instalada de 236 mil toneladas anuais. “Com a IP temos um contrato de até 90 anos para fornecimento de celulose, entregando atualmente entre 15% e 20% de nossa


A atual sede da Eldorado Brasil, que prevê investir r$ 10 bilhões até 2020 em um novo bloco industrial

produção”, explica o diretor de operações da Fibria em Três Lagoas, Alexandre Figueiredo. AMPLIAÇÕES Os efeitos dessa transformação prometem ser duradouros. Uma segunda onda de crescimento bate agora à porta da cidade, que faz divisa com São Paulo e tem uma base logística invejável (rodovia duplicada até o Porto de Santos, hidrovia, ferrovia e aeroporto). Em 2015, a Fibria iniciou as obras de ampliação de seu parque industrial com o projeto Horizonte 2. São R$ 7,9 bilhões em investimentos (fábrica, floresta e logística) para a produção de mais 1,95 milhão de toneladas/ano de celulose a partir do final de 2017, ampliando a capacidade total da empresa em Três Lagoas para 3,25 milhões de toneladas/ano. Até lá, a Fibria estima em mais de 60 o número de empresas locais fornecedoras de serviços e equipamentos para a obra. “São itens como peças elétricas e material metal mecânico, de caldeiraria e solda”, exemplifica Figueiredo. Segundo o executivo, o projeto vai movimentar 40 mil pessoas em todo o Brasil, sendo apenas na construção civil e na montagem eletromecânica. “Somando as outras operações,

a Fibria será a maior produtora de celulose do mundo, com mais de 7 milhões de toneladas/ano.” A empresa conta com outras duas unidades – em Jacareí (SP) e Aracruz (ES) –, além de deter 50% da Veracel, no sul da Bahia. E a concorrência não está deixando por menos. Também em 2015, a Eldorado Brasil lançou a pedra fundamental da ampliação da fábrica de Três Lagoas. Os investimentos previstos são de R$ 10 bilhões até 2020, quando o novo bloco industrial terá condições de produzir até 2,3 milhões de toneladas/ano, elevando a capacidade do complexo para 4 milhões de toneladas/ano. Sendo assim, até o final da década a previsão é que as duas indústrias sejam conjuntamente responsáveis, anualmente, por 7,25 milhões de toneladas, o equivalente a 42% de toda a produção brasileira de celulose em 2015 (17,2 milhões de toneladas), o maior volume em uma só cidade no mundo.

“Os investimentos em cadeias produtivas e infraestrutura no município entre 2000 e 2018 devem somar R$ 42 bilhões, volume 62,4% maior do que o alocado na Copa do Mundo de 2014”, compara o secretário de Desenvolvimento Econômico de Três Lagoas, André Milton Denys Pereira. Considerando os dados de comercialização já levantados pela pasta, Eldorado Brasil e Fibria, juntas, foram responsáveis por 47,2% do PIB municipal em 2015. PREÇO ALTO A expansão dos negócios em tão curto espaço de tempo trouxe reflexos econômicos, sociais e urbanos. A corretora Ana Matsumoto lembra a avalanche de gente que invadiu a cidade em meados da década passada: “Não havia estrutura e, por volta de 2007, começaram a se instalar as primeiras empresas fornecedoras de serviço e material para as futuras indústrias de celulose. PLANT PROJECT Nº 1

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Três Lagoas

RAIO X

TRÊS LAGOAS EM NÚMEROS Campo Grande Três Lagoas

Dourados

População: 115 mil habitantes (estimativa IBGE 2016) PIB em 2015: R$ 7,9 BILHÕES Valor em exportação em 2015: US$ 1,15 BILHÃO Participação da celulose nas exportações entre janeiro e abril de 2016: 92,62%

Como chegar De avião: Aeroporto Municipal Plínio Alarcon (inaugurado em 2013): voos diretos e diários das companhias Azul e Passaredo ligando a cidade a Campinas e São Paulo. Telefone: (67) 3521-2558 De carro: BR-262 a partir de Campo Grande e SP-310 (Rodovia Marechal Rondon) a partir da Grande São Paulo.

INÍCIO DAS OPERAÇÕES

2012 Investimento de R$ 6,2 bilhões (primeira planta industrial, florestas de eucalipto e logística integrada)

2009 Investimento de R$ 1,5 bilhão (primeira planta industrial, florestas de eucalipto e logística integrada)

CAPACIDADE INSTALADA

1,7 milhão de toneladas/ano

1,3 milhão de toneladas/ano

EMPREGOS

5.000 empregos diretos e 25.000 indiretos

3.000 empregos diretos

INVESTIMENTO NA INDÚSTRIA E LOGÍSTICA

R$ 10 bilhões

R$ 7,9 bilhões

CAPACIDADE DE PRODUÇÃO

2,3 bilhões de toneladas/ano

1,95 bilhão de toneladas/ano

EMPREGOS

20.000 empregos diretos e indiretos

3.000 empregos diretos

EXCEDENTE DE ENERGIA

210 MWh – suficiente para abastecer uma cidade de 840 mil habitantes

130 MWh – suficiente para abastecer uma cidade de 520 mil habitantes

PRODUÇÃO PREVISTA

4 bilhões de toneladas/ano

3,25 bilhões de toneladas/ano

AMPLIAÇÃO

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Vista aérea da cidade mostrando as três lagoas e a fachada do Aeroporto Municipal Plínio Alarcon

Pessoas chegavam com tudo em cima do caminhão em busca de moradia. Filhos voltavam a morar com os pais para alugar suas residências aos forasteiros. Minha imobiliária era bem pequena, ficava numa esquina com pouco espaço. Cheguei a atender gente dentro do carro. Era uma coisa muito louca”. O número de moradoras saltou de 85.914, em 2007, para 115.561 pessoas em 2016 (crescimento de 36% em uma década). O lugar, até então pacato, penou com as limitações de fiscalização e policiamento. Ana relata: “No trânsito, começou a morrer gente. Todas as ruas eram de mão dupla e foi preciso um reordenamento para que as vias transversais às grandes avenidas passassem a ter fluxo de mão única. Ocorreram muitos assaltos e até sequestros. Tenho até hoje em minha mente o caso de uma funcionária da Caixa Econômica Federal levada da frente de um supermercado. Isso nunca havia acontecido por aqui”. Como corretora de imóveis, ela não teve do que reclamar. “Era possível alugar por mais de 2% do valor do imóvel, quando a média de mercado é de 0,5%. Hoje, o quadro está mais equilibrado, mas com a ampliação das

fábricas a demanda deve voltar a crescer”, prevê. ATENDIMENTO EM SEIS LÍNGUAS Na recepção do hotel, perguntamos sobre a proprietária, Sandra Maria Vieira Yamamoto Brito. Mais do que depressa, a moça responde: “Sou eu”. Ela não se vest e como tal. Parece tentar esconder, talvez estrategicamente, uma aguçada capacidade empreendedora e o tino empresarial. Mas a justificativa talvez seja a simplicidade e o fato de que está habituada a fazer de tudo um pouco no dia a dia. “Trabalhei de auxiliar de pedreiro para ajudar a construir isso aqui”, diz a filha adotiva de descendentes japoneses, referindo-se aos hotéis Tokyoin e Tokyoin Express, erguidos há menos de meia década, depois que ela voltou de uma temporada de 13 anos no Japão, onde trabalhou como operária e comerciante. Ao perceber a carência hoteleira da cidade em meio ao boom da celulose, não hesitou. Juntou as economias, uma herança do marido, a renda obtida na venda de algumas pequenas casas e recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) e comprou sete lotes conjugados, totalizando 1.500 m2. Investiu R$

1,2 milhão na primeira unidade e R$ 2,98 milhões no Express, que ainda funciona parcialmente, mas apresenta um novo conceito de hospedagem para a cidade. “Sabe aquela pessoa que está em viagem rápida de negócios e precisa tomar um banho e descansar apenas algumas horas? Aqui, é possível.” A localização (perto da BR-158, na saída para municípios do chamado Bolsão Sul-Mato-Grossense, como Selvíria, Aparecida do Taboado e Paranaíba), antes alvo de críticas pela distância em relação ao centro (3,5 quilômetros) e pela proximidade do chamado “baixo meretrício”, agora é vista como diferencial estratégico. Atualmente, é o hotel mais próximo do complexo industrial da Eldorado Brasil (40 quilômetros), do aeroporto (1,6 quilômetro) e praticamente encostado – 600 metros – no primeiro shopping (em construção). Também permite fácil acesso à área onde será implantado o Porto Seco (3 quilômetros) e é perto da estação rodoviária (1,6 quilômetro). As andanças de Sandra Brito e sua família pelo mundo (o filho estudou no exterior e a noiva dele nasceu na Letônia) também ajudaram na construção de um diferencial de comunicação dentro PLANT PROJECT Nº 1

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Três Lagoas

do hotel. “Todos hoje trabalham comigo e assim conseguimos atender em seis línguas: espanhol, português, inglês, russo, japonês e letão”, afirma, sem esconder o orgulho. Para fidelizar a clientela, ela ainda implantou um serviço gratuito de transfer hotel–aeroporto e hotel–rodoviária, além do aluguel de bicicletas, a R$ 2 por hora, para que os hóspedes possam pedalar nas ruas planas de Três Lagoas. Da barranca do Rio Paraná ao núcleo urbano, a altitude média varia apenas 60 metros. NOVIDADES PELA FRENTE A área plantada com eucalipto em Mato Grosso do Sul deu um salto vertiginoso em dez anos para atender à demanda das indústrias de celulose. De acordo com dados da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Florestas Plantadas (Reflore MS), passou de 119 mil hectares em 2006 para 830 mil hectares em julho de 2015, principalmente na região centro-leste do estado. Projeções otimistas indicam que as florestas de eucalipto podem chegar a 1 milhão de hectares ao fim de 2016. Em grande maioria, eram terras até então ocupadas pela bovinocultura extensiva de baixa tecnificação. 76

A corretora Ana Matsumoto, a hoteleira Sandra Yamamoto e Marco Garcia, presidente do Sindicato Rural: cidade se prepara para a segunda onda de crescimento

O presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, Marco Garcia de Souza, lembra que a Eldorado Brasil e Fibria consomem perto de 700 mil hectares de florestas. “O restante vai para outras empresas, como a Asperbras, fábrica de painéis de MDF (fibra de média densidade) em Água Clara, a 140 quilômetros de distância”, exemplifica ele. A empresa investe R$ 300 milhões na fábrica e R$ 75 milhões no cultivo de florestas para uma produção de 220 mil metros cúbicos por ano na primeira fase e até 460 mil em uma eventual segunda linha. Outra preocupação é dar canalização produtiva à enorme carga de resíduos florestais que ficam no campo após os cortes das árvores. “A Eldorado Brasil venceu o primeiro leilão público em abril deste ano e vai utilizar essa biomassa para produzir energia”, afirma Souza. Para tanto, terá de investir R$ 300 milhões no projeto da Usina Termoelétrica Onça Pintada, em Aparecida do Taboado (120 quilômetros de Três Lagoas). A unidade, com potência instalada de 50 MWh, usará como matéria-prima tocos, cavacos e raízes de eucalipto, com fornecimento ao sistema elétrico Nacional a partir de 2021.

MAIS CELULOSE E TECNOLOGIA O governo de Mato Grosso do Sul também acredita que o aparente excedente de cultivo indica que mais empresas iniciaram o plantio vislumbrando a possibilidade de implantação de outras plantas industriais de celulose. “Existem sondagens para novos empreendimentos no setor dentro do estado. Pelo menos três empresas estão plantando ou em vias de iniciar o cultivo de eucalipto: uma de origem chilena, uma portuguesa e outra com participação acionária ligada à Eldorado Brasil”, revela o secretário adjunto de Produção, Jerônimo Alves Chaves. Isso faz com que o governo estadual estude incentivar a formatação de um eventual polo tecnológico para a indústria de celulose. Além de atender à qualificação e requalificação de mão de obra, funcionaria, segundo Chaves, como um fomentador de inovações: “O setor de floresta é uma das seis cadeias produtivas do estado que já estuda a adoção sistemática de controle biológico na área de cultivo para viabilizar uma produção de menor custo e avançar em processo sustentável, reduzindo a aplicação de agroquímicos”.


Ovelhas da fazenda Achill, na Austrália Joint venture entre um produtor local e a gigante das roupas de luxo italiana Ermenegildo Zegna

W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

fotos: Divulgação PLANT PROJECT Nº 1

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W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

A LÃ MAIS FINA DO MUNDO Das fazendas de ovelhas da Austrália às lojas de Milão, a história de uma parceria de sucesso entre um produtor local e a grife Ermenegildo Zegna Por Alyx Gorman, de Sydney – Austrália

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foto: Divulgação PLANT PROJECT Nº 1

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aolo Zegna está caminhando pela grama alta, que cresce à beira de um pequeno rio, sombreado por salgueiros, quando Charles Coventry o chama. "Paolo, Paolo! Você talvez queira seguir por aqui.” E orienta o presidente da Ermenegildo Zegna, a marca de luxo italiana de moda masculina que vale 1,2 bilhão de euros, a andar por terrenos mais altos, com a grama mais baixa. "Fomos avisados que algumas serpentes foram vistas no mato no início do dia." Como boa parte das fazendas nessa região da Austrália, a que estamos visitando tem uma parcela de terreno acidentado e alguns animais peçonhentos. Batizada de Achill, a propriedade delimitada a leste pelo Rio Wollomombi tem 2.500 hectares a meia hora de Armidale, no estado de Nova Gales do Sul. Ela permaneceu na família de Coventry por quatro gerações, e seus parentes já criavam ovelhas duas gerações antes disso. Para Paolo Zegna, é tudo novidade. Desde 2014, a Ermenegildo Zegna detém uma participação de 60% da Achill. A empresa, que começou como uma fábrica de tecidos em 1910, tornou-se marca de prêt-à-porter na década de 1960 e varejista na década de 1980, está familiarizada com a integração vertical. Ainda assim, uma grande marca de luxo de Milão comprando uma fazenda na Austrália era, até então, algo inédito. O relacionamento desses italianos com

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a indústria de lã superfina da Austrália tem raízes profundas. Na noite anterior à visita à fazenda, Paolo apresentou, em Sydney, a 53ª premiação anual Lã Ermenegildo Zegna. Quando Ed Hundy, que participa do evento há mais de 30 anos, ganhou o Extrafine Wool Trophy [Troféu de Lã Extrafina], seus olhos se encheram de lágrimas. Por sua vez, Paolo Zegna tem visitado a Austrália desde que tinha 23 anos – primeiro, com o pai; e, depois, a trabalho e por amor. Sua companheira de longa data é a filha de um criador de ovelhas do estado da Tasmânia, e os dois vivem entre Melbourne e Milão. A Ermenegildo Zegna é uma empresa familiar que tem por tradição adicionar um elemento do ciclo de produção a cada nova geração. Por isso, considera a compra da fazenda o “fechamento de um círculo”. Nas terras da Achill nunca será produzida uma proporção significativa da lã usada pelas roupas da marca (atualmente, a fazenda é capaz de fornecer 25 toneladas por ano, e os negócios da Zegna exigem 500 toneladas). Na verdade, a ideia é ter uma fazenda-modelo, um espaço de pesquisa e desenvolvimento e de marketing capaz de ajudar em futuras tomadas de decisão. “Esta fazenda nos ajuda a contar o passo a passo de um lindo produto. Isto é o que as pessoas exigem hoje: conhecer todos os elementos da história", resume Zegna.


Luxo

Aos 43 anos, Coventry é bem mais jovem que a maioria dos fazendeiros condecorados com os prêmios de lã. Ele vivia em Sydney, com a mulher e os três filhos, e trabalhava em marketing para a GrainCorp quando foi consultado sobre a venda da propriedade. Ele conta que estava "procurando uma razão" para voltar a Armidale e, por isso, perguntou se a Zegna estaria interessada em um empreendimento conjunto. Para os Zegnas, que não têm nenhuma experiência em fazendas, foi a solução perfeita. "Não nos sentíamos suficientemente apresentáveis. Como uma fazenda, o padrão era bom, e estávamos orgulhosos dele, mas chegar ao padrão desejado é outra história”, lembra Coventry. Paolo Zegna destaca o fato de que outros produtores consultados, só queriam se livrar de suas terras. “Muitos diziam: 'Eu já fiz demais, preciso faturar, quero liquidez para meus filhos’. Uma das coisas que nos surpreendeu no Charlie foi que ele viu isso como uma oportunidade para se desenvolver. Por isso, ele é um exemplo para todos que acham que não há futuro na fazenda, que não há futuro para as novas gerações." Quando a Zegna adquiriu sua participação na Achill, a propriedade possuía 12.500 ovelhas. Devido a uma seca de três anos, esse número caiu para 11 mil. Lidar com as flutuações do mercado é uma coisa, mas lutar contra a natureza é outra completamente diferente. "Ainda começando a aprender”, garante Zegna. "En-

frentar essa seca está me ensinando a reagir diante de uma situação inteiramente nova.” Por causa da longa estiagem, vários planos foram suspensos. Um deles é a atualização nas instalações de corte e preparação da lã da fazenda. A construção original, de 1880, terá um acréscimo projetado por Peter Stutchbury, vencedor da medalha de ouro da Australian Institute of Architects. Agora, porém, a prioridade é garantir que o rebanho esteja bem alimentado e hidratado. O investimento da Zegna permitiu à Achill mudar os padrões de pastoreio de seu rebanho cavando calhas e colocando cercas elétricas flexíveis, alimentadas com energia solar, que utilizam a tecnologia de fibra de vidro. Essas mudanças ocorreram mais rapidamente do que teria sido possível de outra forma. “Quando você é um produtor isolado, se estiver com muita restrição de capital ao final de uma grande seca, certamente terá de comprometer suas decisões", diz Coventry, que comemora o fato de ter um colchão mais grosso para evitar que o efeito atrasado dos anos ruins torne mais difícil o ato de ganhar dinheiro nos anos bons. Coventry vê sua joint venture, e o crescente interesse pelas histórias sobre a origem de produtos e matérias-primas, como um sinal de otimismo para a agricultura australiana. "É a combinação de mentes mais jovens e mais velhas que realmente faz avançar nossos negócios. Muitos jovens deixam o campo,

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mas isso não significa que eles vão partir para sempre. Alguns voltarão. E isso é saudável, pois eles trarão novas experiências.” A Ermenegildo Zegna também batalha para segurar os funcionários talentosos. “À medida que eles crescem, ninguém garante que vão querer seguir na empresa.” Manter laços históricos, valorizar a experiência de gerações, de um lado; e buscar a inovação, de outro, são características que tornam o luxuoso mercado de moda italiano e a agricultura australiana mais semelhantes do que pode parecer à primeira vista. Publicado originalmente no The Saturday Paper, de Sydney

Paolo Zegna (de paletó marrom, no centro), participa de leilão de lã na Austrália. A relação da família com o país que fornece a melhor matéria prima fica registrada nos tecidos da marca

fotos: Divulgação PLANT PROJECT Nº 1

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SOB O SOL DA PROVENCE Uma visita a oito vinícolas do sul da França, de onde saem as melhores e mais famosas safras de rosé do planeta Por Simone Amorim (texto e fotos), da Provence – França

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á aproximadamente 2 mil anos, quando o Império Romano chegou ao sul da França (região que na época tinha o nome latino de Provinciae e hoje é conhecida como Provence), o regime dos Césares descobriu que as tribos locais produziam vinho desde seis séculos antes, graças aos ensinamentos de colonizadores gregos que desembarcaram na cidade portuária de Marselha. Parece uma das histórias do personagem Astérix, herói dos quadrinhos que não se cansa de enaltecer as glórias da Gallia (como o país foi batizado pelos romanos). Mas é a pura verdade. Como mostra o painel na entrada da vinícola Domaines Ott, faz 2.600 anos que esses irredutíveis gauleses fermentam uvas e engarrafam uma das bebidas mais apreciadas em todo o mundo. No último verão europeu, PLANT esteve em oito châteaux e domaines da Provence para revelar alguns segredos desses famosos rosés. A França é um dos maiores produtores de vinho e sempre se destacou por seus champanhes, bordeaux e borgonhas, entre

muitas “marcas" bastante reconhecidas. Após a década de 1970, com o boom turístico da Riviera (Saint-Tropez, Cannes, Nice), os rosés voltaram à cena. E, desde então, eles vêm conquistando cada vez mais mercado. Em 2005, as 582 vinícolas da Provence (das quais, 61 cooperativas) exportaram 8 milhões de garrafas – número que saltou para 31 milhões no ano passado. Outros 143 milhões de unidades são vendidas e bebidas em território francês (em 1990, os rosés representavam 10% do consumo no país e, hoje, somam 31% – quase um terço). Por ano, 8,1 milhões de hectolitros são produzidos nos pouco mais de 200 quilômetros que separam o Mar Mediterrâneo dos Alpes (o equivalente a 36% do total mundial). Em 2015, o preço médio da garrafa para os distribuidores ficou em € 4,20 (ante € 1,98 dez anos antes). O turismo tem papel significativo nesse contexto: estudo da Wine Intelligence aponta que 84% das pessoas que visitam as caves levam vinhos para casa. No ano passado, 30 milhões de garrafas foram

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DOMAINE TROPEZ A 10 quilômetros do centro de Saint-Tropez, foi fundada em 1996, tem 40 hectares, aposta na agricultura orgânica e 90% de sua produção é de vinhos rosé. Faz a famosa ICE Tropez, bebida frutada com sabor de pêssego. Ganhou vários prêmios em competições vinícolas.

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1 3 e 4 - CHÂTEAU BARBEYROLLES Tem apenas 12 hectares. O solo é bem antigo e a dona cuida de tudo fiel à tradição. Cavalos são usados para arar a terra e toda a colheita é manual. Produz um único rosé, o Pétale de Rose, obtido por uma prensagem especial de fluxo por gravidade, que garante a cor muito pálida.

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6 5 e 6 - DOMAINE LA ROUILLÈRE A vinícola, montada em 1900, foi totalmente remodelada em 1998. Tem 45 hectares e mais de 50 tanques de aço que resfriam as uvas para a vinificação. De olho numa nova tendência, passou a fazer um espumante rosé. Além de um estacionamento para os visitantes, dispõe de um heliponto.

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1 e 2 - CHÂTEAU MINUTY Nas mãos da mesma família desde 1936, esse château de 75 hectares sempre prezou pelo respeito às variedades locais. Tem um sistema capaz de controlar a temperatura e a fermentação de 4 mil hectolitros de vinho e uma sala de degustação com vista para os barris de armazenamento.

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comercializadas diretamente ao consumidor final, o que equivale a 17% das vendas. São três as sub-regiões que garantem o direito de usar a expressão Appellation d’Origine Contrôlée e a sigla A.O.C: Côtes de Provence (73,5% do total), Coteauxd’Aix-en-Provence (16,5%) e Coteaux-varois-en-Provence (10%). Como todos os grandes vinhos, o sucesso dos rosés provençais depende de três fatores: o solo, o clima e as habilidades dos vinicultores. No caso do solo, há quatro formações geológicas principais: os contrafortes de arenito argilosos de Sainte-Victoire, o planalto de calcário de Haut-Var, o bloco arenoso ao redor do Massif des Maures e a área de granito ao longo da costa. O clima favorece a vinificação por cinco motivos

bem conhecidos: os invernos são suaves (para os padrões europeus, é claro), a variação de temperatura entre o dia e a noite é grande, chove pouco (em geral, nos meses de primavera e outono), a média de sol chega a 3 mil horas por ano e o mistral (vento que sopra do continente para o Mediterrâneo) reduz a umidade dos parreirais e, com isso, mantém os cachos saudáveis com um mínimo de tratamentos químicos. Por fim, as habilidades dos produtores vêm sendo aprimoradas há mais de dois milênios. Nos châteaux tradicionais, os ramos são limpos manualmente, a coleta (também manual) é feita sempre nas horas mais frescas do dia e a prensa e a maceração merecem controle total de temperatura. As uvas usadas nos rosés da Provence


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9 9 e 10 - CHÂTEAU DES DEMOISELLES Na propriedade de 300 hectares, 72 são reservados aos vinhedos. Há também colinas e planícies, um prédio histórico que pertenceu à família Grimaldi (de Mônaco) e um relais, para hospedar visitantes. Oferece dois rótulos: Château des Demoiselles (mais fino) e Demoiselles de Charme.

são das variedades grenache (garante corpo e amplitude à bebida), cinsault (leveza), carignan (acidez) e mourvèdre (aroma). Elas servem de base para tintos, mas, neste caso, são misturadas em diferentes porcentagens e composições. Após a trituração, o suco (incolor) e as cascas (que contêm pigmentos naturais concentrados) não podem ficar muito tempo em contato. É essa delicada fase que define a intensidade e o brilho da cor (do rosa pálido ao rosa claro), o sabor frutado e os aromas florais e de especiarias e ervas que caracterizam esses grandes vinhos (leia sobre cada uma das vinícolas visitadas na reportagem nas legendas que acompanham as fotos). Com teor alcoólico que oscila de 13 a 16 graus, eles

7 e 8 - CHÂTEAU D’ESCLANS O château original é fechado para visitantes. O ponto de degustação é uma sala moderna coberta de fotos e reportagens. Tem blends específicos para o mercado americano (em geral, mais doces), mas também algumas versões tipicamente provençais. As vinhas têm 80 anos.

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devem ser degustados jovens, a temperatura entre 8 e 12 graus, para acentuar sua acidez e vivacidade. E, como uma boa taça pede uma boa comida, a harmonização se faz com pratos típicos da região: bouillabaisse e bourride (sopas de peixes e frutos do mar), aïoli (maionese à base de alho e azeite de oliva), carré de cordeiro, vitela assada, camarões grelhados e foie gras. Além disso, graças à mescla do componente ácido dos brancos com os aromas e taninos dos tintos, os melhores exemplares engarrafados na Provence são conhecidos por combinar com ingredientes que, normalmente, "não se casam com o vinho”: alcachofras, azeitonas, sardinhas, espinafre e entradas com sabores picantes. Saúde!

11 e 12 - CLOS DE MIREILLE Fundada em 1934, é uma das mais famosas da região. Faz parte da Domaines Ott, que tem outras duas vinícolas: Château de Selle e Château Romassan. No total, cerca de 200 hectares onde são produzidos vinhos adequados conforme cada terreno (e com garrafas próprias e diferentes entre si).

Provence PARIS

Rhone-Alpes ITALIA

LanguedocRoussillon

Provence-Alpes Cote d-Azurre MONACO

MAR MEDITERRÂNEO

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W Gastronomia

VIVA O PORCO VIVA O

PORCO

Com uma visão moderna da tradicional cozinha caipira, o chef Jefferson Rueda dá um novo status para a carne suína e coloca seu restaurante de São Paulo entre 50 melhores da América Latina Com uma visão da tradicional Por gabriel pillarmoderna grossi

cozinha caipira, o chef Jefferson Rueda dá um novo status para a carne suína e coloca seu restaurante de São Paulo entre 50 melhores da América Latina Por gabriel pillar grossi

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ada prato exige, além de um preparo específico, matérias-primas selecionadas. Os embutidos são feitos com a carne de porcos caipiras. Já o lardo (a capa de gordura sob a pele) é melhor nos animais da raça Nilo. No cardápio, tem também tartar de lombo (maturado em câmara fria por dez dias), sushi de papada, torresmo de pancetta com goiabada, ceviche de pé, costelinha e muito mais. A inspiração veio há mais de cinco anos, quando o chef Jefferson Rueda (natural de São José do Rio Pardo, quase na divisa de São Paulo com Minas Gerais) resolveu “aperfeiçoar” a receita do tradicional Porco à Paraguaia. “Na minha região, todo mundo conhece, é preparado desde a Guerra do Paraguai (1864-1870). Eu comecei a pesquisar para melhorar a receita e, como teste, passei a servir em eventos de rua. Numa Virada Cultural, em São Paulo, vendi nove porcos inteiros para mais de 4 mil pessoas.” Na sua versão, o animal é marinado (em vez de ter o tempero “injetado”), assado inteiro em churrasqueira de carvão e servido desossado. Num evento só com grandes chefs de todo o

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mundo, o catalão Adrian Ferrà (para muitos, ainda o número 1 do planeta) sentenciou: “Vocês sabem que sou espanhol e da terra do porco, mas hoje comi o melhor porco da minha vida.” Rueda conta que esse foi “o empurrão de que eu precisava” para seguir em frente com o projeto. E assim nasceu a Casa do Porco Bar, no centro da capital paulista. Oferece uma cozinha de alto padrão, mas sem toalhas nas mesas. E, numa pequena vitrine, vende sanduíches e outras comidas para comer em pé ou levar para casa. Inaugurado em


foto: Fernando Moraes/Abril Comunicações S/A

outubro de 2015, apenas onze meses depois, o 24º melhor restaurante da América Latina pela revista britânica Restaurant, melhor desempenho entre os estreantes na lista. “Foi uma ótima surpresa voltar a fazer parte da lista, ainda mais com um bar que só vende carne de porco”, diz ele, que já havia comadado a cozinha em dois outros endereços paulistanos, o Pomodori e o Attimo (onde preparava croquetes com miolo de boi). Antes de ser chef, Rueda foi açougueiro. Foi quando adquiriu a habilidade que se traduz

nos cortes especiais e nos embutidos, que são vendidos num pequeno mercado dentro do bar – e onde é possível encontrar também pães e farinhas. E entendeu o valor de ser rigoroso com a procedência das carnes com que trabalha. A Casa do Porco tem cinco fornecedores, que mantêm uma relação bastante próxima com o chef. Criados soltos, os bichos engordam até os 100 quilos antes de ser abatidos. “Conheço os criadores e os donos dos frigoríficos e estamos sempre trocando ideias sobre formas de melhorar

foto: Fernando Moraes/Abril Comunicações S.A. PLANT PROJECT Nº 1

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Sushi de papada e torresmo de pancetta com goiabada: Casa do Porco tem cardápio original desenvolvido a partir de receitas tradicionais

a produção, com foco especial na alimentação dos animais, que influencia diretamente a qualidade da carne e da gordura”, explica. Jefferson é uma espécie de embaixador da carne suína, mas reconhece que ainda vários preconceitos contra o porco no Brasil. “O principal deles é que faz mal para a saúde”. Sabe também que desempenha papel importante para mudar essa situação. “No passado, havia casos de cisticercose, doença que o animal transmitia por se alimentar de lixo. Hoje, se tem o selo da vigilância sanitária, significa que foi abatido em frigorífico e esse risco não existe”. De fato, o País é o quarto maior produtor de suínos do mundo e caminha para ocupar a terceira posição nesse ranking. O próprio chef conta que, em suas pesquisas antes de abrir o bar/ restaurante, descobriu quase vinte raças, com diferenças importantes entre elas. “Uma das partes mais importantes do meu trabalho é combater 88

os mitos e mostrar que todos podem comer sem medo”, afirma. Segundo ele, médicos, nutricionistas e até professores também deveriam se engajar nessa mudança de cultura. É visível a paixão de Rueda pelo que faz. “Para respeitar o animal, temos de comê-lo inteiro. Quem só quer comer filé mignon faz o que com o resto do boi? Devolve para o pasto? ” Por isso, não se cansa de dizer que aproveita tudo, “do focinho ao rabo”. Críticos

e clientes aprovaram essa filosofia. Apesar de instalado em uma região degradada do centro de São Paulo, a Casa do Porco, que tem capacidade para apenas 53 pessoas e serve cerca de 60 animais por mês, está permanentemente lotado, com filas de espera na porta. “É o lugar em que mais me realizei profissionalmente”, garante Rueda. Tudo graças a esse simpático animal, que devido ao sucesso do chef, ganhou novo status à mesa.


Retrato

OS CHIFRES EM LIRA

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Foto de Zezinho Peres na Fazenda Morumbi, em Luziânia-GO Para conhecer a história por trás da foto, acesse www.plantproject.com.br

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Obras de Frans Krajcberg, no museu ao ar livre no Sítio Natura, no Sul da Bahia Aos 95 anos, ele é homenageado na Bienal de São Paulo

Ar ARTE

Um campo para o melhor da cultura

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Ar A RTE

Um campo para o melhor da cultura

UM REBELDE CHAMADO FRANS KRAJCBERG Homenageado na Bienal de São Paulo, o artista mantém, aos 95 anos, o vigor do ativismo ambiental em suas obras, que dão novo significado a troncos calcinados pelo desmatamento ilegal Por Ana Weiss

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ovoada por artistas na maioria jovens, politizados, criadores pertencentes a uma geração que vive em rede e acompanha tudo o que acontece no mundo em tempo real, a Bienal de São Paulo deste ano tem como atração central trabalhos de um senhor de 95 anos, que não gosta de ser fotografado e vive em isolamento quase total em uma casa na árvore erguida a quase dez metros do solo no litoral Sul da Bahia. Frans Krajcberg assina as obras que abrem a 32ª edição do evento, o segundo maior

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acontecimento de arte contemporânea do mundo, com uma proposta muito anterior a conceitos como sustentabilidade. Mas que é pioneira e fundamental para entender o uso da natureza como matéria, linguagem e como plataforma de denúncia dos maus tratos ao planeta, hoje tão em voga em grandes mostras e galerias – e tão relevante nas discussões do agronegócio moderno. Judeu, Frans Krajcberg chegou no Brasil com 27 anos, logo depois de perder toda a família para a Segunda Guerra


Krajcberg em seu sítio em Nova Viçosa, na Bahia: “Esse tronco queimado sou eu”

Mundial. Não é difícil associar suas mais famosas esculturas, feitas de troncos calcinados, com o método mais conhecido de extermínio do Holocausto, a incineração de prisioneiros. Ele lembra que, certa vez, em um campo de concentração na Hungria, se aproximou de uma imensa pilha de lixo monocromática para descobrir do que se tratava. Eram corpos humanos, queimados. “Quando cheguei ao Brasil descobri uma natureza que sorria para mim sem perguntar de onde eu era”, contou ele, polonês de nascimento

mas brasileiro por opção, quando recebeu o prêmio Multicultural Estadão, em 1998 – apenas um dos muitos que recebeu mundo afora. A população do Pico de Cata Branca, em Minas Gerais, seu primeiro endereço no País, conta que durante o tempo em que viveu e trabalhou dentro de uma caverna da região, o artista fugia das pessoas, “como um animal machucado”. Nessa época, ele abandonou a pintura abstrata para se dedicar a esculpir pedras. Nos anos 1970, a convite do arquiteto PLANT PROJECT Nº 1

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Mais de mil peças, entre esculturas monumentais, quadros e fotografias, compõem o museu que funciona em seu sítio

José Zanine Caldas, mudou-se para Nova Viçosa, na Bahia. O plano dessa geração que adotava as praias de reprodução das baleias Jubarte era estabelecer uma capital cultural em um espaço de natureza intocada. A região nunca se tornou um pólo intelectual, como queriam artistas como Chico Buarque de Holanda e Dorival Caymmi. Mas Zanine – que foi outro mestre na lida com a madeira – construiu ali, sobre um pequizeiro com quase três metros de diâmetro, a casa elevada de onde Krajcberg desce todos os dias, desde então, logo que o sol nasce, com o inseparável boné lhe cobrindo a cabeça, para fotografar a vegetação local e trabalhar nos troncos 94

queimados, atualmente presentes em importantes coleções de arte do mundo. O artista tem hoje centros culturais dedicados ao seu trabalho, como o Espace Krajcberg, em Paris, apoiado pelos franceses Fundo Cultural do Ermitage e Fundação Yves Rocher. Mas reservou para o grande espaço que ocupa agora no Pavilhão de Oscar Ninemeyer, na Bienal, a primeira aparição de sua série mais recente, um conjunto de cerca de 80 peças em madeira. Montadas como uma floresta de hastes verticais, as esculturas contracenam com a vegetação do Parque do Ibirapuera, da qual se separa por uma grande janela de vidro. A série foi apelidada Coqueiros por

seu criador, que acompanhou cada detalhe da montagem em uma rara saída do sítio baiano erguido entre o mangue e o mar. “Krajcberg é um nome incontornável quando se trata da questão ambiental na arte”, diz Julia Rebouças, uma das curadoras desta edição do evento, que tem como tema o slogan “Incerteza Viva” e fica em cartaz até o dia 11 de dezembro, na capital paulista. “Mas o destaque de sua presença se fez necessário por razões anteriores. Ele é parte da pesquisa conceitual para a curadoria da exposição. Seu trabalho é único e conjuga matéria prima, atitude política e motivação espiritual. Essa coerência entre vida e obra está na base e é a busca de muitos outros trabalhos que vieram depois dele”, diz Julia. Além de Coqueiros, A Bienal exibe ainda Bailarinas e Gordinhos (Krajcberg não dá nomes para suas obras, mas apelidos), dois conjuntos mais antigos do escultor. “A energia e a assertividade dele na montagem de suas obras é algo bem impressionante”, conta a curadora. Um fato curioso é que um dos primeiros trabalhos remunerados do imigrante no Bra-


Exposição

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A série “Coqueiros” (abaixo), no pavilhão da Bienal: grito em defesa da natureza

sil foi como montador da Bienal, nos anos 1950. Um de seus grandes amigos, Walter Moreira Salles filmou em 1987 o documentário Krajcberg, o Poeta dos Vestígios, premiado e visto dentro e fora do Brasil. No filme, o cotidiano em Nova Viçosa, o grande conhecimento do local e a lida com os 12 ajudantes que hoje mantém em seu ateliê a céu aberto mostram um profissional obstinado e profundamente consciente de seu papel no planeta. “Um rebelde inclusive contra a própria dor”, disse à época o cineasta. O nonagenário

já deu muita dor de cabeça para as indústrias madeireira e de mineração. A denúncia feita pelas suas obras confeccionadas a partir de espécies derrubadas ou queimadas ilegalmente como o cedro é apenas parte de seu ativismo. Em Minas Gerais, denunciou os abusos das mineradoras para organismos internacionais. No Mato Grosso, na Amazônia e na Bahia investigou por conta própria desmatamentos e algumas vezes chegou a impedir derrubadas se colocando em frente a tratores e batendo boca com madeireiros.

A vinda rápida para São Paulo teve uma razão maior que o acompanhamento da montagem de suas séries. Durante a sua estadia, o artista deixou para a reunião de mais de 300 artistas e curadores do mundo inteiro e para todos aqueles que passarem pelo Pavilhão da Bienal, um vídeo com seu grito de urgência na mudança da atitude em relação à natureza. Para Krajceberg, as agressões ao ambiente natural não diferem da violência contra a vida humana. “Esse tronco queimado sou eu”, costuma repetir.

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Imagem aérea feita pela Nasa de lavoura no Kansas Tecnologia hoje permite que propriedades de diferentes portes tenham acesso a sofisticados sistemas de monitoramento por satélites

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As inovações para o futuro da produção

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STARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

O campo visto de cima Mapa de potencial de produtividade gerado por tecnologia desenvolvida pela startup paulista Agronow 98


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AGTECH, A NOVA FRONTEIRA DO AGRONEGÓCIO O que explica o boom de investimentos em startups de tecnologia para a agricultura e o que o Brasil deve fazer para liderar a revolução digital no campo Por Clayton Melo. Fotos: Karime Xavier

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surgimento do Netscape é um marco na história da internet comercial no mundo. Lançado em 1994, o navegador desenvolvido por Jim Clark e Marc Andreessen no Vale do Silício, na Califórnia, foi o primeiro a ser liberado ao público em geral. Com sua chegada, deflagrou-se uma guerra nesse setor, o que criou as condições para a popularização da rede. O mercado de tecnologia no agronegócio, conhecido como AgTech, também tem o seu “momento Netscape”, como disse certa vez o site americano TechCrunch. Trata-se da compra da Climate Corporation pela Monsanto. Há três anos, a multinacional do agronegócio pagou US$ 930 milhões pela aquisição da startup americana. Fundada em 2006 por ex-funcionários do Google, a Climate trabalha com tecnologias que coletam e analisam uma série de informações na lavoura, em tempo real, formando um banco de dados de fácil acesso por parte dos agricultores. Para a Monsan-

to, o negócio representou a entrada na chamada agricultura digital, que utiliza algoritmos e Big Data no campo com o objetivo de aumentar a produtividade na lavoura. Até essa transação, o mercado de AgTech se desenvolvia de forma gradual. Depois dela, no entanto, deslanchou feito foguete. Um relatório da AgFunder, plataforma americana online de investimento no setor, mostra que o faturamento desse mercado saltou de US$ 2 bilhões, em 2014, para US$ 4,6 bilhões em 2015. Os recursos se espalharam por negócios como robótica, biotecnologia, softwares e sistema de monitoramento de desempenho de lavouras, entre outras áreas. Com a tecnologia digital, o campo passou a ser visto de cima, por satélites, e monitorado de longe por aplicativos para smartphone. Essa visão de futuro, que transforma talhões em coloridas figuras geométricas nas telas de computadores, tablets e celulares, PLANT PROJECT Nº 1

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Reportagem de capa

começa a mudar rapidamente também a produção agropecuária no Brasil. A questão que se impõe é se o País que é líder na produção de uma variedade de grãos e de proteína animal terá condições também de estar na ponta dessa corrida tecnológica e começar a exportar também a mais valiosa das mercadorias: o conhecimento. Por aqui, ainda estamos longe de uma aquisição bilionária que funcione como um divisor de águas, mas uma série de fatores demonstra que o Brasil vive o nascimento de um pro-

missor ecossistema AgTech. A agricultura no País tem histórico de inovação em genética para sementes e no uso da tecnologia para melhorar a eficiência nas grandes propriedades. O dado novo é que tecnologia digital agora chega com força aos pequenos e médios produtores por meio de aplicativos de gestão, produtividade, monitoramento, rastreamento e análise de dados em tempo real da situação nas lavouras. O que tem propiciado o boom de startups AgTech no Brasil? E o que é preciso fazer para que esse

ecossistema se fortaleça e o País se torne um protagonista global no setor? Para encontrar as respostas, o primeiro passo é analisar o que move os principais competidores. “Acreditamos que a colaboração seja uma ferramenta fundamental para que o mundo consiga alimentar 9,7 bilhões de pessoas em 2050, e este é um passo nessa direção”, disse Rodrigo Santos, presidente da Monsanto para a América do Sul, durante o Global Agribusiness Forum (GAF), em julho passado. O passo a que se

CAÇAD O R D E I NOVAÇÕ E S Almir Araújo Silva Gerente de marketing digital da Basf para a América Latina Executivo com formação em marketing digital e negócios, Almir Araújo Silva é um dos responsáveis pelo desenvolvimento do programa de aceleração de startups do agronegócio liderado pela Basf. Para a companhia, aproximar-se de novas empresas permite identificar soluções inovadoras que possam ser aplicadas na agricultura. AC EL E RA D O R Pedro Waengertner CEO da ACE Startups Empreendedor com bagagem em marketing e vendas, é cofundador e CEO da ACE, aceleradora de startups de base tecnológica fundada em 2012, em São Paulo. A entrada da companhia no agronegócio se deu em agosto deste ano, com a criação do AgroStart, um programa de aceleração de empresas AgTech desenvolvido em parceria com a Basf. 100


I N FLU E N C I A DO R Mateus Mondin Presidente do Conselho Deliberativoda EsalqTec Na incubadora da Esalq, Mateus Mondin acompanha de perto o ecossistema de inovação AgTech. Essa experiência o levou – junto com Sergio Barbosa, gerente-executivo da incubadora, e o empresário José Augusto Tomé, do coworking CanaTec – a idealizar a campanha AgTech Valley. O objetivo da iniciativa é fortalecer a identificação da sociedade local com o ecossistema tecnológico da cidade.

refere Santos foi a entrada da companhia na Brasil Aceleradora de Startups (BR Startups), um fundo idealizado pela Microsoft. Com o aporte da Monsanto, o BR Startups começou a investir em novas empresas tecnológicas da agricultura. As rodadas de investimentos variam de R$ 250 mil a R$ 1,5 milhão por startup. O fundo tem um total de R$ 200 milhões captados para aportar em projetos promissores. O apoio a startups no Brasil reflete a estratégia mundial da Monsanto rumo à agricultura digital. Paralelamente ao anúncio da parceria com a Microsoft, feito no GAF, a companhia realizava o pré-lançamento do primeiro produto da Climate no Brasil, o FieldView Plus. A ideia é que a solução seja utilizada por cerca de 100 produtores brasileiros de soja e milho na safra atual – o lançamento está previsto para daqui a dois anos. “O Brasil é um dos primeiros

países onde demos esse passo, depois dos EUA”, afirma Mateus Barros, líder comercial da Climate para a América do Sul. Não é um caso isolado na opção de privilegiar o País como base de lançamento de suas iniciativas AgTech. Uma de suas principais concorrentes, a Basf seguiu no mesmo caminho e lançou em agosto o AgroStart, um programa de aceleração de startups agro desenvolvido em parceria com a aceleradora ACE. A iniciativa vai selecionar empresas que desenvolveram soluções inovadoras em áreas como qualidade de vida no campo, automatização, gestão da lavoura e tomada de decisão. E que utilizem recursos como Internet das Coisas, Big Data e mobilidade. “A Basf sempre fez muita inovação na agricultura. E agora também busca inovar na área de digitalização do campo”, afirma Almir Araújo Silva, gerente de marketing digital da Basf para a América

Latina. Na visão de Pedro Waengertner, CEO da ACE, não há um país que possa, hoje, se dizer o líder absoluto no mercado mundial de AgTech. O Brasil tem assim um imenso campo de oportunidades, principalmente pela vocação do País para a agricultura. “Não há desculpa para o Brasil não ser algo extremamente relevante no cenário mundial de AgTech”, diz. Francisco Jardim, sócio da gestora SP Ventures, que investe em novas empresas do agronegócio no Brasil, avalia que as startups serão fundamentais para colocar o Brasil em destaque nessa nova etapa do agronegócio. Isso porque o DNA de tecnologia e a agilidade desse tipo de empresa são atributos importantes na modernização da agricultura. “O setor exige novas tecnologias e inovações de ruptura para atender às demandas globais por alimentos em razão do crescimento populacional”, afirma. PLANT PROJECT Nº 1

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CON EC TO R Maikon Schiessl Diretor do Comitê AgTech da ABStartups É um dos fundadores do recém-criado Comitê AgTech da Associação Brasileira de Startups, núcleo formado em razão do aumento do número de novas empresas de tecnologia para o agronegócio. O objetivo da associação é auxiliar as startups AgTech, contribuindo com intercâmbio e networking.

POLO DE STARTUPS O estado de São Paulo tem se mostrado um solo fértil para o florescimento das AgTechs. A cidade de Piracicaba é um bom exemplo disso. Ela própria é um polo de tecnologia no agronegócio. Isso tem a ver diretamente com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), principal centro de pesquisas agronômicas do País, cercado de lavouras muito produtivas e de um eficiente polo industrial. Em essência, esse cenário guarda semelhanças com as bases que geraram o Vale do Silício, o principal polo de inovação do mundo, na Califórnia, que tem na Universidade Stanford seu grande centro gravitacional. Esse contexto motivou três profissionais de Piracicaba a lançar neste ano uma campanha, a AgTech Valley. O maior objetivo da iniciativa é fortalecer a identificação da sociedade local com o ecossistema tecnológico da cidade e, assim, 102

estimular o desenvolvimento da região. Os idealizadores são Sergio Barbosa, gerente executivo da incubadora EsalqTec, o empresário José Augusto Tomé, do coworking CanaTec, e o professor Mateus Mondin, presidente do Conselho Deliberativo da EsalqTec. “O AgTech Valley é uma iniciativa que organiza o sistema de inovação tecnológica de Piracicaba, que é sem dúvida nenhuma o Vale do Silício na agricultura”, diz Mondin. Ao redor da Esalq, conta, formou-se um ecossistema com mais de 80 empreendimentos de inovação tecnológica. Muitas startups de Piracicaba foram ou são apoiadas pela incubadora da universidade. A EsalqTec, que completa dez anos em 2016, tem atualmente cerca de 60 projetos incubados. A questão de investimento em AgTech é um gargalo que precisa ser resolvido no País, na opinião de Sergio Barbosa. O gerente executivo da EsalqTec observa que o setor conta com programas de fomento público

importantes, como o Pipe, da Fapesp, que auxiliam na fase inicial de uma startup agro. A questão é que os fundos de investimento privilegiam empresas em estágios mais avançados. “Os fundos deveriam assumir mais riscos tecnológicos, assim como acontece nos EUA e Europa”, afirma Barbosa. As startups que trabalham com inovação que requer muitos investimentos em pesquisa, como biotecnologia, são as mais afetadas. “Precisamos que o setor de venture capital aposte nas garagens do agro.” A Biopolix Materiais Tecnológicos enfrenta esse tipo de dificuldade. Fundada pela PhD Claire Tondo e por sua filha, Luisa Vendrusculo, a empresa é voltada para a pesquisa e produção de biopellets de fontes renováveis para a fabricação de plásticos biodegradáveis. A empresa está abrigada na incubadora Supera Parque de Inovação e Tecnologia, em Ribeirão Preto, e trabalha numa tecnologia desenvolvida por Claire,


Exposição

que é química industrial. Neste momento, as empreendedoras tentam obter financiamento da Fapesp, no valor de R$ 1 milhão. “Conseguir esse investimento vai ser importante não só pelo recurso em si, mas também para facilitar a conquista de verba com algum fundo maior”, diz Claire. Alexandre Alves, sócio da gestora de fundos de investimento Inseed, de Belo Horizonte, é um dos investidores que apostam em inovação no agronegócio. A Inseed é a responsável pelos fundos Criatec 1 e 3 e a FIMA, voltado ao meio ambiente. O radar de Alves procura startups com soluções de alto potencial de crescimento, que não sejam facilmente copiadas por concorrentes. Assim, investe em empresas de áreas como biotecnologia e agentes biológicos, por exemplo.

“O ecossistema brasileiro já é abundante e possui mecanismos de financiamento“, afirma. “O desafio é atuar na formação do empreendedor.“ Segundo ele, ainda é difícil encontrar líderes de startups de agro que aliem boa formação técnica e de gestão e administração. CULTURA EMPREENDEDORA O desenvolvimento de uma cultura empreendedora, como um fenômeno social, é recente no Brasil, o que explica em parte a dificuldade observada por Alves. Até mesmo empresários do segmento reconhecem esse desafio. “Noto que, de forma geral, os empreendedores estão um passo atrás nesse processo de evolução do AgTech no Brasil”, afirma Antonio Morelli, fundador da Agronow, uma das

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startups mais promissoras do agronegócio no Brasil e investida da SP Ventures. A empresa desenvolveu um software de produtividade agrícola que afere, em tempo real, a produção passada e futura das propriedades. “Participei recentemente de um evento com 45 AgTechs. Percebo que muitos fundadores ainda precisam amadurecer como empreendedores“, diz. Contribuir para o aperfeiçoamento dos fundadores é um dos objetivos do recém-criado Comitê AgTech da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). O núcleo agro da associação vai auxiliar os empreendedores com encontros, workshops, debates, informação e troca de experiências. “Queremos ajudar o ecossistema a se desenvolver da melhor maneira possível”, afirma Mai-

D E S B RAVA D O R Alexandre “Bio” Veiga Sócio da AgVali Alexandre “Bio” Veiga é fundador da AgVali, uma plataforma virtual que possibilita fazer cotações de produtos agrícolas. “Bio”, como é conhecido, já trabalhou como investidor e diretor de empresas investidas por fundos internacionais de venture capital, como o Rocket Internet, que aplicou no Facebook, eBay e Zynga.

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Reportagem de capa

kon Schiessl, diretor do comitê. Um levantamento feito pela entidade identificou cerca de 70 startups agro no Brasil. “Inevitavelmente muitas outras vão surgir porque os problemas no agronegócio existem e precisam ser resolvidos”, afirma Alexandre “Bio” Veiga, fundador da startup AgVali, uma plataforma online para negociação e compra de produtos agrícolas. Veiga conhece bem o ecossistema de startups. Ele foi da equipe da Rocket Internet, um dos maiores fundos de investimento em tecnologia do mundo. “O Brasil precisa de empreendedores resilientes, dispostos a sujar a bota na fazenda e que entendam a realidade dos produtores”, afirma. Foi isso o que fez o paulista

Renato Girotto. Médico-veterinário, ele fundou em 2007 a RG Genética Avançada, na cidade de Água Boa, no Mato Grosso. Associada da EsalqTec, a empresa desenvolve programas de eficiência reprodutiva. Neste ano, Girotto lançou a Bart Digital, uma startup que realiza operações Barter, ou seja, o pagamento pelo insumo por meio da entrega do grão na pós-colheita, sem a intermediação monetária. Em sua experiência de dez anos com projetos de alta tecnologia no agronegócio, ele diz que uma nova realidade está ajudando o setor AgTech: a segunda geração começa a assumir a gestão de muitas propriedades. São jovens que estudaram no exterior ou em grandes centros do País e são antenados

com a tecnologia. “Essa realidade tem contribuído para o surgimento de várias startups agro”, afirma. “Isso sem falar da relevância do agronegócio na economia brasileira.” NOVOS INVESTIDORES O potencial do mercado agro tem atraído fundos que há até pouco tempo não atuavam nesse setor. É o caso da A5 Capital Partners, companhia fundada no ano 2000. Recentemente, a empresa expandiu sua atuação para o agronegócio por meio do fundo FIP Venture Brasil Central. Com valor inicial de R$ 50 milhões, o fundo atua principalmente na região Centro-Oeste do País. Algumas mudanças no mercado levaram a A5 a ingressar na agricultura. Renato Ra-

E MPRE E ND E D O R Antonio Morelli CEO da Agronow Antonio Morelli é CEO e um dos fundadores da Agronow, software de mapeamento de produtividade agrícola que afere, em tempo real, a produção passada e futura das propriedades rurais. Fundada em 2015, a startup recebeu aporte de R$ 2,5 milhões do Fundo de Inovação Paulista, gerido pela SP Ventures. 104


I N VEST I DO R Renato Ramalho Sócio responsável pelos Fundos de Tecnologia da A5 Capital Partners Mestre em economia pela FGV, já trabalhou em empresas como Banco Santander, BrandsClub e AES. É responsável, desde 2004, pela análise, desenvolvimento de modelos financeiros e acompanhamento de todo o portfólio de investimentos da A5, que em agosto deste ano decidiu atuar no agronegócio.

malho, sócio da A5, explica que o setor historicamente dava mais valor à compra de terra do que ao investimento em tecnologia nas propriedades. Hoje não é mais assim. “Os dados mostram que, nas últimas décadas, a área de plantio no País cresceu 50%, enquanto a produtividade subiu 300%. A tecnologia entrou na agricultura”, afirma. “Agora, tem uma segunda onda tecnológica no agro, com recursos mais acessíveis.” A visão de Ramalho é emblemática do papel central que a tecnologia digital começa a assumir na agricultura. O que se vê é o surgimento de uma nova fronteira para o agronegócio, marcada pelo uso intensivo de inovação. O que aumenta ainda mais a expectativa com o futuro é imaginar que, além de gerar riquezas para o Brasil, é no campo que estão as maiores chances de o País encontrar suas Apples, Facebooks e Googles – não necessariamente pelo gigantismo, mas principalmente pelo caráter inovador e pelo alcance global do agronegócio nacional.

O QUE OS INVESTIDORES PROCURAM Conheça as principais características das startups que os investidores procuram no Brasil • Os principais fundos de investimento procuram principalmente por empresas que, embora iniciantes, estejam em operação e com produto lançado, ou seja, já validado e com clientes conquistados • Startups com soluções de alto impacto, capazes de resolver grandes problemas do agronegócio

• Produtos que tenham base tecnológica e sejam facilmente escaláveis • Além de ter tecnologia em si, ter inovação no modelo de negócio ou na gestão é algo que também interessa aos investidores • Empreendedores com boa qualificação técnica, acadêmica e, principalmente, resiliência e comprometimento com o negócio

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Reportagem de capa

VISÕES URBANAS SOBRE A TECNOLOGIA NO CAMPO O que tenho percebido, em minha experiência trabalhando com o universo agro, é que o AgTech provoca mudanças e cria oportunidades, por exemplo, para empresas de comunicação. Quando fiz meus primeiros trabalhos no agronegócio, há uns sete anos, a comunicação era uma preocupação dos grandes competidores. O que aconteceu com a chegada da tecnologia – e a consequente democratização de formatos de peças publicitárias, mais baratas e de prateleira – é que muitos pequenos produtores começaram a notar que poderiam se beneficiar desse processo. Viram que a comunicação, combinada com a tecnologia, pode ajudar a mudar o negócio, seja para uma multinacional, seja para uma pequena propriedade.

LUIZ VILLAR Sócio da agência Casa Digital

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O setor de startups AgTech, junto com a evolução tecnológica de todo o mercado, vem crescendo. Estamos falando sem dúvida alguma de uma área primordial para o Brasil, seja para exportação, seja para abastecimento do mercado interno. Esse segmento passa por um processo de conhecimento e mudança provocado pela tecnologia. Há um case de sucesso, a venda da Climate Corporation para a Monsanto, em 2013, que gerou um boom no campo da tecnologia para a agricultura. Desde então, as startups de agro vêm ganhando destaque no mundo, com investimentos importantes. Percebemos também a criação de marketplaces e grupos fazendo investimentos em startups de agro ou parcerias com aceleradoras. O mercado começa a registrar esse crescimento, mas há aquilo que também acontece nos setores de fintech e saúde, por exemplo: o conflito entre aqueles que adotam a tecnologia num estágio mais inicial, os visionários, e aqueles com perfil mais pragmático. Existe uma lacuna na adoção de tecnologia disruptiva, mas isso não acontece só no Brasil – nos EUA também. Trata-se, no entanto, de um mercado que tende a crescer cada vez mais. A partir do momento em que a tendência chegar a um lugar comum, as empresas vão ter de abraçá-la. Mas é importante observar que todo esse movimento ainda está em curva de introdução no Brasil.

CAMILA FARANI Presidente do grupo de investimento Gávea Angels, cofundadora do Mulheres InvestidorasAnjo e jurada do programa de TV sobre empreendedorismo Shark Tank, no Canal Sony


O Brasil tem potencial para liderar a revolução tecnológica agrária. A capacidade aqui não é pouca. Apertados os parafusos da política, temos todas as condições de avançar. E pessoas da minha geração estão muito dispostas a se emendar e a não fazer as coisas da forma como vinham sendo feitas. Digo isso, por exemplo, a respeito da questão da exploração inadequada do campo. Além disso, é importante dizer que o agronegócio tem se modernizado bastante. Tem surgido muita inovação no campo, com diversas startups ligadas ao setor, com uso de drones e informações via satélite, entre outras soluções. Tudo isso tem despertado muito o meu interesse. Esse movimento acontece ao mesmo tempo que tenho visto boa parte da sociedade buscando consumir produtos cuja origem é conhecida, limpa, de pouco impacto e que gere riqueza para os vários stakeholders do processo.

RAFAEL VETTORI Sócio e um dos fundadores do Path, festival de inovação e criatividade

O AgTech está intersecção de dois vetores de forte crescimento no Brasil: agricultura, uma vocação natural nossa, e a tecnologia, algo que o País vai precisar muito para resolver seus problemas de ineficiência. Isso já faz do AgTech um mercado muito interessante, com altos volumes monetários. Outro motivo que me faz gostar muito desse setor é o fato de o Brasil ter uma característica completamente diferente de outros mercados. A maior parte de maquinários, sementes, enfim, tudo o que é feito em termos de tecnologia – nem precisa ser da informação, mas para trator e arado – é direcionado a solos de clima temperado, para propriedades com tamanhos diferentes daquilo que vemos aqui. O Brasil, no entanto, tem uma característica própria e única, que o difere da Europa, dos EUA e de outros mercados de agribusiness. Aqui há latifúndios. Por causa disso, precisa de soluções diferentes. O clima é tropical, não temperado, o que também faz com que as soluções tenham de ser distintas. E o solo é completamente diferente. Tudo isso faz com que o Brasil seja quase um continente para o agronegócio, que precisa ser endereçado de uma forma diferente em relação a outras regiões. Assim, competidores locais podem se desenvolver de forma única e com soluções que, se por um lado só vão funcionar no Brasil, de outro não vão sofrer ataques de negócios internacionais. Isso envolve o “bioagro” e “tech agro”.

ROMERO RODRIGUES Sócio do fundo de investimento internacional Redpoint eventures e um dos fundadores do site Buscapé

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Plant + TOTVS Tecnologias em insumos _Fertilizantes_ _Pesticidas_ _Solo_ _Genética_ _Sementes_ _Alimentação_ Agricultura de precisão _Drones e robótica_ _Big Data_ _Sensores e equipamentos inteligentes_ _Softwares de gestão de fazendas_

E-Grocers _Trading Apps_ _Marketplaces_

Nova produção _Hidropônicos_ _Aeroponia_ _Fazendas verticais_

Tecnologias de processamento _Softwares_ _Cadeia do frio_ _Gestão de processos_ _Processamento por alta pressão_

Confira as soluções TOTVS para o seu agronegócio: www.totvs.com/agroindustria

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Redução de resíduos _Reciclagem_ _Economia circular_


StartAgro

Nutrição e transparência alimentar _Certificações_ _Influenciadores_ _Segurança alimentar_

Mercados online _Marketplace_ _Aplicativos para comércio_ _Comércio eletrônico_

Do produtor ao consumidor

_Varejistas orgânicos_ _Mídias sociais_

_Agricultura sustentável_ _Certificações_

Rastreamento _Contratos inteligentes_ _Internet das Coisas_ _Blockchain_

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UNIVERSO AGTECH O processo de modernização da agricultura vai se acelerar nos próximos anos, com o desenvolvimento de soluções inovadoras em diversas atividades relacionadas ao campo. Isso se explica, em grande parte, pela existência de uma série de desafios ou demandas no agronegócio à espera de soluções. A TechLeap, empresa que aproxima líderes em tecnologia e inovação dos stakeholders-chave do mercado para projetos de coinovação, fez um mapeamento para identificar as lacunas no agronegócio. O infográfico foi feito com base em informações da Forbes e um estudo da AgFunder. “O objetivo desse mapeamento inicial foi entender onde as novas startups e tecnologias se encaixam dentro do ecossistema de agribusiness”, afirma Alain Max Banfi, CEO e cofundador da TechLeap. Publicado com exclusividade pela PLANT PROJECT, o gráfico indica que hidroponia, fazendas verticais, blockchain, Internet das Coisas, Big Data e transparência alimentar são algumas das áreas com oportunidades. Confira mais no infográfico ao lado.

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UMA MENSAGEM POSITIVA PARA O MUNDO Terceira edição do Global Agribusiness Forum debate as principais tendências do agronegócio e aponta para maior influência brasileira na produção e no comércio de alimentos

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ais de 1.400 pessoas na plateia, representando a elite agropecuária de 40 países -- e um clima de forte expectativa nos salões do Grand Hyatt Hotel, em São Paulo, na manhã ensolarada de 4 de julho passado. Criado para discutir e apontar as tendências do agronegócio mundial, o Global Agribusiness Forum (GAF), em sua terceira edição, foi aberto sob a marca da incerteza sobre o futuro do país anfitrião e em meio a uma série de desafios a serem enfrentados pelas mais lúcidas mentes do setor. Bastou iniciar-se a cerimônia inaugural do evento, no entanto, para que parte dessas nuvens se dissipasse. Ainda na condição de interino, o presidente da República, Michel Temer, foi acolhido com entusiasmo pelos líderes de 46 entidades ligadas ao agronegócio brasileiro, que lhe entregaram um manifesto de apoio ao seu governo. “Mudanças profundas no nosso modelo de desenvolvimento forçarão os brasileiros a se engajarem na redefinição de prioridades, a fim de ajustarmos distorções e privilégios recorrentemente disfarçados de direitos adquiridos. Assim, confiamos que a liderança do presidente Michel Temer será capaz de pacificar e unificar todos os brasileiros para que seja possível construirmos um novo amanhã para o nosso País”, dizia o texto do documento. Temer retribuiu na mesma moeda. Embora sua agenda oficial registrasse sua presença por apenas 20 minutos no GAF, o presidente permaneceu no palco por mais de duas horas e, em seu discurso, em tom emocional, demonstrou estar sentimentalmente ligado ao sucesso do setor. “Foi em função da agricultura que meus pais conseguiram com que, dos oito irmãos, pelo menos quatro deles viessem para São Paulo estudar e se formar em direito. Então, hoje, posso dizer, sem medo de errar, que


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devo minha posição de Presidente da República para a agricultura brasileira.” A cumplicidade explicitada no discurso de Temer abriu espaço para novas demonstrações de que, a partir daquele momento, o agronegócio seria guindado definitivamente à posição estratégica que sempre mereceu na definição das políticas públicas 1. Michel Temer e Lázaro Brandão, 2. José Serra, 3. Cesário Ramalho e Guilherme Nastari 4. Michel Temer e Geraldo Alckmin, 5. Jovelino Mineiro, Cesário Ramalho, Lázaro Brandão e José Alcides, 6. Itsuo Kitahara, 7. Rodrigo Santos, 8. Maurício Lopes

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e Abastecimento (Mapa), José Serra das Relações Exteriores, e Fernando Coelho, de Minas e Energia --, dois governadores -- Geraldo Alckmin (SP) e Pedro Taques (MT) – , do deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Marcos Montes, entre outras autoridades, embaixadores e personalidades do agronegócio mundial. Falando

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no País. Do mesmo palco, na mesma solenidade ou nos painéis que confirmaram o GAF16 como o mais relevante encontro mundial de debates sobre o setor, governantes, produtores, executivos e líderes setoriais reafirmaram seu compromisso de, a partir da eficiência da agropecuária, fazer o Brasil avançar cada vez mais no comércio exterior como política estratégica fundamental para recolocar o País na trilha do crescimento. Além do presidente Temer, o evento contou com a presença de três ministros – Blairo Maggi, da Agricultura, Pecuária

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logo após o presidente, Maggi, por exemplo, reforçou seu engajamento pela sociedade agrícola brasileira. “Minha obrigação e compromisso é atender, defender e construir uma agricultura, o agricultor e o pecuarista brasileiro. Não vou decepcionar vocês e, muito menos, o presidente pela oportunidade em atuar nesse ministério que tudo tem a ver com minha formação.” Por sua vez, o governador Alckmin ressaltou que, mais uma vez, o agronegócio é uma das únicas áreas que ainda impulsionam a economia. “Esse é o setor que está salvando a lavoura. Um setor que vai muito bem. Nós temos a mais eficiente


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agricultura dos trópicos aqui em São Paulo, que mantém empenho e inovação permanente”, conclui o governador. Presidente do Conselho do GAF, Cesário Ramalho da Silva pontuou que fazer mais com menos é a especialidade da agropecuária brasileira, que ano a ano cresce em produtividade, sendo exemplo

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atingi-la está na reportagem “O ministro das boas notícias”, nesta edição de PLANT). Segundo Maggi, a Ásia – não só, obviamente, a China – é o principal mercado-alvo, mas, claro, sem deixar de lado também, Estados Unidos e União Europeia. Entre os produtos agrícolas, o ministro frisou que a pauta exportadora nacional

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de eficiência para os demais setores da economia e para o agro de outros países. “Somos grandes na produção de larga escala, e temos todo o potencial para também sermos relevantes nas cadeias globais de abastecimento, com produtos de maior valor agregado.” IMAGEM INTERNACIONAL O ministro Blairo Maggi traduziu em números qual a sua meta nesse sentido. Segundo ele, o Brasil aumentará de 6,9% para 10% sua participação no comércio agrícola em cinco anos (a estratégia de Maggi para

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é diversificada, já que somos líderes em vários segmentos, mas deu importante ênfase ao potencial de o Brasil aumentar sua produção de carnes, a fim de participar de modo substancial como um grande fornecedor internacional de proteína animal. Outro produto, destacado por Maggi, como de enorme potencial de mercado em nível mundial, foi o etanol. De acordo com o ministro, o Brasil precisa atrelar ao seu produto agrícola o conceito de sustentabilidade como um atributo, um diferencial mercadológico a ser trabalhado

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9. Marcos Molina 10. Stefan Mihailov 11. Lázaro Brandão e Plinio Nastari 12. Luiz Claudio Paranhos, Michel Temer, Gustavo Junqueira, Sérgio Bortolozzo 13. Alan Bojanic 14. Darci Vetter 15. Alberto Morelli 16. Octavio Barros 17. Juan Carlos Marroquín


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nas negociações internacionais. O ministro salientou, também, que neste desafio, o Brasil precisa se manter vigilante no tocante à defesa sanitária. “Faz tempo que não temos nenhum problema, mas uma hora pode acontecer”, alerta. Em sua conferência, Maggi acabou oferecendo uma ampla introdução aos temas que seriam debatidos ao longo dos dois dias de GAF: segurança alimentar e qualidade dos alimentos, promoção comercial e agregação de valor aos produtos agrícolas, produção sustentável, agricultura do futuro e até mesmo a percepção do consumidor sobre o agronegócio, especialidade do publicitário Nizan Guanaes, fundador do grupo ABC, que trouxe importantes reflexões para o plenário do evento. A primeira delas diz respeito exatamente ao esforço do ministro em ampliar mercados para os produtos agroindustriais. Guanaes desafiou o setor a se comunicar. Para ele, já é momento de o Brasil se posicionar no mercado mundial como marca. "É preciso colocar uma coisa na cabeça do mundo: o Brasil é igual a comida, assim como comida é igual a Brasil." Impressionado com a repercussão do Global Agribusiness Forum, Guanaes disse que o agronegócio é a única agenda positiva do Brasil. Lembrou que o setor é a fonte

HOJE, POSSO DIZER, SEM MEDO DE ERRAR, QUE DEVO MINHA POSIÇÃO DE PRESIDENTE DA REPÚBLICA À AGRICULTURA BRASILEIRA.

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Michel Temer, Presidente da república

de esperança da economia brasileira, é o mais organizado, com maior desenvolvimento tecnológico, mas que não conversa com o mundo. “Vocês agem hoje menor do que são. Ajam do tamanho que vocês são. Não se apequenem”, finalizou. OLHO NO CONSUMIDOR “O consumidor demanda cada vez mais informações sobre originação e processo de fabricação dos produtos”, alertou, no painel que tratou da produção sustentável de proteína animal, Luís Osvaldo Barcos, representante da Organização Mundial da Saúde Animal. Para o Brasil, que tem o maior rebanho comercial e as maiores empresas exportadoras do produto no mundo, a questão é crucial. No mesmo painel, o então presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Claudio Paranhos, destacou que o diferencial

brasileiro é ter praticamente 90% do rebanho criado a pasto, o que favorece questões relacionadas a bem-estar animal. Marcos Molina, presidente do Conselho Administrativo do grupo Marfrig citou a importância de se valorizar o modelo da integração lavoura-pecuária, que pela intensificação da produção, levará à produção de mais carne por hectare. “Temos que investir em produtos de maior valor agregado e em marketing”, recomendou Molina. “Definitivamente será necessário pensar e trabalhar desde o campo sob o escopo do que é valorizado pelo consumidor”, disse Sérgio Trindade, ex-secretáriogeral para desenvolvimento de Ciência e Tecnologia das Nações Unidas. Segundo ele, o agronegócio brasileiro incorporou tecnologia de ponta para produzir commodities, e tem como próximo passo investir em produtos de maior valor agregado, em diferenciação. Este processo de modernização da cadeia produtiva resultará na criação não só de produtos, mas também de serviços cada vez mais sofisticados relacionados, por exemplo, a finanças, logística, marketing, e assim por diante. “É preciso quebrar modelos, investir em soluções disruptivas, já que a agropecuária do futuro será cada vez mais agroindustrial.”


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TECNOLOGIA E INCLUSÃO De fato, a mesma revolução que tem transformado a vida nas cidades começa a causar impactos significativos no campo. “A agricultura digital está para a lavoura assim como o aplicativo ‘Waze’ está para o tráfego nas grandes cidades”, comparou Rodrigo Santos, CEO da Monsanto no Brasil, em sua palestra no GAF16. Ele demonstrou como o conhecimento gerado a partir do uso cada vez mais intensivo da tecnologia da informação na lavoura contribuirá para melhor tomada de decisão do produtor rural, com foco na maximização de resultados. De acordo com Santos, 95% do aumento da produção mundial de alimentos, daqui em diante, terá que vir de ganhos de produtividade, e tecnologias

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que auxiliem o agricultor a fazer mais com menos, de modo mais eficiente, rápido e com menos custos. Essa revolução terá resultados ainda mais significativos se chegar aos pequenos proprietários. Para José Manuel Silva Rodriguez, ex-diretor da área agrícola da Comissão Europeia, promover a inclusão tecnológica dos pequenos agricultores é o grande desafio de inovação para a cadeia produtiva do agronegócio em nível mundial. “Informação e educação são insumos fundamentais para o produtor rural, ainda mais para o pequeno”, destacou durante o painel “O papel do agronegócio no desenvolvimento econômico”.De acordo com Rodriguez, novas conexões precisam ser ativadas entre as

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1. Luiz Felipe Nastari e Pamela Johnson 2. Pedro Taques, Geraldo Alckmin e Gustavo Junqueira 3. Sergio Bortolozzo 4. José Manuel Rodrigues 5. Ibiapaba Netto 6. Luis Roberto Pogetti 7. Luiz Claudio Paranhos 8. Blairo Maggi 9. Roberto Jaguaribe 10. Fernando Coelho 11. Warren Preston 12. roberto rodrigues 13. Julius Schaaf 14. Oscar Chemerinski 15. Maxwell Chinorwadza e Walter Chigwada 16. Jovelino Mineiro

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"A TRANSGENIA FOI ENVOLVIDA NUMA DISCUSSÃO ABSURDA, IGNORANTE, DE QUEM NÃO TEM INFORMAÇÃO CIENTÍFICA ALGUMA"

Os ataques que a carne vermelha e os transgênicos vêm sofrendo, especialmente nas redes sociais, carecem de qualquer base científica. O posicionamento é do médico oncologista mais conhecido do Brasil, o doutor Drauzio Varella, durante sua participação no Global Agribusiness Forum. Em relação ao tema, Varella assinalou que não existe nenhum estudo que mostre algum malefício desta tecnologia à saúde humana, dos animais e/ou ao meio ambiente. “A transgenia foi envolvida numa discussão absurda, ignorante, de quem não tem informação científica alguma”, disse o médico, acrescentando que “o que a transgenia faz é simplesmente acelerar a seleção natural de variedades de plantas, o que já é feito de modo empírico há milhares de anos na agricultura”. Além disso, de acordo com Varella, os transgênicos são usados na medicina há anos. Drauzio, também, alerta que nunca foi feito estudo que provasse a relação entre o consumo de carne vermelha e problemas cardíacos, e esse mito atormenta a sociedade sem ter base alguma.

universidades, os institutos, os centros de pesquisa, ou seja, por quem produz Ciência e inovação e os pequenos agricultores. Segundo ele, essa ligação tem nas associações e cooperativas, por exemplo, importantes parceiros. O relevante, pontuou Rodriguez, é que a inclusão tecnológica do pequeno produtor rural é responsabilidade do setor privado, para que não fique sob a alçada dos governos o protagonismo desse esforço. PILAR DO DESENVOLVIMENTO Um dos consensos do GAF16 girou em torno do papel do agronegócio, qu se tornou um dos pilares para o desenvolvimento sustentável de toda sociedade mundial. Segundo Plinio Nastari, presidente da DATAGRO, um dos realizadores do evento,

o que foi debatido ali não preocupa somente o meio rural, mas também a sociedade como um todo. “A educação é o meio mais efetivo para a inclusão social”, afirmou Nastari. Foi em função dessa visão que os organizadores do GAF16 homenagearam Lázaro de Mello Brandão, presidente do Conselho de Administração do Bradesco, que, através da Fundação Bradesco, auxilia, há mais de 40 anos, na formação e capacitação de mão de obra para agricultura pelo interior afora, além educar mais de 100 mil alunos todos os anos em 40 escolas. “Para nós, da Fundação Bradesco, educar é uma missão que desempenhamos de modo incansável, para que nossa rede se mantenha como referência em educação e investimento social”, discursou Brandão, que recebeu a placa de reconhecimento do presidente Temer.


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Blairo Maggi – Ministro da Agricultura

Me deprimem os números de quanto custa levar soja de Santos até a China em relação aos números da Argentina e dos Estado Unidos. Nossa performance é ridícula e esse é um problema que tem que ser enfrentado.

JOSÉ SERRA, MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

“Através do CAR vamos conseguir fortalecer a sustentabilidade das produções e reverter uma imagem ruim que muitos países tem do Brasil.” ROBERTO JAGUARIBE, PRESIDENTE DA APEX

“A questão é saber se nós vamos seguir o que a China quer ou se nós vamos ter uma visão de integração nas cadeias de valor com a China, onde de um lado a gente forneça soja, milho, mas também a gente forneça carnes, lácteos e outros produtos de maior valor adicionado. O desafio é uma negociação, não de acesso a mercado de um ou outro produto, mas de uma parceria estratégica nos próximos 20 ou 30 anos.” MARCOS JANK, VICE-PRESIDENTE DA BR FOODS

“Vocês agem hoje menor do que são. Ajam do tamanho que vocês são. Não se apequenem” Nizan Guanaes, fundador do Grupo ABC

A rotulagem dos alimentos pode dificultar o comércio entre os países. A transparência de mercado é fundamental, para reduzir a instabilidade dos preços e promover maior eficiência. Warren Preston, Economista-chefe da USDA

“A cada litro de etanol produzido, deixamos de jogar 2 mil kg de carbono na atmosfera” LUÍS ROBERTO POGETTI, PRESIDENTE DA COPERSUCAR


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UM NOVO MUNDO CHEIO DE DESAFIOS PELA FRENTE Principal conferência de açúcar e etanol leva informação para toda cadeia produtiva setorial Nos últimos 14 anos, o luxuoso Grand Hyatt Hotel, em São Paulo, é cenário do maior evento sobre açúcar e etanol e recebe os principais líderes do agronegócio para debaterem sobre as perspectivas e os rumos do setor sucroenergético. O objetivo deste ano é que a 16ª Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol possa orientar o setor sucroenergético na retomada de desenvolvimento econômico descentralizado. “O estabelecimento de regras claras e previsíveis para a relação de competição entre o etanol e a gasolina é fundamentais para o setor”, destaca Plinio Nastari, o anfitrião do evento e presidente da DATAGRO. Palestrantes, presidentes de instituições, representantes do governo e participantes estão otimista e

apostando em um novo rumo para o setor. O que mais se ouve nos bate-papos entre líderes e representantes do setor é sobre as perspectivas animadoras para o mercado de açúcar e etanol. Após um longo ciclo de preços baixos, problemas climáticos e também regulatórios, a euforia em perceber que um novo mundo esta se abrindo é visível. “Um novo mundo à frente” é o tema escolhido para a conferência e os debates caminharão nesse sentido. Inovações tecnológicas, fontes alternativas para a criação de energia, carro movido a célula combustível. De fato, temos um novo mundo à frente, que exige produtividade, baixo custo e, o mais importante, sustentabilidade. A Conferência Internacional

DATAGRO sobre Açúcar e Etanol é sem dúvidas um dos mais importantes eventos do calendário mundial do setor. Para este ano, estão confirmados grandes nomes como: André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, Renato Pontes Cunha, presidente do Sindaçucar; Elizabeth Farina, presidente da Unica; Mario Campos Filho, presidente da Siamig; Miguel Rubens Tranin, presidente da Aalcopar; Roberto Hollanda Filho, presidente da Biosul, Luiz Barroso, presidente da EPE; Gilberto Peralta, presidente da GE do Brasil; François Dossa, presidente da Nissan do Brasil; Michael McDougall, vicepresidente da Newedge; Maisol da Nobrega, da Tendências Consultoria; Ismael Perina, da Socicana, entre outros.


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A PRÓXIMA REVOLUÇÃO NAS USINAS Processo inovador, apresentado na Conferência, permite a produção simultânea de etanol de cana e milho na mesma usina Um dos pontos altos da Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol será a discussão sobre as novas tendências tecnológicas que chegarão à indústria sucroenergética nos próximos anos. Uma delas já é realidade e promete revolucionar a produção de etanol com a utilização simultânea de cana e de amiláceos (como milho e sorgo granífero) em uma mesma usina, com fermentação em paralelo. Desenvolvido pela Fermentec, empresa de biotecnologia sediada em Piracicaba, o sistema StarchCane integra a fermentação das duas matérias primas a partir do uso de leveduras especiais, proporcionando uma série de vantagens em relação aos processos convencionais. “A maior dessas vantagens diz respeito ao tempo do ciclo de fermentação, que cai de uma média de 60 horas para algom em torno de 30 horas, explica Henrique Vianna de Amorim, presidente da Fermentec, que apresentará oficialmente o produto em sua palestra na Conferência. Com mais de 30 anos de expertise acompanhando processos de fermentação de milho para produção de etanol nos Estados Unidos e Canadá

e quase 40 aperfeiçoando os sistemas de fermentação no Brasil, Amorim acredita que o novo processo pode gerar economias significativas para as usinas. Estudos da Fermentec com base numa produção diária de 500 mil litros de etanol mostram uma redução de 30% do custo na produção. “Em menos de um ano, considerandose o preço médio atual do etanol, é possível recuperar o investimento feito para adaptar a usina para a produção com cana e milho”, afirma Amorim. A conta se justifica com ganhos em várias frentes. Uma delas é a eliminação da necessidade de comprar e propagar levedura diariamente. “Esse é o terceiro insumo mais caro de uma usina”, diz Amorim, que presta consultoria para empresas como as destilarias Jose Cuervo e Baccardi. Além disso, elimina-se o tempo parado devido à entressafra de cana. Assim, o período de produção pode chegar a 345 dias ou mais, dependendo da disponibilidade de bagaço. Com o melhor uso das instalações existentes, reduzse extremamente os custos operacionais. Outro benefício importante é a utilização dos resíduos do processo para a

produção de DDG (Distillers Dried Grains), nutrientes de elevada concentração de aminoácidos e proteínas, que podem ser adicionados à ração animal. “Nos Estados Unidos, a venda de DDG já corresponde a até 65% do faturamento de algumas usinas”, afirma Amorim. “Acreditamos que mais de 170 usinas têm potencial para usar esse processo no Brasil”.


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Exportação brasileira de açúcar sobe em setembro, enquanto embarques de etanol recuam com menor oferta no mercado doméstico. De acordo com o Secex, o Brasil exportou 3,188 milhões de toneladas de açúcar em setembro de 2016, aumento de 7,6% sobre o mês anterior. Comparativamente a setembro do ano passado (1,764 milhão de toneladas), o volume exportado foi 80,8% maior. De janeiro a setembro, as exportações de açúcar somaram 21,569 milhões de toneladas, ante 16,256 milhões de toneladas em mesmo período de 2015, aumento de 32,7%. Apesar da desvalorização do dólar, o aumento do preço no mercado internacional tornou as exportações mais atrativas para as usinas. Até a primeira quinzena de setembro as usinas direcionaram 45,89% da oferta de ATR para a produção de açúcar, 4,38 pontos percentuais a mais do que o mix registrado há um ano.

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Por outro lado, a exportação de etanol caiu de 168,58 milhões de litros em agosto para 147,07 milhões de litros em setembro. Os números do Secex mais uma vez não refletiram os embarques confirmados pelo line-up da DATAGRO. Conforme nosso monitoramento, em setembro as saídas para o mercado externo foram bem menores, 61,10 milhões de litros de etanol, contra 146,91 milhões de litros no mês anterior. No acumulado e janeiro a setembro, segundo o Secex, o Brasil exportou 1,617 bilhão de litros de etanol, contra 1,122 bilhão de litros em mesmo período do ano passado. Mas conforme os números do Line-up da DATAGRO os embarques de etanol totalizaram 1,116 bilhão de litros no somatório de janeiro a setembro, ante 1,309 bilhão de litros

exportados em igual intervalo de 2015. Mas conforme os números do Line-up da DATAGRO os embarques de etanol totalizaram 1,116 bilhão de litros no somatório de janeiro a setembro, ante 1,309 bilhão de litros exportados em igual intervalo de 2015. A divergênciaentre os números reforça novamente o entendimento de que as estatísticas do Secex refletem ajustes nos Registros de Exportação (RE). Embora o seu preenchimento seja necessário no processo de embarque, o RE, que é usado para alimentar as estatísticas do governo, pode ser ratificado posteriormente.


Pontos de interesse:

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De janeiro a setembro, as exportações de açúcar somaram 21,569 milhões de toneladas;

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No acumulado de janeiro a setembro, segundo o Secex, o Brasil exportou 1,617 bilhão de litros de etanol.

Exportações Brasileiras de Açúcar Fonte: SECEX

Exportações de Etanol do Brasil - Line-up vs. Secex Elaboração DATAGRO

ETANOL Frete marítimo para o etanol continua em queda e a exportação dos EUA fica mais competitiva. O frete marítimo para embarque de etanol no trecho entre Santos e Houston recuou 26,5% desde o início do ano, de US$ 58/m3 para US$ 43/m3.

EUA para o Brasil.

Para carregamentos em torno de 15 mil metros cúbicos, o frete para o mesmo trecho é cobrado a US$ 38,5/m3, contra US$ 52/m3 em dezembro de 2015, queda de 26%.

Para o transporte de etanol entre Santos e Roterdã, o custo do frete recuou 14,0% de US$ 71,5/m3 para US$ 61,5/m3 para cargas em torno de 10 mil metros cúbicos. Para cargas em torno de 15 mil m3, o frete é negociado a US$ 52,5/m3, queda de 19,8% em relação ao valor praticado em dezembro.

Tal redução do frete marítimo tem favorecido ainda mais a exportação de etanol dos

Também houve redução do custo do embarque de etanol entre Houston

e o Extremo Oriente (Ásia), que cobre China, Japão e Coreia do Sul. Entre dezembro de 2015 e setembro de 2016 o frete para o transporte em torno de 10 mil metros cúbicos de etanol caiu 23,5 e 25,5% para cargas em torno de 15 mil metros cúbicos para US$ 62/m3 e US$ 57/m3, respectivamente.

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Pontos de interesse: Para o transporte de etanol entre Santos e Roterdã, o custo do frete recuou 14,0%; Também houve redução do custo do embarque de etanol entre Houston e o Extremo Oriente (Ásia).

Frete para o transporte de etanol entre Santos e Houston Fonte: DATAGRO, a partir de brokers

Retração dos preços do petróleo e desaceleraçã da economia mundial, mais notadamente na China, são alguns dos principais fatores por trás da desvalorização do frete.

Frete para o transporte de etanol entre Houston e Ásia Fonte: DATAGRO, a partir de brokers

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Embora o recuo do custo do frete favoreça a competitividade para exportação de etanol do Brasil, em contrapartida os preços do etanol no Brasil continuam altos, apesar da recente desvalorização devido ao início da safra 2016/17, o que tem mantido fechada a janela para exportação. Nos EUA, as exportações continuam competitivas em um cenário de excedente na oferta doméstica e expectativa de baixa dos preços do milho em resposta à ampliação do plantio do grão.


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