Edição 39# - Plant Project

Page 1

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

O FUTURO É RENOVÁVEL Brasil atrai bilhões de reais em investimentos e se torna protagonista na produção de hidrogênio verde

FINANÇAS

Como os Fiagros viraram a nova febre na Bolsa de Valores CELEIROS DE STARTUPS GIGANTES DO AGRO AMPLIAM APOSTAS EM HUBS DE INOVAÇÃO

AS PICAPES ACELERAM ELAS GANHAM ESPAÇO COM O AVANÇO DOS NEGÓCIOS NO CAMPO SUSTENTABILIDADE PEQUENOS E MÉDIOS PRODUTORES DE SOJA SOFREM PARA OBTER O SELO RTRS

VINHOS

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

Rótulos da Serra da Canastra vencem premiações internacionais




E di tori a l

SEMEANDO BOAS NOTÍCIAS

O agronegócio brasileiro está prestes a alcançar mais um feito: a partir de 2024, a liderança do ranking mundial de exportadores de algodão sofrerá uma inversão. No lugar dos Estados Unidos, o Brasil subirá ao degrau mais alto do pódio. O avanço da cotonicul-

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

tura nacional se deve a vários fatores – incluindo as

O FUTURO É RENOVÁVEL Brasil atrai bilhões de reais em investimentos e se torna protagonista na produção de hidrogênio verde

FINANÇAS

Como os Fiagros viraram a nova febre na Bolsa de Valores CELEIROS DE STARTUPS GIGANTES DO AGRO AMPLIAM APOSTAS EM HUBS DE INOVAÇÃO

AS PICAPES ACELERAM ELAS GANHAM ESPAÇO COM O AVANÇO DOS NEGÓCIOS NO CAMPO SUSTENTABILIDADE PEQUENOS E MÉDIOS PRODUTORES DE SOJA SOFREM PARA OBTER O SELO RTRS

adversidades climáticas nas terras dos concorrentes americanos –, mas um em especial chama a atenção: o aumento explosivo da produtividade nos últimos anos. Como se consegue isso? A resposta está na tecnologia, atributo indissociável do agro brasileiro.

VINHOS

venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

Rótulos da Serra da Canastra vencem premiações internacionais

Próximo grande salto do mercado global de energia, o hidrogênio verde é outra frente que coloca o Brasil em posição de destaque. O Ministério de Minas e Energia diz que ao menos US$ 20 bilhões em recursos já foram anunciados em projetos sediados no País. Outro levantamento, desta vez realizado pela consultoria McKinsey, estima que, nos próximos 20 anos, US$ 200 bilhões desembarcarão no mercado brasileiro para fomentar a área. Na nova economia verde, os brasileiros caminham para ser a maior referência mundial. Duas reportagens publicadas nesta edição da PLANT esmiúçam os temas acima, mas há outras – como o aumento das vendas de picapes no embalo dos negócios do campo – que mostram o poderio econômico do setor. O agro nacional traz boas notícias onde quer que se olhe.

Boa leitura!

Amauri Segalla Diretor Editorial

4



Í ndi ce

plantproject.com.br

G pág. 9 Ag pág. 17 Fo pág. 81 Fr pág. 75 W pág. 85 Ar pág. 87 S pág. 91 M pág. 114 G LO B A L

D i r etor E ditoria l Amauri Segalla amauri.segalla@datagro.com D i r etor Luiz Felipe Nastari Co nsultor Luiz Fernando Sá Com e rc ia l Carlos Nunes carlos.nunes@plantproject.com.br Vania Araújo vania.araujo@plantproject.com.br A rt e Thaís Rodrigues (Direção de Arte) Andrea Vianna (in memorian – Projeto Gráfico) Col ab or a dor es Texto: André Sollitto, César H. S. Rezende, Livia Andrade, Lucas Bresser, Marco Damiani, Paula Pacheco, Rodrigo Ribeiro, Romualdo Venâncio, Ronaldo Luiz e Túlio França Design: Bruno Tulini Pro d ução Lau Borges R ev i são Rosi Melo Ev e n tos Luiz Felipe Nastari A d m i n ist r ação e Fina n ç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes

AGRIBUSINESS

FORUM

FRONTEIRA

WO R L D FA I R

ARTE

STARTAG R O

M AR KE TS

publicidade@plantproject.com assinaturas@plantproject.com

I m p r essão e aca b a men to : Piffer Print

EDITORA UNIVERSO AGRO LTDA. Calçada das Magnólias, 56 - Centro Comercial Alphaville – Barueri – SP CEP 06453-032 - Telefone: +55 11 4133 3944


Plano Safra Chegou o

23/24

240bi

R$

em crédito pra todos do Agro.

O Agro é de todos e o crédito do Plano Safra é pra todos que fazem o Agro acontecer. Saiba mais em bb.com.br/planosafra Central de Relacionamento BB SAC Deficiente Auditivo ou de Fala 4004 0001 ou 0800 729 0001 0800 729 0722 0800 729 0088

Ouvidoria BB ou acesse 0800 729 5678 bb.com.br

/bancodobrasil

PLANT PROJECT Nº39

3


MULTICULTURAS

A MAIOR CONSULTORIA DE AGRONEGÓCIO DO MUNDO Analistas setoriais especializados na cobertura de + de 20 culturas em NÍVEL GLOBAL

CONFIRA A NOSSA FAMILIA DE CULTURAS! WWW.PORTAL.DATAGRO.COM DATAGRO NAS REDES SOCIAIS

(11) 4133-3944 Av. Cidade Jardim, 400 - 19ª andar Itaim Bibi, São Paulo - Brasil CEP 01454-901 PLANT PROJECT Nº39

3


SEM APETITE:

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock

Vendas de carnes de planta encolhem em 2023 e complicam a vida da Beyond Meat, empresa que é referência do setor

G

PLANT PROJECT Nº39

9


G

GLOBAL

foto: Shutterstock

O lado cosmopolita do agro

E S TA D O S U N I D O S

FOME SACIADA As carnes de planta prometiam provocar uma revolução na indústria de alimentos, mas o apetite do mercado diminuiu

O mercado de proteínas alternativas, a maior parte delas feitas à base de vegetais, cresceu em ritmo forte nos últimos anos. De 2019 para 2021, por exemplo, o volume de negócios dobrou. Mas agora é diferente. Em 2023, as vendas do setor encolheram 20% em relação a 2022, segundo levantamento feito pela consultoria 210 Analytics. Apenas em junho, os negócios despencaram 34%, o maior tombo em cinco anos. Pior ainda: a curva inclinou para baixo e não parece haver recuperação no horizonte. O caso mais notável é o da Beyond Meat, startup americana que já foi a principal referên10

cia da revolução trazida pelas proteínas de plantas. Para cortar custos, a empresa demitiu recentemente um quinto de sua força de trabalho – e novos ajustes estão previstos para os próximos meses. Desde o início do ano e até o final de setembro, as ações da companhia caíram cerca de 10%. No início de agosto, o presidente da Beyond Meat, Ethan Brown, afirmou que a empresa estava sofrendo com


os efeitos de “demanda mais fraca na categoria de carne vegetal, inflação elevada, aumento das taxas de juros e preocupações contínuas com a probabilidade de uma recessão”. Por isso, revisou a perspectiva de lucro anual de US$ 415 milhões para US$ 360 milhões, ou US$ 380 milhões na perspectiva mais otimista. O executivo também disse que “grupos de interesse conseguiram semear a dúvida e o medo em torno dos ingredientes e processos usados para criar a nossa e outras carnes à base de plantas” e, assim, “prejudicaram a percepção dos valores nutricionais desses alimentos, algo que havia sido usado desde o princípio para promover as vendas”. Ou seja: o cenário ficou mais desafiador.

A inflação global crescente tem também papel relevante nesse cenário. Dados da consultoria Circana apontam que as carnes convencionais, de animais, também tiveram queda na procura nos Estados Unidos. O aumento dos preços dos alimentos faz com que muitos consumidores precisem escolher o que comprar, e as carnes ficam de fora. Registre-se também o aumento da competição. Há cinco anos, startups de carnes de planta estavam sozinhas no mercado e não conseguiam atender ao crescente interesse do público por esse tipo de produto. Desde então, grandes players do setor passaram a inundar as geladeiras dos mercados de opções, e a competição ficou acirrada.

Entidades que defendem os produtos plant based, como a Vegan Society, apontam que as quedas não afetaram todas as empresas da mesma forma, e que há nichos de mercado que estão colecionando bons resultados. É possível que, nos próximos anos, o setor se estabilize e alcance um tamanho compatível com a demanda de público. Os dados atuais, contudo, indicam que o sinal de alerta foi aceso. Ainda assim, é preciso reconhecer que o avanço da agenda ambiental – que inclui, obviamente, a defesa dos animais – poderá impulsionar o segmento plant based. A radiografia do momento preocupa, mas as perspectivas para o futuro continuam promissoras. PLANT PROJECT Nº39

11


G E S TA D O S U N I D O S

O FUTURO NÃO É VERTICAL A ideia das fazendas verticais sempre foi muito cativante. Em um mundo às voltas com problemas de espaço, elas pareciam ser a solução ideal para produzir alimentos em áreas pequenas, especialmente nas grandes metrópoles tomadas pelo concreto. A louvável iniciativa, entretanto, não vingou. Entenda a seguir os problemas enfrentados pelo setor e quais são as dificuldades das empresas do ramo.

A PRIMEIRA DO SETOR

Pioneira no setor, a startup AeroFarms captou US$ 238 milhões de investidores e alcançou uma avaliação de mercado de US$ 1,2 bilhão ao prometer cultivar hortaliças usando 99% menos terra e 95% menos água do que seria preciso pelo método tradicional. Além disso, não utilizava pesticidas e produzia 24 horas por dia, sem os riscos impostos pelo clima. Parecia bom demais para ser verdade. Não era.

CUSTOS ELEVADOS

O modelo de negócios atual, muito dependente de tecnologias caras, de alto investimento inicial e de custos gigantescos com energia, não é viável, e especialistas apontam para uma necessidade de mudança.

GASTO ENERGÉTICO

As plantas precisam de dez vezes mais luz que os seres humanos. Nesse sentido, os gastos com energia de uma pequena fazenda vertical chegam a US$ 200 mil por ano

PEDIDO DE FALÊNCIA

Atolada em dívidas, a AeroFarms declarou falência em junho passado, após a construção de uma nova instalação no estado americano da Virgínia.

POUCA DIVERSIDADE DE CULTURAS

Embora sejam capazes de cultivar qualquer cultura, as fazendas verticais produzem principalmente hortaliças, por serem mais simples e terem ciclos mais curtos, o que limita as margens de lucro.

Algumas das principais empresas do setor foram pelo mesmo caminho. As americanas Kalera e Upward Farms e a holandesa Future Corps também pediram falência. A alemã Infarm, embora continue operando, demitiu recentemente 500 pessoas, mais da metade de sua força de trabalho.

12

foto: Shutterstock

OS PROBLEMAS SE ESPALHAM

SALÁRIOS NAS ALTURAS

Com a expectativa de crescer sem limites, as startups contrataram executivos a peso de ouro e a conta agora chegou.



G I TÁ L I A

COGUMELOS CONTRA A MÁFIA

UCRÂNIA

14

foto: Shutterstock

O sul da Itália, na região próxima à cidade de Nápoles, se tornou uma área de descarte de materiais tóxicos. Na Terra do Fogo, como ficou conhecida, criminosos ligados à Camorra, organização que mantém laços com a máfia siciliana, mantiveram lixões a céu aberto, com queimas constantes. Há quatro anos, o governo confiscou parte dessas terras, o equivalente a 12 hectares, e as deixou sob responsabilidade da cooperativa agrícola Terra Felix. Desde então, a entidade vem recuperando o solo por meio do plantio de diferentes culturas. Com a ajuda de portadores de deficiências, os cooperados montaram estufas automatizadas, com sensores que determinam a quantidade exata de água necessária para a produção, e passaram a cultivar especialmente cogumelos. Em agosto, 7 hectares foram destruídos em um incêndio criminoso, mas a cooperativa continua trabalhando pela recuperação da terra.

NIGÉRIA

GUERRA PELOS GRÃOS

GANGUES PREJUDICAM PRODUÇÃO

Como sétima maior produtora de trigo do mundo, a Ucrânia vem sofrendo com a invasão do país pela Rússia. Responsável por abastecer o consumo de diversas nações, como Turquia, Egito e Indonésia, a Ucrânia tem papel crucial para garantir que milhões de pessoas não passem fome. Ainda assim, tem sofrido para viabilizar a entrega dos grãos que produz. Agora, se prepara para outra batalha. A União Europeia quer banir as importações de grãos ucranianos, mas a restrição não tem nada a ver com o conflito. “Isso não é resultado da guerra, apenas queremos defender o interesse de nossos agricultores”, disse Robert Telus, ministro da Agricultura da Polônia. Em resposta, o governo da Ucrânia argumenta que as divisas geradas pela agricultura são vitais para ajudar o país a resistir contra os ataques russos.

Maior economia do continente africano, a Nigéria lançou ambicioso projeto para alcançar a autossuficiência na produção de trigo. Mas há empecilhos. Entre eles, os efeitos perversos das mudanças climáticas e a violência de gangues em regiões produtivas importantes. No norte do país, próximo ao Sahel, produtores têm sofrido com o calor extremo. O trigo é uma cultura que precisa de temperaturas elevadas, mas o calor acima da média atrapalha o plantio. Resultado: a produtividade caiu pela metade. Para piorar, a atuação das gangues, que sequestram produtores e desviam recursos, gera prejuízos. Em 2023, o preço dos alimentos subiu, em média, 24% em relação a 2022, e produtos feitos a partir do trigo, como pães e massas, dobraram de valor. Para transformar o cenário, o governo anunciou novas medidas, como a distribuição de sementes de alto rendimento, defensivos e equipamentos mais modernos. Com isso, a expectativa é de que a produção cresça 40% no ano que vem.


Plant +

ATVOS INGRESSA EM NOVA ERA A partir de um intenso processo de transformação, empresa realiza investimentos recordes e mira novas frentes de negócios

U

ma das maiores produtoras de biocombustíveis do País, a Atvos virou uma página importante de sua história e, agora, se prepara para executar um robusto plano de investimentos, a partir da chegada do Mubadala Capital, para liderar uma jornada de crescimento da companhia. O objetivo da empresa é desembolsar R$ 4,6 bilhões até a safra 2025/26 para expandir a sua produção de etanol à base de cana-de-açúcar – sendo R$ 1,6 bilhão em andamento até o final do ciclo atual e R$ 1,5 bilhão, a cada ano, até março de 2026. “O mercado global de biocombustíveis apresenta um grande potencial de crescimento e, por isso, temos um sólido planejamento que busca ampliar os índices de produtividade de nosso portfólio atual”, diz Bruno Serapião, CEO da Atvos. O executivo destaca que a meta da Atvos é alcançar a moagem de 32 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nos próximos anos, o que representaria o maior volume de sua história e a plena capacidade instalada das oito unidades agroindustriais da companhia, localizadas nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Para isso, a empresa investirá na renovação de canaviais e em novos plantios. Apenas neste

15

ano, a meta é plantar 66 mil hectares, o suficiente para levar à moagem de 27 milhões de toneladas até março de 2024. Atualmente, a companhia opera 500 mil hectares de áreas de cultivo, o equivalente a pouco mais de três vezes o tamanho da cidade de São Paulo (SP). Atenta ao processo de transição da matriz energética do Brasil e do mundo, a Atvos também planeja desbravar novas frentes. A empresa está de olho em três novos segmentos: a produção de etanol de milho, de biometano e de biocombustível sustentável para aviação (SAF, na sigla em inglês). No caso do etanol de milho, a ideia é aproveitar, no processo de produção, a estrutura já existente de suas operações. Para o biometano, serão utilizadas como matéria-prima a palha da cana-de-açúcar e a vinhaça, esta última já reaproveitada no processo de fertirrigação. Quanto ao SAF, o CEO da Atvos lembra que o etanol é uma das melhores soluções em larga escala para substituir o querosene de aviação, e que a iniciativa exigirá aportes em tecnologia. Não há dúvida: revigorada, a Atvos está pronta para ingressar em uma nova era. PLANT PROJECT Nº39

15


G FRANÇA

CHINA

O VINHO FOI PARA O RALO

TERRAS PARA O GOVERNO

A notícia de que a França destinaria 200 milhões de euros para destruir o excedente de vinho produzido no país surpreendeu muitas pessoas. Contudo, não se trata da primeira vez – e não deverá ser a última. Há um motivo para isso: o consumo de vinho vem caindo na Europa. Segundo dados da Comissão Europeia, o recuo chega a 15% na França em 2023 versus 2022. Com isso, o governo precisará usar os recursos para comprar o excedente dos produtores, e o álcool será utilizado na fabricação de produtos de limpeza, perfumes e desinfetantes. Parte do dinheiro também será destinada para fomentar a transição para outras culturas, como azeitonas. O ministro da agricultura francês, Marc Fesneau, diz que a destinação do dinheiro à indústria é uma forma de impedir a queda dos preços e permitir que os viticultores encontrem outras fontes de receita.

Durante muitos anos, a China comprou soja, carne e outros insumos de diversos países, incluindo do Brasil, como forma de garantir a segurança alimentar de sua população. Agora, a estratégia é outra. O governo chinês está tomando terras consideradas improdutivas para ampliar a produção local de soja, milho e outros alimentos. No século 21, 170 mil hectares foram incorporados pelas autoridades e a ideia é ampliar consideravelmente esse número. De acordo com o presidente chinês, Xi Jinping, o objetivo é assegurar ao menos 120 milhões de hectares de terras cultivadas, volume que seria necessário para garantir alimentos para todos. O avanço da urbanização contribuiu para a crescente dependência de comida importada, e o governo chinês vê a situação com preocupação. Em um eventual confronto com poderes do Ocidente, principalmente os Estados Unidos, a quebra de cadeias de suprimento seria um problema de difícil solução.

J A PÃO

foto: Shutterstock

O MILAGRE DOS MICRÓBIOS

16

Diversos segmentos da indústria alimentícia, farmacêutica e cosmética usam um processo conhecido como fermentação microbiana para produzir uma variedade de compostos. Até agora, no entanto, os micróbios não podiam ser usados para gerar metabólitos secundários de plantas, como alcalóides de benzilisoquinolina – apesar do nome complicado, são bastante populares, pois a categoria inclui a morfina e a codeína. A startup japonesa Fermelanta está quebrando essa premissa. A empresa conseguiu produzir, em laboratório, as mesmas moléculas, de forma mais barata e muito mais rápida. Usando processos conhecidos como vias metabólicas, os empreendedores obtiveram moléculas opioides usando a fermentação microbiana. Fundada em outubro de 2022, a Fermelanta desenvolveu sua solução a partir de pesquisas realizadas nos últimos 15 anos na Universidade de Ishikawa.


energia de sobra Produzido a partir de fontes renováveis, o hidrogênio verde será peça fundamental para a transição energética no mundo

Ag AGRIBUSINESS

foto: Shutterstock

Empresas e líderes que fazem diferença


Ag Empresas e líderes que fazem diferença

18


NOVO GÁS PARA A ECONOMIA VERDE Por que a produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis poderá representar o próximo grande salto do mercado global de energia

foto: Shutterstock

P or R omualdo V enâncio

PLANT PROJECT Nº39

19


20

foto: Shutterstock


Reportagem de Capa

preocupação mundial com as mudanças climáticas tem elevado a temperatura dos debates sobre as soluções que possam frear seus efeitos nefastos. As nações que compreenderam a urgência dessa pauta, seja pelas questões socioambientais, seja pelo apelo econômico-financeiro – ou por ambos –, apertaram o passo rumo aos compromissos com a sustentabilidade do planeta, buscando zerar ou diminuir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). No caminho dessa transformação está a redução do uso de combustíveis fósseis, para que deem lugar a opções renováveis. É nesse cenário que começa a ganhar notoriedade o hidrogênio verde (H2V), gás produzido a partir de fontes renováveis e que promete impactar os vários segmentos da cadeia energética, de ponta a ponta, da originação à utilização. Quando se fala em energia limpa, o Brasil surge como candidato ao protagonismo. A privilegiada posição está fortemente relacionada ao grande potencial de produção de hidrogênio verde com custo mais atrativo, em decorrência da ampla disponibilidade de fontes de energia renovável – hidrelétrica, biomassa, eólica e solar, e ao fato de contar com uma rede de energia limpa e integrada. De acordo com levantamento da consultoria McKinsey, essas características poderão tornar o Brasil um dos maiores produtores mundiais de H2V, além de grande consumidor: 60% da oferta total do gás pode ser consumida internamente, criando um mercado adicional potencial de US$ 5 bilhões a US$ 20 bilhões. Os números de investimentos no setor já vinham seguindo essa tendência. “Cerca de US$ 20 bilhões já foram anunciados em projetos de hidrogênio no Brasil, em diferentes estágios de maturidade”, informa o Ministério de Minas e Energia (MME), que coordena o Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2). Esses recursos englobam iniciativas de pesquisa, desenvolvimento e

Ag

Eduardo Sattamini, presidente da Engie: “ O Brasil tem todos os fundamentos para assumir uma posição de destaque na indústria de hidrogênio verde”

análise de viabilidade técnica e econômica. O MME comunica ainda que a progressão do mercado de hidrogênio de baixo carbono é uma das prioridades do atual governo, inclusive por ser considerado estratégico para a promoção do processo de transição energética mundial. “Além de gerar emprego e renda no País, produzindo impactos socioeconômicos e ambientais positivos”, complementa o MME. Nos próximos anos, o cenário poderá mudar radicalmente. Segundo a McKinsey, nas próximas duas décadas, com uma ampla

O BRASIL RECEBERÁ US$ 20 BILHÕES EM INVESTIMENTOS NO SETOR PLANT PROJECT Nº39

21


Ag Reportagem de Capa

participação do H2V nos segmentos de combustível e matéria-prima industrial, e sua contribuição para descarbonizar a matriz energética mundial, o Brasil poderá atrair investimentos da ordem de US$ 200 bilhões. A transição energética, de fato, começa a estimular o surgimento de projetos ambiciosos. No primeiro semestre de 2023, a empresa de energia Engie assinou um protocolo de intenções com a Invest Paraná para desenvolver no estado projetos em grande escala de produção de hidrogênio verde. Além disso, também firmou um memorando de entendimento com o governo do Ceará para levar adiante um projeto no Porto do Pecém, com vistas à exportação do hidrogênio verde ou seus derivados. “Estamos buscando oportunidades para desenvolver projetos de produção de hidrogênio verde e seus derivados tanto para exportação quanto para atender a demanda interna das indústrias brasileiras que buscam descarbonizar seus processos produtivos”, diz Eduardo Sattamini, diretor-presidente e de Relações com Investidores da Engie Brasil Energia. “O Brasil tem todos os fundamentos para assumir uma posição de destaque na indústria de hidrogênio

22

verde dada a sua matriz elétrica abundante em energia renovável.” Insumo para diversos segmentos, o hidrogênio atende desde armazenagem e geração de energia a partir de células de combustível (como no caso de veículos de pequeno e grande porte), até as indústrias siderúrgica, química, petroquímica, agrícola, alimentícia e de bebidas. Também é utilizado no processo de aquecimento de edificações e como combustível para aviões e navios. E pode ser uma alternativa interessante para setores com dificuldade para abater emissões de carbono. Daí a amplitude das oportunidades para a sua versão verde. A aviação, que representa entre 2 e 3% das emissões globais de GEE, está no grupo com restrições para a descarbonização. Uma saída interessante vem exatamente pelos combustíveis sustentáveis, que poderiam reduzir em 70% as emissões do setor, segundo a McKinsey. Vendidos desde 2011, os combustíveis sustentáveis da aviação (SAF, na sigla em inglês) devem representar cerca de 40% da demanda total de energia no segmento até 2050. Longe de querer perder a chamada para esse voo de negócios, fabricantes das aeronaves levam a mudança


para as linhas de produção. A Embraer Aviação Comercial tem investido em quatro conceitos diferenciados de aeronaves movidas por novas tecnologias e energias, com opções para 19 e 30 lugares. Chamada de Energia Family, a nova linha foi concebida sob o conceito conhecido como “Sustainability and Action”. Dois desses modelos – um de cada tamanho – preveem propulsão elétrica a hidrogênio. Tanto sua arquitetura quanto as tecnologias envolvidas estão em fase de avaliação da viabilidade técnica e comercial. Segundo o presidente e CEO da empresa, Arjan Meijer, as metas para colocar tais conceitos no mercado são ousadas, porém realistas. “Temos avaliado diferentes arquiteturas e sistemas de propulsão”, afirma o executivo. O processo de modernização da companhia é uma iniciativa para zerar as emissões poluentes na indústria da aviação até 2050. Se é possível que o hidrogênio verde revigore

o transporte aéreo, por que não o terrestre? O Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), instituição financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Shell Brasil, está trabalhando em três frentes de pesquisa para responder a tal questionamento. O primeiro projeto, que está mais avançado, consiste na conversão de etanol em hidrogênio por meio do calor, em um processo de reforma térmica. A base para esse estudo é uma planta-piloto construída na Universidade de São Paulo, na capital paulista. A instalação da planta-piloto resulta da parceria que envolve as empresas Raízen e Hytron e o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Cimatec). A Shell Brasil está investindo cerca de R$ 50 milhões no projeto, que inicialmente produzirá 5 quilos de hidrogênio por hora e abastecerá três ônibus da Cidade Universi-

fotos: Shutterstock

O COMBUSTÍVEL SUSTENTÁVEL DE AVIAÇÃO ESTÁ EM ALTA NO MUNDO

PLANT PROJECT Nº39

23


24

foto: Shutterstock


O Senai fechou parceria com alemães para financiar startups e pequenas e médias empresas que desenvolvem projetos voltados à produção de hidrogênio verde

tária da USP, com o primeiro já circulando este ano. “A estação experimental suprirá um ônibus a célula combustível, alimentado com hidrogênio”, afirma o pesquisador do RCGI e professor da Escola Politécnica (Poli) da USP, Thiago Lopes. “Funcionará como um posto de combustível para o ônibus, podendo, no futuro, alimentar outras unidades de consumo exclusivas do campus.” O segundo projeto do RCGI visa à conversão de etanol em hidrogênio por meio de uma reforma eletroquímica. A principal diferença é a utilização de elétrons no lugar de calor, com uma tecnologia alternativa mais próxima da eletrólise da água, processo mais comum para produção de hidrogênio. O terceiro envolve o melhor aproveitamento da vinhaça, subproduto líquido da fabricação de etanol – são entre 10 e 14 litros para cada litro do combustível –, que já tem aplicação na fertirrigação dos próprios canaviais e na produção de biometano. Levando-se em consideração a produção nacional de etanol em 31,2 milhões de m3, segundo levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), é possível ter uma ideia das oportunidades para a cadeia produtiva sucroenergética no negócio de H2V. Novos pontos de conexão entre empresas que atuam no agronegócio surgem nessa linha de aplicações. A Yara Brasil, uma das principais fabricantes de fertilizantes, fechou contrato com a Raízen para o fornecimento diário de 20 mil m3 de biometano para sua unidade em Cubatão (SP). O volume equivale a 3% da demanda total (700 mil m3) da unidade. Novas tecnologias desenvolvidas pela Yara Brasil podem transformar o biogás, produzido a partir de vinhaça e torta de filtro, em insumo para a fabricação de amônia verde, que, segundo a empresa, é considerada uma das maneiras mais seguras e

Reportagem de Capa

Ag

econômicas para armazenar e transportar o hidrogênio verde, devido à sua complexidade. Portanto, desempenhará um papel fundamental na nova economia de hidrogênio. No campo da pesquisa, o Senai também aparece de mãos dadas com a Federação Alemã de Associações de Pesquisa Industrial (AIF). A parceria envolve investimentos de R$ 21 milhões destinados a pequenas e médias empresas, startups e organizações de pesquisa e tecnologia, do Brasil e da Alemanha. O objetivo é financiar dez projetos de desenvolvimento de tecnologias voltadas à produção de hidrogênio verde. A aproximação entre os dois países, por meio de seus centros de pesquisa e inovação, estimula ainda a troca de expertise no setor. Diversos exemplos mostram que o hidrogênio verde está no centro dos holofotes. Um caso interessante é o da Shell Brasil, que investe em H2V na região norte do Rio de Janeiro. A companhia iniciou, no ano passado, uma parceria com o Porto do Açu para o desenvolvimento conjunto de uma planta-piloto voltada à geração de hidrogênio verde no local. A verba que a Shell Brasil destina à planta-piloto integra um montante que poderia chegar a US$ 120 milhões, atendendo o compromisso com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) de aplicar uma porcentagem de sua receita bruta anual em projetos que estimulem a pesquisa e a adoção de novas tecnologias no setor de energia. Segundo a organização de Porto do Açu, já existe ali o maior parque termelétrico a gás da América Latina, com 3 GW, e está em desenvolvimento outro parque, de energia eólica e solar, que chegará a 2,4 GW. A nova unidade, com previsão de estar pronta em 2025, terá capacidade inicial de 10 MW, com possibilidade de chegar a 100 MW. De acordo com a Shell Brasil,

O HIDROGÊNIO PODERÁ REVIGORAR TAMBÉM O TRANSPORTE TERRESTRE PLANT PROJECT Nº39

25


No processo de transição energética, os ventos e a luz solar tendem também a ganhar cada vez mais destaque

foto: Shutterstock

Ag Reportagem de Capa

parte do hidrogênio gerado no local ficará armazenada antes de seguir para potenciais consumidores. O remanescente abastecerá a planta de geração de amônia renovável. Como a principal condição para o hidrogênio ser considerado verde é que seja gerado a partir de fontes renováveis, sua expansão consequentemente alimenta e aquece os setores que estão nessa base. Os ventos e a luz solar tendem a ganhar cada vez mais destaque nesse processo. Conforme o levantamento da McKinsey, até 2040 as duas modalidades deverão responder por 47% da capacidade total instalada de geração de energia elétrica no Brasil, ultrapassando a energia de origem hidrelétrica, fóssil e de biomassa. Em termos de mercado potencial adicional, a consultoria estima US$ 5 bilhões até 2030 e US$ 11 bilhões até 2040. O horizonte favorável à entrada do hidrogênio verde na matriz energética também chamou a atenção da maior companhia do setor elétrico da América Latina. Os passos da Eletrobras nesse mercado a colocam na posição de pioneira. A empresa gerou as primeiras toneladas do H2V no País a partir de um projeto-piloto implantado em 2021 na Usina Hidrelétrica de Itumbiara, 26

na divisa entre Minas Gerais e Goiás. A meta era realizar uma análise detalhada sobre viabilidade da tecnologia de geração do H2V por eletrólise, com base nos custos de produção, operação e manutenção do empreendimento, eficiência e durabilidade dos equipamentos, qualidade do gás gerado e aspectos relacionados à sua reconversão em energia elétrica. A Eletrobras confirmou já ter condições de aplicar em grande escala o conhecimento desenvolvido até agora, com projetos de grande porte. São muitos os fatores que direcionam o hidrogênio verde para um horizonte promissor, mas os desafios persistem. Entre eles, a McKinsey destaca a regulamentação do setor, que precisa ser aprimorada. A McKinsey chama a atenção também para a aplicação final do H2V e seus derivados e a formação da cadeia de transporte para o gás renovável, etapa que pode elevar o custo total de produção. Segundo a consultoria, “capturar de maneira eficaz as oportunidades dentro da realidade da nova economia verde dependerá de ecossistemas colaborativos”. O hidrogênio verde é um caminho sem volta. E o melhor: o Brasil está pronto para liderar as transformações trazidas pela nova era.



foto: Shutterstock

Ag Commodity

28


CÍRCULO VIRTUOSO Perspectiva de boa safra da cana-de-açúcar anima o setor, fortalece a posição do Brasil como player global e injeta recursos para novos investimentos em produtividade Por Lucas Bresser

PLANT PROJECT Nº37

29


Ag Commodity

Brasil verá em 2023/24 uma das maiores safras de cana-de-açúcar da história. Clima favorável, ganhos em produtividade e investimentos em inovação deverão resultar na moagem de 660,6 milhões de toneladas, conforme estimativa da consultoria Job Economia. O número fica ligeiramente abaixo do recorde nacional de 665 milhões de toneladas apurado em 2015/16 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. No Centro-Sul do País, responsável por cerca de 90% da produção nacional, a expectativa é de recorde na moagem: 624,5 milhões de toneladas, segundo a Datagro. Essa previsão também supera a marca histórica de 2015/16, quando os estados da região moeram 623,1 milhões de toneladas. Os bons números representam uma oportunidade de expandir ainda mais a produção e exportação de açúcar. Atualmente, o Brasil é o principal player açucareiro no mundo, respondendo por aproximadamente metade do comércio global. Segundo a última previsão da Job, a produção de açúcar deverá chegar a 42,7 milhões de toneladas em 2023/24, contra 40,4 milhões na previsão inicial e 37 milhões no ciclo anterior. Já a Conab projeta um número ligeiramente mais modesto, de 40,8 milhões de toneladas, mas ainda muito próximo da máxima histórica, de 41,2 milhões de toneladas, observada em 2020/21. De acordo com a Job, a perspectiva é de que o Brasil exporte um recorde de 32,2 milhões de toneladas de açúcar, contra 29,8 milhões na previsão inicial e 27,1 milhões na temporada passada. O recorde anterior era de 2020, com 32 milhões de toneladas. O cenário benéfico à indústria do açúcar é impulsionado pelos bons preços de exportação. A UnicaData, plataforma de dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, mostra que, em julho de 2023, os valores praticados na venda ao exterior chegaram a US$ 506 por tonelada e

30

foto: Shutterstock

O

Julio Borges, sócio-diretor da consultoria job: “O Brasil é o principal player de açúcar no mercado internacional”


a US$ 490 por tonelada em agosto. Esses são os melhores preços desde fevereiro de 2013. Considerando o cenário de câmbio mais favorável à exportação atualmente, é irresistível tomar proveito da boa produtividade para priorizar a venda externa de açúcar. “O Brasil é, de forma clara, o principal player de açúcar no mercado internacional e essa condição tende a ser ampliada devido a sua competitividade”, diz o sócio-diretor da Job, Julio Borges. A boa produtividade das lavouras na safra 2023/24 é um dos principais fatores que explicam o momento positivo. E, embora o fator climático seja fundamental, ele não é o único. Com capital disponível graças aos bons resultados dos últimos dois anos, as empresas investiram e, agora, colhem os frutos. “Os ganhos na produtividade agrícola dos canaviais da região Centro-Sul têm sido expressivos durante a safra 2023/24, fruto das

boas condições climáticas e, também, dos investimentos em renovação e em tratos culturais”, analisou a Datagro, em comunicado. Nos últimos anos, essa cadeia de produção passou por transformações significativas, impulsionadas por fatores que melhoraram a eficiência e a sustentabilidade no plantio e no processamento. Segundo a Datagro, em julho, o Centro-Sul registrou média de 98 toneladas de cana-de-açúcar por hectare, aumento de 23,4% sobre o mesmo mês do ano passado. De abril a agosto, a produtividade agrícola atingiu uma média de 93,5 toneladas por hectare, crescimento de 22,8% sobre o mesmo período de 2022/23. “Durante o período de crise do setor, em que a rentabilidade era muito baixa, a despeito de se ter uma boa condição climática em vários anos, tivemos uma safra que não foi satisfatória”, diz Luciano Rodrigues, diretor de Inteligência Setorial da Unica. “Agora que viemos de dois anos relativamente bons de receita, foi possível PLANT PROJECT Nº39

31


Ag Commodity

Luciano Rodrigues, diretor da unica: “agora que viemos de dois anos bons, foi possível investir em manejos adequados”

32

investir em melhorias, manejos culturais adequados e novas variedades.” Boa parte dos resultados deve ser atribuída ao avanço tecnológico. Entre as inúmeras tecnologias aplicadas nas lavouras estão os sensores agrícolas, utilizados para monitorar o crescimento das plantações, permitindo uma gestão mais precisa e eficiente. A automação de colheita e os tratores autônomos reduzem custos e melhoram a qualidade do corte. O desenvolvimento de variedades de cana-de-açúcar mais resistentes a pragas e doenças também é uma prioridade. Isso não apenas aumenta a produtividade, mas reduz a necessidade de defensivos agrícolas. Por sua vez, técnicas de melhoramento genético têm gerado plantas mais adaptadas às condições climáticas e ao solo. E as técnicas


o etanol e outras fontes de energia colocaram o Brasil como protagonista da agenda sustentável global

– entre 20 e 30 dias de consumo. Apesar do boom de açúcar, o etanol mantém uma posição de destaque, com ajudinha do milho. Segundo a Datagro, a estimativa de produção total foi elevada de 31,73 bilhões para 32,3 bilhões de litros (o que inclui 6,1 bilhões de litros de etanol de milho). Isso representa um aumento de 11,7% em relação ao ciclo anterior. Para a Unica, não apenas o etanol, mas outros combustíveis e fontes de energia seguirão colocando o Brasil em posição de protagonista e inserindo o País cada vez mais na agenda sustentável global. “Temos etanol de cana, de milho, etanol de segunda geração, bioeletricidade da palha, do biogás, e o próprio biometano, que pode ser utilizado para substituir diesel na frota pesada”, diz Luciano Rodrigues. “Hoje, o setor busca produzir com menor pegada de

fotos: Shutterstock

de agricultura de precisão reduzem o uso de água e químicos, enquanto favorecem a conservação. Além disso, a gestão inteligente de estoque e transporte contribui para a diminuição de desperdícios. Mas, essencialmente, é o cuidado direto com a lavoura que ajuda a melhorar os números de produção. “O principal investimento observado está relacionado ao manejo, notadamente a renovação das lavouras, e ainda a recuperação de áreas anteriormente cultivadas, o que vem proporcionando o incremento da produtividade”, diz Gabriel Rabello, gerente de Fibras e Alimentos Básicos da Conab. Graças a esses fatores, à força do açúcar e ao relevante mercado interno e externo de combustíveis renováveis, a Job projeta estoques “mínimos” de açúcar e etanol ao fim da safra 2023/24

PLANT PROJECT Nº39

33


Ag Commodity produzir com menor emissão de poluentes gera mais receitas e permite às empresas explorar novos e promissores mercados

ESCALADA A produção de cana-de-açúcar no Brasil, em milhões de toneladas 2014/15

634,7

2015/16

665,5

2016/17

657,1

2017/18

633,2

2018/19

620,4

2019/20

642,7

2020/21

654,5

2021/22

585,1

2022/23

610,8

2023/24

652,9 (estimativa) FONTE: CONAB

A FORÇA DO EXTERIOR

carbono. Desde a implementação do RenovaBio, as empresas têm de ser auditadas, certificadas. Produzir com menor emissão gera mais receita e permite explorar novos mercados.” Nesse círculo virtuoso, em que os bons resultados de safras anteriores alimentam os investimentos para os ciclos seguintes, as perspectivas são animadoras. “O investimento em otimização, aquele em cima da capacidade atual, tem sido feito e vai continuar”, diz Julio Borges. “A área de cana vai aumentar e veremos principalmente investimento em mais produção de açúcar, pois a indústria opera com plena capacidade, e vai acabar ficando cana em pé.” Todos concordam, no entanto, que o clima precisa colaborar, inclusive para esta safra. “Muito do potencial de produção do ano que vem vai ser direcionado pelos próximos meses”, diz Luciano Rodrigues. Que o El Niño pegue leve.

Os principais destinos do açúcar brasileiro exportado em 2023 CHINA

1,66 MILHÃO

ARGÉLIA

1,22 MILHÃO

NIGÉRIA

1,17 MILHÃO

ARÁBIA SAUDITA MARROCOS

DE TONELADAS

DE TONELADAS

DE TONELADAS

1,17 MILHÃO DE TONELADAS

1,15 MILHÃO DE TONELADAS

foto: Shutterstock

FONTE: UNICADATA

34



foto: Shutterstock

Ag Ambiente

36


O DILEMA DA CERTIFICAÇÃO Grandes grupos agrícolas aderem em peso ao selo internacional RTRS, mas médios e pequenos produtores de soja ainda questionam a complexidade de adequação P or P aula P acheco

PLANT PROJECT Nº38

37


N

em tão veloz e lucrativa como se esperava nem tão lenta e frustrante como se previa no pior cenário. A passos moderados, avança a certificação da soja e do milho brasileiros de acordo com os critérios da Associação Internacional da Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês). Ainda há, porém, muita incerteza entre os produtores, especialmente os médios e pequenos, sobre os ganhos financeiros que o atendimento pleno às exigências para a obtenção dos diplomas de produção ambiental, social e de governança pode acarretar. As maiores companhias nacionais de produção do grão aderiram de modo consistente aos protocolos, mas o ritmo de adesões da maioria dos agricultores do setor ainda não é considerado o ideal. “O prêmio está aquém das expectativas”, avalia o diretor de RH, Sustentabilidade e TI do grupo SLC Agrícola, Álvaro Dilli. “Para muitos agricultores, receber apenas US$ 2 a mais por tonelada de grãos de produção certificada não é significativo para a tomada de uma decisão que implica em custos altos, processos bastante complexos e ganhos, até aqui, inferiores aos que eram projetados desde 2006, quando a RTRS foi fundada”, acrescenta. Naquele período, acreditava-se que a adesão dos compradores à certificação seria tão grande que toda a soja brasileira poderia migrar, integralmente, para aquele modelo de produção, repleto de normas de sustentabilidade ambiental, social e de governança. Apesar do ritmo constante de adesões, a

38

foto: Divulgação

Ag Ambiente

Juliana Lopes, da Amaggi: “da perspectiva do produtor, a mudança na gestão é o ponto mais sensível”

meta de 100% de produção certificada ainda está distante. No caso da soja, a aderência aos protocolos da RTRS no País chega a 303 fazendas certificadas, que representam 1,5 milhão de hectares plantados. Já os compradores somaram 200 até 2022. Nos últimos dez anos de certificação, registra-se uma média de crescimento anual em verificações entre 5 e 10%. Com base nessa tendência, a entidade projeta que o selo RTRS deva alcançar um volume próximo a 8 milhões de toneladas certificadas em 2023. A partir de 2022, a entidade internacional, fundada em 2006, passou a incluir a certificação do milho entre as suas atribuições. No primeiro ano, foi registrada no Brasil a adesão de apenas três produtores e uma cooperativa, segundo Cid Sanches, consultor externo da RTRS no Brasil. No entanto, há uma série de auditorias em andamento, cujo ritmo deve se acelerar em novembro e dezembro, com novas adesões previstas para os meses de março e abril. Desde o início do ano passado, o milho produzido no Cone Sul atingiu 653 mil toneladas verificadas neste primeiro ano. Destas, 489.827 toneladas saíram de lavouras brasileiras, 153.182 toneladas foram produzidas na Argentina e 10.144 toneladas, no Uruguai. Em 2023, a produção brasileira de milho certificado deverá alcançar 1 milhão de toneladas. Os produtores que buscam o aval RTRS


foto: Shutterstock

PLANT PROJECT Nº38

39


Ag Ambiente precisam atender 27 quesitos e se enquadrar em mais de uma centena de indicadores. O pacote de exigências vai desde questões maiores da organização das lavouras, como cobertura verde e manutenção das reservas legais, até detalhadas regras de logística como o estabelecimento de distâncias seguras em alojamentos de funcionários e depósitos de defensivos agrícolas. A SLC Agrícola aderiu ao milho certificado em 2023 e já tem uma trajetória consolidada como a maior produtora mundial de soja RTRS. A produção é de cerca de 800 mil toneladas anuais, num total de 220 mil hectares plantados. Se para os pequenos e médios produtores a remuneração extra de US$ 2 por tonelada pela certificação não provoca ganhos significativos em receitas, para as dimensões da colheita da SLC o impacto é positivamente sensível. O grupo projeta para este ano um acréscimo de R$ 10 milhões à sua receita com a soja certificada. A jornada da certificação na SLC começou em 2008, quando a RTRS ainda estava em fase de estruturação. A primeira certificação veio em 2011. “Acreditamos desde o começo que o futuro da agricultura seria por meio da certificação, com o compromisso da responsabilidade e da sustentabilidade”, diz o diretor Dilli. “Entregar uma soja diferenciada, avaliada por uma terceira

40

parte, nos dava a certeza de que o produto chegaria a qualquer mercado.” Atualmente, apenas 1,5% da soja comercializada no mundo é certificada. A expectativa do diretor é de que esse mercado se desenvolva, atingindo nos próximos anos 4,5% e, no futuro, ao menos 15%. O crescimento, na sua avaliação, “geraria um círculo virtuoso no mundo que resolveria, por exemplo, os problemas relacionados à franja amazônica”. Neste ano, com cerca de 135 mil hectares de milho na mesma plataforma RTRS, Dilli aposta no ganho em reputação, já que, por ora, a SLC não recebe nenhum adicional pela venda desse grão. Outra gigante da soja, a Amaggi também tem parte da sua produção de soja certificada pela RTRS. Assim como a SLC Agrícola, a empresa participou desde o começo do projeto de reconhecimento das regras RTRS. A diretora de ESG, Comunicação e Compliance da Amaggi, Juliana Lavor Lopes, lembra que foram necessários cinco anos até que se chegasse aos critérios que balizariam a certificação do grão. “Tomar parte nas discussões no âmbito da RTRS nos ajudou a dar celeridade à implementação dos protocolos”, diz a executiva. “Com boa parte das exigências já adotadas nas propriedades, graças a certificados como a ISO 14.001, a Amaggi foi a primeira


foto: Divulgação

Alessandra Fajardo, da Bayer: “O custo da transformação deve ser compartilhado por toda a cadeia”

midade com a regras internacionais. Antiga entusiasta da certificação, a Bayer aderiu ao RTRS em 2013. Hoje em dia, o papel da multinacional é desenvolver ações de fomento para a adoção do selo. Um exemplo é dar ganho de pontos do programa de relacionamento da empresa, o Impulso Bayer, aos produtores que fazem a pré-auditoria ou a auditoria da RTRS. Diretora de Alianças da Cadeia de Valor Alimentar da Bayer para a América Latina, Alessandra Fajardo diz que o alcance da soja com certificados

fotos: Shutterstock

empresa a ser certificada e a implementar as novas práticas junto a um grupo de fornecedores.” Segundo a diretora da Amaggi, o maior desafio trazido pela decisão de adotar a RTRS foi a mudança de cultura no processo de gestão, não só nas propriedades próprias, mas também nas de parceiros. “Da perspectiva do produtor, a mudança na gestão é o ponto mais sensível, mas, quando há a compreensão dos ganhos, ganha-se corpo mais rapidamente”, afirma. Produtores parceiros da Amaggi têm conseguido obter a certificação, em média, oito meses após o início do processo. O fornecedor da Amaggi adere ao RTRS de forma voluntária. Já a produção própria da empresa é 100% certificada. Mesmo quem opta por não investir no selo tem de atender a critérios mínimos socioambientais. É preciso seguir a legislação relacionada à moratória da soja, provar não fazer parte da lista suja do trabalho análogo à escravidão, estar fora do rol de embargo do Ibama e dos órgãos estaduais e respeitar unidades de conservação e de terras indígenas. O trabalho de monitoramento também é feito pela Amaggi. Diariamente, as áreas dos fornecedores – cerca de 17 milhões de hectares – são monitoradas via satélite. No ano passado, menos de 1% da soja de terceiros foi bloqueada por não estar em confor-

PLANT PROJECT Nº38

41


foto: Divulgação

Ag Ambiente

Rodrigo Visentini, da unilever: “Estamos cada vez mais engajados em engajar os nossos parceiros”

como a RTRS tem potencial para crescer. “Mas não pode achar que vai ter transformação no campo e que o custo todo será do agricultor, sem ser compartilhado por toda a cadeia”, afirma a executiva. “O gargalo que vemos não está em encontrar gente que queira certificar, mas que queira comprar a produção certificada. A Unilever está entre as empresas que aderiram à soja com certificação RTRS para ampliar o impacto positivo nas cadeias de fornecimento. A intenção é trazer mais fornecedores indiretos para o grão sustentável, explica o líder de Nutrição da Unilever Brasil, Rodrigo Visentini. A adesão confirma o esforço da companhia e de suas marcas em construir soluções sustentáveis, que também atendem a um consumidor mais exigente. “Estamos empenhados em engajar nossos parceiros, fornecedores e pequenos produtores agrícolas, em escala local e global, para impulsionar a mudança sistêmica que se faz necessária em toda a cadeia”, diz Visentini.

O PASSO A PASSO DA CERTIFICAÇÃO CONHEÇA OS CAMINHOS PARA OBTER O SELO RTRS A produção certificada RTRS pode ser adquirida de duas formas. A primeira envolve a transação física, na qual as empresas trading, cooperativas ou processadoras devem comprovar a completa rastreabilidade da produção agrícola, em todas as suas etapas. Outra alternativa é a negociação por meio de Créditos RTRS, separando o produto físico da venda do certificado diretamente ao comprador final. Segundo a Associação Internacional de Soja Responsável, embora a maioria 42

das transações ocorra com empresas associadas à RTRS, as indústrias podem utilizar a plataforma online mesmo sem serem membros da organização. A definição do prêmio a ser negociado entre o produtor rural certificado e a empresa compradora é uma decisão livre e flexível. A RTRS não participa dessa negociação. Os produtores podem optar por se associar à RTRS ou permanecer certificados como independentes. No entanto, segundo a entidade, quem opta por não se associar

não tem voto nas assembleias e não participa das decisões da entidade. A despeito da filiação à RTRS, os produtores certificados têm a oportunidade de utilizar a plataforma da organização para facilitar suas transações comerciais com compradores. Anualmente, são realizadas auditorias por organismos de certificação credenciados no Brasil. Os produtores rurais têm a liberdade de escolher o organismo que conduzirá essa avaliação em suas operações.


TECNOLOGIA DO CAMPO, PARA O CAMPO.

, ,

Operacao de transbordo e , colheita da cana

GRUNNER

@GRUNNERTEC

(14) 3263.2632 - Institucional | (14) 99646.9888 - Comercial

ACESSE NOSSO SITE


Ag Commodity

A VEZ DO ALGODÃO Com a maior produtividade do mundo, cotonicultura brasileira vira referência de cadeia rastreada, sustentável e moderna

foto: Shutterstock

P or T úlio F rança

44


PLANT PROJECT Nº39

45


m meio à quebra de recordes da atual safra de grãos, vem da pluma do algodão mais uma conquista do agronegócio brasileiro. Há um consenso de que, quando as contas finais forem feitas, no início do próximo ano, o topo do ranking mundial de exportações do produto sofrerá uma inversão. Perdem a liderança os Estados Unidos, em razão de adversidades climáticas em seu maior estado produtor, o Texas, e sobe ao degrau mais alto do pódio o Brasil, que atravessou os períodos de plantio, desenvolvimento e colheita da fibra sem grandes sobressaltos nas regiões das maiores lavouras, no Centro-Oeste e sul da Bahia. Além disso, a cotonicultura nacional tem se beneficiado de um grande movimento de modernização da produção, iniciado na virada deste século. Em setembro, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mais uma vez revisou para baixo sua projeção de exportações do algodão do país, ao mesmo tempo que reconheceu que as vendas do produto brasileiro devem subir até o final da colheita. Na aferição mais recente das autoridades americanas, as suas vendas externas deverão recuar de 12,5 milhões de fardos para 12,3 milhões, enquanto o Brasil exportará 550 mil fardos a mais 46

do que o projetado anteriormente, atingindo agora 11,8 milhões. O relatório oficial do USDA coincide com a avaliação da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), que desde o primeiro semestre sinaliza o crescimento das vendas do algodão brasileiro para o exterior. O avanço do algodão brasileiro no mundo é em tudo consistente. Investimentos em modernização das lavouras resultaram no fato de o País ter hoje a maior produtividade do mundo nessa cultura. “Deixamos a posição de principal importador de algodão, como ocorria há 20 anos, para a liderança das exportações do setor agora”, diz o diretor de Relações Internacionais da Abrapa, Marcelo Duarte. “Mesmo que os Estados Unidos reassumam a liderança na próxima safra, até 2030 o primeiro lugar em vendas externas deverá ser firmemente do Brasil.” De acordo com a ApexBrasil, as exportações de algodão devem representar perto de US$ 4 bilhões na atual safra, com 99% do produto destinado para o mercado asiático. A criação, em 1999, da entidade nacional dos produtores é tida como um marco na virada do algodão nacional. Novas técnicas passaram a ser disseminadas, com resultados impressionantes


foto: Shutterstock

Commodity

foto: Shutterstock

mesmo em um agronegócio acostumado a casos de sucesso. Em 1997, o Brasil figurava na segunda posição entre os maiores importadores da fibra. Uma década e meia depois, na safra 2021/22, o País já havia desbancado a Índia do segundo lugar entre os líderes de exportação, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, agora prestes a perderem formalmente a liderança. Uma aliança entre a entidade de produtores e a Agência de Exportações, por outro lado, significou a maior divulgação do produto no mundo e a abertura de um escritório comercial em Singapura, responsável pelas vendas na Ásia. Atualmente, o continente consome 99% do algodão exportado pelo Brasil. Desse total, na safra 2021/22, 27% das compras foram feitas pela China e o restante por Vietnã (16%), Turquia (13%) e Bangladesh (12%). A fibra nacional passou a ter como destinos, ainda, Paquistão, Indonésia, Malásia, Coreia do Sul, Índia e Tailândia. No todo, o produto nacional atinge 20% do mercado global. A ascensão do Brasil no mercado internacional de algodão está alicerçada em princípios sustentáveis e um aumento de produtividade sem precedentes: na temporada 1989/1990, de

Ag

Gilvan Ramos, analista da Embrapa: “o brasil experimentou um crescimento significativo na produtividade do algodão nas duas últimas décadas”

acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada com a pluma no País foi de 4 milhões de hectares, com uma produção de 557,40 mil toneladas. Já para o atual ciclo 2022/23, a Abrapa projeta uma área de 1,6 milhão de hectares e safra acima de 3 milhões de toneladas. Isso significa que, em pouco mais de 30 anos, a cotonicultura brasileira reduziu sua área em 60% e aumentou a produção em mais de 400%. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também teve uma contribuição efetiva para o salto expressivo da cotonicultura nacional a partir dos anos 2000, quando a atividade começou a se destacar no Cerrado. “O Brasil experimentou um crescimento significativo na produtividade do algodão ao longo das últimas duas décadas”, afirma Gilvan Alves Ramos, analista da Embrapa Algodão. “Isso foi resultado de avanços tecnológicos, melhores práticas agrícolas, pesquisa genética e uma combinação de fatores favoráveis, incluindo clima adequado e disponibilidade de terras.” Muito suscetível ao ataque de pragas, o algodão sofreu baixas relevantes ao longo da PLANT PROJECT Nº39

47


Lisane Castelli, líder da Corteva: “ao trazer tecnologia, você acaba produzindo mais com menos”

história até se consolidar como uma importante commodity do agronegócio brasileiro. As doenças do algodoeiro mudaram a geografia da cultura no Brasil. Na década de 1970, os principais estados produtores do País eram Paraná, São Paulo e Ceará. Atualmente, Mato Grosso e Bahia são responsáveis, juntos, por aproximadamente 90% da produção brasileira. O maior volume sai do Centro-Oeste, com 70% da produção. Municípios como Sapezal (MT) e São Desidério (BA) têm suas economias inteiramente vinculadas ao setor agrícola, sobretudo à cotonicultura – não à toa, figuram entre os mais ricos do agronegócio nacional. “A Embrapa Algodão diagnosticou que um aumento da eficiência dos sistemas produtivos seria imprescindível, e que a ambiência para isso estava no Cerrado brasileiro, em que se podia praticar um sistema de produção para médias ou grandes propriedades rurais, com alta produtividade e rentabilidade asseguradas”, diz o agrônomo Ramos. Noventa por cento da produção nacional é realizada em regime de sequeiro, sem irrigação. “Esse salto de produtividade do algodão é um grande exemplo para 48

foto: Shutterstock

Ag Commodity

todas as culturas do Brasil. Ao trazer tecnologia, você acaba produzindo mais com menos”, destaca Lisane Castelli, líder de Sorgo e Algodão da Corteva Agriscience para o Brasil e Paraguai. No que se refere à sustentabilidade, o Brasil também é protagonista. O programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) da Abrapa, criado em 2012, é estruturado em três pilares: ambiental, social e econômico. Desde 2013, o ABR atua em benchmarking com a Better Cotton Initiative (BCI): cerca de 85% da pluma produzida no País possui certificação socioambiental, em consonância com as exigências internacionais. “É uma cadeia extremamente organizada”, diz Castelli. “Os produtores conseguem trazer toda a parte de rastreabilidade para dentro da cultura, com uma preocupação muito forte com ESG e boas práticas agrícolas. As fazendas são auditadas, com área de preservação ambiental, tudo dentro dos padrões exigidos.” Para a líder da Corteva Agriscience, a maior ambição da cotonicultura brasileira é ser a mais eficiente do mundo, o que já é uma realidade. “O Brasil tem a legítima pretensão de ser o maior, mas com certeza já é o melhor produtor de algodão do mundo”, conclui a executiva.


Plant +

SMART MACHINES: AS MÁQUINAS INTELIGENTES DA GRUNNER QUE FAZEM A DIFERENÇA

N

Controle de tráfego realizado pelas máquinas agrícolas da empresa reduz a emissão de gases do efeito estufa e o consumo de combustíveis na colheita de cana-de-açúcar

os últimos anos, as lavouras brasileiras de cana-de-açúcar ficaram marcadas pela busca incessante por métodos sustentáveis de produção. Nesse contexto, a Grunner, empresa especializada no desenvolvimento de soluções tecnológicas para o campo, tem oferecido notável contribuição. Uma delas destaca-se por reduzir de maneira expressiva a emissão de gases do efeito estufa e o consumo de diesel na colheita nos canaviais. Trata-se do conceito conhecido como “controle de tráfego” na lavoura. Em linhas gerais, ele consiste em um sistema de produção agrícola que minimiza os efeitos adversos da colheita mecanizada, além de garantir a conservação do solo por mais tempo. Como isso é possível? O controle de tráfego é feito pelas Smart Machines produzidas pela Grunner, máquinas autônomas que executam a operação de colheita e aplicação de insumos sem pisotear as linhas de cana. O trabalho realizado pelas Smart Machines traz, de fato, resultados surpreendentes. “Além de contribuir para a redução da emissão de gases do efeito estufa, garantindo a diminuição da queima de combustível fóssil, o controle de tráfego na lavoura melhora a fertilidade e a saúde do solo”, diz Tedson Azevedo, especialista

em Desenvolvimento Agronômico da Grunner. A técnica, ressalte-se, também contribui para a diminuição da compactação do solo e o pisoteio das lavouras, o que amplia a produtividade da colheita por mais anos – e, portanto, gera maior rentabilidade para os produtores. Outro benefício apontado por Azevedo diz respeito a questões climáticas. “Quando se tem o controle de tráfego na lavoura, é possível retardar a manifestação do estresse hídrico, ou seja, a planta fica naturalmente irrigada por mais tempo”, diz. “Isso acontece porque ela apresenta um sistema radicular mais desenvolvido e com acesso à água em profundidade, fatores que, em um solo compactado, impossibilitam as raízes de alcançarem a fonte hídrica.” Os números da Grunner confirmam a eficácia do sistema de controle de tráfego. Nos últimos quatro anos, a frota de Smart Machines em operação no Brasil utilizou 50% menos combustível do que máquinas convencionais, evitando assim a emissão de 19,2 toneladas de gás carbônico equivalente (CO2eq) na atmosfera. Na nova era ambiental, desempenhos como esses fazem toda a diferença. PLANT PROJECT Nº39

49


Ag Investimentos

A EXPLOSÃO DOS FIAGROS Fundos de investimento em diferentes modalidades do agronegócio viram febre no mercado e atraem investidores de todos os portes Por Marco Damiani e César H. S. Rezende


foto: Shutterstock


foto: Shutterstock fotos: Divulgação

Woody Macedo, da ERC Fazendas: segundo ele, o valor das terras com capacidade produtiva não para de crescer no brasil

52

U

ma verdadeira febre tomou conta da Bolsa de Valores, e suas causas estão diretamente relacionadas ao crescimento do agronegócio. Atende pelo nome de Fiagro, os fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais. Criado oficialmente em março de 2021, em pouco mais de dois anos se multiplicou na forma de 35 opções de escolha para pessoas físicas e jurídicas. Em relação ao ano passado, o crescimento do volume de recursos amealhados cresceu 45%, dando um salto de R$ 6 bilhões para R$ 8,7 bilhões. Trata-se de um dinheiro que amplia as formas de captação de recursos privados pelo produtor rural, o que pode ocorrer na forma de integração de imóveis a esses fundos, incremento financeiro nas cadeias produtivas e participação direta em ações e títulos de empresas do setor rural. “O agro tem a necessidade permanente de financiamento, mas cresce a passos mais largos do que a oferta de crédito tradicional”, afirma Marielle


Investimentos

Brugnari, gerente de Produtos de Commodities da Bolsa de Valores de São Paulo. “Os Fiagros criam uma linha direta entre o mercado de capitais e o agronegócio, proporcionando uma nova fonte de recursos.” Para os cotistas, os rendimentos vêm da valorização de imóveis rurais, recebíveis pela venda da produção, participação em sociedades de empresas rurais e pagamento de juros pelos tomadores. Entre janeiro do ano passado e junho deste ano, a participação de pessoas físicas nos Fiagros cresceu dez vezes, de 33 mil para 308,5 mil. Um dos principais motivos para a adesão em massa está no benefício tributário de isenção do Imposto de Renda. Outro ponto de atração é o rendimento. Tome-se como exemplo o FZDA11, administrado pela XP Investimentos e lançado em setembro do ano passado. Desde lá, rendeu 59,99% até junho deste ano. A sustentação do fundo está em terras adquiridas na região do Matopiba, uma extensão de cerrado que abrange os estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O nome vem da junção dos fonemas iniciais de cada um deles. Ali, a atividade agrícola data do início dos anos 1980, mas há muito por explorar. “A região é propícia para a produção de soja, milho, algodão e madeira”, elenca Leandro Bortolon, pesquisador da Embrapa. Por meio de contratos de arrendamento indexados aos valores das commodities agrícolas, os administradores do fundo obtêm os recursos que remuneram os investidores. Especializado em vendas e arrendamentos de imóveis rurais, o corretor Woody Macedo, da ERC Fazendas, atua em oito estados a partir de seu escritório em José Bonifácio, na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Ele atesta que o valor das terras com capacidade produtiva não para de crescer. “Cinco anos atrás, 1 alqueire nesta região valia R$ 250 mil, mas hoje em dia não sai por menos de R$ 600 mil”, diz ele, que possui experiência de 15 anos no mercado. “Em regiões mais distantes, longe de cidades maiores e sem boas condições para o escoamento da produção agrícola, o alqueire que antes custava em torno de R$ 60 mil agora está em torno de R$ 150 mil.” Existem três modalidades de Fiagros no Brasil: o de direitos creditórios (Fiagro-FIDC), o imobiliário (Fiagro-FII), e em participações (Fiagro-Fip). No primeiro caso,

Ag

marielle brugnari, da b3: “os Fiagros criam uma linha direta entre o mercado e o agronegócio, proporcionando uma nova fonte de recursos”

O PERFIL DOS INVESTIDORES As pessoas físicas são as mais interessadas pela modalidade

92,7% 6,3% 0,5% 0,5%

investidores pessoas físicas investidores profissionais instituições financeiras estrangeiros

PLANT PROJECT Nº39

53


Ag Investimentos

EVOLUÇÃO CONTÍNUA Os fundos se multiplicaram desde o início do ano passado Número de Fiagros

9 25 28 35

54

Data

Janeiro/22 Agosto/22 Março/23 Agosto/23

os investidores adquirem recebíveis de vendas de produtos agrícolas ou pecuários. O segundo tipo é voltado para investimentos em terras rurais, o que permite que os investidores comprem cotas lastreadas em imóveis rurais. Por último, no Fiagro-Fip, os recursos são investidos em empresas do agronegócio, como agroindústrias e outros empreendimentos relacionados. No exterior, os fundos agrícolas são uma realidade há bastante tempo. Nos Estados Unidos, os Real Estate Investment Trusts (REITs) assemelham-se aos Fiagros imobiliários brasileiros, permitindo investimentos em propriedades e imóveis comerciais. No Canadá, os fundos de investimento em infraestrutura são uma modalidade popular de investimento voltada para infraestrutura pública, como portos, rodovias e ferrovias – boa parte dela é destinada a escoar a produção agrícola. Na Austrália, os fundos de investimento em commodities agrícolas são populares e investem em commodities agrícolas, como trigo, soja, milho e algodão. No Brasil, a maior parte dos Fiagros, em razão da valorização do preço da terra e do potencial de subir ainda mais, aplica os recursos do investidor em imóveis rurais. Pelas regras estabelecidas pelas autoridades, as pessoas físicas só podem ter acesso a esse modelo de fundos, já que os que atuam no apoio financeiro à cadeia produtiva do agro e os que compram participações societárias em empresas do setor são restritos a investidores profissionais ou qualificados, com mais de R$ 1 milhão para aplicar. “Os Fiagros são uma revolução feita a muitas mãos”, define o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), autor da lei que criou esses fundos. “Eles proporcionam instrumentos mais estáveis para o produtor, muitas vezes com taxas melhores do que as fontes tradicionais de crédito, como o financiamento bancário, e com absoluta segurança jurídica.” Na B3, a forte adesão aos Fiagros pelo público não causou surpresa. “Dada a importância do mercado do agronegócio, que representa quase um terço do PIB brasileiro, o crescimento já era esperado, mas o potencial ainda é enorme”, diz Marielle Brugnari, da B3. “Esse crescimento tem acontecido de maneira rápida, muito ligado às necessidades de financiamento por parte do setor agrícola, à própria expansão do mercado de capitais e ao crescimento da base de investidores em mercado de bolsa”, completa ela. Para o agronegócio, portanto, as boas notícias vindas dos Fiagros devem continuar surgindo.



foto: Shutterstock

Ag Finanças

56


CAMPO DE ESTUDOS Bancos, consultorias e entidades rurais lançam ofensivas para levar educação financeira para pequenos e médios produtores Por Marco Damiani

PLANT PROJECT Nº37

57


fotos: Shutterstock

Ag Finanças

E

xemplo para o mundo em diversas frentes, o agronegócio brasileiro está desbravando, especialmente para os pequenos e médios produtores, uma nova e rica seara. Avança sobre o campo a educação financeira, que nos últimos tempos tem mostrado toda a sua capacidade de organizar as contas de propriedades familiares e melhorar os balanços das operações de médio porte. Sobre um arco de faturamento anual que se estende até R$ 5 milhões, entidades rurais, instituições financeiras e organismos de cooperação têm desenvolvido programas específicos para levar aos proprietários lições que vão da contabilidade básica a modelos sofisticados de investimentos. O desafio está em preservar e, sempre que possível, ampliar o capital dos produtores que, no mais das vezes, experimentam um mês de ganhos – na comercialização da safra – e outros 11 meses marcados por despesas sobre despesas. “O produtor nem sempre tem vocação para fazer

58

contas e planejamento financeiro”, diz Ana Paula Pichler, presidente do Instituto de Referência e Apoio a Projetos Assistenciais do Brasil (Irapa). “A gestão está no topo das atenções de todo e qualquer grande empreendimento no campo, mas muitas vezes os agricultores que ficam na parte inferior da pirâmide mal dão atenção a essa prioridade.” Mergulhado em um projeto de modernização da cadeia produtiva de cafeicultores de Minas Gerais que endereçam a sua produção a grandes processadoras, o Irapa ministra, em uma de suas vertentes, educação financeira para a agricultura familiar. “Transmitimos, de início, uma lição de disciplina e determinação”, diz a executiva. “Isso significa que uma pessoa destacada pela família terá de dedicar pelo menos 30 minutos diários para o acompanhamento das contas.” Ela acrescenta: “Com esse ponto focal, nós e a própria família passamos a saber quem será o responsável pelo controle financeiro, que não é, necessariamente, a


foto: Divulgação

muitas vezes, os pequenos produtores têm apenas um mês de ganhos – na venda da safra – e outros 11 meses de despesas

O educador financeiro Marcelo Hofmeister: “Registrar tudo de próprio punho ou em uma planilha de computador é importante”

mesma pessoa que lidera a produção”. Entusiasta e divulgador de educação financeira para o pequeno e médio produtor, Marcelo Hofmeister ensina que o fluxo de caixa anotado e detalhado é o passo determinante para o sucesso financeiro de qualquer empreendimento rural. “Registrar tudo de próprio punho ou numa planilha de computador e analisar os números é o segundo passo das minhas lições de educação financeira”, conta ele. “O primeiro é mostrar a importância de ter uma conta bancária para os gastos da família e outra para as despesas e receitas da empresa”, assevera. De fato, é comum haver muita confusão entre pessoa jurídica e pessoa física no campo, o que impossibilita qualquer organização financeira da produção. Hofmeister diz que contas separadas e fluxo de caixa para o produtor são como a carta náutica para os marinheiros: sem esses instrumentos, ambos sabem que estão produzindo e navegando, mas não onde irão chegar. Nesse PLANT PROJECT Nº39

59


Ag Finanças

terra render, com menos atenção para o lado administrativo do negócio. Formado em Administração de Empresas e hoje em dia um dos dirigentes da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, Hofmeister se destacou na turma 2020/21 do projeto CNA Jovem. Finalista do programa de formação de lideranças, seu projeto de conclusão foi, precisamente, a disseminação da educação financeira entre as pequenas e médias lavouras. Filho de viticultores na fronteira gaúcha com o Uruguai, ele atuou no sindicato rural de Pedras Altas, sua cidade natal, e se apaixonou, desde então, pelo associativismo. “Meu pai dizia que a atividade no campo não seria o objetivo principal dos filhos, exatamente porque não havia, tempos atrás, essa noção do agro como negócio, mas apenas como subsistência”, lembra. “Atualmente como administradores, eu e minha irmã vemos o nosso

foto: Shutterstock

contexto, a professora Ana Paula, do Irapa, lembra que a separação clara entre pessoa física e jurídica nem sempre é fácil de ser distinguida pelos produtores. “É comum que muitas despesas da casa e da família sejam lançadas na conta da empresa, o que leva o CPF a invadir o CNPJ e criar uma grande confusão de longo prazo”, adverte. De modo caricatural, o consultor Hofmeister sustenta que a cultura da desorganização financeira já foi muito enraizada no campo. “Até um tempo atrás, o pequeno e o médio produtor apenas juntavam notas fiscais numa pasta, entregavam uma vez por ano ao contador e depois esperavam para ver o que acontecia no Imposto de Renda”, diz ele. “A administração dessas propriedades sempre foi feita de modo empírico, e não em modelos modernos.” Na cidade, ao contrário, toda empresa nasce de olho na contabilidade, enquanto no campo a cultura sempre foi focada em fazer a

60


Os especialistas dizem que os produtores devem manter uma separação clara entre as contas pessoa física e jurídica

negócio familiar como um grande futuro e participamos da gestão junto aos meus pais.” Em suas palestras pela consultoria Safras & Cifras, Hofmeister destaca que nem sempre é bom para o agricultor vender a safra toda de uma vez. “O ideal é ter um bom planejamento de metas financeiras alinhadas ao fluxo de caixa”, afirma. “Mesmo se não houver altas, a venda ao longo do tempo cria um valor médio, o que vai compensar”, aponta. Outra dica é não comprar insumos de uma tacada só. Isso porque os preços costumam

estar mais altos nas épocas de plantio, quando todos compram muito. Planejar a aquisição por etapas pode levar o produtor a adquirir os mesmos insumos com menos dinheiro, aproveitando as variações para baixo. Para isso, ressalte-se, basta ter organização. Fernando Machado Bueno, consultor especializado em agronegócio da Ágora, o braço de investimentos no mercado financeiro do Bradesco, é mais um profissional que viaja pelo Brasil transmitindo lições de educação financei-

PLANT PROJECT Nº39

61


Ag Finanças

foto: Shutterstock

a boa gestão financeira do negócio permitirá aos agricultores dedicar mais tempo às atividades relacionadas ao campo

ra para os agricultores. “De modo geral, o pequeno e médio agricultor não têm o hábito de explorar as potencialidades dos fundos de investimento para alocar o dinheiro que entra com a comercialização da safra”, afirma. “Eu costumo divulgar as opções existentes, que vão muito além da renda fixa ou do Tesouro Direto.” Junto com a Bolsa de Valores de São Paulo, a Ágora desenvolveu um produto específico para a venda futura da produção. “Apresentamos ao produtor diversos indicadores que projetam o valor das commodities na temporada de venda”, diz Bueno. “Essa escolha dá a ele segurança para trabalhar durante o ano sabendo o quanto irá receber no tempo da safra.” O consultor financeiro ressalta que, ao final de seus encontros, é sempre muito procurado com dúvidas sobre os riscos de a venda antecipada não capturar uma eventual alta no momento da venda. Nesses casos, ele lança o desafio de o produtor colocar na balança a incerteza do valor da venda de última hora versus a tranquilidade da negociação antecipada, o que 62

tem ajudado a mudar velhos dogmas culturais. Os especialistas afirmam que, para mensurar o lucro real, é da maior importância o produtor incluir entre as despesas da safra o seu próprio pró-labore e o dos familiares que atuam na lida, e não apenas os gastos com salários e benefícios para os empregados. Só assim, após o pagamento das dívidas, que sempre deve ser o primeiro movimento financeiro da propriedade, ele vai saber quanto a safra rendeu e o que sobrará para o próprio bolso. Cada vez mais, dicas e conselhos como esses têm chegado aos produtores rurais que faturam anualmente até R$ 4,7 milhões. “Essa é a linha de corte da obrigação de detalhamento de ganhos para efeito de Imposto de Renda”, lembra Hofmeister. “Abaixo dessa faixa, o produtor muitas vezes é menos organizado financeiramente, mas a demanda para acertar receitas e despesas está sensivelmente maior em todo o país.” Conclusão: com educação financeira, o produtor certamente reforçará a sua safra de lucros.


Plant +

CH950 FAZ MAIS COM MENOS Colhedora de duas linhas da John Deere aumenta a produtividade dos canaviais e reduz em 30% o consumo de combustível nas lavouras

N

os últimos anos, o avanço tecnológico tem provocado grandes transformações no agronegócio brasileiro. No setor de cana-de-açúcar, as recentes inovações se devem, em boa medida, às máquinas desenvolvidas pela John Deere, especialmente para o mercado nacional. Uma delas, a colhedora CH950, chama a atenção pelos resultados robustos proporcionados aos produtores. “O principal diferencial da CH950 é fazer mais com menos”, afirma Maria Renata Gonçalves, especialista de Produto e Mercado para soluções em cana-de-açúcar da John Deere Brasil. A CH950 é uma colhedora de cana de duas linhas dotada da tecnologia RowAdapt™, que ajusta automaticamente os dois conjuntos de corte e alimentação. Entre outros atributos, ela conta com sistema de cortes de base independentes para espaçamentos de 1,4 m e 1,5 m. Afinal, o que significa isso? A tecnologia reduz a compactação e o pisoteio do solo, além de evitar danos a soqueiras. O resultado é o aumento da longevidade das plantas e a maior produtividade das lavouras. Os números comprovam a eficácia do equipamento. Segundo Maria Renata, a colhedora pode dobrar a produtividade dos canaviais, mas esta

não é a sua única qualidade. Em linhas gerais, a CH950 reduz em 60% a área compactada, o que estimula de maneira significativa a brotação e o desenvolvimento das soqueiras. Ela também leva à diminuição de 50% das perdas por estilhaço – equivalente a cerca de 3 toneladas por hectar – e, na frente da colheita, reduz em quase 36% a necessidade de mão de obra. Outro aspecto relevante é a vocação sustentável da CH950. Estudos feitos pela John Deere constataram que a colhedora corta em 28% o uso de tratores de transbordo. Além disso, por ser uma máquina de duas linhas, ela consome menos combustível do que duas máquinas de uma linha. Esses fatores associados levam à queda expressiva de 30% do consumo geral de combustível na frente da colheita. “Portanto, a CH950 é uma grande aliada da sustentabilidade”, diz Maria Renata. Atualmente existem 175 colhedoras CH950 operando em diversos estados brasileiros – e o número tem crescido em ritmo acelerado. Não é à toa. Afinal, é na operação do dia a dia que a maior qualidade da CH950 fica mais evidente: a inegável capacidade para fazer mais com menos. PLANT PROJECT Nº39

63


Ag Carros

PÉ NO ACELERADOR Picapes de todos os tamanhos – grandes, médias e compactas – ganham espaço no Brasil com o avanço irrefreável do agronegócio

foto: Shutterstock

Por André Sollitto

64


PLANT PROJECT Nº37

65


fotos: Shutterstock

Ag Carros

T

rata-se de uma clássica cena associada ao estilo de vida country dos Estados Unidos: o fazendeiro bate o pó das botas de couro, ajeita o chapéu, sobe na sua enorme picape e tranquilamente percorre as estradas de terra numa infinita planície cultivada, enquanto observa as lavouras ou as cabeças de gado. Antigamente, nessas cenas, a caminhonete seria bruta, prática, feita para aguentar os abusos da vida no campo. Um instrumento de trabalho e um meio de transporte, na essência. Hoje em dia, a realidade mudou. Essas picapes viraram símbolos de luxo, tecnologia e status. Algumas das versões superam o preço de US$ 100 mil, o que não impede que os modelos estejam sempre entre os mais vendidos dos Estados Unidos. Na comparação, o mercado

66

brasileiro para esse tipo de veículo ainda é pequeno, mas o potencial existe e vem sendo explorado pelas montadoras. Na edição deste ano da Expointer, a mais tradicional feira agropecuária, a Chevrolet apresentou pela primeira vez no País sua picape Silverado. A caminhonete grande, ou full-size, como modelos semelhantes são conhecidos nos Estados Unidos, será entregue por aqui apenas no ano que vem, mas já se esgotou na pré-venda. Jornalistas do setor automotivo foram até Esteio, no Rio Grande do Sul, para acompanhar a novidade. Não se tratou de uma ação inédita. Alguns meses antes, a Ford também havia mostrado a sua própria picape grande, a F-150, durante a Agrishow, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Outras empresas, como a


As picapes viraram símbolos de luxo, tecnologia e status para moradores do campo e das grandes cidades

Toyota, montam estandes nesses eventos para oferecer descontos e apresentar novidades em seus portfólios. É um movimento de aproximação ainda maior da indústria com o campo, consolidando de vez a antiga relação do público agro com as picapes. A nova tendência desse mercado é justamente a expansão da oferta de picapes full-size. Há poucos anos, esse era um setor de nicho, praticamente dominado pela Ram, do grupo Stellantis (que detém marcas como Jeep e Fiat, entre outras). Hoje, já conta com representantes da Ford e da Chevrolet. E as vendas dispararam. Somente em agosto deste ano, foram 610 emplacamentos na categoria, de acordo com levantamento feito pela consultoria especializada Jato Dynamics. Em agosto do ano passado, foram 384. Há quatro anos, PLANT PROJECT Nº39

67


Ag Carros

a única representante das caminhonetes grandes, a Ram 2500, vendia cerca de 500 unidades ao longo de todo o ano. Pode até parecer pouco, mas os valores desses veículos passam facilmente do meio milhão de reais. No caso da Silverado, a Chevrolet afirma que o primeiro lote, de 500 unidades, esgotou em 90 minutos após a abertura da pré-venda. O segundo lote, de mais 200 unidades, foi colocado à venda no dia 11 de setembro, com entrega prevista para o início de 2024. “O segmento dos veículos super-premium é estratégico para a Chevrolet”, afirma Suelen Arice, gerente de Marketing de Produto da GM. “Apesar do baixo volume, eles movimentam uma cifra considerável. Em 2023, a previsão é de que gerem cerca de R$ 8 bilhões em negócios, com metade desse valor proveniente de picapes, como a Nova Silverado, mostrando a relevância desse segmento para a empresa.” Além disso, na avaliação da GM, as picapes grandes premium servem como vitrine tecnológica e ajudam a construir a imagem da marca. O foco em modelos de luxo destoa da função primordial desse tipo de veículo. Afinal, as picapes, em essência, são feitas para o trabalho. As caçambas abertas e a grande capacidade de carga, resultado da construção mais robusta, além da tecnologia que facilita o deslocamento em estradas de terra, como a tração nas quatro rodas, torna as caminhonetes perfeitas para o serviço. Há, no entanto, alternativas para todas as necessidades. Entre os modelos mais emplacados do País, as chamadas picapes médias também se destacam. Modelos como Chevrolet S10, renovado há poucos meses, e Mitsubishi L200, um dos mais reconhecidos entre as marcas japonesas, permanecem entre os preferidos do público (veja quadro). As picapes se tornaram nos últimos anos símbolos de conforto, segurança e status. O tamanho – além do preço – ajuda a mostrar o sucesso profissional de um indivíduo. E a 68

necessidade de viajar pela fazenda e entre cidades reforça o apelo. Assim, nas últimas décadas, alguns modelos específicos, como Toyota Hilux, Ford Ranger, Chevrolet S10 e Mitsubishi L200, entraram para o imaginário rural como sinônimos de ascensão. Com os modelos full-size, o luxo ganhou uma nova dimensão. Em vez de comprar um esportivo alemão, como na cidade, é mais natural escolher um modelo “parrudo”. Em diversos sucessos do Agronejo, vertente da música sertaneja que glorifica o poder econômico do agronegócio, as caminhonetes representam tema recorrente. No hit Os Menino da Pecuária, a dupla Léo e Raphael canta: “Eu não tenho carro importado / mas a Hilux é do ano, toda


Nas cidades de maior pujança do agro, os modelos são escolhidos mesmo por quem não coloca o pé no barrro todos os dias

suja de barro”. Mesmo quando os modelos não são citados nominalmente, fica claro que a picape é o objeto de desejo. Alguns dados ajudam a comprovar o interesse pelas caminhonetes grandes como sinal de poderio econômico. “Até agora, todas as unidades da F-150 que vendemos foram para uso pessoal, e não para o trabalho”, afirma Marcel Bueno Silva, diretor de Marketing da Ford para a América Latina. Mais de um terço de todas as unidades foi para clientes da região Centro-Oeste, importante polo agrícola do País. Há também uma parcela significativa de consumidores no interior de São Paulo e em regiões rurais do Sul. Essas picapes full-size não são produzidas no Brasil, e as montadoras têm

optado por trazer ao País apenas as versões topo de linha, com as mais inovadoras tecnologias embarcadas e os detalhes de acabamento mais requintados, o que reforça ainda mais o apelo de luxo. Nas cidades de maior pujança do agronegócio, os modelos também são escolhidos mesmo por quem não precisa colocar o pé no barro todos os dias. “Não é só o produtor ou o fazendeiro”, diz Silva, da Ford. “O dentista usa picape, o advogado, o médico. São regiões inteiras com uma grande força picapeira.” Longe dos centros urbanos, com densidade maior de veículos, também fica mais fácil manobrar esses gigantes. Afinal, estacionar na garagem do prédio de apartamentos, encontrar uma vaga em shopping PLANT PROJECT Nº39

69


foto: Shutterstock

Ag Carros

até as montadoras chinesas, novatas no mercado nacional, já estudam importar suas linhas de caminhonetes

center ou trafegar por vielas apertadas pode ser uma tarefa complicada nas picapes full-size, que têm mais de 2 metros de largura e quase 6 metros de comprimento, em muitos casos. Diante do cenário aquecido para o segmento, é normal que outras montadoras fiquem de olho nas oportunidades. O bom desempenho da Ford F-150, dos modelos da Ram e da pré-venda da Chevrolet Silverado podem fazer com que outros concorrentes desembarquem no País. A Toyota, uma das preferidas do público brasileiro, poderia trazer a Tundra, que faz grande sucesso nos EUA. “Todas as marcas que têm esse tipo de produto pensam em trazer. O negócio é entender o mercado e tomar cuidado para não ser o último”, afirma o consultor Milad Kalume Neto, da Jato Dynamics. Até as chinesas, novatas no mercado nacional, já estudam importar suas linhas de caminhonetes. Como se vê, as picapes aceleram cada vez mais. 70

NA ESTRADA AS PRINCIPAIS PICAPES GRANDES E MÉDIAS DO MERCADO BRASILEIRO

GRANDES CHEVROLET SILVERADO (pré-venda)

PREÇO: R$ 520 mil (primeiro lote esgotado) MOTOR: gasolina, V8, 5.300 cm3, aspirado POTÊNCIA: 360 cv a 5.600 rpm TORQUE: 53 kgfm a 4.100 rpm TANQUE: 91 l CAÇAMBA: 1.781 l CAPACIDADE DE CARGA: a ser confirmada pela montadora

FORD F-150

PREÇO: R$ 480 mil (Lariat) a R$ 520 mil (Platinum) MOTOR: gasolina, V8, 5.038 cm3, aspirado POTÊNCIA: 405 cv a 6.000 rpm TORQUE: 56,7 kgfm a 4.250 rpm TANQUE: 136 l CAÇAMBA: 1.370 l CAPACIDADE DE CARGA: 681 kg


RAM CLASSIC

PREÇO: R$ 358 mil (Laramie) a R$ 368 mil (Laramie N.E.) MOTOR: gasolina, V8, 5.654 cm3, aspirado POTÊNCIA: 400 cv a 5.600 rpm TORQUE: 56,7 kgfm a 3.950 rpm TANQUE: 98 l CAÇAMBA: 1.424 l CAPACIDADE DE CARGA: 531 kg

FORD RANGER

PREÇO: R$ 290 mil (XLT) a R$ 320 mil (Limited) MOTOR: diesel, 2.776 cm3, turbo POTÊNCIA: 200 cv a 3.400 rpm TORQUE: 51 kgfm a 2.000 rpm TANQUE: 76 l CAÇAMBA: 1.061 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.044 kg

RAM 1500

PREÇO: R$ 470 mil (Rebel) a R$ 540 mil (Limited N.E.) MOTOR: gasolina, V8, 5.654 cm3, aspirado POTÊNCIA: 400 cv a 5.600 rpm TORQUE: 56,7 kgfm a 3.950 rpm TANQUE: 98 l CAÇAMBA: 1.200 l CAPACIDADE DE CARGA: 528 kg

RAM 2500

PREÇO: R$ 460 mil (Laramie) a R$ 470 mil (Laramie N.E.) MOTOR: diesel, 6 cilindros em linha, 6.690 cm3, turbo POTÊNCIA: 365 cv a 2.600 rpm TORQUE: 110,7 kgfm a 1.800 rpm TANQUE: 117 l CAÇAMBA: 1.280 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.088 kg

RAM 3500

PREÇO: R$ 490 mil (Laramie) a R$ 535 mil (Lim. Longhorn) MOTOR: diesel, 6 cilindros em linha, 6.690 cm3, turbo POTÊNCIA: 377 cv a 2.800 rpm TORQUE: 117,2 kgfm a 1.700 rpm TANQUE: 117 l CAÇAMBA: 1.628 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.752 kg

MÉDIAS

fotos: Reproduções

CHEVROLET S10

PREÇO: R$ 221 mil (Chassi LS) a R$ 300 mil (High Country) MOTOR: diesel, 2.776 cm3, turbo POTÊNCIA: 200 cv a 3.400 rpm TORQUE: 51 kgfm a 2.000 rpm TANQUE: 76 l CAÇAMBA: 1.061 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.044 kg

MITSUBISHI L200

PREÇO: R$ 244 mil (GL) a R$ 312 mil (Savana AT) MOTOR: diesel, 2.442 cm3, turbo POTÊNCIA: 190 cv a 3.500 rpm TORQUE: 43,9 kgfm a 2.500 rpm TANQUE: 76 l CAÇAMBA: 1.046 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.000 kg

TOYOTA HILUX

PREÇO: de R$ 219 mil (Chassi CS 4x4) a R$ 373 mil (GR-Sport WT) MOTOR: diesel, 2.755 cm3, turbo POTÊNCIA: 224 cv a 3.000 rpm TORQUE: 55 kgfm a 2.800 rpm TANQUE: 80 l CAÇAMBA: 1.000 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.000 kg

NISSAN FRONTIER

PREÇO: de R$ 243 mil (S 4x4) a R$ 320 mil (PRO-4x 4x4) MOTOR: diesel, 2.300 cm3, biturbo POTÊNCIA: 190 cv a 3.750 rpm TORQUE: 45,9 kgfm a 1.500 rpm TANQUE: 73 l CAÇAMBA: 1.054 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.040 kg

VOLKSWAGEN AMAROK

PREÇO: de R$ 297 mil (V6 Comfort) a R$ 335 mil (V6 Extreme) MOTOR: diesel, 2.967 cm3 POTÊNCIA: 258 cv a 3.250 rpm TORQUE: 59,1 kgfm a 1.400 rpm TANQUE: 80 l CAÇAMBA: 1.280 l CAPACIDADE DE CARGA: 1.156 kg

PLANT PROJECT Nº39

71




MARKETS

CONHEÇA A DATAGRO MARKETS Sua empresa pode optar pelo conjunto de serviços que mais se adequam à sua necessidade através desses 4 pacotes: ANÁLISES Acompanhe as principais análises fundamentalistas com estimativas e notícias do agronegócio disponíveis em nossas plataformas.

DADOS Maior base de dados do agronegócio brasileiro. Acesso via plataforma web e integração de dados via API.

ACESSOS Acesso aos principais especialistas do setor do agronegócio e participe da nossa comunidade através dos eventos.

ESPECIAL Serviços customizados como roadshows, acesso corporativo para maior flexibilidade no seu negócio.

FINANCIAL

CONHEÇA A DATAGRO FINANCIAL A DATAGRO Financial identifica oportunidades de investimentos e orienta o posicionamento de Clientes junto ao setor sucroenergético. Contando com vasto conhecimento técnico nos mercados de açúcar, etanol, biocombustíveis, biogás e cogeração de energia elétrica, a DATAGRO Financial contribui para o planejamento estratégico, técnico, comercial e financeiro, ao facilitar sinergias na estruturação de equity e dívida, assessoria em fusões e aquisições, e na avaliação econômico-financeira de projetos.

SERVIÇOS Avaliação técnico-financeira de projetos.

Estruturação de equity e dívida.

Advisor de investimentos.

Assessoria em fusões e aquisições (M&A).

Planejamento estratégico, técnico, comercial e financeiro.


sustentável: Como a América Latina se tornou a região com o maior número de produtores de óleo de palma certificados do mundo

Fr

FRONTEIRA

foto: Shutterstock

As regiões produtoras do mundo


Fr

FRONTEIRA

foto: Divulgação

As regiões produtoras do mundo

76


PALMAS PARA A PRESERVAÇÃO América Latina se consolida como a principal referência do planeta na produção de óleo de palma certificado

P or R odrigo R ibeiro

PLANT PROJECT Nº39

77


Fr América Latina

Ó

leo vegetal mais consumido do mundo, o óleo de palma está presente em uma variedade imensa de produtos. No supermercado, é usado em biscoitos, massas de pizza, pães, chocolates, sabonetes e detergentes, entre muitos outros. Também é um componente indicado para a fabricação de lubrificantes, artigos farmacêuticos e perfumes, além do biodiesel, que abastece carros e caminhões. Portanto, trata-se de parceiro vital para indústrias de diversos setores e, com isso, um motor que acelera a economia dos países que o produzem. Durante muito tempo, contudo, o óleo extraído do fruto da palmeira africana Elaeis guineenses foi associado à devastação ambiental. A Indonésia, um dos principais produtores de óleo de palma do mundo, chegou a perder 24,4 milhões de hectares de cobertura florestal em virtude do cultivo desenfreado das tais palmeiras. Contudo, a história agora é diferente – graças sobretudo a projetos bem-sucedidos de preservação e produção com responsabilidade realizados na América Latina. Segundo Yasmina Neustadtl, coordenadora da Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO), certificadora com sede em Zurique, na Suíça, que confere um selo sustentável para o óleo de palma, a América Latina responde por 35% do produto certificado no mundo – é o maior percentual do planeta. Um dos critérios estabelecidos pela RSPO para considerar a produção sustentável é o chamado “Procedimento de Recuperação e Compensação”, que

78

consiste, basicamente, em cultivar as palmeiras em associação à recuperação de áreas degradadas. Na América Latina, existem 90 projetos desse tipo ativos, um recorde no mundo. É fácil entender por que os produtores estão caminhando para essa direção. Um estudo realizado pela Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, constatou que plantações de palmeiras se tornaram nos últimos anos alternativas sustentáveis ao desmatamento. Eles chegaram a essa conclusão após analisar em detalhes os resultados das plantações de palma na região de Los Llanos, na Colômbia. Entre outras descobertas, os pesquisadores concluíram que o armazenamento de carbono não foi alterado em relação ao uso da terra para pastagens. O Brasil se consolidou nos últimos anos como um dos protagonistas do óleo de palma sustentável. Isso se deve sobretudo ao trabalho feito pela Agropalma, maior produtora de óleo de palma certificado das Américas. No ano passado, a empresa produziu cerca de 180 mil toneladas. Tome-se como exemplo a sua maior unidade, localizada no município de Tailândia, no Pará. São 107 mil hectares de área, sendo 64 mil de reserva florestal – portanto, 60% do total são terras de preservação. Em termos de proteção de espécies nativas, a companhia assinou parceria com a Conservação Internacional (CI) e o Instituto Peabiru para preservar a biodiversidade presente em suas reservas. Segundo a Agropalma, foram detectadas na região ao menos mil


foto: Divulgação

Um estudo realizado por pesquisadores suíços constatou que plantações de palmeiras se tornaram alternativas sustentáveis ao desmatamento

espécies de animais, das quais 40 estão ameaçadas de extinção. No aspecto ambiental, a empresa diz que passará a utilizar caldeiras movidas a biomassa em suas indústrias de refinaria em Limeira (SP) e Belém (PA). Em termos gerais, a produção brasileira de óleo de palma cumpre uma série de requisitos para impedir a degradação de áreas florestais. Entre outros requisitos, os produtores devem destinar uma parte de suas fazendas para projetos de preservação e seguir regras específicas de manejo da cultura. Outras empresas têm investido em projetos sustentáveis. Uma das maiores companhias de cosméticos do mundo, a Natura criou, em parceria com a Embrapa, um programa que associa o

cultivo de óleo de palma com outras espécies agrícolas e florestais, reduzindo assim os danos ambientais da atividade. Há também boas iniciativas em andamento fora da América Latina. Em Gana, na África, a startup Green Afro-Palms criou um equipamento que permite aos produtores extrair até 20% do óleo de palma das frutas – pelos métodos manuais, o índice é de 10%. Ou seja, a técnica possibilitaria dobrar a produção no local utilizando a mesma área. Na Indonésia, o governo local tem buscado meios sustentáveis de produção. Cada vez mais, o óleo de palma tem se tornado menos agressivo ao meio ambiente e um parceiro importante da preservação. PLANT PROJECT Nº39

79


Enquanto a Amazônia sofre com os impactos negativos do desmatamento, com mais de 600 mil hectares de floresta perdidos nos últimos 9 meses*, nós da Agropalma seguimos na direção oposta, atuando de forma regenerativa e gerando impacto positivo.

Investimos intensamente na conservação de mais de 64 mil hectares de reservas florestais por meio do Programa de Proteção de Reservas Florestais. Monitoramos com dedicação mais de mil espécies de animais, protegendo 40 espécies em risco de extinção e 11 espécies endêmicas do Centro de Endemismo de Belém, em colaboração com a CI-Brasil e a UFPA.


foto: Shutterstock

“ Cada vez mais empresas se mostram preocupadas com o impacto ambiental de suas soluções, seja no momento da obtenção das matérias-primas, no processo, na venda ou no uso propriamente dito dos produtos”

81

Fo FORU M

Ideias e debates com credibilidade


#COLUNASPLANT 82

OS DESAFIOS DA MECANIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE MARCO RIPOLI*

Cada vez mais empresas se mostram preocupadas com o impacto ambiental de suas soluções e produtos, seja no momento da obtenção das matérias-primas, no processo, na venda, seja no uso propriamente dito dos produtos. O movimento ESG que tanto ouvimos falar busca ajudar os interessados a entender como uma organização está gerenciando riscos e oportunidades relacionados a critérios ambientais, sociais e de governança. O ESG tem a visão holística de que a sustentabilidade vai além das questões ambientais. Para isso, trago algumas provocações. A primeira é: a mecanização e a sustentabilidade podem ser conciliadas? A resposta é sim. As estratégias de mecanização sustentável devem fornecer uma estrutura para a tomada de decisões sobre como alocar recursos, enfrentar os desafios atuais e aproveitar as oportunidades que surgem. Deve ser um processo estruturado, mas flexível, participativo, que leve à definição de um plano coerente de ações e programas realizáveis. O objetivo de uma estratégia de mecanização sustentável é criar um quadro “político” propício, bem como um ambiente institucional e de mercado no qual os agricultores e outros utilizadores finais tenham uma vasta escolha de equipamentos adequados às suas necessidades no âmbito de um sistema sustentável de fornecimento e apoio. Os resultados da formulação da estratégia incluirão uma série de recomendações políticas e institucionais

apoiadas, quando necessário, por programas e projetos concebidos para sua implementação. A implementação de uma estratégia de mecanização envolve diversos stakeholders e recomenda-se fortemente que seja dada ênfase à adoção de uma abordagem de formulação participativa, envolvendo todas as partes interessadas em todas as etapas do processo. Os principais grupos são os agricultores que utilizam tecnologias de mecanização, os prestadores de equipamentos e serviços do setor privado na mecanização, além do setor público. Por exemplo: os novos motores movidos a biodiesel e sistemas de Tier III, IV e V em motores agrícolas, oriundos da Europa, já comprovadamente permitem uma redução na emissão de gases de efeito estufa. Não apenas isso. Podemos destacar também como inovações já existentes em peças agrícolas itens como rolamentos blindados, lubrificação permanente, materiais recicláveis na confecção de bancos e acabamentos e navalhas de cortador de base em colhedoras de cana-de-açúcar. O segundo ponto também merece ser discutido a fundo: como os sistemas de redução de emissões e tecnologias de economia de combustível podem desempenhar um papel importante? A relação entre recurso e valor é um dos pontos-chave do debate sobre o tema. Nessa perspectiva, acredita-se que os princípios da economia circular já fazem parte do DNA do setor industrial. Adicionar valor aos recursos naturais e

*Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrícolas pela Esalq-USP, doutor em Energia na Agricultura pela Unesp, fundador do “O Agro não Para”, proprietário da Bioenergy Consultoria e investidor em empresas. Acesse www.marcoripoli.com


“Adicionar valor aos recursos naturais e entregá-los à sociedade é um dos propósitos da indústria”

foto: Shutterstock

#COLUNASPLANT

Fo

entregá-los à sociedade é um dos principais propósitos da indústria. Apesar de a indústria já ter incorporado algumas práticas de economia circular em seus processos, temos ainda um longo caminho pela frente para conseguir manter, de forma efetiva, o fluxo circular dos recursos a longo prazo e fora das instalações das empresas. Para pavimentar o caminho de transição para a economia circular, serão fundamentais políticas públicas que estimulem a gestão estratégica dos recursos naturais, promovam a inovação e a competitividade do setor privado, incentivem a pesquisa e o desenvolvi-

mento tecnológico e que fomentem a conscientização da sociedade. Os materiais utilizados e os processos industriais já são eco-friendly? A resposta para a terceira provocação é sim. A relação entre recurso e valor é um dos pontos-chave do debate sobre o tema. Nessa perspectiva, acredita-se que os princípios da economia circular já fazem parte do DNA do setor industrial. Adicionar valor aos recursos naturais e entregá-los à sociedade é um dos principais propósitos da indústria. O outro questionamento diz respeito a motores e transmissões. Eles estão se tornando mais eficientes e limpos? O PLANT PROJECT Nº38

83


84

“As operações agrícolas têm de ser rentáveis, mas precisam se tornar mais sustentáveis”

foto: Shutterstock

#COLUNASPLANT

Fo

mundo está preocupado com sua segurança alimentar. Nesse sentido, produtividade e eficiência são importantes, mas não a qualquer custo. As operações agrícolas têm de ser rentáveis, mas precisam se tornar mais sustentáveis. Temos uma população mundial crescente e muitos ainda lutam contra a pobreza e a fome. As mudanças climáticas estão acontecendo, sendo a agricultura considerada responsável por um quinto das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Isto posto, a resposta é, mais uma vez, sim. Os motores estão sendo melhorados para diminuir a emissão de gases nocivos, melhorar sua performance e conversão energética. Com isso, vem o aumento do custo que afeta diretamente o valor dos tratores, colhedoras ou pulverizadores. Nesse sentido, acredito que as máquinas agrícolas terão de ser ainda mais in-

teligentes, precisas e eficientes se quiserem minimizar o efeito no solo, na água e na biodiversidade. Em breve, a sustentabilidade estará integrada em todos os aspectos da nossa vida. Não será uma reflexão tardia ou algo que façamos do lado. Teremos empresas, produtos e até cidades mais sustentáveis. A razão pela qual a sustentabilidade está em ascensão está ligada a seus benefícios econômicos. É uma tendência global. Com o tempo, ficará evidente que as pessoas estão procurando maneiras de viver um estilo de vida sustentável, bem como as empresas estão sendo pressionadas para produzir itens sustentáveis e, assim, se diferenciar da concorrência. A tendência para a sustentabilidade só vai continuar a crescer e devemos começar a integrá-la na nossa vida cotidiana para nos prepararmos para o futuro. O agro não para!


VINHEDOS PREMIADOS: A Serra da Canastra entrou de vez no mapa do vinho brasileiro

W WORLD FAIR

foto: Shutterstock

A grande feira mundial do estilo e do consumo

PLANT PROJECT Nº39

85


W WORLD FAIR

As regiões produtoras do mundo

A TAÇA É NOSSA Projeto inovador na Serra da Canastra, em Minas Gerais, usa a técnica de dupla poda para produzir vinhos reconhecidos e premiados internacionalmente

foto: Shutterstock

Por André Sollitto



W Vinhos

Q

uando plantou as primeiras vinhas de Syrah, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, a vinícola Sacramentos Vinifer fez algo inovador na região. No início, foram cultivados 2 hectares com apenas duas variedades: Syrah e Sauvignon Blanc. O vinhedo se desenvolveu e a Syrah foi a primeira a ser engarrafada. O rótulo Sabina, uma homenagem à avó de Jorgito Donadelli, empresário responsável pela empreitada, foi então enviado para o Decanter World Wine Awards, um dos principais prêmios do mundo do vinho. Recebeu 92 pontos, maior nota entre os rótulos brasileiros naquele ano, e uma medalha de prata. Foi também reconhecido com boas notas pela revista Adega, especializada no setor, e pelo Guia Descorchados, o mais importante da América Latina. Assim, a primeira safra do primeiro vinho da Sacramentos colocou, de cara, a Serra da Canastra no mapa do vinho brasileiro. E vem ajudando a consolidar uma revolucionária técnica que tem permitido a produção enológica em quase todo o território nacional. O vinhedo representa um novo capítulo na diversificação dos negócios. Durante 50 anos, a família Donadelli manteve uma fábrica de calçados em Franca, no interior de São Paulo. A planta fabril foi fechada em 2010, e a família passou a se dedicar a empreendimentos imobiliários. Ao longo das décadas, também fez diversas incursões no agronegócio. “Meu pai foi pioneiro em levar sementes de soja específicas para a região de Uberlândia, em Minas Gerais”, afirma Jorgito Donadelli, hoje em dia à frente dos negócios. O empresário conta que, no início da década de 1980, quando seu pai comprou a primeira fazenda, os produtores da região usavam apenas sementes pouco afeitas ao clima próprio do Cerrado. “Ele foi atrás do Instituto Agronômico de Campinas e descobriu as sementes próprias para o Cerrado, que eram experimentais na época”, diz. “Pegou as sementes, plantou e o negócio deu muito certo.” Hoje em dia, a família tem um sítio perto de Franca, onde chegou a produzir cachaça: “Mas não era algo que despertava a mesma paixão, e aquilo foi se perdendo”. O desejo de fazer vinhos é antigo e está relacionado à ascendência italiana da família. “Segundo a minha avó, sempre havia um garrafão sobre a mesa, era algo do dia a dia”, diz o empresário. Tanto que o pai

88


fotos: Divulgação

O rótulo Sabina recebeu uma medalha de prata no Decanter World Wine, um dos principais prêmios do mundo do vinho

de Jorgito, Jorge Félix, já havia tentado fazer vinho antes. Comprou tanques e uvas e produziu algumas garrafas na garagem da fábrica de sapatos, mas a tentativa não foi para a frente. Até que, em 2017, durante uma visita ao Uruguai, pai e filho passaram pela vinícola Bouza. E Jorge Félix achou o solo de lá parecido com o da fazenda em Minas Gerais. Ao retornar, foi atrás da Embrapa, que o encaminhou para a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). E o projeto, enfim, começou a dar frutos. A técnica que possibilitou a produção de vinhos na Serra da Canastra é uma criação brasileira que vem revolucionando o setor. Trata-se da dupla poda – como o nome indica, consiste em duas podas distintas, realizadas em diferentes épocas. No verão, quando é feita a colheita na maior parte

das regiões produtoras, os frutos são retirados das videiras e descartados. A segunda poda é realizada em agosto. Dessa forma, o ciclo produtivo da planta é alterado e ela passa a produzir frutos no período de inverno, com temperaturas mais amenas e menos chuvas. Criada por Murillo de Albuquerque Regina, então profissional da Epamig, a técnica vem sendo utilizada com sucesso por produtores da Serra da Mantiqueira, da Chapada Diamantina, de Mato Grosso, de Brasília e até mesmo de São Roque, no interior de São Paulo, cidade conhecida pela produção de vinhos de mesa. Atualmente, alguns dos vinhos nacionais mais premiados internacionalmente são os chamados vinhos de inverno. No caso da Sacramentos, há um desafio adicional. A vinificação das uvas não é feita na PLANT PROJECT Nº39

89


W Vinhos

fotos: Divulgação

jorgito donadelli, que lidera a sacramentos Vinifer: o desejo de fazer vinhos está relacionado à ascendência italiana da família

90

fazenda, nem mesmo nos arredores. O enólogo uruguaio Alejandro Cardozo, radicado no Brasil e responsável pela elaboração dos vinhos, mora no Rio Grande do Sul. Cardozo presta consultoria para cerca de 20 vinícolas brasileiras, uruguaias, chilenas e argentinas, e entrou de cabeça no projeto. Com sua anuência, ficou decidido que a melhor opção era levar toda a produção de Minas para o Sul do país, onde o enólogo tinha o seu próprio equipamento à disposição. Trata-se de uma operação de larga escala, que envolve, por exemplo, o uso de caminhões climatizados. A colheita é feita rapidamente, e o caminhão precisa cobrir a distância da Serra da Mantiqueira até Caxias do Sul em dois dias, garantindo o frescor das frutas. “Tivemos de buscar um motorista de grande confiança, que mantivesse a refrigeração ligada o tempo todo”, conta Jorgito. O sucesso inicial do primeiro rótulo fez com que a família decidisse aumentar a produção. Agora, o vinho Sabina ocupa uma posição intermediária no portfólio. Além do rótulo tinto, há um outro, rosé, também feito com a mesma uva. “São vinhos frescos, sem passagem por nenhum recipiente”, diz Jorgito. Há também uma linha de espumantes, um brut e outro rosé, produzidos com uvas cultivadas no Rio Grande do Sul por outros produtores e compradas pela Sacramentos. Os blends levam Glera (a variedade de Prosecco), Trebbiano, Chardonnay e Riesling Itálico. “São vinhos jovens, frescos e vibrantes”, assegura o empresário. Nos últimos meses, a família expandiu os vinhedos de Sacramento. Agora, são 4 hectares de Syrah e mais um de Sauvignon Blanc, cuja primeira colheita acaba de ser realizada. Há planos para plantar ainda a casta branca Viognier e a tinta Garnacha. No futuro, a expectativa é criar uma linha de espumantes de alta gama e outra de vinhos posicionados acima dos rótulos Sabina, possivelmente blends com passagem por barris e foudres (barricas de grande capacidade) de madeira. Além do trabalho nos próprios vinhedos, que inclui estudos de solo e a instalação de estações de monitoramento climático, a família pretende inaugurar em breve um restaurante e um centro de visitantes. E, assim, tornar a região da Serra da Canastra, já conhecida pela qualidade de seus queijos, famosa também pelos vinhos.


ORGÂNICO Couro vegano vira tendência nas passarelas do Brasil e do exterior

Ar ARTE

foto: Divulgação

Um campo para o melhor da cultura

PLANT PROJECT Nº39

91


Ar Moda

A PASSARELA É VERDE Grifes nacionais lançam coleções concebidas a partir do couro vegano, uma tendência que começa a ganhar espaço também nos looks internacionais Por César H. S. Rezende

D

esign brasileiro” é a frase que acompanha a etiqueta de qualquer produto da Misci. Criada em 2018 pelo estilista Airon Martin, a marca tem no Brasil e, sobretudo, na sustentabilidade a sua fonte de inspiração. Tome-se como exemplo a sua nova coleção, lançada em junho de 2023 na Pina Contemporânea, prédio recém-inaugurado da Pinacoteca de São Paulo. As jaquetas, calças e blazers expressam, segundo Martin, “questões como desmatamento e reflorestamento, destacando a necessidade de resgate da latinidade como forma de reparação”. Foi nessa linha que um dos looks mostrados na passarela chamou a atenção: uma maxifolha em tom terroso, que rapidamente se tornou um dos produtos preferidos pelos consumidores da marca. Também chamada de “BeLeaf”, a maxifolha é um couro vegano produzido pela Nova Kaeru, empresa brasileira de couros sustentáveis. O produto apresenta propriedades semelhantes ao couro animal, como resistência, durabilidade e toque macio. “Não é a transformação de fibras vegetais em um composto sintético assemelhado ao couro”, diz Eduardo Filgueiras, sócio-diretor da Nova Kaeru. “Na verdade, é a própria folha, como ela existe na natureza, colhida do pé da orelha-de-elefante, normalmente usada em paisagismo.” A orelha-de-elefante é uma planta robusta e de crescimento rápido. Pode atingir até 3 metros de altura, com folhas que podem medir até 1 metro de comprimento. As folhas são largas e arredondadas, com um tom verde-escuro brilhante. Por ser uma planta tropical, a folha prefere ambientes quentes e úmidos, em solo fértil e bem drenado. A rega deve ser abundante, mas sem encharcar o solo.

92

Criada em 2018 pelo estilista Airon Martin, a Misci tem na sustentabilidade a sua inspiração


foto: Divulgação

PLANT PROJECT Nº39

93


Ar Moda

“É uma planta de beira de rios e matas”, diz Filgueira. “Entre as técnicas agrícolas que testamos, sobressaiu-se a agricultura regenerativa. Apostamos na plantação entre bananeiras, mamões e árvores nativas.” Além de sua origem natural, o processo fabril que leva à transformação do couro é orgânico. Dessa forma, os resíduos sólidos da fabricação são destinados à compostagem – e, daí, de volta ao campo, nas plantações da própria orelha-de-elefante, como adubo. “A água usada na fabricação do BeLeaf tem gasto mínimo, caracterizando um circuito fechado, de reaproveitamento”, completa o executivo. Não foi a primeira vez que uma coleção da Misci foi pautada pela sustentabilidade. Há dois anos, a empresa lançou um chinelo com material conhecido como Therpol, matéria-prima da seringueira, e um composto químico de base alimentar, sem PVC. No caso do uso do BeLeaf, a Misci já vinha testando o material havia um bom tempo. Segundo a Misci, a preocupação com o meio ambiente não é uma bandeira levantada apenas por estar em voga. A empresa diz que, desde a sua fundação, tem buscado colocar no foco a flora e a fauna do Brasil. “Nós subestimamos a potência do País em relação à sustentabilidade”, afirma Airon Martin. “Atualmente, estamos fazendo parceria com algumas comunidades na Amazônia, de modo 94

fotos: Divulgação

também chamada de “ Beleaf ” , a maxifolha é um couro vegano produzido pela empresa brasileira nova kaeru

a entender quais possibilidades podemos trabalhar em relação a novos materiais.” A valorização da brasilidade não é uma estratégia adotada apenas pela Misci. Marcas como as cariocas Farm e Osklen utilizam a mesma estratégia. Além da estamparia que remete ao Brasil, com cores, flores e frutos tipicamente nacionais, a Farm utiliza uma variedade de materiais reciclados e biodegradáveis em seus produtos, como algodão orgânico, poliéster reciclado e bambu. No caso da Osklen, a conexão com a sustentabilidade se deve ao criador da marca, Oskar Metsavaht, um ativista de causas ambientais. A expectativa da Nova Kaeru é de que o couro vegano esteja disponível para mais estilistas e marcas a partir do próximo ano. Marcas de luxo internacionais como Loewe, Louboutin e Christopher Esber já estão usando o couro vegano, em uma tendência que parece irrefreável nestes novos tempos de preocupações ambientais. A moda verde veio para ficar.


tecnologia de ponta Protagonistas do agronegócio brasileiro ampliam investimentos em hubs voltados para inovação

S

STARTAGRO

foto: Shutterstock

As inovações para o futuro da produção

PLANT PROJECT Nº26

95


S

STARTAGRO

foto: Shutterstock

As inovações para o futuro da produção


CELEIROS DE STARTUPS Em sintonia com o rápido processo de digitalização do agronegócio brasileiro, gigantes do setor ampliam suas apostas em hubs voltados para a inovação Por Lívia Andrade


fotos: Divulgação

S Inovação

O

Felipe Itihara, da Koppert: empresa lançou seu hub de inovação, o Gazebo, em 2020 98

mais recente relatório Radar Agtech, a principal fonte de informações sobre as empresas de base tecnológica do agronegócio, indica que o Brasil possui 1.703 startups dedicadas ao setor. Em geral, essas companhias têm custos baixos, mas um potencial de crescimento rápido, podendo – em pouco tempo – gerar fortunas com inovações que os departamentos de Pesquisa & Desenvolvimento de grandes companhias demorariam anos para desenvolver. Por essa razão, gigantes do agro, como Basf, dsm-firmenich, Koppert e Raízen, decidiram criar seus próprios hubs de inovação, que, além de atrair startups para o seu campo de atuação, selecionam as mais maduras ou com mais sinergia para as suas necessidades. O Gazebo é um exemplo. Trata-se do hub de inovação da holandesa Koppert, grande referência em controle biológico no mundo, que chegou ao Brasil em 2011. Lançado em 2020, o Gazebo fica no Parque Tecnológico de Piracicaba (SP), conhecido como Vale do Silício do


A Fazenda Basf é um metaverso que tem a cara de uma fazenda real. O espaço virtual já foi visitado por cerca de 500 mil pessoas

agronegócio brasileiro. No ano passado, a Koppert estruturou o fundo Gazebo no modelo de Corporate Venture Capital, que terá uma oferta inicial de até R$ 50 milhões. “Com sua expertise no setor, a Koppert faz o pente-fino e sinaliza para os investidores que há um modelo de negócio com potencial de crescimento na cadeia dos defensivos biológicos”, diz Felipe Itihara, gerente de Inovação da Koppert. Startup de Ribeirão Preto (SP) voltada à conexão de produtores rurais com apicultores, a AgroBee foi a primeira investida, tendo recebido um aporte de R$ 1 milhão do Gazebo. Há oito áreas prioritárias dentro do Gazebo: desenvolvimento de novos produtos, acesso ao mercado, gestão da propriedade, aplicação de bioinsumos, manejo integrado, monitoramento da lavoura, gestão da emissão de gases do efeito estudo e uso racional de águas. Atualmente, o hub tem cerca de 200 startups em seu portfólio. Algumas delas estão com a tese sendo analisada por investidores e, em breve, novos aportes devem ser anunciados. Uma das empresas no radar é a e-Trap, de monitoramento remoto de pragas, uma iniciativa que surgiu dentro da Koppert e, logo, deverá se tornar uma empresa independente, com investimentos do Gazebo. Além da e-Trap, há novos aportes no horizonte. “Estamos na fase de análises de números e esperamos anunciar investimentos em breve”, diz Itihara. Com seis anos de trajetória, o Pulse – hub de inovação da Raízen – é um exemplo de como a inovação aberta pode ser um catalisador do desenvolvimento de empresas, além de uma importante ferramenta de gestão, auxiliando na redução de custos. “O Pulse começou voltado às demandas do agro, mas o modelo se consolidou e expandimos para todas as áreas estratégicas da companhia, do campo ao posto”, diz Ricardo Campo, coordenador de Inovação Digital da Raízen e gestor do Pulse. Atualmente, o hub conta com mil startups em seu portfólio. “Não fazemos investimento efetivo em equity, em participação”, prossegue o executivo. “Nosso

Ricardo Campo, da Raízen: “ Expandimos o pulse para todas as áreas da companhia”

modelo é testar em campo, nos terminais e bioparques, ou soluções de nuvens. Aquilo que tem viabilidade técnica e econômica para investir em recorrência, nós contratamos.” Um bom exemplo é a IoTag, startup de Curitiba selecionada numa chamada aberta do Pulse, que envolvia a Vivo e a Wayra, braço de inovação da Vivo. “Como queríamos mais previsibilidade e autonomia na gestão do maquinário em campo, a Raízen, por meio do Pulse, uniu-se à Case IH, marca referência em tecnologia e inovação, e à IoTag, startup de telemetria de maquinário e manutenção preditiva, para aprimorar o desempenho e a disponibilidade da frota agrícola”, diz o gestor do Pulse. O problema era a falta de telemetria nos equipamentos. Nesse contexto, a IoTag desenvolveu uma solução que, por meio de interface com o operador e a utilização de internet das coisas (IoT), detecta as necessidades de reparo das máquinas. Inicialmente, a solução da IoTag lia apenas os dados da Case IH. Mas a startup fez um projeto-piloto na Raízen e validou a ferramenta white label, uma linha aberta, não exclusiva de uma determinada empresa. O desenvolvimento coincidiu com o período em que a Raízen PLANT PROJECT Nº39

99


S Inovação O Brasil possui 1.703 startups dedicadas ao agronegócio. Em geral, são empresas com alto potencial de crescimento

fotos: Divulgação

Marina Ribeiro, da Basf: o produtor brasileiro é mais conectado do que o americano

concluiu a aquisição da Biosev, uma das maiores empresas do setor, que precisava de soluções em telemetria. Conclusão: a IoTag emplacou a contratação de 200 ativos já no primeiro contrato. Embora o Pulse não aporte dinheiro nas startups, o fato de uma startup ter sido validada e contratada pela Raízen é chamariz para novos clientes e investidores. Outro caso de destaque é o da Arable, uma startup americana de agrometeorologia, que chegou ao Brasil e procurou a Raízen para tropicalizar as suas tecnologias para cana-de-açúcar. A ferramenta foi testada e validada. Depois, o Pulse viu uma oportunidade de inscrevê-la numa chamada do fundo de impacto da Bonsucro, que é a principal entidade de certificação de boas práticas no segmento. “Aplicamos o projeto, fomos aceitos e estamos desenvolvendo na região de Araçatuba a solução de agrometeorologia para produtores, que passam por uma situação de estresse hídrico diferente”, diz Campo. “A

100


solução vai permitir uma melhor tomada de decisão e até redução de uso de defensivos, a partir da premissa do clima.” De fato, os players do agronegócio brasileiro fincaram raízes no mundo das startups. A Fazenda Basf é uma plataforma de conteúdo, cuja ideia surgiu pouco antes da pandemia, quando a multinacional alemã contratou Marina Maia Ribeiro, agora gerente de Comunicação e Marca da Divisão de Soluções para Agricultura, para fazer a transição digital. “A ideia da fazenda é ser um hub de conteúdo, já que o agricultor brasileiro é extremamente digitalizado”, diz Ribeiro. “Percebemos uma mudança do perfil do agricultor.” Ela tem razão. Segundo um estudo feito pela consultoria McKinsey, o produtor nacional é mais conectado do que o americano. No Brasil, 70% dos pesquisados utilizam canais digitais para compras, enquanto nos Estados Unidos o índice é de 53%. A Fazenda Basf nasceu já atenta a essa realidade. Trata-se, em linhas gerais, de um metaverso que tem a cara de uma fazenda real. Em cada espaço virtual, há uma série de vídeos curtos, em média com dois minutos cada um, que respondem dúvidas do usuário. Há também a reprodução virtual do Centro Tecnológico de Tratamento de Semente (CTTS). Desde que foi lançada, a Fazenda Basf registra 500 mil visitas. Lançado em julho deste ano, o dsm-firmenich Hub de Inovação está instalado no escritório da multinacional suíço-holandesa em Belo Horizonte (MG) e tem a ambição de projetar o País para o mundo. Referência em nutrição animal com a marca Tortuga, a dsm-firmenich escolheu o Brasil para liderar a pecuária de precisão, considerada estratégica para a expansão da empresa nos próximos anos. Para isso, em agosto de 2021, o brasileiro Sergio Schuler, vice-presidente de Nutrição e Saúde Animal para Ruminantes da dsm-firmenich, chamou para o time a executiva Vanessa Porto, que assumiu a diretoria de Integração e Inovação Digital.

Durante três meses, Schuler e Porto rodaram a América Latina no processo de due diligence, fazendo pesquisas minuciosas sobre empresas de base tecnológica do setor. Chegaram assim à Prodap, uma empresa brasileira de 40 anos fundada por Sérgio Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Apesar de quatro décadas de trajetória, a Prodap tem uma mentalidade de startup. Trabalha com inovação aberta, tem profissionais com ideias disruptivas e está alicerçada no método ágil. Há cinco anos, a Prodap passou a desenvolver o algoritmo de inteligência artificial Lore, além de outras ferramentas. Era a companhia certa, no momento certo. Em setembro do ano passado, a dsm-firmenich selou a compra da Prodap. “Queremos preservar o máximo da cultura e mentalidade da empresa”, diz Porto. Agora, a ideia é que a Prodap seja o guarda-chuva de todas as ferramentas digitais e serviços de tecnologia da dsm-firmenich.

Vanessa Porto, da DSMFirmenich: hub de inovação quer projetar o brasil PLANT PROJECT Nº39

101


A CARNE É FORTE Em sua terceira edição, Fórum Pecuária Brasil destaca o avanço tecnológico, o compromisso com a sustentabilidade e a força econômica do setor

P or R onaldo L uiz

102


Patrocínio

C

erca de 600 pessoas compareceram ao Fórum Pecuária Brasil, realizado em São Paulo (SP) em 10 de agosto. Com promoção, organização e curadoria da Datagro, o evento, em sua terceira edição, entrou de vez no calendário do setor. Os especialistas presentes destacaram o avanço tecnológico, o compromisso com a sustentabilidade e a força econômica da pecuária brasileira. Ao abrir o evento, o presidente da Datagro, Plinio Nastari, ressaltou a evolução constante da cadeia produtiva da bovinocultura, que resultou, por exemplo, na obtenção de US$ 11 bilhões em divisas para o País com os embarques de carne bovina em 2022. Em sua exposição, Nastari acentuou a particularidade do agro brasileiro em relação à integração das cadeias produtivas, interseção que traz ganhos a todos os segmentos. Exemplo claro são os sistemas integrados, como a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), assim como a complementaridade entre a fabricação de etanol de milho e a bovinocultura. Participando de maneira virtual, o pecuarista Cesario Ramalho, coordenador do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), salientou que a carne bovina brasileira é altamente demandada pelo mundo. “Passamos de importadores para grandes exportadores”, disse. “Temos oferta e qualidade e, ao mesmo tempo, o setor garante o abastecimento interno.” No ano passado, os embarques atingiram 2,3 milhões de toneladas, volume que supera em duas vezes o registrado há dez anos. “Estamos buscando sempre fazer cada vez mais com menos, investindo continuamente em rastreabilidade, sustentabilidade e bem-estar animal.” Por sua vez, o ex-ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, frisou a sustentabilidade da pecuária brasileira, baseada no manejo a pasto, e afirmou que esta especificidade precisa ser valorizada no preço do boi, sobretudo nos mercados internacionais. Nesse campo, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Sérgio Bortolozzo, citou a necessidade de o setor trabalhar sua imagem no exterior. Oswaldo Furlan, presidente do Grupo Pecuária

Brasil (GPB); José Ribas, vice-presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon); e o deputado estadual Lucas Bove pontuaram o valor dos indicadores desenvolvidos pela Datagro Pecuária para entrega de dados fidedignos das negociações diárias do setor, fortalecendo a transparência e confiabilidade das operações. Representantes de frigoríficos destacaram que a bovinocultura de corte brasileira é capaz de atender qualquer exigência dos mercados internacionais, sobretudo em relação a oferta, qualidade e critérios de sustentabilidade. Segundo Sérgio De Zen, diretor de Inteligência de Negócios do Minerva Foods, a pecuária nacional se desenvolveu ancorada em sanidade, genética, nutrição e pastagem. Em adição a esses atributos, o segmento avança hoje em dia em sistemas de originação, rastreabilidade e conformidade, assim como em práticas sustentáveis. De acordo com Eduardo Pedroso, diretor executivo de Originação do Friboi JBS, o resultado do avanço tecnológico do setor, impulsionado pelas exigências mercadológicas, em particular internacionais, é a entrega de bois para abate cada vez mais jovens e pesados, matéria-prima fundamental para carne de qualidade. Além de assegurar o abastecimento interno, que responde por 75 a 80% do consumo, a pecuária brasileira se tornou grande exportadora, mas precisa abrir novos mercados. “Isso é necessário para diminuirmos a dependência da China”, observou Pedro Bordon, diretor Comercial e de Marketing do Frigol, que assinalou o potencial importador de países e regiões, como Japão, Coreia do Sul e Sudeste Asiático. Nesse sentido, pontuou Guilherme Oranges, diretor Comercial da Barra Mansa Alimentos, termos uma diplomacia comercial atuante é imprescindível. “Essas negociações ocorrem entre governos”, afirmou. O cenário de oferta elevada de bovinos prontos para abate deve continuar pressionando o preço da arroba do boi gordo no mercado doméstico nos próximos meses, afirmaram especialistas. Segundo Leonardo Alencar, PLANT PROJECT Nº39

103


Patrocínio

pesquisador da XP Investimentos, conforme as exportações brasileiras de carne bovina crescem e acessam mais mercados, as variáveis que impactam o valor da arroba também aumentam. Sendo assim, a pecuária caminha para ter um mercado globalizado similar ao de grãos. De acordo com Leandro Bovo, diretor da Radar Investimentos, a agenda de transformações acabará elevando o risco das operações, o que exigirá a utilização cada vez maior de mecanismos de proteção de riscos, em particular pelo pecuarista. Alencar, da XP, afirmou que, para o Brasil exportar carne bovina para mercados mais exigentes, que naturalmente pagam mais, o padrão médio de qualidade da carne precisará 104

subir. “O Sudeste Asiático tem demanda, devido ao grande contingente populacional, mas paga menos. Diferentemente, por exemplo, de Japão e Coreia do Sul, mercados ainda inacessíveis para o produto brasileiro”, disse. Breno Maia, operador de commodities da Necton, frisou que indicadores de preços, como os desenvolvidos pela Datagro, são fundamentais para dar mais previsibilidade às negociações. Com cerca de 40 anos de existência, a Datagro, maior consultoria agrícola do Brasil e uma das mais relevantes do mundo, tem notoriedade pela produção de análises e dados primários sobre as principais commodities. Há três anos, o Indicador do Boi Datagro


Patrocínio

oferece aos players do setor dados que prezam pela transparência, independência e confidencialidade. Com informações em tempo real, o Indicador promove a integração entre os elos da cadeia. “Fornecemos dados auditados que refletem a realidade das negociações, com imparcialidade em relação às cotações de mercado e compliance dos analistas”, disse João Otávio de Assis Figueiredo, líder de conteúdo da Datagro Pecuária. O Indicador do Boi Datagro possui aproximadamente 2,7 mil propriedades cadastradas, com cobertura de cerca de 80% do território nacional. Além disso, detém 70 plantas frigoríficas que reportam dados diariamente. Em relação ao mercado, as atenções estão

voltadas para a China, cuja reabertura após o fim da política de “Covid Zero” frustrou as expectativas, com crescimento econômico aquém do esperado. A análise da Datagro Pecuária mostra que as preocupações com a demanda chinesa seguem latentes, a despeito das sinalizações positivas. No âmbito geral, as exportações de carne bovina estão sólidas, mas os preços baixos vêm limitando os ganhos. O painel que abordou a temática da sustentabilidade na pecuária contou com a participação do presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), Caio Penido; do diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias PLANT PROJECT Nº39

105


Patrocínio

Exportadoras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio; e do gerente de Marketing Nacional de Pastagens da Ihara, Guilherme Moraes. Moderador do painel, Moraes salientou que a inovação tem revolucionado as tecnologias de manejo das pastagens, proporcionando sustentabilidade não apenas do ponto de vista ambiental, mas também no avanço em rentabilidade da cadeia produtiva. O executivo lembrou que um estudo recente realizado pela Embrapa constatou que 95% da carne bovina no Brasil é produzida em regime de pastagens, representando vantagem competitiva em custos operacionais e também na qualidade da proteína. “Ter disponibilidade de pasto, com 106

abundância e qualidade, faz com que, no final do dia, o pecuarista brasileiro precise ser também um bom agricultor”, afirmou o especialista. “Portanto, seu sucesso passará pela compreensão de que o investimento em tecnologias que elevem a fertilidade do solo e a sanidade da pastagem é um pilar que fará toda a diferença.” Caio Penido, do Imac, discorreu sobre o Programa de Reinserção e Monitoramento (Prem), plataforma que verifica a regeneração ambiental de áreas desmatadas em Mato Grosso, viabilizando a reinserção de pecuaristas locais, que atendam aos critérios ambientais, no mercado formal. A Organização das Nações Unidas para a


Patrocínio

Alimentação e a Agricultura (FAO), disse Fernando Sampaio, da Abiec, projeta que a Ásia impulsionará o consumo global de carne bovina nos próximos anos. “Dá para atender a esse aumento de demanda mitigando os impactos das mudanças climáticas e conservando a biodiversidade”, pontuou. Para Sampaio, a cadeia produtiva da pecuária tem o compromisso público de desvincular sua produção do desmatamento ilegal. “A agenda do clima é o que gera toda a demanda por sustentabilidade e políticas públicas, e nós precisamos entender como isso impacta o nosso setor.” O último painel tratou dos desafios e caminhos para o produtor atingir uma atividade pecuária de resultados. Moderador do painel, Rogério Goulart,

editor da Carta Pecuária, de Dourados (MS), disse que a pecuária de resultados passa pela combinação da eficiência nos processos em três áreas cruciais: agronomia, zootecnia e finanças. Victor Campanelli, diretor executivo do grupo Campanelli, expôs o case da empresa, e enfatizou a incorporação de ferramentas digitais no dia a dia da pecuária, mas ressalvou que, mais do que obter dados, o diferencial é saber interpretá-los em favor do bom resultado dos negócios. Também participantes do painel, Florêncio de Queiroz Neto, diretor do grupo Queiroz de Queiroz, e Maurício Möller, CEO do grupo Ypoti, do Paraguai, expuseram os cases de suas respectivas empresas. PLANT PROJECT Nº39

107


UNIÃO DE FORÇAS Em sua quarta edição, evento Datagro Abertura de Safra – Soja, Milho e Algodão 2023/24 apresenta os resultados positivos da integração das cadeias produtivas do agro brasileiro

P or R onaldo L uiz

108


Patrocínio

O

evento Datagro Abertura de Safra – Soja, Milho e Algodão 2023/24, realizado nos dias 23 e 24 de agosto, em Cuiabá (MT), enfatizou, como principal mensagem, os resultados socioeconômicos e ambientais positivos para o País, que estão sendo obtidos pela constante integração das cadeias produtivas do agronegócio. Em sua quarta edição, o evento ocorreu pela primeira vez na capital mato-grossense. A solenidade de abertura contou com a participação do presidente da Datagro, Plinio Nastari; do presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco; do coordenador do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Cesario Ramalho; do presidente do Sistema Fiemt (Federação das Indústrias do Estado do Mato Grosso), Silvio Rangel; do diretor Comercial da Koppert, Gustavo Herrmann; e do secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do MT, Anderson Lombardi. Em sua exposição, Nastari destacou números, na casa dos trilhões, referentes ao valor bruto da produção agropecuária brasileira, e acentuou a integração das cadeias produtivas do setor, em particular grãos, pecuária e fibras. “Mato Grosso é exemplo virtuoso deste avanço”, ressaltou, acrescentando que a força do agro pode dar um novo arranque à reindustrialização do Brasil. Rangel, por sua vez, lembrou que, por trás do agro, há uma indústria de base forte e que um dos desafios dos setores produtivos é, por meio da agroindustrialização, elevar o valor agregado de nossos bens e serviços em nível mundial. Ramalho salientou que o agro brasileiro é movido pela sustentabilidade. “Produzimos cerca de 1 bilhão de toneladas por ano ao somarmos as safras de grãos, fibras e de cana-de-açúcar.” Entretanto, existem enormes desafios, sobretudo relacionados a problemas de infraestrutura logística e um quadro de seguro rural de baixa cobertura. Nolasco discorreu sobre o crescimento do agro em Mato Grosso, dos grãos à pecuária, passando pelos sistemas integrados e chegando à interseção entre o etanol de milho e a bovinocultura, já que o

resíduo do grão, que é utilizado para a fabricação do biocombustível, o chamado DDG, tem elevado valor proteico para alimentação animal, e vem ganhando terreno na cadeia produtiva da pecuária. Lombardi adiantou que o governo de Mato Grosso prepara um plano para elevar a área irrigada no estado, com a meta de 1 milhão de hectares com irrigação até 2030, alavancando novos ciclos de produção. Além disso, Herrmann pontuou que, no âmbito da comercialização de insumos, há estoque nas revendas e que, neste momento, o produtor está postergando a tomada de decisão para novas aquisições. O líder de conteúdo da Datagro Grãos, Flávio Roberto de França Jr., apresentou projeções para a safra de grãos 2023/24, em particular soja e milho, destacando tendências para variáveis de produção, prêmios de exportação, câmbio, preços das commodities e lucratividade. A apresentação compôs o primeiro painel, que contou com a moderação do diretor Comercial da Datagro Markets, Anderson Alvarenga. França abriu sua exposição citando as mais recentes estimativas iniciais da Datagro para as safras brasileiras de soja e milho no ciclo 2023/24. Para a oleaginosa, a previsão é de uma produção em torno de 163 milhões de toneladas, com alta de 4%. No que diz respeito ao milho, a expectativa é de uma safra total de 126,6 milhões de toneladas, com queda de 5%. Em relação aos prêmios de exportação – valor agregado ao preço da bolsa de Chicago para os embarques do Brasil –, a tendência é baixista para a temporada 2023/24 no período de pico da colheita em cenário similar ao observado no ciclo 2022/23. “Assim, quem conseguir colher mais cedo pode ter melhores oportunidades de comercialização, mas isso, claro, dependerá do clima para o início do plantio”, disse. Sobre o câmbio, a expectativa é altista para 2024, devido aos desafios das contas públicas. Para a soja, as cotações nas bolsas internacionais devem apresentar elevação, ficando acima das médias históricas. Por outro lado, no mercado doméstico, o quadro é de preços mais baixos. “Isso pode levar a PLANT PROJECT Nº39

109


Patrocínio

um aperto na lucratividade do sojicultor.” Na esfera internacional, as cotações do milho devem ter padrão parecido ao da soja e internamente margens pressionadas para o produtor. O início do plantio da safra de grãos 2023/24, que tradicionalmente ocorre a partir de setembro no Brasil, pode ser impactado pelo fenômeno climático El Niño, alertou o analista de Clima e Geoprocessamento da Datagro, Felipe Soares. O El Niño, que é marcado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico na altura da costa do Peru, tem projeção de intensidade de moderada a forte para este final de 2023 até meados de 2024. O cenário, ressaltou Soares, traz fortes chuvas para a região Sul e clima seco para o Brasil Central. “Isso poderá afetar, sobretudo, a implantação das lavouras de soja precoce”, disse o especialista. O painel contou ainda com participação de Bárbara Sentelhas, 110

CEO da Agrymet; e Bruna Rezende, CEO da IRIS. Marcel Daltro, diretor Institucional e de Projetos Estratégicos do Nelson Wilians Advogados, foi o moderador. Acadêmicos, empresários, consultores e produtores frisaram que o uso de coprodutos agrícolas vem crescendo como alternativa a forrageiras e farelos de grãos como insumos para alimentação animal, em especial na pecuária de corte. Exemplos de coprodutos que vêm avançando na dieta dos rebanhos são caroço de algodão, casca de arroz e de café, polpa cítrica, farelo de girassol, entre outros, com destaque especial para o DDG, resíduo do milho, que é usado para a fabricação de etanol, que tem elevado valor proteico. Segundo os especialistas, os coprodutos ampliam a oferta, reduzem custos e promovem ganhos nutricionais à atividade da bovinocultura.


Patrocínio

“Somente o DDG apresenta uma oferta de 3 milhões de toneladas em Mato Grosso”, disse Arlindo Vilela, diretor da Novapec Agropecuária de Rondonópolis, que acrescentou: “Intensificação é a palavra-chave para o retorno econômico e sustentabilidade da pecuária”. Também participaram do painel o zootecnista Daniel de Paula Sousa, professor associado da Universidade Federal de Mato Grosso, e o economista João Otávio de Assis Figueiredo, líder de Pesquisa na Datagro Pecuária, que tratou dos desafios e oportunidades do mercado bovino. O zootecnista Luiz Roberto Zillo, consultor de Pecuária da Datagro, foi o moderador. O presidente executivo da União Nacional de Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, disse que a produção de etanol de milho deve saltar de 6 milhões de metros cúbicos previstos para este ano para 10,8 milhões na temporada 2031/32.

Segundo o dirigente, o Brasil tem em operação atualmente 20 usinas de etanol de milho, 8 em construção e outros 20 projetos de viabilidade em estudo. As plantas estão distribuídas no Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste. De acordo com Nolasco, 20% da oferta nacional de etanol atual advem da fabricação do biocombustível a partir do milho. Além do eixo econômico, o etanol de milho também é indutor de sustentabilidade, já que é elegível para a geração de CBios no âmbito do RenovaBio, tendo potencial para gerar 10 milhões de certificados até 2030. Também participaram do painel Cleiton Gauer, superintendente do Imea, e Aparício Bezerra, gestor de projetos e gerente Comercial da Lucas E3. Hermelindo Ruete de Oliveira, sócio da Datagro Financial, foi o moderador. A dependência da importação de matérias-primas para a fabricação de fertilizantes é ponto PLANT PROJECT Nº39

111


Patrocínio

vulnerável do agronegócio brasileiro, alertou o diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Ricardo Tortorella. “Importamos 85% do que utilizamos. Por outro lado, hoje é mais barato trazer da Rússia do que adquirir internamente, principalmente por questões logísticas e tributárias”, disse o dirigente. Também participante do painel, o diretor Comercial da Koppert, Gustavo Herrmann, discorreu sobre a forte expansão do mercado de biodefensivos, em particular dos produtos biológicos para a proteção dos cultivos. “É um segmento que avança em 50% anualmente.” Por sua vez, o presidente e CEO da CropLife Brasil, Eduardo Leão, pontuou sobre a necessidade de o Brasil endereçar a aprovação do Projeto de Lei de modernização do marco regulatório dos defensivos agrícolas. Segundo ele, o rito processual para a liberação de novas tecnologias no Brasil é muito 112

lento – em torno de sete anos –, enquanto em concorrentes como Estados Unidos e Argentina não passa de três. Também participante do painel, a advogada Melina Lobo Dantas, do escritório Melina Lobo Advocacia, falou sobre os desafios da sucessão familiar no agronegócio. A agenda do crédito rural no agronegócio brasileiro passa por profundas transformações. O Plano Safra, ancorado em recursos oficiais, não dá mais conta de financiar o setor. Estima-se que o agro demande cifra próxima a R$ 900 bilhões para girar uma safra, mas o dinheiro vinculado ao plano atende apenas cerca de um terço deste montante. Este foi o cenário apresentado por especialistas, durante painel que tratou do tema. “Vivemos uma nova era do crédito rural”, afirmou Daniel Latorraca, sócio-fundador da Creditares, agrofintech especializada em desburocratizar o acesso do produtor rural a novas fontes de


Patrocínio

recursos e entregar aos financiadores uma ampla e refinada análise de risco de crédito. “Em paralelo à redução do crédito obrigatório, temos crescimento de novas modalidades, com mais players privados, bancos, cooperativas, fundos de investimento e operações no mercado de capitais, o que aumenta as possibilidades para o produtor.” Nesse sentido, acrescentou o sócio da Vectis, Alessandro Correia, os Fiagros despontam como carros-chefes em conectar o agro à “Faria Lima”. Na nova conjuntura, lembrou a advogada Gláucia Brasil, sócia do escritório Gláucia Brasil, a busca por crédito privado no mercado de capitais exige maior transparência, gestão e governança do agro. Carolina Troster, sócia da Datagro Financial, moderou o painel. A produção brasileira de algodão poderá atingir o volume recorde de 3,1 milhões de toneladas na safra 2023/24, em uma área de 1,6

milhão de hectares, projetou o diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcelo Duarte, em painel sobre as perspectivas para a cotonicultura. Caminhando a passos largos para se tornar o maior exportador mundial da fibra nos próximos anos – hoje somos o segundo, atrás dos Estados Unidos –, Duarte salientou que o Brasil deverá exportar 75% da produção prevista no novo ciclo. O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, lembrou que cerca de 30% dos embarques brasileiros têm como destino a China, sendo o restante distribuído, primordialmente, para outros países asiáticos. Por fim, o presidente da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), João Paulo Lefèvre, revelou que entre 65 e 70% da safra 2022/23, que está sendo colhida, já está comercializada. PLANT PROJECT Nº39

113




Excelência em serviços para o setor sucroenergético brasileiro Da preparação do plantio à movimentação de biomassa, a gente tem o que você precisa.

Liderança nacional na prestação de serviços com máquinas de linha amarela, caminhões e equipamentos para os mais relevantes setores econômicos, em qualquer lugar do Brasil. Bases regionais de apoio operacional, alta tecnologia, capacitação técnica e excelência em gestão da manutenção para garantir os mais altos níveis de confiabilidade e disponibilidade física do mercado. Se usina é o seu negócio, conte com a Armac.

0800 100 2511 A R M A C . C O M . B R

A GENTE TEM O QUE VOCÊ PRECISA


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.