Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
FUTURO PROMISSOR As tendências, os desafios e as oportunidades para o agronegócio brasileiro em 2024
NEGÓCIOS
Supermercados e startups se unem para evitar desperdícios de alimentos AMBIENTE POR QUE A MACAÚBA É VITAL NA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
SOL E CHUVA COMO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETAM A PRODUÇÃO MULHERES PODEROSAS PRESENÇA FEMININA NO AGRO AUMENTA – E ISSO É ÓTIMO
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O campo entra na era da inteligência de dados
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TEMAS DO CURSO: SOJA E MILHO PECUÁRIA
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CAFÉ
GESTÃO LEAN PESSOAL
E di tori a l
Como se comportará o agronegócio brasileiro em 2024?
VIRADA DE PÁGINA
O setor deverá quebrar novas marcas neste ano? Quais são as tendências que pautarão o rumo das atividades no campo, das tecnologias às culturas mais promissoras? Onde estarão as maiores oportunidades? E os maiores desafios? A presente edição da revista PLANT PROJECT tem a
Para quem pensa, decide e vive o agribusiness
ambição de responder a essas e outras perguntas essenFUTURO PROMISSOR As tendências, os desafios e as oportunidades para o agronegócio brasileiro em 2024
NEGÓCIOS
Supermercados e startups se unem para evitar desperdícios de alimentos AMBIENTE POR QUE A MACAÚBA É VITAL NA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
SOL E CHUVA COMO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS AFETAM A PRODUÇÃO MULHERES PODEROSAS PRESENÇA FEMININA NO AGRO AUMENTA – E ISSO É ÓTIMO
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ciais para o novo ciclo que começa, muito embora o que será colhido pelo agro em 2024 já tenha sido plantado em 2023. Ainda assim, o ano recém-nascido representa o momento ideal para balanços e projeções – as páginas a seguir trazem a nossa contribuição para esse debate.
BIG DATA
O campo entra na era da inteligência de dados
A virada de ano representa também a chance de discutir com profundidade um dos temas mais urgentes para o agro no Brasil e no mundo: as irrefreáveis mudanças climáticas. Como cada um de nós já notou, elas estão aí, afetando em maior ou menor grau a nossa vida cotidiana, e mais ainda as atividades ligadas ao campo. A boa notícia é que os produtores de variadas culturas e diferentes regiões do País têm se mobilizado para enfrentar os novos fenômenos naturais que os desafiam, como mostra uma de nossas reportagens. Desejamos que nossos leitores tenham um 2024 marcado por grandes conquistas, e que nos acompanhem na jornada de retratar, com rigor jornalístico, o setor mais pujante da economia brasileira. Boa leitura! Amauri Segalla Diretor Editorial
CORREÇÃO Na reportagem “A Vez do Algodão”, publicada na edição 39, o correto é “oeste da Bahia” e não “sul da Bahia” quando o texto se refere às regiões das maiores lavouras.
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D i r etor E ditoria l Amauri Segalla amauri.segalla@datagro.com D i r etor Luiz Felipe Nastari Com e rc ia l Carlos Nunes carlos.nunes@plantproject.com.br Sérgio Siqueira sergio.siqueira@plantproject.com.br Joao Carlos Fernandes joao.fernandes@plantproject.com.br Tida Cunha tida.cunha@plantproject.com.br
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O lado cosmopolita do agro
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Prejuízo explosivo Ucrânia estima que o setor agrícola do país deverá levar 20 anos para se recuperar da guerra
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O lado cosmopolita do agro
UCRÂNIA
O PESO DA GUERRA O agronegócio do país precisará de pelo menos 20 anos para se recuperar plenamente dos danos causados pelo conflito com a Rússia Desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, acredita-se que ao menos 200 mil pessoas morreram, 400 mil ficaram feridas e 5 milhões de ucranianos foram obrigados a deixar seu país. A estupidez do conflito provocou estragos também no agronegócio. Um novo relatório produzido pelo Ministério da Agricultura da Ucrânia calculou que o setor perdeu entre US$ 35 bilhões e US$ 40 bilhões com a guerra. Pior ainda: mesmo que o confronto cessasse agora, seriam necessários ao menos 20 anos para o país recuperar plenamente sua produção agrícola, conforme projeção feita pelo Centro de 8
Pesquisa Agrônoma de Kiev. O relatório revelou também que 30% das terras agricultáveis do país estão dentro das linhas de batalha. Ou seja, essas áreas tornaram-se inúteis para a maior parte das lavouras. Antes da invasão russa, a Ucrânia produzia 106 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas. Em 2023, o número mal chegará a 65 milhões de toneladas, talvez menos, conforme projeção do
Ministério da Agricultura. O cenário, de fato, é alarmante. Estima-se que a produção de girassol, cevada e trigo se recupere apenas a partir de 2035. Por sua vez, a cadeia produtiva de milho, centeio, aveia e colza deverá voltar aos níveis de antes da guerra apenas em 2050. Mesmo os agricultores que possuem terras produtivas distantes das zonas de conflito foram afetados pela guerra. O redirecionamento de combustíveis e mão de obra para uso das forças armadas neutralizou a capacidade de plantio dos ucranianos. “Não há gente disponível para plantar”, disse um produtor de trigo em reportagem publicada pelo jornal americano The
New York Times. Com a escassez de combustíveis, o preço do frete disparou, o que aumentou em cerca de 30% os custos para os produtores. Muitos simplesmente deixaram de plantar porque não tinham como arcar com as despesas crescentes. Custará caro recuperar plenamente as atividades agrícolas afetadas pela guerra e toda a sua cadeia. Segundo o Centro de Pesquisa de Kiev, o país precisa desembolsar US$ 30 bilhões para reconstruir a infraestrutura ligada à produção do setor, incluindo estradas, silos e galpões destruídos pelas bombas. O número deverá ser muito maior, pois a projeção não leva em conta os recursos necessários para o treinamento de
novos agricultores – muitos jovens que trabalhavam no ramo foram convocados para a guerra e morreram. A Ucrânia é uma das protagonistas do agronegócio mundial. O país possui um dos solos mais férteis do mundo, o chamado tchernozion, riquíssimo em matéria orgânica. Além disso, conta com grande quantidade de terras aráveis, com aproximadamente 70% de seu território utilizado para a agricultura. Não à toa, está entre os principais produtores e exportadores de milho, trigo e cevada. Antes da invasão da Rússia, os ucranianos produziram 29,5 milhões de toneladas de milho – apenas Estados Unidos, China, Brasil, União Europeia e Argentina superaram essa marca. PLANT PROJECT Nº40
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G ISRAEL
POR DENTRO DO KIBUTZ Alvo dos ataques do Hamas, os kibutzim se tornaram um dos principais símbolos da construção do Estado de Israel. Entenda o que eles são, como funcionam e seu papel para a produção agrícola do país
O QUE SÃO
Em hebraico, kibutz significa “assembleia” ou “grupo coletivo”. De forma simplificada, são comunidades onde as pessoas vivem, trabalham e produzem em conjunto. Neles, as propriedades são coletivas e existe igualdade social.
HISTÓRIA
O primeiro kibutz foi fundado em 1909, em terras compradas pelo Fundo Nacional Judaico ao sul do Lago Kineret, então sob o controle do Império Otomano. Ao longo do tempo, vários outros agrupamentos desse tipo foram criados pela sociedade israelense.
Os kibutzim tiveram papel-chave na formação do Estado de Israel. Sua premissa era um tanto utópica: cada um de acordo com as suas capacidades, ou de acordo com as suas necessidades. Nos primeiros kibutzim, produziam-se apenas os alimentos necessários para consumir.
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CRISE
Nos anos 1980, com a crise econômica em Israel, o modelo cooperativista dos kibutzim entrou em xeque. Endividados, muitos moradores dessas comunidades rurais as abandonaram em busca de oportunidades nas áreas urbanas.
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ESTADO DE ISRAEL
O PAPEL DO AGRO QUANTOS SÃO
Hoje em dia, cerca de 125 mil pessoas – uma fração das 9,3 milhões de pessoas que vivem em Israel – moram nos cerca de 250 kibutzim espalhados pelo país, de acordo com a Agência Judaica para Israel.
A valorização da terra produtiva é um dos pilares dos kibutzim. Estima-se que atualmente respondam por 40% da produção agrícola do país. Nos últimos anos, as comunidades voltaram a atrair jovens interessados em manter contato mais próximo com a natureza.
OS KIBUTZIM MODERNOS
Muitos kibutzim foram privatizados e adotaram meios modernos de produção. Em média, abrigam mil habitantes, que trabalham em diversas atividades manufatureiras.
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E S TA D O S U N I D O S
TRANSPORTE MAIS BARATO E COM MENOS DESPERDÍCIO Um dos desafios enfrentados pela indústria global de alimentos diz respeito aos custos associados ao transporte dos produtos. Nesse aspecto, a refrigeração adequada é essencial – mas cara também. Ao longo de décadas, empresas têm buscado soluções para essa questão, mas a maior parte delas falhou. A boa notícia é que o cenário está prestes a mudar. Algumas startups inovadoras têm se aventurado na aplicação de revestimentos orgânicos em produtos agrícolas como meio
de prolongar sua durabilidade durante o transporte. A abordagem não apenas reduz os custos de eletricidade associados à refrigeração, mas também minimiza o desperdício de alimentos. Uma das empresas que lideram projetos na área é a californiana Apeel Sciences, que chamou a atenção da Fundação Bill e Melinda Gates. Recentemente, a companhia captou US$ 250 milhões em uma rodada de financiamento, alcançando valorização de US$ 2 bilhões.
CHINA
PULVERIZAÇÃO COM PRECISÃO DE CENTÍMETROS Os drones têm ampla gama de aplicações, desde a captura de imagens aéreas impressionantes até o fornecimento de serviços de entrega para compradores online. No setor agrícola, as oportunidades de negócios relacionadas a esses aparelhos voadores estão gradualmente amadurecendo, à medida que os pioneiros na indústria obtêm lucros e aumentam sua produção. No mundo, poucas empresas, talvez nenhuma, têm acelerado tanto as inovações nesse campo quanto a chinesa XAG. Um de seus drones, o XAG P100, realiza pulverização de extensas áreas com precisão de centímetros graças a um sistema de bicos rotativos que permitem alterar o tamanho das gotas durante o voo de forma simples, por meio do aplicativo de celular. Não à toa, a empresa se tornou uma potência global, tendo recebido cerca de US$ 250 milhões em três rodadas de financiamento. 12
I TÁ L I A
GRILOS VALEM MAIS DO QUE UM BIFINHO Todos os dias, a Italian Cricket Farm, maior fazenda de insetos da Itália, transforma um milhão de grilos em alimentos. Eles são congelados, fervidos, secos e pulverizados – para só depois se transformarem em matéria-prima de massas, pães, panquecas, barras energéticas e isotônicos. A Cricket Farm nasceu com o propósito de fornecer alimentos alternativos em substituição à carne, apesar da resistência dos próprios italianos, que têm orgulho de sua culinária tradicional. O que era para ser apenas uma empresa local acabou se tornando um negócio com ramificações em diversos países da Europa, que tem estimulado o uso de insetos em dietas equilibradas. Isso mesmo: segundo pesquisas, os grilos são ricos em vitaminas, fibras, minerais, aminoácidos, ferro e magnésio, mais até do que um bife convencional.
ARGENTINA
RAÇÃO PARA ABELHAS Não é de hoje que a startup de biotecnologia BeeFlow, nascida na Argentina e agora com escritórios nos Estados Unidos, surpreende com suas inovações. Desde que foi criada, em 2016, por doutores em biologia e especialistas em polinização, a empresa dedica-se quase que exclusivamente a encontrar maneiras de proteger abelhas. Sua nova empreitada é criar uma espécie de ração para os insetos polinizadores – na verdade, um suplemento alimentar
que melhora seu sistema imunológico e as tornam mais resistentes aos desafios de viver em um mundo inundado por pesticidas tóxicos. Composto de aminoácidos coletados de hormônios vegetais, o produto permite que as abelhas realizem até sete vezes mais voos em climas frios e carreguem o dobro de sua carga normal de pólen. As abelhas merecem o esforço: elas contribuem com 35% da produção global de alimentos. PLANT PROJECT Nº40
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G ÍNDIA
Couros feitos de material alternativo não são exatamente uma novidade. O que chama a atenção no caso da startup indiana Malai é a matéria-prima utilizada para seus produtos: água de coco. Para a confecção do couro, a bebida é esterilizada e depois inserida em uma espécie de cultura bacteriana. Após 20 dias de fermentação, o líquido é misturado a fibras de banana, sisal e cânhamo, dando origem ao produto que se assemelha ao couro. A Malai encontrou clientes para a sua inovação entre fabricantes de calças, bolsas e carteiras, mas há um entrave para o crescimento da empresa: preço. Em média, o couro da startup indiana custa 20% mais do que seus pares convencionais, graças ao seu complexo método de produção. Ainda assim, o produto já está sendo vendido na Europa e nos Estados Unidos, além da Índia.
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COURO DE ÁGUA DE COCO
E S TA D O S U N I D O S
PARA ELIMINAR AS PEDRAS DO CAMINHO “No meio do caminho tinha uma pedra.” O início do extraordinário poema de Carlos Drummond de Andrade poderia ser o mote da empresa americana de Inteligência Artificial e robótica TerraClear. Ela criou robôs capazes de mapear áreas agrícolas em busca de rochas e apontar para os agricultores aquelas que precisam ser removidas para não comprometer o desenvolvimento das lavouras. É um trabalho importante: além de prejudicar a semeadura, pedras quebram maquinários, levando a prejuízos significativos. A TerraClear conquistou um bom número de clientes nos Estados Unidos, mas agora quer expandir os negócios, primeiro no mercado europeu e depois no asiático. Recentemente, a companhia recebeu aportes de fundos de investimentos que totalizaram US$ 38 milhões. 14
O que vem por aí As tendências, os desafios e as oportunidades para o agro do País em 2024
Ag AGRIBUSINESS
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Empresas e líderes que fazem diferença
Ag Empresas e líderes que fazem diferença
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rojeções recentes mostram que o PIB do agronegócio deverá alcançar R$ 2,63 trilhões em 2023. Sob qualquer ângulo que se olhe, trata-se de desempenho extraordinário. Se o número for confirmado, deverá equivaler a 24,4% de toda a riqueza produzida no País. Embora distante do recorde de 2021, quando a participação do agro no PIB foi de 26,7%, a cifra revela a força irrefreável do setor. Como será em 2024? Para responder a essa pergunta, PLANT PROJECT consultou especialistas de diversas áreas do conhecimento, que ajudaram a traçar um panorama possível dos negócios do campo no ano que vem. Apesar dos inúmeros desafios macroeconômicos, climáticos, geopolíticos, sociais e tecnológicos, o agronegócio brasileiro encontrará em 2024 um horizonte repleto de oportunidades. É consenso entre os especialistas que investimentos consistentes e a modernização do campo têm funcionado como vacinas relativamente eficazes para os sustos pregados pelos grandes eventos internos e externos. Em muitos casos, o agronegócio tem conseguido transformar os desafios em oportunidades de crescimento. Ainda há, entretanto, grandes desafios pela frente. Os extremos climáticos são um exemplo da resiliência do setor. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) analisou as temperaturas médias do ar no Brasil de julho a outubro, revelando um cenário de calor acima da média histórica. Em 2023, setembro se destacou, registrando um desvio significativo de 1,6 grau Celsius acima da média de 1991/2020. O calor extremo foi impulsionado pelo fenômeno meteorológico El Niño, que também causa seca no Norte/Nordeste, temperaturas elevadas e alteração no regime de chuvas no Centro-Oeste e Sudeste e aumento das chuvas no Sul. Em setembro, a região de Porto Alegre (RS) registrou precipitações recordes, com 410 milímetros acumulados. A elevação global da temperatura terrestre e dos oceanos contribui para a ocorrência maior de desastres naturais que têm grande potencial de prejudicar o 18
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Ag Reportagem de Capa
campo. A produção agropecuária nacional tem tentado se adaptar, usando de planejamento, tecnologia e biotecnologia. A expectativa dos cientistas para 2024 é de mais um período desafiador. Em comunicado recente, a Organização das Nações Unidas (ONU) informou que o El Niño deverá persistir no próximo ano. A ONU destaca a importância de monitorar de perto os desdobramentos e adotar medidas adequadas para lidar com os impactos potenciais dessas condições climáticas prolongadas, algo que o setor agropecuário brasileiro tem tentado fazer. “O risco climático, como todo risco, você não elimina, você gerencia”, diz Maria Flávia Tavares, economista, doutora em Agronegócio, consultora e professora no MBA em Gestão em Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV). “No Sul do Brasil, vimos tudo o que aconteceu por causa da chuva. Os impactos são inevitáveis, mas os produtores têm seguido em frente.”
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Maria Flávia Tavares (abaixo), professora de Gestão em Agronegócio da FGV: “Você não elimina o risco climático. você gerencia”
Entre as medidas que foram adotadas nacionalmente e deverão evoluir nos próximos anos estão o uso de tecnologias de monitoramento climático, investimento em pesquisa para desenvolvimento de culturas mais resistentes e adaptação de sistemas de irrigação eficientes. Além disso, programas de capacitação para agricultores visam promover práticas agrícolas resilientes às mudanças climáticas, buscando assegurar a produtividade. Essas medidas, entretanto, não tornam o setor imune aos eventos extremos. “Apesar de estarmos mais preparados e termos mais tecnologias, o Brasil tem poucas áreas irrigadas e
depende muito do clima”, diz Paulo de Tarso Ziccardi, diretor de Agronegócios da gigante de consultoria Accenture. “Se não houver redução da intensidade do El Niño, poderemos ter impactos relevantes.” Para o consultor em Agronegócios Carlos Cogo, as consequências da chuva no Sul do Brasil já são visíveis e perdurarão no próximo ano. “O clima é uma grande preocupação e, além de impactar a safra, vem atrasando decisões importantes de investimento, compra de maquinário e insumos”, afirma. A adoção de tecnologia é um dos grandes fatores por trás da tentativa de criação do agro “à prova de futuro”. Destacam-se nesse cenário a
O PIB DO AGRO BRASILEIRO DEVERÁ CHEGAR A R$ 2,63 TRILHÕES EM 2023 PLANT PROJECT Nº40
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Ag Reportagem de Capa
Carlos Cogo, consultor: “O clima é uma grande preocupação. Além de impactar a safra, vem atrasando decisões relevantes de investimento”
agricultura de precisão, que utiliza dados geoespaciais para gerenciar variabilidades no campo, aumentando a produtividade e reduzindo custos. Além disso, a Internet das Coisas (IoT) permite o monitoramento remoto de equipamentos, o que otimiza a gestão agrícola. Por sua vez, a implementação de drones e sensores contribui para o mapeamento de áreas extensas e a identificação de problemas rapidamente. Tais tecnologias fortalecem a posição do Brasil como líder global na produção agrícola. “O uso de dados faz muita diferença para o agro”, diz Ziccardi. Há, no entanto, desafios associados a toda essa evolução – e que precisam ser enfrentados em 2024 e mais à frente. Um deles diz respeito justamente à quantidade de dados coletados.
Em muitos casos, a organização, visualização e utilização dessas informações ainda é complexa. “A dificuldade é conseguir transformar tudo isso em algo simples”, afirma Ziccardi. De acordo com o diretor da Accenture, as novas ferramentas vão se beneficiar da mais recente revolução no mundo da tecnologia: a inteligência artificial generativa, capaz de aprender padrões complexos de comportamento a partir de uma base de dados. Mas será que todos estão prontos para colher os frutos dos avanços nos modelos de trabalho do campo? A pergunta traz consigo outros riscos associados à evolução do agro globalmente. Um deles se refere à perda de competitividade daqueles que não conseguirem
NOVAS TECNOLOGIAS REFORÇAM PAPEL DO PAÍS COMO LÍDER DO AGRO 20
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Paulo Ziccardi, diretor da Accenture: “O sistema produtivo brasileiro é sustentável e está alinhado com as práticas requeridas pelo mundo”
acompanhar o ritmo acelerado das mudanças previstas para 2024 e para os anos seguintes. Se boa parte dos ganhos de produtividade se baseia na adoção de novas práticas, no melhoramento genético das variedades de sementes e rebanhos e na implementação de tecnologias de dados, aqueles que seguirem no modelo antigo poderão rapidamente sofrer as consequências econômicas da defasagem. A necessidade de qualificação de mão de obra está diretamente ligada a isso. “Você tem as máquinas, mas não encontra profissionais qualificados para operá-las”, diz Maria Flávia Tavares. Em alguns casos, trata-se também de uma questão sucessória e geracional. Segundo a professora, muitos dos empreendimentos familiares no agro brasileiro encontram dificuldades no processo de sucessão. Dados de um estudo da consultoria PWC mostram que apenas 36% das empresas familiares conseguem perdurar até a segunda geração. Esse índice diminui ainda mais em relação às gerações subsequentes, com apenas 19% mantendo-se na terceira geração, e somente 7% conseguindo alcançar a quarta geração. PLANT PROJECT Nº40
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Ag Reportagem de Capa
“O produtor trabalhou muito, conseguiu alcançar uma certa segurança e mandou os filhos estudarem na cidade”, diz Maria Flávia. Seguindo outras carreiras, a nova geração nem sempre está disposta a assumir os negócios da família. Ao mesmo tempo, a solução para esse dilema pode estar na própria evolução do setor, que se torna mais atrativo conforme se moderniza. A professora estima que, atualmente, 40% de seus alunos de MBA e pós-graduação sejam de filhos de agricultores que buscaram carreiras como medicina, odontologia e psicologia e, agora, estão voltando para o campo. No cenário econômico e geopolítico, o agronegócio brasileiro tem que ficar de olho em diversos fatores externos e internos em 2024. As altas taxas de juros associadas a uma inflação ainda elevada, a continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia, com impacto direto no preço e na disponibilidade de insumos, as consequências da guerra entre Israel e Hamas – com a potencial elevação dos preços dos combustíveis –, a desaceleração econômica da China e o aumento das tensões diplomáticas do gigante asiático com os Estados Unidos estão entre os cenários que serão monitorados de perto pelos principais players do setor. De maneira geral, o Brasil tem conseguido lidar melhor com os soluços externos e as variações nos preços. “A maioria das commodities deve mais ou menos voltar aos preços históricos”, diz Pedro Abel Vieira Junior, pesquisador da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). “O negócio não está ruim, mas também não está maravilhoso.” Um dos exemplos da capacidade de adaptação do campo foi a busca de alternativas após a explosão nos preços dos fertilizantes por causa do conflito entre Rússia e Ucrânia. O Brasil ocupa a quarta posição no ranking global de consumo de fertilizantes, sendo também o maior importador mundial desses insumos. De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), 85% dos fertilizantes consumidos no País são provenientes de importações, sendo que a Rússia contribuía 22
O QUE VEM POR AÍ AS SETE MEGATENDÊNCIAS PARA O AGRO DO BRASIL, SEGUNDO A EMBRAPA
1. Sustentabilidade A crescente demanda por bens e serviços em meio a recursos naturais limitados, juntamente com acordos internacionais e regulamentações ambientais, impulsiona a busca por métodos de produção de alimentos mais sustentáveis. A produtividade deverá aumentar, o que reduzirá a pegada de carbono. Soluções digitais, robótica e automação desempenharão papel crucial nesse processo. A bioeconomia, a gestão ambiental em propriedades rurais e a valorização de serviços agroambientais, juntamente com as agendas ESG, continuarão a ganhar destaque.
2. Adaptação à mudança do clima A alteração climática estabelece uma tendência de considerável importância para o setor agrícola. Isso ocorre em virtude dos compromissos internacionalmente assumidos, que têm repercussões formais na competitividade nacional, além dos possíveis impactos ambientais e econômicos que podem afetar a segurança alimentar e a competitividade do setor agrícola no Brasil. É crucial que os investimentos em pesquisa
e desenvolvimento de tecnologias associadas a sistemas de produção mais resistentes às mudanças climáticas sejam incorporados às decisões estratégicas do Brasil.
3. Agrodigital As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão remodelando cadeias produtivas em diversos setores. Tecnologias emergentes como IoT, big data, 5G, realidade aumentada, computação quântica, robótica, impressão 3D, integração de sistemas, inteligência artificial, machine learning e blockchain impulsionam a digitalização no agronegócio. Similar à mecanização do século 20, essas inovações promovem aumento de rendimento, redução de custos e impacto ambiental.
4. Concentração da produção Esta tendência abrange aspectos sociais, como concentração da produção e esvaziamento do campo, o que impacta o emprego e os custos da mão de obra. Também considera mudanças demográficas e suas relações com migrações, levando em conta os efeitos no setor agrícola.
5. Transformações rápidas no consumo e na agregação de valor A transformação digital acelerada e impacta as relações de mercado,
facilitando o acesso do consumidor a produtos agropecuários e fortalecendo seu poder de influência nas cadeias alimentares. Tendências como sustentabilidade, saúde e segurança alimentar impulsionam práticas sustentáveis de produção, enquanto desafios como a crise alimentar e mudanças nos hábitos pós-Covid-19 demandam adaptações. A biodiversidade brasileira oferece oportunidades para novos produtos, impulsionando o desenvolvimento territorial.
6. Biorrevolução A biorrevolução, marcada pelos avanços das ciências biológicas e pela rápida evolução das tecnologias de informação, terá impactos significativos na agricultura. Os progressos biológicos impulsionam a produtividade, controlam pragas e geram fontes de energia.
7. Integração de conhecimento e de tecnologias A convergência de ciência, tecnologia e inovação na agricultura possibilita soluções rápidas para desafios complexos nas cadeias produtivas do agro, ampliando os horizontes de pesquisa e aplicação. O agro do século 21 transcende a alimentação, abraçando energia, saúde, bem-estar (humano e animal) e integridade planetária. Assim, ele se conecta a propósitos.
Fonte: Relatório Visão de Futuro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) PLANT PROJECT Nº40
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com 23% desse volume. Em 2022, houve uma redução de 8,4% no volume de fertilizantes importados pelo Brasil. No entanto, os gastos aumentaram significativamente, alcançando uma elevação de 63% em relação a 2021. O custo total foi de US$ 25 bilhões para 38 milhões de toneladas. No ano anterior, o País havia importado 41 milhões de toneladas de fertilizantes, despendendo US$ 15 bilhões, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Agora os preços de fertilizantes voltaram aos patamares pré-conflito e o Brasil estruturou acordos de importação de outros países, como Estados Unidos e Canadá, reduzindo a dependência da Rússia. Para 2024, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê expansão menor do PIB chinês, de 4,6%, contra 5,4% em 2023, em meio à contínua fraqueza no setor imobiliário e a demanda externa contida. Apesar disso, o agro do Brasil tem razões para otimismo. No início de abril, o presidente Lula visitou o gigante asiático acompanhado de uma delegação que incluía diversos representantes do setor agropecuário. Durante a agenda oficial, foram formalizados 25 acordos bilaterais, visando fortalecer ainda mais os laços com o principal parceiro comercial do Brasil. Em 2022, a China desempenhou um papel significativo, sendo responsável por US$ 50,7 bilhões dos US$ 158,8 bilhões exportados pelo setor agropecuário brasileiro, conforme indicado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os documentos assinados pelos representantes do Brasil e da China destacam a abertura do mercado chinês para novos produtos brasileiros, simplificação dos procedimentos de exportação, investimentos e transferência de tecnologia para a indústria agropecuária. Além disso, os protocolos incluem ações conjuntas no combate à fome global e a possibilidade de realizar negociações sem a necessidade do uso do dólar. “As importações da China são uma questão de soberania alimentar”, diz a professora Maria Flávia Tavares, destacando que, apesar da desaceleração econômica chinesa, o Brasil ainda se manterá com papel de destaque entre os parceiros comerciais da nação asiática. A esses fatores que podem influenciar os PLANT PROJECT Nº40
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Ag Reportagem de Capa
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Luiz Carlos Carvalho, presidente da Abag: “O aspecto geopolítico e econômico mais importante para o agronegócio brasileiro continuará a ser o protecionismo”
negócios em 2024, as lideranças do setor acrescentam ainda outros três: a continuidade da aplicação de medidas protecionistas, as eleições municipais no Brasil e o novo governo na Argentina, liderado pelo ultraliberal Javier Milei. “O aspecto geopolítico e econômico mais importante continuará a ser o protecionismo”, diz Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), entidade que reúne 70 associadas da cadeia do agronegócio. Para o executivo, leis como o Green Deal europeu, que estabelece uma série de medidas
visando à neutralização das emissões de carbono no continente – o que dificulta a entrada de produtos estrangeiros –, e o Inflation Reduction Act (IRA), nos Estados Unidos, que destinou US$ 18 bilhões em novos financiamentos especificamente para atividades de agricultura e silvicultura “climaticamente inteligentes” (CSAF), podem representar barreiras às exportações brasileiras. “Além disso, internamente teremos eleições municipais que podem acirrar populismos, que são sempre muito negativos para a economia e o agro”, diz Carvalho.
O CULTIVO SUSTENTÁVEL É UMA ROTA IRREVERSÍVEL PARA O SETOR 26
Na Argentina, grande parceiro comercial do Brasil e um dos maiores exportadores de commodities agrícolas, a expectativa é pela adoção de um modelo econômico mais liberal, com menor poder do Estado e mais controle privado. Os eventuais impactos disso, no entanto, não devem ser sentidos de imediato. “O problema da Argentina é tão grave, que nenhum resultado deve aparecer ainda em 2024”, diz o consultor em Agronegócios Carlos Cogo. “Algumas coisas até podem ter início no primeiro semestre, como uma eventual movimentação de estoques retidos, impactando para baixo os preços em geral, mas isso ainda é incerto.” Se por um lado as pressões europeias e americanas por descarbonização – acompanhadas de generosos incentivos à produção doméstica – representam um desafio para o agroexportador, por outro o cultivo sustentável se mostra
como uma tendência irreversível, trazendo novas oportunidades para o País em 2024. “Temos que nos ajustar a essa nova realidade e aproveitar os valores importantes e positivos que o Brasil tem no campo das bioenergias e das commodities agrícolas de baixa emissão de carbono”, diz o presidente da Abag. Impulsionado pela regulação governamental que dita os percentuais de áreas de proteção e recuperação segundo as regiões do País, os produtores buscam adaptar o manejo às exigências maiores dos consumidores dentro e fora do Brasil. “O sistema produtivo brasileiro é sustentável e está superalinhado com as práticas requeridas pelo mundo”, afirma Paulo de Tarso Ziccardi. É preciso, no entanto, avançar ainda mais na adoção dessas medidas, sem perder a competitividade. “O prêmio que se paga pelo PLANT PROJECT Nº40
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Ag Reportagem de Capa produto mais sustentável e saudável tende a desaparecer”, afirma Vieira Junior, da Embrapa. “E novas certificações tendem a criar outros parâmetros de avaliação para os produtores.” Ao mesmo tempo, o País é referência na produção de biocombustíveis a partir de etanol e milho, usando também os subprodutos dessa indústria para gerar energia elétrica mais limpa. Em 2024, esses aspectos serão ainda mais valorizados. “O consumidor impacta cada vez mais as cadeias produtivas”, diz Maria Flávia Tavares. “Hoje em dia, o caminho é mais da mesa ao campo do que do campo à mesa, revertendo a lógica do passado.”
Segundo a especialista, uso de bioinsumos, integração entre lavoura, pecuária e floresta, cuidados cada vez mais criteriosos com o bem-estar animal e adoção de práticas de governança ESG estão entre os muitos exemplos de como o agro brasileiro evoluiu. “Alguns produtores estão até financiando educação para funcionários e seus familiares”, afirma. Por fim, a pressão dos grandes bancos e fundos de investimento por um campo cada vez mais sustentável significa que a cadeia produtiva como um todo será continuamente impulsionada nessa direção. Neste Réveillon, o verde será a cor obrigatória.
FUTURO PROMISSOR
AS PROJEÇÕES DA CONAB PARA OS GRÃOS E A CARNE BRASILEIRA EM 2023-24 GRÃOS SOJA | estimativa de safra recorde ÁREA: 45,3 milhões de hectares (+2,8% sobre 2022/23) PRODUTIVIDADE: 3.585 kg por hectare (+2,2%) PRODUÇÃO: 162,4 milhões de toneladas (+5,1%) EXPORTAÇÃO: 101,4 milhões de toneladas (+4,7%) CONSUMO INTERNO: 54,9 milhões de toneladas (+3,9%) MILHO | desaceleração especialmente por menor demanda externa ÁREA: 21,2 milhões de hectares (-4,8% sobre 2022/23) PRODUTIVIDADE: 5.651 kg por hectare (-4,6%) PRODUÇÃO: 119,85 milhões de toneladas (-9,1%) EXPORTAÇÃO: 38 milhões de toneladas (-26,9%) CONSUMO INTERNO: 84,56 milhões de toneladas (6,45%) ARROZ | retomada após um ciclo difícil ÁREA: 1.629,9 mil hectares (+10,2% sobre 2022/23) PRODUTIVIDADE: 6.946 kg por hectare (+2,4%) PRODUÇÃO: 11,32 milhões de toneladas (+12,8%) 28
EXPORTAÇÃO: 2,1 milhões de toneladas (+16,7%) CONSUMO: 10,25 milhões de toneladas (=) FEIJÃO | leve recuperação, mas com produtividade ainda em baixa ÁREA: 2.743,7 mil hectares (+1,9% em relação à safra 2022/23) PRODUTIVIDADE: 1.081 kg por hectare (-4,2%) PRODUÇÃO: 2,97 milhões de toneladas (-2,4%) EXPORTAÇÃO: 165 mil toneladas de exportação (=) CONSUMO: 2,85 milhões de toneladas (=) ALGODÃO EM PLUMA | menor produtividade por causa do El Niño ÁREA: 1.697,4 mil hectares (+2% em relação à safra 2022/23) PRODUTIVIDADE: 1.753 kg por hectare (-7,4%) PRODUÇÃO: 2,98 milhões de toneladas (-5,6%) EXPORTAÇÃO: 2,35 milhões de toneladas (+39,5%) CONSUMO: 735 mil toneladas (+6,5%)
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CARNES BOVINA | estabilidade e protagonismo no mercado internacional REBANHO: 232,93 milhões de cabeças (+1,1% em relação a 2023) PRODUÇÃO DE CARNE: 9,25 milhões de toneladas (+0,1%) IMPORTAÇÃO: 88,9 mil toneladas (+5%) EXPORTAÇÃO: 2,96 milhões de toneladas (+1,4%) DISPONIBILIDADE INTERNA: 6,38 milhões de toneladas (-0,4%) DISPONIBILIDADE PER CAPITA: 31,1 kg por habitante (-1,0%) FRANGO | perspectiva recorde para o mercado interno e externo ALOJAMENTO DE PINTOS DE CORTE: 7,29 milhões de cabeças (+2,7% em relação a 2023) PRODUÇÃO DE CARNE: 16,03 milhões de toneladas (+3,8%) IMPORTAÇÃO: 5,1 mil toneladas (+5%) EXPORTAÇÃO: 5,25 milhões de toneladas (+3,6%)
DISPONIBILIDADE INTERNA: 10,78 milhões de toneladas (+3,9%) DISPONIBILIDADE PER CAPITA: 52,6 kg por habitante (+3,4%) SUÍNA | melhor rentabilidade e maior produção REBANHO: 44,14 milhões de cabeças (+1,0% em relação a 2023) PRODUÇÃO DE CARNE: 5,57 milhões de toneladas (+4,2%) IMPORTAÇÃO: 24 mil toneladas (+5%) EXPORTAÇÃO: 1,25 milhão de toneladas (+2,1%) DISPONIBILIDADE INTERNA: 4,35 milhões de toneladas (+4,8%) DISPONIBILIDADE PER CAPITA: 21,2 kg por habitante (+4,2%)
Fonte: Projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) PLANT PROJECT Nº40
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O ANO DOS OPOSTOS Em 2023, a euforia da safra recorde de grãos foi sucedida pela apreensão diante da estiagem mais intensa deste século e da ocorrência de tempestades e tufões
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Por Marco Damiani
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or muito tempo o ano de 2023 será lembrado pelo produtor rural por dois motivos opostos. A euforia de uma safra recorde de 322,8 milhões de toneladas de grãos foi sucedida, num piscar de olhos, pela apreensão diante da estiagem mais intensa deste século, de tempestades e tufões. “Nunca vivemos no Brasil uma situação como esta, de agressões climáticas simultâneas em diferentes regiões do País”, diz o engenheiro agrônomo Evandro Carmo Thiesen, diretor da Aprosoja-MT. “Houve alertas meteorológicos, mas o produtor mal teve tempo de se preparar. A virada do clima entre setembro e outubro foi muito veloz e radical.” Os fenômenos naturais que desafiam o agronegócio neste momento estão em linha com a notícia dada pelo Observatório Copernicus, da União Europeia, e um dos mais respeitados do mundo: o dia 17 de novembro registrou, pela primeira vez na história, uma temperatura média global 2 graus centígrados acima do nível pré-industrial e 1,17 grau além da média registrada entre 1991 e 2020, numa disparada que descontrola o meio ambiente e impressiona os climatologistas. Sabe-se há tempos que as mudanças climáticas chegaram para ficar. Agora, estão em pleno avanço. No Brasil, o clima se mostrou caótico no início do plantio da safra de soja. Na região Sul, ventanias e temporais causaram inundações em pelo menos 50 municípios, prejudicando a plantação de lavouras inteiras no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O Paraná se tornou uma exceção, graças a uma melhor regularidade nas precipitações. No Sudeste e no Centro-Oeste, de onde saem 60% da produção nacional, a prolongada estiagem fora de época, acompanhada de pesadas ondas de calor, atrasou boa parte da semeadura. As cenas de grandes rios PLANT PROJECT Nº40
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transformados em alamedas de areia, no coração da região Norte, ressaltaram a dramaticidade da maior seca na região amazônica dos últimos 20 anos. Apesar de registrar temperaturas que superaram os 50 graus centígrados, o Nordeste foi beneficiado por chuvas mais regulares, proporcionando o plantio no momento tradicional, da Bahia ao Maranhão. Porém, grandes polos agrícolas, como os municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano, sofreram com uma longa ausência de chuvas. Os extremos do clima atingem em cheio a produção agrícola. “Já está dada, para 2024, uma queda na produção brasileira de grãos, mas não se sabe ainda a exata dimensão dessa perda”, afirma o produtor Azael Pizzolato Neto, diretor da Aprosoja-SP e líder de uma operação com 2,5 mil hectares de soja em Jaboticabal, no interior de São Paulo. “Os preços em Chicago já subiram, num sinal de que as nossas dificuldades pontuais, que certamente terão reflexos na colheita e na safrinha do milho, estão sendo registradas pelo mercado.” A combinação do aumento da demanda mundial por farelo e as incertezas sobre a safra brasileira levaram o grão a uma tendência de alta na bolsa americana em outubro. Dá-se como certo, por outro lado, que Argentina, Uruguai e Paraguai, não afetados pelas anomalias do clima, terão um melhor desempenho em relação à safra passada. No mercado agrícola brasileiro, já há comparações entre os futuros resultados da safra 2023/24 com os de 2015/16, quando a colheita total de 184 milhões de toneladas de grãos foi 12,2% inferior à obtida no ciclo 34
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A EXPEDIÇÃO DA SECA TÉCNICOS PERCORREM 8 MIL QUILÔMETROS NO MATO GROSSO PARA VERIFICAR EFEITOS DA ESTIAGEM DURANTE O PLANTIO DAS LAVOURAS DE SOJA
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ma expedição que percorre 8 mil quilômetros dentro do Mato Grosso, um dos estados mais afetados pela estiagem no início do plantio da safra de soja, está mapeando a situação de lavouras de todos os portes. Criada por técnicos da Aprosoja-MT, a missão busca conhecer as dificuldades enfrentadas pelos agricultores. Em episódios apresentados no canal da entidade no YouTube, os sete participantes do projeto se revezam nas viagens para avaliar o desempenho da semeadura nas
regiões produtivas do estado e compartilhar informações de boas práticas. “Com a virada do clima a partir de setembro, passamos a receber relatos bastante preocupantes de nossos associados”, diz Evandro Carmo Thiesen, diretor da entidade, que possui 8 mil produtores filiados. “Havia muita informação desencontrada, sem consistência de registro. Decidimos, então, documentar in loco o quadro real desse início de safra.” Com as câmeras dos celulares, os técnicos têm colhido cenas e informações preciosas das agruras causadas nas lavouras pelas mudanças climáticas. No tradicional município produtor de Pedra Preta, na região de Rondonópolis, um trio de expedicionários encontrou diversos talhões com as plantas inteiramente queimadas pela ação do sol e a ausência de chuvas. “As folhas esfarelaram em nossas mãos”, diz Thiesen, que participa do revezamento. “A maioria dos danos é irreversível.” Após visitar plantações
em Campo Verde e Nova Mutum, na região Sul, ele não esconde o espanto. “Naquelas terras ricas e de cultura de soja consolidada, este ano a situação começou catastrófica.” Há forte preocupação com os prejuízos econômicos para os produtores que não conseguirem fazer a sua safrinha de milho. Em relação à soja, a constatação dos técnicos é a de que plantas que ultrapassarem vivas a estiagem não terão um crescimento adequado. A produtividade deverá ficar comprometida. Nas fotos sem retoques, o que se vê são plantas ressecadas, sementes quebradas e folhas frágeis. Uma parte delas atingiu o estágio de murcha permanente. Na última semana de novembro, felizmente, a projeção de ocorrência de chuvas após o afastamento de uma zona de pressão atmosférica aumentou as esperanças de recuperação da safra no Mato Grosso. “Alguma chuva, mesmo atrasada, nos dará uma recuperação expressiva”, projeta Thiesen. PLANT PROJECT Nº40
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anterior. “As condições climáticas entre aquela safra e a atual guardam muitas semelhanças”, diz o meteorologista Willians Beni, sócio e diretor de Comunicação da Climatempo. “Se o produtor quiser um parâmetro do que pode acontecer, acho essa uma boa referência.” Autorizados a plantar a partir de setembro, muitos produtores adiaram a semeadura à espera de melhores condições hídricas. Entre os que plantaram, uma parte se viu pressionada a replantar, em razão do não desenvolvimento das primeiras sementes, mas sem garantias de 36
melhor germinação. O uso de sementes mais resistentes e boas práticas que buscam minimizar os efeitos da seca estão disseminadas entre os produtores. “Em São Paulo e no Paraná, mesmo com pouca chuva, o agricultor plantou, mas em Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com peso enorme no resultado nacional da safra de grãos, a maioria resolveu adiar até onde for possível, à espera das chuvas”, narra o produtor Pizzolato. “Não existe a opção de não plantar, porque todo um planejamento foi executado, com compras de
A crescente tecnificação das lavouras é um trunfo do agronegócio brasileiro para enfrentar a severidade climática
sementes, fertilizantes e insumos feitas na metade deste ano.” Debaixo de tempestades que castigaram regiões de excelência produtiva na região Sul, um antigo fantasma ressurgiu no Paraná: a ferrugem-asiática. Esse fungo infecta as plantas expostas a estresse hídrico e pode se propagar pelo ar, com o vento espalhando seus esporos microscópicos entre as plantações. O primeiro caso na atual safra foi identificado numa lavoura do município de Paranapanema. O Consórcio Antiferrugem, coordenado pela
Embrapa, anunciou em seguida a ocorrência de mais 18 casos nos três estados sulistas e dois em Tocantins. Manter a terra forrada por palha de milho, de cana-de-açúcar ou por braquiária, para reduzir a exposição ao sol, construir um perfil do solo, manter a terra compactada e aprofundar as sementes têm sido algumas das técnicas utilizadas para maximizar o potencial de crescimento das lavouras. O desequilíbrio de chuvas é um redutor da produtividade da safra. Vale nesse caso o que os agrônomos PLANT PROJECT Nº40
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As tempestades que castigaram regiões de excelência produtiva fizeram ressurgir um antigo fantasma: a ferrugem-asiática 38
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chamam de “lei do mínimo”, pela qual o desenvolvimento da planta estará sempre limitado pelo nutriente com menor presença no solo. No caso, a água, o mais importante dos insumos. Na pecuária, em paralelo, os problemas se anunciam. Seco, o pasto não cresce, acarretando menor disponibilidade de forragem, perda de qualidade e queda do valor nutricional do capim. O gado passa a buscar mais sustento, aumentando o pisoteio e piorando a qualidade do solo. Abre-se um ciclo negativo, no qual a engorda demora mais tempo. Na Amazônia Legal, onde está 40% do rebanho de 196 milhões de animais do País, pecuaristas têm realizado vendas antecipadas, abaixo do peso ideal, diante da perspectiva de uma engorda dificultada nos próximos meses. A tecnificação das lavouras é um trunfo do agronegócio brasileiro para enfrentar a severidade climática. O desenvolvimento de sementes mais bem adaptadas às hostilidades do clima seco ou chuvoso está entre os diferenciais. O mercado oferece uma série de opções para o plantio, que já enfrentaram com sucesso diferentes testes de estresse. Na mesma direção segura, os bioinsumos têm sido cada vez mais decisivos nos resultados das colheitas. Uma das mais recentes descobertas da Embrapa é a rizobactéria extraída do cacto mandacaru, exaltado em prosa e verso na cultura popular, típico do semiárido nordestino. Após nada menos que 12 anos de pesquisas lideradas pelo cientista Itamar Soares de Melo,
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As pesquisas científicas de ponta realizadas no Brasil têm contribuído para a redução dos impactos negativos dos extremos do clima
acrescidos de três anos de testes, a equipe da Embrapa Jaguariúna chegou ao bioinsumo Auras, presente no mercado desde 2021. Quatro milímetros do líquido extraído da Bacillus aryabhattai CMAA 1363, adicionados a 1 quilo de sementes, provocam o aumento do tamanho das raízes das plantas, que crescem mais profundamente à procura de água no subsolo. Projetada para o milho, a biossolução já está adaptada à soja e os estudos avançam em direção ao café e à cana-de-açúcar. As pesquisas públicas, de instituições acadêmicas e de empresas privadas já produzi40
ram uma série de sementes de soja aptas a aproveitar ao máximo qualquer ocorrência de chuvas. “O crescimento da planta ficou mais rápido”, diz o sojicultor Pizzolato. “O produtor sabe que não está sozinho, porque já tem um longo histórico de apoio de técnicos e cientistas que ajudaram a tornar a agricultura brasileira uma das mais eficientes do mundo.” A soma da capacidade científica com a técnica e a resiliência dos produtores brasileiros é a melhor garantia de que o agronegócio está preparado para combater os efeitos das mudanças climáticas na atividade produtiva.
CHEFE-GERAL DA EMBRAPA TERRITORIAL, GUSTAVO SPADOTTI DIZ QUE A EMPRESA ESTÁ PRONTA PARA ENFRENTAR OS DESAFIOS CLIMÁTICOS
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o ano em que completa meio século, a Embrapa tem pela frente o maior desafio científico desde a sua fundação, em 1973. Neste momento de extremismo climático, a empresa avança em pesquisas de bioinsumos, também conhecidos como bioprodutos, capazes de reduzir os efeitos da seca e do excesso de chuvas no campo. “Buscamos soluções que mantenham a agropecuária brasileira como a mais inovadora do mundo”, define o engenheiro agrônomo Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial, braço da empresa pública encarregado de colher, analisar e compartilhar informações científicas com os agentes do agronegócio. Mestre e doutor em agricultura, ele reconheceu que a safra 2023/24 começou sob as condições desafiadoras. Confira a entrevista a seguir.
DIANTE DA FORÇA DESTRUTIVA DOS EVENTOS CLIMÁTICOS NESTE ANO, QUAL É O CENÁRIO PARA A SAFRA DE SOJA? O primeiro passo foi um tropeço. Uma grande massa de agricultores foi pega de surpresa pela extensão da
estiagem no Sudeste, Centro-Oeste e Norte e a força das intempéries no Sul. A virada de chave foi muito rápida, com enormes variações de temperatura e pressão a partir do final do mês de setembro. Quanto maior o estresse, menor é o potencial de ganho. HÁ UM COMPROMETIMENTO DO RESULTADO FINAL DA SAFRA? Acredito que sim. Com a falta de chuvas, plantios foram adiados e outros tiveram de ser refeitos. O atraso em muitos casos chega a ser de um mês em relação à data ideal. A tendência é de colheitas tardias. A dificuldade da soja poderá ser transmitida para a safrinha, o que vai acarretar problemas para as culturas de milho, trigo, cevada, aveia, centeio, feijão, algodão e outras. JÁ É POSSÍVEL DIMENSIONAR AS PERDAS? Não, é muito cedo. A ocorrência de chuvas onde há seca e de redução das tempestades terá impacto direto para mudar o atual panorama. Muitas variedades
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“VAMOS VENCER”
de sementes respondem com grande eficiência a pequenas precipitações. As descobertas científicas da Embrapa e de outras instituições públicas e privadas têm dado mais alternativas de manejo aos produtores. É claro que, quanto mais tecnificada for uma lavoura ou operação de gado, maior será a sua capacidade de enfrentamento às mudanças climáticas. O QUE A EMBRAPA TERRITORIAL PROPÕE PARA QUE A SAFRA NÃO FRACASSE? Dar continuidade ao trabalho de integração entre produtores e técnicos que vem dando resultados expressivos nos últimos 50 anos. Ultrapassamos juntos uma série de anomalias, não será diferente agora. A agricultura de precisão, em que cada detalhe conta, precisa ser estendida a um maior número de produtores rurais. Manter o pequeno produtor informado em tempo real sobre as inovações para o cultivo deve ser encarado como prioridade. A Embrapa está preparada para enfrentar os desafios de nosso tempo. PLANT PROJECT Nº40
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MIL E UMA UTILIDADES Palmeira com múltiplos atributos, a macaúba está se tornando vital na corrida pela economia de baixo carbono
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corrida pela economia de baixo carbono tem levado as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro a buscar matérias-primas que apresentem alto desempenho no campo e na indústria, alcancem ótima rentabilidade e promovam ganhos sociais significativos. Por reunir todas essas características, a macaúba (Acrocomia aculeata) vem ganhando espaço no País. Dos frutos dessa palmeira são extraídos diferentes insumos – entre eles, o que chama mais a atenção são os óleos retirados da polpa e da amêndoa, considerados altamente competitivos para a fabricação de biodiesel. Um estudo realizado pela Embrapa Agroenergia mostra que as perspectivas para o óleo da macaúba são promissoras, inclusive pela possibilidade de superar o rendimento da palma de óleo (Elaeis guineenses), que responde por 45% do óleo vegetal consumido no mundo. A soja vem na sequência, com 28% desse fornecimento. Além da alta performance em termos de produtividade, a macaúba não é tóxica, serve como alimento nutritivo para animais e humanos, ajuda na recuperação de áreas degradadas e pode ser cultivada em sistemas integrados com outras atividades agrícolas e pecuárias.
estudo feito pela Embrapa Agroenergia mostrou que a macaúba deverá superar o rendimento da palma de óleo, que responde por 45% do óleo vegetal consumido no mundo
O avanço da exploração comercial da macaúba conta com o apoio de políticas públicas, como o Programa de Preço Mínimo de Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), o selo “Combustível Social” para a compra de matéria-prima da agricultura familiar para a produção de biodiesel e o RenovaBio, criado para assegurar a inserção de biocombustíveis na matriz energética nacional em paralelo à descarbonização do setor. O que falta agora, de acordo com a Embrapa Agroenergia, é o alcance de resultados em grande escala. Entre os projetos destacados no estudo da
Embrapa está o da Soleum, agtech que nasceu com o objetivo de produzir matérias-primas com carbono negativo, em larga escala, para transformar indústrias de energia, química e de alimentos. A Soleum tem planos ambiciosos para a macaúba. Sua ideia é chegar a 1,65 milhão de hectares produtivos, envolvendo diferentes atividades agrícolas e pecuárias, e domesticar sete espécies nativas para reflorestar 5 milhões de hectares de áreas degradadas com o plantio de 1,8 bilhão de árvores nativas até 2045. A fase inicial da estratégia, que vai até 2028, tem como metas o plantio de 65 milhões de árvores de macaúba e o reflorestamento de 180 mil hectares. Entre os insumos necessários para colocar tudo isso em prática está o capital, que já começou a chegar. Em 2023, a companhia recebeu R$ 54 milhões de um primeiro funding, e os recursos serão destinados para o desenvolvimento do projeto, a formação de equipe, a implemenPLANT PROJECT Nº40
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tação de tecnologia e a realização de testes genéticos em laboratórios. “Fizemos um planejamento para usar esse investimento até o ano que vem, com muito cuidado, aplicando no que é mais importante”, diz Francisco de Blanco, cofundador e CEO da Soleum. Segundo o executivo, a empresa busca uma segunda rodada de investimentos para conseguir, até o final de 2023 ou início de 2024, outros US$ 254 milhões, que serão aplicados na ampliação de germoplasma, no desenvolvimento de unidades industriais e na criação do primeiro cluster de 35 mil hectares. As ambições da Soleum se devem, em boa medida, à experiência do CEO da empresa. Blanco carrega vasta vivência em projetos de infraestrutura e geração de energia – antes da nova empreitada, chegou a ter uma empresa que elaborava e financiava esse tipo de negócio. Em 2018, o executivo iniciou uma biorrefinaria no Paraguai, empreendimento voltado à produção de biodiesel a partir de óleos vegetais e animais. “Até aquele momento, não havia pensado no fator sustentabilidade dentro da questão energética, não imaginava que existia tecnologia para realizar o que fazemos atualmente.” Com o decorrer do tempo, Blanco passou a se dedicar a projetos ligados à energia renovável. Suas pesquisas concentravam-se em novas 46
Francisco de Blanco, cofundador e CEO da Soleum: a meta da empresa é plantar 65 milhões de árvores de macaúba
opções de matéria-prima para bioenergia, inclusive nos Estados Unidos e na Europa, de preferência que não competissem com alimentos e que pudessem ser cultivadas em terras menos óbvias, e até menos vantajosas do ponto de vista agronômico. “Meu desejo era trabalhar com árvores de origem brasileira”, afirma o executivo. Era a deixa para a entrada da macaúba no negócio. Até havia a possibilidade de iniciar pesquisas com o babaçu, mas Blanco preferiu investir em uma planta mais voltada ao bioma Cerrado, em vez de apostar em outra com características da Amazônia. Embora a macaúba também possa ser cultivada na região amazônica, “é uma opção, e não uma obrigatoriedade para o plantio bem-sucedido da palmeira”, como informa a Embrapa Agroenergia. Nativa de zonas tropicais e subtropicais, a macaúba é encontrada, além do Cerrado, na Mata Atlântica, no Pantanal, na região do semiárido e na Amazônia. A farta distribuição geográfica da palmeira indica a existência de ampla diversidade genética da planta, condição que pode ser tão vantajosa quanto desafiadora. Quem pretende investir em projetos de bioenergia tem de saber exatamente quais são as variedades mais adequadas ao empreendimento, que tendem a proporcionar o melhor rendimento de acordo com as características do ambiente
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O DESTINO DA PLANTA Confira as principais aplicações da macaúba
CASCA – ENERGIA / ADITIVOS POLPA – ÓLEO VEGETAL CASTANHA – ENERGIA AMÊNDOA – ÓLEO VEGETAL Fonte: Embrapa Agroenergia
e as metas do negócio. É aí que surge um dos principais diferenciais da Soleum. Em maio deste ano, a companhia fortaleceu sua base estrutural com a incorporação da empresa Soleá, que, por sua vez, havia adquirido a Acrotech, fundada em 2007 pelo professor e pesquisador da Universidade Federal de Viçosa, Sergio Motoike. Vital nessa história, a Acrotech desenvolveu a tecnologia de quebra de dormência da semente da macaúba, possibilitando a produção de sementes pré-germinadas. A descoberta garantiu a exclusividade da produção nacional, em escala, de sementes de macaúba com qualidade genética. Se as pesquisas brasileiras sobre a capacidade de produção de óleo por 48
hectare já mostravam rendimento quase dez vezes maior do que o da soja, a expectativa seria ainda mais favorável com o melhoramento genético. A compra do pacote tecnológico feita pela Soleum era ainda mais completa. O trabalho de domesticar a macaúba para transformá-la em uma cultura agrícola estava sendo realizado em uma fazenda de 2,6 mil hectares, em João Pinheiro, região noroeste de Minas Gerais. A propriedade abriga campos experimentais compostos por cerca de 300 mil árvores e diferentes genótipos da palmeira. Atualmente, a capacidade de produção de sementes selecionadas é suficiente para abastecer o plantio de 50 mil hectares por ano. Para o CEO da Soleum, a plataforma genética garante a previsibilidade do que será plantado, uma vantagem que coloca a empresa à frente de quem decide investir em macaúba. “O que estamos fazendo é refinar a genética”, afirma. “E já estamos inclusive dominando o protocolo de clonagem.” Entre os fatores que alimentam o otimismo de Blanco em relação ao futuro do empreendimento estão as oportunidades de mercado, sustentadas pela preocupação com uma matriz energética mais sustentável e pela demanda por combustíveis capazes de reduzir a emissão de CO2. “Olhando a médio e longo prazos, é muito difícil nos depararmos com a situação de não haver mercado, de não ter onde colocar nosso produto ou de não ser mais vantajoso em termos de sustentabilidade”, assegura o CEO. A transição energética é uma realidade e, cada vez mais, uma questão vital para o futuro do planeta. “Há o consenso de que precisamos criar alternativas”, afirma Blanco. “Pouco se fala de que em algum momento teremos de lidar com o final do petróleo. Por isso, precisamos do óleo vegetal, e as fases de transição demoram a acontecer.” Nesse contexto, a macaúba pode ser a chave para um futuro mais sustentável.
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Pesquisa mostra o aumento da presença feminina no agronegócio e reforça o papel vital das mulheres na renovação do setor
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Franciele Trentini, da agência OCP Group (a primeira, abaixo), e Juliana Chini, da startup Arable: oito entre dez mulheres entrevistadas pela pesquisa disseram se sentir acolhidas trabalhando no agronegócio
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a década de 1960, a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Johanna Döbereiner liderou os estudos que levaram à viabilização da fixação biológica de nitrogênio (FBN) no cultivo da soja, descoberta que mudou a história da produção nacional da oleaginosa. Desde então, a cada safra o Brasil vem economizando bilhões de dólares com fertilizantes químicos, o que abriu caminho para que chegasse ao topo da produção global do grão. Mais do que a contribuição agronômica, Johanna deixou cravada a importância da mulher na pesquisa agropecuária. O avanço feminino no agro é um processo irrefreável, inclusive na liderança de diversas instituições ligadas ao setor. A própria Embrapa, um dos órgãos de pesquisa mais importantes do agronegócio no mundo, agora é presidida por uma mulher – Silvia Massruhá assumiu o cargo em 1º de maio deste ano –, algo inédito em 50 anos de história da instituição. Assim como Johanna e Silvia,
há diversos outros exemplos de mulheres que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento do agro nacional. Um retrato desse movimento pode ser conferido na segunda edição da pesquisa “Mulheres que Inovam o Agro”, realizada pela AgTech Garage, um dos principais hubs de inovação do agronegócio do País e que pertence à consultoria PwC. O estudo aponta como as mulheres inovam, quais são seus perfis e onde estão. O número de participantes em 2023 – cerca de 800 – é quase sete vezes maior do que o da primeira edição, que foi respondida por 120 mulheres. De acordo com a editora-chefe de Conteúdo do AgTech Garage, Marina Salles, o projeto surgiu pela curiosidade – ou inquietação – de entender a razão de não haver tantas mulheres em cargos de liderança no agronegócio. Entre as características que se destacaram nos resultados da pesquisa estão o grau de instrução das participantes: 41,6% têm pós-graduação, enquanto 12,4% possuem mestrado e 10,5%, doutorado. Sobre os campos em que se formaram, a maior parte (35,6%) é de Ciências Agrárias e o segundo grupo mais
numeroso, o de Ciências Humanas (32,3%). Em relação às áreas de atuação, as administrativas estão no topo da lista (37%), seguidas por prestação de serviços (34%) e desenvolvimento de tecnologias (22,9%). A quantidade de participantes em posição de liderança reflete o que vem ocorrendo com o agronegócio como um todo, ainda que seja significativo o desequilíbrio entre o número de homens e mulheres nessas cadeiras. Das 838 entrevistadas, 21,1% se descreveram como proprietárias ou cofundadoras; 6,6% são diretoras; 10,7% são coordenadoras; e 18,9% ocupam cargos de gerência. A gerente de Marketing para a América Latina da startup Arable, Juliana Chini, reconhece, em sua própria área de atuação, a relevância do mapeamento para que se possa entender melhor quem são essas profissionais. “Se você junta os segmentos agro e tecnologia, a maioria das vagas ainda está ocupada por homens”, diz. Oito entre dez mulheres entrevistadas pela pesquisa disseram se sentir acolhidas trabalhando no agronegócio. No entanto, o acolhimento pode ser reflexo de como elas se percebem em relação a outras mulheres. O apoio
BEM INSTRUÍDAS O grau de instrução das mulheres do agro
41% TÊM PÓS-GRADUAÇÃO 31% TÊM ENSINO SUPERIOR 12% TÊM MESTRADO 10% TÊM DOUTORADO PLANT PROJECT Nº40
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CARGO QUE OCUPAM Elas estão cada vez mais perto do topo
21% SÃO PROPRIETÁRIAS OU COFUNDADORAS 19% ESTÃO NA GERÊNCIA 17% SÃO ESPECIALISTAS 12% TRABALHAM NA OPERAÇÃO 11% SÃO COORDENADORAS 6% ESTÃO EM DIRETORIAS 3% SÃO ESTUDANTES 2% SÃO ESTAGIÁRIAS Fonte: AgTech Garage 9% OUTROS
mútuo, de fato, traz sensação de conforto e segurança. “E também derruba aquele preconceito de que as mulheres são competitivas entre si”, afirma Franciele Trentini, gerente de Inovação da agência OCP Group. A oitava edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agro (CNMA), realizada em São Paulo (SP) nos dias 25 e 26 de outubro, e que reuniu cerca de 3,3 mil participantes, é exemplo dessa integração. As congressistas eram de 26 estados brasileiros, de países como Argentina, Bolívia e Paraguai, além da Europa e América do Norte. O encontro se transformou no maior evento da América Latina voltado às mulheres do setor. Na contramão do empoderamento, vem um histórico desafio, e não só do agro, mas da sociedade como um todo. Nove entre dez participantes do estudo já passaram por alguma situação de machismo no ambiente de trabalho. Mais da metade (53,7%) afirmou já 54
ter enfrentado um caso de manterrupting, quando o homem interrompe constantemente uma mulher de maneira desnecessária, impedindo que ela expresse suas ideias. O termo é a soma das palavras em inglês man (homem) e interrupting (interrupção). Diversas outras atitudes machistas foram citadas nas respostas, a despeito do grau de instrução, tamanho da corporação, elo da cadeia ou posição hierárquica. A identificação do problema só foi possível porque houve um cuidado na forma de abordar o tema. Principalmente, explicando de forma clara o que e como são esses comportamentos. “Foi um ponto vitorioso nessa edição”, diz Marina Salles. “Procuramos explicar melhor os problemas para que fossem reconhecidos.” Como outros preconceitos, o machismo está presente na sociedade de forma estrutural. Em muitos casos, nem é entendido como tal. “Infelizmente, há homens que não sabem
Simone Beier, da cargill (de vermelho), e Marina Salles, do AgTech Garage: as mulheres trazem novo olhar para o setor
que estão cometendo machismo e mulheres que não reconhecem a situação”, afirma Juliana Chini. Ela diz que não percebia as atitudes preconceituosas no início de carreira. A situação mudou. Hoje em dia, não aceita ouvir comentários considerados machistas. Mais que isso, conversa a respeito. “Falo que me senti ofendida e alerto que outras mulheres podem se sentir dessa forma também”, diz. As empresas estão atentas às mudanças da sociedade. “Deixamos muito claro em todos os nossos treinamentos que não toleramos assédio ou discriminação”, diz Simone Beier, diretora de Recursos Humanos da americana Cargill, uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Para que haja a devida compreensão do cenário, a companhia investe em políticas de orientação, educação e conscientização. Simone chegou à empresa em 2016 e foi quem liderou a criação de um comitê de diversidade. “Já havia algumas estratégias
globais nessa direção, com mais força nos Estados Unidos, mas no Brasil eram iniciativas isoladas”, afirma. A preocupação passa também pelas metas globais da empresa. Uma delas, assumida em 2015, é atingir a paridade em termos de participação de homens e mulheres em cargos de liderança até 2030. No Brasil, a presença feminina entre as lideranças chega a 36%. No geral, entre os 11 mil funcionários, é de 34%. Nas áreas funcionais – como departamentos jurídico, financeiro e centro de serviços –, essa divisão já está muito próxima da paridade. “Temos desafios ainda nos setores de operações e comerciais”, diz a executiva. “São frentes em que criamos ações específicas tanto para contratação quanto para desenvolvimento.” A boa notícia é que, de fato, as mulheres estão cada vez mais presentes no agronegócio. Isso é ótimo para o setor, mas melhor ainda para toda a sociedade. PLANT PROJECT Nº40
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UM ANO DE CONQUISTAS Em seu último exercício fiscal, a Lavoro abriu capital na Nasdaq, apresentou resultados financeiros sólidos e trouxe novas tecnologias para o mercado brasileiro
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esde que foi criada, em 2017, a Lavoro provou ser uma empresa destinada a realizar grandes feitos. Em um curto espaço de tempo, tornou-se a maior distribuidora de insumos agrícolas da América Latina e referência em um setor vital para a economia do País. Em cada ano de sua história, a Lavoro vem construindo um legado sólido e sustentável, seja pelas aquisições de peso, lançamento de novas tecnologias e serviços, seja pelos seus excelentes resultados financeiros. Nesse contexto, impressiona ainda mais o desempenho da companhia em seu último ano fiscal, encerrado em junho de 2023. Sob diversos aspectos, o ciclo 2022/23 foi o mais intenso de sua trajetória, com uma série de realizações que levaram a empresa para um novo patamar. No rol de conquistas da Lavoro em seu ano fiscal, certamente a abertura de capital na Nasdaq, a bolsa de valores sediada em Nova York, ocupa lugar de destaque. Realizado em março, o IPO foi marcado pelo pioneirismo: a companhia brasileira passou a ser a primeira varejista de insumos agrícolas da América Latina listada na bolsa americana. Não é pouca coisa: segundo levantamento da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), existem mais de 2 mil empresas do ramo espalhadas pelo Brasil, e, entre elas, apenas a Lavoro desbravou o mercado de capitais dos Estados Unidos. “Foi um movimento que exigiu um longo período de preparação e que colocou à prova nossos processos de controle”, diz Ruy Cunha, CEO da Lavoro. “A abertura de capital deixou a Lavoro em uma posição privilegiada para continuar a sua expansão.” Os recursos levantados no IPO, de fato, contribuíram para a empresa, controlada pela gestora Pátria Investimentos, se manter ativa no mercado de M&A. Em março, pouco depois da estreia na bolsa dos Estados Unidos, a Lavoro anunciou a compra do controle acionário da gaúcha
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Ruy Cunha, CEO da Lavoro: “ A abertura de capital deixou a Lavoro em uma posição privilegiada para continuar a sua expansão” Referência Agroinsumos. Em maio, concluiu a aquisição da indústria de adjuvantes especiais Cromo Química, também do Rio Grande do Sul. O exercício 2023 ficou marcado por resultados financeiros sólidos. As receitas da empresa somaram cerca de US$ 1,8 bilhão, o que representou um acréscimo de 24% em relação ao ano anterior. Por sua vez, o lucro bruto foi de US$ 332 milhões, um avanço de 34% na comparação anual, enquanto o Ebitda ajustado cresceu 64%, para US$ 149,8 milhões. “O desempenho deixa muito claro que, acima de tudo, nós ganhamos eficiência”, afirma Cunha. Outro destaque do ano foi a performance da Crop Care, empresa responsável pela fabricação e importação de fertilizantes especiais, adjuvantes, defensivos e biológicos, que teve aumento expressivo de 94% em suas receitas (leia box). A busca pela inovação, pilar que acompanha a trajetória da empresa desde o seu início, continua a ser uma de suas marcas registradas. Em junho, a Lavoro assinou uma parceria com a companhia alemã Stenon, que faz análises do solo em tempo real. A tecnologia é revolucionária. Ao contrário da análise tradicional, que pode levar até um mês para ficar pronta, a Stenon apresenta os resultados imediatamente – e com alto nível de precisão. “Isso é muito importante porque o cliente costuma ter uma janela muito curta entre a safra e a safrinha”, diz o
Plant + CEO da Lavoro. “Com a tecnologia da Stenon, ele consegue, em pouquíssimo tempo, fazer um mapeamento completo de seu solo.” Depois de cinco meses de testes e calibrações do equipamento para a realidade brasileira, a Lavoro começou a operar o serviço no Paraná, mas a ideia é levá-lo para outras regiões do País. Parcerias internacionais costumam render frutos para os mais de 70 mil clientes da Lavoro. A empresa mantém um acordo com a americana Pattern Ag para oferecer serviços digitais aos agricultores, como mapeamento de terras e análise de dados agronômicos. A ampla adoção de recursos tecnológicos está no DNA da Lavoro. A empresa opera um canal de vendas online, o CompreLavoro [comprelavoro.com], que se consolidou como um dos maiores do País nesse
segmento. Além disso, possui um aplicativo, o Minha Lavoro, que permite ao agricultor acessar uma série de serviços, como acompanhar o status de pedidos, solicitar antecipação de pagamentos e visitas, e até comercializar os grãos diretamente na palma da mão. E, em dezembro de 2023, foi realizado o closing da emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor total de R$ 420 milhões, com o objetivo de acelerar o crescimento da companhia, garantindo acesso a recursos de pagamento a longo prazo. Esse é mais um marco para a Lavoro, que agora passa a negociar seus ativos no mercado de capitais brasileiro, por meio da B3. E não há dúvida: como empresa de vanguarda, a Lavoro revolucionou a distribuição de insumos agrícolas no Brasil.
Centro de tecnologia em Itápolis (SP): laboratório de 1,8 mil metros quadrados
CROP CARE APOSTA NA INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA CONTINUAR CRESCENDO
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Crop Care, fabricante de insumos especiais controlada pelo Grupo Lavoro, fechou o exercício fiscal 2022/23, encerrado em 30 de junho, com forte expansão. No período, as receitas da empresa avançaram 94%, para um total de US$ 120,8 milhões – foi o melhor desempenho de sua história. “Crescemos em praticamente todas as linhas de negócio e ganhamos market share”, conta Marcelo Pessanha, CEO da companhia. “Foi um ano excepcional.” Diversos fatores explicam o resultado. Segundo o executivo, o ano ficou marcado pelo lançamento de três tecnologias, o que reforça a vocação da empresa em inovar. A primeira delas é um biofertilizante para multiculturas que ajuda as plantas a absorver o fósforo do solo. Os outros dois produtos representaram a estreia da Crop Care em segmentos inéditos. Voltado para o controle de pragas, o segundo lançamento consiste em um fungo que atua no
mercado de gramíneas, combatendo cigarrinhas. O terceiro lançamento também significou a abertura de novas frentes. “Sempre trabalhamos com fungos e bactérias, mas agora lançamos o nosso primeiro produto à base de vírus para o controle de lagartas”, diz Pessanha. Em seu último ano fiscal, a Crop Care manteve a agenda de aquisições, sendo a mais recente a compra da Cromo Química. Entre os vários feitos, a holding, através da empresa Agrobiológica Sustentabilidade, inaugurou o seu centro de tecnologia em Itápolis (SP), um laboratório de 1,8 mil metros quadrados que se tornou um dos maiores da América Latina. Com ele, a empresa está condicionando maior capacidade de geração de tecnologias e, dentro do planejamento estratégico, a companhia triplicou o time de Pesquisa & Desenvolvimento, demonstrando, portanto, que está preparada para inovar cada vez mais e levar o que há de mais moderno ao campo. PLANT PROJECT Nº40
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país que lidera a produção mundial de diferentes tipos de alimentos vive uma triste contradição. De um lado está uma parte da população que não faz as refeições diárias por absoluta falta de recursos. De outro, toneladas de mercadorias são desperdiçadas em diferentes camadas – desde o transporte no campo aos centros de distribuição, do estoque às gôndolas dos supermercados. Parte do problema deve ser atribuída diretamente à validade dos produtos, uma regra obviamente bem-vinda, mas que, administrada de maneira inadequada, acaba por gerar perdas bilionárias. Um estudo realizado recentemente pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) constatou que R$ 3 bilhões em produtos alimentícios são descartados todos os anos em virtude da obrigatoriedade de cumprimento do prazo. O dado é ainda mais alarmante considerando a insegurança alimentar que aflige milhões de brasileiros. 60
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O descarte de alimentos por causa do prazo de validade sempre impõe desafios ao varejo, em menor ou maior intensidade. Hoje em dia, muitas redes reservam uma parte de suas gôndolas para vender com desconto as mercadorias próximas do vencimento. A iniciativa, contudo, não é suficiente para resolver o problema. O combate ao desperdício ganha mais importância no setor graças, principalmente, a dois fatores: a redução da margem dos varejistas nos últimos anos e o crescimento do debate em torno do conceito ESG, que trata da estratégia ambiental, social e de governança das empresas. Os investimentos em tecnologia e inovação têm ajudado as redes varejistas a combater as
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Rodrigo Chaimovich, da foodtech b4waste: a startup desenvolveu um app no qual o varejista cadastra os produtos próximos do vencimento
perdas. Recentemente, o Grupo Pão de Açúcar anunciou ter reduzido em 20% o total de alimentos que seriam encaminhados a aterros sanitários – um avanço e tanto, reconheça-se. Segundo a empresa, o volume foi alcançado depois da criação de uma plataforma de gerenciamento de preços de produtos que estão perto da data da validade. Com a ferramenta, tem sido possível agilizar a venda das mercadorias graças a descontos que vão de 10 a 80%. O combate ao desperdício estimulou o surgimento de diversos projetos inovadores. A foodtech b4waste foi fundada há dois anos para atuar como ponte entre o varejo e o consumidor – e, dada a importância do tema e o potencial de negócios, atraiu investimentos de fundos PLANT PROJECT Nº40
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Igor Albuquerque, do Hortifruti Natural da Terra: a rede criou um software que, em apenas três meses, poupou 500 toneladas de produtos frescos que seriam descartados
da Espanha, China, Argentina e dos Estados Unidos. Rodrigo Chaimovich, COO da empresa, acumula experiências profissionais em gigantes como Unilever e Danone. “Vi de perto os produtos sendo desperdiçados, seja na indústria ou no varejo”, diz. “Muitas vezes, as mercadorias são descartadas faltando cinco dias para acabar a validade.” Atenta ao problema, a startup desenvolveu um aplicativo no qual o varejista cadastra os produtos próximos do vencimento. O consumidor que tem acesso ao app faz a compra e pode receber o pedido em casa ou retirar na loja. Atualmente, o dispositivo da b4waste conta com cerca de 30 mil clientes ativos. Ao menos 150 lojas plugaram seus produtos na plataforma, que tem presença em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Entre as redes estão a Lopes, Dia Empório São Paulo e D’Avó. Há planos de expansão para mais cidades brasileiras e, no futuro, a empresa planeja iniciar um processo de internacionalização. Segundo Chaimovich, 50% dos itens colocados no app são vendidos. A meta é aumentar o percentual, mas há desafios no caminho. Algumas mercadorias não têm apelo junto ao consumidor exatamente por estarem próximas do vencimento, como os packs com
12 unidades de iogurte. Por sua vez, itens como macarrão, bolacha e cervejas, mesmo se a validade estiver muito próxima, têm perto de 100% de efetividade nas vendas. “É um recurso que gera valor em produtos que seriam jogados fora, tanto para o varejista quanto para o consumidor, que muitas vezes volta a ter acesso a mercadorias abandonadas por causa do preço”, diz o sócio da foodtech, que oferece, em média, 20 mil itens diferentes (ou SKU, sigla para Stock Keeping Unit, a Unidade de Manutenção de Estoque) por mês. A inteligência artificial também é aliada da redução do descarte. O Hortifruti Natural da Terra (HNT) decidiu investir na própria plataforma para gerenciar a validade das mercadorias e reduzir as perdas. O perfil de negócio da rede, com quase 80 lojas, é muito focado em alimentos frescos – são compradas 200 toneladas por dia –, o que torna o problema ainda mais preocupante. Quase metade do faturamento da empresa vem de produtos extremamente frescos, enquanto no mercado a média é de 20%. A rede desenvolveu um software próprio, dotado de recursos da inteligência artificial, que, em apenas três meses (de julho a outubro), poupou cerca de 500 toneladas de produtos frescos que seriam descartados e queimariam a PLANT PROJECT Nº40
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Ricardo Freitas, da Whywaste: app aponta o estágio do produto por meio de cores. O verde mostra que o item está ok e o vermelho indica que é hora de retirá-lo da gôndola
margem da empresa, conforme revela Igor Albuquerque, diretor de Planejamento Comercial e Supply. A ferramenta foi batizada de “automate” – combinação em inglês das palavras automatização e tomate. Lançada há 18 meses, a IA tem ajudado a traçar a previsão de vendas das lojas. Com isso, a empresa planeja melhorar as compras e lançar mais promoções. O que não é vendido, tanto na loja quanto nos apps parceiros, é destinado a bancos de alimentos ou segue para o refeitório da rede. Antes de partir para a solução caseira, Albuquerque procurou alternativas nas grandes empresas de tecnologia, mas percebeu que havia uma carência de ferramentas que lidassem bem com o segmento de produtos frescos e suas características. “Era comum encontrar algo montado para fazer o planejamento de compra e venda de biscoito, refrigerante ou cerveja, mas não de hortifrútis, que levam apenas 25 horas, em média, do campo à mesa”, afirma. No começo do desenvolvimento do software, lembra o executivo, tudo era aprendizado. Tanto 64
que o gerente da loja-piloto acertava mais do que o algoritmo. Com o passar do tempo, contudo, a máquina acumulou aprendizado e hoje seu índice de acurácia é de 90%. O desempenho do software tem sido tão satisfatório que a Natural da Terra estuda a possibilidade de, no futuro, levar a solução para o mercado e vendê-la para redes menores. “Para nós, houve uma visão clara de que a ferramenta seria um diferencial competitivo, já que as perdas são muito relevantes nesse negócio”, afirma Albuquerque. “Por isso, acreditamos que ela poderá ser útil para reduzir as perdas para além de nossas lojas.” A inovação, de fato, facilita o controle do fluxo das mercadorias. Ricardo Salazar de Freitas, sócio da Whywaste, diz que a empresa se especializou em levar a tecnologia para dentro da operação varejista. Seu software identifica a forma de venda de alimentos mais inteligente e oferece soluções para o setor de farmácias. Os recursos permitem ainda orientar o volume a ser
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MEDIDAS SÃO INSUFICIENTES É PRECISO AMPLIAR AS AÇÕES DE COMBATE AO DESPERDÍCIO
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s iniciativas criadas pelo varejo para combater o desperdício, como as inovações da rede Hortifruti Natural da Terra, ainda são exceções no mercado brasileiro. Atualmente, boa parte do trabalho para evitar o descarte de alimentos próximos do vencimento passa apenas pelo controle de estoque da loja, que, em geral, não consegue resolver o problema. Pelo menos é isso o que diz Rodrigo Catani, head da Gouvêa Consulting e estudioso do tema. “Muitas vezes, quem trabalha nas lojas não está preparado para essa função”, afirma o consultor. “Até porque é preciso ter agilidade e nem sempre a estrutura para o recebimento de mercadorias no supermercado é adequada.” Apesar do volume expressivo de perdas, o que se vê no varejo nacional são ações apenas pontuais, como a oferta de produtos em uma espécie de outlet nas lojas, descontos no fim do dia de alimentos preparados ou de panificação, ou ainda áreas dedicadas a itens de hortifrútis que estão fora do padrão de tamanho ou formato. Nada disso, entretanto, é suficiente para combater efetivamente o problema. Para Catani, a questão central é que nem sempre as iniciativas dos varejistas conseguem encontrar a adesão do consumidor. “Não é sempre que os clientes, mesmo com os descontos, se sentem atraídos pelos produtos próximos do vencimento ou que não têm uma boa aparência, mesmo que estejam aptos para o consumo”, afirma o consultor. “Infelizmente, há uma questão cultural a ser superada.”
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comprado, de acordo com o que há em estoque e a validade das mercadorias. O executivo destaca que os funcionários das lojas têm papel importante no processo da Whywaste. O app, instalado nos smartphones, “lê” quais itens estão entrando em um período crítico. Entre os clientes está a rede Oxxo. “O problema costuma ser maior nas lojas de conveniência, que trabalham, em média, com mil SKUs, mas contam com dois funcionários para reabastecer, arrumar o estabelecimento e cuidar do caixa”, diz Freitas. “Eles não têm tempo para a checagem da validade, por isso é preciso adotar um facilitador. Com a nossa ferramenta, o tempo dedicado a esse trabalho não ultrapassa os dez minutos.” O sistema da Whywaste define a ação a ser realizada pelo funcionário na loja para fazer a verificação, que vê na tela do celular, em tempo real, quais são os itens críticos. A tecnologia aponta o estágio em que está o produto por meio de cores, como em um semáforo. O verde mostra que o item está ok, o amarelo alerta sobre a necessidade de algum tipo de estratégia (como descontos) e o vermelho indica que é hora de retirá-lo da gôndola.
Faça chuva ou faça sol: Mais resistente aos extremos do clima, sorgo entra no radar dos produtores brasileiros
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As regiões produtoras do mundo
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produtor Mateus Franciscato, os dois irmãos e o pai administram a Fazenda Recreio, em Anaurilândia, no Mato Grosso do Sul. A propriedade da família, egressa do interior de São Paulo, é dedicada à soja. Mas a oleaginosa não é a única que ocupa as terras próprias, arrendadas há 14 anos. No começo, a safrinha contava apenas com o plantio do milho. A partir de 2020, foi a vez de outra cultura entrar em cena – agora, 70% da área plantada entre janeiro e março é de sorgo, com a possibilidade de aumento para as próximas safras, a depender das condições de mercado, segundo Franciscato. Originado na África e em parte da Ásia, o sorgo só perde para outros quatro cereais – trigo, arroz, milho e cevada – em termos de volume global de produção. No Brasil, a cultura começou recentemente a entrar no radar de produtores de sementes e agricultores. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a outubro de 2023 apontam que o cultivo de sorgo granífero (dos cinco grupos, o mais plantado no Brasil) é a atividade agrícola que mais cresce no País. Neste ano,
a área plantada aumentou 24% em relação a 2022 e a estimativa é de que a produção suba quase 50%. “Em 2023, a safrinha foi muito boa”, diz Cícero Menezes, pesquisador da Embrapa. “A chuva foi regular e contribuiu para o aumento da produtividade do sorgo.” Ainda segundo o IBGE, a produção do sorgo em outubro totalizou 4,2 milhões de toneladas, o que significou um aumento de 2,7% em relação ao volume divulgado em setembro e de 47,2% em relação ao obtido no mesmo mês de 2022. Frente a 2022, houve aumento de áreas plantadas na região Norte (56,1%), Sudeste (75,2%) e Centro-Oeste (38,4%). Apesar do desempenho de 2023, a projeção para 2024 aponta para a possibilidade de perda de ritmo. A estimativa da produção do sorgo para o ano que vem é de 3,8 milhões de toneladas, ou uma queda de 10% em relação a 2023. Segundo
Mateus Franciscato, dono da fazenda Recreio: “ Se o milho enfrentar 15 dias de veranico, perde a produtividade. Com o sorgo, isso não acontece”
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Fr Sorgo Glauber Silveira, diretor da Abramilho: “ Antes, acreditava-se que o sorgo roubava nutrientes no solo. Nada mais equivocado”
as previsões, o recuo deverá ocorrer em todas as regiões de plantio. A exceção é o Nordeste, com projeção de aumento de 1,6%. Goiás e Minas Gerais, os principais produtores do cereal, devem apresentar, respectivamente, uma redução de 10,9% e de 13,5% devido ao menor rendimento médio das culturas. O pesquisador da Embrapa diz que a projeção de queda para 2024 levou em consideração uma expectativa mais otimista para o clima. Com períodos prolongados de pouca chuva em parte do País e de aumento pluviométrico em outras regiões, os produtores podem ficar cautelosos com a proximidade do período da safrinha, a partir de janeiro, e segurar um pouco mais de tempo o plantio para optar pelo sorgo, que tem uma janela de semeadura maior que a do milho. “A área de sorgo é diretamente relacionada à do milho”, diz Menezes. “Assim, é muito mais fácil estimar um pouco menos de produção de sorgo e depois subir a projeção. Com os atrasos que sabemos que estão ocorrendo em estados como Mato Grosso, Goiás e Bahia, acho improvável que a 72
área de sorgo de 2024 vá diminuir.” Para Glauber Silveira, diretor executivo da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho), a demora para a expansão do sorgo no Brasil tem a ver com a forma como o cultivo foi feito no passado. Muitos produtores acreditavam que a resistência da planta dispensava os cuidados normais típicos de qualquer cultura. “Como o manejo era feito de forma errada, muitos mitos foram criados”, diz Silveira. “Acreditava-se, por exemplo, que o sorgo roubava nutrientes do solo, prejudicando a soja que viria na sequência.” Por causa das características peculiares do sorgo, o representante da Abramilho acredita que o cereal pode atender não apenas aos planos de negócios de grandes produtores, mas também aos dos pequenos e aos da agricultura familiar, e servir inclusive na alimentação animal. Isso porque o manejo é mais simples do que o milho, que precisa ser triturado. O trabalho educacional também passa pelas empresas que vendem as sementes, que estão atentas ao novo comportamento do
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produtor brasileiro em relação ao sorgo e não querem desperdiçar a oportunidade de aumentar a receita com a oferta de novas variedades. A Corteva Agriscience é uma das principais fornecedoras de sementes de sorgo no mercado brasileiro. A multinacional começou a perceber um movimento mais aquecido no mercado a partir de 2019. Até então, conta Lisane Castelli, líder do portfólio de sorgo da empresa, o interesse pela cultura oscilava de acordo com o clima, a expectativa do produtor e o preço do milho. Quando o agricultor sai da janela ideal do plantio do milho, o sorgo se torna uma alterna-
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tiva. Mas há outro fator fundamental, segundo Lisane, que pesa na expectativa de crescimento sustentável do sorgo: o clima. “Qual é a cultura agrícola do Brasil que sobrevive a essas altas temperaturas que vemos hoje?”, pergunta a executiva. “É o sorgo, que é resistente a condições extremas e utiliza menos água.” A empresa segue realizando aportes para o desenvolvimento de novas variedades de sementes. “Temos investido cada vez mais em melhoramento genético e produzindo mais em áreas menores”, diz a executiva. “O processo de trazer plantas melhores, mais tolerantes a pragas e doenças, tem de ser permanente.”
Uma das maiores vantagens do sorgo é a sua notável previsibilidade: ele é mais rústico e menos exigente do que o milho
Apesar da adesão crescente à cultura, o trabalho de divulgação do sorgo, feito pela equipe de campo da Corteva, é permanente. Os profissionais tratam não apenas das questões comerciais, mas fazem orientações para o produtor alcançar a melhor produtividade. Franciscato, dono da Fazenda Recreio, conta que não tinha nenhum conhecimento sobre o sorgo além do que via no campo pela janela do carro ao passar por uma plantação. Foi então que vendedores de duas empresas ofereceram sacas de sementes para testes na fazenda da família e assim começou o plantio. Aos poucos, o produtor buscou mais informa-
ção, participou de um simpósio da cooperativa Copasul e passou a trocar informações com quem já plantava o sorgo, além de consultar agrônomos. A grande vantagem, segundo Franciscato, é a previsibilidade proporcionada pela planta, já que ela é mais rústica e menos exigente do que o milho. “Se o milho enfrentar 15 dias de veranico, já perde a produtividade, o que não se vê no sorgo”, compara. Levar informação sobre o sorgo também tem sido um esforço da Embrapa, endossado pelas pesquisas realizadas pela empresa sobre a cultura. Os trabalhos da Embrapa vão do desempenho do sorgo em diferentes regiões do
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Fr Sorgo Anderson Paranzini Faria, da sementes Bonamigo: “ O sorgo pega carona no preço do milho, já que o valor pago pela cultura é, em média, 80% do desembolsado pelo grão”
País – como o Sul, Nordeste e Centro-Oeste – ao uso do produto na alimentação humana. Sem a presença de glúten, a cultura pode ser uma alternativa para a indústria da panificação. Aos poucos, a indústria de proteína animal também tem investido na compra do sorgo como complemento ao milho para alimentar aves, suínos e bovinos. A cultura traz inúmeras vantagens – uma delas é porque custa menos, o que aumenta a margem do criador e das empresas do setor de carnes. “O sorgo pega carona com o preço do milho, já que o valor pago pela cultura é, em média, 80% do desembolsado pelo grão”, diz Anderson Paranzini Faria, gerente da Sementes Bonamigo. “O que se vê é que há muito espaço para mais do que dobrar a produção de sementes.” Uma das características do sorgo é seu ótimo desempenho mesmo em áreas arenosas, conforme explica Paranzini. Mas as qualidades da planta, diz o especialista, também depende do comportamento do mercado – quanto vai demandar e quanto vai pagar pelo produto. “Hoje em dia, o mercado está favorável, mas ainda não há um movimento para nos tornarmos grandes exportadores, como se vê em outras culturas”, diz 76
Faria. A empresa produz atualmente entre 300 e 400 toneladas de sementes de sorgo. Para a próxima safra, a expectativa é aumentar em mais 170 toneladas esse volume. A indústria de sementes também tem feito uma aproximação maior com as empresas que hoje dependem do milho, tanto para alimentação animal quanto para usinas de produção de etanol. No Centro-Oeste, já há usinas que adaptaram suas instalações para incluir o sorgo no processo de conversão para o etanol. Em outubro, a Inpasa Brasil, uma das primeiras indústrias de etanol de milho do País e atualmente a maior produtora de combustível limpo e renovável à base do grão da América Latina, anunciou um novo projeto no Maranhão. A nova unidade, em Balsas, também vai usar o sorgo, assim como a usina em Sidrolândia (MS), que começa a operar no segundo semestre de 2024. A empresa anunciou recentemente que já está realizando negociações de produção com a sua equipe comercial para a próxima safra. Nos dois projetos, a ideia é fomentar o plantio de sorgo na região para garantir o fornecimento. Não há dúvida: o sorgo tem pela frente um campo fértil para prosperar no Brasil.
“ A expansão da vitivinicultura pelos mais diferentes terroirs brasileiros veio acompanhada de uma noava e arrojada arquitetura de vinícolas ”
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Ideias e debates com credibilidade
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A ARQUITETA DO VINHO BRASILEIRO POR IRINEU GUARNIER FILHO* FOTOS DE ISADORA GUARNIER
A atividade vitivinícola se expande pelo Brasil. De seu berço mais conhecido, a Serra Gaúcha, para onde foi trazida na segunda metade do século 19 pelos imigrantes italianos, a produção de vinhos em escala industrial migrou para outras regiões do Rio Grande do Sul, como a Campanha, a Serra do Sudeste, as Missões e os Campos de Cima da Serra. E continuou escalando o mapa do Brasil, instalando-se depois em Santa Catarina, no Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco e, mais recentemente, até no Rio de Janeiro. A expansão da vitivinicultura pelos mais diferentes terroirs brasileiros veio acompanhada de inovações agronômicas surpreendentes, como a poda invertida ou dupla poda, praticada na região Sudeste, que possibilitou a produção dos chamados “vinhos de inverno” (as uvas são colhidas entre junho e agosto, período mais seco, e não nos meses de verão, como no Rio Grande do Sul), e de uma nova e arrojada arquitetura de vinícolas. Os tradicionais castelos de pedra ao estilo medieval e os prédios de inspiração europeia tradicional vão perdendo espaço para edificações modernas, erguidas em aço, vidro e concreto, com fachadas retilíneas, quase minimalistas, que surpreendem os turistas que ainda cultivam uma visão romântica sobre o mundo do vinho, inspirada pelos Châteaux e Maisons seculares do Velho Mundo. À frente desta revolução arquitetônica, um nome se destaca – o da arquiteta gaúcha Vanja Hertcert, que assina os
projetos das maiores, mais sofisticadas e mais modernas vinícolas construídas ou em construção neste momento em nove estados brasileiros. Vanja tem sido requisitada por empreendedores de várias regiões para criar espaços que vão muito além de plantas industriais convencionais, pois são também cartões de visitas dos novos vinhos finos que surgem pelo Brasil, além de um forte atrativo para o enoturismo. “As grandes macrorregiões vinícolas, a tradicional, a tropical e, agora, a dos vinhos de inverno, abrangem um território gigante”, diz Vanja. “Impossível não se emocionar com este movimento.” Apaixonada desde sempre pela cultura do vinho, a arquiteta, que mora e trabalha no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS) – a primeira região vinícola brasileira contemplada com uma Denominação de Origem (DO) do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) – aproximou-se do setor em 1996. Foi quando se envolveu com o projeto da antiga Maison Forestier. A vinícola mudava de mãos na época: passava da multinacional Seagrams para o controle do grupo brasileiro Tecnovin. Da observação do que existe de mais moderno no mundo, como algumas vinícolas da Rioja, na Espanha; a vinícola Antinori, na Itália; a VIK e a Clos Apalta, no Chile; ou a Piedra Infinita, da Zuccardi, na Argentina; veio-lhe a convicção de que estava no caminho certo ao projetar seus edifícios: era preciso romper com o passado. As novas vinícolas brasileiras não poderiam “nascer velhas”. Ou, como diz, “o passado deve
*Jornalista especializado em agronegócio, cobre o setor há três décadas. É sommelier internacional pela Fisar italiana e recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE).
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Fo A arquiteta gaúcha Vanja Hertcert assina os projetos mais sofisticados das vinícolas em construção no País
ser protegido e tratado como memória, mas não reproduzido, negando os avanços de uma sociedade que caminha em outro sentido”. Embora prefira não destacar nenhum projeto em particular, vinícolas como a Luiz Argenta, de Flores da Cunha (RS); a Cave do Sol, do Vale dos Vinhedos; e a Uvva, inaugurada em 2022 na Chapada Diamantina, na Bahia; distinguem-se em seu portfólio como exemplos de sua visão arquitetônica conectada com a contemporaneidade. Vanja trabalha com mais cinco arquitetos, sob sua supervisão em todas as etapas, e atualmente dedica-se exclusivamente a projetos de vinícolas. Os desenhos nascem de longos briefings com os empreendedores e de muita pesquisa de campo. Embora uma vinícola seja, por definição, uma indústria, é uma construção muito diferente das plantas industriais convencionais. Entre
peculiaridades dessas edificações, a arquiteta destaca: a funcionalidade, pois a elaboração do vinho deve ser linear e sem conflitos; os controles ambientais, como temperatura, umidade e iluminação, que afetam a qualidade do produto; o uso de materiais estáveis, para evitar contaminações; e, por fim, a “cenografia”, ou seja, um ambiente capaz de produzir encantamento. Algumas de suas caves, como a da vinícola Luiz Argenta, escavada em meio a uma rocha, vários metros abaixo da superfície, realmente encantam os turistas que participam de degustações no local. Inaugurada em 2009, a Luiz Argenta marcou uma virada no segmento, com suas linhas curvas que seguem a topografia ondulada do vinhedo que a cerca. Nem todas as vinícolas possuem vinhedos próprios ou, então, contíguos à área de processamento. Mas, naquePLANT PROJECT Nº40
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As vinícolas são cartões de visitas dos vinhos que surgem no Brasil, além de um atrativo para o enoturismo
las localizadas entre videiras, é preciso harmonizar, como se diz na linguagem do vinho, as edificações com a natureza. “O vinhedo é parte do cenário e o motor do encantamento”, diz Vanja, “e quando se consegue trazê-lo para os ambientes edificados, tanto melhor”. Os avanços tecnológicos nos campos da agronomia e da enologia estão abrindo um amplo leque de opções
para a produção de vinhos em grande parte do território nacional. O Brasil é, hoje em dia, o único país que elabora a bebida nas quatros estações do ano, em diferentes regiões. Com isso, a geografia do vinho brasileiro se amplia. Regiões onde seria impensável produzir vinhos há algumas décadas, como o Centro-Oeste ou o Nordeste, já se inserem no mapa vitivinícola brasileiro, inclusive com rótulos premiados em concursos nacionais e internacionais. Diferentemente da vitivinicultura tradicional do Sul, conduzida pelos imigrantes europeus e seus descendentes, os novos empreendedores do setor são grandes produtores de commodities, como café ou soja, ou empresários da construção civil, da indústria de embalagens ou do petróleo, ou mesmo profissionais liberais, como médicos e advogados bem-sucedidos financeiramente, que se ligam ao vinho muito mais por paixão do que por interesse econômico. Sem falar, é claro, do status social que esta atividade confere aos seus produtores. Se, há algumas décadas, o glamour vinha da criação de cavalos de raça, hoje empresários urbanos de sucesso buscam prestígio em outros segmentos do agro, como a produção de vinhos. Os haras foram substituídos pelas vinícolas. No momento, a arquiteta gaúcha prepara um livro ilustrado sobre o conjunto de sua obra, que deve ser lançado no ano que vem e certamente vai servir de inspiração para as novas gerações de profissionais da arquitetura. Listou 40 projetos, 20 já realizados e o restante ainda em andamento. Nem todos nasceram do zero. Alguns são ampliações e reformas de vinícolas já existentes. Mas todos trazem a marca inconfundível do seu estilo.
Revolução digital O uso de recursos como Big Data e Inteligência Artificial é cada vez mais vital para o agro brasileiro
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As inovações para o futuro da produção
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As inovações para o futuro da produção
Grandes empresas e produtores rurais usam a inteligência de dados para melhorar as operações dentro e fora das porteiras Por Ronaldo Luiz
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O BIG DATA DO AGRO
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té pouco tempo atrás, a digitalização agrícola era mais intensa no âmbito da produção primária, dentro das fazendas, com a utilização de tecnologias como sensores para medição da umidade do solo e controle de irrigação, softwares para tarefas de plantio e colheita, telemetria de máquinas, estações meteorológicas e drones para mapeamento de áreas, entre outras. Agora as ferramentas se expandiram para “fora da porteira”, em atividades como transporte e armazenagem, crédito rural, seguro, comercialização e rastreabilidade de produtos e processos, para citar apenas algumas. Trata-se de nova era para um setor marcado por grandes transformações nos últimos anos.
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Katherine Buso, da Blue Bi: “Novas ferramentas mudaram as operações agrícolas”
“O agro tem experimentado uma revolução digital significativa”, diz Katherine Buso, CEO da empresa de tecnologia Blue Bi Solution. “O advento de ferramentas de Internet das Coisas (IoT), Business Intelligence (BI), sistemas de big data, automação e outras soluções de inteligência têm alterado profundamente a forma como as operações agrícolas são gerenciadas.” A agricultura digital pura e simples virou “commodity” e o caminho para a diferenciação passa necessariamente pela incorporação da Inteligência Artificial (IA). Segundo o estudo MarketsandMarkets, da Statista, serão aplicados US$ 2,5 bilhões em IA no agro mundial em 2024, ultrapassando os US$ 2 bilhões investidos em 2023. Outro levantamento, desta vez feito pela
Segundo estudo da Deloitte, 20% dos empresários do agro brasileiro usam inteligência artificial em suas atividades
consultoria Deloitte, constatou que 20% dos empresários do agronegócio brasileiro utilizam inteligência artificial em suas operações cotidianas, e 32% têm intenção de começar a adotar a tecnologia. “Isso mostra que o setor está atento às tendências do mercado e focado em adotar novas ferramentas que ajudem no seu desenvolvimento”, afirma Mateus Magno, PLANT PROJECT Nº40
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Abdalah Novaes, da Bayer: “Nosso compromisso é levar à transformação no campo”
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CEO da Sambatech, empresa especializada em transformação digital. O executivo diz que é fundamental reconhecer o papel revolucionário da inteligência artificial para melhorar a eficiência, reduzir custos e aumentar a receita do agronegócio. “O uso de IA no setor ainda está em fase inicial, mas certamente irá crescer muito nos próximos anos, à medida que empresas perceberem os benefícios de implementar a tecnologia”, diz Magno. Como não poderia deixar de ser, as grandes empresas lideram essa transformação – uma das linhas de frente é a incorporação de plataformas de análises de dados para melhorar suas operações. A Bayer apresentou recentemente o aplicativo para Android FieldView Cab, que simplifica e torna mais acessível a coleta de dados de campo.
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Por que Android? Segundo a Bayer, a escolha se deve ao fato de 80% dos brasileiros utilizarem esse sistema operacional. O aplicativo, que estará disponível a partir de 2024 no Brasil, faz parte da gama de soluções da Climate FieldView, plataforma de agricultura digital da multinacional alemã, que conta com 25 milhões de hectares mapeados no País. “A digitalização no agronegócio permite que os produtores rurais, com o uso de dados, moldem o futuro do setor, tornando-o ainda mais digital, sustentável e rentável”, diz Abdalah Novaes, líder de Soluções Agrícolas Digitais da Bayer para a América Latina. “Nosso comprometimento é nos tornarmos facilitadores da transformação no campo.” As protagonistas do setor, de fato, estão atentas a esse movimento. Gerente sênior de Excelência Comercial e Modelos Analíticos
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Robôs na linha de frente da produção: tendência no Brasil e no mundo
mariana Beber, da Basf: “Processamos grande volume de dados de forma eficiente”
Avançados Latam da Basf, Mariana Beber diz que a empresa investe significativamente em ferramentas de Business Intelligence, Big Data, Data Science, Machine Learning e Estatística Avançada. “Esse pacote tecnológico nos permite processar grandes volumes de dados de forma eficiente, extrair insights valiosos e facilitar a análise preditiva”, afirma a executiva. Para as atividades ligadas diretamente ao campo, a Basf possui a plataforma xarvio Field Manager, que usa algoritmos de processamento de dados e imagens dos talhões capturadas por drones e satélites para fornecer informações acerca das condições do solo e das culturas. Os exemplos se sucedem. Rodrigo Fonseca, digital partner Latin America da DSM-firmenich, frisa que não há progresso sem tecnologia. Partindo desse pressuposto, a empresa trabalha com um ecossistema PLANT PROJECT Nº40
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Bernardo Fabiani, da TerraMagna: “É preciso melhorar a conectividade”
digital formado por variadas ferramentas, com foco em melhorar processos internos, de clientes e fornecedores. “Sendo um pouco mais específico, a DSM-firmenich utiliza produtos das principais empresas de tecnologia do mercado, como Google, Amazon e Microsoft, dependendo do objetivo da solução”, diz Fonseca. “Essas plataformas trazem aplicações de Business Intelligence e Big Data que fornecem informações importantes para a gestão da empresa, contribuindo para a automação de atividades e a melhor tomada de decisão.” Recentemente, a empresa lançou sua 88
plataforma de Inteligência Artificial, batizada de Lore. Entre outros atributos, a ferramenta informa se a quantidade de alimento e água oferecida ao rebanho está correta, analisa as alterações metabólicas que podem afetar a engorda e indica até mesmo se a altura da pastagem é a ideal para manter o gado saudável. A tecnologia blockchain, que dá sustentação para as moedas virtuais, também passou a ser usada nas inovações ligadas ao campo. Localizada no Mato Grosso, a biorrefinaria Uisa, dona de 90 mil hectares produtivos, assinou uma parceria com a plataforma de integração de
dados Sensedia que visa à adoção de ferramentas baseadas em blockchain. O diretor de Inovação da Uisa, Rodrigo Gonçalves, explica que a tecnologia mostra em detalhes a cadeia produtiva do item que está exposto nas prateleiras dos supermercados. “Quando o consumidor conseguir checar com um QR code todo o processo produtivo, ele saberá exatamente tudo o que está comprando, e isso deverá gerar um ganho de imagem para a marca, além de segurança alimentar para o cliente.” Um dos projetos mais antigos em Inteligência Artificial voltada para o agronegócio foi criado em 2019 pela BP Bunge Bioenergia. Na
ocasião, a empresa implementou o Leaf, uma solução que utiliza IA para o controle de processos industriais. Desenvolvida pela iSystems, a tecnologia foi introduzida na unidade de Frutal (MG), e mais tarde levada para as plantas de Santa Juliana (MG), Guariroba (SP) e Tropical, em Edéia (GO). A previsão é de que até a safra 2027/28 todas as usinas da BP Bunge tenham o Leaf implementado em seu processo industrial. “Com o Leaf em operação, a equipe de processos industriais da BP Bunge obtém informações antecipadas sobre o funcionamento da caldeira, o que resultou em ganhos PLANT PROJECT Nº40
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Transformação digital não diz respeito apenas a tecnologia, mas tem a ver também com pessoas
significativos, como a melhora na geração de vapor em 10% e a economia de energia em 9%”, diz o co-CEO da iSystems, Danilo Halla. “No tratamento do caldo e evaporação, houve redução de 80% em eventos de transbordo e de 34% na variabilidade de temperatura do caldo de etanol e açúcar. Além disso, a estabilidade da caldeira reduziu o estresse operacional, proporcionando mais tempo para a tomada de decisões.” Apesar do notável avanço tecnológico nos últimos anos, há muito por ser feito no agronegócio. “O setor possui carências nos aspectos de gestão, principalmente nos negócios de origem familiar”, afirma Márcio Games, gerente sênior de Transformação Digital na Delaware, empresa global de tecnologia. “Muitos produtores ainda resistem em usar recursos tecnológicos avançados ou têm dificuldade para aplicá-los no dia a dia.” 90
Bernardo Fabiani, CEO da TerraMagna, empresa especializada em crédito agrícola via plataforma digital, cita a escassez de conectividade no campo como um gargalo que precisa ser superado. “O acesso deficiente de internet nas áreas rurais acaba por dificultar mais ainda a coleta de dados com frequência e qualidade padronizadas”, diz Fabiani. Para o chefe-geral da Embrapa Agricultura Digital, Stanley Oliveira, a transformação digital no campo não diz respeito apenas a inovação e tecnologia. “Ela tem a ver com pessoas, com capacitação, e, sobretudo, com aderência da solução à realidade, respondendo a uma dor concreta do produtor e do mercado”, diz. “A primeira coisa que o produtor pergunta quando se depara com uma nova tecnologia é o que ela trará de ganhos ou redução de custos. Qualquer tentativa de inovação tem que começar por aí.
Duplo sentido Com nova exposição, Inhotim reforça seu papel como templo da arte e da botânica no Brasil
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Um campo para o melhor da cultura
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Um campo para o melhor da cultura
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Instituto Inhotim exibe obras da artista plástica japonesa Yayoi Kusama e renova sua aposta em unir artes e botânica Por André Sollito
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ntes de ver a primeira obra de arte exposta, o visitante que vai ao Instituto Inhotim é arrebatado logo de cara pela exuberância da vegetação e pela beleza dos jardins. São palmeiras, aráceas, helicônias e orquídeas que compõem um cenário imersivo, como uma verdadeira reserva ecológica. É só depois, ao caminhar pelas rotas do museu, que as obras externas e as galerias são descobertas – e o fascínio continua. A recente inauguração da nova galeria dedicada a duas obras da artista japonesa Yayoi Kusama é um exemplo da busca constante por equilibrar botânica, artes visuais e preservação. O museu já tinha uma obra de Kusama em exposição, Narcissus Garden, composta por 750 esferas de aço inoxidável sobre o espelho d’água na cobertura do Centro de Educação e Cultura Burle Marx, próximo à abertura do parque. Agora há um espaço inteiro que contempla duas obras icônicas da artista, I’m Here, But Nothing (2000) e Aftermath of Obliteration of Eternity (2009). Além da arquitetura, a parte botânica da galeria foi planejada para representar, por meio de plantas, as origens japonesas de Kusama. “O jardim é mais baixo, como costumam ser os jardins japoneses, e trouxemos espécies
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“ Bisected Triangle” (acima), exposição “ Mestre Didi” (à dir.) e seriema (abaixo): artes visuais combinadas com preservação
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específicas, como uma palmeira do Japão”, afirma Juliano Borin, curador botânico da instituição. “Foi o primeiro projeto mais integrado que fizemos entre a parte artística e a parte botânica.” O Instituto Inhotim abriu as portas para o público em 2006, quatro anos depois de sua fundação oficial. No início, o objetivo de seu criador, o empresário Bernardo de Mello Paz, era abrir a propriedade de mil hectares, repleta de obras de arte que comprou ao longo dos anos, para visitantes selecionados. Além das artes visuais, Mello Paz era um entusiasta da botânica e também havia comprado inúmeros espécimes, alguns raros. “Inhotim começou com um JB: não um jardim botânico, mas um jardim bonito”, brinca Borin. Sempre houve cuidado especial com o paisagismo. Os jardins começaram a ser construídos ainda na década de 1980, quando o empresário decidiu criar o Instituto, sob supervisão do paisagista Pedro Nehring (1955-2023), que continuou trabalhando na instituição até a sua morte. 94
O rigor científico na escolha de plantas e flores surgiu em 2011, quando o Inhotim recebeu do Ministério do Meio Ambiente a classificação oficial de jardim botânico. “A partir dessa classificação, passamos a refletir sobre a contribuição que o Instituto teria nos debates sobre preservação e conservação”, diz Borin. Existem outras instituições importantes no Brasil, como o centenário Jardim Botânico do Rio de Janeiro, mas a intenção de Inhotim, segundo o curador, nunca foi competir com elas, mas encontrar um caminho único. O espaço está inserido dentro do bioma da Mata Atlântica, com trechos do Cerrado. Isso gera a oportunidade de manter espécimes raros desses dois biomas, com o cuidado em aproximar cada planta e flor dos visitantes por meio da contextualização. Além disso, a equipe de botânica foi integrada ao time que cuida dos projetos artísticos, e o próprio cargo de curador botânico é recente. O resultado é um trabalho mais integrado. No futuro, outros projetos como o da galeria de Yayoi Kusama serão a regra no Instituto.
obra sem título de Robert Irwin (à esq.), Galeria Yayoi Kusama (abaixo) e galeria Claudia Andujar (pé da página): lugar único
Borin conta que uma galeria dedicada a uma artista negra africana terá plantas usadas para rituais místicos ou religiosos pelos povos africanos trazidos ao Brasil. Nada ainda está definido, mas o processo de compra dos espécimes começa agora, pois eles precisam ser levados ao Instituto e aclimatados antes de finalmente serem utilizados nas galerias. Além disso, há um trabalho de conservação que nem sempre fica claro para os visitantes da instituição. Atualmente, 140 hectares estão abertos à visitação, mas há outros 250 hectares de Reserva Particular de Patrimônio Natural Inhotim (RPPN) dedicados à preservação, não acessíveis ao público, mas que compõem a vasta propriedade. Nesse espaço, foi instalado um laboratório de pesquisa e conservação, e há um enorme viveiro onde são cultivadas as espécies que fazem parte da coleção. Apenas estudantes, membros da Embrapa e de outras instituições podem visitar as áreas restritas. Esse esforço fez com que o Instituto Inhotim fosse contemplado, em 2021, PLANT PROJECT Nº40
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galeria Valeska Soares (à dir.) e obra “ Invenção da Cor”, de Hélio Oiticica: exuberância artística inestimável
pelo Grant Awarded – BGCI’s Global Botanic Garden Fund, incentivo internacional que reconhece e apoia projetos que atuam em prol da conservação de plantas. Um dos trabalhos atuais da equipe botânica do Inhotim é fazer um tipo de resgate de variedades ameaçadas em áreas de mineração. Quando uma mineradora recebe a permissão para derrubar a vegetação local, os profissionais vão até lá e estudam a retirada das espécies mais raras e que precisam ser preservadas. “Algumas mineradoras fogem de nós, mas outras acabam nos abraçando”, diz Borin. Recentemente, o curador comandou a retirada de plantas de um desses locais. Segundo ele, dessa vez a mineradora apoiou o projeto, cedeu caminhões e pagou pelo transporte. Os espéci96
mes foram levados ao Instituto para uma área conhecida como Jardim de Transição. Agora a equipe de Borin se dedica ao mapeamento de todas as espécies que existem na propriedade. Não é tarefa fácil. Mello Paz comprou muitas espécies, que hoje estão espalhadas pela enorme área. Aos poucos, cada uma está sendo identificada e catalogada. O trabalho deve ser concluído apenas em meados de 2024, e dará uma noção mais precisa da riqueza botânica do Instituto. A estimativa é de que a coleção tenha 4,3 mil espécies nativas brasileiras e exóticas. “Existem outros jardins botânicos maiores, mas não com a mesma qualidade”, diz Borin. Que Inhotim continue com sua nobre missão de unir, no mesmo espaço, artes, exuberância botânica e preservação ambiental.
De volta ao passado: Agricultura regenerativa recupera variedades de uvas antigas
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A grande feira mundial do estilo e do consumo
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Clos Ancestral, uma das linhas de frente da casa: região da Catalunha é marcada pela grande variedade genética
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As regiões produtoras do mundo
SABORES ANCESTRAIS Com a agricultura regenerativa, vinícola Torres recupera variedades de uvas consideradas extintas Por André Sollitto
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o mundo do vinho, os processos de produção sustentáveis não são uma questão decisiva para o consumidor. Ele quer rótulos bons por preços justos, a despeito do que as vinícolas fizeram para chegar a essa combinação. Ainda assim, são cada vez mais comuns projetos que envolvem a preocupação ambiental no desenvolvimento das bebidas. Nesse contexto, poucas vinícolas têm resultados tão promissores a apresentar quanto a espanhola Familia Torres. A vinícola começou a produzir os próprios vinhos na região de Penedès, na Catalunha, em 1870. As raízes, no entanto, são ainda mais antigas, e a família está envolvida no cultivo de uvas desde o século 16. Atualmente, a Torres continua produzindo na Catalunha, em três denominações de origem importantes, como Priorat, Conca de Barberà e Costers del Segre. Ela tem também propriedades em outras regiões espanholas de prestígio, como Rioja, Rías Baixas e Ribera del Duero, além de iniciativas nos Estados Unidos, a Marimar Estate, e no Chile, a Miguel Torres. É na Espanha, contudo, que estão sendo realizadas algumas das inovações mais significativas. Nos últimos anos, a Torres passou a adotar uma série de práticas de agricultura sustentável. Atualmente, sua busca é pela agricultura regenerativa, que pode ser considerada um passo à frente do cultivo orgânico. “Na Catalunha, o solo dos vinhedos é
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W Vinhos Familia Torres: a vinícola começou a produzir os próprios vinhos por volta de 1870, mas está envolvida no cultivo de uvas desde o século 16
muito pobre em matéria orgânica, mas nós buscamos mudar isso”, disse Miguel Torres Maczassek, da quinta geração da família, em entrevista concedida à PLANT em recente passagem pelo Brasil. Uma das frentes de trabalho mais empolgantes da vinícola é a recuperação de variedades ancestrais de uvas, muitas delas dadas como perdidas. A vontade de buscar essas castas quase extintas começou ainda na década de 1980, quase como um trabalho de arqueologia. Com o apoio de profissionais da área da botânica e da agronomia, que estudam e identificam diferentes variedades de vinhas, a Torres catalogou 64 castas catalãs. Como estavam sem o cultivo adequado, contudo, apresentaram contaminação por vírus e não serviam para a produção de vinhos. A solução veio a partir do sequenciamento genético, que permitiu aos pesquisadores identificar as castas mais promissoras, que passaram a ser plantadas em condições específicas e só depois levadas para os vinhedos. O processo completo pode levar de 12 a 100
19 anos, a depender da variedade. Nem todas das 64 variedades serão, de fato, usadas nos vinhos da casa. Algumas já mostraram grande potencial e agora integram o portfólio fixo da vinícola. Seu icônico rótulo Grans Muralles, por exemplo, leva as variedades Querol e Garró, descobertas pela família, em pequenas quantidades. A linha Clos Ancestral usa diversas castas regionais. O branco é feito com a Forcada, de grande força aromática, e o tinto leva 40% de Moneu, além de Tempranillo (conhecida como Ull de Llebre na Catalunha) e Garnacha, duas das mais populares uvas espanholas. Há outras, como a branca Pirene e a tinta Gonfaus, que são vinificadas em pequenas quantidades e vendidas apenas para os turistas que visitam a vinícola. O trabalho vem sendo compartilhado com outros produtores da região, que podem usar as variedades ancestrais recuperadas em seus próprios vinhos. “A Catalunha é uma região muito antiga de produção vinícola, e por isso há tanta diversidade genética”, diz Torres. “Em
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outras regiões, como Rioja, é diferente, sem muitas variações entre as castas.” Além de fornecer inspiração para outros países que buscam recuperar suas próprias variedades regionais – como é o caso do Chile, com a uva País, e da Argentina, com a Criolla –, as inovações da Torres deverão ajudar a combater as mudanças climáticas. Algumas das castas ancestrais demonstraram grande resistência a climas mais extremos e podem servir de alternativas para a produção futura. Por via das dúvidas, a Familia Torres também já começou a plantar vinhedos em áreas elevadas, de clima mais ameno. A preocupação ambiental levou a Torres a lançar diversas estratégias. Entre elas está a adoção de cobertura vegetal nos vinhedos, com o plantio de árvores frutíferas e hortas ao redor das videiras. “Queremos replicar o comportamento da natureza, porque um bosque é capaz de se regenerar”, afirma Torres. Há também a preocupação em analisar o solo e garantir que seja rico: “Se o solo vai bem, todo o resto do ecossistema
também vai.” Sua proposta é fazer com que os vinhedos sejam capazes de capturar CO² da atmosfera pelo processo de agricultura regenerativa em cerca de 1.100 hectares. O empresário diz que o objetivo da vinícola é chegar a 2030 com 60% menos emissões de CO² por garrafa de vinho e zerá-las por completo até 2040. A largada já foi dada. Em 2022, a Torres reduziu em 36% as emissões em relação a 2008, quando as mudanças começaram a ser implementadas. Além do trabalho regenerativo dos vinhedos, a empresa vem implementando outras práticas, como a adoção de painéis solares para reduzir o consumo de energia da rede elétrica, o uso de carros elétricos para o enoturismo e a reutilização de garrafas, entre outras. São medidas encontradas em outros setores agrícolas, mas incomuns na viticultura. O que não há em lugar algum é a recuperação de variedades de uvas consideradas extintas. Para a Familia Torres, os vinhos do futuro podem estar escondidos em algum lugar do passado. PLANT PROJECT Nº40
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ENERGIA RENOVADA E RENOVÁVEL Conferência Internacional DATAGRO acentua relevância do etanol e aponta novas oportunidades para o setor sucroenergético
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23ª Conferência Internacional DATAGRO sobre Açúcar e Etanol, realizada em 23 e 24 de outubro, reuniu 1,5 mil pessoas no hotel Grand Hyatt em São Paulo (SP). O evento, que também contou com transmissão online, teve como temática “Novos Mercados e Diversificação em Direção a Net-Zero”. Com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a abertura da conferência destacou a força econômica do setor sucroenergético brasileiro como produtor de açúcar, etanol e bioenergia, bem como a relevância do segmento para a promoção da descarbonização das cadeias globais de valor. Em sua fala inicial, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, ressaltou a integração virtuosa entre a agricultura alimentar e energética. “A energia da biomassa alavanca a produção de alimentos”, disse Nastari. Especificamente sobre os biocombustíveis, Nastari mencionou que seu uso avança para além do transporte rodoviário, com potencial para o segmento de aviação e o marítimo. Alckmin salientou que o setor sucroenergético é crucial para a nova industrialização do País, porque o segmento gera emprego, renda e, consequentemente, desenvolvimento sustentável, já que é ancorado na economia de produtos verdes. O vice-presidente lembrou que o Brasil tem a matriz de energia mais limpa do mundo e que o governo trabalha para elevar gradativamente os percentuais de mistura de biodiesel no diesel e de etanol na gasolina. Por sua vez, Lira frisou que, em sua recente viagem à China, o tema dos biocombustíveis foi destaque na agenda com as autoridades locais. “O Brasil é referência em biocombustíveis porque investiu em tecnologia, infraestrutura de distribuição e se antecipou às tendências com foco na descarbonização e sustentabilidade”, declarou. O presidente da Câmara também pontuou que o legislativo dará prioridade ao andamento dos Projetos de Lei que visam endereçar políticas públicas de estímulo ao hidrogênio verde, sobretudo o obtido a partir do etanol. Também presente na solenidade de abertura, o deputado federal Arnaldo Jardim afirmou que
o agro brasileiro tem compromisso absoluto com a sustentabilidade, no que foi endossado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Roberto Perosa. Entre outras autoridades, a cerimônia de abertura contou ainda com a participação do novo secretário de Agricultura de São Paulo, Guilherme Piai, que trouxe uma novidade: o estado terá um Plano Safra exclusivo a partir de 2024. Dirigentes e lideranças do agro, como Cesario Ramalho, do Conselho do Agronegócio da Associação Comercial de São Paulo (ACSP); Sérgio Bortolozzo, da Sociedade Rural Brasileira (SRB); e Evandro Gussi, da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), também participaram da cerimônia de abertura. A programação da conferência homenageou duas personalidades que marcaram história no setor: Werther Annicchino, ex-presidente da Copersucar, e José Carlos Maranhão, presidente do Grupo Santo Antônio.
CONFIRA OS PRINCIPAIS DESTAQUES DA 23ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DATAGRO SOBRE AÇÚCAR E ETANOL: ESPECIALISTAS DEFENDEM PREVISIBILIDADE NA POLÍTICA DE PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS Executivos do segmento sucroenergético, autoridades representativas do agro e dirigentes de entidades cobraram previsibilidade do governo federal em relação à política de preços dos combustíveis no País, sobretudo em relação às cotações praticadas pela Petrobras para o petróleo. De acordo com o deputado Zé Vitor, presidente da Frente Parlamentar do Setor Sucroenergético, ter previsibilidade nesta questão é condição fundamental para a tomada de decisão na cadeia produtiva do etanol. “Previsibilidade traz investimentos”, disse. Segundo o CEO da Atvos, Bruno Serapião, ao contrário do açúcar, que tem preços balizados em bolsa, o etanol não possui tal característica, o que o deixa atrelado à política de preços vinculada ao petróleo. “Não queremos subsídio, e sim previsibiliPLANT PROJECT Nº40
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dade dos marcos regulatórios.” Para o presidente da Acelen, que está investindo na fabricação de biocombustíveis a partir do óleo de macaúba, a adoção do controle artificial de preços nunca funcionou e tira a transparência do mercado de combustíveis. SAFRA GLOBAL 2023/24 DE AÇÚCAR DEVERÁ APRESENTAR DÉFICIT DE 2,1 MILHÕES DE TONELADAS Em um cenário de oferta apertada e preços com tendência altista, a safra mundial 2023/24 de açúcar, que corresponde ao intervalo entre outubro de 2023 e setembro de 2024, deverá apresentar déficit de 2,1 milhões de toneladas, aponta a mais recente estimativa da Organização Internacional do Açúcar (OIA), que foi divulgada pelo diretor executivo da entidade, José Orive. A produção mundial, segundo a OIA, deverá ficar em torno de 174,8 milhões de toneladas, enquanto o consumo global está previsto em 104
176,9 milhões de toneladas. De acordo com Orive, o Brasil deve continuar liderando as exportações mundiais, com o embarque de 28 milhões de toneladas, seguido por Tailândia e Índia. Segundo o diretor executivo da OIA, os preços internacionais do adoçante provavelmente deverão permanecer elevados neste ciclo. REVOLUÇÃO NO PLANTIO DE CANA O plantio de cana-de-açúcar está na antessala de uma revolução, que será marcada pela troca do uso das atuais mudas por materiais genéticos sob o formato de sementes sintéticas. A projeção foi feita por executivos do segmento sucroenergético. César Barros, presidente do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), afirmou que o cultivo de cana viveu um quadro de produtividade estagnada nos últimos anos que precisa ser revertido. Nesse sentido, tanto o lançamento de novas cultivares quanto o plantio por meio da tecnologia de sementes têm potencial para elevar o rendimen-
to dos canaviais, com o desenvolvimento de plantas de maior produtividade e menos suscetíveis a pragas e ervas daninhas, bem como adaptáveis às mudanças climáticas. De acordo com Alexandre Landgraf, diretor da Explante Biotecnologia, considerando todo o processo de plantio, a tecnologia de sementes artificiais para cana também terá potencial para reduzir custos, assim como mitigar a emissão de gases de efeito estufa. “A tecnologia tem disponibilidade comercial prevista para a temporada 2026/27.” SISTEMA REGULATÓRIO MAIS CÉLERE O presidente e CEO da CropLife Brasil, Eduardo Leão, disse que o Brasil precisa de um sistema regulatório mais célere na temática dos insumos
agrícolas. Segundo ele, maior agilidade significa a aprovação para o uso de tecnologias mais amigáveis ao meio ambiente, mais modernas, eficientes e seguras para a saúde humana. “O Brasil leva mais do que o dobro de tempo do que a média mundial no registro de novas tecnologias agrícolas”, alertou, acrescentando que este quadro afasta investimentos para o desenvolvimento de insumos mais verdes. De acordo com o dirigente da entidade, três propostas legislativas são prioritárias para o segmento: nova lei de cultivares, regulamentação dos bioinsumos e modernização da lei dos pesticidas. Também presente no painel, o gerente Comercial de cana-de-açúcar da Koppert, Vinícius Lopes, pontuou o avanço das soluções de controle
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biológico na agricultura brasileira. “Hoje em dia, estima-se que 24 milhões de hectares são tratados com alguma tecnologia de controle biológico.” BRASIL REFUTA PROTOCOLOS UNILATERAIS RELACIONADOS À SUSTENTABILIDADE NO COMÉRCIO AGRÍCOLA INTERNACIONAL O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Roberto Perosa, afirmou que o governo brasileiro tem grande preocupação com medidas unilaterais que estão sendo adotadas por países e blocos em relação a regras de importação para produtos agrícolas. O principal ponto nesta temática envolve a lei antidesmatamento da União Europeia, que barra o ingresso de produtos vinculados a desmatamento – independentemente de ser legal ou ilegal, segundo a norma de cada país fornecedor – cultivados, produzidos ou processados após 31 de dezembro de 2020. Segundo Perosa, o Brasil mantém negociações diplomáticas com a União Europeia, a fim de ambos amadurecerem um protocolo de produção agrícola ancorado em princípios sustentáveis. “Cada país tem um modelo produtivo, uma realidade local, que busca conciliar produção e sustentabilidade, e a Europa precisa compreender, com base em critérios científicos, o quanto o agro brasileiro é sustentável.” Os demais participantes do painel, Marie 106
Christine Ribera, diretora-geral da Associação Europeia de Fabricantes de Açúcar, e Fred Zeller, CEO da SZVG e sócio majoritário da Südzucker, afirmaram que os produtores rurais europeus também enfrentam desafios e apresentam dúvidas quanto às políticas sustentáveis que a direção do bloco deseja implantar na agricultura local. DEMANDA GLOBAL POR BIOCOMBUSTÍVEIS ESTÁ DADA Reunidas no principal painel da Conferência DATAGRO, lideranças do setor sucroenergético nacional elencaram desafios e oportunidades do segmento no âmbito doméstico e no espectro internacional. “O segmento passa por um momento virtuoso, sobretudo em razão de boas circunstâncias climáticas e de mercado, com produtores e empresas ampliando e diversificando investimentos”, destacou o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari. O presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, acentuou que, em termos de demanda para os biocombustíveis, o cenário mundial está dado: “O desafio é construir uma oferta constante, diversificada geograficamente e ancorada nos três pilares da sustentabilidade: econômico, social e ambiental”. Em relação à descarbonização dos sistemas de transportes, a redução das emissões de gases de efeito estufa, observou Gussi, passará por variadas rotas tecnológicas de mobilidade
sustentável, de acordo com as características de cada país ou região. De acordo com o presidente da União Nacional da Bioenergia (Udop), Hugo Cagno Filho, as perspectivas são, de fato, positivas para o setor, especialmente em relação ao etanol, dadas as possibilidades relacionadas ao hidrogênio verde. “Esta nova agenda pode desvincular nossa cadeia produtiva dos preços dos combustíveis fósseis.” Exatamente sobre esta questão, o presidente da Bioenergia Brasil e do Siamig, Mário Campos Filho, criticou a falta de previsibilidade da política de preços dos combustíveis da Petrobras: “Isso gera incertezas para todo o setor”. De seu lado, o presidente do Sindaçúcar/AL, Pedro Robério, lembrou a importância da aprovação do Projeto de Lei do Combustível do Futuro, proposta que, segundo ele, “carrega tudo o que o segmento de biocombustíveis precisa para se desenvolver ainda mais”. O PL traz medidas para estimular o uso de combustíveis sustentáveis no setor de transportes, como o diesel verde e o aumento do teor de etanol na gasolina. A matéria prevê também uma nova política, pela qual as companhias aéreas devem reduzir em 1% as emissões de gases de efeito estufa
a partir de 2027, alcançando 10% em 2037. Essa redução será atingida pelo aumento gradual da mistura de combustíveis sustentáveis. Além disso, o presidente do Sifaeg, André Rocha, recordou a necessidade de o setor sucroenergético investir em comunicação, a fim de evidenciar as externalidades ambientais positivas do segmento e suas vantagens econômicas. BRASIL PODERÁ LIDERAR FORNECIMENTO MUNDIAL DE COMBUSTÍVEL RENOVÁVEL PARA AVIAÇÃO (SAF) Em uma agenda de descarbonização também para o setor aéreo mundial, o Brasil, avaliaram especialistas, tem o potencial de ser um dos maiores fornecedores globais de SAF (Sustainable Aviation Fuel) – combustível sustentável para aviação, em português –, pela diversidade de matérias-primas que o País tem. O SAF emite até 80% menos CO2 do que o querosene de aviação e, no âmbito da cadeia produtiva do agro, pode ser produzido pela biomassa da cana, etanol, outros resíduos agrícolas e gorduras animais. “A aviação doméstica consome anualmente 6 bilhões de litros de querosene de aviação, e produzimos 4,1
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bilhões. Em vez de importarmos, o restante pode ser ocupado por SAF”, disse Carolina Grassi, gerente de Política e Inovações da Roundtable On Sustainable Biomaterials (RSB). Segundo Agustín Torroba, especialista em Biocombustíveis e Energias Renováveis do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (Iica), o SAF é uma grande oportunidade para o Brasil, em particular para o segmento do etanol, que apresenta potencial de produção de baixo custo para a fabricação do biocombustível. “Podemos ser a Opep dos combustíveis renováveis”, afirmou José Magalhães Fernandes, vice-presidente global da Honeywell Performance Materials and Technologies e presidente da subsidiária na América Latina, em alusão ao grupo dos maiores produtores mundiais de petróleo. Citadas no painel, algumas projeções mostram, 108
de fato, o potencial para uso do SAF nos próximos anos em substituição ao querosene de aviação. Na União Europeia, a meta é atingir 2% de SAF em 2025 e 70% em 2050. Nos EUA, o objetivo do governo é chegar a 11,4 bilhões de litros de SAF em 2030 e 132,5 bilhões de litros até 2050. No Brasil, a meta é 1% de SAF a partir de 2027, com aumento de 1% ao ano, com intuito de alcançar 10% em 2037. Segundo especialistas, também é preciso estar no radar o desafio de que o Brasil não deve se contentar apenas em ser fornecedor de matérias-primas para fabricação de SAF, mas ter a ambição de produzir internamente, em fábricas locais. FABRICAÇÃO DE HIDROGÊNIO VERDE A PARTIR DO ETANOL OU DA BIOMASSA DA CANA-DE-AÇÚCAR Um dos painéis mais aguardados tratou do potencial para a fabricação de hidrogênio verde a
partir do etanol ou da biomassa da cana-de-açúcar. O que há de mais avançado no Brasil nessa temática é o projeto desenvolvido pelo Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI, na sigla em inglês) em parceria com a USP, Fapesp, Shell, fabricantes de veículos, empresas de tecnologias e grupos do setor sucroenergético. A iniciativa prevê a produção de hidrogênio verde a partir do etanol e da biomassa da cana em uma planta que está sendo instalada no campus da USP, em São Paulo (SP). Na Conferência, o diretor científico do RCGI, Julio Romano Meneghini, discorreu sobre a inciativa que mapeará o potencial de produção de
hidrogênio no setor sucroenergético. Os pesquisadores vão analisar os dados de todas as usinas de etanol no Brasil – há 358 de cana-de-açúcar e 21 de milho, segundo números atualizados em dezembro de 2022 – para calcular a quantidade de hidrogênio que poderiam produzir. “O hidrogênio tem aparecido cada vez mais como vetor energético importante para a descarbonização de diferentes setores, incluindo o da aviação”, afirmou a engenheira química Suani Teixeira Coelho, professora do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e coordenadora do projeto, também presente no painel. O estudo trabalhará com diferentes cenários,
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abrangendo a demanda por etanol pelo transporte rodoviário e incluindo na análise o etanol de segunda geração, considerado ainda mais sustentável que o de primeira geração por ser produzido a partir do bagaço de cana. “Sempre que se usa um resíduo de biomassa, como o bagaço da cana, para gerar energia, se tem um sistema mais sustentável”, salientou Suani Coelho. “Primeiro, porque se dá um destino adequado a esse resíduo. E, segundo, porque não há necessidade de expansão de área. É um conceito que se enquadra no que chamamos de bioeconomia circular.” Também presente no painel, Roberto Matarazzo, diretor de Assuntos Governamentais e Regulatórios da Toyota, destacou que, para a fabricante de automóveis, o inimigo é o carbono, e não o motor à combustão. “Para nós, a descarbonização, a busca pela mobilidade sustentável, passa por diversas rotas tecnológicas, de acordo com as características de cada país ou região.” No Brasil, ressaltou o executivo, o etanol é item-chave, sendo o híbrido flex, que combina o veículo elétrico com o biocombustível, a melhor opção. Segundo afirmou Matarazzo, pesquisas mostram que motores flex e híbridos flex abastecidos com etanol têm emissão de CO2 mais baixa do que o elétrico puro europeu, considerando o conceito do poço à roda. Ao mesmo tempo, frisou o executivo, o Brasil já conta com uma ampla infraestrutura de distribui110
ção de biocombustíveis, o que torna a tecnologia híbrido flex mais acessível. Segundo estimativas do Ministério de Minas e Energia (MME), o Brasil tem potencial para produzir 1,8 gigatoneladas de hidrogênio de baixa emissão de carbono por ano. EXECUTIVO DA STELLANTIS DESTACA IMPORTÂNCIA DO ETANOL COMO DESCARBONIZANTE O painel com o tema “Novas Tecnologias para Aumento da Eficiência do Uso do Etanol em Transporte” contou com moderação do deputado federal Arnaldo Jardim e palestra de João Irineu Medeiros, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis na América do Sul. “O Brasil tem todas as possibilidades de liderar a corrida pela descarbonização”, ressaltou Medeiros. O executivo da Stellantis destacou o papel do etanol brasileiro nesse processo, que serve como referência para todo o mundo, principalmente para os países emergentes. O objetivo da Stellantis no Brasil é incentivar soluções que combinem etanol e eletrificação. Com medidas semelhantes em vários países, respeitando as características de cada um, a Stellantis tem a perspectiva de chegar ao carbono neutro até 2038. DATAGRO REALIZA PREMIAÇÃO EM EXCELÊNCIA VERDE PARA EMPRESAS COM MAIOR PONTUAÇÃO NO RENOVABIO
A DATAGRO realizou, pela primeira vez, a premiação DATAGRO Green Excellency Awards, com o objetivo de reconhecer as empresas mais eficientes na emissão de CBios, créditos que representam cada tonelada de CO2 que deixou de ser liberada na atmosfera no processo de produção, distribuição e consumo de combustível.
• A Fueling Sustainability foi laureada devido à geração de CBios na produção de Etanol de Milho, representada por Paulo Trucco, diretor Comercial de Etanol.
CONFIRA OS VENCEDORES:
• A Construtora Marquise/GNR Fortaleza Valorização de Biogás Ltda., através do presidente Hugo Nery, recebeu o prêmio em Biometano.
• O grupo Jalles Machado, por meio de seu presidente, Otavio Lage Siqueira Filho, recebeu o DATAGRO Green Excellency Awards pela sua eficiência em Etanol de Cana no Centro-Sul. • A mais eficiente em geração de CBios no Norte/Nordeste foi a agroindústria Pagrisa, cujo diretor Fernão Zancaner recebeu o prêmio. • Na categoria Etanol de Usinas Flex (cana e milho), o vencedor foi o Grupo São Martinho, representado por Helder Gosling, diretor Comercial e de Logística.
• Em Biodiesel, o DATAGRO Green Excellency Awards foi para a JBS – Nelson Dalcanale, presidente de Novos Negócios da empresa, recebeu a premiação.
• A DATAGRO promoveu a premiação para reconhecer a “excelência verde” com apoio dos rankings monitorados pela Benri.
TEMOS CONDIÇÕES DE PRODUZIR ETANOL DE FORMA RÁPIDA, DIZ APLA Alberto Carlos Bicca, coordenador de Agronegócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), moderou o painel com o tema
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“Expansão do Uso do Etanol no Mundo”. Palestraram Flavio Castellari, diretor executivo do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla); Luis Augusto Barbosa Cortez, professor titular da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri-Unicamp); David Chiaramonti, professor titular em Tecnologias de Conversão de Bioenergia da Politecnico di Torino, na Itália; e Heitor Cantarella, pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O mundo tem grande potencial para a produção de etanol. De acordo com Castellari, cem países poderiam fornecer biocombustíveis – para se ter ideia, atualmente apenas 20 países podem oferecer gasolina. “Temos condições de produzir etanol de forma rápida em todos os continentes”, disse o diretor executivo do Apla. “O etanol é, sim, parte da solução para descarbonização.” Cantarella, pesquisador do IAC, destacou o fato de o etanol – de cana e de milho – e o biodiesel serem produzidos de forma sustentável em grandes volumes mundo afora, com destaque para Brasil, Estados Unidos e países do Sudeste Asiático. 112
O professor Luis Augusto, da Unicamp, salientou que o etanol é uma oportunidade para o Brasil reduzir de maneira significativa as emissões de gases de efeito estufa (GEE), unificando a agenda ambiental com a produção de energias renováveis. NÃO HÁ SOLUÇÃO PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SEM A PARTICIPAÇÃO DO AGRO E DO BRASIL, DIZ EX-DIRETOR-GERAL DA OMC O embaixador brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), falou sobre as condições de comércio de produtos agrícolas no mundo. Com uma visão atualizada sobre o assunto, Azevêdo disse que estamos vivendo um novo paradigma: “Uma nova agenda internacional, focada no tema da sustentabilidade, assumiu a frente do debate internacional de maneira irreversível”. Na visão do embaixador, ainda não temos regulações globais para essa nova realidade, além de distorções de mercado tanto no que diz respeito às punições pelo não cumprimento
como também pela falta de incentivo. “Países vão adotando medidas unilateralmente, o que pode gerar muita arbitrariedade”, disse ele. Na avaliação de Azevêdo, o Brasil não pode ficar de fora das discussões acerca das mudanças climáticas e de sustentabilidade: “O agro tem que fazer parte dessa conversa e a agenda climática precisa incorporar o agro de maneira positiva. A agricultura é o único setor que tem a capacidade de sequestrar carbono. Não tem solução global para o clima se o Brasil não estiver dentro”. :: PROJETO +VALOR Foi lançado na conferência o projeto +Valor, que visa propor um padrão de certificação ESG para auxiliar as empresas a desenvolverem as melhores práticas ambientais, sociais e de governança.
Fruto de parceria entre a Peterson/Control Union e a DATAGRO, o +Valor tem como intuito, além de suprir a ausência de padrões com foco em ESG, impulsionar a melhoria contínua no setor sucroenergético e promover a transparência para os stakeholders. Desenvolvido para usinas de açúcar, etanol e bioenergia, o +Valor propõe gerenciar riscos, alcançar altos níveis de integridade, controlar a cadeia de fornecimento, melhorar a produtividade e fazer com que as empresas que adotem o padrão tornem-se mais resilientes e consigam atrair e reter talentos. Com a adesão do +Valor, as empresas terão orientação para executar as melhores práticas, com gerenciamento dos riscos do negócio, valorização da imagem reputacional, acesso a resultados setoriais e acurácia das informações.
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