Plant Project - Ed. #10

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

O PODER DAS COOPERATIVAS Elas têm metade da produção nacional nas mãos, mas passam por uma era de grandes desafios

PLANT TALKS Na estreia da série, entrevistas exclusivas com o presidente Michel Temer e com Roberto Hun, CEO da Corteva

TOP FARMERS Os jovens que chacoalharam grupos familiares na cana e no café POSITIVO COMO O AGRO ESTÁ AJUDANDO A SALVAR O HOSPITAL DO AMOR

PERSONAGEM

O polêmico bilionário que plantou no deserto a maior fazenda dos Estados Unidos

SEALBA Soja, milho e outros grãos em uma improvável fronteira agrícola entre o mar e o Agreste venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br


Porque, para alimentar o mundo, o planeta não precisa passar fome.

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Let’s rebuild agriculture together from the ground up. At Corteva AgriscienceTM, we’re reshaping agriculture for the 21st century by putting farmers and consumers at the heart of everything we do.

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Juntos, vamos reconstruir a agricultura desde a raiz. Na Corteva AgriscienceTM, estamos redesenhando a agricultura para o sĂŠculo 21, colocando os agricultores e os consumidores no centro de tudo o que fazemos.


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E d ito ri a l

Na Plant Project, cada edição é como uma safra. Começamos com as pági-

PLANT, 2 ANOS

nas em branco, como a terra nua à espera das sementes. Semeamos ideias na forma de pautas, fertilizadas com apuração rigorosa. Nossa propriedade tem vários talhões, que chamamos editorias, cada um dedicado a um universo, mas todos voltados à mesma função de alimentar o mundo com

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

informação sobre a face moderna do agro moderno, que olha para o futuO PODER DAS COOPERATIVAS Elas têm metade da produção nacional nas mãos, mas passam por uma era de grandes desafios

PLANT TALKS Na estreia da série, entrevistas exclusivas com o presidente Michel Temer e com Roberto Hun, CEO da Corteva

TOP FARMERS Os jovens que chacoalharam grupos familiares na cana e no café POSITIVO COMO O AGRO ESTÁ AJUDANDO A SALVAR O HOSPITAL DO AMOR

PERSONAGEM

O polêmico bilionário que plantou no deserto a maior fazenda dos Estados Unidos

SEALBA Soja, milho e outros grãos em uma improvável fronteira agrícola entre o mar e o agreste venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

ro, contemporâneo e cosmopolita. Foram 11 safras, 11 edições – da primeira, número zero, lançada como teste no Global Agribusiness Forum (GAF) de 2016, a esta, número 10, no GAF 2018 – em dois anos. Nesse período fértil, porém, Plant produziu muito mais que conteúdo impresso. Nosso principal fruto foram conexões. Através da comunicação, geramos links poderosos entre os diversos elos da imensa cadeia produtiva que começa nas partes mais distantes do interior do Brasil e se encerra nas mesas nos mais diversos países. Plant vai muito além de suas páginas. Em nosso terreno germinaram projetos transformadores, que revelaram o melhor do agronegócio de maneiras inéditas e aproximaram campo e cidade. Mostramos o exemplo dos Top Farmers, a inovação dos empreendedores da agricultura digital na plataforma StartAgro, os novos líderes, as tendências, os protagonistas. Nesta edição, lançamos as sementes de mais dois projetos: Plant Talks, que trará entrevistas exclusivas com os CEOs das principais empresas do agronegócio, e Plant Positivo, um canal para relatar histórias que merecem ser compartilhadas, um antídoto às improdutivas fake news. Mais do que celebrar dois anos, reafirmamos aqui nosso manifesto. Acreditamos que o poder de transformação passa pela mudança de comportamento e pensamento das novas gerações. Cremos que novos negócios só são possíveis quando as pessoas se conectam. Com outras pessoas. Com marcas. Com seu público. Com novos mercados. Com o mundo.

Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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Í ndi ce

plantproject.com.br

G pág. 12 Ag pág. 21 G LO B AL

D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Phelipe Krisztan Pedroso Marketing e Publicidade Multiplataforma phelipe.pedroso@plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte Col ab o ra dores: Texto: Amauri Segalla, Cilene Pereira, Françoise Terzian, Ivava Ramacioti, Irineu Guarnier Filho, Lillian Bento, Nicholas Vital, Romualdo Venâncio, Thiago Cid, Tiago Dupim Fotografia: Cláudio Gatti, João Castellano, Rogério Albuquerque, Tarciso Albuquerque, Toni Pire Design: Bruno Tulini, Kareen Sayuri, Pedro Matallo Revisão: Rosi Melo Estagiários: João Rodriguez, Pedro Romanos Com un i cação Eliane Dalpizol Coordenadora de Comunicação eliane.dalpizol@datagro.com Ev e n to s Simone Cernauski A d m i n i st ração e Fina nç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes

publicidade@plantproject.com.br assinaturas@plantproject.com.br

AGRIBUSINESS

pág. 63

Fo pág. 76 Fr pág. 83 W pág. 91 Ar pág. 111 S pág. 119 M pág. 136 FORUM

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Plantação de bananas na América Central O mundo está em alerta contra uma praga que pode dizimar produção da mais popular das frutas

G GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

PLANT PROJECT Nº10

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G

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

I N G L AT E R R A

A LUTA PARA SALVAR AS BANANAS Fungo letal ameaça lavouras, gera bilhões em prejuízos e acelera uma corrida global da ciência para evitar a extinção da fruta mais consumida do planeta Uma doença ao mesmo tempo traiçoeira e mortífera ameaça as frutas mais consumidas do mundo: as bananas. Chamada de mal-do-panamá, ela é causada pelo fungo Fusarim, também conhecido como TR4, detectado pela primeira vez na África pouco mais de dez anos depois de dizimar milhões de hectares de plantações. Desde então, cientistas do mundo inteiro se debruçaram sobre o problema, mas até agora suas tentativas de conter o avanço do fungo não foram bem-sucedidas – pelo menos no combate em grande escala. Ele resiste a diversos agentes químicos e ludibria os pesquisadores, adaptando-se 12

a variações genéticas das bananas desenvolvidas em laboratório. Apesar de existirem milhares de tipos de banana, a maior parte da produção mundial é da variedade Cavendish, disseminada em todos os continentes. No Brasil, consome-se o subtipo Dwarf Cavendish, ou simplesmente banana-nanica. Por enquanto, o faminto TR4 não chegou à América Latina, a maior região bananeira do planeta, mas os cientistas garantem que isso é apenas uma questão de tempo. A Cavendish responde por 99% de todas as bananas comercializadas do mundo, e sua


Bananas expostas em mercados na América Central e na Inglaterra: mal-do-panamá já teria causado prejuízos superiores a US$ 5 bilhões

presença global, por uma dessas estranhas ironias, é resultado da ação letal dos antepassados do TR4. Os avós do fungo atual mataram uma variedade diferente e supostamente mais saborosa de bananas, a Gros Michel, que desapareceu do mapa-múndi após um surto da doença nos anos 1960 e 1970. Eles também dizimaram a bananamaçã da paisagem brasileira, varrendo tudo o que encontraram pela frente. Agora teme-se que processo semelhante aniquile a Cavendish. Cálculos recentes feitos pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) estimam em US$ 5 bilhões os prejuízos anuais causados pelo mal-do-panamá. Pior: o valor é crescente, já comprometendo as exportações de países da África e da Ásia. Na Índia, maior produtor mundial de banana (responde por quase um terço do total), a matança provocada pelo TR4 pode causar sérios danos sobretudo à balança comercial, e afetar até o PIB. O Brasil é um dos quatro maiores produtores globais da fruta, com cerca de 7 milhões de toneladas anuais. Em 2014, a Cutrale se juntou ao Grupo Safra

para comprar a americana Chiquita Brands, a maior produtora de bananas do mundo, em um negócio avaliado à época em US$ 1,3 bilhão. O possível desaparecimento da Cavendish, portanto, tem potencial para causar prejuízos severos à empresa brasileira. Desde 2014 a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) alerta sobre a chegada do fungo ao País. Em 2017, o órgão incluiu o TR4 na lista de pragas quarentenárias. Para efeitos práticos, significa que portos e aeroportos devem ser monitorados para impedir a entrada de mudas contaminadas, mas a iniciativa não é garantia de que a doença será barrada. A boa notícia é que há inúmeras frentes globais de combate ao fungo. Várias empresas de biotecnologia aproveitaram a oportunidade para estudar o problema. A agritech britânica Tropic Biosciences já desenvolveu variedades genéticas mais resistentes e, por essa razão, acabou de receber US$ 10 milhões de investidores. Na Universidade de Tecnologia de Queensland, em Brisbane, na Austrália, um

pesquisador conseguiu transferir os genes de uma banana silvestre resistente a doenças para a Cavendish, mas ainda não se sabe qual será o efeito do processo no longo prazo. Outros cientistas estão realizando trabalhos semelhantes em Israel e no Equador. Em Porto Rico, o Centro de Pesquisa Agrícola Tropical decidiu criar em laboratório variedades selvagens de bananas para descobrir quais resistiriam ao ataque dos fungos. Por enquanto, os resultados são inconclusivos. O avanço planetário do mal-da-panamá é resultado da ação do próprio homem. Para reduzir custos e aumentar a produtividade, as empresas e os agricultores apostam na monocultura, e é ela que permite que pragas se espalhem para todos os lugares do mundo. A diversidade de lavouras evitaria que um único fungo fosse capaz de dizimar uma espécie inteira, especialmente se ela for suscetível a doenças, como é o caso da Cavendish. Enquanto a ciência não encontrar um antídoto eficaz contra o mortal TR4, as bananas estarão seriamente ameaçadas. PLANT PROJECT Nº10

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G E S TA D O S U N I D O S

DO AÇO À ALFACE Nos últimos anos, a cidade de Baltimore, em Maryland, ficou marcada como um daqueles decadentes centros urbanos dos Estados Unidos que sofreram com o declínio da indústria tradicional. Agora, a região quer se reinventar – e nada poderia ser mais apropriado do que transformar uma antiga siderúrgica, de onde saíram aços usados na construção de navios da Segunda Guerra Mundial e da ponte Golden Gate, em São

ESCÓCIA

Tomografia em carneiros Desde que biólogos britânicos apresentaram ao mundo a ovelha Dolly, o primeiro clone da história, esse ruminante pouco contribuiu para o avanço da ciência. Mas isso acaba de mudar. Pesquisadores do Conselho de Desenvolvimento de Agricultura e Horticultura (AHDB) e do Colégio Rural da Escócia desenvolveram uma técnica inovadora para identificar os melhores animais para reprodução. Na verdade, trata-se de uma aplicação original para um equipamento bastante difundido entre os humanos: a tomografia computadorizada. O “exame” feito nos carneiros mede desde o comprimento da coluna até os níveis de gordura intramuscular. Tudo isso para encontrar o macho perfeito, aquele capaz de produzir herdeiros tão perfeitos quanto ele. E, claro, carnes ainda mais saborosas. 14

Francisco, em uma fazenda de alta tecnologia. Comprada pela Gotham Greens, empresa de agricultura urbana sediada no Brooklyn, a fábrica que estava fechada desde o início dos anos 2000 se tornará agora uma fazenda coberta para o cultivo de alface sem pesticidas. A ideia, diz Viray Puri, fundador da Gotham Greens, é fazer da estufa um marco da nova era capitalista, voltada para a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Os 60 empregos que o negócio irá gerar, porém, estão muito distantes dos 30 mil da antiga indústria.


H AVA Í

O VULCÃO QUE DEVORA LAVOURAS As erupções do vulcão Kilauea, o mais ativo do mundo, proporcionam uma visão deslumbrante aos turistas que visitam o Havaí, mas elas também causam transtornos. Apenas nos últimos dois anos, os rios de lava que descem as encostas do Parque Nacional dos Vulcões devoraram lavouras inteiras de frutas e grãos e geraram perdas estimadas em US$ 14 milhões. De acordo com um relatório recente do departamento de estado, mais de mil agricultores foram afetados, e alguns deles perderam tudo – safra, terra para plantar, casa para viver. Além disso, a lava evaporou boa parte do Great Lake, maior recurso natural de água doce da ilha, e há o temor de que milhares de havaianos tenham que deixar sua residência nos próximos meses se a fúria do Kilauea não se aplacar.

VIETNÃ

A SUPERBACTÉRIA DO ARROZ É no modesto distrito de Tien Hai, no Vietnã, uma das regiões com a maior produção per capita de arroz do mundo, que uma nova revolução agrícola está em curso. Cientistas locais investigam se uma variedade de bactérias pode ajudar a reduzir a quantidade de fertilizantes usada pelos agricultores. Normalmente encontradas na cana-de-açúcar, essas bactérias permitem que as plantas de arroz extraiam nitrogênio diretamente do ar, em vez de dependerem de fertilizantes artificiais. Segundo os pesquisadores, os primeiros resultados foram “extraordinários”. Funciona assim: as sementes de arroz são revestidas com as tais bactérias fixadoras. À medida que a planta cresce, elas acabam retirando o nitrogênio da atmosfera – ou seja, adeus fertilizantes. Os pesquisadores acreditam que as superbactérias começarão a ser vendidas em forma líquida ou em pó a partir do ano que vem no mercado americano. Depois, vão ganhar o mundo.

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G AUSTRÁLIA

SÓ MACHOS NO PASTO Se a modificação genética é comum em plantas, em animais está bastante distante da realidade. Ou estava. Uma geneticista australiana trabalha na alteração dos genes do gado para mudar a maneira como eles se reproduzem. Em vez de permitir que a natureza decida o sexo da prole, a ciência faz o serviço. Por meio da manipulação genética, o gado modificado produzirá apenas machos (cromossomos XY). O que explica o, digamos, sexismo?

A resposta está nas motivações econômicas. O crescimento dos machos é mais veloz. Portanto, eles atingem o tamanho ideal para o abate mais rapidamente.

ZÂMBIA

A FORÇA DAS SUPERSEMENTES 16

Para que o projeto siga em frente, o governo de cada país precisa definir regras claras sobre o assunto, mas isso está longe de acontecer.

Um consórcio empresarial de Zâmbia, um dos países mais produtivos da África na área da agricultura, desenvolveu supersementes capazes de resistir a condições climáticas adversas. Nos últimos anos, centenas de milhões de dólares investidos em aprimoramento genético permitiram que plantações de arroz sobrevivam por duas semanas debaixo d’água, aliviando assim os efeitos das inundações, que um tipo especial de feijão rico em ferro suporte mudanças bruscas de temperatura e que lavouras de milho não se curvem a secas severas. As inovações receberam fortes aportes do Reino Unido e agora serão levadas para experimentações e possível aplicação na Europa.


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G

ALEMANHA

A comida do futuro Que tal um elegante contêiner de autocompostagem na porta de casa? Ou um enorme pedaço de carne que, na verdade, é feito de algas? Ou imensos fones de ouvido e óculos que simulam realidade virtual para serem acoplados a animais prontos para o abate, como frangos? Ou, quem sabe, um bolo feito de insetos? Tudo isso, e muito mais, faz parte da exposição Food Revolution 5.0, que ficará em cartaz em Berlim, na Alemanha, até o dia 16 de setembro. A ideia do evento foi reunir as obras de mais de 30 designers do mundo inteiro focadas na temática sobre o futuro da alimentação. E o resultado não poderia ser mais provocativo. A exposição mostra como nossas decisões sobre os alimentos que consumimos são altamente políticas e desperta a reflexão a respeito do impacto que geramos no meio ambiente apenas para saciar a fome do planeta. Organizada em conjunto pelo Museu de Artes e Ofícios de Hamburgo e pelo escritório de arquitetura Kooperative für Darstellungspolitik, de Berlim, a exposição estreou em maio e tem sido um sucesso estrondoso de público. “A comida está conectada ao nosso mundo por todos os canais”, disse a curadora Claudia Banz ao portal alemão Deutsche Welle. “A exposição revela que todos nós podemos iniciar uma revolução na própria casa, refletindo sobre quanto e o que realmente comer". 18


O ensaio fotográfico de Klaus Pichler sobre desperdício, a instalação de Maurizio Montalti em que fungos transformam plástico em bioetanol, a galinha com óculos de realidade virtual de Austin Stewart, o bioplástico comestível de Johanna Schmeer, a pasta de insetos de Carolin Schulze e carne feita de algas marinhas do designer Hanan Alkouh (em sentido anti-horário).

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G AUSTRÁLIA

O BILIONÁRIO DAS OSTRAS De um lado, um bilionário com uma ideia inovadora de negócios. De outro, grupos ambientalistas. No meio, incertezas. O australiano Andrew Forrest fez fortuna com mineração e agora quer se aventurar na criação de ostras comestíveis, mercado que movimenta US$ 100 milhões no país. O problema é o local escolhido para suas fazendas

marinhas: a Baía Shark, na costa ocidental da Austrália, onde vivem cinco espécies de mamíferos marinhos ameaçados de extinção e que em 1991 foi alçada à condição de Patrimônio da Humanidade. Segundo Forrest, sua empreitada cumprirá todos os requisitos ambientais. Os ecologistas afirmam que a Baía Shark é sensível demais e não suportaria um “ataque” desse tipo. A questão pode ir parar na Justiça.

CA N A DÁ

A internet das vacas A Inteligência Artificial chegou com tanta força ao campo que uma nova expressão vem ganhando espaço no Canadá: a “internet das vacas”. Uma das empresas que estão espalhando a novidade é a Soma Detect, da província de New Brunswick, que está prestes a lançar no mercado leites nascidos a partir do novo conceito. O sistema é sofisticado: sensores instalados em cada estação de ordenha identificam a vaca, testam seu leite e rapidamente fornecem aos agricultores métricas como contagem de proteína e gordura, indicadores de doenças, presença de hormônios e resíduos de antibióticos. A partir desses dados, será possível definir o grau de pureza do leite e repassar a informação aos consumidores. Segundo os donos da empresa, a tecnologia está em estágio inicial e levará a profundas transformações nos métodos de produção. 20


União e força Reunindo mais de 1 milhão de produtores rurais, as cooperativas agrícolas brasileiras já somam mais de R$ 200 bilhões em receita

Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença Por Nicholas Vital

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Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

O PODER COOP 22


DAS ERATIVAS Elas já respondem por 48% de tudo o que é produzido pelo agronegócio no Brasil. Trata-se de um negócio de R$ 200 bilhões que garante competitividade e maior rentabilidade aos produtores, mas que tem muitos desafios para se expandir P O R N I C H O L A S V I TA L

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E Ag Reportagem de Capa

m 1845, o teórico revolucionário alemão Friedrich Engels, um dos principais expoentes do marxismo, lançou o seu primeiro livro, A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, em que narrava, a partir de suas próprias observações, as condições degradantes a que eram submetidos os operários nas fábricas de Manchester, cidade considerada o coração da Revolução Industrial inglesa. Diante dos baixos salários, insuficientes até mesmo para a aquisição de alimentos para a subsistência de suas famílias, a situação desses indivíduos era de fato precária – e sem perspectivas de melhora. Foi quando um grupo de tecelões do subúrbio de Rochdale decidiu se unir em busca de uma vida mais digna. Após abandonarem o emprego nas tecelagens da região, decidiram juntar seus parcos recursos e investir tudo na compra de alimentos básicos, como farinha, aveia, açúcar e manteiga, adquiridos com desconto devido ao volume, e revender esses produtos no mercado a preços mais justos. A regra do jogo era simples: todos teriam direito a voto nas principais decisões e o lucro do negócio seria integralmente dividido entre os membros. Nascia aí a Rochdale Equitable Pioneers Society, a primeira cooperativa de que se tem notícia no mundo. A iniciativa dos ingleses foi um sucesso. O modelo logo se espalhou por outros países até que, em 1895, foi fundada em Londres a Aliança Cooperativa Internacional, associação que reunia inicialmente representantes de cooperativas da Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Itália, Suíça, Sérvia, Estados Unidos, Argentina, Austrália e Índia. O movimento só chegaria ao Brasil tempos depois, pelas mãos do padre suíço Theodor Amstad, fundador da cooperativa Caixa Rural de Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, em 1902, e responsável pela criação das primeiras diretrizes para o desenvolvimento do cooperativismo no País, no ano seguinte. Apesar dos altos e baixos ao longo do tempo, o modelo cooperativista implementado por Amstad foi se consolidando no Brasil, especialmente entre os pequenos produtores da região Sul, até se tornar uma potência do agronegócio nacional. Somente a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) congrega hoje 1.550 cooperativas agropecuárias, que

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Márcio Freitas, presidente da OCB: crescimento de mais de dois dígitos por ano

abrigam mais de 1 milhão de produtores rurais em todo o País e geram quase 190 mil empregos diretos. Para se ter uma ideia da força do setor, as cooperativas brasileiras já são responsáveis por 74% do trigo, 57% da soja, 48% do café e 43% do milho colhidos no Brasil. Atualmente, nada menos do que 48% de tudo o que é produzido no País passa por uma cooperativa. E a boa notícia é que ainda existe um potencial gigantesco de crescimento. “Nos últimos cinco anos, as cooperativas agrícolas brasileiras vêm obtendo incremento anual em suas receitas acima dos dois dígitos percentuais. Em 2017, elas faturaram cerca de R$ 200 bilhões – quase metade desse valor originado pelas cooperativas localizadas na região Sul”, afirma Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB. “Por conta da forte migração europeia na região, que já convivia com a cultura e o espírito do cooperativismo em seus países de origem, a disseminação e a estruturação das cooperativas se deram de forma mais rápida. Podemos dizer que o cooperativismo já é uma realidade no Sul, tanto que a região reúne diversos casos de sucesso, nos quais se espelham cooperativas de todo o Brasil, que buscam aprimorar seus processos de gestão, governança, desenvolvimento profissional e, ainda, suas rotinas contábeis e operacionais.” Não por acaso, dez das 12 maiores cooperativas do Brasil estão localizadas na região Sul. A maior delas, a paranaense Coamo, de Campo Mourão, conta hoje com mais de 27 mil associados e fechou o ano de 2017 com um faturamento próximo de R$ 10,5

bilhões – receita de dar inveja a muita multinacional. Já os dividendos fariam a alegria de qualquer investidor. Em fevereiro, a Coamo anunciou a distribuição de R$ 222,6 milhões em lucros aos seus cooperados. Aurora, C.Vale, Lar, Cocamar e Castrolanda são outros exemplos de cooperativas com receitas bilionárias que geram renda para pequenos e médios produtores e ajudam a desenvolver o interior do País. A mineira Cooxupé e a goiana Comigo são as únicas “intrusas” na lista das maiores do Brasil. Engana-se, porém, quem pensa que o negócio dessas cooperativas é apenas o recebimento e a comercialização de commodities. NO RADAR DOS GIGANTES Atualmente, os negócios estão cada vez mais diversificados. Os maiores grupos atuam hoje em todas as etapas da produção, desde a compra de fertilizantes, sementes e defensivos, passando pelo treinamento dos agricultores, financiamento da produção, armazenagem, industrialização, até a venda de produtos de maior valor agregado ao consumidor final. Um modelo que tem se mostrado extremamente vantajoso tanto para pequenos quanto para grandes produtores. “As cooperativas agropecuárias criam a possibilidade de os pequenos produtores rurais acessarem itens essenciais ao processo produtivo, como insumos e crédito, a um custo mais baixo. Dessa forma, os pequenos colaboram para o aumento no volume de matéria-prima da PLANT PROJECT Nº10

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O D E S A F I O DA G E S TÃO

Quais os principais entraves na administração das cooperativas brasileiras

55%

não têm planejamento estratégico formalizado

67%

não possuem estratégia de crescimento para os próximos cinco anos

45%

não obtiveram rentabilidade superior a 5% nos últimos três anos

54%

não elaboram fluxo de caixa com visão mensal, semestral ou anual

55%

não utilizam hedging como ferramenta para evitar riscos com oscilações dos preços das commodities ou do dólar

52%

não fazem controle do giro de estoques de insumos agrícolas

77%

não têm programa de sucessão para cargos estratégicos Fonte: MPrado Consultoria

cooperativa, enquanto os grandes contribuem para a viabilidade do negócio, já que sua produção abre as portas para os mercados e instituições financeiras, por exemplo. Essa mecânica resulta em maior renda e melhor qualidade de vida para os cooperados, colaboradores e familiares, beneficiando também a comunidade onde estão inseridos”, afirma o presidente da OCB. Mesmo diante dos evidentes benefícios econômicos e sociais proporcionados, a atividade ainda é pouco valorizada pela sociedade. Segundo a OCB, menos de 40% da população brasileira conhece e reconhece o movimento. E é justamente a falta de informação que freia o crescimento do cooperativismo no País, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. As cooperativas podem até não ser conhecidas pela população, mas já estão no radar das grandes empresas há muito tempo. A alemã Bayer, por exemplo, uma das 26

líderes globais no segmento de defensivos, criou há cerca de três anos um departamento exclusivo para o atendimento a esse público – nada mais justo, uma vez que a companhia fornece seus produtos para cerca de 110 cooperativas brasileiras. São mais de 400 mil cooperados, das mais variadas culturas, de norte a sul do Brasil. “A dinâmica das cooperativas é muito diferente da do distribuidor tradicional, as revendas. Nós percebemos que era preciso atuar de forma diferente”, afirma Cecília Melo, gerente de Estratégia de Cooperativas da Bayer, destacando que mais do que a simples venda de produtos, a parceria tem como objetivo levar conhecimento aos cooperados, fomentar a sustentabilidade em campo, a certificação da produção e a capacitação dos agrônomos. “Existem cooperativas maiores até do que a Bayer, com um grau de profissionalismo muito grande. A ideia é ajudá-las a se desenvolver ainda mais.” A multinacional não divulga os números da sua operação, mas admite que as cooperativas têm uma participação relevante nos resultados da companhia no Brasil. De acordo com a executiva, um dos principais pilares estratégicos dessas parcerias é a gestão, hoje um dos principais gargalos das cooperativas. “Nosso objetivo é tentar ajudar a melhorar os processos nos departamentos financeiro, de recursos humanos, marketing, logística e armazenagem. Nos últimos anos, promovemos


Reportagem de Capa

Ag

mais de 50 ações relacionadas a essas áreas.” Outro foco de atuação importante é a liderança feminina. Uma pesquisa recente divulgada pela Associação Brasileira de Marketing Rural & Agronegócio (ABMR&A) aponta que 30% das fazendas brasileiras já são geridas por mulheres. A tendência é que esse número siga crescendo nos próximos anos – e nas cooperativas não será diferente. “Hoje vivemos o desafio da sucessão, mas também é preciso olhar para a maior presença feminina no negócio, que no geral é quem acaba administrando a fazenda. Somente neste ano, nossos eventos já impactaram mais de 3 mil cooperadas”, afirma Cecília. NOVOS NEGÓCIOS, NOVOS DESAFIOS Nos últimos anos, as cooperativas passaram a diversificar seus negócios e agregar valor à sua produção através da industrialização e da criação de marcas próprias. Atualmente, boa parte do faturamento do setor é proveniente da venda de produtos no varejo, um negócio infinitamente mais rentável do que a venda pura e simples de commodities. Esse movimento teve início nos anos 1920, quando a Sociedade Cooperativa Hollandeza de Lacticínios, do Paraná, criou a marca Batavo e lançou seus primeiros produtos no mercado. Nos anos 1980, a empresa já era uma potência e seus produtos podiam ser encontrados em todo o País. “A Batavo foi o primeiro case de branding dentro de uma cooperativa e até mesmo em todo o agro no Brasil. A prova do sucesso é que a marca está no mercado até hoje”, afirma Simone Rodrigues, sócia da agência Make, que atende grandes empresas do agronegócio, como Syngenta, Zoetis e Phibro. Segundo ela, essa é uma prática comum no exterior, mas que só passou a ser adotada pelas cooperativas brasileiras a partir dos anos 2000. A publicitária cita os exemplos da Lar, Coamo e Cocamar, que hoje também estão presentes com inúmeros itens de marcas próprias em supermercados de todo o País. “Esses alimentos possuem uma imagem de produtos caseiros, algo como ‘feitos por nós, para nós’. Isso transmite uma PLANT PROJECT Nº10

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imagem de qualidade, de carinho, que é o que as cooperativas começaram a trabalhar”, explica a especialista, lembrando que a diversificação também tem contribuído para tornar as marcas das cooperativas mais valiosas. “Elas têm um ativo muito grande, que são as marcas. Isso ajuda até no momento de um financiamento. Atualmente, essas cooperativas se posicionam como indústrias de alimentos. Isso é muito inovador.” FOCO NA GESTÃO Mas nem tudo são flores no meio cooperativista. Apesar do excelente momento vivido pelo setor, o cenário poderia ser ainda melhor caso a gestão desse negócio bilionário fosse mais eficiente. Essa, ao menos, é a opinião do consultor Marcelo Prado. Segundo ele, a maioria das cooperativas brasileiras não tem fluxo de caixa, controle sobre o orçamento nem uma metodologia de avaliação de desempenho. Os números, de fato, são impressionantes. Um estudo recente realizado pela consultoria M.Prado aponta que 55% das cooperativas não têm planejamento estratégico formalizado, 52% delas não fazem controle do giro de estoques de insumos agrícolas e 55% não utilizam hedging como ferramenta para evitar riscos com oscilações dos preços das commodities ou do dólar. Como consequência, 45% das cooperativas analisadas não obtiveram rentabilidade superior a 5% nos últimos três anos. “Eles sempre foram muito focados na melhoria da produção, mas a maior dificuldade dos cooperados hoje é de gestão. Essa ineficiência impacta diretamente na rentabilidade do negócio”, explica. “O mundo mudou, o mercado mudou, e muitas cooperativas não enxergaram isso ainda. Hoje o produtor precisa ser um empresário rural, um 28

empresário como outro qualquer”, segue o executivo, ressaltando que esse problema poderia ser facilmente resolvido com a contratação de administradores e economistas que pudessem ajudar os cooperados a desenvolver melhor essa área ou até mesmo através da capacitação dos agrônomos para fazer essa orientação. De acordo com o consultor, a gestão das próprias cooperativas também poderia ser melhorada. Prado explica que hoje elas correm riscos desnecessários – e isso acontece porque o cooperado se sente dono da cooperativa. “Os limites de crédito precisam ser concedidos de forma impessoal e profissional, baseado no histórico do produtor, do seu patrimônio, do seu nível de consumo e pontualidade no pagamento. É preciso ter regras claras, que não possam ser mudadas por diretores nem pelo presidente.” Outro problema apontado pelo consultor é o subsídio. Muitas vezes, para ajudar o cooperado em um momento de turbulência, as cooperativas acabam pagando valores acima do mercado aos seus associados. “Se fizer isso uma vez ou outra para regularizar a oferta, é válido. Mas fazer isso sempre e criar uma cultura do subsídio é ruim tanto para a cooperativa quanto para o cooperado, já que isso faz com que ele perca, pouco a pouco, a sua competitividade. Esse mecanismo só pode ser usado em casos extremos.” Estudioso do setor, Marcelo Prado é categórico em afirmar que essa relação paternalista pode não acabar bem. “Os dois principais problemas que levam à quebra de uma cooperativa são justamente a má gestão e a cultura de subsídios”, conclui o consultor, que defende a profissionalização das diretorias e a contratação de conselheiros externos independentes, “com visão de mercado, de mundo e


Reportagem de Capa

Ag

Sede da Cooxupé, e unidades da Castrolanda e da Aurora: investimento em marcas próprias para gerar valor agregado

COOPERATIVISMO NO BRASIL RAMOS DE ATIVIDADE

COOPERATIVAS

ASSOCIADOS

EMPREGADOS

1.555

1.016.606

188.777

Agropecuário

ATUAÇÃO EM TODOS OS ELOS DA CADEIA PRODUTIVA Pesquisa e Desenvolvimento Insumos Originação Armazenagem

Agroindus- Comercia- trialização lização

Transferência e difusão de tecnologias

PARTICIPAÇÃO DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS trigo

soja

café

leite

milho

74%

57%

48%

39%

43%

arroz feijão 35%

18%

48% 48%

12 MAIORES COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Coamo (S) Aurora (C) C.Vale (S) Lar (S) Cooxupé (S) Cocamar (S) Copacol (S) Comigo (S) Agrária (S) Integrada (S) Castrolanda (S) Cooperalfa (S)

PR SC PR PR MG PR PR GO PR PR PR SC

FUNCIO COOPE ATIVIDADES FATURA EXPOR NÁRIOS RADOS PRINCIPAIS MENTO TAÇÃO

6.727 26.485 6.404 7.301 1.967 2.436 8.350 2.319 1.098 1.518 1.324 2.836

27.398 75.000 15.562 9.597 11.961 11.983 5.184 6.417 601 7.500 837 16.985

Grãos Suínos Aves Aves Café Grãos Aves Grãos Grãos Grãos Leite Grãos

10.525 7.584 5.690 4.150 4.121 3.261 2.937 2.738 2.490 2.418 2.282 2.190

1.045 476 232 240 709 106 283 50 107 93 34 60

PLANT PROJECT Nº10

Fonte: OCB

SIGLA UF

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Ag

Reportagem de Capa

Terminal da Coamo no Porto de Paranaguá: a maior cooperativa do Brasil é grande exportadora de grãos

do agronegócio como um todo.” Uma proposta justa para um segmento da economia que fatura R$ 200 milhões por ano. Um dos principais nomes do cooperativismo no Brasil, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues é outro que defende uma maior profissionalização do setor. Há mais de 40 anos acompanhando de perto a atividade, relembra casos de organizações poderosas que sucumbiram diante da má administração. Ele cita o exemplo da cooperativa de Cotia. Fundada por agricultores japoneses em 1927, ela se tornou uma das maiores do País, com mais de 15 mil associados e faturamento superior a US$ 700 milhões, mas acabou declarando falência nos anos 1980. “Ela era tão importante que o ministro da Fazenda ligava para o presidente da cooperativa dizendo que estava faltando tomate no Rio de Janeiro e isso estava impactando na inflação. No dia seguinte, ele mandava cinco caminhões de 30

tomate e resolvia o problema”, conta. “Mas ela acabou perdendo o rumo. A cabeça cresceu muito e o corpo não acompanhou. Eles quebraram pelo excesso de gente tomando conta da administração. Foi um problema puramente de gestão. O mesmo aconteceu com a Sul Brasil, a Central de Campinas e outras dezenas de grandes cooperativas no País.” O hoje embaixador da Organização das Nações Unidas para as cooperativas, no entanto, defende a participação ativa dos cooperados na administração dos negócios. Segundo ele, existe uma sintonia entre a democracia e o cooperativismo, já que, por essência, todo mundo participa do processo e a gestão é coletiva. “O cooperativismo é um aliado formidável para organizar a sociedade economicamente. É uma terceira via, entre o capitalismo e o socialismo, pois abrange as ideias do coletivo, mas tem foco nos resultados, no lucro. Desde a sua criação, em Rochdal.”


O SR. COO PERA TIVIS MO

Poucas pessoas no mundo se dedicaram tanto à missão de difundir o modelo cooperativista e suas vantagens quanto o ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues. Figura respeitada por grandes e pequenos produtores, acadêmicos, empresários, políticos e autoridades em geral, dr. Roberto é hoje uma referência no agronegócio nacional. Aos 75 anos, segue com uma rotina agitada, dividindo o seu tempo entre o Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas e os 29 Conselhos de Administração de que faz parte. Mesmo com a agenda cheia, ainda encontra tempo para se dedicar à sua grande paixão: as cooperativas. A relação de Roberto Rodrigues com o cooperativismo vem de longa data. O primeiro contato, relembra, se deu ainda nos tempos da Esalq, onde existia uma cooperativa que vendia apostilas e materiais escolares a preços mais baratos. “Foi quando o vírus do cooperativismo me pegou”, conta o

ex-ministro. A sua atuação no setor, porém, teve início apenas em 1971, após um convite para integrar a diretoria da Coplana, cooperativa de produtores de cana-de-açúcar fundada por seu pai em Guariba, no interior de São Paulo, em 1963. Dois anos depois, aos 29 anos de idade, já era presidente. Sob sua administração, a Coplana cresceu e diversificou os negócios. O mais bem-sucedido deles, uma cooperativa de crédito, logo chamou a atenção do Banco Central e de membros do governo paulista, que propuseram a ele replicar o projeto em outras regiões. “Em três anos, eu fundei 16 cooperativas de crédito no estado de São Paulo, em Bebedouro, Campinas, Orlândia, Marília, além de uma central para ordenar os processos.” Em seguida, a convite da OCB, passou a difundir o modelo paulista por todo o País. “Aí eu saí pelo Brasil fundando uma cooperativa de crédito em cada estado.” O sucesso na empreitada alçou Roberto Rodrigues à presidência da OCB. Em 1985, em meio às discussões da Constituinte, o desafio da vez era fazer valer os interesses das cooperativas na nova Constituição brasileira. Ao assumir o cargo, produziu uma cartilha que explicava aos cooperados o que era a Constituinte e perguntava o que eles gostariam de ver nessa nova Constituição. O “referendo” foi transformado em cinco propostas e em seguida enviado para todos os partidos políticos. “Eu escrevi uma carta para eles condicionando o apoio das cooperativas ao compromisso com as nossas propostas. No final, nós elegemos 47 deputados federais e um senador. Assim foi criada a Frente Parlamentar do Cooperativismo”, diz. Dos cinco artigos propostos,

quatro foram aprovados e entraram na nova Constituição: a autogestão das cooperativas (antes era necessário pedir autorização de funcionamento ao Incra), o compromisso do Estado no fomento ao cooperativismo, a isenção de tributação e o enquadramento das cooperativas de crédito como parte do sistema financeiro, com os mesmos direitos e deveres dos bancos. “A única que não entrou era relacionada à educação. A nossa proposta era que o cooperativismo fizesse parte da grade das escolas fundamentais de todo o País”, afirma Rodrigues, que ainda assim considerou o resultado uma vitória. “Isso levou o cooperativismo brasileiro a uma nova dimensão.” O trabalho do então presidente da OCB chamou a atenção de diversos países interessados em mudar as leis sobre cooperativismo. Foi quando dr. Roberto passou a difundir as suas ideias internacionalmente. Em 1989, conseguiu a aprovação do Brasil como membro da Aliança Cooperativa Internacional. Dois anos depois, foi indicado como presidente do segmento agrícola da organização internacional e, em 1997, acabou eleito presidente da OCI — o primeiro não europeu a tomar posse do cargo. De lá, só saiu para assumir o Ministério da Agricultura no primeiro mandato do ex-presidente Lula (2003 a 2006). Em 2007, após deixar o governo, foi nomeado pelo diretor-geral da FAO, José Graziano, embaixador da Organização das Nações Unidas para as cooperativas, cargo que desempenha até hoje. “É um trabalho voluntário, mas que me permite viajar o mundo difundindo os conceitos do cooperativismo.” Nada mais natural se tratando de Roberto Rodrigues. PLANT PROJECT Nº10

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Frans Borg, presidente da Castrolanda “A Cooperativa Castrolanda foi fundada por imigrantes holandeses no ano de 1951 e, há mais de 65 anos, busca se adaptar aos movimentos de mercado. No início, suas atividades se concentravam principalmente na pecuária leiteira. Os primeiros imigrantes trouxeram gado e equipamentos agrícolas, e assim recomeçaram a vida no novo País. O nosso papel enquanto cooperativa é organizar os produtores, fomentar a produção, coordenar a cadeia e buscar, através da indústria, agregar valor à produção. Em especial para os produtores de pequeno porte, seja na agricultura, seja na pecuária, a cooperativa é importante por lhes dar segurança no escoamento de sua produção. Além disso, o mais importante é que as cooperativas oferecem assistência técnica de qualidade e capacitam os produtores para que as suas propriedades atuem de forma cada vez mais profissional e competitiva. A Castrolanda tem hoje mais de 950 cooperados e um faturamento de R$ 2,9 bilhões. A cooperativa está presente também no estado de São Paulo, com unidades em Itapetininga, Itaberá e Angatuba e exporta produtos da marca Alegra para mais de 24 países. Nosso foco agora é colocar em prática as estratégias de mercado que traçamos para os produtos que industrializamos, visando aumentar nossos pontos de vendas e sermos reconhecidos pelos consumidores.” 32

Antonio Chavaglia, presidente da Comigo “Cooperativa só nasce por necessidade. E existia uma necessidade muito grande na região de Rio Verde naquela época. Não tinha armazém, não tinha agrônomo, não tinha veterinário. Os produtores sentiram que estavam desamparados e viram que a solução poderia ser resolvida através da criação de uma cooperativa, o que aconteceu em julho de 1975. Cerca de 50 produtores iniciaram o projeto – eu fui um dos sócios-fundadores. Iniciamos vendendo sacaria para arroz, óleo, e insumos em geral, mas já com o objetivo de construir o primeiro armazém, que ficou pronto em 1978. Depois, partimos para o beneficiamento do arroz, fizemos um armazém para milho e a coisa se estruturou. O projeto foi de extrema importância para a abertura do Cerrado. A partir de 1980, também começamos a receber soja e três anos depois inauguramos a primeira indústria esmagadora do Centro-Oeste. Começamos com 600 toneladas por dia e hoje estamos em 5,5 mil toneladas/dia. O volume de recebimento não para de crescer. Entre soja e milho, nós recebemos mais de 40 milhões de sacas no ano passado. Atualmente são mais de 7 mil associados em 14 municípios, atendidos por cerca de 80 agrônomos e veterinários. Agora estamos construindo duas novas fábricas, uma de ração e outra de sal mineral. No ano passado, o nosso faturamento chegou a R$ 3,2 bilhões. Em 2018, devemos alcançar algo em torno de R$ 3,7 bilhões.”


Reportagem de Capa

Ag

Carlos Paulino, presidente da Cooxupé “A Cooxupé foi fundada em 1932, inicialmente como cooperativa de crédito, mas se transformou em cooperativa de café em 1957. Começou com a armazenagem e comercialização do café produzido na região. O objetivo inicial era criar escala para ter um poder de barganha maior, mas com o tempo partimos para o mercado externo. A exportação começou na década de 1970 e hoje representa 80% do faturamento de R$ 3,7 bilhões registrado pela Cooxupé em 2017. No ano passado, foram exportados mais de 4 milhões de sacas para 48 países como Estados Unidos, China, França, Holanda, Itália, Noruega, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Hoje contamos com mais de 14 mil cooperados, 94% deles pequenos, produzindo em áreas com até 50 hectares. A sede da cooperativa segue instalada em Guaxupé, mas a sua área de atuação abrange 213 municípios do Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Alta Mogiana, em São Paulo, onde estão localizadas 41 unidades de recebimento. Atualmente, movimentamos algo em torno de 5 milhões de sacos de 60 quilos por ano, mas até o final do ano vamos inaugurar uma nova unidade de processamento, que deve aumentar a nossa capacidade em até 20 mil sacos por dia. Não podemos parar de crescer. O nosso objetivo é consolidar cada vez mais a Cooxupé como referência na cafeicultura brasileira e no mercado internacional.”

Alfredo Lang, presidente da C.Vale “A Cooperativa Agrícola Mista Palotina foi criada em 1963 para atender às necessidades de armazenagem e comercialização de cereais dos primeiros produtores rurais de Palotina. Eles não tinham onde armazenar e frequentemente levavam calotes de compradores desonestos. Nos anos 1970, com a ampliação da área de atuação, o nome foi mudado para Cooperativa Agrícola Mista Vale do Piquiri. Nas décadas de 1980 e 1990, a cooperativa expandiu-se para o Mato Grosso e Santa Catarina e, atualmente, possui unidades também no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e no Paraguai. Com o início da agroindustrialização, em 1997, a cooperativa alterou o seu nome novamente para C.Vale. A cooperativa gera renda aos seus associados através da produção de leite, frangos, suínos, mandioca e peixes. Também é a fonte de acesso a assistência técnica, repasse de crédito rural e segurança na comercialização. Hoje temos mais de 20 mil associados e um faturamento de R$ 6,9 bilhões. A cooperativa tem uma diretoria executiva com três integrantes, um Conselho de Administração com seis membros e um Conselho Fiscal também com seis membros, mas as decisões estratégicas mais importantes são aprovadas em assembleia anual. Nossa meta atual é ampliar a produção de aves de 530 para 600 mil frangos/dia e elevar o abate de peixes dos atuais 50 mil para 75 mil unidades/dia até o fim de 2018.” PLANT PROJECT Nº10

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Cooperativas agrícolas: a parceria estratégica do agronegócio brasileiro Ana Malvestio* A força do agronegócio brasileiro e a prosperidade desse setor é comprovada, ano a ano, pelos grandes números e resultados muito positivos. A agropecuária cresceu 13% em 2017, enquanto o Brasil avançou apenas 1%, o setor respondeu por aproximadamente 20% do PIB brasileiro, por 45% do saldo da balança comercial, por 20% dos empregos e tudo isso foi conquistado mantendo 65% do território brasileiro preservado com vegetação nativa (IBGE, Mapa, Cepea, CNA e Nasa). Esses números, que brilham os olhos, são conquistados graças ao trabalho árduo dos produtores rurais que vivenciam dificuldades diárias muito desafiadoras no campo. Um exemplo dessa difícil realidade foi mensurado pela Aprosoja, que constatou que 55% dos produtores possuem rentabilidade zero. Isso acontece porque parte importante do agronegócio, composta por famílias, pequenos e médios agricultores, consegue atingir uma produtividade média que apenas cobre os seus custos de produção. Não é fácil administrar os inúmeros riscos da produção agrícola e, ao mesmo tempo, ser eficiente na gestão financeira. Nesse cenário complexo, as cooperativas agropecuárias vêm ganhando cada vez mais importância dentro do agronegócio brasileiro, por ajudarem o produtor na superação dos desafios de cada dia. Para se ter uma noção do avanço do cooperativismo no campo, basta olhar o crescimento anual das cooperativas, que chega a dígitos duplos. A receita das cooperativas agropecuárias atingiu R$ 200 bilhões em 2017, um incremento de 25% em apenas dois anos, durante um período no qual o Brasil registrava uma forte crise econômica. Essa receita representou em torno de 14% do PIB de todo o agronegócio brasileiro no ano passado. Além disso, metade de tudo o que é produzido no campo brasileiro passa por alguma cooperativa (OCB). As cooperativas são reconhecidas, principalmente, por buscar continuadamente prover insumos ao menor custo e remunerar bem o produtor. No entanto, o papel 34

das cooperativas tem ido além. Um estudo global realizado pela PwC, baseado em entrevistas com as maiores cooperativas agropecuárias do mundo, mostrou que o setor de cooperativas entende que também é sua responsabilidade apoiar os produtores com relação às tecnologias digitais.

Na visão de 100% das cooperativas entrevistadas, a tecnologia digital é um fator-chave para os negócios e incorporá-las, transformando a maneira de produzir, comercializar e fazer negócios é uma questão de sobrevivência no mercado. Ações como aquisições de startups e parcerias para o desenvolvimento colaborativo de soluções de tecnologia já são realidade para grande parte das cooperativas agrícolas. Outro ponto levantado pelo estudo é a preocupação das cooperativas em incorporar as tecnologias digitais nos seus próprios processos internos, com relação, por exemplo, a gestão de compra de insumos, comunicação, comercialização e transporte de produtos, com o objetivo de prover maior competitividade para os produtores associados. As cooperativas têm se destacado por reconhecerem as tendências e transformações do agronegócio e por inserirem também o pequeno produtor em uma economia cada vez mais globalizada e competitiva. Essas cooperativas, com gestão profissionalizada, adoção de boas práticas de governança corporativa e visão de futuro, definem o verdadeiro parceiro estratégico que tanto produtores como o agronegócio brasileiro precisam. * Ana Malvestio é sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness


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AGRO ´ NEGOCIO

TECNOLOGIA, INOVAÇÃO E ACONCHEGO Campinas se destaca no turismo de negócios, mas não deixa a desejar quando o assunto é lazer, gastronomia e cultura

São apenas 100 quilômetros de distância da maior cidade do Brasil. Ainda assim, Campinas nunca se resignou a ser um adendo à grande metrópole. Com uma população de 1,2 milhão de habitantes, o terceiro maior município de São Paulo é o grande entroncamento do agronegócio nacional com o empreendedorismo, o conhecimento, a indústria e a tecnologia. Também conhecida como Vale do Silício brasileiro, cercada de ótimas universidades e sede de algumas das mais inovadoras empresas do País, a região se especializou no turismo de negócios e eventos e é, hoje, a quinta cidade brasileira que mais recebe eventos e congressos internacionais. Campinas possui um parque hoteleiro amplo e preparado para sediar eventos, além de uma rede de restaurantes e a logística privilegiada com o Aeroporto Internacional de Viracopos. Além de 18 instituições de pesquisa e ensino superior, com destaque a Unicamp, Ciatec (Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia de Campinas), o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações) e PUCCamp. Em complemento a este perfil tecnológico está o potencial rural e interiorano da cidade, que conta com quatro distritos, sendo dois deles com forte vocação para o turismo: Sousas e Joaquim Egídio. Os distritos preservam antigas fazendas de café e açúcar, algumas com mais de um século de existência, e oferecem diversas opções gastronômicas e de ecoturismo.

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CAIPIRA E COSMOPOLITA

Clima de roça A 10 km do Centro, Sousas é o mais antigo distrito de Campinas, com mais de 122 anos. As ruas de paralelepípedos e casarios históricos abrigam um circuito gastronômico amplo e diversificado. O clima de roça pode ser sentido pelo visitante logo na entrada com restaurantes que destacam esse clima rural. Um deles é o Feijão com Tranqueira, especializado em culinária mineira, que serve mais de mil refeições por final de semana e oferece 350 lugares. A decoração leva o visitante totalmente para o clima da fazenda com berrantes, violas e arreios de montaria enfeitando as paredes de acabamento rústico. O prato mais famoso da casa, o Feijão com Tranqueira (R$ 29,90), é servido em cumbucas recheadas com muito torresmo, bisteca, mandioca, ovo frito, paio e linguiça calabresa. O ambiente externo oferece ao visitante redes para a siesta e uma extensa área verde com coelhos, carneiros e diversos pássaros, que garantem a diversão das crianças. Estrada das Cabras (SP-081 Km 11) Joaquim Egídio Telefone: (19) 3298-6682/3298-6266 Horário: sexta a domingo e também feriados, das 11h30 às 16h30. www.feijaocomtranqueira.com.br

Culinária internacional Para quem prefere opções mais sofisticadas, Sousas oferece também o restaurante italiano Ca’Di Mattone e o francês Le Troquet, que oferecem opções de almoço, jantar e eventos. Conhecido por oferecer a autêntica cucina italiana, o Ca’Di Mattone oferece antepastos como o di zucchini, melanzana e sardela, tudo preparado de acordo com a tradição italiana. As massas artesanais feitas no próprio restaurante também se destacam por terem recheios como o de brie e pistache. Já o Le Troquet traz um ambiente que mistura o mediterrâneo com lembranças da França e um ambiente todo pensado para acompanhar a delicadeza dos drinques e petiscos oferecidos. Os pratos tradicionais da culinária francesa, como o Filet aux Poivres (R$ 83,00) e os conhecidos profiteroles (R$ 34,00) ganham aqui um toque especial dos temperos brasileiros. Ca’ Di Mattone Rua Maneco Rosa, 53, Sousas Telefone: (19) 3258-9010 Horário: terça a sábado, das 19h às 23h; sexta a domingo, das 12h às 16h. www.cadimattone.com.br/cucinaitaliana


Le Troquet Rua Rei Salomão, 161, Sousas – Campinas Telefone: (19) 3794–1993 Almoço: segunda a sexta, das 12h às 14h30; domingo, das 12h às 16h00. Jantar: segunda a quinta, das 18h às 23h; sexta e sábado, das 18h às 24h. www.letroquet.com.br

2297 – Barão Geraldo Telefone: (19) 3201–1174 Horário: segunda a sexta, das 11h às 15h e das 18h às 24h; sábados domingos, das 18h às 24h. www.battataria.com.br

Sabor medieval

Evento com conforto

Uma experiência de imersão na Idade Média com direito a recepção feita por legítimas miladys, que encaminham os clientes até os milordes e ao taverneiro. A partir daí você vai se sentir nos séculos 10 e 11, com direito a decoração e gastronomia típica, que tornam a visita à Milord Taverna uma verdadeira viagem no tempo. O prédio, um antigo casarão de pedras, situado em uma rua estreita e iluminado com velas, escudos, bandeiras e cabeças de animais empalhadas são os primeiros sinais de que não se trata de um lugar comum. O cardápio está recheado de pratos marcantes como a costela bovina e a coxa de peru. Por toda parte, salames, ramas de cebola e alho, garrafões e ervas dão um toque realista à taverna.

Com 4.500 m², o salão monumental é apontado como o maior ballroom do Brasil e tem capacidade para receber 5 mil pessoas em auditório e 9 mil em um show. O espaço integra o Royal Palm Hall, que entrou em operação em junho passado e exigiu um investimento de R$ 250 milhões do grupo Royal Palm Hotels e Resort. O Centro de Convenções tem 44 mil metros quadrados e foi construído para atender à forte demanda de turismo de negócios e eventos da região. São 51 espaços de eventos, totalizando 13.500 m² de salas, foyers, camarins, cozinha equipada e até heliponto. A rede conta ainda com outras cinco unidades já em funcionamento, como o sofisticado Royal Palm Plaza Resort.

PALCO DO SUCESSO

Rua Sacramento, 367, Vila Itapura Telefone: (19) 3308-2014 Horário: terça a domingo, das 11h às 15h e das 18h às 23h30 (sextas e sábados até 2h) Facebook: @milordtaverna

Jazz com batatas Famosa por suas opções em batata rosti, a Battataria Suíça está há 15 anos em Campinas e conta, hoje, com três unidades. A mais antiga delas, localizada no distrito de Barão Geraldo, oferece um cardápio variado que inclui também sabores vegetarianos e veganos. Em 2018 a rede incluiu no cardápio a coxinha rosti, a pizza rosti e a brusqueta rosti, tudo com massa feita da tradicional batata ralada. Outra novidade da rede é a programação de jazz, toda sexta na unidade de Barão Geraldo, sábado na unidade Cambuí e sexta e sábado na unidade do Shopping Dom Pedro. Unidade Barão Geraldo Avenida Albino José Barbosa de Oliveira,

Royal Palm Hall Avenida Royal Palm Plaza, 227 Jardim Nova Califórnia Telefone: (19) 2117-8000 www.royalpalm.com.br

ROTAS ESPECIAIS

Observar estrelas Para quem busca conexão com a natureza, o Observatório Municipal Jean Nicolini é uma opção encantadora. Inaugurado em 1977 como Estação Astronômica de Campinas, foi o primeiro observatório municipal do Brasil. Com equipamentos de alta precisão, do observatório é possível visualizar estrelas, planetas e constelações. É recomendado acompanhar as postagens que a administração faz na página oficial no Facebook, pois sempre é possível saber qual planeta ou estrela deve-se observar e, claro, verificar se o céu está limpo. O caminho até lá é de encher os olhos,

pois a paisagem da Serra das Cabras é deslumbrante. Estrada do Capricórnio – Serra das Cabras – Distrito de Joaquim Egídio Telefone: (19) 3298–6566 E-mail: observatorio.municipal@campinas. sp.gov.br Horários: domingo das 17h às 21h para o público em geral; terça a sexta-feira mediante agendamento para atendimento a grupos. Facebook: @ObservatorioMunicipal DeCampinasJeanNicolini

História e inovação A Usina Monte Alegre, em Piracicaba, a 80 km de Campinas, é hoje um centro de inteligência para o agronegócio e reúne diversas empresas do setor. No entanto, o local histórico construído onde já funcionou uma usina sucroalcooleira que contribuiu muito para o desenvolvimento da região revela também um roteiro que reúne inovação, tecnologia e tradição. A usina parou de funcionar ainda na década de 80 e o espaço foi totalmente revitalizado. Hoje, além das áreas de negócios, possui bons restaurantes e hospeda eventos que movimentam o casario histórico do bairro de Monte Alegre e a bela capela de São Pedro, ornamentada com obras de Alfredo Volpi. Via Comendador Pedro Morganti, 4965 Monte Alegre – Piracicaba/SP Telefone: (19)3422–0192 www.usinadeinovacao.com

A AZUL LEVA VOCÊ Principal hub da Azul, Viracopos, em Campinas, conecta a região mais rica do interior brasileiro a todas as regiões do Brasil com voos da companhia. A empresa também oferece voos diretos, a partir de lá, para Estados Unidos e Europa.

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foto: Antonio AraĂşjo/Mapa


Estratégia

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BLAIRO DEIXA SUA MARCA Como, com novos números sobre a preservação ambiental e um selo para valorizar os produtos brasileiros, o ministro pretende mudar a percepção do agronegócio nacional junto aos consumidores de todo o mundo Por Luiz Fernando Sá

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tenção para esse número: R$ 3,1 trilhões. Isso mesmo, trilhões. Uma cifra equivalente a quase metade do PIB brasileiro em 2017, calculado pelo IBGE em R$ 6,6 trilhões. Esse dado astronômico é a conta mais precisa do empenho feito por produtores rurais brasileiros na preservação ambiental. Anunciado pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante a mais recente edição do Global Agribusiness Forum (GAF-18), ele representa o valor patrimonial dos 218 milhões de hectares (o equivalente a 25% de todo o território nacional) reservados à manutenção da vegetação nativa, em suas propriedades, por agricultores e pecuaristas. Está bem longe de ser uma mera estimativa. Maggi tornou público um detalhado estudo feito pela Embrapa Territorial, com base em dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), confirmados com o uso de imagens de satélites, que apontam que o mundo rural brasileiro utiliza em média 50% da superfície de seus imóveis para a produção. A outra metade é destinada à proteção ambiental.

“Ninguém no Brasil preserva mais o meio ambiente e dedica mais tempo e recursos a isso do que os produtores rurais brasileiros”, afirmou Maggi para a PLANT, que obteve o estudo em primeira mão. De fato, a conta feita pela Embrapa Territorial, que não inclui os gastos com vigilância e manutenção dessas áreas (instalação de cercas, aceiros etc.), permite escrever uma nova narrativa ao papel do agronegócio brasileiro nos debates ambientais. Frequentemente acusados, dentro e fora do Brasil, de serem vilões nesse terreno, agricultores e pecuaristas têm agora mais do que palavras para contra-argumentar. A metodologia da Embrapa Territorial é incontestável (confira no artigo da página 54, outros dados levantados pela instituição) e já foi referendada inclusive por estudos feitos pela Nasa para a Organização das Nações Unidas (ONU). Além de demonstrar quanto é preservado dentro das propriedades rurais, ela aponta que o Brasil possui hoje mais de 66% de seu território ocupado por vegetação nativa, um percentual muito acima do de qualquer

O ministro Blairo Maggi e a marca Brazil Agro: uma nova direção para a comunicação dos aspectos positivos dos produtos brasileiros

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Ag

Estratégia

outra nação com tamanha atividade agropecuária.

foto: Miguel Ângelo/CNI

Odilson Ribeiro e Silva, do Mapa: estratégia para aumentar fatia do Brasil nos mercados globais do agronegócio

Anna Pimentel: primeira mulher do agro no País vai virar imagem de medalha para os amigos dos produtos nacionais no exterior 40

BOA PARA A NATUREZA Contar isso ao mundo, assim como apresentar o uso de boas práticas pelo agronegócio brasileiro, entrou na ordem do dia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Maggi também usou o palco do GAF-18 para anunciar a criação de uma marca específica para ser estampada em produtos agroindustriais brasileiros para exportação. Batizado de Agro Brazil – Good For Nature, o selo tem como objetivo ressaltar as qualidades positivas do setor, sobretudo no que se refere a questões ambientais, junto ao mercado internacional. A proposta é que a marca seja a porteira de entrada para um território de conteúdos mostrando histórias reais da produção no País associadas aos produtos em que ela aparece. O trabalho de desenvolvimento da marca foi comandado por Odilson Ribeiro e Silva, secretário de Relações Internacionais do Mapa. Ele partiu de uma constatação simples: a de que o agro brasileiro tem muitos cases positivos para relatar ao mundo, mas esse conteúdo está disperso e não segue um discurso harmônico. “Precisamos contar a todos como temos sido bemsucedidos na utilização de modelos como a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), a Pecuária Carbono Zero, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), entre outros exemplos de produção sustentável”, afirma o secretário. O

projeto propõe reunir e dar uma unidade a esse conteúdo, que seria reunido em um único local e, a partir daí, distribuído em várias frentes. Cada produto brasileiro que traga a marca será um veículo nesse sentido. Junto com o logotipo será sempre apresentado um QR Code, que encaminhará o consumidor a esse portal de conteúdo. “A marca será uma ferramenta de competitividade muito importante e vem ao encontro da necessidade do agronegócio brasileiro. Esperamos que os setores da agroindústria abracem a ideia e que, juntos, consigamos promover de forma ainda mais eficiente mais produtos brasileiros em mais mercados estratégicos”, afirma Ribeiro. O Mapa, de fato, depende das principais entidades representativas dos setores exportadores para dar visibilidade e credibilidade à marca Agro Brazil. O projeto foi construído para funcionar como uma parceria público-privada, em que cada parte tem seu papel. Proprietário da marca, o ministério, por exemplo, está encarregado de determinar os critérios mínimos, baseados em padrões internacionais, que produtores e indústrias devem seguir para obter o direito de exibi-la. POLIGLOTA A marca Agro Brazil será de uso opcional das empresas exportadoras. Tê-la em seus rótulos e embalagens, porém, requer cumprimento de uma série de exigências. “Hoje o Mapa já certifica produtores e indústrias conforme as boas práticas de


foto: Bento Viana/Senar

produção”, explica. Nessa certificação estão incluídas práticas em diferentes áreas, como o uso de insumos, obediência às legislações ambiental e trabalhista, bem-estar animal, entre outras. “Para ter um produto agrícola sadio, tem de ter um ambiente sadio”, resume o secretário. As entidades que aderirem ao projeto têm sob sua responsabilidade a indicação dos produtos que poderão usar a marca e, uma vez que eles sejam aprovados pelo Mapa, a produção dos conteúdos, seguindo os formatos estabelecidos pelo ministério. Os vídeos que serão acessados pelos consumidores que utilizarem o QR Code, por exemplo, devem ter linguagem simples e versões em quatro idiomas (Português, Inglês, Espanhol e Mandarim) e não podem trazer indicações de produtos, empresa ou produtor. O objetivo é que eles mostrem com clareza os sistemas de produção de uma determinada cadeia, ressaltando seus atributos positivos de qualidade, sustentabilidade, cumprimento da legislação e adequação aos requisitos para exportação. Fiscalizar a utilização da marca também é atribuição das entidades. Segundo Ribeiro, instituições como a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) estão entre as primeiras a adotarem a marca. AMIGOS DO BRASIL A marca Brazil Agro será um dos trunfos do governo brasileiro para atingir a meta estabelecida pelo ministério de elevar para 10% a participação dos

produtos nacionais no mercado global do agronegócio até 2022. Em 2017, quando o setor agrícola foi responsável por 44,1% das exportações brasileiras, esse índice estava em 7%. Segundo Odilson Ribeiro e Silva, uma parte desse incremento deve se dar com a diversificação de mercados e a inclusão de mais empresas exportadoras, até mesmo pequenas e médias companhias. “Estamos trabalhando a partir de um plano continuado de negociações internacionais para consolidar a imagem do País como produtor e exportador de produtos seguros, sustentáveis e de alto padrão de qualidade”, diz. Um dos esforços nesse sentido é feito junto aos países de blocos como o Bric e o Mercosul, por exemplo, para que deem preferência ao produto brasileiro certificado. Nas missões internacionais de Blairo Maggi e das equipes do Mapa os principais parceiros do agro brasileiro serão reconhecidos. O projeto Brazil Agro prevê a condecoração desses “amigos do Brasil” com uma medalha comemorativa, cunhada em ouro, prata com banho dourado ou bronze, com a efígie de Anna Pimentel, um nome pouco conhecido mas fundamental para o desenvolvimento do agronegócio no País. Mulher de Martim Afonso de Souza, mandatário da capitania de São Vicente – que ela governou quando ele foi transferido para a Índia, entre 1534 e 1544 --, Anna foi responsável pela introdução, em 1534, de uma série de culturas agrícolas no Brasil. Trouxe os primeiros bovinos, plantou as primeiras laranjeiras, arroz e trigo, além de promover a introdução do consumo de carne nas refeições das crianças. Uma história que precisa ser contada, assim como a do Brasil Agro. PLANT PROJECT Nº10

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Ag

Estratégia

AGRICULTURA LIDERA A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL Por Evaristo Eduardo de Miranda, Carlos Alberto de Carvalho, Osvaldo Tadatomo Oshiro, Rogério Resende Ferreira e Daniela Tatiane de Souza

O mundo rural brasileiro utiliza, em média, apenas a metade da superfície de seus imóveis (50,1%). A área dedicada à preservação da vegetação nativa nos imóveis rurais – registrados e mapeados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) – representa um quarto do território nacional (25,6%). O reconhecimento desse papel essencial da agricultura brasileira na preservação do meio ambiente pode ser conhecido, graças ao tratamento geocodificado dos dados do CAR, pela Embrapa Territorial. A área destinada à preservação em cada imóvel rural foi mapeada de forma precisa em escala local, municipal, microrregiões, estados e país. Sua repartição territorial é extremamente conectada e recobre todo o território nacional (veja na figura 1). O CAR é um fruto relevante do Código Florestal, a Lei 12.651, de 25 de maio de 2012. Ele é um “registro 42

público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento”. Até 31 de janeiro de 2018, 4.845.204 imóveis rurais, totalizando 436.841.622 hectares, estavam inscritos no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural, o Sicar, sob a responsabilidade do Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente. A Embrapa Territorial integrou, ao seu Sistema de Inteligência Territorial Estratégica, os dados geocodificados completos e disponíveis no Sicar. Graças a esse banco de dados geocodificados (Big Data) foi possível qualificar e quantificar as áreas destinadas à preservação da vegeta-

ção nos imóveis rurais com base em mapas (Right Data), delimitados sobre imagens de satélite com 5 megapixels de resolução espacial. Em São Paulo, os produtores mapearam seus imóveis sobre ortofotos com 1 megapixel de resolução. E não apenas em declarações de produtores transcritas em questionários, como ocorre nos Censos do IBGE. Em cada registro do CAR, além do perímetro do imóvel, o agricultor delimitou cartograficamente a localização dos remanescentes de vegetação nativa, das áreas de preservação permanente, das áreas de uso restrito, das áreas consolidadas e a localização da reserva legal. DIMENSÃO TERRITORIAL A pesquisa da Embrapa quantificou a dimensão territorial da contribuição da agricultura à preservação ambiental. Os produtores rurais brasileiros (agricultores, florestais, pecuaristas, extrativistas etc.) preservam no interior de seus imóveis rurais um total de 218 milhões de hectares, o equivalente à superfície de dez países da Europa (veja na figura 2). O registro no CAR prosseguirá até o fim de 2018 e as áreas dedicadas à preservação ainda apresentarão algum crescimento. DIMENSÃO ECONÔMICA Qual a dimensão econômica dos 218 milhões de hectares dedicados pelos produtores à preservação da vegetação nativa? Essa realidade complexa resulta de indicadores como o valor da terra imobilizada na preservação, o custo permanente com vigilância e manutenção


FIGURA 2

dessas áreas (instalação de cercas, aceiros etc.). Uma primeira avaliação do valor patrimonial privado imobilizado pelos produtores nas áreas dedicadas à preservação em todo o País foi realizada pela equipe da Embrapa Territorial. Ela teve como base os valores da terra e as áreas imobilizadas em cada município. O total nacional aponta para um valor patrimonial imobilizado superior a 3,1 trilhões de reais. Os gastos dos produtores com a manutenção dessas áreas também estão sendo calculados. Ninguém no Brasil, nenhuma categoria profissional ou organização governamental ou não governamental, nacional ou estrangeira, preserva mais o meio ambiente e dedica mais tempo e recursos a isso do que os produtores rurais brasileiros! PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO As áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo mundo rural brasileiro compõem um mosaico ambiental relevante e de grande dimensão com as áreas protegidas do País: as unidades de conservação integral (parques nacionais, estações ecológicas etc.) e as terras indígenas. Os limites das unidades de conservação integral são conhecidos de forma circunstanciada. Elas protegem 10,4% do território nacional e representam menos da metade da área dedicada à preservação pelo mundo rural. As 600 terras indígenas ocupam 13,8% do País. As áreas protegidas (unidades de conservação integral e terras indígenas) representam 24,2% do Brasil. Juntas,

FIGURA 1

FIGURA 4

FIGURA 3

FIGURA 5

as áreas protegidas e as preservadas no mundo rural totalizam 423.439.733 hectares ou 49,8% do Brasil (veja na figura 3). O território das áreas protegidas e preservadas no Brasil equivale a 28 países da Europa (veja na figura 4). Quando às áreas protegidas e

preservadas agregam-se as de vegetação nativa, de terras devolutas e militares e de imóveis rurais não cadastrados ou disponíveis no CAR, chega-se a um total de 631.758.477 hectares ou 66,3% do território nacional dedicado às várias formas de vegetação nativa (veja na figura 5). PLANT PROJECT Nº10

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Plant + Atvos Corteva Agriscience™

O AGRO NO CORAÇÃO DA TERRA A estratégia da recém-criada Corteva Agriscience™ para se diferenciar e liderar um mercado cada vez mais competitivo e desafiador

foto: Shutterstock

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ista do espaço, a Terra é azul. Tem a cor da água, elemento que cobre 75% da sua superfície. E, mais do que isso, é fundamental para a preservação da vida em cada palmo de chão de um planeta em transformação. Essa mensagem está implícita na imagem e no nome da mais nova entre as grandes companhias de insumos para a agropecuária. Fruto da união das divisões agrícolas das centenárias DuPont e Dow AgroSciences, a Corteva Agriscience™ nasce com identidade e propósito contemporâneos. Sua logomarca também é azul. Como a Terra, é circular. O design representa ainda os sulcos das linhas de plantio nas lavouras. E demarca as suas três principais áreas de atuação: defensivos agrícolas, sementes e serviços, que inclui também os negócios de agricultura digital. Foi um longo e democrático

processo de escolha até se chegar à marca. A primeira lista de nomes contava com mais de 500 opções, depois reduzidos a cinco. Foram consultados produtores, parceiros e equipes em dezenas de países. Foram colhidas opiniões e até mesmo discutido como o novo nome soaria nos diferentes idiomas. Ao final, restou Corteva, uma marca que traz um forte significado: a soma de Cor (coração, em latim) com Teva (natureza, de acordo com idiomas mais antigos) define o propósito de colocar a natureza em comunhão com a agricultura, uma necessidade cada vez mais presente diante dos desafios enfrentados pela humanidade. São também os desafios que devem ser enfrentados por todas as áreas da nova companhia. A agricultura se encontra diante de uma encruzilhada. Até 2050 a produção global deve ser incrementada em 70% para dar conta


de alimentar uma população crescente. A indústria deve adotar práticas mais sustentáveis, adaptando-se aos desafios impostos pelas mudanças climáticas e o declínio na oferta de recursos naturais. Ao mesmo tempo, os consumidores demandam dos produtores rurais alimentos mais seguros e nutritivos. Inovações na ciência, tecnologia e Big Data prometem revitalizar a agricultura, mas exigem visão e compromisso. Falhar em atingir as altas expectativas colocadas sobre a agricultura no século 21 não impactará apenas alguns países. Pode afetar a segurança e a estabilidade globais. É com esse cenário em vista que a Corteva Agriscience™ se propõe a repensar modelos para a produção agrícola nas próximas décadas, colocando o produtor no coração de suas ações. Na visão da companhia, é necessário realinhar as cadeias produtivas, do campo ao consumidor, transformando a agricultura em uma atividade financeiramente segura, sustentável, inovadora e capaz de compreender e responder às demandas do mercado global. Com ciência, tecnologia e inovação, a nova empresa se propõe a utilizar os recursos e o conhecimento adquirido ao longo de séculos pelas companhias que a formaram para, combinados, desenvolver soluções que resultem em maior produtividade e garantam a longevidade da produção.

O plano de ação para colocar a Corteva na dianteira da inovação já está em execução. A estratégia passa por três pilares principais: • Conectar pessoas através do sistema alimentar: a empresa incentiva a colaboração e o compartilhamento de conhecimento na cadeia de alimentos, ouvindo e aprendendo com produtores para melhor defender seus interesses e desenvolver produtos e serviços que permitam a eles gerar negócios lucrativos e saudáveis. Também promove novas conexões entre produtores, indústria e consumidores, de modo a manter o campo sintonizado com as demandas de mercado e pronto para responder com rapidez a elas. • Tecnologia e Inovação: criação de fazendas inteligentes, com uso intensivo de dados e inovações tecnológicas. A Corteva trabalha junto a produtores para modernizar e automatizar suas operações, combinando o conhecimento tradicional com inteligência de ponta para controlar riscos e incrementar a produtividade. A companhia aplica ciência de precisão em uma infinidade de variáveis que desafiam os agricultores, desenvolvendo sementes, serviços e defensivos agrícolas específicos para cada mercado e cada propriedade.

• Segurança Alimentar e Sustentabilidade Agrícola: a empresa pretende agir em toda a cadeia de forma a garantir segurança e rastreabilidade em todas as etapas de produção. A proposta é compartilhar conhecimento e experiências com produtores, sejam eles grandes ou pequenos, de forma a permitir que eles protejam o solo e ganhem produtividade ao mesmo tempo em que reduzam o uso de recursos naturais cada vez mais escassos. Isso é feito através do desenvolvimento de sementes que se adaptam melhor a condições de cultivo cada vez mais desafiadoras e defensivos que tornem as fazendas cada vez mais resilientes através do controle de pragas e doenças, sem no entanto causar danos ao ambiente e às pessoas que trabalham com eles. Até 2019, a Corteva Agriscience ™ atuará como a divisão agrícola da DowDuPont, passando, posteriormente, a operar como uma empresa completamente independente. Nesse período, a empresa concentrará seus esforços na construção de uma cultura única a partir do propósito de perpetuar o papel da agricultura como motor do progresso da humanidade. A ideia central é quebrar as barreiras que hoje separam consumidores, indústria e produtores, criando um setor capaz de garantir alimentos e desenvolvimento para as próximas gerações. PLANT PROJECT Nº10

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Por Luiz Fernando Sá

om a biblioteca do Palácio da Alvorada como cenário, PLANT PROJECT iniciou um novo projeto com uma oportunidade inédita: pela primeira vez um presidente da República recebeu um veículo especializado em agronegócio para uma entrevista exclusiva. Durante cerca de 30 minutos, Michel Temer, a principal autoridade executiva do País, discorreu sobre seu entusiasmo com o setor que mais lhe trouxe boas notícias em pouco mais de dois anos no poder. Nesse período, o presidente fez questão de participar dos principais eventos agropecuários e obter mais informações sobre o segmento responsável, em grande parte, pela recuperação econômica, ainda que tímida, apresentada no ano passado. Temer não esconde uma certa falta de familiaridade com temas mais técnicos do agronegócio, mas tem compensado esse fato ao ampliar o prestígio político do Ministério da Agricultura. Segundo ele, o perfil “técnico-político” do ministro Blairo Maggi contribuiu para aumentar a representatividade do setor no Planalto e deveria ser mantido na escolha do titular da pasta nos próximos governos.

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Assista aos vídeos e leia as entrevistas completas da série PLANT TALKS em www.plantproject.com.br


MICHEL TEMER 77 ANOS, CASADO, CINCO FILHOS PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL FORMADO EM DIREITO PELA USP

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presidente Michel Temer inaugura a série PLANT TALKS, que trará nos próximos meses a visão dos principais executivos de empresas do agronegócio no Brasil. Confira nesta edição os principais trechos da conversa com o presidente e também da entrevista com Roberto Hun, presidente da recém-criada Corteva Agrisciences para o Brasil e o Paraguai. PLANT PROJECT Nº10

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Com Michel Temer

Há dois anos, o senhor esteve no Global Agribusiness Fórum, um dos primeiros eventos depois da sua posse. A previsão era de que ficasse 20 minutos, mas acabou permanecendo lá muito mais do que isso. O sr. diria que, depois que assumiu o governo, mudou sua percepção do agronegócio? Interessante que você recordou esse fato de dois anos e pouco atrás. Realmente eu fui sinalizado para ficar 20 minutos, mas me interessei tanto pelo tema que, naquela oportunidade, acabei ficando duas horas. E o setor mudou nesse período. Nesses dois anos houve um desenvolvimento extraordinário do agronegócio. Não há momento em que eu viaje pelo mundo e não se fale da agricultura brasileira, do agronegócio e do desenvolvimento da agricultura no nosso País. Então, digamos assim, ele já tinha dois anos atrás uma posição de grande relevo. Aquele fórum revelou muito bem esse fato. 48

Mas a sua percepção pessoal mudou em relação a isso? O senhor tinha uma percepção menos real do que esse setor significa? Eu sempre achei que o agronegócio, que a agricultura em geral, exerce um papel fundamental para o Brasil. Quando cheguei aqui ao poder já era assim. Mas eu reconheço que a minha percepção aumentou muito positivamente. Tem o PIB que nós recuperamos. Você sabe que quando nós chegamos ao poder o PIB era -3,6% e logo no ano seguinte era 1,1% positivo. E para isso colaborou muito o agronegócio. Então a minha visão do agronegócio é, digamos, de brasileiros que trabalham pelo País. De fato, em 2017, para o 1,1% do crescimento do PIB geral, a contribuição do agronegócio foi de 13%. O sr. acha que os brasileiros percebem essa contribuição, têm essa dimensão real dessa contribuição?

Olha, o governo percebe. Eu acabei de dizer. Não foram poucas as vezes que eu tive oportunidade de, em entrevistas, em conferências e congressos, mencionar a grandeza da agricultura, do agronegócio do nosso País. Portanto, eu acho, por uma certa razão, até interessante aqui a imprensa. Ela retrata a absoluta verdade. Toda vez que eu vejo noticiário a respeito do agronegócio brasileiro é sempre positivo. Então eu tenho a impressão de que isso gera no povo essa percepção da importância do agronegócio. Aliás, uma outra percepção que eu posso dizer é a dos alimentos. Quando o pessoal vai ao supermercado e verifica que o alimento não subiu de preço, isso dá ao povo a sensação de que alguém está fazendo muito pelo País, como é o caso do agronegócio. No seu balanço de dois anos de governo, recentemente, o senhor elencou uma série de contribuições do governo para o setor. Quais seriam os pontos mais importantes? Acho que um é o avanço tecnológico. O agronegócio em geral utilizou-se muito fortemente dos avanços tecnológicos. Até dou um exemplo pra você: pouco tempo atrás fui levado pelo Blairo Maggi, nosso ministro da Agricultura, ao Mato Grosso para iniciar a colheita de algodão. Milhares de hectares de algodão, não é? E alguém me mostrou a máquina.


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São cenas impressionantes, não é presidente? Mas aí eu vou dizer a você que eu perguntei ao homem: “Como é que eu vou operar essa máquina? Eu não tenho a menor ideia”. Ele disse: “Aperta esse botãozinho aqui que ela faz tudo, né?” E, de fato, aquela máquina não só colhia o algodão como ensacava o algodão e ia deixando as toneladas pelo terreno. Quando vi aquilo, achei interessante. Nós temos uma tecnologia avançadíssima que é utilizada aqui na agricultura brasileira. E por que essa tecnologia é cada vez mais utilizada? Pelo sucesso dos agricultores que se dedicam ao agronegócio no nosso País. Eu não tenho dúvida disso, não fariam um investimento, não é? Depois eu perguntei ao dono da fazenda: “O senhor tem quantas máquinas?” Ele disse: “Ah, eu tenho 50 máquinas dessas”. E quanto custa isso daí? Custa 700 mil dólares, uma coisa assim. Ele está investindo, confia na agricultura, no agronegócio e no seu investimento. Existe um sentimento dos produtores de que eles não são devidamente reconhecidos, não só pelo governo, mas também pela população. São muito visados por questões ambientais, questões em torno do uso de defensivos químicos. O sr. acha que os políticos, os governantes, poderiam incluir de forma mais enfática o agronegócio nas estratégias de desenvolvimento?

Até incluem, mas acho que não incluem o suficiente. Lá no Congresso Nacional há a chamada bancada ruralista, que cuida desse tema e tem mais de 90 ou 100 parlamentares. Portanto, são parlamentares que estão cuidando desse assunto. Entretanto, há débitos na agropecuária, na agricultura, que nós parcelamos recentemente, que é o caso do Funrural. Acabamos fazendo uma fórmula para parcelar aqueles débitos. Ou seja, o governo está reconhecendo o que a agricultura, o agronegócio e a agropecuária estão fazendo pelo nosso País. Eu posso dizer a você o seguinte: quando você tem uma inflação baixa como nós temos no País, quando você tem juros diminutos como ocorre no nosso País, as pessoas percebem que alguém está colaborando pra isso. Como nós dissemos logo no início da nossa conversa aqui, isso tudo derivou muito do agronegócio. O PIB mesmo deve muito ao agronegócio. Eu acho que isso chega ao povo. O senhor acha que poderia haver uma mudança no sentido de redimensionar as políticas de desenvolvimento e, assim, assumir o Brasil como um país agro e vender essa imagem internacionalmente? Nós somos hoje um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, não é verdade? E reconhecidamente nós operamos com mais de 150 países. O Blairo

A existência de um ministério conduzido por um técnico-político (como Blairo Maggi) deve pautar a atitude dos próximos governos”

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Com Michel Temer

“Quando você tem uma inflação baixa como nós temos no país, as pessoas percebem que alguém está colaborando.(...) Isso tudo derivou muito do agronegócio”

Maggi tem visitado inúmeras vezes esses países. Eu mesmo quando vou para o exterior, um dos temas colocados ou por mim ou por quem me questiona, tem encontro comigo, é precisamente a agricultura brasileira. Lembro que em uma ocasião eu fui a Londres e o primeiro-ministro tinha promovido um encontro com países que ainda têm muita fome no mundo. O patrocínio era Inglaterra e Brasil. E as pessoas desses outros países, desses países mais carentes, quando pediam um encontro bilateral comigo, mencionavam muito a Embrapa. A Embrapa ganhou uma dimensão internacional não é verdade? Então eu acho que a agricultura hoje é reconhecida. E devo acrescentar um dado curioso, porque muitas vezes nos criticam. Nós temos 60% de terras nativas. A regra dos outros países é de 3%, 4%. O sr. foi questionado e criticado, em uma viagem a Noruega, sobre esse dado... 50

É verdade! Sabe que me faltou esse dado? Deveria ter estampado logo: “Lá no Brasil, 60% das terras estão desocupadas”. Nós temos uma capacidade física de ampliar muito mais o nosso parque agrícola. Isto sem violar as regras ambientais, porque em tudo, desde o chamado Código Florestal, o que há é uma sustentabilidade de natureza ambiental que é levada a sério pelos agricultores. Eu vejo isso com muita frequência. É nesse sentido que me permito insistir na pergunta: não haveria espaço para que se vendesse melhor internacionalmente os atributos positivos da agricultura brasileira? Porque os negativos são, muitas vezes, usados para impor barreiras aos produtos brasileiros. Sempre há, sempre há. A posição do Brasil é uma posição não protecionista. Você sabe que há certos países que exercem uma atividade, nesse particular na agricultura, mais protecionista na defesa dos interesses

dos seu país. Nós, nas várias manifestações que temos tido, nos discursos que fiz na ONU, somos pela abertura absoluta nessa matéria. Inclusive já estou trabalhando para formalizar o acordo entre Mercosul e União Europeia. Esses pontos, inicialmente, foram questionados em outros países. Como nós somos exportadores de muita proteína animal, soja etc., temos condições de dizer: o Brasil está preparado para alimentar o mundo. E nós temos 60% de terras nativas não exploradas. Então você veja as potencialidades do Brasil para fornecer alimento ao mundo. Os americanos costumam usar o termo “Food Diplomacy”. Eles enxergam que nos próximos 30 anos deve dobrar a produção de alimentos no mundo. E que essa questão vai ter um peso ainda maior nas relações comerciais e na diplomacia no globo como um todo. O governo brasileiro tem reforçado as suas posições nessa área da diplomacia da comida? Tem reforçado, mas sem usar a diplomacia da alimentação para constranger outros países. O que nós fazemos é mostrar que o País é um celeiro extraordinário de produtos agrícolas e também de proteína animal. Fazemos uma diplomacia para facilitar o trânsito dos nossos produtos em relação a outros países. Essa tem sido a tônica do nosso governo.


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Dos ministros mais recentes da Agricultura, Blairo Maggi parece ter sido o que teve maior peso político dentro do governo como um todo. Outro ressentimento do setor é que muitas vezes o governo tinha ministérios mais fortes em outras áreas e deixava o segmento mais importante da economia brasileira com menos relevância nas discussões, com menos peso político. A manutenção do ministro Blairo no cargo e a decisão dele de não sair para se candidatar teve influência sua? O senhor insistiu para que ele ficasse? Eu torci e um dia lá ele realmente me telefonou, até muito delicadamente, gentilmente, dizendo: “Acho que não vou me candidatar. Se eu não me candidatar qual é a sua posição? Eu continuo?” Eu disse: “Blairo, eu recebo com muita satisfação a sua decisão”. Nesse particular eu quero dizer que eu realmente acho que inaugurei essa visão mais forte mais sólida da agricultura no ministério. Acho que esse perfil político, não digo exatamente político, digo técnico-político. Porque o Blairo é político, mas é um técnico da área. É um produtor e conhece como poucos o setor. Ou seja, a existência de um ministério conduzido por técnico-político deve pautar a atitude dos próximos governos. O governante aqui no Brasil precisa descentralizar bastante, não pode centralizar todas as ações no seu gabinete.

E eu descentralizei isso em todos os ministérios, principalmente na Agricultura. A confiança que nós temos na sua conduta, na condução que ele faz naquele ministério, nos tem dado bons resultados. Você vê que em 2016 tivemos uma produção recorde, em 2017 também e com certeza vamos repetir em 2018... Duas safras recordes de produção... Aumentamos duas vezes a produção de grãos sem aumentar a produção de áreas ocupadas. Na questão da proteína animal, nós aumentamos em 50% a produção sem também ampliar áreas ocupadas. Nós alimentamos quase 1 bilhão e meio de pessoas, são mais de 400 produtos de origem vegetal e animal que nós fornecemos ao mundo. Veja a diversidade que nós oferecemos ao mundo por meio da agricultura. Por isso nós temos que incentivá-la cada vez mais, ela é a garantidora do próprio PIB brasileiro. Um dos fatos relevantes do seu governo foi a assinatura do RenovaBio. O Brasil também tem uma oportunidade única de liderar o uso global de energias renováveis. Como garantir que, nos próximos governos, o RenovaBio de fato seja implementado? O Brasil foi o segundo país, depois da China, a assinar o acordo de Paris, que visa melhorar o clima no planeta. O RenovaBio entra justamente nessa concep-

ção. Foi estudado fartamente. Temos diminuído cada vez mais a utilização de combustíveis fósseis, usando energia renovável. Estive recentemente no Nordeste e lá já utilizam muita energia eólica. A tendência é o desenvolvimento na área de energia, mas protegendo o meio ambiente. Acho que em breve tempo o Brasil será exemplo para os demais países, porque você produz energia renovável para o País e não viola o meio ambiente. Nós viemos de governos que focaram muito a política energética no desenvolvimento nos royalties no petróleo, no pré-sal, que de fato são importantes. O sr. recebeu pressões para que não levasse o RenovaBio adiante? Você sabe que não, viu? Uma ou outra observação é natural, mas nada que alterasse a conduta normal, porque desde que veio a proposta do RenovaBio eu disse: “Nós vamos levar isso adiante”. Até houve muita pressão para apressar os estudos. Os adeptos foram muito adequados, eles trabalharam muito para que eu pudesse realizar esse dado normativo. Houve pressão até do outro lado, mas não houve pela parte do petróleo. Uma coisa não elimina a outra. Você continuará a explorar a energia do petróleo e seus derivados, mas também vai melhorando essa área da energia renovável. O RenovaBio é um exemplo disso. PLANT PROJECT Nº10

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Com Roberto Hun

ROBERTO HUN 50 ANOS, CASADO, TRÊS FILHOS PRESIDENTE DA CORTEVA AGRISCIENCE NO BRASIL E NO PARAGUAI FORMADO EM ADMINISTRAÇÃO PELA USP, COM ESPECIALIZAÇÃO EM FINANÇAS PELA WARTON SCHOOL (EUA) E MESTRADO EM BUSINESS PELA OREGON STATE UNIVERSITY (EUA) 52

A

os 50 anos, o executivo Roberto Hun encara o maior desafio de sua carreira: reunir as equipes de duas ex-concorrentes em um único time, criando uma nova cultura sob uma nova marca, que já nasce gigante. Depois de mais de 20 anos de profissão, passando por várias divisões da companhia americana DuPont, Hun assumiu a presidência para o Brasil e o Paraguai da Corteva Agriscience, potência do agronegócio resultante da fusão da divisão agrícola da empresa com a Dow AgroSciences. Terá sob sua responsabilidade a maior operação da marca fora dos Estados Unidos. Nessa entrevista para a série PLANT TALKS, ele fala sobre essa missão e como pretende cumpri-la. Confira os principais trechos:


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Quando foi que o agronegócio entrou na sua vida? É uma história interessante. Foi só em 2014 que eu fui fazer parte da DuPont Pioneer, que é responsável pelo negócio de sementes da DuPont, onde tive a responsabilidade para todo o negócio na América Latina. Antes você estava em outras divisões da DuPont? Havia passado por várias áreas corporativas, várias áreas de negócio, indústria automotiva, eletroeletrônica, embalagens, cadeia de suprimentos, finanças. Várias responsabilidades distintas, mas sempre havia aquele interesse de fazer parte do negócio agrícola. O que você enxergava no agronegócio? Enxergava muita oportunidade porque, sendo brasileiro, apesar da cara de chinês, via que o Brasil é uma potência na área agrícola, com muitos investimentos, pesquisa... Representava uma oportunidade de aprendizado, de desenvolvimento, de carreira. Fui bem paciente, mas em determinado momento tive essa oportunidade Como executivo, quem foram seus grandes mentores? Um grande mentor, que me ajudou muito, foi meu pai. Hoje ele já é falecido, mas ele sempre me dava um conselho muito importante: “Não pense na posição específica ou no salário. Busque sempre uma oportunidade em que você possa estar aprendendo, com que você se

identifique, que você vai se realizar como consequência”. Ele sempre foi uma inspiração para mim. Por isso estive sempre mudando de posição, para estar sempre aprendendo coisas novas, novos desafios. Ao por o pé no agro se descobre um Brasil diferente, um Brasil que muitas vezes na cidade não se enxerga... E tem sido muito interessante esse aprendizado, essa jornada. Não vai acabar por aqui, mas você fica muito surpreso ao ver que o Brasil é uma potência. Você vê os históricos, antes mesmo de 2014, de crescimento do Brasil nessa área, toda a tecnologia que está por trás do segmento agrícola, os produtores que são empresários. Você descobre um novo Brasil e até a imagem de uma área com enorme adoção de tecnologia. Sem ela não conseguiríamos lidar com todo esse ambiente de controle de pragas, de doenças da agricultura tropical. Você acha que o Brasil, como um todo, percebe o agricultor como um empresário que enfrenta uma quantidade de riscos enormes, sobre os quais ele não tem controle algum, e que é tão tecnificado? Não, não. Acho que isso é o nosso

papel, tentar passar essa mensagem, promover que existem vários fatores de risco -- seja clima, investimento, custo do capital, a pressão de determinada praga de um ano a outro, doenças, o preço dos commodities no mercado global, seja a variação do câmbio – que acabam tendo impacto no rendimento do produtor. O ciclo é muito longo, não é um segmento industrial em que você acaba recebendo e vendendo num prazo bem mais curto do que o ciclo do cultivo agrícola. Você planta para colher dali a vários meses e tem muita incerteza sobre preço. O pessoal não tem toda a informação sobre o que está por trás de toda formação agrícola. Você recebeu agora um grande desafio, que é liderar, no Brasil, a criação da Corteva. Quais os desafios mais difíceis nesse novo momento? Primeiro, é uma grande oportunidade. Sem dúvida existem os desafios, mas começar uma companhia do zero é uma oportunidade única. A analogia que eu uso é que duas empresas se casaram, Dow e DuPont, e tiveram três filhas. São as três divisões da companhia, que vão se separar no começo de

“Começar uma empresa do zero é uma oportunidade única”

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Com Roberto Hun

2019: a empresa de materiais, no final do primeiro trimestre de 2019, a divisão agrícola e a de materiais especializados, em junho de 2019. Então, é como se nós tivéssemos uma cesárea já marcada para primeiro de junho de 2019. O nome já está escolhido, é Corteva. Mas ela já nasce com 10 quilos, com a escala, com a importância. Vai ser uma empresa que nasce grande com os investimentos em pesquisa das duas companhias. Acho interessante você dizer “começar do zero”, porque de fato não é. Já nasce como uma das maiores empresas do agronegócio mundial. É uma estratégia para integrar os dois times,? É um pouco, lógico. Reconhecemos o legado dos nossos pais, duas empresas com histórico de mais de 100 anos, no caso da Dow, e mais de 200, da DuPont. Mas agora nasce a Corteva e eu fico contente de termos escolhido um nome novo para justamente passar a mensagem de que não somos nem Dow nem DuPont. Somos Corteva, com nossa proposta de melhorar a vida do produtor e do consumidor para garantir o sucesso para as próximas gerações. Queremos aproveitar as coisas positivas que existiam, mas não escolher a cultura de uma ou outra companhia. Criar algo realmente novo, sem tanta obrigação perante os pais, e explorar essa grande possibilidade que é ser um player mundial e uma companhia 100% dedicada ao segmento agrícola. 54

De que forma você, como líder dessa divisão no Brasil, consegue influenciar nas decisões globais em torno dessa nova companhia? Nossa organização vai ser bastante enxuta. Desde o líder global, o nosso Chief Operating Officer, até a liderança aqui no Brasil e do Paraguai nós temos uma única camada. Há uma ligação direta com os líderes globais da companhia, e o Brasil é o principal mercado internacional. É uma oportunidade única de trazer para o Brasil todo investimento e importância que temos para uma companhia que vai nascer. Qual será a estratégia para a Agricultura Digital? Investir em startups para acelerar inovação? Vamos dar ênfase às áreas de serviços e digital. No mesmo dia em que anunciamos a fusão, em setembro de 2017, foi também anunciada a aquisição, pela DuPont, de uma startup nos Estados Unidos, a Granular.

“Não podemos esquecer que existe um grupo enorme que não tem acesso a uma alimentação nutritiva barata no mundo.”


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Foi uma das maiores aquisições no segmento Agtech no mundo (a DuPont pagou US$ 300 milhões pela agtech americana, que desenvolve softwares para gestão de propriedades rurais)... Ou seja, reforçando o compromisso de alavancar ofertas e serviços nessa área. Aqui no Brasil vocês estão com o radar ligado em busca de soluções e startups para esse futuro digital na agricultura? Queremos que o Brasil seja o primeiro país de expansão internacional da Granular. Temos alguns pilotos com parceiros e clientes. Vamos trazer parte da plataforma da Granular para o mercado brasileiro, é parte da estratégia. A Corteva surge em um ambiente em que as grandes companhias estão se unindo pra formar conglomerados ainda maiores – além de Dow e DuPont, Bayer e Monsanto, Singenta e ChemChina. Pode-se imaginar uma competição cada vez mais feroz. Como se diferenciar nesse ambiente? Para nós foi muito importante essa fusão para ter justamente a escala em investimento em pesquisa e desenvolvimento. Unimos portfólios de pesquisa das duas empresaseforammuitocomplementares. Podemos ter investimentos na área de fungicidas, para ajudar o produtor com temas como ferrugem asiática, inseticidas, fungicidas, genéticas em sementes, biotecnologia e serviços. A concorrência é saudável e nos obriga a ser mais

competitivos e a trazer mais soluções para o produtor. O produtor fica assustado quando começa a ver essas empresas ficando cada vez maiores e ele tem menos opções para onde correr numa negociação. Como tranquilizar esse produtor? É um tema importante. Seguimos trazendo novos produtos para atender a essas demandas e uso o exemplo da cultura da soja. No Brasil é o principal cultivo, com 35 milhões de hectares. Essa fusão nos permitiu trabalhar em uma solução viável para uma alternativa para a soja. É buscar genética Pioneer e da Dow, tratamento de sementes da DuPont, tecnologia da Dow. Isoladas, não conseguiríamos combinar todo o investimento para trazer uma real alternativa para o produtor. Isso é um pouco da lógica que está por trás desses grandes negócios. Fala-se muito da forma como as mudanças de comportamento do consumidor podem ter forte impacto na produção do setor. Como você acompanha essas tendências e como elas se refletem na sua visão de futuro do agro? É uma enorme oportunidade. Tem até um material muito interessante que a Embrapa publicou, que fala da agricultura em 2030 e as mudanças de mentalidade, o papel do consumidor, a procedência dos alimentos. Estive recentemente com europeus que queriam saber de onde tinha vindo a carne, qual eram os tratamentos, em

qual porto foi embarcada. São tendências e interesses. É uma mensagem que trata de muitos segmentos. Não é possível generalizar e por isso é importante ter diálogo com todos. Não podemos esquecer que existe um grupo enorme que não tem acesso a uma alimentação nutritiva barata no mundo. Isso sem dizer os 2 bilhões de pessoas que ainda vão nascer ao longo dos próximos 30 anos. Você vai muito ao exterior em função da sua posição. Imagino que ouça questionamentos em relação a sustentabilidade e questões ambientais no Brasil. Esses são os problemas de imagem da agricultura brasileira? Acho que esse é um tema da agricultura mundial. Estamos presentes em mais de 130 países. É um diálogo que temos em vários deles. É um tema muito relevante, mas não é específico daqui. Estamos passando sem escala pela agricultura de precisão e vivendo a agricultura da informação. Como você enxerga esse uso de tecnologia na gestão do negócio agrícola? O produtor está pronto para adotá-la? Sim. E cada vez mais rápido. Eu às vezes uso a própria analogia de que, como companhia, também produzimos sementes, temos uma área enorme de soja e milho, e temos que cada vez mais usar tecnologia da informação pra monitorar cultivos, potencial de prdução. É uma onda que tem uma velocidade cada vez maior. PLANT PROJECT Nº10

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UMA ALIANÇA CONTRA O CÂNCER Como o agronegócio ajuda a manter funcionando o Hospital do Amor, um dos principais centros de tratamento e geração de conhecimento sobre a doença no Brasil Por Cilene Pereira, de Barretos (SP) Fotos Cláudio Gatti

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O pecuarista Rubikinho Carvalho e a menina Lívia, que foi do Mato Grosso do Sul para se tratar em Barretos: centro de referência nacional

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Hospital do Amor

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e não fosse pelo cabelo raspado, seria difícil imaginar que a menina Lívia Faria, de 2 anos, luta contra o câncer há sete meses. Diante da televisão da sala de recreação da unidade infantil do Hospital de Câncer de Barretos – Hospital do Amor, localizado em Barretos, no interior de São Paulo, Lívia dança concentrada para tentar acompanhar os movimentos que a aranha da música da Dona Aranha faz na tela. Nada tira sua concentração, nem mesmo as brincadeiras das outras crianças, que, como ela, enfrentam desde cedo o desafio de vencer a doença que só neste ano atingirá mais 600 mil brasileiros, segundo o Instituto Nacional do Câncer. No espaço onde Lívia dança enquanto espera por mais uma consulta reina uma bagunça gostosa feita nos brinquedos e nas mesas de pintura e

desenho. De vez em quando, o riso fica alto com a presença vibrante do Mazinho, o recreador que há anos enche o lugar de alegria e fascina as crianças. Esperança, resistência e determinação são os sentimentos que mais se percebe nos corredores modernos do Hospital do Amor. São eles que movem os pacientes e seus familiares. E também os administradores da instituição, um projeto que se tornou referência nacional, mas que também enfrenta desafios diários pela sobrevivência. A excelência custa caro e tem sido mantida graças a ações que envolvem a comunidade, artistas e, mais recentemente, também empresas – a maior parte delas ligada ao agronegócio. Graças a engenhosos modelos de contribuição, elas têm ajudado a reverter um quadro que parecia muito grave. CORAÇÃO BRASILEIRO A unidade infantil é uma das cinco que compõem o Hospital do Amor. Além dela, há o Hospital Geral de Barretos, o Hospital de Cuidados Paliativos, o Hospital Geral de Jales e o Hospital Geral de Porto Velho. O complexo também tem nove unidades fixas de prevenção (Barretos, Campinas, Campo Grande, Fernandópolis, Ji-Paraná, Juazeiro, Lagarto, Nova Andradina e Porto Velho) e 18 unidades móveis – carretas equipadas com mamógrafos que rodam o Brasil realizando exames de mamografia e de colo uterino, equipadas com o que há de mais moderno. Um novo hospital está sendo construído em Palmas, no Tocantins, e mais dois centros de prevenção encontram-se em montagem em Rio Branco, no Acre, e em Macapá, no Amapá. A instituição mantém parcerias com entidades internacionais de primeira linha, como o Hospital M.D. Anderson Cancer Center, em Houston, no Texas, e o Hospital Infantil St. Jude, em Memphis, no Tennessee, ambos localizados nos Estados Unidos e apontados entre os primeiros do mundo no combate ao câncer não só pela

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qualidade do tratamento, mas também pelas inovações e informações resultantes da ciência primorosa que produzem. Faz parte ainda da iniciativa um centro de treinamento em técnicas minimamente invasivas e cirurgia robótica – um dos caminhos mais modernos da medicina usados hoje para tratar com o mínimo de agressão possível ao organismo. Aberto em parceria com o instituto francês Ircad, com sede em Estrasburgo, o centro dispõe de estações (mesa cirúrgica e aparelhos) para a realização de cirurgias em animais, equipadas com o que há de mais sofisticado no mundo para essa finalidade. A reunião de tantos serviços faz do complexo um dos mais importantes serviços de referência no tratamento e na geração de conhecimento sobre a doença no Brasil. Os números do Hospital do Amor são gigantes. São feitos mais de 6 mil procedimentos por dia, realizados por um time de 380 médicos, 230 residentes e 3,5 mil funcionários. Todo o atendimento é gratuito e a maior parte dos pacientes chega das

regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde a assistência pública é ainda mais precária do que a oferecida no Sul e no Sudeste. São pessoas como a Lívia, que chegou com a mãe, Elenir Faria, vinda de Anastácio, no Mato Grosso do Sul, no fim do ano passado logo depois de ser diagnosticada com rabdomiossarcoma (tumor em células que originam os músculos esqueléticos). "Em 15 dias ela conseguiu ser atendida aqui", conta Elenir. Outro exemplo é a família de Maria Célia, 12 anos, portadora de osteosarcoma (câncer ósseo). A garota mora em Serranópolis, em Goiás, com a madrasta, Auralice de Souza, o pai, Jairo Cunha, e os irmãos, Arthur, Alice e Amanda. Desde janeiro do ano passado ela faz o tratamento em Barretos, onde recebe o que há de melhor em assistência médica, nutricional, psicológica e educacional para seguir firme enquanto batalha contra a enfermidade. "Continuo estudando", diz Maria Célia, que recebe o conteúdo das aulas e orientação enquanto está internada, como se estivesse na sua escola. "E passei de ano."

A família Souza, de Serranópolis (GO), e os modernos equipamentos do Hospital do Amor: todo o atendimento é gratuito

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Hospital do Amor

LEGADO DE GENEROSIDADE Todo o atendimento é gratuito. Sempre foi assim, desde que o complexo nasceu, na década de 1960, fundado pelo casal de médicos Paulo Prata e Scylla Prata. É uma vocação que está no DNA do Hospital do Amor e não foi abalada nem mesmo quando a instituição passou por dificuldades financeiras graves, na década de 1980. Henrique Prata, um dos filhos do casal, assumiu a administração do hospital com o objetivo de sanear as contas para que a sangria de dinheiro fosse interrompida. Inspirado pelo trabalho dos pais e por uma forte devoção católica, Henrique decidiu continuar com o hospital e saiu a campo com ainda mais vigor para aumentar o volume de doações que ajudava a manter o funcionamento do hospital. O que a instituição recebia do Estado não chegava nem perto do que era preciso. O jeito era contar com a solidariedade da população, de empresários que contribuíam, por exemplo, fornecendo bois para leilões, e, aos poucos, de artistas famosos que entenderam a importância do que se fazia ali. Sertanejos como as duplas Chitãozinho e Xororó, Jorge e Mateus e outras estrelas, como Ivete Sangalo e Xuxa, engajaram-se na ajuda e o hospital seguiu driblando as dificuldades, firme no propósito de oferecer tratamento gratuito e servir de polo formador de profissionais e de geração de conhecimento. 60

O problema é que, como ocorre com todas as outras instituições nacionais que dependem do Estado brasileiro, Barretos está vendo as contas ficarem ainda mais difíceis de serem fechadas nos últimos anos. A grave crise econômica do País reduziu os recursos destinados a áreas fundamentais como o cuidado à saúde e também o volume de doações. Ao mesmo tempo, fez crescer a procura por serviços gratuitos como o ofertado lá. "De 2016 para 2017, houve um

O TAMANHO DA EXCELÊNCIA Fundado em 1962, o complexo do Hospital do Amor hoje é composto de: - 5 hospitais - 9 unidades fixas de prevenção - 18 unidades móveis de prevenção (carretas) São realizados: - 4 mil atendimentos por dia - 6 mil procedimentos por dia Total de atendimentos: 2016 151 mil pacientes 2017 170 mil pacientes


Henrique Prata e a ala infantil: missão herdada dos pais foi levada adiante, apesar das dificuldades

acréscimo de 21 mil pacientes", explica o pecuarista José Rubens de Carvalho, o Rubikinho. Amigo de infância de Henrique Prata, o empresário está à frente desde outubro do ano passado do Agro contra o Câncer, um projeto que tem como objetivo sensibilizar as grandes empresas envolvidas no agronegócio e engajá-las em um programa consistente de doações que permita a sustentabilidade financeira do Hospital do Amor. Hoje, o déficit mensal é de R$ 22 milhões. Do gasto atual de R$ 37 milhões por mês, o SUS banca apenas R$ 15 milhões. "Sem a ajuda, corremos o risco de fechar as portas. Temos que arrecadar recursos por meio da participação das empresas", afirma Rubikinho. O esforço é para contar com a participação de todos os setores do segmento, de companhias relacionadas à área de produção de matéria-prima à

agroindústria. Representantes dos setores da cana, da soja, do milho, do algodão, do café, entre outros, estão sendo procurados para integrar o projeto. De posse dos materiais de apresentação dos serviços do hospital, Rubikinho está batendo à porta à procura de ajuda. Já conseguiu o apoio de 35 companhias importantes, como o oferecido pelas empresas Minerva, Estrela, Marfrig, JBS, Naviraí, Usina da Pedra, Usina Ipê, Leite Piracanjuba e Zoetis, maior empresa farmacêutica veterinária do mundo. "Reconhecemos a grande relevância do Hospital do Amor na prevenção e no tratamento do câncer no País", afirma Pablo Paiva, gerente de Produto da Linha de Antiparasitários e Vacinas Clostridiais para a Unidade de Negócios de Bovinos da companhia. A Zoetis decidiu participar cedendo ao hospital parte do lucro das vendas do

Cydectin (medicação destinada ao tratamento de bovinos) entre junho e dezembro deste ano. "É uma grande satisfação unir a nossa equipe, nossos parceiros comerciais e os pecuaristas que usam o Cydectin nessa contribuição ao hospital", completa Pablo. Outra companhia que aderiu ao Agro contra o Câncer é a Plena Alimentos. "Falamos sobre o projeto que a Plena tem com o Hospital do Amor aos pecuaristas com os quais negociamos gado. Perguntamos se eles querem doar R$ 1 do que pagamos da arroba do boi para ajudar nessa causa tão nobre. Quando eles aceitam, destinamos a doação para o hospital", explica Wesley Lopes, gerente corporativo de compra de gado da empresa. "Conhecemos o trabalho do hospital de perto, por meio de visitas e de materiais que recebemos. Sabemos que o sucesso se deve à administração e à honestidade com que trabalham. A diretoria está muito envolvida em salvar vidas e é um prazer para a Plena contribuir para o sucesso desse trabalho", afirma Wesley. PARCERIA PERMANENTE O projeto quer viabilizar uma forma de contribuição que seja permanente e faça render uma importância vital para as contas do Hospital do Amor a longo prazo. Para isso, buscou-se uma maneira de contar com o auxílio de acordo com os preços PLANT PROJECT Nº10

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POSITIVO

Hospital do Amor

Pavilhão com nome da dupla Jorge e Mateus: artistas ajudaram a captar recursos

AGRO CONTRA O CÂNCER 35 empresas do agronegócio envolveram-se desde outubro de 2017 até agora. Conheça algumas delas e a forma de participação Frigoríficos/Pecuária Empresas: JBS, Marfrig, Naviraí, Minerva Participação: R$ 1 por boi abatido Saúde Animal Empresa: Zoetis Participação: parte dos ganhos com o medicamento Cydectin Cana Empresas: Usina da Pedra, Usina Buriti, Usina Laguna Participação: doação de energia, R$ 0,03 por tonelada de cana Café Empresa: Exportadora de Café Guaxupé Participação: R$ 0,20 por saca de café Laranja Empresa: LDC Participação: 0,1% da produção Soja Empresa: Ouro Safra Participação: 0,1% da produção que entrar nos armazéns em 2018 Leite Empresa: Piracanjuba Participação: doação de 1 litro a cada mil litros vendidos

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praticados por cada setor. A proposta apresentada prevê a doação de R$ 1 para cada boi abatido, R$ 0,03 por tonelada de cana vendida e R$ 0,20 por saca de café comercializada, por exemplo. "As doações pedidas são muito razoáveis, mas, com o volume de adesões, tornam-se valores expressivos. Estamos solicitando sempre um percentual da produção no momento da comercialização dos produtos", afirma Rubikinho. "Não estamos pedindo uma doação única. Queremos parceiros fiéis." No formato em que foi concebido, o Agro contra o Câncer representa mais uma inovação apresentada pelo Hospital do Amor. É comum que instituições que dependem das verbas públicas para continuar funcionando recorram à solidariedade para tentar cobrir ao menos parcialmente os déficits inevitáveis do final do mês. No entanto, até pela dificuldade em destacar pessoas para realizar somente o trabalho de captação – afinal, nesses locais em geral falta gente em todas as áreas de atendimento –, o esforço muitas vezes resulta em contribuições pequenas e

esporádicas, o que deixa os serviços longe de alcançar uma saúde financeira sustentável. Criar um sistema que não sobrecarregue os doadores e permita um fluxo contínuo de doações é uma estratégia eficiente. E Rubikinho está otimista quanto ao apoio que receberá do agronegócio brasileiro. Em agosto, parte para uma maratona de encontros com representantes das empresas associadas ao mercado da soja. Vai levar, como sempre, o material apresentando a excelência do que é oferecido no hospital. A qualidade do serviço dos profissionais – de médicos a recepcionistas, de farmacêuticos a recreadores –, a sofisticação dos equipamentos disponíveis e a importância na pesquisa falam por si, claro. Mas observar crianças como Lívia e Maria Célia, ou o menino João Victor, 11 anos, portador de osteosarcoma que há quatro meses está em Barretos vindo de Araxá, em Minas Gerais, firmes e amparados enquanto lutam contra o câncer, não deixa dúvida sobre a importância da participação de todos para que o Hospital do Amor continue existindo.


Colheita de cana na NovAmérica Aos 75 anos, grupo agrícola de Assis (SP) vive fase de renovação e diversificação

Nova Geração As histórias dos melhores produtores do Brasil

foto: Rogério Albuquerque


Cana

a o b a m u é r a c i f i l p m i S eira de ev oluir ma n Fábio de Rezende Barbosa comanda o avanço do grupo NovAmérica, iniciado por sua família há 75 anos, na era das inovações tecnológicas. Mas, na relação com suas equipes, não abre mão do tradicional olho no olho Por Romualdo Venâncio | Fotos Rogerio Albuquerque

A produção do Grupo NovAmérica deve chegar, em 2018, a 6,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, somando os 82 mil hectares, entre áreas próprias e de parceiros, das duas operações agrícolas – uma em Tarumã (SP) e outra em Caarapó (MS). A meta para 2021 é chegar a 8 milhões de toneladas. Recentemente, teve início na empresa um processo de diversificação das atividades, que agora também envolvem 4,5 mil hectares de grãos (soja e milho) e um confinamento para 10 mil bois por ano. Em 2019, serão 15 mil cabeças e, para 2020, o plano é chegar a 20 mil. Assim como todos os passos da companhia, essa ampliação foi uma decisão coletiva, mas em grande parte impulsionada por Fábio de Rezende Barbosa, superintendente da empresa, que comanda a operação agrícola desde 2010. “Minha grande contribuição nesses últimos anos tem sido dar uma chacoalhada no negócio, provocar as pessoas a pensarem diferente e trazerem um olhar para o futuro”, comenta o gestor de 42 anos. Facilitar a comunicação foi uma das maneiras que Fábio encontrou para estimular seus colaboradores a questionarem processos, buscarem novas soluções e sugerirem ideias sem o receio da censura. Tudo é considerado, e o que for mais interessante pode ser implantado. A própria estrutura do escritório da NovAmérica, em Tarumã, visa a simplificar essa aproximação: não há divisórias

entre as estações de trabalho. A sala do superintendente ainda é separada por paredes, mas ele faz questão de manter a porta aberta. Na verdade, quem vem de fora e não o conhece tem dificuldade de identificá-lo em meio às equipes, inclusive no campo. Fábio é o tipo de gestor que se mistura, até com grande facilidade. “Gosto muito de conversar com as pessoas, do olho no olho, isso humaniza as relações. É por essa razão que mais vou à mesa de todos do que vêm à minha”, comenta. Fábio considera a qualidade e a sintonia de suas equipes o grande diferencial do negócio. “São muito motivados e não têm medo de desafio. Todo mundo tem o mesmo norte, o mesmo ritmo e a mesma fluidez.” Pode parecer utópico imaginar uma comunicação perfeita, sem ruídos, dentro de uma companhia com mais de 2,6 mil colaboradores, mas Fábio dá de ombros. “Não sei se é um sonho impossível, mas temos de buscar essa sintonia perfeita, todo mundo sabendo o que deve fazer”, afirma. A equipe que já existia quando Fábio assumiu a operação agrícola do grupo passou por ajustes. Entrou gente nova, houve mudanças de posições e essa mistura deu origem a uma nova rotina, aprimorada, inclusive incentivada pelo amadurecimento do próprio Fábio, como ele mesmo diz. “Aprendi a perguntar e a ouvir melhor os outros, com mais calma. Essa é uma boa maneira de chegar mais rápido às respostas que a gente precisa.”


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DA PRAIA AOS CANAVIAIS Fábio lembra de forma bem-humorada o início de sua trajetória no negócio da família. “Na verdade, nem era para eu estar aqui”, brinca ele, que é formado em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Quando questionado sobre a razão de ter ido estudar em Florianópolis, o agora superintendente responde com outra pergunta: “E tem lugar melhor para estudar?”, supostamente referindo-se aos atributos que renderam à capital catarinense o título de “ilha da magia”. A abundância de belezas naturais não tirou de Fábio o foco empreendedor, a exemplo da casa de sucos que montou na praia e do tema escolhido para a monografia de sua conclusão de curso: Fundos de

operações de refino de açúcar na Coreia do Sul e, em seguida, passei um tempo na Austrália”, recorda Fábio. “Foi uma ótima experiência. Passei a entender várias questões culturais e ferramentas importantes, assim como a organização do setor em diferentes lugares do mundo – como funciona a cadeia de fornecimento de matéria-prima na Europa, como é o pagamento na Austrália e como o açúcar é comercializado na Tailândia, por exemplo.” Mais do que o aprendizado sobre o cenário internacional do açúcar, a experiência no exterior rendeu a Fábio um ganho importante para o desenvolvimento pessoal. “Quando você tem uma experiência fora e morando muito tempo sozinho, a primeira coisa que aprende é a se virar. Às vezes

Investimento Ambientalmente Responsáveis. Ao final da faculdade, em 2002, veio a oportunidade de Fábio ingressar na NovAmérica, que já contava com um processo de sucessão. “Achei que minha missão na praia já havia terminado, fiz um bom proveito e estava na hora de encarar novos desafios”, diz. Por dois anos ele ficou na companhia como trainee, até que em 2004 veio a decisão de que deveria fazer um estágio fora do País. “Fui para a França, e fiquei em uma trade (Sucden) em Paris. Depois, segui para o escritório dessa empresa em Bangcoc, na Tailândia. Também fui conhecer

você não fala a língua de um determinado país, mas tem de aprender a comer, a perguntar e a achar a direção dos lugares. Isso faz uma grande diferença, pois não deixa você acomodado”, descreve. Hoje, além do português, Fábio é fluente em inglês, francês e espanhol. Toda essa bagagem cultural foi fundamental para a etapa seguinte que encararia na sua volta ao Brasil. Em 2005, o Grupo NovAmérica adquiriu a Açúcar União e, como a produção não era suficiente para atender à demanda da empresa recém-comprada, foi necessário criar uma trading.


Fábio ficou responsável pelo suprimento de açúcar dessa nova operação e pela trading, função que desenvolveu até 2008. No ano seguinte começou outra fase da companhia, quando houve a fusão com a Cosan (atual Raízen), envolvendo as unidades industriais, o terminal portuário e a trading. “A parte agrícola continuou com a gente”, conta Fábio. Entre o final de 2009 e o início de 2010, veio mais uma importante alteração: seu pai e seus tios resolveram separar os ativos da empresa. As unidades agrícolas de Tarumã e Caarapó ficaram com o núcleo familiar de Fábio. Naquele período, todos moravam na capital paulista e não queriam voltar para o interior. Fábio era a exceção. “Nasci e cresci no interior,

RIQUEZA NA BASE DE DADOS A forma como lida com as informações sobre todas as operações da empresa tem sido outro grande diferencial na gestão de Fábio, principalmente a riqueza e a transparência desse conteúdo. E aí é que entra todo o aparato tecnológico do Grupo NovAmérica, uma combinação de equipamentos, maquinário, sistemas, procedimentos e capacitação dos profissionais, junção que dá uma visão ampla e detalhada de cada setor. Pelas telas dos computadores da sala em que se controla a pesagem na entrada e na saída dos caminhões, por exemplo, é possível checar a localização e a atividade de cada máquina que está no campo. Tudo é monitorado por satélite, todos os dias, e isso tem sido fundamental

Gosto muito de conversar com as pessoas, do olho no olho, isso humaniza as relações minhas raízes estão aqui, onde tenho muitos amigos. Vim para encarar um novo desafio e me senti muito confortável”, justifica. “Hoje, aproveito muito mais a parte cultural e gastronômica de São Paulo do que quando estava lá.” Até 2012, morou na fazenda, mas após seu casamento e o nascimento do primeiro filho decidiu se mudar para Assis, cidade vizinha. Fábio conta que foi uma boa transição e que não tem do que reclamar, ainda mais depois de a família ter aumentado. Agora são duas crianças, uma de 3 anos e meio e a outra com 1 ano e meio.

para melhorar a performance produtiva. Há também uma série de métricas utilizadas para avaliar os resultados nos canaviais, como avaliação de perdas, arranque de soqueira, índice de uniformidade de plantio, entre outros fatores. Vale ainda ressaltar as vistorias rotineiras pelo campo. “Quando passo pelos canaviais e não vejo rastro de carro fico preocupado, pois é sinal de que não tem ninguém andando por ali. Então há algo errado”, analisa Fábio. Ele acrescenta haver um cuidado muito especial – que chamam de carinho mesmo – com o manejo das lavouras, desde o preparo para o plantio, PLANT PROJECT Nº10

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FÁBIO DE REZENDE BARBOSA | 42 ANOS, CASADO, TEM DOIS FILHOS; FORMADO EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Cargo: superintendente Faturamento: não divulgado Composição dos negócios: produção de cana, grãos (soja e milho) e gado de corte (confinamento) Produção: 6,5 milhões de toneladas de cana (este ano) Principal cliente: Raízen Hobby: pescar

o cultivo, o corte, enfim, todas as etapas. “Não fazemos pisoteio, controlamos o tráfego no canavial, não forçamos a volta quando chove, todas essas questões ajudam”, comenta. A agilidade no processamento de dados é outro ponto de evolução do negócio. “Praticamente acabamos com papel em nossa gestão. Quase todos os nossos apontamentos são feitos por 23 aplicativos”, diz Fábio, que continua: “Temos um portal de aplicativos dentro da companhia que abrange desde um caminhão na oficina até os dados de campo, e quase tudo feito por celular ou tablet”. Além da velocidade na coleta de dados, a empresa ganhou em precisão e transparência, o que trouxe mais eficiência tanto para a produção no campo quanto para a administração. “Sem dados não há controle, e aí não faço gestão”, avalia Fábio. Ele acrescenta que essa clareza é benéfica inclusive para que as pessoas saibam com mais exatidão o nível de seu desempenho e o quanto ainda podem se desenvolver. Os avanços tecnológicos nos setores agrícola e administrativo são fortemente impulsionados pelas parcerias que o Grupo mantém com diversos centros de pesquisa, em certos casos até para o desenvolvimento de projetos em conjunto. Entre as instituições parceiras estão Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec-SP), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa), Instituto Agronômico (IAC), Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e Fundação Educacional do Município de Assis (Fema). As ideias para inovações vêm ainda pela 68

troca de informações com outros produtores rurais. Fábio cita, por exemplo, Victor Campanelli (Agro-Pastoril Paschoal Campanelli S/A – Bebedouro, SP), escolhido Top Farmer na categoria Pecuária na primeira temporada da série. “Ele é uma das pessoas a quem pergunto um monte de coisas. Essa troca de informação é muito rica e importante entre os pares do setor, a gente procura fazer isso constantemente”, comenta. A agenda de viagens internacionais ajuda a ampliar e a aguçar o olhar. De duas a quatro vezes por ano, Fábio visita outros países para conhecer algum tipo de negócio, que nem sempre tem relação direta com as operações do Grupo NovAmérica. “No ano passado, fui à Califórnia ver uma fazenda de insetos. Também visitei nos Estados Unidos a maior processadora de tomates de lá, uma empresa que não tem hierarquia. Às vezes vou olhar essas coisas um pouco ‘fora da caixa’ porque acredito que nem todas as respostas estão no próprio setor”, explica. MOMENTO ESTRATÉGICO A diversificação de atividades do Grupo NovAmérica é uma saída para enfrentar o atual momento do setor sucroenergético e já uma preparação para o que Fábio pretende no futuro. Ele espera que a cana represente não mais que 50% do faturamento da empresa, até para resgatar um pouco do que já ocorreu em outros períodos da história da companhia. A volatilidade dos preços para a cana e a constante redução nas margens de lucratividade pressionam os produtores por novas soluções. “Se tivermos mais dois ou três anos iguais a este, a tendência é diminuir a quantidade de cana. O setor não vai conseguir


Cana

Minha grande contribuição tem sido dar uma chacoalhada no negócio, provocar as pessoas a pensarem diferente se sustentar por muito tempo do tamanho que está, operando do jeito que está”, avalia Fábio. Por outro lado, o gestor vê nesse cenário uma abertura de oportunidades. Para ele, o momento desafiador não permite ficar acomodado e força todos do setor a buscar novas saídas, mais produtividade, mais eficiência. “É uma baita chance pra gente se mexer, conversar com todo mundo, ter mais consciência e carinho com as lavouras e os equipamentos, e ajustar aquilo que normalmente não mexemos”, diz Fábio, que espera ser cada vez menos necessário nas decisões da empresa. A preparação da companhia para a era digital e para ter um modelo de administração mais horizontal e pouco hierárquico reflete essa estratégia de evolução. “As decisões monocráticas não servem mais, pois as variáveis aumentaram e precisamos considerar as ideias de todos. O contraditório harmonioso é bom, faz bem à gestão. É muito melhor, e até mais gostoso”, complementa.

SALVO PELA PESCA A pescaria é uma das atividades preferidas de Fábio, tanto que roda o mundo em busca dos melhores lugares para a prática. Todo início de ano ele programa quatro viagens, duas nacionais e duas internacionais, nas quais é comum conhecer pessoas com interesses comuns além do esporte. “O tipo de pescaria que costumo fazer demanda tempo, equipamentos caros e é praticado por gente muito capacitada, que geralmente é de negócio, como industriais e profissionais liberais”, explica. Não por acaso, até o ano passado Fábio mantinha um empreendimento de pesca em Cingapura, algo que iniciou desse tipo de contato. Muito mais do que hobby ou oportunidade de networking, as aventuras aquáticas são, na verdade, uma importante terapia, no sentido literal da palavra. Lá em

2007, Fábio estava com 32 anos e tinha uma rotina de trabalho bastante puxada. “Eu queria fazer tudo, bater o escanteio e correr para cabecear”, compara. Por causa dessa disposição além da conta, foi acometido por um AVC que o deixou internado por 20 dias, com metade do corpo dormente. Curiosamente, o problema aconteceu um dia após Fábio ter voltado de uma pescaria. “Aquilo foi muito forte. E ficou ainda mais sério após o médico me dizer que eu poderia morrer se continuasse a viver da mesma maneira, reforçando que eu não levaria nada, pois caixão não tem gaveta. Aquele comentário me levou a pensar mais seriamente no que eu faria da minha vida a partir dali”, recorda, ainda impressionado com aquela conversa, e agradecido por ter saído ileso de um episódio tão grave. As pescarias mais frequentes e em lugares mais distantes foi a grande mudança que Fábio promoveu na sua forma de viver. “É algo que eu adoro, é minha meditação. Às vezes fico seis ou sete dias, totalmente focado, como se fosse meu retiro espiritual. E sempre volto revigorado, cheio de energia”, ressalta. Essa passagem de Fábio é uma grande demonstração do quanto se pode aprender e evoluir diante das adversidades. Até seu bom humor característico ficou melhor. “Sempre fui bem-humorado, mas era muito nervoso, não tinha muita paciência. Foi importante para rever alguns conceitos da minha vida.”

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r e t o s i c e r p É e s a r a p a i c pa ciên pe cial t ornar es

Representante da quarta geração de uma família produtora de café, Anderson Minamihara ajudou a mudar a rota e o patamar do negócio que hoje alcança as xícaras dos mais exigentes consumidores em várias partes do mundo Por Romualdo Venâncio | Fotos João Castellano

A discreta e constante atenção de Anderson Minamihara aos alertas do relógio de pulso revela um pouco de sua habilidade para gerenciar os diversos compromissos, mesmo que paralelos. Além das horas e minutos, o smart watch sincronizado com o celular mostra de imediato quando o administrador recebe alguma ligação, um e-mail ou outro tipo de mensagem. Essa agilidade tecnológica é preciosa, sobretudo para quem busca exatamente agregar valor à produção de cafés especiais e estabelecer uma marca como sinônimo de alto padrão de qualidade em meio aos mercados mais exigentes. “As coisas vêm acontecendo mais rápido do que eu esperava”, comemora Anderson, que está com 30 anos e há três ingressou de forma definitiva no negócio da família, como diretor de Qualidade e Estratégia. Formado pela Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), já conseguiu abrir espaço para o Café Minamihara na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. “Exportamos para Japão, China, Taiwan, Hong Kong e Dinamarca, onde nossos cafés passam pela torrefação La Cabra Coffee Roasters e seguem para mais de 30 países no continente

europeu e para Nova York”, detalha. Se da porteira para fora a passada é ligeira, do lado de dentro é a paciência que garante os melhores resultados e dá sustentação às atuais conquistas. A produção do Café Minamihara fica na cidade de Franca, na Alta Mogiana, região do interior paulista com tradição em cafés especiais. São 150 hectares de cultivo totalmente orgânico, envolvendo mais de 40 variedades de café arábica e, na maior parte, de forma integrada, com os cafezais sob abacateiros. Essa associação de culturas deu origem a um microclima diferenciado e altamente favorável à produção de cafés especiais. “Criamos um terroir onde é possível diminuir a temperatura em até cinco graus, em comparação aos pés de café expostos ao sol”, afirma Anderson. Esse resfriamento natural ocorre tanto pelo sombreamento quanto pela troca de calor entre as folhas, e acaba impactando na maturação dos grãos, que se torna mais lenta e mais homogênea. Há ainda diversos outros processos que preservam o elevado padrão de qualidade, como a colheita manual e seletiva, em que são retirados das plantas apenas os grãos que estão no ponto


Café exato determinado pela empresa; e a secagem em terreiros suspensos, onde também há um minucioso controle para assegurar que fiquem apenas os grãos ideais. O manejo inclui até técnicas biodinâmicas, com a definição da colheita de acordo com as fases da lua para obter um grão mais cheio, com mais água ou mais açúcar. Tudo é pensado detalhadamente. “No ano passado, mais de 85% de nossa safra teve classificação acima de 85 pontos”, diz Anderson, referindo-se à pontuação da tabela da SCAA, sigla em inglês para a Associação Americana de Cafés Especiais (Specialty Coffee Association of America). “Toda a produção é de cafés especiais, até mesmo os grãos que caem no chão geram uma bebida acima de 80

intensificou a busca de conhecimento sobre a cadeia produtiva de cafés especiais e o comportamento dos consumidores, dentro e fora do Brasil. Por outro lado, há também as décadas de experiência de seu pai, Getúlio Minamihara, engenheiro agrônomo que desde sempre está envolvido com lavouras de café. É aí que as gerações se complementam. “Não foi tão fácil convencer meu pai de muita coisa que estamos implantando, mas fui mostrando, explicando com bons argumentos e acertamos”, observa Anderson, que acrescenta: “Uma grande contribuição da minha parte foi olhar para a empresa de forma diferente, fora do convencional, e já com uma ampla estratégia de negócio”.

Não foi tão fácil convencer meu pai de muita coisa que estamos implantando, mas fui mostrando, explicando com bons argumentos e acertamos pontos”, acrescenta. O equilíbrio entre as questões mercadológicas e agronômicas tem sido determinante no sucesso do Café Minamihara como um produto de reconhecimento internacional. Desde a faculdade Anderson já pensava em como agregar valor à produção e criar estratégias de marca e mercado. Ele, inclusive, começou a estudar administração com ênfase em marketing na ESPM, em São Paulo (SP), mas dois anos vivendo a agitação da metrópole foram suficientes para decidir retornar ao interior. Nos três anos em que está na empresa, 72

EXPANSÃO COMO HERANÇA FAMILIAR Assim como diversos imigrantes japoneses que vieram para o Brasil, os bisavós e avós de Anderson acabaram se instalando no norte do Paraná. Os ancestrais por parte de pai, que trouxeram o sobrenome Minamihara, ficaram na cidade de Assaí e os do lado da sua mãe, Clara, os Tomimatsu, foram para Rolândia, um pouco mais próximo de Londrina. Os dois núcleos entraram na produção de café, mas tiveram trajetórias diferentes com a cultura. No início dos anos 1970, o avô Minamihara participou de uma visita


técnica na Alta Mogiana sobre a ferrugem do cafeeiro, doença fúngica recém-surgida no País, e acabou descobrindo mais do que imaginava. “Meu avô ficou encantado com essa região e retornou ao Paraná enlouquecido para se mudar com toda a família. Vendeu as terras que tinha lá, comprou um sitiozinho por aqui e começou a plantar café”, conta Anderson. Essa mudança tirou os Minamihara da trilha da “geada negra”, uma tragédia natural que ocorreu em 18 de julho de 1975 e dizimou a cafeicultura paranaense. Os Tomimatsu não tiveram a mesma sorte. Segundo Anderson, eles já eram os maiores produtores de café do estado, chegando a colher entre 60 mil e 70 mil sacas, mas

tudo. Já por parte do meu pai é marcante a questão da persistência, a ideia de continuidade”, exemplifica. Esses conceitos são notórios em diversos avanços que ocorreram de forma bastante natural. “É o caso do cultivo de abacate, iniciado há mais de 30 anos, quando valia muito pouco, e hoje representa cerca de 40% do nosso faturamento”, diz o gestor. Pelo retorno gerado pelo abacate, há quatro anos até se cogitava retirar os cafezais e privilegiar a monocultura. Mas foi exatamente essa dobradinha que serviu de plataforma para o processo de certificação da produção orgânica, conquistada há três anos, e atraiu a atenção de potenciais compradores estrangeiros.

naquela madrugada perderam os cafezais e muito dinheiro. “Depois daquele desastre, meu avô passou a trabalhar só com outros grãos”, acrescenta. O avô Tomimatsu faleceu no ano passado, mas a avó continua em Rolândia, tocando a fazenda com um dos filhos. “Ela segue firme e forte e não quer sair de lá”, conta Anderson, demonstrando uma pitada de orgulho. As trajetórias desses dois núcleos familiares contribuíram para a formação pessoal e profissional de Anderson. “Do lado da minha mãe é forte o aprendizado de ser muito cuidadoso com

A mudança do cultivo convencional para o orgânico foi mais uma questão de necessidade do que um diferencial mercadológico. Anderson relata que o uso excessivo de agroquímicos havia prejudicado a produtividade das lavouras, então seu pai decidiu tentar reverter o quadro retomando a forma tradicional como tratavam a roça no Paraná. “Por conta disso, nossa fazenda produz cafés especiais e orgânicos há mais de dez anos”, afirma o administrador, que viu nessa alteração do ambiente uma condição a mais para implantar as novas estratégias. “Minha tese na PLANT PROJECT Nº10

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Café

Procuro olhar para a empresa de forma diferente, fora do convencional, e já com uma ampla estratégia de negócio

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faculdade foi sobre agregar valor à experiência do consumo de café. Mas como fazer isso em uma propriedade relativamente pequena, dentro da cidade e sob forte pressão de investidores para transformar tudo em condomínios residenciais? Era preciso valorizar nosso metro quadrado para competir”, analisa. UM CAFÉ PARA O MUNDO Ao escolher o sobrenome da família como a marca da empresa, Anderson já sabia o impacto que poderia gerar no mercado internacional, mais acostumado a pagar o valor merecido pelos cafés especiais. “Se chamássemos de Café Santa Maria, por exemplo, seria mais difícil os consumidores estrangeiros relacionarem a bebida com uma de nossas fazendas, não teríamos singularidade. Como Minamihara há toda uma referência à história da família e à descendência japonesa”, explica. Sem contar que no Japão, um dos países mais evoluídos no mercado de cafés especiais, já haviam licenciado a marca Minamihara para comercializar os grãos importados dos cafezais de Franca. Anderson esteve recentemente na feira Tokyo Cafe Show, no Japão, e

ficou impressionado com o reconhecimento que o café brasileiro vem conquistando dos consumidores e dos mercados internacionais. “Isso é muito gratificante, pois há cerca de uns quatro anos campeões mundiais de barismo não acreditavam tanto no café do Brasil”, comenta. Ele cita ainda a satisfação que é entrar em uma cafeteria de um shopping em Tóquio e encontrar lá o Café Minamihara. “Como diz um amigo meu, é de cair as lágrimas”, brinca. Apresentar essa nova realidade da produção nacional, e não apenas do Café Minamihara, é uma das prioridades do jovem gestor, que também visitou, este ano, a World Coffe, realizada pela Specialty Coffee Association, em Amsterdã (Holanda). A impressão foi a mesma. Nessas oportunidades, também divulga a marca Alta Mogiana, pois tem indicação de procedência. Os Minamihara recebem muitos estrangeiros na fazenda, interessados em conhecer os cafezais e confirmar se a produção é realmente o que souberam na teoria. Não raramente, hospedam os visitantes em sua própria casa. É o caso de Yuko Yamada Itoi, proprietária da Cafe Time, empresa japonesa de torrefação e comercialização de cafés especiais de Kyoto, e jurada internacional do Cup of Excellence (COE). Yuko é uma referência importante para Anderson, por seu conhecimento e pelo que ela representa no mercado global de cafés especiais. No dia em que a família Minamihara recebeu a equipe do projeto TOP FARMERS, Yuko estava lá e comentou o que vê nos


ANDERSON MITSUHIRO MINAMIHARA | 30 ANOS, SOLTEIRO, FORMADO EM ADMINISTRAÇÃO PELA UNAERP Cargo: diretor de Qualidade e Estratégia Faturamento: não divulgado Composição dos negócios: produção de café e abacate (tudo orgânico) Produção: 2 mil a 3 mil sacas de café por ano (média bianual) e 2 mil toneladas de abacate por ano Principais clientes: mercado externo – Ásia (Japão, China, Hong Kong e Taiwan), Europa (vai para Dinamarca, e de lá para outros países no continente) e Estados Unidos Hobby: paixão por carros, praticar crossfit e churrasquear

cafés especiais do Brasil: “Encontro por aqui produtos com alto padrão de qualidade, inclusive com características de sabor e acidez semelhantes às que vemos em países africanos, como Etiópia e Quênia. Certamente, os cafés especiais do Brasil têm muito espaço no mercado japonês”. Anderson aproveitou a presença de Yuko para realizar uma sessão de cupping, a degustação técnica baseada em olfato e paladar para avaliar diversas características que determinam a qualidade do café. Ainda que se tratasse de uma demonstração informal, foi o suficiente para se ter uma ideia da amplitude e da seriedade dos critérios e dos processos desse ritual. Para ele, é fundamental conhecer a fundo os diferenciais do próprio café para poder agregar valor à produção. “Conseguimos exportar sacas de 60 quilos com valores que vão de R$ 2 mil a R$ 10 mil. Com nossos cafés mais básicos, por serem orgânicos, alcançamos preço de R$ 1,5 mil a saca”, diz o produtor. CAFETERIAS PRÓPRIAS Se tem algo que Anderson estuda tanto no segmento de cafés especiais quanto a qualidade é o comportamento dos consumidores desses produtos. “Quando estou fora, gosto muito de ir às cafeterias e lojas de café e ficar observando os detalhes, o que as pessoas olham nas embalagens, o que perguntam, o que pedem ao barista. Fico atento a esses conceitos, o que há de diferente para trabalharmos isso por aqui também”, relata. Essa minuciosa investigação

certamente será bastante útil aos planos de abrir cafeterias Minamihara dentro e fora do Brasil. O foco principal é o exterior, mas o projeto para o mercado nacional é ambicioso. Até pela localização à beira da Rodovia Cândido Portinari, uma estrada duplicada, o plano é ter uma loja conceitual, uma flagship que reúna visitação à fazenda e a experiência de acompanhar toda a preparação e o consumo do café. A ideia é que os clientes passem por algo inusitado em relação às sensações provocadas pela bebida. “Ainda que o cliente não saiba nada sobre cafés especiais, no mínimo surgirá uma curiosidade e com certeza será um primeiro passo para despertar a paixão por essa bebida”, aposta Anderson. “A gente sempre quer passar ao consumidor todo o carinho e o nosso empenho na produção desses cafés. E, quando a pessoa ouvir ou ler nossa história, conseguirá associar esses passos às características da bebida”, completa. Enquanto a loja própria aqui no Brasil ainda está no planejamento, é possível encontrar os cafés especiais Minamihara em algumas cafeterias de grandes centros, como São Paulo e Curitiba, ou pelo e-commerce. A loja virtual da empresa, cujo apelo é mais institucional do que comercial, também é estratégica, pois trata-se de um canal de vendas que diz muito sobre os consumidores e contribui para o posicionamento da marca. Outra forma de apreciar a diversidade de cafés da marca é convidar o Anderson para um almoço ou jantar na sua casa e pedir a ele que leve seu kit de barista. É sucesso na certa. PLANT PROJECT Nº10

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Fo

#ColunasPlant Futebol e agronegĂłcio na visĂŁo de um time de craques

FO R U M

Ideias e debates com credibilidade

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foto: Shutterstock


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FUTEBOL E AGRONEGÓCIO PODER FEMININO, VIVIANE TAGUCHI* Era um dia bem comum aqui em Malta, exceto pela expectativa de que o Brasil ainda pudesse, naquela sexta-feira, ganhar o jogo contra Bélgica, e resolvemos fazer uma atividade interativa durante a aula: cada um (15 pessoas diferentes, com idades entre 21 e 53, de diferentes nacionalidades), precisava falar sobre sua profissão, a definição teórica e a aplicação prática e suas especializações. E todos os outros perguntariam tudo o que quisessem. Para a minha surpresa – após contar que eu era jornalista, trabalhava com agronegócio há 15 anos, tinha MBA em Fitossanidade e já tinha estudado Direito do Agronegócio – recebi olhares estarrecidos. Menos dos japoneses e dos colombianos. A minha colega austríaca de 23 anos que estuda Artes não conseguia entender por que eu, jornalista, havia escolhido a agricultura, se poderia, por exemplo, escolher cinema. Argumentou que era mais interessante, que eu poderia encontrar pessoas interessantes e visitar lugares interessantes. Eu disse que fazia isso, o tempo todo. E ela continuava desacreditando no que estava escutando. Eu já estava ficando mais pistola que o canarinho da Seleção, até que olhei para a japonesa, que estava rindo (e mais vermelha que cereja), e ri também. Fazer o quê? A austríaca achava que a capital do Brasil era o Rio... Então, o meu colega suíço de 29, engenheiro civil, se manifestou. Ele disse que na Suíça, eles aprendem desde pequenininhos – meninos e meninas – a plantar, porque faz parte da educação deles entender como a comida aparece na mesa. Estava tudo bem até quando ele disse, "mas depois você não precisa mais fazer essas coisas, principalmente se você é mulher". Perguntei se ele não conhecia mulheres que trabalhavam na agricultura e ele respondeu que sim, mas que, sinceramente, ele não ligava muito. Aproveitei e contei a ele que tem um

suíço, o Ernst Goestch, que desenvolveu a agricultura sintrópica no Brasil, e que hoje, há muita gente praticando a técnica, e mostrei uma foto. Propositalmente, mostrei da esposa do Ernst, a Simaria. E o meu colega, na maior naturalidade, fez um gesto com a boca, tipo um biquinho de desaprovação (parecia biquinho de chupar ovo)... e ainda mandou essa: "Se ele é tão bom por que mora no Brasil?". Percebi que o meu ponto de apoio era a japa mesmo, porque olhei pra ela de novo. E, dessa vez, ela estava com os dois olhos esbugalhados pro suíço. A atleta colombiana pediu a vez e, ao invés de perguntar, contou que há uma imensa campanha de marketing rolando lá na Colômbia, para aproximar cidadãos urbanos dos rurais ("El Agricultor Primero"), mostrou vídeos que exibiam imagens de mulheres coletando café (óbvio – e nesse dia nem fiquei falando que o café brasileiro era melhor que o deles, porque eu sempre falo) e a loira, da Finlândia, de 2 metros, (até hoje não sei falar o nome dela) disse que era a coisa mais esquisita do mundo saber que tantas mulheres trabalham no campo "lá" na América do Sul. O climão tomou conta da sala e a professora maltesa resolveu contar sobre a família dela: avós agricultores, pais profissionais liberais. Puxou para a história da avó, que sempre apoiou o marido em tudo, inclusive no trabalho na fazenda de batatas, mas sempre foi muito conservadora, obedecia às regras do marido e, por isso, não quis que a filha casasse com outro fazendeiro. Arranjou um marido comerciante de pedras. Falamos um pouco sobre o comércio de pedras, de pedras preciosas e a indústria de vidros, área de mais uns dois ali na sala, até que a japonesa-cereja, que sempre fala baixo e ri com a mão na frente da boca, contou que estuda Agricultura (assim como o outro japonês, que quase semPLANT PROJECT Nº10

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pre está quieto e dormindo, mas que só tira 10 nas provas – provando que não importa de onde eles vêm, eles sempre vão tirar 10 nas provas). Aí os europeus piraram: Mais uma?? Como assim?? "Porque nós dois somos graduados em economia e queremos nos especializar em agricultura. Acho que no futuro, alimentos serão tão valiosos quanto água", disse a cereja, até que em um tom bem alto. Imediatamente, houve mais um levante sul-americano, e apenas o apoio de um alemão, que alegou que, por morar na região da Bavária, ele sabe o quanto a agricultura é importante e não vê distinção entre o trabalho ser feito por homens ou por mulheres. "Que diferença faz?", ele perguntou para o suicinho do beicinho. A aula acabou e nós (Brasil, Colômbia e Japão) fomos fofocar das europeias, ainda sobre o mesmo tema – e um pouco sobre outras coisas, admito. À noite, perdemos para a Bélgica no futebol e claro que milhares de pessoas na rua mexiam com a gente, cantavam "Neymar Tchau, tchau, tchau...". Eu já tinha aquela resposta padrão pronta para calar a boca deles: "Tudo bem, nós temos 5 estrelas. E

vocês?". Mas pensando bem, eu poderia ter falado: "Ei, europeu, eu tenho a agricultura mais diversificada, a maior biodiversidade, ainda tenho árvores, sou mulher, uso botas, não me importo de sujar as mãos de terra. E vocês?" Pensei bastante nisso e checando as redes sociais, percebi que tudo o que o brasileiro faz é se comparar com os europeus: "Ah, eles usam menos agrotóxicos; ah, eles têm políticas de inclusão de gêneros; ah, eles têm programas de reflorestamento; ah, isso, ah, aquilo". Ei, parem com isso, porque eles não têm nada disso quando o assunto é o campo. Seus jovens são sexistas, e quando não estranham uma mulher tocando um negócio rural, eles ignoram. Eles não usam agrotóxicos porque não tem calor e umidade o ano todo e nem mais espaço para plantar. Eles reflorestam porque já derrubaram tudo – e tudo mesmo. Hello, Brazil! Não somos bons apenas no futebol, não, somos excelentes na agricultura, na pecuária e na diversidade no campo. Ainda temos que evoluir muito, mas, por favor, vamos parar de achar que a grama dos europeus é mais verdinha.

Viviane Taguchi é jornalista especializada em agronegócio, caipira com orgulho, especialista em instalações de chuveiros, viaja pelo mundo sozinha, e se sente desafiada a cada “você não pode fazer isso”.

UMA IDEIA QUE NÃO PODE DECOLAR AGRO COM ASAS, POR TIAGO DUPIM* O que seria do agribusiness sem a aviação agrícola? Certamente o dia a dia não seria fácil. Mas parece que quem propõe, discute e aprova leis no País tem pouco conhecimento sobre isso. Parte do estudo intitulado Aplicação Aérea de Defensivos Agrícolas – Impactos econômicos e sociais do banimento da atividade, que começou a ser divulgado semana passada, indica que a ausência da aviação no agro provocaria prejuízos incomensuráveis à economia brasileira.

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Numa simulação até 2022, a perda na exportação de soja seria de mais de 500 milhões de toneladas. No algodão, uma queda de 1,7 milhão de toneladas (reduzindo a quase zero). No arroz, a diminuição seria de um acumulado de 172 milhões para apenas 4 milhões de toneladas nas exportações. O estudo apenas reforça o quão sem sentido são algumas ideias que surgem por meio dos nossos mandatários. Recentemente, o deputado estadual Tadeu Veneri (PT) apresentou um projeto que pretende


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Fo proibir a pulverização aérea de defensivos agrícolas nas lavouras do estado do Paraná. O argumento adotado pelo político para fundamentar o projeto parte de estudos nacionais e internacionais que, segundo ele, demonstram uma periculosidade de uso de agrotóxicos nessa modalidade. Ora, mas, no caso, o avião é apenas a ferramenta, e certamente esse não é o problema, mas sim a má utilização dela. Além disso, os mesmos defensivos aplicados por avião são usados também em aplicações terrestres. Há dosagens, métodos e momentos certos para aplicação. Nada é feito por acaso. A regulamentação da aviação agrícola no Brasil é extremamente rígida e exige das empresas do setor uma série de requisitos para entrar em operação. Entre eles, podemos citar a necessidade de uma equipe com um engenheiro agrônomo, um técnico agrícola com especialização em operações aeroagrícolas, um funcionário responsável pelo SGSO (Sistema de Gerenciamento da Segurança Opera-

cional) e um piloto altamente qualificado. O voo na lavoura não é fácil, pois exige extrema perícia do piloto para voar em baixíssimas altitudes carregado de litros e mais litros de produtos químicos, com o agravante de operar geralmente em pistas com pouca estrutura. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab ), dos cerca de 70 milhões de hectares cultivados no Brasil atualmente (59 milhões de grãos, mais 9 milhões de cana-de-açúcar e 2,2 milhões de café), a aviação agrícola atua em torno de 25% das lavouras. Além disso, gera milhares de empregos direta e indiretamente. A aviação agrícola brasileira atualmente é uma das mais desenvolvidas do mundo, tanto no que se refere à tecnologia como à segurança nas operações. Para um país que produz quase três safras por ano, deixar as aeronaves agrícolas no chão é golpear o setor (e também o agronegócio) de maneira fatal. Ainda bem que muitas das elucubrações vindas dos políticos ficam apenas no papel.

Com 13 anos de experiência no mercado aeronáutico, o paranaense Tiago Dupim atuou como repórter, editor executivo e editor-chefe de algumas revistas do setor. Atualmente, comanda a B2B Comunicação. Morou duas décadas em São Paulo e está há dois anos no Rio de Janeiro. Nas horas vagas (que são muito poucas) gosta de ouvir um bom rock’n’roll, beber um bom vinho ou cerveja e acompanhar, mesmo que a distância, o Clube Atlético Paranaense, seu time de coração.

O AGRO É MASTER, CHEF! A COMIDA COMO ELA É, POR IBIAPABA NETTO

Quem gosta de comida e da boa e velha arte de preparar um prato certamente já deparou com alguns dos diversos programas de culinária existentes no mundo televisivo. Seja na TV a cabo, na Netflix, seja em qualquer outra plataforma, fugir desses seriados é tão difícil quanto não ficar com fome ao fim de cada episódio. Há, porém, alguns aspectos que considero realmente interessantes nessa grande celebração que se criou em torno da comida e dos profissionais que a preparam.

Os chefs de cozinha são os novos alquimistas, magos que na Antiguidade perseguiam a máxima de transformar chumbo em ouro. Esses novos alquimistas transformam ingredientes em pequenas obras de arte comestíveis que podem, em muitos casos, superar o valor de uma cesta básica, ou usando uma licença poética, ser vendidos a preço de ouro. Exageros à parte, a galera "Master Chef" tem feito grande trabalho em valorizar esse bem sagrado que é tudo aquilo PLANT PROJECT Nº10

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Seguimos falando de nossa importância para a balança comercial, enquanto o consumidor se preocupa mesmo é com o seu peso na balança e olhe lá... Nos preocupamos em falar quantos empregos geramos, enquanto o consumidor se preocupa em empregar seu tempo da melhor forma possível com as delícias que a vida urbana pode proporcionar. Com geladeira e barriga cheia, claro, afinal, o responsável por fornecer alimento é o supermercado, certo? Hoje a maior campanha em curso para falar do agronegócio diz que o agro é pop, agro é tech, agro é tudo. Mas a verdade é que o agro não é nada pop. Não existem influenciadores com massa crítica de seguidores capazes de mobilizar qualquer conceito que seja em benefício do agro nas redes sociais e as boas referências que temos em nosso setor falam apenas para dentro de nossa própria cadeia de valor sem reverberação na sociedade. A população não entende “o agro", mas entende de comida, de churrasco, de salada, de peito de frango grelhado, de suco de laranja. A população entende o valor da comida, mas não valoriza o agronegócio que produz essa comida. Espero que um dia possamos falar de comida com a mesma desenvoltura com que falamos dos números que produzimos. Quem sabe nesse dia sejamos master em vez de pop. Porque no fundo, o consumidor é o chef.

que colocamos no prato: a comida, não exatamente do jeito que ela é, mas como sonhamos que ela seja. Essa turma ensina que é preciso respeitar a alimentação. Mas, apesar de todo esse culto em torno da arte culinária, é cada vez mais notória uma certa negação ao agronegócio entre chefs estrelados. E é justamente o agronegócio que proporciona, literalmente, o ganha-pão dessa moçada. Recentemente, uma renomada chef postou em sua conta numa rede social o resultado de uma consulta pública na internet sobre a lei dos alimentos mais seguros, que prevê uma série de evoluções no sistema de registro de defensivos (ou agrotóxicos, como preferem). A referida consulta seguia até que equilibrada entre votos contrários e favoráveis ao projeto de lei até que algumas "personalidades" entraram no jogo, pediram para que seus seguidores votassem contra e a mágica aconteceu. Mais uma lavada contra o agronegócio. As maiores autoridades em comida, aqueles que possuem espaço na televisão, audiência nas redes sociais e autoridade moral perante o público não gostam do agronegócio e o agronegócio não faz nada para mudar isso. Pior: em alguns casos tentamos desqualificar essas pessoas por serem "de fora" e por "não entenderem do negócio". Fica uma pergunta: alguém tentou explicar?

Ibiapaba Netto, 42 anos, é jornalista e cursa o MBA de Economia e gestão em relações governamentais na FGV. Trabalhou em alguns dos mais importantes veículos de comunicação do Brasil, tendo sido repórter no jornal O Estado de São Paulo, repórter e editor na revista Dinheiro Rural. Ao longo de sua carreira, se especializou na cobertura do agronegócio brasileiro, assim como na cobertura nas questões ligadas aos desafios para a produção de alimentos no mundo. Desde 2013 ocupa o cargo de diretor executivo da CitrusBR.

A ONÇA NA FAZENDA PRECISA SER POP AGROAMBIENTAL, POR CAIO PENIDO* Ao visitar o Instituto Onça-Pintada (IOP), em Mineiros (MS), imaginei que iria visitar o Parque das Emas, conheci-

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do parque nacional, para ver animais da fauna brasileira. Qual não foi minha surpresa quando percebi que passávamos


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Fo várias vezes no portal do parque, mas sempre a caminho de fazendas. "Não vamos entrar no parque?", perguntei. Foi então que Leandro Silveira, biólogo e fundador do IOP, adentrou no portal e me mostrou a estrutura simples do parque. Explicou, então, que os animais nativos estavam vivendo cada vez mais dentro das propriedades rurais privadas. Que paradoxo!, pensei. O parque queima quase todos os anos e o governo não tem verba para manter um efetivo de manutenção e fiscalização para atender às demandas da Unidade de Conservação. Assim, a fauna é caçada no seu interior, atropelada nas estradas vicinais ou morta em incêndios. Em contrapartida, nas fazendas da região a produção de alimentos é abundante: o milho, a soja e a cana atraem os queixadas. As onças vêm atrás dos queixadas e também dos bezerros. Pensando agora parece até óbvio: onde você escolheria para viver? Os produtores fizeram grandes investimentos nas suas fazendas e não podem se dar ao luxo de permitir que um incêndio prejudique a produtividade e o seu resultado financeiro. Ao cumprir a legislação ambiental, as Reservas Legais e APPs conservadas (ou em processo de regularização) servem como abrigo para os animais. Outro fator que estimula esse cuidado é o alto gasto com multas e embargos, pagamento de advogados, técnicos florestais etc. Por isso, ou por consciência, protegem suas florestas e a biodiversidade hoje é preservada nas fazendas. Contei a ele de nossa experiência com a Liga do Araguaia, um movimento de iniciativa de pecuaristas do médio Vale do Araguaia, no Mato Grosso, para a intensificação sustentável da pecuária e regularização ambiental. Nessa região, a perda crescente de bezerros abatidos pelos felinos presentes nas fazendas é um assunto preocupante. Animal loca-

lizado no topo da cadeia alimentar, as onças são um forte indicativo da presença das demais espécies da fauna local. Leandro então sugeriu a colocação de câmeras ativadas por sensores de movimento para comprovar a existência dos animais. Passados dois meses, recolhemos as câmeras e fui eu, cheio de expectativa, assistir aos vídeos. Leandro alertou que, às vezes, demorava muito tempo para aparecer uma onça-pintada. Para minha surpresa havia muitos felinos: pintadas, pardas, gato-maracajá e jaguatirica. Ao mostrar para amigos, compreendi o poder dessas imagens. Acostumado a discussões intermináveis com pessoas inteligentes e engajadas, sempre tenho dificuldade em explicar que o Brasil é uma potência agroambiental, e que o agro não é inimigo do meio ambiente. A lavagem cerebral foi tão forte nos últimos dez anos que as pessoas simplesmente não reconhecem que temos mais de 60% do território brasileiro com vegetação nativa riquíssima em biodiversidade. Com os vídeos no celular eu simplesmente mostro aos leigos que se mostram interessados e começam a perguntar: "Tem mata nas fazendas?", "Tem onça nessas matas?", "O Brasil tem muita floresta?". A estratégia foi tão eficiente que outros produtores da Liga do Araguaia também quiseram registrar os animais silvestres em suas fazendas. Esses vídeos encontram-se disponíveis nas redes sociais para tentar mostrar ao cidadão comum a realidade do campo, pouco conhecida nas cidades. Enfim... uma forma de mostrar a verdade sem gerar radicalismo, desgaste e fogo amigo. Afinal somos todos brasileiros e deveríamos estar unidos mostrando nossas qualidades agroambientais e lutando contra os verdadeiros inimigos, que nem conseguimos identificar... *Com Leandro Silveira, do IOP

Ativista agroambiental e empresário, Caio Penido é pecuarista no Mato Grosso e trabalha na articulação da Liga do Araguaia, onde lidera projetos de pecuária sustentável: Projeto Carbono Araguaia, Projeto Campos do Araguaia, Projeto Garantia Araguaia e parceria com a Embrapa Gado de Corte, entre outras atividades. PLANT PROJECT Nº10

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#COLUNA ESALQUEANOS

ADEALQ - HÁ 75 ANOS CONECTANDO ESALQUEANOS

ESALQ - USP

A EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA NO BRASIL POR RUBENS BENINI (RAPUNZEL F-98) *

De tempos em tempos, tudo e todos precisam evoluir. No entanto, essa transformação não significa necessariamente desenvolvimento. Nem sempre algo que se transforma vai evoluir ou mudar para melhor. Algumas coisas se transformam porque sofrem alguma pressão externa e outras, simplesmente, porque alguns decidem alterar. Estamos falando de temas que vão desde um simples logo institucional até mudanças de comportamento e no uso e ocupação do solo. Muitas vezes mudanças trazem desconforto, polêmica e costumam incomodar os envolvidos. Porém, quase sempre são necessárias. No que se refere à evolução do uso da terra no Brasil, é necessário rever os fatores que motivam tais transformações. O País teve seu nome derivado de um produto que gerou seu primeiro ciclo econômico. O pau-brasil foi explorado e comercializado por mais de três séculos e há registros da Armada de Noronha apontando trocas de 150 toneladas de pau-brasil por 70 kg de ouro. Esse fato mostra que o aspecto econômico foi e continua sendo o maior dos fatores motivadores na decisão do uso do solo e exploração de seus recursos naturais. O primeiro ciclo econômico brasileiro não alterou significativamente o uso do solo. A mudança ocorreu com a chegada de outros ciclos: mineração, café, pecuária e agricultura. Em regiões centrais do País, o histórico de alteração significativa tem menos de cinco décadas. Hoje, o território brasileiro, coberto com mais de 60% de vegetação nativa, utiliza pouco mais de 30% de sua área para produção agropecuária. Ainda assim, tem um passivo ambiental de mais de 2% de seu território, o que significa que, para se adequar à legislação florestal, seria necessário restaurar cerca de 21 milhões de hectares. No início dos anos 1980, quando residia no município de Sinop (MT), vi produtores rurais serem incentivados a realizar as mudanças no solo, em prol da colonização do Brasil Central.

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Para isso, recebiam maquinários e incentivos do governo local para abrir suas áreas. De lá para cá, não apenas mudanças no solo ocorreram, mas mudanças comportamentais e de paradigmas. O homem passou a entender a natureza e a compreender a relação entre água e floresta. Hoje, não há mais espaço para o antagonismo meio ambiente versus produção, mas sim meio ambiente aliado à produção, onde a ciência passa a comprovar que a presença de floresta é essencial para a regulação do ciclo hidrológico, incluindo a frequência pluviométrica. A vegetação nativa passa a ser reconhecida como área de abrigo a insetos polinizadores, essenciais para incrementar a produtividade de culturas agrícolas. Nas últimas quatro décadas, a produtividade de grãos no Brasil aumentou em mais de 250% e diversos estudos apontam que, mesmo com a previsão de crescimento populacional, não é mais necessário abrir novas áreas para garantir a segurança alimentar. Pensar em fazer um bom uso da terra, necessariamente, envolve um planejamento estratégico, em que se deve olhar obviamente para a vocação da área e para as perspectivas econômicas no contexto de toda a propriedade, incluindo infraestrutura, agricultura, pecuária e florestas. O Brasil possui muita expertise e excelentes profissionais que podem e devem continuar inovando em busca do aumento da produtividade, levando em consideração o uso da terra de forma racional. Esse é o caminho para continuarmos buscando nossa missão gloriosa e transformar de fato o nosso País no celeiro do mundo, com uma agricultura e setor florestal sustentável e competitivo. * Ex-morador da Disbwm, líder da estratégia de restauração na América Latina da The Nature Conservancy.


Caminho do mar Trator em lavoura de soja no Sealba: região litorânea do Nordeste vira promessa na produção de grãos

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FRONTEIRA

As regiões produtoras do mundo

foto: Tarcísio Albuquerque PLANT PROJECT Nº10

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FRONTEIRAS

As regiĂľes produtoras do mundo

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NO TABULEIRO DO SEALBA TEM... Soja, milho e outros grãos ganham espaço da cana em uma improvável fronteira: os Tabuleiros Costeiros entre a faixa litorânea e o Agreste de Sergipe, Alagoas e o nordeste da Bahia

Por Ivana Ramacioti, de Salvador | Fotos de Tarciso Albuquerque

Lavoura de soja na região de Porto Calvo (AL): regime de chuvas faz com que a cultura seja feita no inverno PLANT PROJECT Nº10

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uando se fala em lavouras tradicionais da faixa litorânea de alguns estados do Nordeste, a resposta é quase automática: o cinturão do milho em Sergipe, a cana-de-açúcar em Alagoas e a cultura de citros na Bahia. O que a história conta e o que vem à mente é a imagem do reinado dessas monoculturas que, durante séculos, construíram verdadeiros impérios, passados de geração em geração, desbravadores de uma região próspera desde os tempos do descobrimento do Brasil, quando Pero Vaz de Caminha descreveu suas primeiras impressões sobre a terra nova ao rei Dom Manuel I, no ano de 1500. O fato é que nem Caminha imaginava que o litoral nordestino fosse tão promissor. Hoje as monoculturas de milho, cana-de-açúcar e citros estão dando espaço a uma atividade bem diferente. O cultivo de grãos na faixa das terras de transição entre o Agreste e o Semiárido vem se mostrando uma alternativa viável e surpreendente para a superação dos grandes problemas enfrentados pelas monoculturas tradicionais. Para quem gosta de desafios e não tem medo de mudanças,

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a rotação de culturas dos grãos no Sealba – acrônimo dos estados de Sergipe, Alagoas e Bahia – tem despertado interesse de diversos produtores de todo o País. Esse novo oásis do grão brasileiro, em verdade, foi iniciado em solo alagoano no ano de 2003, quando um pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Soja) de Londrina fez experimentos no município de Arapiraca e Coruripe. Mas, com o pouco incentivo das iniciativas públicas e privadas, o projeto caiu no esquecimento apesar dos relatos de bons resultados. Somente em 2013 a Embrapa retomou as pesquisas, estabeleceu políticas territoriais e promoveu uma rede de experimentos capaz de renovar o fôlego dos produtores. No ano seguinte a instituição consolidou o conceito regional do Sealba, mapeando 171 municípios nos três estados. “Nós percebemos que na faixa litorânea, abrangendo regiões próximas à Caatinga, que chamamos de Agreste, existiam diversas cidades com características interessantes para a produção de grãos, com capacidade de, pelo menos, uma safra por ano”, explica


Sealba

Sérgio Procópio, pesquisador da Embrapa. Ao observar aspectos como topografia, solo e levantamento histórico de chuvas dos últimos 30 anos, os pesquisadores da Embrapa chegaram à conclusão de que, no Sealba, o plantio de grãos seguiria uma lógica diferente do que acontece em outras partes do País. A principal característica é que, ali, eles seriam uma cultura de outono/inverno, enquanto na maior parte do Brasil ocorre na primavera/verão. “O período tipicamente chuvoso do Sealba se inicia na segunda quinzena de abril e termina na primeira quinzena de setembro”, explica Procópio. “Os produtores plantam, normalmente, em maio. A soja se desenvolve no começo do outono, se estende pelo inverno e é colhida no finalzinho dessa estação.” Além disso, diz, as pesquisas apontaram que havia uma gama de municípios do Sealba com histórico de precipitação pluviométrica, solos férteis e topografia favorável. A partir desses dados, a Embrapa fez o zoneamento das áreas, comunicou aos governos estaduais sobre a intenção da promoção de políticas territoriais de fortalecimento e atração de investimentos para o negócio, além de políticas públicas de desenvolvimento da cultura de grãos. “Assim, entre 2014 e 2015, nasceu o conceito regional do Sealba, com uma rede de experimentos de soja inicialmente voltada para cultivares,

estabelecendo alguns polos na Bahia, Sergipe e Alagoas”, conta o pesquisador. A proposta do Sealba foi apresentada aos governos e os primeiros municípios a aceitar o novo desafio foram Paripiranga (BA), Rio Real (BA), Umbaúba (SE), Nossa Senhora das Dores (SE), Frei Paulo (SE), São Miguel dos Campos (AL), Campo Alegre (AL), Porto Calvo (AL), Jundiá (AL) e Anadia (AL). Último estado a aderir à proposta, o governo de Alagoas decidiu formar uma Comissão Estadual de Grãos, trazendo uma rede de pesquisa com unidades demonstrativas sediadas em solo alagoano. “Esse apoio foi fundamental para dar continuidade aos trabalhos e, a partir daí, pudemos procurar respostas mais específicas para o bom desenvolvimento da atividade como cultivares mais adaptadas, aspectos relacionados à adubação, controle de pragas e doenças, até criar um sistema de produção eficiente.” Procópio não esconde a satisfação de poder constatar que uma região, antes considerada não apta para a soja, esteja respondendo tão positivamente. Após o intenso trabalho de zoneamento de risco climático, o fornecimento de documentação para a Embrapa e para o Ministério da Agricultura (Mapa), os 171 municípios mapeados passaram a ter direito a seguro agrícola, financiamento, além de outras ferramentas de incentivo para dar segurança e condições de desenvolvimento às lavouras.

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Convivência de culturas em Anadia (AL): de um lado da estrada, a tradicional cana; de outro, o milho (foto maior). Na imagem aérea, cana, arroz, milho e soja em talhões vizinhos. E um trabalhador na lavoura de milho da Sementes Santana, em Anadia

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“Nas últimas cinco safras, tivemos três muito boas e duas ruins, com problemas de déficit hídrico. Então, calculamos a média da produtividade desses anos e comparamos com a média dos estados do Nordeste, sul do Maranhão, sul do Piauí e oeste da Bahia. E chegamos à conclusão de que a média de produtividade do Sealba não está distante da média registrada no Matopiba, mesmo com as oscilações climáticas registradas nos últimos tempos”, ressalta Procópio. VANTAGENS COMPETITIVAS Na avaliação da Embrapa Tabuleiros Costeiros, além dos solos férteis, topografia e histórico de chuvas favoráveis, quem produz no Sealba tem outras vantagens competitivas, como amplitude térmica. Durante o dia as temperaturas alcançam entre 28 °C e 29 °C, e no período da noite, chegam a 19 °C ou 20 °C. “Considerando a parte fisiológica da soja, essa amplitude térmica é perfeita para a cultura porque as noites não são quentes. Já na região do Matopiba, as temperaturas de cultivo são muito 88

altas, tornando a necessidade hídrica muito maior”, salienta. O Sealba é dividido em duas grandes regiões: os Tabuleiros Costeiros, mais próximos do litoral, e o Agreste. Boa parte da região Agreste do Sealba possui solo ácrico, um dos mais férteis do Brasil, com altos teores naturais de potássio, magnésio e cálcio. Falta apenas um pouco mais de chuva. “Nesse caso, quando os índices pluviométricos são considerados normais, a consequência da união desses fatores é uma alta produtividade no Agreste”, frisa Procópio. Por outro lado, nos municípios dos Tabuleiros Costeiros há uma incidência maior de chuva. O solo, porém, é menos fértil. “Nessa região, temos argissolos, onde a camada superficial é mais arenosa e ocorre o adensamento de argila em subsuperfície. Então, são solos que exigem investimento maior em adubação e inserção de braquiárias para produzir raízes que melhorem a infiltração de água no solo”, pondera o pesquisador. Em função desses fatores e diferenças regionais, os números

de produção ainda são muito variáveis. Segundo Procópio, em condições ideais, alguns produtores já alcançaram 75 sacas/ha em áreas comerciais e em anos ruins conseguiram apenas 30 sacas/ha. “Trata-se de uma cultura nova. O produtor do Sealba, em sua maioria, não tem tradição nesse agronegócio e vem de um histórico familiar de cultivo bastante diferente. O desafio deles é ainda maior se considerarmos a quebra do paradigma da monocultura tradicional”, avalia. Ainda assim, Procópio acredita que o cultivo de grãos é promissor porque há uma grande demanda por farelo de soja, componente importante para a alimentação animal, tanto na bovinocultura quanto na avicultura da região. “Outra vantagem do Sealba é o período de colheita das sementes. Enquanto o Matopiba e outras regiões estão plantando em novembro ou final de outubro, o Sealba colhe entre setembro e começo de outubro”, com isso, o Sealba produz semente de alta qualidade para ser comercializada logo em seguida, sem necessidade de armazenamento ou irrigação.


Sealba

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Campo de testes da Embrapa e detalhe de lavoura de milho: amplitude térmica perfeita para os cultivos

“O produtor faz sua colheita, leva as sementes para uma unidade de beneficiamento para ensacar e distribuir. Algumas grandes empresas já perceberam essa característica da região, o que torna o cultivo de grãos bastante competitivo.” Tudo isso sem falar das vantagens logísticas. A localização do Sealba é estratégica pela proximidade com terminais portuários dos três estados, o que garante uma redução significativa nos custos com frete para entrega e exportação da produção. O pesquisador lembra, entretanto, que o cultivo da soja não deve ser encarado como monocultura. “Esse tipo de lavoura cresce dentro de um sistema de produção, utilizando plantas com finalidade de melhoria de solo como milho, sorgo, braquiárias, numa perspectiva de rotação e de consórcio. Assim o produtor do Sealba terá sustentabilidade sob o ponto de vista da fitossanidade e da qualidad e de solo”, finaliza. DESAFIOS Mesmo com tantas vantagens, a nova cultura também tem seus desafios no Sealba. Ainda são escassas as unidades de armazenamento e secagem de grãos, poucas cooperativas de produtores rurais e a limitação de políticas agrícolas precisam ser melhoradas. Como a monocultura tradicional ainda prevalece, o preparo convencional do solo é predominante nas áreas de produção de grãos. Assim,

a conservação de água em função da camada adensada nos argissolos põe em risco o desenvolvimento das lavouras com os encharcamentos. Outro ponto de vulnerabilidade é o residual de herbicidas nas antigas regiões de cana-de-açúcar, que traz prejuízos para os grãos cultivados em sucessão. As revendas agropecuárias regionais, também acostumadas com as monoculturas, ainda não possuem estoque de insumos direcionados aos grãos e a assistência técnica deverá ser ampliada. “O que temos visto são produtores de outros estados interessados em fazer a segunda safra no Sealba e, se essa movimentação continuar aumentando, a região precisará de infraestrutura para atender às necessidades”, analisa o pesquisador.

Igreja do tempo dos engenhos em Jundiá (AL) e sementes de soja produzidas na região: novo ciclo econômico

DESBRAVADORES Assim como Pero Vaz de Caminha e Pedro Álvares Cabral adentraram no litoral brasileiro para descobrir e relatar as riquezas do País, o Sealba precisou de desbravadores para mostrar que um novo oásis dos grãos poderia surgir na faixa litorânea dos estados de Sergipe, Alagoas e Bahia. Entre eles, Sérgio Papini de Mendonça Uchôa, engenheiro e economista, 57 anos, junto com seu cunhado Alexandre Gondim da Rosa Oiticica, produtores de Porto Calvo (AL). O cultivo de cana-de-açúcar e pimenta-do-reino na Fazenda Surubana, PLANT PROJECT Nº10

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Sealba

O QUE É O SEALBA PERNAMBUCO

PIAUÍ

Acrônimo de Sergipe, Alagoas e Bahia, utilizado para denominar a área com influência costeira e características propícias ao cultivo de grãos

ALAGOAS BAHIA

Área total de produção: 5,15 milhões de hectares

SERGIPE

Número de municípios: 171 Principais culturas: cana, soja, milho, sorgo, arroz de sequeiro Principais biomas: Mata Atlântica (68%) e Caatinga (32%)

há quatro anos, deu lugar aos grãos, totalizando 210 hectares plantados de uma área inicial de 55 hectares. “Já tínhamos vontade de testar o plantio de soja, mas os sojicultores que eu conhecia de outras regiões sempre falavam que ela não se adaptaria às características de solo e clima da nossa região”, diz. Decidido a tirar essa dúvida, em 2014, Papini foi conhecer a plantação de soja de um amigo em Goiás e se surpreendeu ao saber que já estavam plantando soja até no Maranhão, local cujo regime pluviométrico e altitude eram muito próximos aos de Alagoas, e que tinha tudo para dar certo. O maior desafio foi calibrar as variedades que mais se adaptassem à região e definir a melhor janela de plantio. “Mas, hoje, participamos ativamente da Comissão Estadual de Grãos e dispomos de um campo experimental da Embrapa em nossa fazenda, o que muito nos ajuda na escolha das variedades mais adequadas à nossa região”, 90

garante o produtor. Nos últimos dois anos a produtividade alcançou 60 sacas/ha. Outra dificuldade apontada pelo produtor é a falta de estrutura para secagem e armazenamento dos grãos. Mas, ainda assim, Papini pensa em ampliar a produção. Na Bahia, a aposta de Hildebrando Ferreira Neto, 53, administrador de empresas, foi o milho. Há quatro anos ele cultiva 500 hectares do grão e já está na terceira safra, com uma produtividade de 130 sacos/ha na Fazenda Catu Grande, município de Itapicuru. “Apesar de todas as dificuldades relacionadas à infraestrutura e da pouca assistência técnica, a cultura de grãos na região dos Tabuleiros Costeiros tem tudo para prosperar”, avalia o produtor. Segundo ele, a alternância de culturas é importante não apenas para o aspecto econômico, mas também para a qualidade do solo. Pensando nisso, na última safra, ele resolveu plantar 20 hectares de soja a título de

experimento para consumo interno. “Estamos numa curva de aprendizado e as vantagens competitivas da nossa região não deixam dúvidas de que o cultivo de grãos vai ocupar um espaço cada vez maior, até se tornar mais uma opção de agronegócio para o produtor”, destaca Ferreira, ressaltando que o zoneamento agrícola coordenado pela Embrapa em 2016 e publicado pelo Ministério da Agricultura abriu o caminho para a criação do seguro agrícola e de linhas de financiamento junto aos bancos, dando mais solidez para a cultura dos grãos. “Nossas grandes barreiras, no entanto, não são as questões econômicas ou estruturais. Acredito que o maior desafio é cultural. Por isso, entendo que vai sair na frente quem apostar no novo e for mais ousado”, diz Ferreira. Diante desse cenário tão promissor, a Carta de Pero Vaz ainda é um documento bem atual já que “nesta terra, em se plantando, tudo dá” mesmo.


Pomares de pistaches no deserto da Califórnia Por trás de cada árvore, um bilionário de Beverly Hills e um roteiro digno de Hollywood

W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

foto: Divulgação

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W WORLD FAIR

A grande feira mundial do estilo e do consumo

Vista aérea da fazenda da Wonderful em Lost Hills, na Califórnia: enormes canais de irrigação para plantar um oásis produtivo

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UM REINO NO DESERTO Como o bilionário americano Stewart Resnick levou água para grandes áreas inóspitas da Califórnia, tornando-se o maior fazendeiro dos Estados Unidos e um dos empresários mais polêmicos do país Por Amauri Segalla

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W Personagem

É

impossível ler a monumental reportagem publicada recentemente pela revista americana The California Sunday Magazine sem se incomodar com os métodos do empresário Stewart Resnick. Uma frase é especialmente demolidora: “Resnick não tem uma única explicação decente para a sua fortuna”, escreveu Mark Arax, autor do texto e escritor premiado, que planeja lançar em breve um livro sobre o despertar agrícola da Califórnia. Arax acompanha a trajetória de Resnick há três décadas, mas foi só nos últimos anos que ele começou a se interessar de verdade pelo personagem. E isso por uma razão particular. A partir de 2013, as terras californianas enfrentaram uma das maiores secas da história, que destruiu lavouras inteiras e gerou perdas bilionárias. Não para Resnick, hoje o maior fazendeiro dos Estados Unidos, e que continuou a se deleitar com o verde de suas plantações – apesar da paisagem desértica das fazendas vizinhas. Como se deu o milagre? Resnick, diz o autor da reportagem, pode ter se apropriado de maneira ilegal de reservas de água que são públicas e, tão grave quanto, desviado o líquido precioso de outros fazendeiros. Apesar da trajetória empresarial exuberante, Resnick sempre se manteve longe dos holofotes, o que é algo incomum para alguém da sua posição (especialmente nos Estados Unidos, onde os bilionários costumam flertar com o universo das celebridades). Nos últimos 20 anos, ele não deu mais do que meia dúzia de entrevistas, a maioria delas furtivas e que pouco contribuíram para tirá-lo das sombras. O jornalista Mark Arax foi uma exceção. Depois de a secretária de Resnick bater o telefone na cara do jornalista incontáveis vezes e de um sem-número de e-mails não respondidos, o rei da Califórnia finalmente concordou em receber o escritor. No primeiro encontro

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entre eles, Resnick explicou por que evitou a imprensa durante a maior parte da vida. “Quando você está ganhando dinheiro com o que eu faço, qual é o lado positivo da história?”, questionou. “Prefiro ser desconhecido.” A ironia é que Resnick tinha razão – ao dar a entrevista e se expor, ele permitiu que um lado pouco lisonjeiro de sua trajetória se tornasse público. A reportagem escancarou os motivos que levaram o fazendeiro a lutar para se manter no anonimato. Resnick é fundador da companhia Wonderful, a gigantesca holding que detém marcas como as famosas águas Fiji, e que também é a maior produtora de amêndoas, pistaches e suco de romã dos Estados Unidos. Arax se refere a Resnick como um “devorador de terras”, e isso parece não ser exagero algum. Toda a sua produção fica em Lost Hills, uma pequena


Resnick, com a mulher, Lynda, e a capa da The California Sunday Magazine: reportagem revela relações entre o empreendedor e a maior estiagem da história na região

cidade de trabalhadores rurais no pacato condado de Kern, na Califórnia. É possível chegar lá pela Highway 99, a estrada mais letal dos Estados Unidos, e que corta boa parte do Vale de São Joaquim. Nas tardes quentes de verão, “faz 33 °C à sombra”, como descreveu o jornalista – ou mais, como fazem questão de lembrar os agricultores locais. Arax foi à região para descobrir como os fazendeiros mantêm vivos, durante a seca, não só pomares e vinhedos, mas também as plantações de amêndoas (79 mil acres), pistaches (73 mil acres) e tangerinas (13 mil). Resnick controla as terras mais produtivas, que parecem imunes às forças da natureza. Lost Hills sofreu uma das mais dramáticas alterações da superfície dos Estados Unidos. Suas colinas foram achatadas por máquinas pesadas e os caudalosos rios que desciam a serra acabaram desviados para a formação de valas, diques, canais e represas. A neve derretida das montanhas foi cercada, os pântanos canalizados e boa parte dos 800 quilômetros quadrados do lago Tulare, onde cavalos selvagens saciavam a sede um século

atrás, terminaram sendo drenados. No início, toda essa manobra foi feita a fim de obter trigo e depois carne, leite, passas, algodão e nozes. Durante um tempo, ela foi suficiente para atender à produção dos fazendeiros estabelecidos naquelas terras há várias gerações. A chegada de Resnick, que trouxe o seu apetite insaciável, mudou tudo. Ele começou a produzir em escalas inimagináveis, e para isso precisava de quantidades cada vez maiores de água. Como a região é rica em bancos de água subterrâneos, Resnick assinou uma carta de intenções com as autoridades municipais e estaduais para explorá-los. Sentindo-se livre para pegar o que encontrasse pela frente, ele começou a construir espécies de oleodutos por toda a região – e a retirar água descontroladamente, inclusive de reservatórios subterrâneos que deveriam ser usados por fazendas vizinhas, segundo o que regia o acordo feito com os entes públicos. Resultado: sobrava água para Resnick na mesma medida em que faltava para os outros. Na reportagem publicada pela California Sunday Magazi-

ne, o jornalista Mark Arax revela as delicadas relações por trás desse processo. A Wonderful, a empresa de Stewart Resnick, obtém os seus lucros com as árvores que são mantidas verdes pela Autoridade de Banco de Água de Kern. Essa instituição, que tecnicamente é uma agência pública, é controlada pela Paramount Farming Corporation, subsidiária da Roll Global, companhia que pertence ao bilionário Resnick. Para simplificar: de certa forma, ele é dono da agência que deveria fiscalizá-lo. A questão foi parar na Justiça e está longe de ser resolvida. Todos esses artifícios explicam por que Resnick é um devorador de terras. Como ele detém o controle da água, vital para o desenvolvimento das lavouras, só suas fazendas continuam fartamente produtivas em tempos de seca pesada, como a que varreu a Califórnia nos últimos anos. Sem condições de competir, alguns fazendeiros são obrigados a vender áreas imensas – e não é difícil imaginar quem está de prontidão para comprá-las. Resnick, obviamente. A trajetória de Resnick é espetacular. Ele não nasceu no PLANT PROJECT Nº10

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W Personagem

A apresentadora Oprah Winfrey e a atriz Constance Zimmer com o suco Pom, da Wonderful: estrelas de Hollywood faziam parte da estratégia do bilionário para alavancar suas marcas 96

condado de Kern. Nem mesmo cresceu na costa oeste, e sim do outro lado do país, em Nova Jersey, e nunca dirigiu um trator ou regou uma planta sequer. Sua primeira empresa nasceu quando estudava direito na Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla). Nessa época, pagou US$ 300 por uma máquina para limpar o chão da universidade, e o serviço era tão bem feito que o jovem aluno acabou sendo contratado por diversos estabelecimentos comerciais, como farmácias e pizzarias. O negócio prosperou. Quando se formou, em 1960, já estava levando para casa US$ 40 mil por ano, algo como US$ 320 mil atuais. Pouco depois, vendeu a empresa por US$ 2,5 milhões e partiu para outro ramo. Durante suas faxinas, notou que os prédios que limpava tinham problemas de segurança. Resolveu entrar no ramo, oferecendo vigias para os edifícios. Mais tarde, ampliaria o negócio com a criação de uma companhia de alarmes. Em poucos meses, dominava metade desse mercado em Los Angeles. Sua primeira investida no setor agrícola foi no fim dos anos 1970, porque um amigo ofereceu terras em um lugar distante que pareciam bem abaixo do preço. Era em Lost Hills. Hoje, aos 81 anos, nem mesmo Resnick consegue calcular sua fortuna e o tamanho de suas propriedades. Na última vez em que checou, descobriu possuir algo como 180 mil acres de toda a Califórnia, o equivalente a 727 quilômetros quadrados – ou metade de uma cidade do tamanho de São Paulo. Resnick irriga 121 mil desses acres, o que faz dele o maior consumidor de água do Ocidente. Outro dado espantoso: o que ele usa para irrigar suas fazendas durante um ano seria suficiente para abastecer a cidade de São Francisco por uma década. A Wonderful, dona de receitas anuais estimadas em US$ 4,5 bilhões, não seria o que é sem uma figura fundamental: Lynda, a mulher de Resnick, que se autointitula a “Rainha da Romã”. Considerada um gênio de marketing, ela abandonou a faculdade aos 19 anos para abrir sua própria agência


Planta da Wonderful em Lost Hills e frutas produzidas pela empresa: fazenda ocupa área equivalente a metade do município de São Paulo

de publicidade. Resnick a contratou quando ele ainda tinha uma empresa de limpeza, e a química entre os dois foi imediata, tanto no amor quanto nos negócios. Agora, ela é vice-presidente e coproprietária da companhia, mas sua grande contribuição foi espalhar por todos os Estados Unidos, e para boa parte do mundo, o mito de que romãs combatem males como o câncer e retardam o envelhecimento. A marca POM Wonderful está presente nos cinco continentes e fez sucesso com um slogan que a associa ao “elixir da vida”. Tudo obra de Lynda, que usou uma estratégia bem conhecida para divulgar o produto: aproximá-lo de celebridades globais. Lotes do suco POM são sempre enviados para pessoas como o ator Leonardo DiCaprio, a apresentadora Oprah Winfrey e o cantor Bono Vox, e vez ou outra um deles se deixa fotografar consumindo a romã. Quando isso acontece, as vendas disparam, e Lynda reforça as remessas para novas celebridades. Ela faz isso em todas as edições do Oscar, distribuindo o suco aos presentes

ilustres. A estratégia tem funcionado. Quase metade de todos os americanos compra um de seus produtos, incluindo laranjas, suco POM Wonderful e Fiji Water. Recentemente, a empresa foi obrigada pela Comissão Federal de Comércio a tirar do ar uma campanha polêmica. A entidade ordenou que os Resnick parassem de reivindicar que a bebida curava doenças cardíacas e disfunção erétil, algo sem nenhuma comprovação científica. Estima-se que a empresa já tenha gastado mais de US$ 30 milhões para bancar estudos – e influenciar as análises de cientistas de aluguel – que comprovassem a eficácia milagrosa da romã. Para cada investida, porém, há um contragolpe das autoridades, que estão atentas às malandragens da família Resnick. O próprio Stewart Resnick garante que os sucos de romã o mantêm saudável mesmo depois do diagnóstico de um câncer de próstata. A era de ouro da Wonderful e do casal Resnick pode estar com os dias contados. O estado da Califórnia promete tornar mais duras as leis que regulam o uso da água. A ideia é restringir o acesso dos fazendeiros a reservatórios subterrâneos e proibir o bombeamento de água de um aquífero para outro. Quando isso acontecer, mais de 1 milhão de acres de terras cultiváveis ​​do Vale de São Joaquim poderão ser afetados, e é pouco provável que a Wonderful resista às mudanças. Mesmo depois que esse dia chegar, Resnick continuará por muito tempo sendo lembrado como o homem que encontrou água no deserto. PLANT PROJECT Nº10

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W Perfil

Barricas da Cachaça do Barão na Fazenda Santa Lúcia: relançamento da bebida marca volta de Zurita ao mercado 98


UM NOVO RÓTULO PARA ZURITA Muita coisa mudou na vida do executivo desde que ele deixou o comando da Nestlé e sofreu grandes reveses em seus negócios pessoais. Menos a ambição de construir marcas valiosas a partir de sua fazenda no interior paulista Por Françoise Terzian, de Araras Fotos Vinicius Valpereiro / divulgação PLANT PROJECT Nº10

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uem visita a Fazenda Santa Cruz, em Araras, no interior de São Paulo, se surpreende com o requinte da propriedade de 850 alqueires, habitada também por animais como jiboia, onça-pintada, capivaras, antas, além de uma encantadora cachorra chamada Pantera. Ela aproveita o dia quente para dar mergulhos em uma belíssima piscina toda revestida de mármore Carrara que abriga uma fonte com a imagem de Netuno (deus dos mares da mitologia romana), importada da Itália, em uma das bordas. Em um dos cantos da fazenda, chama atenção o gado Nelore tratado a pão de ló. No outro, os drinques elaborados a partir do destilado premium Cachaça do Barão. Da bela sede da Santa Cruz, com terraço com vista para um lago em forma de ferradura, um dos mais famosos executivos brasileiros comanda esse pequeno império. Ali, atende por um nome diferente do que ganhou fama no mercado corporativo. Todos o conhecem por Fábio. O genro, os empregados e também os conhecidos. Em momento algum o homem de 65 anos

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– e com planos para empreender típicos de um jovem de 25 – é chamado de Ivan Zurita, nome que ilustrava seus cartões como poderoso comandante da Nestlé Brasil entre 2001 e 2012. Ele entrou na multinacional suíça como estagiário e, por 42 anos, construiu uma carreira ascendente, até chegar à presidência – e depois deixá-la, em um movimento surpreendente e rumoroso. Mas hoje é simplesmente Fábio. O nome é rapidamente explicado. Todos os homens da família Zurita foram batizados de Ivan. O segundo nome é a sua identidade em meio a tantos Ivans. Embora tenha deixado a Nestlé há seis anos, é impossível não associar Zurita à gigante suíça da alimentação. Ao se retirar da companhia, ele decidiu fazer o que havia planejado a vida toda. “Sempre trabalhei pensando em ter uma atividade para depois de aposentado. Investi em terra e em ações da Nestlé. Essa foi a minha poupança da vida toda. Toda hora eu comprava um pedaço de terra pensando em ter uma atividade depois”, conta à PLANT PROJECT.


Zurita, agora Fábio, um dos animais de seu rebanho e a sede da fazenda, em estilo suíço: o patrimônio encolheu, a ambição, não

Ocorre, no entanto, que diante da montanha-russa chamada Brasil, os planos desandaram. Com o País em crise, a dificuldade do acesso ao crédito e outros fatores como o impacto da Lava Jato na economia, a AgroZ – Agropecuária Zurita, empresa que ele criou quando ainda estava na Nestlé, se viu diante de um aperto de caixa que, hoje, se traduz em dívida estimada em R$ 240 milhões e um processo de recuperação judicial. O que deu errado? “Errado foi confiar demais no País. A gente alavancou. A gente vinha fazendo investimento e o mercado caiu”,

recorda Zurita. “Quando o capital de giro fica curto, é complicado. A saída mais rápida é vender os bens e fazer caixa. Mas, se você vende os bens, você também perde parte do seu negócio. Então, resolvi vender bens não produtivos. Vendi apartamentos no exterior (na Suíça e em Nova York), casa na Baleia (litoral norte de São Paulo) e apartamento no Rio de Janeiro. Enxuguei o máximo que tinha. Me desfiz de terrenos importantes à vista para fazer caixa. De bancos, fiquei apenas com um como credor.” O prazo para saneamento da dívida da AgroZ com os credores – o Banco Pine e cerca de quatro fornecedores, segundo Fábio – e os passos seguintes serão decididos em assembleia. “Estamos pedindo um prazo para recuperar o negócio como um todo. Não sabemos ainda se serão dez anos. Há um fluxo justificando a rentabilidade, com passos que serão dados bem pé no chão, para cumprir tudo direitinho”, conta Zurita. A AgroZ, com atuação sobretudo nas áreas de cana-de- açúcar PLANT PROJECT Nº10

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Garrafas da cachaça, com rótulo assinado por Washington Olivetto, e a barrica que foi de Hebe Camargo: estrelas ajudaram a alavancar negócios da AgroZ

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e genética bovina, não chegou a parar. Nos últimos quatro anos, ela colocou o pé no freio em alguns negócios como a venda da Cachaça do Barão, criada há dez anos. A produção nunca foi paralisada. Há cachaça repousando há 12 anos em barricas armazenadas na Fazenda Santa Cruz. E recentemente voltou a fazer parte dos planos. A marca acaba de ser relançada, de olho no consumidor premium que frequenta bares, hotéis e restaurantes de alto padrão. É parte de um plano de reerguimento da empresa. A AgroZ teve sua operação redesenhada por Zurita, que é o chairman do negócio, enquanto seu genro, Leonardo Queiroz -- que trabalhou durante anos na operadora TIM e comandou a área de vendas da Apple no Brasil --, responde como CEO. Zurita fez algumas mudanças nos negócios, como o arrendamento de determinados maquinários, parce-

rias nas terras e reduções da estrutura e do gasto fixo. Seu foco hoje, seja em qual for o negócio, é em valor agregado. Seja no gado – leia-se genética –, seja na cachaça de nível superior. “Usamos tecnologia sem perder o artesanal. Bons ingredientes geram bons frutos.” Até 2020, a previsão é faturar R$ 15 milhões com a Cachaça do Barão, produzida com cana orgânica colhida na propriedade. Até lá, espera utilizar toda a capacidade instalada para produção, de 250 mil litros. Hoje, gera 20 mil. Zurita usa, na Cachaça do Barão, uma receita original de 1881, quando o Barão de Arary, um dos fundadores de Araras, costumava servir a aguardente para convidados especiais. Ele produz quatro versões, apresentadas em embalagens assinadas pelo publicitário Washington Olivetto. O segmento de cachaça está estagnado no Brasil, uma vez que o grande consumo vem de marcas populares, cuja garrafa custa de R$ 5 a R$ 15, mais afetadas pela crise. O mercado premium, porém, avança em vendas, com crescimento anual na ordem de dois dígitos. A proposta da Cachaça do Barão é investir no ramo da degustação e mixologia. Sua garrafa custa de R$ 99 a R$ 180, dependendo do tempo de envelhecimento. A aguardente repousa por, pelo menos, três anos, em barris de carvalho europeu, amendoim ou jequitibá-rosa. Futuramente, a marca deve vender destilados en-


velhecidos por 12 anos. Além do mercado interno, a Cachaça do Barão deve voltar a ser exportada. Seu grande foco será no mercado americano e chinês, dada a oportunidade para embalar destilados premium nos dois países. Para os melhores clientes brasileiros, Zurita também criou a Confraria do Barão, que permite comprar barricas com 180 litros, o equivalente a 250 garrafas da Cachaça do Barão, versão Reserva Especial, envelhecida por cinco anos em carvalho europeu. Ela custa R$ 20 mil e fica em uma área da fazenda com o nome do dono. Um breve passeio pelas “caves” da fazenda e é possível descobrir o nome de alguns dos participantes da confraria, a exemplo da já falecida apresentadora Hebe Camargo (hoje pertence ao seu sobrinho), o cantor Roberto Carlos, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno, o próprio Washington Olivetto, dentre tantos outros. Eram nomes estrelados que circulavam também nos concorridos leilões de gado que promovia na fazenda em seus tempos de glória na Nestlé, quando o prestígio do cargo na empresa suíça ajudava a alavancar seus negócios particulares. Quando ainda atendia como Ivan, o casarão era frequentado por personalidades. Fábio, em tempos de vacas magras, já não é tão requisitado e conta sobretudo com o empenho da família para retomar o brilho.

O próximo passo, nesse sentido, é lançar outra marca de cachaça até dezembro, voltada especificamente para ser usada como base de drinques, com preço entre R$ 60 e R$ 70 a garrafa. “Estamos trabalhando no nome agora”, conta o genro, Queiroz. E, futuramente, novos rótulos podem ser desenvolvidos. Segundo o CEO da companhia, a Fazenda Santa Cruz tem tudo para virar um polo de fabricação de destilados. Queiroz acabou de retornar de Cuba, onde foi estudar a produção de rum. A marca de gim premium Draco também começa a ser produzida em breve dentro dos domínios da AgroZ. E isso não é tudo. Zurita fala com brilho nos olhos de sua

vontade de empreender mais e mais. “Em alimentos, eu não descarto nada. Amanhã, posso ter um queijo, uma linha de laticínios, um doce de leite, um leite condensado. A gente pode produzir isso tudo aqui dentro da fazenda, incluindo o café gourmet que pretendo ter. Só quero produzir itens de valor agregado.” E esse olhar vai de uma ponta a outra – da produção à venda. Zurita, que já teve, pela Nestlé, voz mais do que ativa nas gôndolas dos supermercados, sabe muito bem a diferença entre cana e cachaça: “Com os mesmos alqueires de terra, a cana rende tantos mil, enquanto a cachaça pode render tantos milhões”. PLANT PROJECT Nº10

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W Consumo IDEAL PARA FATIAR COMO TODOS OS MODELOS DE FACAS DA SUÍÇA VICTORINOX, QUE SÃO FORJADOS A PARTIR DE UMA PEÇA ÚNICA, OS DA LINHA GRAND MAÎTRE PROMETEM UMA SENSAÇÃO DE SUAVIDADE NA UTILIZAÇÃO DA LÂMINA DE 25 CENTÍMETROS. A RIGIDEZ DA LÂMINA E O TESTE DO ÂNGULO DO FIO (A LASER) ASSEGURAM UMA MAIOR DURABILIDADE. A MARCA GARANTE GRANDE RESISTÊNCIA AO DESGASTE. PREÇO: R$ 1.030.

ESTILO NO BRASEIRO As facas mais velozes e as churrasqueiras mais furiosas para os amantes da carne Por Françoise Terzian

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A VOZ DA OLIVICULTURA Recém-lançado, o azeite AZ 0.2 é o mais novo item do portfólio da Bueno Wines, grife de vinhos – e agora também de azeites – do narrador esportivo Galvão Bueno Por Irineu Guarnier Filho 106

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om 9 hectares de olivais cultivados desde 2010 nos campos suavemente ondulados da Bellavista Estate, em Candiota, na Campanha Gaúcha, o narrador global Galvão Bueno é, agora, a mais notória voz entre os 150 produtores que estão transformando o óleo de oliva numa das principais riquezas da região mais meridional


Galvão Bueno nos portões da Bellavista Estate: endereço de vinhos de qualidade tem agora a primeira safra de azeites

do Brasil, ao lado da carne bovina, do vinho, do arroz e da soja. Perto dali, em Pinheiro Machado, o empresário paulista Eduardo Batalha, que trouxe o Burger King para o Brasil, também aposta alto na olivicultura: implantou 400 hectares de olivais e não pretende parar por aí. Para quem já produz vinhos, como o narrador,

a elaboração de azeites é quase uma extensão natural de suas atividades agrícolas. Videiras e oliveiras convivem em perfeita harmonia em lugares muito quentes no verão e bastante frios no inverno, secos e com solos pedregosos. Com boa parte de seu extremo sul dotado dessas características, o Rio Grande do Sul já é o maior produtor brasileiro

de azeite. Possui mais de 3,4 mil hectares cultivados com oliveiras, 20 marcas e oito agroindústrias, que elaboram anualmente 60 mil litros do produto. Mas a corrida ao óleo está só começando, dizem produtores menos famosos, que veem na olivicultura uma alternativa de renda atraente, por causa do alto valor agregado do azeite. PLANT PROJECT Nº10

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W Gastronomia

Os olivais, a produção e o resultado do trabalho da Bueno Wines: o AZ.02 é um blend de três variedades 108

O mais novo olivicultor brasileiro comemora sua primeira safra quase com o mesmo entusiasmo com que narrava as vitórias dos pilotos brasileiros na Fórmula 1 ou festeja os gols da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. “Um azeite para ser Extra Virgem só pode atingir 0,80 de índice de acidez. Nossas azeitonas produziram um Extra Virgem com incríveis 0,15”, vibra Galvão Bueno. O AZ 0.2 que está chegando ao mercado é um blend de três variedades bem conhecidas: Arbequina, Arbosana e Picual. Esse “corte”, como se diz na enologia, resulta, segundo a Bueno Wines, num “azeite aromático, com cheiro de frutos secos (amêndoa) e banana, e que traz um

equilíbrio entre o amargo e o picante, de intensidade leve”. Com a expertise acumulada na vitivinicultura, o terroir adequado e a preocupação com a excelência que caracteriza os produtos da Bueno Wines, não será surpresa se em pouco tempo o azeite do Galvão Bueno estiver disputando medalhas com alguns dos melhores óleos italianos, gregos ou portugueses, como já acontece com outros rótulos gaúchos. Marketing bem-feito também ajuda: a embalagem do AZ 0.2 é uma joia do design industrial. NA ROTA DAS OLIVEIRAS Além do lançamento do primeiro azeite da Bueno Wines, outras novidades movimentam o jovem mundo


do azeite brasileiro. Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, um projeto propõe a criação da Rota das Oliveiras, um projeto do deputado estadual Ernani Polo que sugere a criação de um roteiro voltado para o olivoturismo, inspirado nos que existem em Portugal, na Grécia e na Itália. Os turistas do azeite podem conhecer de perto a cultura da oliveira, visitar olivais e lagares, participar de colheitas, ver o azeite ser extraído e ainda degustar o produto. A semelhança com o enoturismo, com suas visitas a vinícolas e degustações de vinhos, não é mera coincidência. A Rota das Oliveiras é formada por municípios com expressão no cultivo de olivais

e na produção de azeites e conservas. Os municípios que irão compor esse roteiro são: Bagé, Barra do Ribeiro, Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul, Candiota, Canguçu, Dom Feliciano, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Pinheiro Machado, Piratini, Rosário do Sul, Santa Margarida, Santana do Livramento, São Gabriel, São Sepé, Sentinela do Sul e Vila Nova do Sul. A maior parte deles se situa em meio ao Pampa Gaúcho – cujas coxilhas verdejantes são uma atração turística à parte. Já o Instituto Brasileiro da Olivicultura (Ibraoliva), criado na última Expointer, em agosto do ano passado, quando o deputado Polo era secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, reúne produtores gaúchos,

mineiros e catarinenses. O Ibraoliva nasceu com o desafio de promover e ordenar o desenvolvimento do setor olivícola – ainda incipiente, mas bastante promissor, a julgar pelo crescente aumento do volume de produção e pelos prêmios que começa a conquistar no exterior. O modelo para a constituição do instituto foi o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Só que, ao contrário da vitivinicultura, que levou mais de um século para se afirmar no País, a olivicultura cresce em outras condições, bem mais favoráveis, tanto do ponto de vista tecnológico quanto cultural. O setor foi incluído no Plano Safra 2017/2018, com financiamento de R$ 3,2 bilhões. PLANT PROJECT Nº10

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O Jardim Veredas, dentro do complexo do Inhotim 4,5 mil espĂŠcies de plantas convivem com 700 obras da arte

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foto: Rossana Magri

Um campo para o melhor da cultura

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Um campo para o melhor da cultura

INHOTIM, O PARAÍSO DAS ARTES E DA BOTÂNICA Em pouco mais de uma década, instituto em Minas Gerais se tornou um caso único no mundo: além de marco artístico, é também um refúgio ambiental para 4,5 mil espécies de plantas Por Thiago Cid

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foto: William Gomes

Orquídea da espécie Cattleya walkeriana floresce no parque: em Inhotim, a natureza é elemento de arte

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foto: William Gomes

foto: William Gomes

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Detalhes de plantas nas trilhas do parque: Inhotim foi oficialmente Incluído na Rede Brasileira de Jardins Botânicos

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e há uma certeza no mundo das artes é a de que o significado da obra quase sempre transcende aquele que foi concebido pelo artista. O mesmo pode ser dito a respeito do Instituto Inhotim, o híbrido de museu de arte contemporânea e jardim botânico, localizado no interior de Minas Gerais, a 60 km de Belo Horizonte. Em pouco mais de uma década, a extravagância, inicialmente concebida para saciar o apetite estético do empresário Bernardo Paz, tornou-se referência no cenário artístico mundial e conseguiu despertar uma pontada de orgulho patriótico em um país que pouco estimula a criação cultural. Contar a história de Inhotim exige o uso de jargões artísticos como reinvenção, conflito, contradição. É uma narrativa com toques de realismo mágico, repleta de ambiguidades e licenças poéticas. Inhotim foi financiado com o dinheiro ganho por Paz em atividades historicamente ligadas à degradação ambiental, como a mineração e a metalurgia. Em uma fazenda desmatada, construída dentro de uma cratera deixada pela mineração, Paz começou a construir jardins ornamentais e colecionar obras de arte. Para cada nova peça adquirida, foi necessária a construção de outros jardins para recebê-la. Para novos jardins, foi preciso mais terra, e Paz comprou as propriedades vizinhas. Foi um ciclo que se retroalimentou até chegar ao estado atual, um refúgio de 140 hectares, onde atualmente convivem mais de 4,5 mil espécies de plantas e 700 obras de arte em perfeita harmonia. Não é preciso ser esteta para compreender que em Inhotim a própria natureza é um elemento de arte. “Aqui a pessoa se reconhece no diferente, percebe que está inserida nesse todo, percebe por cores, formas, texturas, volumes e


foto: William Gomes

contrastes”, afirma Lucas Sigefredo, diretor do Jardim Botânico de Inhotim. “Quando ela enxerga essa diversidade reunida, o diálogo da arte com a natureza, entende a importância da biodiversidade e da preservação ambiental.” Uma das metamorfoses de Inhotim foi sua transformação de jardim ornamental para botânico, chancela obtida em 2010 da Rede Brasileira de Jardins Botânicos. No mesmo ano, o governo federal reconheceu a Reserva Particular do Patrimônio Natural Inhotim (RPPN), em uma área de 250 hectares adjacente ao parque e fechada a visitantes. A criação de toda essa estrutura consolidou a vocação de Inhotim para ser fonte de inovações também no aspecto ambiental. “Apesar de sermos bonitos e estarmos rodeados de arte, temos a responsabilidade de qualquer jardim botânico, que é a pesquisa científica e o armazenamento de material genético, com um carinho especial para os daqui da Serra do Espinhaço”, afirma Sigefredo. “Só que nossa proposta não é simular um bioma,

mas sim dispor o nosso acervo de forma paisagística”. O patrimônio abrange 28% das famílias botânicas conhecidas no planeta e reúne a maior coleção de palmeiras tropicais do mundo. Ainda que indiretamente, Inhotim deve sua existência à Serra do Espinhaço. Considerada a única cordilheira do Brasil, a estreita faixa montanhosa que se estende por mil quilômetros, do centro-sul de Minas Gerais até o sul da Bahia, foi nomeada assim pelo geólogo alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege, no século 19, por se assemelhar a uma grande espinha dorsal. A sua formação, há cerca de 500 milhões de anos, trouxe a abundância mineral que deu nome ao estado e fez a fortuna de Bernardo Paz. Não por coincidência, ao longo do Espinhaço estão situadas cidades históricas, como Ouro Preto, São João Del Rey e Diamantina, e também as grandes mineradoras atuais, que extraem da terra ferro, ouro, fosfato, nióbio, bauxita e zinco. Devido à súbita variação de altitude proporcionada pela cordilheira, é possível encontrar na RPPN Inhotim diferentes

Banco à sombra de uma timbaúva, árvore nativa da região: plantio de espécies locais e exóticas resgata uma área que havia sido degradada pela mineração

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Museu

foto: Rossana Magri

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Obras de arte compõem belas paisagens ao longo dos 140 hectares do parque. À dir., instalação da japonesa Yayoi Kusama no Narcissus Garden

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biodiversidades. “Aqui tudo se encontra: arte e natureza. Cerrado e Mata Atlântica. A flora de 700 metros, de mil metros, de 1,3 mil metros de altitude”, afirma Sigefredo. Um dos xodós do parque é a Syagrus macrocarpa, espécie de palmeira nativa de uma pequena faixa entre Minas, Rio e Espírito Santo, e que está seriamente ameaçada de extinção. As plantas mais tradicionais também têm importância na estratégia de Inhotim de educação ambiental. Nas frequentes caminhadas guiadas pelo parque, o engenheiro agrônomo Juliano Borin, responsável técnico por Inhotim, não deixa de falar do potencial revolucionário da macaúba para os biocombustíveis, ou sobre as possibilidades das plantas alimentícias não convencionais, nem de orientar a população sobre o uso sustentável da palmeira juçara, trocando a colheita do palmito pelos seus frutos, que se assemelham ao açaí. “Inhotim tem a magia de inspirar pela beleza”, diz Borin. “A natureza e a arte ensinam que há outras

maneiras de se relacionar com o mundo.” É de Borin a tarefa de comandar os mais de 50 jardineiros responsáveis pela manutenção dos jardins de Inhotim. Em seus seis anos trabalhando no parque, ele e sua equipe já produziram cerca de 6 milhões de mudas. Suas preocupações são as mesmas de qualquer produtor rural. “Temos de ser eficientes no uso dos recursos porque a área é gigantesca e eu não posso me dar ao luxo de desperdiçar nutrientes, dinheiro ou mão de obra”, diz. Uma adubação química é feita na primavera e outra orgânica no outono e inverno, com a utilização do composto produzido a partir das podas do parque. “Também tenho sob meus cuidados plantas raras ou valiosas, que custam centenas de milhares de reais. O acompanhamento fitossanitário é algo que nunca para”, conta Borin, explicando que alguns dos exemplares de tamareira das canárias (Phoenix canariensis) existentes em Inhotim podem chegar facilmente a R$ 500 mil.


OS NÚMEROS SUPERLATIVOS DO INSTITUTO A carga simbólica adquirida por Inhotim como vetor de preservação e transformação pode ser percebida em uma volta pelo parque, de onde é possível avistar no entorno o topo das montanhas devastadas pela mineração. Atualmente, o instituto é rodeado por duas operações de extração de minério e uma de água, considerada uma das maiores jazidas de água mineral do mundo. Se essa contraposição de realidades pode despertar reflexões artísticas nos filósofos de ocasião, em outros pode gerar ideias para negócios sustentáveis. Um exemplo é o da parceria com o Fundo Clima, mantido pelo Ministério do Meio Ambiente, que financiou o desenvolvimento de um protocolo para sequestro de carbono por meio de recuperação de áreas devastadas pela mineração. Além de reunir conhecimento passível de ser replicado em outras regiões, o projeto gerou um grau de capacitação dos profissionais envolvidos, o que pode ter demanda nos setores de consultoria e prestação de serviços. Iniciativas como essas estão nos planos para o futuro, segundo o diretor executivo de Inhotim, Antonio Grassi. “Pretendemos explorar todo o nosso potencial artístico e botânico e reverter isso

Á REA Parque (museu e jardim botânico): 140 hectares. Desse total, 42 hectares são compostos de jardins Reserva Particular de Preservação Natural (RPPN): 250 hectares JA RD I M BOTÂ N I CO Espécies de plantas: 4,5 mil Coleção de palmeiras: 1,5 mil MUSEU D E A R T E CO N T EM P O RÂ NE A Obras: 700, entre pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações Galerias: 23, das quais 19 são permanentes e 4 temporárias B I L HET E RI A Público: mais de 3 milhões de visitantes desde 2004. Em 2017, foram cerca de 400 mil visitantes R EC URSOS FI N A N C E I ROS (dados de 2016) Doações: R$ 17 milhões Patrocínio: R$ 14 milhões Bilheterias: R$ 7,6 milhões

foto: Rossana Magri

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foto: Rossana Magri

Cenários dos pavilhões em meio à vegetação e o vandário (foto inferior), que reúne 350 orquídeas do grupo das Vandáceas, originárias do Sudeste Asiático e da Austrália

foto: William Gomes

em dinheiro para o instituto, mas Inhotim é muito jovem e é preciso ser muito cuidadoso nesse caminho.” A questão da sobrevivência e sustentabilidade financeira de Inhotim ganha maior importância diante das polêmicas em torno de seu criador, Bernardo Paz. Condenado a nove anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro em novembro de 2017, Paz deixou a presidência do conselho do instituto poucos dias depois. O objetivo foi se desvincular de Inhotim e impedir que seus problemas jurídicos prejudicassem o instituto. Não foi suficiente. No fim de abril deste ano, ele transferiu a propriedade de 20 obras de arte para o Estado de Minas Gerais, como forma de pagamento de parte das dívidas fiscais de suas empresas. No contrato, porém, foi determinada a inserção de uma cláusula no estatuto social de Inhotim garantindo que, no caso de sua dissolução, todo o acervo artístico, botânico e paisagístico seja destinado exclusivamente ao Estado de Minas Gerais. Para Antonio Grassi, o imbróglio pode trazer algo de positivo. “É um marco para a separação dos negócios de Bernardo Paz e de Inhotim, que começou em 2015 com a doação do terreno e das construções para a Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público)”, afirma. “As obras de arte ainda pertencem a Paz, mas estão cedidas em comodato em contratos de 30 anos, facilmente renováveis.” O parque não irá contar mais com o suporte do mecenas, que declarou publicamente ter colocado dinheiro pessoal em Inhotim até 2016. Para Paz, as coisas talvez possam piorar. Ele ainda tem um débito de R$ 111,7 milhões com a Fazenda Estadual. Em seu

foto: Ricardo Mallaco

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acordo com o governo mineiro, foi estipulada multa de 100% do valor devido no caso de irregularidades relativas aos tributos estaduais. A mais recente estocada foi uma reportagem publicada pelo site da revista norte-americana Bloomberg Businessweek no dia 8 de junho, na qual a publicação afirma que parte da fortuna de Paz foi amealhada por meio de desmatamento ilegal, grilagem de terras e trabalho infantil. Seja qual for o desfecho da história do empresário, Inhotim já se firmou como um marco artístico e botânico do mundo.


Espaço aéreo Brasil já tem mais de 12 mil drones registrados, a maioria a serviço da agricultura de precisão

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As inovações para o futuro da produção

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As inovações para o futuro da produção

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INVASÃO AÉREA Chegada dos drones ao agronegócio promete muito mais do que a redução de custos nas operações de pulverização Por Tiago Dupim

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fotos: Divulgação

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á mais objetos voando sobre as lavouras brasileiras do que supõem as nossas vãs estatísticas. O Brasil é o segundo país com maior frota voltada para a aviação agrícola – são cerca de 2,15 mil aviões registrados, perdendo apenas para os Estados Unidos, que possuem 3,5 mil. Mas a todo momento decolam nas fazendas uma infinidade de aeronaves sem piloto, capazes de realizar missões tão distintas quanto monitoramento de segurança ou pulverização de plantações com agentes biológicos para o combate de pragas. Eles roubaram a cena até mesmo na última edição da Agrishow, em Ribeirão Preto, com lançamentos de diversos modelos, inclusive por fabricantes tradicionais de máquinas agrícolas, como a Case, ou de empresas novatas como a paranaense Eleva, ligada ao Grupo Positivo, mais conhecido pela atuação no mercado de eletrônicos. É difícil dizer quantos são os RPAs (Remotely Piloted Aircrafts), popularmente conhecidos como drones, sendo utilizados

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efetivamente em atividades relacionadas à produção agropecuária. De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), em julho de 2017 havia 5.735 aparelhos cadastrados no País destinados ao uso profissional. Em fevereiro deste ano, o número já chegava a 12.175. A maior parte destina-se à captura de imagens, pulverização de lavoura e segurança privada e pública, mercados em forte expansão. No primeiro semestre do ano passado, a Anac criou regras específicas para o uso das aeronaves remotamente pilotadas no País. Desde então, a agência caracterizou os drones em três classes, de acordo com o peso máximo de decolagem do equipamento: na classe 1 estão aqueles acima de 150 kg; na classe 2 os com peso máximo de decolagem maior que 25 kg e menor ou igual a 150 kg; e na classe 3 ficam os aparelhos com peso máximo de decolagem menor ou igual a 25 kg. “A legislação hoje nos atende muito bem. No entanto, temos que evoluir mais”, salienta Ulf Bogdawa, fundador da SkyDrones, uma


Tecnologia

das pioneiras no desenvolvimento desses veículos no País. “O drone ainda está chegando ao Brasil e a nossa agência reguladora é relativamente nova se comparada a outras dos principais países do mundo. Mas a médio prazo certamente teremos uma regulamentação ainda mais evoluída”, aponta Gabriel Colle, presidente do Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola). Para ele, a Anac ainda carece de um corpo técnico especializado no tema para elaborar as regras ainda mais claras para o setor. O AGRO DECOLA O boom dos drones chega às plantações em sintonia com o momento do agronegócio. Novas tecnologias digitais, apoiadas pelo uso de imagens, vêm sendo adotadas por produtores modernos, em busca de informação mais precisa para a tomada de decisões. Devido ao alto custo, os empresários do setor muitas vezes deixavam de fazer levantamentos aéreos mais detalhados de suas propriedades. Agora, com os drones – combinados com o uso mais acessível de imagens de satélite --, isso começa a ser cada vez mais comum. Nas aeronaves pilotadas remotamente consegue-se acoplar diferentes câmeras e realizar, por exemplo, o mapeamento aéreo da lavoura a um custo baixo. “Os benefícios do drone para o agronegócio são vários. Entre eles, destaco a

versatilidade, a possibilidade de operar em dias nublados e ter resolução de imagens dez vezes mais precisa se comparada a um satélite, o que permite identificar possíveis problemas no campo quando ainda são pequenos”, pontua Bogdawa. O avanço da qualidade das câmeras embarcadas é parte importante da popularização dos RPAs. Com modelos computacionais cada vez mais complexos, dotados de inteligência artificial, empresas especializadas na produção de sistemas de gestão agronômica utilizam as fotos aéreas para detectar falhas nas lavouras e até para identificar a infestação de pragas, gerando alertas para pulverização de precisão nas áreas afetadas. Em outros casos, como nas lavouras de algodão, é possível verificar os pontos de desequilíbrio no crescimento das fibras. “Normalmente, em virtude de pragas, perde-se de 15 a 20

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Pulverização com o Pelicano (abaixo), da SkyDrones, e monitoramento de laranjal com o Maptor, da Horus (esq.): aeronaves diferentes para diversas funções nas fazendas

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S

Tecnologia

Hertz, da Horus, e Marczack, da Adama: com ajuda dos drones, redução de custos com insumos pode chegar a 60%

sacas de soja por hectare. Com os drones conseguimos atacar esse desperdício e ainda reduzir em até 60% o gasto com insumos”, comenta Fabricio Hertz, CEO da startup Horus Aeronaves. A empresa fabrica o Maptor Agro, primeiro drone de fabricação nacional desenvolvido especialmente para o agronegócio. Com sensor multiespectral embarcado e autonomia de 60 minutos, pode ser aplicado na análise de falhas e produtividade, detecção de pragas e doenças, saúde e crescimento da vegetação, identificação de deficiência nutricional, aplicação de insumos em taxa variável e controle ambiental. Já o modelo Verok, da mesma empresa, tem autonomia de até 120 minutos, cobre até 4.300 hectares e realiza pouso por paraquedas. No total, o portfólio da Horus já tem mais de 80 equipamentos em operação no Brasil e em alguns países latino-americanos. ALIADO DOS AVIÕES A aviação agrícola, que no ano passado completou 70 anos no Brasil, há tempos precisava de um veículo que completasse as aplicações aéreas, pois ela não consegue chegar a áreas de difícil acesso. Histórica e estaticamente, esse segmento, ao lado dos helicópteros de pequeno porte, é conhecido como o tipo de voo mais perigoso na aviação em geral, pois exige ainda mais do piloto se comparado a outras operações. É necessário fazer voos rasantes (em

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que a sustentabilidade do avião é baixíssima, exigindo muita prática, atenção e perícia do piloto) com a aeronave carregada de defensivos para pulverização. O empresário Eduardo Goerl, sócio da Arpac, startup especializada em serviços com drones, já fez parte da estatística negativa do setor. Piloto, em 2008 ele foi vítima de um acidente, quando o avião em que voava como piloto de instrução caiu. Ele, felizmente, escapou. Anos depois, passou a pilotar um negócio com aeronaves não tripuladas. O equipamento da Arpac fez o primeiro voo do gênero no Brasil em 2014, quando ainda era apenas um protótipo. Em 2016, já atuando de forma comercial, também inovou ao realizar uma pulverização com agentes biológicos sobre uma lavoura de cana. Desde então, a Arpac trabalha com duas linhas de drones, para químicos e biológicos. “Tenho esperança de que em um futuro muito breve a gente consiga entrar nas lavouras com avião e drone, cada um fazendo o seu melhor”, afirma. De fato, o drone pode monitorar regiões de difícil acesso a outros veículos (como áreas montanhosas ou próximas de matas ou rios) com extrema precisão nos trajetos percorridos. Hoje, ele é o método mais seguro de aplicação em áreas nas quais não é possível fazer com o avião. E o que é melhor: gera uma considerável redução de custos. Com o auxílio do famoso “zangão”, o produtor pode


economizar até 20% na operação. Se por um lado as aeronaves pilotadas remotamente atuam como um complemento à aviação agrícola e aos pulverizadores terrestres, por outro elas já começam a substituir as aplicações com equipamentos costais, comumente encontrados, por exemplo, em plantações de tomate e tabaco. Enquanto um homem caminhando pela lavoura consegue pulverizar apenas 2 hectares por dia, o drone atinge 4 hectares por hora. “Esse tipo de trabalho tem um risco de exposição muito maior e pode trazer danos à saúde. Agora, os drones podem assumir essa função. Com isso, o fazendeiro ganha em produtividade e pode realocar o funcionário para outras funções”, comenta o engenheiro agrônomo Eugenio Schroder. “A economia de produto químico é considerável, podendo chegar a 70% em alguns casos”, comenta Bogdawa, da SkyDrones. A empresa gaúcha foi fundada há dez anos por empresários do ramo aeronáutico e, desde então, começou a produzir drones. O negócio cresceu e agora a empresa desenvolve soluções completas e serviços (incluindo hardware, software e sensores). Nos últimos três anos, visualizou no agronegócio uma oportunidade. Por meio do sistema crop solution, a empresa pode detectar anomalias, pragas ou doenças com outros Vants (veículos aéreos não tripulados) maiores. O aparelho destinado

fotos: Divulgação

O aparelho Adama Wings: fabricante de defensivos aposta nas imagens aéreas para entregar serviços para os produtores

à pulverização é o Pelicano. Enquadrado na classe 3, que permite a decolagem de até 25 kg (uma mudança de classe aumentaria substancialmente os custos), tem limitação de carga de produto químico em 10 litros. Ele entra em ação na segunda fase do serviço, atuando apenas nas áreas afetadas. O multirotor permite ao agricultor dispersar até 8 litros de produtos químicos líquidos por voo. São seis bicos pulverizadores que, somados, dispersam 1 l/min em uma largura de 4 a 5 metros. A opção de voo pré-programado de alta precisão permite pulverizações automatizadas apenas nos locais com real necessidade. “Ele gera uma economia de produto químico considerável, que pode chegar a 70% em alguns casos”, comenta Bogdawa. OS GIGANTES SOBREVOAM A Arpaq, empresa de Goerl, ainda é pequena e atualmente faz parte de um programa de aceleração financiado pela gigante química Basf. Para as grandes

empresas do setor, a alternativa de voar com drones e oferecer serviços mais eficazes ao produtor é quase mandatória atualmente. Há quatro anos a fabricante israelense de defensivos Adama, que conta com uma filial no Brasil, começou a perceber que o aparelho poderia ajudar (e muito) a área de tecnologia agronômica da empresa, agregando agilidade ao negócio. Por meio do serviço chamado Adama Wings, captura imagens de alta definição feitas pelos veículos aéreos não tripulados (Vants) para a identificação de falhas de plantio, matocompetição e solo exposto. Esse trabalho é realizado basicamente nas usinas de cana-de-açúcar. As imagens são processadas por um algoritmo que mensura o tamanho das áreas afetadas e gera relatórios que permitem a otimização da produtividade da usina através do monitoramento rápido e preciso da área plantada. “Assim como uma colheitadeira, a tendência é que o drone seja um item indispensável na fazenda. É PLANT PROJECT Nº10

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S

Tecnologia

uma tecnologia que está crescendo muito rapidamente e já mostrou que tem valor”, comenta Roberson Marczak, gerente de Inovação da Adama Brasil. Outra gigante do setor, a fabricante de máquinas Case, do grupo CNH, levou para a Agrishow seu primeiro equipamento voador. Com tecnologias de mapeamento e processamento de imagens, o equipamento estará disponível

Até mesmo os fabricantes de aeronaves agrícolas estão percebendo que o advento do “zangão” é um negócio promissor. Recentemente, a norte-americana Thrush Aircraft anunciou uma parceria com a Drone America para o desenvolvimento do primeiro avião não tripulado do mundo concebido para combate a incêndios. A ideia é fabricar uma aeronave autônoma com capacidade para 3 mil litros de

aos concessionários da marca, que poderão oferecer esse serviço aos seus clientes. Mas o produtor que tiver interesse também poderá adquirir o produto. “O objetivo com uso do drone é agregar valor à máquina agrícola. Ou seja, mostrar como é possível melhorar a qualidade do plantio à colheita, além de otimizar a utilização de insumos”, afirma Silvio Campos, diretor de Marketing de Produto da Case IH.

100

DRONES NO BRASIL

44

Fonte: Anac

310

361

277

552 133

39

166

98 1.063

469 1.139 821 3.032 446

544 11.853 2.108 1.530

1.580

126

4.156

349 325 721 161 255


A expectativa é de que em breve tenhamos novos modelos em operação, com maior capacidade de carga -- enquanto um avião agrícola carrega, em média, 1.500 litros de defensivos em geral, o drone leva cerca de 10 litros -- e autonomia. É a aposta da paranaense Eleva, que lançou na Agrishow o protótipo do Spray 150, um drone com capacidade de levar até 80 litros de insumos. Com motor a combustão, a empresa

água ou retardante de chamas. “Não deve demorar muito para que tenhamos um projeto desse tipo voltado à aviação agrícola”, acredita Colle, do Sindag. De acordo com dados do sindicato, o setor experimentou um crescimento de 35% em oito anos, mas a idade média da nossa frota é de 22,3 anos, o que vislumbra um futuro promissor de renovação dos aviões por máquinas menores.

promete maior autonomia e habilitação a voos noturnos, operando em condições mais apropriadas para a pulverização das lavouras. “Sem dúvida, os drones serão a grande ferramenta do agronegócio nos próximos anos. Estamos diante do responsável pela próxima revolução na aviação agrícola”, afirma Francisco Lyra, sócio-fundador da CFLY Aviation e presidente do IBA – Instituto Brasileiro de Aviação.

FROTA AGRÍCOLA BRASILEIRA

EVOLUÇÃO DA FROTA AGRÍCOLA (ANO)

Fonte: Sindag

Fonte: Sindag

88

464 277 114

83

314 136 1.560 1.693 1.811 1.925 2.007 N/D 2.083 2.115 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

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USO DOS DRONES NO BRASIL

JUL-17 AUG-17 OCT-17 NOV-17 DEC-17 JAN-18 FEB-18

Drones uso profissional 5.375

6.363

Drones uso recreativo 7.881

10.214

Total

8.557

9.386

10.443

11.167

12.175

13.530 14.909 16.870 18.920 21.500

13.246 16.577 22.087 24.295 27.313 30.087 33.675

Fonte: Anac

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STARTAGRO

As inovações para o futuro da produção

EXTERMINADORES DE ERVAS DANINHAS Robôs dotados de Inteligência Artificial revolucionam a pulverização no campo e inauguram uma nova era na automação de fazendas Por Pedro Romanos 128


Trator faz pulverização de precisão com sistema que utiliza luzes de LED para identificar as plantas daninhas

O

condado de Shropshire, no oeste da Inglaterra e perto da fronteira com o País de Gales, é uma das regiões mais bucólicas do Reino Unido. Extensos campos verdes, colinas a perder de vista, pastos com ovelhas, fazendas centenárias e um ritmo de vida cadenciado conferem à região uma atmosfera nostálgica, como se o passado ainda vivesse ali. Isso até pode ser verdadeiro, mas o outro lado dessa história mostra que Shropshire oferece também um caminho para o futuro. É lá que se

desenvolve uma das grandes revoluções da agricultura mundial. Mais precisamente, nos laboratórios da Universidade Harper Adams, fundada em 1901 e hoje em dia um dos principais centros globais de pesquisa agrícola avançada (há dois anos, a instituição criou a primeira fazenda totalmente controlada por robôs). Depois de uma década de estudos, testes, erros e acertos, o trabalho de uma vida do professor Simon Blackmore começou a se tornar realidade. Trata-se do robô PLANT PROJECT Nº10

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S

Automação

“Hyperweeder”, construído para realizar um pequeno milagre da tecnologia: seus olhos atentos e braços precisos atacam as ervas daninhas – e apenas elas – que corroem lavouras inteiras, preservando a planta e permitindo que ela cresça e floresça. Há duas versões do Hyperweeder. Em ambas, o conceito é o mesmo: um emaranhado de câmeras, sensores e softwares é capaz de identificar até 26 espécies de ervas daninhas. Funciona assim: o robô caminha tranquilamente pela lavoura, checando planta por planta até reconhecer aquela que foi atacada por um malfeitor. Se o processo de detecção de organismos estranhos é o mesmo, a execução dos ataques pode ser feita de formas diferentes. É aí que entram em serviço as duas versões dos robôs. A primeira delas está equipada com um dispositivo que emite raios laser em direção às ervas daninhas, aniquilando-as para sempre. Os raios produzem uma onda de calor de 95 C°, suficiente para matar as pragas – e só elas. Essa é a grande inovação do professor Blackmore. Os feixes de lazer emitidos pelos robôs têm um grau de precisão impossível de ser repetido por mãos humanas. Segundo Blackmore, 130

os raios localizam os meristemas (tecido de crescimento das plantas) e queimam apenas o local necessário, como um cirurgião delicado que extrai um tumor maligno para salvar o paciente. Até hoje, nenhum experimento parecido havia alcançado resultados tão consistentes quanto os robôs da Universidade Harper Adams. Não é difícil imaginar como a novidade será bem-vinda para os produtores orgânicos que abominam o uso de defensivos químicos nas lavouras. A segunda versão do Hyperweeder executa o mesmo serviço, mas de um jeito diferente. Em vez de emitir raios laser, o canhão de calor dá lugar a uma espécie de pistola de pulverização. Um herbicida similar ao glifosato, o mais utilizado no mundo, é disparado apenas nas ervas daninhas, sem interferir nas áreas saudáveis da lavoura e em dosagens precisamente direcionadas. Segundo cálculos feitos pelos pesquisadores da Harper Adams, a nova tecnologia tem potencial para economizar em até 99% o uso de defensivos. “Os resultados de nossos experimentos são extraordinários”, disse o professor Blackmore durante uma apresentação para cientistas britânicos.


Futuro em ação: aplicações pelo sistema Weed it (à esq. e abaixo), o robô movido a energia solar da startup suíça ecoRobotix (no centro) e o protótipo da Universidade Harper Adams, na Inglaterra

“O Hyperweeder revelou-se altamente eficiente e pode representar uma das maiores revoluções da agricultura nos últimos anos.” As novas tecnologias estão em fase experimental, mas estima-se que não vai demorar muito para que elas comecem a ser adotadas em larga escala. Seu efeito será brutal em todas as frentes de negócio. Os produtores que adotarem os robôs emissores de laser não gastarão um centavo sequer com pesticidas. Os que optarem pela versão com pistola de pulverização desembolsarão muito menos com esses produtos. Graças à eficiência dos robôs, a produtividade das lavouras irá aumentar e os impactos ambientais serão reduzidos sensivelmente em relação aos métodos agrícolas atuais. De acordo com os cientistas da Harper Adams, os robôs surgem em um momento-chave para o agronegócio. Com a diminuição das áreas para lavouras, o setor precisa encontrar meios capazes de aumentar a produtividade e ocupar espaços menores. “Hoje faltam tecnologias apropriadas para otimizar as plantações”, disse o professor Blackmore ao portal de notícias alemão Deutsche Welle. “Os enormes tratores modernos têm vantagens quantitativas, mas exigem grandes áreas de cultivo.” Os pequenos robôs, prossegue o cientista, serão o único meio

viável para suprir a produção no futuro, substituindo ceifadoras e máquinas gigantescas. Além disso, tratores grandes e pesados compactam e machucam o solo. Isso faz com que, todos os anos, os agricultores tenham que arar áreas imensas antes da próxima temporada de plantio. O processo, nem é preciso dizer, custa caro. Tratores consomem combustível e horas de trabalho de profissionais para manuseá-los. E geram todo tipo de despesas. Quanto mais são utilizados, maiores são os gastos com manutenção. O Reino Unido não está sozinho em robótica avançada para o agronegócio. No Brasil, a startup Smart Agri, nascida de uma incubadora da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba, interior de São Paulo, desenvolveu o Weed It, robô acoplado às máquinas agrícolas que pulveriza apenas áreas específicas da lavoura. A exemplo do modelo inglês, o Weed It detecta a presença de ervas daninhas e aciona a pulverização apenas sobre as plantas infectadas. “A tecnologia proporciona a redução de agroquímicos na faixa de R$ 100 por hectare”, diz o engenheiro agrônomo Marcos Nascimbem, sócio da Smart Agri. Na Suíça, a ecoRobotix criou um robô pulverizador movido a energia solar, com 12 horas de autonomia – o equivalente a um dia inteiro de trabalho. Segundo a empresa, para surtir o mesmo

efeito dos métodos tradicionais, o equipamento precisa de 20 vezes menos herbicidas. Pelo visto, as ervas daninhas estão com os dias contados. Os robôs-exterminadores vieram mesmo para ficar. PLANT PROJECT Nº10

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Patrocínio

O BRASIL VERDE NA BIG APPLE RenovaBio estreia diante dos investidores internacionais na conferência Santander ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol

F

oi uma première internacional com direito a tapete vermelho. Os principais nomes do setor sucroenergético mundial reunidos no luxuoso salão do New York Hilton Midtown Hotel, em Nova York, conheceram o programa que pode se tornar uma vedete dos investimentos e da geração de energia limpa nos próximos anos: o RenovaBio. Pela primeira vez desde que foi oficialmente aprovado e assinado pelo presidente Michel Temer, em março passado, o programa brasileiro de estímulo à produção ao uso dos biocombustíveis foi apresentado à comunidade internacional, sendo recebido com otimismo.

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Realizada no início de maio, em uma parceria entre Datagro, Santander e a International Sugar Organization (ISO), a 12ª edição da conferência teve como tema “O etanol pode absorver o excedente de açúcar no mercado?”. O assunto levantou debates sobre o cenário mundial do setor, devido ao atual momento de transformações do mercado com o Hemisfério Norte – em destaque para Índia e Tailândia – apresentando taxas altíssimas de produção em oposição ao decrescente número do Centro-Sul do Brasil, com algumas usinas dando preferência efetiva ao etanol. O evento reuniu centenas de pessoas do mundo todo


Evento

O salão do Hilton lotado para os painéis da conferência: mais de 300 executivos e líderes da indústria sucroenergética de todo o mundo

e contou com nove painéis com renomados nomes do setor de sucroenergia. Mas o destaque ficou mesmo para o RenovaBio, que tem potencial para conduzir o Brasil ao cumprimento das metas do Acordo de Paris para a redução de emissão de gases de carbono. Os percentuais obrigatórios de biodiesel e do etanol anidro – que serão adicionados gradativamente ao óleo diesel entre 2022 e 2030 – são os grandes trunfos do RenovaBio para atender às futuras demandas do setor e um dos aspectos mais exaltados pelos grandes nomes do ISO DATAGRO. O presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, representante da sociedade civil no Conselho

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Nacional de Política Energética, introduziu o tema logo no primeiro painel, sobre as demandas da safra mundial de açúcar para 2018/2019, fazendo uma comparação dos níveis de produção da safra passada. Nastari apontou para os preços do petróleo que se mantêm em alta – fato essencial para o valor da gasolina permanecer elevado –, além de destacar as metas de descarbonização do projeto. Juntamente com ele na apresentação do painel um, José Orive, presidente da ISO, discorreu sobre como o mercado de sucroenergia será protagonista em um futuro próximo: “Nós acreditamos que o mercado açucareiro tomará conta do cenário mundial e trabalhamos diariamente para PLANT PROJECT Nº10

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D

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Evento

contribuir com esse crescimento e fazer as pessoas perceberem o valor disso”, relata Orive. O quarto painel da conferência, com o tema “RenovaBio: uma nova fase de expansão para o Brasil? Implementação,

suas potencialidades, nas repercussões e externalidades que ele pode gerar”, afirmou. “Não há dúvidas de que esse evento aqui em Nova York é uma janela para o mundo, mostrando a experiência de sucesso que o RenovaBio

responsabilidades, alvos, impactos e competitividades”, marcou o principal momento de debate sobre as ações do RenovaBio. Moderado por Plinio Nastari, teve como debatedores o diretor de Departamento de Minas e Energia, Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, e os deputados Evandro Gussi, autor do projeto de lei que instituiu o RenovaBio, e Arnaldo Jardim, ex-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo. Para Gussi, o que mais chamou atenção foi a forma com a qual os investidores internacionais se mostraram atentos com o programa. “Nós percebemos aqui um grande interesse de investidores e players internacionais no que é o RenovaBio, nas

tem se transformado no Brasil e, por outro lado, coletando informações que serão fundamentais para o sucesso do programa”. Após o término das palestras, Michael McDougall, vice-presidente da ED&F Man Capital Markets Inc., confirmou a impressão de Gussi. Para ele, o programa será importantíssimo para o Brasil descentralizar sua produção. “O RenovaBio pode ajudar o Brasil lá na frente a sair um pouco da área de açúcar. Vendo as projeções de 2018, o mercado desse produto no Brasil pode cair para 35%.” Já para o diretor do Departamento de Minas e Energia, Miguel Ivan de Oliveira, o destaque fica para as propostas de energia limpa do RenovaBio, um

dos pontos mais relevantes para atrair investidores: “O RenovaBio é maior do que só no Brasil. Ele é uma política que se apresenta como uma oportunidade de incrementar o desenvolvimento na produção de uma energia limpa, de uma energia saudável, que pode reduzir o aquecimento global e, em última instância, salvar vidas no mundo todo”, disse. “O RenovaBio é uma oportunidade de ouro para promover o País e retomar o os anos áureos da economia brasileira” afirmou Mario Opice Leão, vice-presidente do Santander Brasil. Pela primeira vez como um dos realizadores do evento, o banco tem reforçado sua presença no cenário do agronegócio, com o intuito de se tornar uma


referência no setor. “Nosso objetivo é abraçar essa causa e com isso virar o banco do agro no Brasil, pelo menos no setor privado.” A conferência contou com palestras de diversos líderes renomados na indústria sucroenergética e CEOs de grandes empresas mundiais ligadas ao agronegócio, como Enrico Biancheri, diretor comercial LDC (Suíça); Marcelo Mancini Stella, vice-presidente da Atvos; Ivan Melo, diretor comercial da Raizen; Bob Dinneen, presidente da Renewable Fuels Association (EUA); Sergey Gudoshnikov, economista sênior da ISO (Inglaterra); Rangsit Hiangrat, diretor da Thai Sugar Millers Corporation Limited

(Tailândia); Frank Lee, diretor geral da Links Commodities Trading (China); Mario Salaverria, presidente da Sugar Association (El Salvador), Ashraf Mahmoud, CEO do Al Nouran Group (Egito); Friedrich Becker, chefe de Mercados Globais da Suedzucker (Alemanha); e Hans-Dieter Schroeder, consultor chefe de exportação da Pfeifer & Langen (Alemanha). A troca de informações entre eles, essencial para o desenvolvimento do negócio sucroenergético e tradicional no evento, foi um dos aspectos ressaltados pelo deputado Arnaldo Jardim. “O mundo todo da cana se encontra aqui para poder definir tendências, para poder integrar experiências”, afirmou.

No painel sobre o RenovaBio, os deputados Arnaldo Jardim e Evandro Gussi, Plinio Nastari, da DATAGRO, e Miguel Ivan de Oliveira, do Ministério De Minas e Energia (acima, da esq. para a dir.). No detalhe, Orive, da ISO (no alto) e Leão, do Santander

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M MARKETS

Markets

O DEBATE SOBRE A VENDA DIRETA DE ETANOL AOS POSTOS

Pl i n i o N a s t a r i *

A v end a d ire ta s e m pas s ar p e la s di s t ri b u id o r a s v e m s endo debat id a c o m o p o s s íve l man ei r a d e re d u z ir o preço d o e t a n o l a o cons u m id o r. O te m a é reg u la d o p e l a Ag ê nc ia N aci o n a l d o Pe tr ó l e o , G ás N a t u r a l e B i oc o m b u s t í v e i s ( A N P ) , qu e de te r m i n a a obri g a t o r ie d a d e de com e rc i a liz a ç ã o o bs erv a d o s t o d o s o s el o s d a c a d e ia de com e rc i a liz a ç ã o , pro duto r- d i s tr i b u id o r- re ve nda. A p r im e ir a q u e s tã o é v eri fic a r s e e x i s te barrei r a e fe tiv a à v e nda di ret a. E m pri n c í p i o , o p ro d u to r pode c o n s t i tu i r o u adqu i r i r u m a di s t ri b u id o r a , p o r ta n t o cabe ve r i fic a r s e e x i ste barrei r a à e n tr a d a para c o n s titu i ç ã o , o u t ran s fe r ê n c i a de t i t u l a r i d a d e , de di st r ib u id o r a . s o ja .

N a sa fr a 2 0 1 6 /1 7 , e ssa pa r tic ipa ç ã o já e r a de 5 3 % . E no s pr ó ximo s a no s a té 2 0 2 9 /3 0 , pro je ta mo s que e sse núme ro a ume nte pa r a 5 7 % . De ssa ma ne ir a , a pa r tic ipa ç ã o do B r asil na pro duç ã o mundia l, que pa sso u de 2 6 % p ara 3 3 % no s último s de z a no s, de ve a ting ir 3 6% a té 2 0 3 0 . P o r to do s esses mo tivo s é que a so ja e o milho c o ntinua r ã o se n do o mo to r do c re sc ime nto a g r íc o la do B r a sil. Do po nto de vista e mpre sa r ia l, a ve nda dire ta po de a pre se ntar r isc o s. O e ta no l a nidro pa r a ser mistur a do à g a so lina pre c isa pa ssa r po r uma distr ibuido r a , po is te c nic a me nte a mistura nã o po de se r re a liza da no s po sto s. P o r ta nto, seu e fe ito se limita r ia a o e ta no l hidr a ta do . N o caso do hidr a ta do , há a inda

a segmentação entre os postos denominados de bandeira, e os de bandeira “branca”. Existem no Brasil 42.039 postos de revenda, dos quais 57,5% de bandeira, e 42,5% de bandeira branca. No entanto, os postos de bandeira branca distribuem cerca de 20% do combustível comercializado. Como a relação entre as distribuidoras e os postos de bandeira é definida em contratos, a liberação em grande parte do mercado não atingirá postos de bandeira, limitando-se à parte do mercado de bandeira branca. Caso uma autoridade gover namental resolva interferir nessa seara, certamente haverá judicialização. A venda direta pode também trazer como consequência a regionalização

* Presidente da DATAGRO e representante da sociedade civil no CNPE, Conselho Nacional de Política Energética.

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M MARKETS

da dis tr i b u iç ã o . O s p ro d u to re s n ã o di s põ e m d e i n f rae s t r u t u r a p a r a di s t ri b u iç ã o e m e s c a la como fro ta , d u to s , t anqu e s , b a s e s s ecun d á r i a s , i n s t a la ç õ e s p o r t u á r i a s e s i s t em a d e c a b o t a ge m. Fi nal m e n t e , é pre c i s o a v a lia r s e o es f o r ç o v a le a rec o m p e n s a . O o bj et i v o s e r i a c a p tur a r o res u l ta d o líq u id o da marg e m d e di s t ri b u iç ã o , d e d u z ido s o s cu s t o s . Es te res u l ta d o p re c i s a r i a se r mai o r d o q u e a reco m p e n s a p o r part ic ip a r d o R eno v a Bio , p o i s s e m a ex i s t ê n c ia d a di s t ri b u id o r a c o m o part e o b r i g a d a , n ã o há como re c e b e r o pret e n d i d o b e n e fíc io da v en d a d o c r é d ito d e des c a r b o n i z a ç ã o , q ue é o es t í m u l o p a r a o au me n to d e produ tiv i d a d e . A v en d a d i re t a é , port a n t o , i n c o n s is te nte com o p ro g r a m a R eno v a Bio . D o p o n t o d e v i s ta d e pol í t ic a p ú b lic a , o obj e tiv o d e v e s e r

a sse g ur a r a ma nute nção da distr ibuiç ã o , c o m qua lida de , pre se r va ção da c o mpe tiç ã o e ntre o s a g e nte s, c a pa c idade de fisc a liza ç ã o e o fe rta do pro duto a ba ixo c usto a o c o nsumido r. N o mo me nto e m que o R e no va B io se c o nso l ida, e te m a s distr ibuido ras c o mo pa r te s o br ig a d as, o de ba te so bre a ve n da dire ta po de a tr a pa lhar sua c o nso lida ç ã o . Ta lve z a pre o c upa ç ã o re a l de a lg uns pro duto re s po de e star re la c io na da à ine fic iê nc ia g e r a da p elo de no mina do “pa sse io do e ta no l”, qua ndo no pro c e sso de distr ibuição sã o g e r a do s c usto s d e fre te que po de r ia m ser e vita do s, pe lo e nvio do pro duto a té ba se s se c undá r ia s de distr ibuiç ã o pa r a de p ois re to r na re m a po sto s de re ve nda pr ó ximo s à usina pro duto r a . E sse, sim, po de se r o te ma pa r a o qua l c a re c e disc ussã o ma is a c ur ada e pa r a o qua l uma so luç ã o po de tr a ze r ma io r c o mpe titivida d e pa r a to do s o s pro duto re s, e um be ne fíc io re a l de

redução de preço aos consumidores. Presidente da DATAGRO e representante da sociedade civil no CNPE, Conselho Nacional de Política Energética

PLANT PROJECT Nº10

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SUA REDE DE

CONEXÃO

COM O AGRO DO FUTURO

Todo dia é uma oportunidade de criar novas e relevantes histórias no campo. Com a Plant é assim: há 2 anos desenvolvemos conexões inteligentes, consistentes e decisivas entre o agro do futuro e as grandes marcas através de projetos transformadores. Quer transformar seus negócios no campo? Conecte-se com o agro do futuro. Acesse: www.plantproject.com.br 138


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