Plant Project #26

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

AGROBIODIGITAL Assim, tudo junto, será o caminho para o futuro do agronegócio?

SUSTENTABILIDADE As tecnologias que ajudam no uso racional dos insumos

CIÊNCIA AS GRANJAS PAULISTAS NA CORRIDA DAS VACINAS CONTRA A COVID-19 FALTA UM AGROFLIX?

Por que é difícil ver o campo nas plataformas de streaming

TECNOLOGIA OS AGROBOTS INVADEM A LAVOURA

MAREMANO ABRUZÊS venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br 1

O valente guarda-noturno dos rebanhos


HÁ 10 ANOS NO BRASIL, CONSTRUINDO SOLUÇÕES BIOLÓGICAS PARA TORNAR A A G R I C U LT U R A M A I S S A U D Á V E L , SEGURA E PRODUTIVA.

A agricultura que queremos para o nosso futuro está em nossas mãos. Leia o QRcode com o seu celular e descubra os caminhos para fazer parte dessa mudança.

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Tecnologia viva que transforma o campo PLANT PROJECT Nº26

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E d ito ri a l

AS ARMAS DO AGRONEGÓCIO

A agropecuária é uma atividade complexa, exposta a muitos riscos. Alguns, são tão antigos quanto o próprio ato de plantar: climáticos, de pragas, de segurança, de mercado. Outros, típicos dos nossos tempos, como os de imagem. Quem produz para o mundo e negocia com o mundo entende que

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

precisa encarar cada um desses desafios sem perder de vista a percepção do AGROBIODIGITAL Assim, tudo junto, será o caminho para o futuro do agronegócio?

SUSTENTABILIDADE As tecnologias que ajudam no uso racional dos insumos

CIÊNCIA

cliente. E muito dessa percepção vem do que mostramos para ele. Cuidar da imagem do agro é, de certa forma, um trabalho semelhante ao de

AS GRANJAS PAULISTAS NA CORRIDA DAS VACINAS CONTRA A COVID-19 FALTA UM AGROFLIX?

Por que é difícil ver o campo nas plataformas de streaming

TECNOLOGIA OS AGROBOTS INVADEM A LAVOURA

se cultivar a terra. Usa-se bons insumos, fertiliza-se o terreno com comunicação positiva, faz-se o controle das pragas da desinformação, do discurso

MAREMANO ABRUZÊS venda proibida distribuição dirigida www.plantproject.com.br

O valente guarda-noturno dos rebanhos

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foto da capa: Koppert

arcaico e do retrocesso. Somos férteis em exemplos e imagens que comprovam nossa vocação para liderar uma nova era do agronegócio, que valoriza a convivência harmoniosa com a biodiversidade e colhe frutos do uso das melhores práticas socioambientais. O agronegócio é um instrumento de paz. Uma campanha em curso no Brasil e em outros países defende, por exemplo, a indicação do ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli ao prêmio Nobel da Paz por sua contribuição ao combate à fome através do aumento da produção de alimentos. A revolução agrícola brasileira foi feita com base na ciência, na tecnologia e no espírito empreendedor dos nossos produtores. A disposição de inovar, a resiliência para superar dificuldades, a busca pela produtividade responsável são as verdadeiras armas do agricultor brasileiro.

Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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Í ndi ce

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G pág. 7 Ag pág. 17 Fo pág. 73 Fr pág. 79 W pág. 87 Ar pág. 95 S pág. 101 M pág. 114 G LO B A L

D i r etor E ditoria l Luiz Fernando Sá luiz.sa@plantproject.com.br D i r etor Comerc ia l Renato Leite Marketing e Publicidade Multiplataforma renato.leite @plantproject.com.br D i r etor Luiz Felipe Nastari A rt e Andrea Vianna Projeto Gráfico e Direção de Arte E d i tor Romualdo Venâncio romualdo.venancio@plantproject.com.br Col ab or a dor es: Texto: André Sollitto, Irineu Guarnier Filho, Lívia Andrade, Ronaldo Luiz Fotos: Isadora Guarnier Design: Bruno Tulini Diagramação: Giulia Naccarato Pro d ução Daniele Faria R ev i são Rosi Melo Ev e n tos Simone Cernauski A d m i n ist r ação e Fina n ç as Cláudia Nastari Sérgio Nunes

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Segurança máxima nas lavouras:

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O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock

Governo americano abre laboratório para se precaver de ameaças biológicas à agropecuária

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GLOBAL

foto: Shutterstock

O lado cosmopolita do agro

E S TA D O S U N I D O S

A CIÊNCIA CONTRA O TERROR Governo americano abrirá laboratório de segurança máxima para estudar possíveis ameaças biológicas à agropecuária

Em 2002, um grupo de fuzileiros navais americanos fez uma intrigante descoberta ao invadir um bunker subterrâneo utilizado por membros do grupo terrorista Al-Qaeda no Afeganistão. Em meio a centenas de documentos, uma folha de papel, com uma lista de 16 patógenos, escrita à mão, chamou a atenção dos militares, a ponto de ser levada ao general Richard B. Myers, então comandante do Estado-Maior das forças militares americanas. Havia alguns antigos inimigos conhecidos relacionados ali, liderados pela bactéria causadora da peste bubônica. Ao lado de cada nome, informações como o período de incubação, forma de 8

transmissão e taxa de mortalidade. O que despertou a curiosidade de Myers, porém, foi que a maior parte dos agentes microscópicos listados não provocavam mal direto a humanos. Na coluna das doenças provocadas por eles apareciam pragas como ferrugem do caule, brusone do arroz, febre aftosa, gripe aviária, cólera suína. Em um possível ataque biológico, concluiu o general, o alvo não eram pessoas – pelo menos não diretamente –, mas o sistema global de produção de alimentos. A suspeita confirmou-se meses mais tarde, quando um relatório de um serviço militar de inteligência informou ter


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descoberto uma célula da Al-Qaeda no nordeste do Iraque, cuja missão era testar o efeito de patógenos em cães e cabras. Para as autoridades de segurança americana, ficou claro que, diferentemente do que ocorreu no atentado às Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001, eventuais novas ações do grupo terrorista poderiam ter como alvo áreas menos visíveis dentro do território americano: as fazendas que fazem dos Estados Unidos um dos principais produtores de alimentos do mundo. As imagens não seriam tão espetaculares, mas os efeitos poderiam ser ainda maiores e sentidos por longo tempo. Levado ao meio rural americano, o terror biológico encontraria uma área menos vigiada pelos aparatos de segurança. Além disso, o investimento em multiplicar e espalhar pragas que afetam rebanhos ou lavouras é bem menor do que o necessário para organizar uma operação complexa em uma área urbana bem policiada. Nos Estados Unidos, a produção agropecuária é concentrada em poucos estados, o que facilitaria a proliferação dos patógenos. Apesar de o alerta ter sido dado, foram necessárias quase duas décadas e um investimento de cerca de US$ 1,25 bilhão para que os Estados Unidos apresentassem uma resposta efetiva a ela. Batizado de National Bio and Agro-Defense Facility

(NBAF – Laboratório Nacional de Defesa Biológica e Agrícola, em uma tradução livre), deve ser inaugurado no ano que vem o mais moderno centro de pesquisas voltado à proteção do sistema americano de produção de alimentos. Localizado em Manhattan, cidade do estado do Kansas bem no coração do cinturão agrícola do país, ele receberá equipamentos de última geração e o mais alto nível de segurança disponível para desenvolver mecanismos que impeçam ações de terrorismo biológico ou antídotos para o caso de essas ações terem ocorrido. O laboratório não estará sob supervisão da USDA, similar a um ministério de agricultura americano, mas do Departamento de Segurança Interna, que comanda todo o aparato de combate a ameaças ao território dos Estados Unidos. Até a abertura do NBAF, toda a pesquisa relacionada a possíveis agentes infecciosos com potencial de serem usados como armas biológicas sobre o rebanho americano está concentrada em uma única instalação do governo americano, o Animal Disease Center (Centro de Doenças Animais), inaugurado nos anos 1950 pelo USDA na ilha de Plum, na costa do estado de Connecticut. É lá, por exemplo, que se realizam as pesquisas para desenvolvimento de uma vacina contra a peste suína africana, considerada uma

das mais letais ameaças à produção global de suínos. Envolto em mistério e lendas, o laboratório de Plum já foi objeto de uma reportagem da PLANT (edição 17). Seu grande trunfo é a localização em uma ilha de acesso restrito. Mas as autoridades americanas há tempos consideram essa proteção natural pouco efetiva e vinham reclamando do fato de o local não estar adequado ao nível 4 de biossegurança, o mais alto patamar para evitar a disseminação de vírus e outros micro-organismos. Além disso, as instalações de Plum não estão preparadas para receber grandes animais para serem estudados em condições de isolamento. Atualmente, há apenas três laboratórios no mundo nesse estágio – um na Alemanha, um na Austrália e outro no Canadá. O quarto será justamente o NBAF. Para lá serão levadas amostras dos piores inimigos do agronegócio global. A esperança é que, com a ajuda de cientistas atuando em segurança máxima, a lista da morte da Al-Qaeda dê origem a uma lista da vida. PLANT PROJECT Nº26

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G H O L A N DA

O TESTE CORONASPRESSO Quantidade e precisão. Quando se trata de monitorar a incidência de infecções pelo coronavírus em uma determinada área, é preciso fazer muitos testes no menor tempo possível, além de contar que eles tragam os resultados corretos. Os mais populares métodos usados durante a pandemia de Covid-19 falharam em pelo menos um desses quesitos. O teste por antígeno, barato e rápido, não é suficientemente confiável. Já o PCR, que identifica o DNA do vírus, é mais preciso, mas deve ser feito em laboratórios especializados e, por isso, é mais caro e demorado. Unir o melhor dos dois modelos é um desafio que cientistas vêm buscando incansavelmente, entre eles Vittorio Saggiomo, químico do grupo de bionanotecnologia da Universidade de Wageningen, na Holanda. Ele identificou que um método conhecido como amplificação isotérmica mediada por loop (Lamp, na

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sigla em inglês), que tem princípios muito semelhantes aos do PCR, mas que permite a identificação mais simples do vírus através de reação química, como os testes rápidos. O problema é que o Lamp necessita de um controle preciso da temperatura, que exigiria um termostato eletrônico difícil de produzir e enviar em escala suficiente para que fosse feito na casa de milhões de pessoas. Então Saggiomo tentou buscar uma maneira de contornar isso. Ele encontrou substâncias chamadas materiais de mudança de fase que absorvem energia (calor) à medida que derretem e, assim, mantêm uma temperatura constante. Depois de encontrar uma cera feita desse material, que derreteu exatamente na temperatura exigida, Saggiomo começou a construir um dispositivo para abrigar os tubos de reação dos

testes Lamp e os pedaços de cera. Em seguida, ele precisava ser inserido em algum outro material que pudesse ser aquecido. Ao fazer um café em casa, deparou com o invólucro perfeito: cápsulas para a máquina de café Nespresso. A etapa final foi apenas encontrar a maneira certa de aquecer as cápsulas. Ele experimentou a máquina de lavar louça, o forno de microondas e xícaras cheias de água quente, mas a melhor solução foi uma panela simples de água fervente em um fogão. O dispositivo “CoroNaspresso” resultante, quando testado por outros membros da equipe, com cotonetes de seis pessoas, identificou corretamente três casos de Covid-19 (estes tinham uma cor diferente da dos testes negativos). Novos testes ainda estão sendo feitos, mas as expectativas são as melhores. Vale um café para comemorar.

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O LUBRIFICANTE QUE TRABALHA DURO, DIA E NOITE Dia e noite, ciclo contínuo. O mundo da agricultura exige longas horas de trabalho duro. Suas máquinas são a alma do seu negócio. Por esse motivo, elas devem oferecer a máxima confiabilidade e trabalhar com segurança, eficiência e incansavelmente para atender às necessidades do campo.

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G QUÊNIA

A MURALHA VERDE DA ÁFRICA

1] EXPLICANDO O SAARA: Maior deserto do mundo, ele ocupa atualmente cerca de 9 milhões de quilômetros quadrados, área superior à do território brasileiro. Estima-se que essa área tenha crescido cerca de 10% no último século, expandindo-se para áreas semiáridas ao Sul, como a zona do Sahel, na África Central. O Saara espalha-se praticamente de costa a costa na parte norte do continente, começando no Oceano Atlântico e terminando no Mar Vermelho.

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O projeto não é exatamente novo e muita gente já achava que já estava fadado ao abandono. Mas uma nova injeção de recursos – nada menos do que US$ 14 bilhões – recolocou a Grande Muralha Verde da África no noticiário. O anúncio do novo investimento foi feito há poucos meses pelo governo da França, juntamente com o Banco Mundial e outros doadores públicos e privados. O valor representa pouco mais de 40% dos US$ 33 bilhões que se estima serem necessários para que a ideia de restaurar a vegetação de uma enorme faixa de quase de 8 mil quilômetros de extensão por 15 quilômetros de largura no coração do continente seja realizada até 2030. Concebida em 2007 pela União Africana (UA), a ideia da muralha é usar essa enorme estrutura viva para conter o avanço do deserto do Saara, evitando assim que se alastrem seus efeitos ambientais, sociais e econômicos. Durante mais de uma década, o projeto andou a passos de tartaruga. Até agora apenas 4 milhões de hectares (4% da meta) foram restaurados. A área chegaria a 20 milhões de hectares se somadas outras iniciativas fora das áreas oficiais da Grande Muralha. Além da falta de regularidade na liberação de recursos, o projeto esbarrou na instabilidade política em vários dos 11 países envolvidos no projeto, especialmente na África Central, onde grupos terroristas controlam parte dos territórios. Ainda assim, há impactos a serem comemorados e esperança no horizonte com a retomada do financiamento internacional. Segundo dados da ONU, as atividades agroflorestais na região, com o cultivo de alimentos e frutas, por exemplo, renderam US$ 90 milhões e geraram mais de 335 mil empregos no meio rural na região. Conheça mais detalhes do ambicioso projeto:


2] A MURALHA EM NÚMEROS: Extensão: cerca de 8 mil km Largura: 15 km em média Área total: 100 milhões de hectares Número de países envolvidos: 11 População em sua zona de influência: 135 milhões de habitantes

3] AÇÕES PREVISTAS NO PROJETO: Além do plantio de árvores, com projetos de reflorestamento com plantas nativas, os países envolvidos devem adotar políticas de incentivo a projetos agrícolas e agroflorestais, criação de terraços e conserto de dunas, que impede o movimento da areia e permite o restabelecimento da vegetação natural. Também estão incluídas medidas de preservação do solo e de abastecimento de água, protegendo os aquíferos da região.

4] BENEFÍCIOS SPERADOS: – Redução da temperatura média da região; – Absorção de 250 milhões de toneladas de carbono; – Criação de 10 milhões de empregos; – Tornar o solo agriculturável; – Produzir alimento para quem vive em regiões com altos índices de seca e fome.

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G EMIRADOS ÁRABES UNIDOS

DRONES QUE FAZEM CHOVER Chuva é algo raro na Península Arábica. A média anual de precipitações nos Emirados Árabes é de 100 milímetros, menos de 10% da registrada em São Paulo, por exemplo. O clima é seco, mas não faltam nuvens. O que ocorre é que as gotas que elas carregam são tão pequenas e distantes que não têm peso suficiente para cair. Por isso, cientistas do país, em parceria com pesquisadores da universidade britânica de Reading, procuram alternativas para gerar estímulos que aproximem essas gotas, fazendo-as se fundirem. Uma das soluções testadas

é o uso de drones para “dar um choque” nas nuvens, alterando a carga elétrica das gotículas de chuva. “Equipados com instrumentos de emissão de carga elétrica e sensores personalizados, esses drones voarão em baixas altitudes e fornecerão uma carga elétrica às moléculas de ar, o que deve estimular a precipitação”, afirmou Alya Al-Mazroui,

diretora do programa de pesquisa científica para intensificação da chuva nos Emirados, ao Arab News. Os cientistas esperam replicar com as gotas o efeito que a eletricidade estática gera entre “cabelo seco e pente”. Se a experiência com drones for bem-sucedida, a intenção é utilizar aeronaves maiores para dar escala ao projeto.

E S TA D O S U N I D O S

MUÇARELA DE MICRÓBIOS

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Pizzaiolos americanos têm muitas opções quando pensam na cobertura de suas massas: muçarela tradicional bovina, de búfala, queijos de cabra ou até produzidos à base de plantas. A novidade no mercado são os laticínios (se é que se pode chamar assim) produzidos a partir de micróbios. Desenvolvidos pela startup Superbrewed Food, os produtos são obtidos através de um processo de fermentação anaeróbica, semelhante ao que transforma cevada em cerveja – em grandes tanques de uma unidade industrial localizada na cidade de Little Falls, no estado de Minnesota. A empresa cria proteínas fermentando probióticos desativados. O nome do organismo utilizado é guardado em segredo, mas segundo o CEO da Superbrewed, Brian Tracy, trata-se de um micróbio naturalmente encontrado no sistema digestivo humano.


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ÁUSTRIA

VACAS CONTRA O PLÁSTICO O destino do plástico é um dos maiores desafios ambientais. O material, derivado do petróleo, pode levar séculos para se decompor e seus resíduos são um importante agente poluidor, sendo responsáveis pela morte de milhares de animais em todas as regiões do planeta. Apenas nos oceanos, por exemplo, estima-se que existam 14 milhões de toneladas de microplásticos, que são ingeridos e intoxicam espécies marinhas – e, por consequência, aqueles que se alimentam delas. Uma solução inusitada para o problema, porém, pode estar exatamente no estômago de uma espécie animal. Cientistas de três instituições austríacas – a Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida, de Viena, a Universidade de Innsbruck e o Centro Austríaco de Biotecnologia Industrial – descobriram que enzimas e micróbios presentes no rúmen, a maior parte do estômago dos bovinos, podem quebrar as moléculas de alguns dos plásticos mais utilizados em sacolas, garrafas, embalagens de alimentos e até roupas. Segundo George Gübitz, um dos pesquisadores que lideraram o estudo, publicado na revista científica Frontiers, essas substâncias podem degradar os plásticos em algumas horas. Os 16

cientistas decidiram testar essa hipótese após constatar que o sistema digestivo dos bovinos é capaz de dissolver alguns alimentos dificilmente degradáveis, como a cutina, uma substância cerosa presente na superfície de algumas plantas, como cascas de maçãs e de frutas silvestres. A cutina apresenta semelhanças com polímeros como o PET, usado na produção de garrafas plásticas. “O material do rúmen é mais eficiente na decomposição dos plásticos do que outras enzimas que estão sendo testadas nos últimos dez anos”, afirma Gübitz. Para ele, a descoberta é promissora e uma eventual produção em escala dessa substância pode criar um novo mercado para a indústria da carne.


Detalhe de agente microbiológico usado no controle de pragas: Combinação de tecnologias é a receita do agro do futuro

Ag AGRIBUSINESS

foto: Divulgação Koppert

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag Empresas e líderes que fazem diferença

O agronegócio brasileiro precisa romper barreiras que vão muito além dos limites geográficos para continuar a evoluir em várias direções, de diversas formas e em diferentes níveis. E tem um plano para isso

P or R omualdo V enâncio

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foto: Divulgação Koppert


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ualquer análise sobre a evolução da agricultura brasileira – ainda que simples e rápida – confirmará o enorme e consistente salto de rendimento das últimas décadas. Pode parecer clichê, mas isso é resultado da combinação de vários fatores, como melhoramento genético, manejo de solo, cuidado nutricional e sanitário, inovações tecnológicas e capacitação das pessoas. Veja só esses dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) sobre a produtividade média da soja brasileira. Na safra 1990/91, a performance das lavouras foi de 1.580 quilos por hectare. Em dez anos, esse índice cresceu 74%, chegando a 2.751 kg/ha no período 2000/01. Daí para a frente, o avanço por década ficou mais modesto, sem deixar de ser importante, ali na casa dos 13%. A estimativa de desempenho para a safra atual é de 3.528 kg/ha. “Um sistema agropecuário, seja qual for, é um sistema biológico, e por isso autolimitante. Por mais relevantes que sejam as ciências agrárias, ele não consegue mais potencializar além de sua capacidade”, afirma Cleber Oliveira Soares, secretário adjunto da Secretaria de Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “As ciências digitais é que farão essa curva voltar a crescer”, acrescenta ele. Romper as barreiras que limitam o crescimento, mais que um desafio, é uma oportunidade e uma necessidade para o agronegócio brasileiro diante de um mundo que demanda alimentos em uma escala cada vez maior. Um plano nesse sentido foi elaborado na secretaria comandada por Soares. Na base dele está um termo novo que o secretário cultiva com esmero: agrobiodigital. O conceito, como a gênese do neologismo indica, é a confluência de tecnologias que têm provocado revoluções localizadas no setor. Colocar o plano em prática significa coordená-las e investir nelas. A largada foi dada. Da virada do século em diante, avalia Soares, mais de 80% dos

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Matéria de capa

Ag

............................... “Todo sistema agropecuário é um sistema biológico, e por isso autolimitante”

................................ //Cleber Soares, secretário adjunto de Inovação do MAPA

incrementos de produtividade na agricultura brasileira estão relacionados à tecnologia, enquanto até os anos 1990 esse fator não passava de 25%. Naquela época, mais de 70% dos avanços de rendimento vinham mesmo da somatória de terra e trabalho. “Quando falamos de inovação, o Brasil avançou muito, saindo de importador líquido de quase tudo o que consome para se tornar exportador. Mas qual é a perspectiva de crescimento de produtividade na camada principal da agropecuária?”, questiona o secretário. “Nem temos mais áreas para avançar. Um estudo da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), de 2015, mostrou opções de áreas subsaarianas na África, mas levaria entre 50 e 60 anos para serem preparadas. Na América do Sul, também há alguns espaços, mas, como no continente africano, por questões geopolíticas e até sociais, é difícil de chegar”, explica Soares. Segundo ele, a saída é o crescimento vertical, com mais produção no mesmo lugar. O termo agrobiodigital resume a perspectiva de inovação do governo federal para o agronegócio até 2025. “Fizemos um desenho na secretaria para identificar quais seriam os grandes direcionadores trazidos pela inovação e que vão mudar o agro”, diz Soares. Esse estudo levou à definição de uma nova agenda, chamada de B2, que é baseada em cinco eixos estratégicos: sustentabilidade, bioeconomia, inovação aberta, digital e foodtech.

Todos acabam se interligando, o que permite aproveitar o melhor do que já existia nas cadeias produtivas da agropecuária e tudo o que há de mais inovador para atender, no final das contas, às demandas atuais do consumidor final. “A sociedade como um todo está cada vez mais conectada, cobrando uma agenda mais baseada em sustentabilidade, algo que até se intensificou com a pandemia, pela preocupação com a higiene dos alimentos, sua origem e como foram produzidos.” AGRO MAIS SUSTENTÁVEL Cleber Soares é um dos autores de uma série de artigos publicados pela PLANT PROJECT no ano passado, dois meses após o início da pandemia da Covid-19, com o tema #OAGRONUNCAPARA. Ali ele já falava sobre a importância do agronegócio para mitigar diversos problemas mundiais e liderar uma transformação global a partir da conexão saúde-alimento-humanidade. Um dos pilares desse movimento é exatamente a sustentabilidade. Dentro do conceito do agrobiodigital, essa questão está fortemente ligada à redução da pegada de carbono nas cadeias produtivas, ou seja, à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), e à preservação ambiental. Essa tendência já é realidade nas políticas públicas aqui no Brasil. Não por acaso, o Plano Safra 2021/22, lançado em 26 de junho, veio acompanhado do slogan “Cada vez mais verde”. Projetos voltados à PLANT PROJECT Nº26

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consolidação de uma agropecuária mais sustentável terão maior relevância na obtenção de recursos, no montante de R$ 251,2 bilhões disponibilizados para crédito rural pelo governo federal por intermédio do Mapa. Destaque para o Inovagro, o Proirriga e o Plano ABC. Este último, inclusive, o Plano Nacional de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, tem atenção dobrada. Os recursos destinados a esta linha de crédito foram ampliados em 101%, passando a marca dos R$ 5 bilhões. Inovagro e Proirriga receberão R$ 2,6 bilhões e R$ 1,35 bilhão, respectivamente.

............................................................. “Pesquisa mostra que 49% dos consumidores já consideram a sustentabilidade como fator decisivo na compra de alimentos e bebidas” .............................................................

foto: Wenderson Araujo/CNA

O Plano ABC entrou em uma nova fase, sendo chamado de Plano ABC+. Quando foi criado, em 2010, o projeto previa o alcance de 35,5 milhões de hectares com a aplicação de seis tecnologias que compõem seu escopo de atuação: floresta plantada, recuperação de pastagens, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio (FBN), manejo de dejetos e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). A proposta de

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mitigação de emissão de dióxido de carbono (CO2) equivalente era de 132 a 168 toneladas. O balanço da primeira década trouxe resultados animadores, com a abrangência de 52 milhões de hectares e a redução de cerca de 170 milhões de toneladas na emissão de CO2 equivalente. A expectativa para até 2030 é de que os resultados sejam ainda mais expressivos e em múltiplas direções. A cobrança dos consumidores finais mundo afora tem influência direta nessas e em muitas outras medidas que vêm sendo adotadas para que a agropecuária seja mais sustentável. E não apenas em relação aos alimentos, mas também a fibras, energia e outros itens. Pesquisa recente realizada pela Kerry, referência internacional no desenvolvimento de soluções em Taste & Nutrition, com 14 mil consumidores de 18 países, mostrou que 49% deles passaram a considerar a sustentabilidade como um dos fatores decisivos na compra de alimentos e bebidas em vários níveis. Na América Latina, essa parcela é ainda maior. Dos quase 4,9 mil entrevistados em Argentina, Brasil, Colômbia, Guatemala e México, 75% disseram ser influenciados pela sustentabilidade ao comprarem alimentos e bebidas em lojas e 72%, em restaurantes. Isso envolve embalagens sustentáveis, preservação do meio ambiente e ajuda comunitária. “Esses consumidores com uma visão de sustentabilidade

Uso eficiente da terra e bem-estar animal estão entre as prioridades para reduzir a pegada de carbono da cadeia produtiva de carne bovina


foto: CNA Wenderson Araujo/Trilux/CNA

Matéria de Capa

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Evolução média da produtividade da soja brasileira parou na casa dos 13%, nas duas últimas décadas, e para ir além disso precisa de um crescimento vertical

buscam ativamente produtos alimentares e bebidas que tenham um impacto significativamente positivo no planeta, bem como na saúde e bem-estar pessoal, procurando produtos com rótulos limpos e ingredientes de origem local”, diz Soumya Nair, diretora de Insights da Kerry. De maneira geral, esses novos hábitos de consumo são bem mais perceptíveis nas novas gerações. ABAIXO AS PEGADAS DE CARBONO As cadeias produtivas já vêm respondendo a essa demanda dos consumidores finais, que na verdade é um desafio da sociedade como um todo. A Global Roundtable for Sustainable Beef (GRSB), ou MesaRedonda Global da Carne Bovina Sustentável, anunciou no final de junho deste ano o compromisso de, até 2030, reduzir em 30% o impacto líquido de cada unidade produtiva no aquecimento global. Isso acontecerá pelo fomento de medidas como a mitigação de emissões de GEE, a melhoria no uso da terra e o aprimoramento das boas práticas de bem-estar animal. “O mundo depende da carne bovina e a indústria depende de um mundo saudável para produzi-la. Por isso existe uma demanda crescente na indústria para proteger e conservar os recursos naturais do planeta”, afirma Ruaraidh Petre, diretor executivo do GRSB. A entidade atua em 24 países e conta com mais de 500 membros, que são responsáveis por mais de dois terços do comércio

internacional de carne bovina. No Brasil, a instituição é representada pelo Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), presidido pelo pecuarista Caio Penido (Agropecuária Água Viva, de Cocalinho-MT). Empresas nacionais e globais, donas de grandes marcas dos mais variados segmentos, têm ingressado ou apertado o passo na corrida pela redução da pegada de carbono. Ainda no segmento de proteína animal, a JBS, segunda maior companhia mundial de alimentos, acaba de fechar uma parceria com o Instituto de Zootecnia (IZ) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para o desenvolvimento de estudos referentes à mitigação dos GEE na bovinocultura, sobretudo o metano. O objetivo é proporcionar nutrientes mais eficientes para a dieta do gado (corte e leite) por meio de novos aditivos alimentares. Essa pesquisa será realizada a partir do recém-inaugurado Laboratório de Fermentação Ruminal e Nutrição de Bovinos de Corte do IZ. A divisão agrícola da Bayer Brasil apostou na logística, envolvendo diferentes modais, para começar um processo de descarbonização. Parte dessa iniciativa já acontece, desde abril, pelo transporte ferroviário, no trecho que vai da cidade de Sumaré, em São Paulo, até Rondonópolis, em Mato Grosso. A empresa também está substituindo caminhões movidos a diesel por elétricos, e a primeira entrega por meio de um veículo que não emite CO2 PLANT PROJECT Nº26

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Sustentabilidade também está na moda: L’Oréal lança sua primeira fragrância com neutralidade de carbono

aconteceu em junho, na região de Piracicaba (SP). A medida faz parte de uma meta maior, que é se tornar uma companhia carbono neutro até 2030. “Trata-se de uma iniciativa pioneira. Estamos dando, em colaboração com nossos fornecedores e parceiros, o primeiro passo do que será uma longa jornada de inovação ecológica no agronegócio brasileiro”, diz Schirley Wirtti, líder de Cadeia de Fornecimento da Bayer Brasil. Sustentabilidade é algo que se constrói – e se mantém – de maneira coletiva, e isso tem motivado o surgimento cada vez maior de parcerias no agronegócio em busca de soluções que, como não poderia deixar de ser, são amparadas pela ciência. A Klabin se juntou à Embrapa no sentido de buscar e validar diretrizes de um sistema silvipastoril, baseado em ILPF, que possibilite o aproveitamento integral de floresta plantada para a produção de celulose e papel na mesma área em que se cria bovinos de corte. Dessa forma, os pecuaristas teriam condições de acessar o mercado de carne baixo carbono. Um diferencial desse projeto é que a mitigação dos GEE dos bovinos a partir do sequestro de carbono das árvores envolve também as raízes das plantas. “Informações como o potencial de armazenamento e por quanto tempo o carbono fica armazenado ainda não são conhecidas no caso de sistemas silvipastoris voltados à produção de celulose e papel, que têm modelagens diferentes das usadas nos plantios voltados à produção de madeira para serraria”, diz Vanderley Porfírio da Silva, pesquisador da Embrapa Florestas e coordenador desse projeto. Para se ter ideia de como o tema sustentabilidade permeia os ares dos mais diferentes segmentos, a L’Oréal acaba de lançar sua primeira fragrância com o compromisso de neutralidade de carbono. O perfume feminino My Way, da marca Georgio Armani, apresenta um sistema inovador de recarga, que pode ser feita de forma automática, simples, limpa e sem desperdício. Basta acoplar o refil de 150 ml ao frasco de 50 ml do perfume. De acordo com a empresa, esse novo conjunto, que corresponde a quatro frascos de 50 ml, possibilita a redução do uso de papelão em 32%, de vidro em 55%, de plástico em 64% e de metal 24

em 75%. A L’Oréal pretende alcançar a neutralidade de carbono até 2025 com a utilização total de energia renovável. No caso da My Way, a marca ainda estimula o desenvolvimento dos produtores de baunilha, principal ingrediente da fragrância, em Madagascar, por meio de uma parceria com a Fanamby, uma ONG local, para incentivar a integração com outras culturas, como arroz e café, o que proporciona aumento de renda aos agricultores. É HORA DA BIOECONOMIA A descoberta da fixação biológica de nitrogênio (FBN) pela pesquisadora Johanna Döbereiner, a partir de estudos iniciados nos anos 1960, mudou a história da agricultura no Brasil e no mundo. Hoje, calcula-se que essa tecnologia gere uma economia anual de US$ 13 bilhões na cultura da soja, devido à substituição do uso de fertilizantes nitrogenados. Sem contar que ainda facilita o sequestro de carbono. “Na época, a dra. Johanna foi duramente criticada”, diz o secretário Cleber Soares, que continua: “e na última safra tivemos 43 milhões de hectares manejados com fixador biológico de nitrogênio”. Para Soares, embora exista uma infinidade de produtos biológicos para controle de diversos problemas na agricultura, não há perspectivas de algo tão disruptivo tal qual a FBN. “É como se fossem atualizações”, comenta. Uma explicação para essa situação, segundo Soares, seria o alto custo de pesquisas nesse sentido, e geralmente os investimentos vêm de empresas de ciência fina, “sobretudo de químicas”, diz ele. O lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos, em maio do ano passado, pode ser um impulso para que essa perspectiva, fomentando o mercado e mais inovações. Em 2020, o Brasil registrou 96 novos


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produtos biológicos para a agricultura. Todo o Catálogo Nacional de Bioinsumos está disponível para consulta por meio do aplicativo Bionsumos, desenvolvido em parceria com a Embrapa Informática Agropecuária e disponível para os sistemas iOS e Android. Para facilitar a pesquisa, os produtos estão divididos em duas categorias: Controle de Pragas e Inoculantes. “Todas as grandes companhias do agro entraram forte na agenda de bioinsumos. E já existem 150 startups voltadas para este segmento”, comenta Soares. O secretário destaca que o Mapa deve multiplicar as ações de estímulo à bioeconomia. “A ministra Tereza Cristina vai anunciar a política nacional de recursos genéticos para agricultura e alimentação”, acrescenta, chamando a atenção para o vasto potencial que está por ser explorado. “Um exemplo é o nosso guaraná, uma planta, um ativo biológico típico do Brasil que foi se desenvolvendo e exportamos a bebida e o produto. Assim como o açaí, que só não comemos mais porque não damos conta de produzir.” A discussão sobre bioeconomia no Brasil passa, obrigatoriamente, por sua matriz energética, que tem, por exemplo, uma fatia de 18% ocupada pela cana-de-açúcar. Até mesmo a gasolina utilizada no País tem 27% de etanol, assim como o diesel conta com 10% de biodiesel. Os dados estão no Atlas do

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Agronegócio Brasileiro, publicado pela CropLife Brasil. Esse potencial do setor de biocombustíveis ajudou o Grupo Volkswagen a implementar um novo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil, com o objetivo de gerar soluções tecnológicas baseadas em etanol e outros combustíveis biológicos para mercados emergentes. “Poder liderar, desenvolver e exportar soluções tecnológicas a partir do uso da energia limpa dos biocombustíveis se caracteriza como uma estratégia complementar às motorizações elétricas híbrida e à combustão para mercados emergentes é um reconhecimento enorme à operação na América Latina”, diz Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen América Latina. Também há inovações surgindo além do circuito das grandes empresas, e até conquistando prestígio internacional. É o caso do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da dupla Gislaine Lau e Felipe de Carvalho Ishiy, egressos do curso de design de produto, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Eles criaram um biofilme bacteriano a partir da kombucha, bebida à base de chá, açúcar e resíduos orgânicos. Esse material ecológico e biodegradável, que pode ser uma alternativa ao couro, apresentado na composição de uma poltrona, foi premiado com o iF Design Talent Award 2021, considerado o “Oscar do Design”. O projeto de Gislaine e Felipe foi o único

............................... “Desde a fixação biológica de nitrogênio (FNB) no cultivo da soja não surge algo tão disruptivo na área de bioeconomia” ................................ //Cleber Soares, secretário adjunto de Inovação do MAPA

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da América Latina consagrado nesta edição do prêmio, que recebeu 5,3 mil inscrições. INOVAÇÃO ABERTA Essa expressão é praticamente autoexplicativa, mas pode ser mais amplo do que parece. A inovação aberta é um processo também colaborativo, em que diferentes organizações trabalham juntas em busca de soluções para melhorar produtos, serviços, procedimentos e até agregar valor a tudo isso. Este é o ambiente em que as agtechs, as startups do agro, têm ganhado muito espaço. De acordo com o Radar Agtech Brasil 2020/2021, mapeamento feito pela parceria entre Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens 26

Research and Consulting, com apoio do Mapa, já são 1.574 startups com atuação específica no agro. Este número representa um avanço de 40% em relação ao levantamento de 2019. Um dos motivos dessa expansão é o fato de que as agtechs apresentam características complementares às das grandes empresas. De um lado, muita gente nova e cheia de vontade de fazer a diferença, olhares inéditos sobre problemas tradicionais, mais agilidade na tomada de decisões e, possivelmente, riscos moderados. De outro, companhias que reúnem muita informação e conhecimento, necessitam apresentar soluções inovadoras a cada nova safra e dispõem de recursos


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exponencialmente superiores para investir. É por isso que gigantes como a Basf desenvolvem suas próprias plataformas de inovação aberta. No caso, o Agrostart, criado em 2016 e que, na busca por soluções agrodigitais, já acelerou mais de 500 startups na América Latina. Das startups mapeadas pelo Radar Agtech, 200 estão relacionadas a atividades antes da fazenda, 657 dizem respeito ao que acontece dentro das propriedades e 717 são voltadas para o depois da fazenda. Outro dado relevante do estudo é a identificação de 78 instituições que apoiaram a incubação, a aceleração e os investimentos nessas empresas. Quanto mais e melhores informações a respeito desse universo das agtechs, maior será a visibilidade desse empreendedorismo de inovação e mais condições os governos terão de desenvolver políticas públicas específicas. “O Mapa estimula 20 hubs de agtechs”, afirma Cleber Soares. O crescimento da inovação aberta, em especial durante a pandemia, é um impulso para a transformação digital no campo.

chegar próximo de R$ 1,160 trilhão com a ampliação do alcance da internet e da telefonia no campo. É o que mostra o estudo Cenários e Perspectivas da Conectividade para o Agro, elaborado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e apresentado pelo Mapa. Soares comenta que há muito o que iluminar no território agrícola nacional em termos de conectividade, pois não mais que 25% desse espaço tem sinal de boa qualidade para a automação. A partir desse estudo, o Mapa projetou dois cenários de ampliação da internet no campo a partir de estações radiobase. O mais modesto prevê a utilização de 4,4 mil pontos nas áreas rurais, o que ampliaria em 23% a faixa de cobertura. Na segunda projeção, com a instalação de quase 15,2 mil torres, seria possível

CIÊNCIAS DIGITAIS É aqui que Cleber Soares acredita estar o maior potencial de disrupção para o agronegócio, pois as ciências digitais – que envolvem agricultura e pecuária de precisão, conectividade, plataformas, softwares – impactam em todas as atividades do setor. E podem transformar as fazendas. “Muitas vezes o produtor pega uma folha de papel para anotar se a vaca pariu, se arrumou a cerca e no outro dia usa o mesmo papel. Ou seja, não acontece nada. Nas grandes propriedades, se não tiver uma ferramenta que faça isso corretamente, acontece a mesma coisa”, afirma o secretário. “Essa tecnologia pode ajudar produtores de todos os tamanhos. Há um horizonte de oportunidades para o digital entrar em um número muito maior de fazendas.” E por falar em números, o agro do trilhão pode ser ainda mais valorizado na onda do digital. O Valor Bruto da Produção (VBP), que pela primeira vez na história atingiu R$ 1,057 trilhão, como mostramos na edição anterior da PLANT PROJECT, pode

//Cleber Soares, secretário adjunto de Inovação do MAPA

........................................................ “Há um horizonte de oportunidade para o digital entrar em um número muito maior de fazendas” ........................................................

atender a 90% da demanda por conectividade no setor. Vale ressaltar que o estudo da Esalq trata de um horizonte que vai até 2026. Quem já investe na transformação digital da fazenda e quer aproveitar todos os benefícios da tecnologia – automação, armazenamento em nuvem, Big Data, Internet das Coisas (IoT) – está só aguardando o sinal verde para ingressar na era do 5G. E essa espera pode demorar mais do que se imaginava, pois o leilão da tecnologia de quinta geração tinha previsão de acontecer em julho deste ano, depois ficou para o segundo semestre, sem uma data específica, e até o momento não se tem uma definição exata. Enquanto isso não acontece, o mercado vai aquecendo os motores, ou as antenas, com aperitivos das facilidades que podem vir por aí. É o que aconteceu em junho, na cidade de Sorocaba (SP), na apresentação do 5G Smart Campus PLANT PROJECT Nº26

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Foto: Divulgação ABBI

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Facens, considerado o maior campus universitário conectado com essa tecnologia. A inauguração dessa unidade do Centro Universitário Facens foi uma ação coletiva entre as empresas de telecomunicação Ericsson, Embratel e Claro (como hub de inovação beOn Claro), com o apoio da Qualcomm Technologies, Motorola e John Deere. A parte do evento com relação mais direta ao agro foi a demonstração de um pulverizador de grande porte conectado por 5G. Participaram da solenidade o presidente da República, Jair Bolsonaro; o ministro das Comunicações, Fábio Faria; o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes; e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

É aí que entram a ciência e a inovação tecnológica, como plataforma para potencializar o que já é produzido nos campos e em laboratórios. Para Cleber Soares, o setor de foodtech também tem grande importância para a captação e a agregação de valores nas cadeias agroalimentares. “O Brasil é uma grande liderança em vários segmentos, mas ainda importa material processado de vários países que compram a nossa matéria-prima”, diz o secretário. Segundo ele, é preciso fortalecer e desenvolver uma plataforma de vários produtos a partir de processo como plant based, proteínas compostas exclusivamente com plantas, e pink farms, a tecnologia das fazendas urbanas.

TECNOLOGIA DA COMIDA O foodtech é um dos segmentos em que tanto as preferências quanto as necessidades dos consumidores aparecem de maneira mais explícita. No mundo todo cresce o número de pessoas em busca de alimentos com características específicas, seja por escolha própria, seja por alguma indicação médica. E acima de tudo isso está o abastecimento da população que simplesmente não tem acesso à comida. Segundo dados apresentados pela FAO, o quadro global de pessoas em estado de subnutrição aumentou de 8,4% em 2019 para quase 10% em 2020, isso depois de cinco anos sem alteração nesse índice. Em outras palavras, ou em outros números, entre 720 e 811 milhões de habitantes no mundo enfrentaram a fome no ano passado.

Dois projetos da Embrapa voltados ao desenvolvimento de ingredientes à base de vegetais foram aprovados no Programa de Incentivo à Pesquisa, do The Good Food Institute (GFI), e vão receber investimento de US$ 4 milhões, recursos que são provenientes de doações filantrópicas. Uma das pesquisas, parceria entre a Embrapa Agroindústria de Alimentos e a Embrapa Arroz e Feijão, é voltada à classe dos pulses (categoria de grãos ricos em proteína), mais especificamente o feijão-carioca.

................................................ “Segundo a FAO, mais de 800 milhões de pessoas podem ter enfrentado a fome no ano passado” ................................................


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Crescimento do setor de food tech também impacta na economia, com geração de empregos e redução de custos dos alimentos para públicos específicos

A partir do grão pretende-se otimizar a produção de concentrado e isolado proteico, com o intuito de acelerar a escala de produção de alimentos à base de vegetais. “A ideia é viabilizar a adoção desses ativos por empresas brasileiras, aumentando a oferta de ingredientes proteicos vegetais, primeiramente no Brasil e, depois, no mercado internacional”, afirma Caroline Mellinger Silva, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos. O segundo projeto até amplia as janelas de inovação, pois envolve a criação de um alimento vegetal, com características sensoriais semelhantes às da proteína animal, a partir de resíduos do caju. A pesquisa é da Embrapa Agroindústria Tropical, que tem a missão de desenvolver uma tecnologia

Os pilares do conceito agrobiodigital Um estudo da Secretaria de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) identificou cinco principais fatores que mais vão impactar a inovação da agropecuária brasileira. Essa é a estrutura do conceito agrobiodigital. SUSTENTABILIDADE – preservação do meio ambiente com ênfase na redução da pegada de carbono, apoiada em iniciativas como o Plano ABC (Plano Nacional de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) BIOECONOMIA – estímulo ao desenvolvimento de novos fatores dentro da biodiversidade, buscando o uso e a exploração sustentáveis do segmento, processo já iniciado com o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos no ano passado INOVAÇÃO ABERTA – o objetivo é o movimento das startups do agro, que aumentaram de número em 40% na comparação entre 2020 e 2019, chegando a 1.574 agtechs DIGITAL – um olhar tecnológico que vai além da agricultura de precisão, buscando também as ciências digitais de maneira geral, como novas plataformas, softwares e as estratégias de conectividade (como o 5G) FOODTECH – objetivo é desenvolver e fortalecer uma plataforma de vários produtos, como os plant based e as pink farms, para captar e agregar valor ao segmento agroalimentar

economicamente viável para transformar a ideia em realidade. Ana Paula Dionísio, pesquisadora da unidade, comenta ser uma demanda crescente do mercado o aumento de escala da fibra do pedúnculo da fruta. “Adaptar processos que permitam a obtenção de uma fibra de elevada qualidade em maior escala será um dos nossos grandes desafios para os próximos anos”, afirma. Para a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), mais do que tornar mais ampla e diversa a oferta de alimentos para públicos específicos, o crescimento do setor de foodtech também contribui com a economia, inclusive gerando novos empregos e reduzindo o custo desses produtos. “O Brasil é o maior produtor de proteína animal do mundo e para manter essa posição é necessário se adequar a novas tecnologias. É preciso mudar a ideia de como o País é visto internacionalmente. Inseridos nesse novo contexto, em tempo real, passaremos de celeiro para supermercado mundial”, diz Thiago Falda, presidente da ABBI. Toda inovação vem acompanhada de muitos debates sobre definições de suas aplicações, seus benefícios e seus impactos, entre outras questões. No caso dos produtos plant based, há ainda discussões sobre os termos utilizados para definir esses alimentos. Por exemplo, por que chamar de “carne” uma proteína que é composta apenas de matéria-prima vegetal? A pergunta também se aplica ao “leite” feito de castanhas. Na tentativa de ampliar e equilibrar essa conversa, o Mapa fez um convite, por meio da Portaria 327/2021, a órgãos, entidades e pessoas interessadas em contribuir para enriquecer o diálogo sobre a regulação dos produtos processados de origem vegetal análogos a produtos de origem animal. “Temos que olhar o principal consumidor, que é o cidadão, a sociedade. Não importa onde estamos, todos os dias desenvolvemos atividades agropecuárias”, comenta Cleber Soares. “Há uma evolução para a lógica da riqueza coletiva. O mundo está olhando para esse conceito, e nossa maior integração com tudo isso vai aproximar o agro da sociedade, que vai perceber melhor os valores e o transbordamento do setor.” PLANT PROJECT Nº26

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A SUSTENTABILIDADE É TECH A inovação é a chave para uma agropecuária que produza usando insumos de forma racional e sem deixar de lado os cuidados com o solo, a água e a biodiversidade

foto: Shutterstock

Por Lívia Andrade

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União Europeia acaba de anunciar um novo plano para combater o aquecimento global com uma série de medidas para a transição para uma economia de baixo carbono. O pacote ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento e Conselho Europeu, mas sinaliza que haverá taxas extras para alimentos produzidos sem levar em consideração os cuidados ambientais. Nesta nova configuração mundial, a sustentabilidade deixa de ser um diferencial e passa a ser uma necessidade. O agronegócio brasileiro mostra-se antenado a essa nova tendência de uma produção que cuida do solo, da água e da biodiversidade. Prova disso é o mercado de produtos biológicos, que cresceu 70% em 2020. Mesmo no segmento de defensivos convencionais, o agricultor está cada vez mais 32

criterioso, escolhendo produtos mais modernos e seletivos e recorrendo a tecnologias para uma pulverização de precisão, em que a aplicação fica restrita aos pontos do talhão em que há pragas. O agro do futuro será cada vez mais tecnológico e alicerçado em conhecimento. O produtor rural terá que conhecer no detalhe as propriedades do seu solo, do clima e da incidência de chuva na fazenda para escolher os insumos e as soluções que mais se adéquam a sua realidade. A boa notícia é que o portfólio de inovações disponíveis no mercado é cada vez mais extenso e começa com a biotecnologia das sementes, que já vem tratada para oferecer resistência a insetos, o que resulta em uma grande economia de defensivos agrícolas e diesel, pelos

maquinários que deixam de entrar na lavoura. E as novidades não param por aí. Segundo o StartupBase, o Brasil tem 13.828 startups, sendo que 299 são voltadas ao agro. Estas agtechs têm soluções que ajudam o agricultor desde a gestão agronômica, uso racional da água até a comercialização dos produtos. A seguir estão algumas das soluções que vêm fazendo a diferença e auxiliando o produtor rural no desafio de produzir cada vez mais, na mesma área, usando menos recursos. O HELP DA BIOTECNOLOGIA A biotecnologia vem contribuindo para os recorrentes recordes na safra brasileira de grãos desde que o Brasil adotou os organismos geneticamente modificados (OGMs), em 1998.


Sustentabilidade

Graças a avanços nessa área, o incremento da produção foi muito maior que o aumento da área cultivada. “As plantas transgênicas resultaram num volume adicional de produção de 55,4 milhões de toneladas de grãos, sendo 4,55 milhões de soja; 50,8 milhões de milho e 46 mil toneladas de algodão”, diz Adriana Brondani, diretora e fundadora da Biofocus Hub, empresa que se dedica a acompanhar as tendências da pesquisa e desenvolvimento relacionados à produção sustentável de alimentos. Um dos focos das empresas do setor tem sido o desenvolvimento de plantas com tolerância ao estresse hídrico, uma das consequências das mudanças climáticas. No entanto, as biotecnologias predominantes no Brasil são as plantas tolerantes a herbicidas e as plantas Bt (Bacillus thuringiensis), resistentes a insetos. “A diminuição das perdas pelo ataque de pragas e a melhora na produtividade dos cultivos de plantas transgênicas levaram à economia de área plantada em 9,9 milhões de hectares no Brasil. Isso é equivalente a toda a área de soja plantada no Mato Grosso na última safra”, explica Adriana. Os benefícios não param por aí. Em 20 anos de adesão à biotecnologia no Brasil, houve uma economia de combustível estimada em 377 milhões de litros. Isso significa que menos máquinas precisaram entrar nas

lavouras e, graças a isso, houve menos compactação do solo e menos gases do efeito estufa foram emitidos. “Desde que começamos a usar transgênicos no campo, deixamos de liberar 27 milhões de toneladas de CO2. Isso equivale a retirar 16 milhões de carros das ruas por um ano”, esclarece a diretora da Biofocus Hub. Com o uso de cultivares de soja, algodão e milho tolerantes a herbicidas no Brasil, também houve uma redução de 16 bilhões de litros de água entre 1996 e 2010. “Isso é a quantidade de água suficiente para abastecer 370 mil pessoas”, diz Adriana. No setor sucroenergético, o Brasil está na vanguarda da biotecnologia mundial, com as primeiras variedades transgênicas de cana-de-açúcar do mundo. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é quem está à frente dessas pesquisas. Desde 2017, a empresa já lançou seis variedades de cana Bt, sendo que duas já estão sendo

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Cultivo de melões na Agrícola Famosa (RN): menos água para mais produtividade

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Ag Sustentabilidade

foto: Shutterstock

Broca-da-cana: novas variedades resistentes à praga ajudam no uso mais racional de defensivos

cultivadas no País. Outras duas começaram a ser plantadas este ano e as variedades recémlançadas estão na fase de multiplicação. “Todas elas são resistentes à broca-da-cana, que é a principal praga da cana-deaçúcar e responsável por prejuízos ao setor em torno de R$ 5 bilhões/ ano”, diz Luiz Paes, diretor Comercial do CTC. A diferença entre as canas Bt é que uma é mais precoce e para solos férteis, outra é tardia e para solos restritivos, uma variedade é para lugares mais chuvosos, outra para localidades com índice pluviométrico menor. Mas todas apresentam uma eficácia no controle da broca de no mínimo 95%, o que é excelente, uma vez que o controle químico protege no máximo 70%. “O principal ganho da biotecnologia não é a economia de inseticida, que fica em torno de R$ 100 a R$ 200 por hectare. 34

O maior benefício é evitar perda de produtividade causada pela broca”, diz Paes. Ao atacar uma cana adulta, a lagarta forma galerias, que são a porta de entrada para bactérias, fungos e outras doenças. “Cada 1% de infestação de broca come 1,5% da produtividade de açúcar. Se você tem uma área com 10% de infestação, a perda de produtividade será de 15%”, explica o diretor Comercial do CTC. Pelo fato de ser resistente à broca, a cana Bt gera de R$ 500 a R$ 2.000 adicionais por hectare. Se toda cana do Brasil fosse Bt, isso implicaria na eliminação do consumo de 2 milhões de litros de defensivos agrícolas, economia de 144 milhões de litros de água e redução significativa nas emissões de CO2, já que as variedades são resistentes a pragas e reduzem a utilização de inseticidas, o que significa, menos gastos de combustível,


já que haverá menor necessidade de uso de máquinas ou aviões para a pulverização. Hoje, o Brasil é o segundo país em extensão de área plantada com transgênicos no mundo. A única preocupação não diz respeito à biotecnologia em si, mas ao descaso de parte dos agricultores em cumprir a exigência do refúgio, que consiste em cultivar uma faixa (que varia de 10 a 20% dependendo da cultura) de planta convencional ao redor da lavoura transgênica. Essa prática garante a manutenção de insetos suscetíveis à toxina Bt, o que prolonga a durabilidade da tecnologia. SEM DESPERDÍCIO DE ÁGUA O Brasil vive uma crise hídrica, com os reservatórios de água em níveis críticos. Além de comprometer o abastecimento de água da população, o drama atual está provocando o aumento da energia elétrica, comprometendo a irrigação de polos agrícolas e a navegação fluvial. E, infelizmente, essa situação caótica deve se repetir no futuro por causa do aquecimento do planeta, que acarreta as mudanças climáticas. Nesse contexto, tecnologias que otimizem o uso da água na agricultura são fundamentais. Não por acaso, a Agrosmart – startup brasileira idealizada pela mineira Mariana Vasconcelos – ganhou o mundo inicialmente com inovações focadas em irrigação de precisão. A empresa instala

estações meteorológicas nas fazendas e espalha sensores pelas plantações, que medem temperatura, umidade do ar, radiação solar e condições climáticas do solo e da planta. A partir desses dados combinados com imagens de satélites, um algoritmo dá a recomendação exata da quantidade de água que uma determinada plantação precisa, o que pode reduzir o uso do recurso hídrico em mais de 50%. O sistema de irrigação com água eletromagnetizada da empresa suíça Aqua 4D é outra inovação que, embora tenha mais anos de estrada, tem feito toda a diferença. Em Monte Carmelo (MG), município com a maior área (mais de 16 mil hectares) de café irrigado do Brasil, uma pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) demonstrou a eficácia da tecnologia na irrigação por gotejamento. “Ao longo de cinco safras, acompanhamos o desempenho do sistema [num produtor da localidade] e observamos uma eficiência, em média, 5% maior na uniformidade de distribuição de água”, diz Eusímio Fraga Júnior, pesquisador da UFU, campus de Monte Carmelo (MG). A pesquisa foi realizada na fazenda de Luiz Augusto Pereira Monguilod e os resultados foram expressivos. “Neste experimento, utilizando 25% de água a menos, eu mantive a produtividade que tinha nas áreas sem irrigação eletromagnetizada”, diz o cafeicultor. E mantendo a

mesma quantidade de água, a produtividade aumentou entre 5 e 8 sacas por hectare com o sistema de eletromagnetização. De acordo com Júnior, a tecnologia quebra os aglomerados de água, facilitando a absorção pela planta. E há vantagens ainda maiores para locais com água de baixa qualidade. “Com o sistema, você muda a condutividade elétrica da água, a viscosidade e a planta consegue suportar um teor salino maior”, explica o pesquisador. É exatamente o que acontece na Agrícola Famosa, empresa na divisa dos estados do Rio Grande do Norte e Ceará, que no ano passado produziu 200 mil toneladas de melão e melancia. “Temos muitos poços com águas salobras, o que é um dos principais agravantes para produzir frutas”, diz Luiz Roberto Maldonado Barcelos, sóciofundador da Agrícola Famosa, que hoje tem 5 mil hectares com a tecnologia A companhia faz a irrigação por gotejamento e, em 2014, começou a utilizar o sistema com água eletromagnetizada. “Hoje, são mais de 5 mil hectares com a tecnologia, o que resultou num aumento de produtividade entre 12 e 20%, quando comparado com os cultivos sem o sistema”, diz Barcelos. “Os custos variam entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil por hectare, dependendo da lâmina de irrigação adotada”, acrescenta. E há ainda benefícios indiretos. “O tratamento eletromagnético PLANT PROJECT Nº26

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Ag Sustentabilidade

da água limpa as sujeiras que se acumulam nas paredes da tubulação, o que melhora o desempenho do sistema”, diz Júnior. GESTÃO AGRONÔMICA A revolução tecnológica no agro é um fenômeno recente. Começou de forma embrionária nos anos 2000 e ganhou fôlego a partir de 2010. Junto com ela, o agricultor foi aprendendo a tocar a propriedade rural não como “o campo da família”, mas como uma empresa. “É uma mudança positiva, o agricultor está entendendo a fazenda como negócio e está em busca de gestão”, diz Ivana Manke, diretora de Marketing da Checkplant, empresa que nasceu em 2003 voltada ao desenvolvimento de softwares agrícolas. Um desses softwares, o Farmbox, é voltado ao gargalo inicial de quase todas as propriedades agrícolas, que é fazer o bê-á-bá bem-feito. Em outras palavras, adotar as boas práticas agrícolas e executar um bom manejo da lavoura. Há diferentes planos. O mais completo abrange desde o monitoramento para o diagnóstico do campo, o planejamento da semeadura, a gestão das aplicações de fertilizantes e defensivos e o controle de estoques e custos. Na prática, um dos diferenciais do Farmbox é ajudar o produtor a fazer um minucioso Manejo Integrado de Pragas 36

(MIP) e só entrar com defensivos agrícolas quando a incidência de insetos, ácaros ou ervas daninhas atingir um índice que pode causar dano econômico. “O objetivo é acertar o timing e fazer uma aplicação segura com base nas informações que vieram de campo”, diz Ivana. O princípio por trás do software é o uso racional de insumos agrícolas. Fora a aplicação de fungicidas, que realmente deve seguir um calendário, as demais precisam ser avaliadas. “Muitos agricultores aproveitam que vão entrar com o fungicida e já colocam mais um pesticida para combater outra praga que ele nem sabe se está presente no campo e em qual quantidade. Mas com o Farmbox ele consegue enxergar isso”, diz a diretora da Checkplant. Essa gestão minuciosa, além de resultar em uma produção sustentável, também significa economia para o produtor. É o que prova o experimento da Fertigeo. A empresa de pesquisa e consultoria agronômica fez um plantio de 80 hectares de soja no município de Rio Verde (GO) na safra 2020/21. Ela plantou dois talhões pareados. No primeiro, seguiu as recomendações de manejo do Farmbox; no segundo, fez as aplicações calendarizadas. Com o uso do Farmbox, o resultado foi uma economia de R$ 81,57 por hectare pela redução de uma aplicação de inseticida. E houve ganhos indiretos: o

Pivô de irrigação: Inteligência embarcada nos equipamentos permitem otimizar uso de água nas lavouras


manejo com o software trouxe um maior equilíbrio entre pragas e inimigos naturais, devido à utilização de produtos mais seletivos como os microbiológicos e a aplicação de controle apenas quando necessário. O leque de tecnologias à disposição dos produtores é enorme. Hoje, as principais empresas do setor no mundo têm plataformas digitais voltadas a ajudar o agricultor a produzir mais, na mesma área, utilizando menos recursos. Só para exemplificar, a Basf tem o xarvio, a Bayer tem a Climate FieldView; a Syngenta, a Cropwise; e a Corteva, a Granular. PULVERIZAÇÃO DE PRECISÃO A gestão dos insumos usados em campo será mais eficiente à medida que o produtor conhecer mais a fundo cada talhão de sua propriedade. A maior parte das plataformas de agricultura digital em uso já incorpora soluções de sensoriamento remoto, que se baseiam na análise de imagens para gerar informações sobre diferentes variáveis relevantes para agricultores e pecuaristas,

da situação hídrica à presença de plantas daninhas. Tudo começa com o monitoramento, que pode ser feito por veículos aéreos não tripulados (Vants), drones, satélites ou sensores embarcados em máquinas agrícolas, que capturam as imagens. Os sistemas de análise, em geral dotados de tecnologias de inteligência artificial, indicam quais talhões da lavoura têm maior ou menor incidência de pragas, por exemplo. Com base nesse mapeamento, o operador entra com o maquinário na lavoura e, ao invés de pulverizar toda a área, faz aplicações localizadas apenas nos pontos com infestação. A conexão de diferentes tecnologias já permite a automação de operações como irrigação e pulverização de acordo com os dados obtidos pelo sensoriamento remoto e também de sensores localizados nos próprios equipamentos de campo. Pivôs de irrigação inteligentes, por exemplo, conseguem combinar imagens de satélite, de drones e de câmeras embarcadas na própria estrutura para gerar

informações sobre eventuais anomalias no campo, ajudando não apenas na gestão da água utilizada em cada ponto, mas também na definição de aplicações de fertilizantes e defensivos. A fabricante de máquinas Jacto trouxe outra inovação para a pulverização de precisão. Sua mais recente família de pulverizadores conta com uma solução chamada EletroVortex, que nada mais é que um sistema que utiliza fluxo de ar aliado ao conceito de eletrostática para fazer o defensivo agrícola chegar em toda a área foliar da planta, mesmo quando a lavoura está em fase avançada de desenvolvimento. “Esta tecnologia permite usar o produto químico de maneira racional por causa do mecanismo de cortina de ar, que possibilita aplicações mesmo em condições adversas”, diz Wanderson Tosta, diretor de Marketing da Jacto. Isso reduz a deriva em 35%, otimizando o desempenho operacional. Para chegar a uma agricultura mais sustentável, como se vê, a tecnologia oferece muitos caminhos. PLANT PROJECT Nº26

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Legado é para sempre

Em seus 110 anos de história no País, a BASF contribuiu ativamente para o agronegócio se tornar uma das grandes marcas brasileiras

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os últimos 110 anos, poucos setores no Brasil passaram por transformações tão A inovação tem papel central na trajetória da intensas quanto o agronegócio. Desde o início do século passado, novas culturas BASF. “Somos uma companhia longeva, mas que foram introduzidas no País, técnicas es- se reinventa sempre”, diz Eduardo Novaes, Diretor peciais de manejo ganharam as lavouras, tecnolo- de Marketing de Soluções para Agricultura. A busgias nasceram e prosperaram nas fazendas, a digi- ca pela inovação pode ser comprovada por divertalização tornou- se realidade, o respeito ao meio sas iniciativas e um investimento global de 900 milhões de euros ao ano ambiente virou regra inpara o desenvolvimento de questionável, as propriedaUm fator importante para des começaram a ser admipromover a sustentabilidade novas soluções e ferramentas aplicáveis no campo. O nistradas como empresas e é a digitalização resultado para o Brasil são a produtividade, como não as mais de 30 soluções para poderia deixar de ser, disparou. Nesse período, quantas corporações podem proteção de cultivos a serem lançadas até 2030, se orgulhar de ter ajudado o agro a despontar além de traits, cultivares de soja, arroz, algodão, fercomo uma das grandes marcas brasileiras? A ramentas digitais e sementes de vegetais. BASF certamente é uma delas. Desde o início, A BASF participou ativamente do desenvolvimento do agronegócio do País, ofereA sustentabilidade é outro pilar estratégico. cendo inúmeras soluções que respondem aos de- Desde 1990, por exemplo, a BASF reduziu as suas safios enfrentados pelos agricultores. Para isso, a emissões globais de CO2 pela metade. Agora, a empresa alicerçou a sua atuação em quatro pilares meta é zerá-las até 2050. A empresa também infundamentais – inovação, sustentabilidade, digita- veste constantemente na melhoria da eficiência lização e experiência do cliente. Cada um deles tem energética de suas unidades produtivas. Não à o objetivo final de ajudar os agricultores a transfor- toa, foi a primeira companhia química do Brasil a mar os seus negócios e o próprio País. Confira: receber a Certificação Internacional ISO 50001.

Inovação

Sustentabilidade

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Plant +

Experiência do Cliente

Digitalização

A digitalização não só estimula o aumento da produtividade como também permite aos agricultores expandir os seus negócios e, ao mesmo tempo, reduzir a sua pegada ambiental. Para a BASF, essa é uma questão urgente. Até 2030, a empresa pretende oferecer tecnologias digitais para mais de 400 milhões de hectares de terras cultivadas. As soluções xarvio®, marca de agricultura digital da BASF, hoje já ajudam agricultores a monitorarem e gerenciarem as suas lavouras de uma maneira mais sustentável. Já são aproximadamente 4 milhões de hectares de terras cadastradas no Brasil.

O quarto pilar resume o que norteia a operação da empresa no Brasil: garantir sempre a melhor experiência possível ao cliente. “Não fazemos nada sozinhos”, diz Novaes. “Tudo começa e termina com o agricultor.” A partir dessa premissa, a empresa prepara o lançamento da Fazenda BASF, uma plataforma on-line em que o agricultor poderá ter acesso direto às soluções e ao time da companhia. Nas páginas a seguir, parceiros da BASF relatam como cada um desses pilares os ajudou a tornar as suas operações mais eficientes, apresentam os desafios que foram superados ao longo da jornada e revelam qual legado deixarão para as futuras gerações. Os próximos 110 anos, afinal, estão logo ali. PLANT PROJECT Nº26

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A produtora superou a perda do marido, preparou os filhos para o negócio e agora se orgulha de trabalhar em uma das atividades mais essenciais para o planeta

NÓS ALIMENTAMOS O MUNDO”

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ou gaúcha, filha de agricultor. Cheguei a Mato Grosso em 1979, no ano em que me casei. Meu marido havia aberto uma fazenda na região e fomos para lá. Ele atuava fortemente no agro, mas eu nunca tinha me imaginado trabalhando na agricultura. Voltei a estudar e tivemos três filhos, todos homens. No ano 2000, tudo o que havíamos planejado acabou interrompido bruscamente. Meu marido foi assassinado. Eu tinha dois caminhos a seguir: parar a vida ou seguir em frente. Escolhi a segunda opção. Pouco depois, assumi temporariamente a fazenda, já que o plantio ainda não havia acabado. Terminamos o plantio e, aos poucos, fui me apaixonando pelo agro. Acabei ficando. Enquanto meus filhos cursavam a faculdade, cuidei com afinco da fazenda. Quando eles se formaram, decidi que seria melhor se começassem também a se

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Nome: Norma Gatto Fazenda: Argemira, em Itiquira (MT) Produtos: soja, milho e boi

envolver com a atividade agrícola. Para mim, foi muito difícil aprender tudo do zero. Para eles, a transição foi mais tranquila. Hoje em dia, eles estão à frente do negócio. Em casa, nós sempre falamos sobre o orgulho que é fazer parte do agronegócio brasileiro. Pare para pensar: o campo do Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo. É fantástico imaginar que ajudamos, com nossos produtos, a fornecer o combustível mais essencial para a vida. Sem alimento, não há saúde, não se progride, não existe futuro. Depois de tudo o que passei, é lindo ver os meus filhos construírem o legado de nossa fazenda. Ele, afinal, é resultado do esforço de uma vida inteira: mudei de cidade com o meu marido e deixamos nossas famílias para buscar novos sonhos em um lugar diferente. Acho que isso não teria sido possível sem ousadia e coragem. Mas é preciso enxergar

o futuro também. Nesse sentido, a fazenda está muito bem preparada. A inovação tem papel essencial para nós. Realizamos mapeamento com drones, usamos os equipamentos mais avançados do mercado, incorporamos softwares de monitoramento. Buscamos sempre a máxima eficiência em nossos sistemas produtivos. Verticalização e integração lavoura-pecuária são alguns dos métodos que usamos. Além disso, estamos sempre investindo no solo, em técnicas de plantio direto e na palhada. Assim, nos mantemos sempre no topo dos produtores de Mato Grosso. A BASF nos municia com produtos e tecnologias que incrementam as nossas atividades agrícolas. Tudo isso resulta em duas palavras mágicas neste ramo: produtividade e sustentabilidade. Uma está diretamente conectada à outra. É graças a elas que, afinal de contas, ajudamos a construir um mundo cada vez melhor.


SOMOS A FORÇA QUE IMPULSIONA O PLANETA” Um dos campeões de produtividade da soja no Brasil revela por que tem orgulho de fazer parte de um setor vital cada vez mais para a economia

Nome: Maurício De Bortoli Fazenda: Grupo Aurora, Cruz Alta (RS) Produtos: sementes de soja, trigo, cereais, plantas de cobertura e milho

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Grupo Aurora surgiu na década de 1970, quando meu avô resolveu empreender. Ele veio do município de Ibirubá, no Rio Grande do Sul, e trouxe sua família de oito filhos, sendo seis homens e duas mulheres, para Cruz Alta, onde havia terras baratas e disponíveis. Começou com a cultura do trigo, mas depois aproveitou o aumento da demanda por soja. Ao mesmo tempo, pesquisas e avanços genéticos ganharam corpo, e o negócio prosperou. Na década de 1990, seus filhos – meu pai e seus irmãos – entraram para o ramo e agregaram mais conhecimento à produção. Depois, foi a vez de a minha geração dar a sua contribuição. A partir dos anos 2000, com o desenvolvimento de novos recursos tecnológicos, crescemos de forma ainda mais expressiva. Atualmente, somos a quarta maior sementeira do Rio Grande do Sul. Nossas conquistas são resultado de

muito trabalho e de um rigoroso planejamento estratégico. Esse é o legado que foi passado para mim, e que levarei adiante. A sustentabilidade é um conceito-chave para nós. Ela é essencial para entregar à sociedade produtos nascidos a partir do respeito ao meio ambiente. A rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura são pontos importantíssimos para esse fim. Além da proteção do solo, elas ajudam a reciclar nutrientes e renovar a atividade biológica de todo o ecossistema. A intensa relação da fazenda com a BASF dá ótimos frutos. A empresa é atualmente responsável pela proteção de cultivos na propriedade, trazendo soluções inovadoras que minimizam as nossas perdas em meio aos muitos desafios que a agricultura impõe. A inovação é igualmente importante para nós, e ela está expressa em todas as nossas atividades. Na área tecnológica,

utilizamos recursos como sensores que indicam deficiências de nutrientes ou a presença de pragas, além de estações tecnológicas de última geração que nos ajudam na tomada de decisões. Trabalhar no agro é uma grande missão. Somos, afinal, a força que impulsiona o planeta. Quero que meu filho se orgulhe do meu trabalho e lembre que o pai trabalhou a vida inteira para construir um ambiente produtivo do qual ele poderá desfrutar. Espero que priorize o uso racional dos recursos, que busque insumos adequados e as melhores tecnologias para alcançar sempre o aumento da produtividade das lavouras. Desejo que ele saiba que o importante não é apenas beneficiar uma família ou uma cadeia produtiva em especial, mas impactar de maneira positiva o próprio planeta. Se ele fizer tudo isso, estarei plenamente realizado. PLANT PROJECT Nº26

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A SUSTENTABILIDADE FAZ PARTE DO NOSSO DNA” O diretor da Amaggi Agro explica por que a adoção de boas práticas ambientais, de gestão e governança ajudam a empresa a obter melhores resultados financeiros

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abe qual é o maior segredo do agronegócio? Eu respondo: gente. Acesso a capital, todos têm. Se a empresa possui recursos financeiros, ela pode comprar tecnologia. Com as inovações, é possível aumentar a produtividade. Mas o que está por trás de tudo isso? Pessoas. São elas que fazem a diferença em qualquer ramo de atividade, mas no agronegócio isso é ainda mais importante. Na Amaggi, temos uma preocupação muito grande, eu diria que é até um tipo de obsessão, com pessoas. Procuramos sempre atrair os profissionais mais talentosos, aqueles que desejam crescer junto com a empresa, que se sintam como parte vital dela. Muito se fala sobre sustentabilidade, mas são as pessoas que são responsáveis por ela. Para nós, é impossível produzir sem ter como preocupação central o respeito ao meio ambiente, as

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Nome: Pedro Valente Empresa: Amaggi Produtos: soja, milho e algodão

boas práticas de gestão, controles operacionais rigorosos, a valorização do lucro com responsabilidade. A sustentabilidade está presente desde o nascimento da Amaggi, há mais de 30 anos. Ela faz parte do nosso DNA. A inovação está intimamente ligada à sustentabilidade. Com os novos recursos tecnológicos, tornamos nossas fazendas mais produtivas e, portanto, mais comprometidas com a preservação do meio ambiente. Um bom exemplo disso é o uso da telemetria, que consiste na coleta de diversos indicadores sobre equipamentos, veículos e máquinas. Com a telemetria, acessamos dados como a velocidade da máquina que está realizando a pulverização, o consumo de combustível e os mapas de horário da aplicação. A partir desses dados, ajustamos os processos para torná-los ainda mais eficientes.

Assim, diminuímos a utilização de insumos químicos, já que a aplicação dos produtos passa a ser mais precisa, economizamos combustível e até a quantidade de água nas lavouras. Em dois ou três anos, acredito que a tecnologia nos ajudará a reduzir os nossos custos entre 5 e 6%. Nas últimas décadas, a BASF tem sido parceria indispensável em projetos que prezam pela sustentabilidade. Temos um dos maiores contratos do mundo com a xarvio®, marca global de agricultura digital da empresa. Entre outras ações, a xarvio® oferece ferramentas para o manejo eficiente das lavouras, com maior assertividade e otimização dos recursos. Esperamos deixar um legado positivo para as futuras gerações: é possível fazer o certo, respeitando as pessoas e o meio ambiente, e ganhar dinheiro ao mesmo tempo. Nós somos exemplo disso.


Elton Zanella, produtor da fazenda que leva o sobrenome de sua família, fala do futuro do agronegócio e da herança que pretende deixar para as futuras gerações

LEGADO É PARA SEMPRE” Nome: Elton Zanella Fazenda: Agrícola Zanella, Campos de Júlio (MT) Produtos: soja, milho, feijão e arroz

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busca pelo aumento da produtividade das lavouras é uma obsessão para nós. Como se alcança esse objetivo? O melhor caminho é a inovação. Para isso, investimos em diversas iniciativas, como a implementação da agricultura digital, o uso permanente da tecnologia da informação e a criação de zonas de manejo na propriedade. A agricultura digital, ou a agricultura 4.0, tem transformado o nosso negócio. Por exemplo: uma série de novas tecnologias, como softwares que coletam e analisam os dados sobre a lavoura, ajudam o produtor a tomar decisões específicas para cada tipo de plantio. A enorme quantidade de informações fornecidas por esses sistemas leva a respostas rápidas e, consequentemente, resultados melhores para nós. Outra preocupação que temos é a adoção de práticas sustentáveis em todo o processo produtivo.

Trabalhamos principalmente a qualidade do solo. Procuramos sempre realizar a rotação de culturas, o que permite a manutenção de mais matéria orgânica na terra e a ativação da biota, fatores fundamentais para que o solo permaneça saudável. A parceria que mantemos com a BASF é muito importante para nós. As soluções que a empresa traz vão além da oferta de produtos. Além de assegurar os itens que se encaixam às necessidades de cada momento da safra, a companhia proporciona a chance de conhecer outros produtores e tecnologias capazes de incrementar a produtividade. O agronegócio mudou nos últimos anos. Não somos apenas produtores rurais, mas empresários do campo. Hoje em dia, o agricultor está atento a novas tecnologias, tem forte compromisso ambiental, preocupa-se com questões de governança. É uma honra fazer parte da nova

geração de empresários rurais. Tenho uma conexão muito forte com a terra e acho que os meus descendentes sentem o mesmo. A minha filha, de 17 anos, e o meu filho, de 9, já manifestaram o desejo de trabalhar no campo. A menina se inspira na mãe, que é a administradora da fazenda, cuidando da parte financeira e burocrática. O garoto quer ser igual a mim, gerenciando a área técnica e prática. Justamente por isso, sempre que possível, eu e minha mulher colocamos os nossos filhos para ver como funciona o preparo do solo, as técnicas de plantio, o processo da colheita. É uma alegria imensa notar que eles estão interessados em manter vivo aquilo que o meu pai, e o avô deles, começou. A minha família deixou um importante legado para mim, que é produzir respeitando sempre o meio ambiente. Quero transmitir o mesmo para os meus filhos. Legado, afinal, é para sempre. PLANT PROJECT Nº26

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A INOVAÇÃO ESTÁ EM NOSSO DNA” Eduardo Novaes, Diretor de Marketing de Soluções para Agricultura da BASF, fala sobre os pilares que orientam a atuação da empresa no Brasil

A BASF está presente no Brasil há mais de um século. Quais foram os marcos da trajetória da empresa no País e como podemos relacioná-los aos avanços da agricultura nos últimos anos? Em sua longa trajetória no mercado brasileiro, a BASF sempre realizou investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento e criou as melhores soluções para seus clientes. Ao longo dos anos, essas iniciativas, ao mesmo tempo que contribuíram para o aprimoramento das atividades de nossos parceiros e clientes, certamente, foram importantes para estimular o avanço do agronegócio brasileiro. Um dos pilares da BASF é a inovação. Nesse sentido, como ela é gestada dentro da empresa? A inovação faz parte do DNA da BASF. Buscamos ser uma empresa inovadora em todas as nossas atividades, frentes de negócios e processos. No Brasil, o amplo panorama de startups 44

e empreendedores digitais é um fator permanente de estímulo à inovação. Nesse contexto, contamos com o AgroStart, plataforma pioneira no País de inovação e empreendedorismo que tem como um de seus pilares a aceleração de startups do agro. Desde 2016, a iniciativa interagiu com mais de 500 startups e realizou inúmeros processos de aceleração. Como a inovação está ajudando os agricultores a se preparar para o futuro? Tudo começa em conhecer o agricultor, estar próximo, compreender seus desafios e identificar como podemos cocriar soluções relevantes. Por exemplo, até 2030, mais de 30 grandes projetos globais de P&D [Pesquisa e Desenvolvimento] irão complementar a oferta integrada que oferecemos a nossos parceiros e clientes, de sementes, proteção de cultivos e serviços digitais. Essa iniciativa contribuirá com o objetivo da empresa de aumentar

em até 7% ao ano a oferta de soluções mais sustentáveis. A última década foi marcada por transformações na atividade agrícola, com a inserção de conceitos como produção sustentável e agricultura digital. Como a BASF está se transformando para oferecer ao agricultor soluções nessa direção? A proximidade com nossos parceiros e clientes [agricultores] é o caminho que escolhemos para desenvolver e oferecer uma oferta integrada para os desafios que se apresentam e se apresentarão. Um de nossos focos é ajudar os agricultores com ferramentas digitais capazes de expandir seus negócios e, ao mesmo tempo, reduzir a sua pegada ambiental. A BASF está muito atenta a essa nova realidade. Até 2030, pretendemos oferecer tecnologias digitais para mais de 400 milhões de hectares de terras cultivadas em todo o mundo, contribuindo assim para o Legado da Agricultura.


Você poderia destacar algumas dessas soluções? Já são quase 4 milhões de hectares de terras cadastradas no Brasil para o uso das soluções xarvio®, que fazem parte da nossa marca global de agricultura digital. Entre outros benefícios, elas proporcionam a otimização de até 62% de recursos no controle de plantas daninhas que afetam a produtividade dos cultivos. As tecnologias oferecidas também geram economia de água de até 36 mil litros a cada 1.000 hectares com uso da plataforma xarvio®. Quais os principais desafios do agronegócio para a próxima década e como a BASF se prepara para enfrentá-los? O desafio do agronegócio é a transformação, que acontece por muitas frentes e de diferentes naturezas. São demandas sociais, ambientais e econômicas que nos impõem desafios e oportunidades para estarmos próximos dos agricultores e da sociedade, responder e superar expectativas e impactar ativa e proativamente a construção de um mundo ainda melhor para esta e as futuras gerações. Investimos, todos os anos, cerca de 900 milhões de euros globalmente em P&D no Agro, que contribuem materialmente nesse sentido. Seguimos também investindo em nossa cultura corporativa para refletir esta proximidade com nossos clientes, parceiros e a sociedade. Queremos ser cada vez mais abertos, criativos, responsáveis e protagonistas na construção do Agro do futuro. A sustentabilidade tornou-se o grande tema do mundo corporativo. Nesse contexto,

que ações a BASF tem adotado para se manter em sintonia com a agenda ESG? Temos colocado em prática diversas iniciativas que estão em sintonia com essa agenda. Um exemplo é a parceria que fechamos com o grupo 3tentos para desenvolver a emissão de créditos de descarbonização (CBios) na troca de insumos. Pela primeira vez no Brasil, uma operação de barter, como é conhecida essa troca, é feita com foco em sustentabilidade ambiental.

Tudo começa em conhecer o agricultor, estar próximo, compreender seus desafios e identificar como podemos cocriar soluções relevantes

Outro pilar importante da BASF é melhorar a experiência do cliente. Como a BASF pensa esta experiência? Todas as nossas decisões começam e terminam com o agricultor, que está no centro da estratégia do negócio da BASF. Só temos sucesso quando criamos experiências positivas para nossos parceiros e clientes. De que forma a pandemia alterou essa experiência? Fizemos o máximo para mantermos o contato com os agricultores, que está na nossa essência. Um exemplo são os eventos drive-thru, lives abertas e eventos virtuais fechados que

fizemos para diversos públicos, com grande participação. E mantivemos o contato virtual diário de nossa equipe com os agricultores e parceiros. Mas uma grande novidade será a Fazenda BASF, uma plataforma on-line. Na Fazenda BASF o Agricultor é sempre bem-vindo para uma boa conversa com conteúdo relevante, a qualquer momento e de forma interativa para auxiliar suas decisões agronômicas. Em termos de soluções, o que a BASF trouxe nos últimos anos para melhorar a experiência do agricultor? Foram muitas iniciativas. Em uma das mais recentes, desburocratizamos, por exemplo, o processo de emissão da CPR (Cédula de Produto Rural). O processo digital (e-CPR) já estava em implantação antes da pandemia, mas tornou-se realidade num momento em que precisamos evitar o contato social. Sem a necessidade de ir até o cartório, a e-CPR permite a troca de insumos por produção agrícola na metade do tempo que seria preciso para a emissão da cédula física (padrão de mercado). Que legado a BASF gostaria de deixar aos agricultores do Brasil? Queremos, junto com os agricultores, superar desafios como a produção de alimento seguro, saudável e sustentável, estimular o aumento da produtividade e impactar positivamente a reputação da agricultura perante a sociedade. O legado que os agricultores deixarem para as próximas gerações será o nosso legado. PLANT PROJECT Nº26

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ITAMAR BORGES 52 ANOS, CASADO, TRÊS FILHAS SECRETÁRIO DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO ADVOGADO FORMADO PELA FACULDADE DE DIREITO DE ARAÇATUBA (UNITOLEDO)

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aulista natural de Santa Fé do Sul, Itamar Borges é advogado e produtor rural. O filho caçula de dona Zilda e seu Dorivaldo também é formado em educação física e já foi professor universitário, vereador e prefeito de sua cidade. Recentemente interrompeu o mandato de deputado estadual para assumir, no dia 1º de junho deste ano, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Sua missão, segundo ele, é aumentar o protagonismo do agronegócio paulista, em

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toda sua amplitude, e defender o produtor rural. Nesta entrevista exclusiva à PLANT PROJECT, o secretário fala sobre como pretende contribuir para que o agro tenha um desempenho cada vez mais forte, mais potente, diferente daquele que tem apresentado seu time do coração. Como tem sido o desafio de assumir a secretaria em meio a uma pandemia e já rodar bastante pelo interior do estado? O desafio começa, na verdade, ao assumir uma secretaria

dessa importância, de um setor que representa 25% do PIB e gera grande parte dos empregos, abrangendo grandes, médios e, especialmente, pequenos produtores; a agricultura familiar, as associações, as cooperativas e a produção artesanal. Outro ponto é poder desenvolver essa prática com a capilaridade que vai do apoio técnico à extensão rural, a orientação; vai na questão da sanidade e também na importância de oferecermos tecnologia e inovação, por meio das nossas unidades de pesquisa,


Com Itamar Borges

para ampliar a produtividade e diversificar as alternativas de boas práticas para o nosso produtor. Falando em pesquisa, o que a parceria recém-fechada com a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz-USP) vai agregar para o agronegócio paulista? Teremos duas frentes nessa parceria. A primeira é um desafio da Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] em inovação nas áreas de sustentabilidade e conectividade; e novos cultivares, para a Esalq e a Apta [Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios]. E a Apta, consorciada a nossos institutos de pesquisa, apresentará, em dois anos, estudos com resultados importantes de inovação nesse ponto. Fora isso, temos diversos programas e pesquisas em andamento, sejam iniciativas regulares entre a Fapesp com as universidades, sejam outras realizadas com recursos do tesouro. Esse acordo de cooperação é para integrar conhecimentos, agilizar os trabalhos e, com certeza, colher mais resultados em benefício do nosso agro. Qual é a situação da extensão rural em São Paulo e o que o senhor vê de melhorias para essa área? Temos hoje a volta do atendimento presencial das casas de agricultura, e isso com certeza já melhorou o suporte para nosso produtor, em especial aquele

“Estamos formalizando parcerias para ampliar alguns pontos da extensão rural, envolvendo orientação sobre comercialização e gestão”

que não tem condições, não tem acesso à orientação privada, e precisa dessa assistência, seja do estado, seja das prefeituras. Também estamos formalizando parcerias com o Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural] e Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] para ampliar alguns pontos da extensão rural, envolvendo orientação técnica inclusive sobre comercialização e gestão. É um casamento entre Secretaria de Estado, sindicatos rurais e algumas prefeituras para levar esse suporte a mais ao nosso pequeno produtor.

interno e externo continuaram aquecidos. Porém, algumas situações mudaram, como a cultura alimentar, os hábitos, as famílias que ficaram mais em casa acabaram criando outras alternativas. Somado ao fechamento de restaurantes e hotéis, esse quadro acabou reduzindo o consumo desse alimento ofertado pela agricultura familiar, pelo feirante, o que se tornou um desafio maior. O governo de São Paulo, por meio do Sebrae, do Banco do Povo e o Desenvolve SP, está disponibilizando crédito com foco especial no pequeno – tanto o comerciante quanto o produtor.

Quais setores de produção necessitam de mais atenção neste momento? Acredito que, com a pandemia, o pequeno produtor, o agricultor familiar, acabou sendo um pouco mais atingido. Para o grande produtor, que trabalha com commodity, fluiu naturalmente porque continuamos a ter um funcionamento intenso de supermercados, os mercados

A pandemia também estimulou a venda direta de pequenos produtores ao consumidor final, inclusive com expansão das hortas urbanas. Como o senhor vê esse movimento? Soma-se a isso o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], que promove a compra direta do produtor para abastecer, no caso social, a demanda por segurança alimentar. Outro ponto é PLANT PROJECT Nº26

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“Teremos em São Paulo um projeto de recuperação de 800 mil hectares de vegetação.”

que estamos adequando nossa legislação de produção artesanal, que vem exatamente ao encontro dessas práticas novas que vão surgindo, como a horta urbana e a produção caseira, que se torna um complemento de renda ou uma geração de renda alternativa para aqueles que mudaram ou perderam o emprego. Passa a ser um importante instrumento de retomada da economia e de recolocação das pessoas no mercado de trabalho, seja por iniciativa própria, seja informalmente, ou até pela formalização como Microempreendedor Individual (MEI). Como tem sido a aproximação com as demais secretarias nesse início de trabalho? Muito positiva! Já estive com a Patrícia [Ellen da Silva, secretária de Desenvolvimento Econômico] tratando de arranjos produtivos locais: só no setor agro temos 19 segmentos para atuar. Junto à Secretaria de Turismo, estamos trabalhando para intensificar iniciativas que já existiam com foco no turismo rural. E com o Rossieli [Soares da Silva, secretário de Educação], vamos nos dedicar à questão da legislação para que 20% da compra de alimentos para merenda escolar seja direcionada à agricultura familiar. Só aí estamos falando de 4 48

milhões de alunos, e como temos a previsão da volta às aulas em agosto, haverá um impacto positivo importante desse trabalho. Já entre os setores mais expressivos, onde o senhor enxerga mais chances de evolução? Temos dialogado com todos. Nossa primeira agenda foi receber representantes do Fórum Paulista do Agronegócio, que reúne 44 entidades do setor, e aí temos desde o Sindileite [Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado de São Paulo], a CitrusBR [Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos], a ABPA [Associação Brasileira de Proteína Animal], até a Unica [União da Indústria de Cana-de-Açúcar]. Também temos dialogado muito sobre a crise hídrica, quais os riscos, as medidas que devem ser tomadas, qual será efetivamente o impacto na produção. Nossa expectativa é de repetirmos na safra 2021/22 desempenho de 2020/21, acreditamos que não teremos redução na produção em função da crise hídrica. Que outras inciativas existem em relação ao meio ambiente? Temos muitas. Primeiro que a produção do agro brasileiro, sobretudo o de São Paulo, é total-

mente sustentável. Paralelo a isso, estamos em um momento especial de cumprimento de Código Florestal, que é a consolidação do CAR [Cadastro Ambiental Rural] com o PRA, o Programa de Regularização Ambiental. Vamos ter aqui em São Paulo, dentro do PRA, um programa de recuperação, de recomposição, de 800 mil hectares de vegetação, trabalho totalmente coordenado pela nossa extensão rural com os municípios. Além de cumprir o código, poderemos mostrar esse lado de preservação ambiental, evitando falas equivocadas que aparecem algumas vezes sobre o agro brasileiro. Como se mostra esse lado positivo e se leva esclarecimento para a população de uma maneira geral? Esse é um desafio tanto da secretaria, da nossa comunicação, quanto das entidades do setor. Ninguém mais do que essas instituições tem o interesse em demonstrar para o grupo de consumidores, compradores e importadores as boas práticas agrícolas desenvolvidas na produção agrícola de São Paulo, incluindo sustentabilidade e cuidados com a sanidade. Estamos unidos para mostrar o que é a realidade, aquilo que às vezes precisa ser conhecido e ao mesmo tempo divulgado para fortalecer essa imagem, que às vezes é percebida com uma visão equivocada. Quais as possibilidades de


Com Itamar Borges

avanço nas exportações do agronegócio paulista? São Paulo tem ampliado a produção e a produtividade por área plantada. Estamos também olhando para algumas situações, por meio da Secretaria de Desenvolvimento, e até mesmo pela InvestSP, relacionadas à questão do mercado externo. Em parceria com a InvestSP e a inciativa privada, estamos organizando para fevereiro do ano que vem a Agro Expo [International] para mostrar os produtos de São Paulo e também de parte do Brasil e ampliar o mercado de exportação. Há pouco tempo houve um ponto de tensão entre o governo de São Paulo e o agronegócio por uma questão tributária. O que o senhor já encontrou na secretaria em relação a essa questão? O governo de São Paulo foi e é sensível a essa questão tributária dentro do seu limite, daquilo que é possível, dentro do que a Lei de Responsabilidade Fiscal permite. Tanto que nessa questão atendeu aos pleitos, foi sensível às demandas, e quase que todas elas foram contempladas. Um ou outro ponto eventualmente não foi possível, por questão técnica tributária ou por já se tratar de uma questão diferenciada. Mas a intenção é sempre estimular o setor, quanto mais a gente estimula a produção e a desoneração, mais amplia a geração de emprego e a renda, e a própria arrecadação muitas ve-

zes, porque atrai investimentos. Uma eventual reforma tributária pode corrigir algumas situações que às vezes têm de diferenciação entre dois estados. Na região de sua cidade natal, um fator que levou agroindústrias da piscicultura a investirem em Mato Grosso do Sul, em vez de São Paulo, foi a diferença de tributação. Isso é algo que pode passar por ajustes? Essas decisões de investimento em outros estados antecedem a atual gestão, vem de outros governos por opções relacionadas a questões de água mesmo ou de incentivo que, às vezes, faz parte de uma política nacional e não estadual. Como fundos de desenvolvimento de regiões como Centro-Oeste ou Nordeste. Mas São Paulo tem se posicionado de maneira importante. Em alguns casos há algum impacto quando se trata de uma transação interestadual, esse é um tema que continua presente na mesa. Participei recentemente de um diálogo com a PeixeSP [Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União] e existem algumas propostas nesse sentido. Nosso papel é sempre apoiar e dialogar com a Secretaria da Fazenda para saber se existe alguma alternativa diferente relacionada à transação interestadual. Como está a questão da conectividade para levar

mais eficiência e agilidade ao campo? É uma questão importante. As empresas de telecomunicação e de maquinário agrícola estão unidas nisso para que a cobertura digital aconteça, e a secretaria e o poder público têm feito sua parte. São Paulo tem investido em algumas medidas importantes, cobrando uma resposta do setor de telecomunicação e, paralelo a isso, temos algumas medidas de conectividade e acessibilidade para o produtor rural. Por exemplo, o Programa Rotas Rurais, que vai criando CEP rural e identificando as propriedades, com certeza a grande parte que já tem acesso à cobertura será contemplada. Lançamos inicialmente em Itu e Pardinho e vamos ter agora os demais 653 municípios sendo inseridos nesse trabalho. Qual é seu olhar logo mais à frente, considerando que em breve teremos eleições novamente? Eu acabei de assumir um desafio que é a secretaria, e confesso que não tem nem tempo para passar pela cabeça o olhar eleitoral ainda. Até porque, quando se tratar de período eleitoral, eu tenho até que me desincompatibilizar da secretaria. Nesse momento o desafio é cumprir a missão que recebi do governador. A secretaria precisa de protagonismo e efetivamente representar e defender o produtor – e quero me dedicar cada vez mais a isso. PLANT PROJECT Nº26

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SANTANDER: MAIS CRÉDITO PARA EXPANSÃO DO RENOVABIO Mercado de negociações de créditos de descarbonização (CBios) avança em maturidade

A Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) ingressa em seu segundo ano com o mercado de negociações de créditos de descarbonização (CBios) muito mais maduro. Em 2020, o Santander foi pioneiro entre as instituições financeiras em fazer a escrituração de um CBio, pavimentando o caminho para o desenvolvimento do primeiro mercado regulado do País com foco na descarbonização. Além disso, o banco vem apoiando, com linhas de crédito 50

especiais, os principais grupos dos setores sucroenergético, de biodiesel e biogás a estruturarem suas respectivas operações para se tornarem elegíveis para emissão de CBios. Na entrevista a seguir, os executivos do Santander Daniel Nogueira, responsável pelas áreas de Commodity e CBios, e Caroline Perestrelo, de Agro Corporate, fazem um balanço do RenovaBio, apontam os próximos passos e destacam as novidades do banco para fomentar a expansão do programa.

Podem nos fazer um breve registro da jornada do Santander no RenovaBio, desde a primeira escrituração de um CBio feita pelo banco, no início do ano passado, balanço 2020 e planos 2021? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: O Santander sempre esteve muito próximo do RenovaBio, acreditando no programa desde nosso primeiro contato, apoiando a formação do mercado de CBios. Fomos, por exemplo, o único banco que participou dos testes para comercialização dos títulos na B3. Em abril do ano passado, éramos a única instituição financeira pronta para fazer a escrituração dos CBios e fomentamos a negociação entre os agentes da cadeia produtiva envolvidos – usinas e distribuidoras. O primeiro ano do RenovaBio foi marcado por certa turbulência, sobretudo por questões tributárias e tentativas de judicialização, mas no cômputo geral o programa se consolidou. As distribuidoras cumpriram suas respectivas metas praticamente em sua totalidade. Neste ano, observamos cada vez mais grupos se certificando para começar a emissão de CBios e as distribuidoras fazendo negócios desde o início do ano. Além disso, outras instituições passaram a oferecer a escrituração do ativo,


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com claro incremento de engajamento no programa. Qual a avaliação deste praticamente um ano e meio do RenovaBio como política pública e mercado regulado de descarbonização atrelado ao incentivo à produção de biocombustíveis? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: Nossa avaliação é superpositiva. Este é o primeiro ativo de carbono regulamentado do Brasil exatamente no momento em que a descarbonização é uma das prioridades da agenda global. Sabemos que o esforço coletivo para o cumprimento do Acordo de Paris é necessário e este é um passo importante do país. O preço dos CBios variou bastante em 2020. Como está o cenário de cotação atual, houve acomodação, qual a tendência para o segundo semestre? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: Em 2020, de fato, o preço do CBio variou bastante, devido à comercialização ter se concentrado em um curto espaço de tempo. Foram praticamente cinco meses em que a parte obrigada [distribuidoras] comprou CBios com cotações acima de R$ 60 a unidade. Quando os compradores perceberam que atingiriam a meta, reduziram as negociações e o preço no fim do ano começou a recuar. Em 2021, vemos, em média, o CBio sendo negociado em torno de R$ 30, e com pouca volatilidade. Este é um ano de maior oferta do que demanda. Temos cerca de 3,5 milhões de títulos que sobraram de 2020, mais uma emissão estimada de 30 milhões, considerando que a meta das partes obri-

gadas é de 24,8 milhões. Ou seja, temos o potencial de sobra aproximado de 10 milhões de CBios em 2021. Dessa forma, o preço não deve subir, embora exista também resistência de diversos emissores em vender abaixo de R$ 30. As questões tributárias incidentes sobre os CBios foram pacificadas? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: Sim, foram pacificadas. O programa contava com a alíquota de 15% de Imposto de Renda, e houve um veto presidencial com o argumento de “renúncia de receita” ante os 34% usualmente utilizados. Diante dessa conjuntura, o setor se mobilizou, destacando que não existia renúncia de receita, já que não preexistia nenhuma estimativa de rendimento tributário passível de arrecadação no CBio, dado que se trata de um título novo. O veto presidencial foi derrubado e a alíquota de 15% de IR está consolidada. Como estimular o mercado secundário atraindo partes não obrigadas a adquirirem CBios? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: Trazer players do mercado financeiro seria essencial para dar maior liquidez a este mercado, e acreditamos que há, sim, potencial para isso acontecer. Existem boas conversas para criação de uma curva futura de CBio. Isso abriria oportunidade para o equilíbrio de oferta versus demanda futura, criando um ambiente favorável para que instituições financeiras comprem e vendam o título. Fazer com que o CBio também se torne um ativo de valor

mobiliário também seria essencial para que fundos de investimento ingressassem neste mercado, incorporando os títulos para suas carteiras. Ademais, também seria interessante divulgar o CBio para pessoas físicas, disponibilizando-o em plataformas de negociação como opção de investimento. Quais linhas de crédito, programas, o Santander tem para apoiar usinas a adequarem/ melhorarem suas operações para serem elegíveis a emitirem CBios? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: O Santander é uma das principais instituições que financiam as usinas, e as modalidades de financiamento não são exclusivas para a certificação no programa, mas, sim, diversas linhas para melhorias operacionais. Estamos atuando em iniciativas para utilização do CBio como facilitador de crédito e outras demandas estruturadas. Para concluir, pode nos falar sobre a iniciativa da plataforma de CBios em parceria com a DATAGRO? Daniel Nogueira e Caroline Perestrelo: O Santander, como maior escriturador de CBio do mercado, ouviu bastante dos clientes que o principal incômodo era não ter uma maneira de enxergar as negociações feitas no dia a dia. Nossa iniciativa, então, foi a de desenvolver uma página aberta, de fácil acesso, que possa permitir o acompanhamento do vaivém de compra e venda, histórico de preços e volume de CBios. Temos o compromisso de trazer transparência e evolução a esse mercado. PLANT PROJECT Nº26

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foto: Gabriel Faria

Área preparada para ILPF em fazenda do Grupo Morena, no Mato Grosso 52


Pecuária

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CAPIM TAMBÉM É LAVOURA Cultivar pasto é como produzir grãos, precisa aproveitar bem a área e as plantas. Para o pecuarista de leite, esse cuidado pode significar mais rentabilidade em um negócio mais sustentável Por Romualdo Venâncio

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foto: Tony Oliveira/CNA

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Brasil tem vocação para a criação de gado a pasto, tanto pelos fatores naturais, como o clima tropical que favorece o desenvolvimento das gramíneas, quanto por aqueles aprimorados a partir da ciência, como o melhoramento genético das plantas e dos bovinos. No caso da pecuária leiteira, esse potencial tem ainda uma vantagem estratégica, porque permite a produção de matéria seca em volume e qualidade suficientes para qualquer tamanho de fazenda. Mas há desafios importantes a serem superados para que tais benefícios possam ser aproveitados plenamente. “É preciso aprender a manejar o pasto”, alerta André Novo, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste. “Gramíneas crescem muito rápido, então é fácil perder o ponto de colheita”, acrescenta. A “colheita” do capim, no caso, é o próprio pastejo das vacas. “Quando o pecuarista tem o pasto bem manejado, não precisa de maquinário, cortar o capim e plantar

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todo ano”, diz André Novo. Dessa forma, elimina também a necessidade de transporte e armazenagem do capim, o que contribui para a redução de custo. O animal colhe a produção direto no pasto e o estoque está na própria terra, dentro dos piquetes. A eficiência desse processo está diretamente relacionada à precisão no controle da entrada do gado no piquete, do tempo de permanência ali e da hora de ser retirado. Uma boa maneira de fazer a gestão da taxa de lotação dos pastos e dessa logística do rebanho pelos piquetes é mantendo o monitoramento permanente. O acompanhamento pode ser feito por observação, pelo limite do número de dias e até com dispositivos específicos, como a régua de manejo de pastagens desenvolvida pela Embrapa. “O capim cresce diferente a cada semana, ainda mais no verão, com chuva e boa iluminação. Então o produtor precisa estar no pasto semanalmente para


Pecuária

avaliar”, diz André. Esse cuidado com as pastagens envolve ainda a preparação do solo, feita com a adubação correta, a escolha da gramínea mais adequada àquela área, a logística e o conforto dos animais. “O sol é muito amigo do pasto, mas nem tanto das vacas, que acabam tendo de pastejar nos períodos mais frescos do dia”, explica o pesquisador. TECNOLOGIA NA PRÁTICA Outro desafio para que as técnicas de produção de leite a pasto sejam utilizadas corretamente, e gerem assim os resultados esperados, é garantir a transferência de tecnologia. Ou seja, levar treinamento ao campo de forma que o conhecimento seja implementado na prática, e da forma adequada. André Novo comenta que em relação à difusão de tecnologia, a etapa anterior nesse processo, há muitas ações sendo feitas por meio de palestras, cursos e outros eventos, em um movimento coletivo e até social. O Programa Balde Cheio, da Embrapa, é uma iniciativa que junta essas etapas e fecha o ciclo de aplicação das boas práticas pecuárias – vai do desenvolvimento da pesquisa à aplicação no campo. “Temos mais de 180 parcerias no Brasil todo, com pequenos laticínios, sindicatos rurais e outras entidades. A gente vai até lá e treina o técnico que vai multiplicar esse conhecimento.

Mas ele precisa entender um pouco de gestão e do sistema produtivo”, afirma. O conhecimento sobre gestão é essencial em todas as áreas da fazenda, mas vale ressaltar que é igualmente importante para administrar as etapas de evolução do negócio. De maneira geral, o Balde Cheio atende pecuaristas com áreas menores e que conseguem intensificar a produção no mesmo espaço após aplicar as orientações do programa. Em outras palavras, a taxa de lotação aumenta, e esse maior volume de animais por hectare pode demandar uma revisão da infraestrutura. “Às vezes o produtor faz o manejo do pasto com cerca elétrica, trabalhando com um equipamento mais simples, que funciona bem, tem bom aterramento. Mas com um número maior de vacas pode ser insuficiente, e ele insiste em manter esse mesmo dispositivo”, comenta. A cerca elétrica é uma das ferramentas que podem contribuir para que a produção de leite a pasto seja mais eficiente, tanto do ponto de vista produtivo quanto de rentabilidade, independentemente do tamanho da propriedade. Para Ernesto Coser Netto, médico veterinário, gerente comercial da Datamars S.A. no Brasil e um entusiasta dessa tecnologia, é possível e necessário evitar que

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Piquete com cerca elétrica: ferramenta ajuda a intensificar a produção

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Ag Pecuária

o gado escolha onde pastejar. Segundo ele, é o pecuarista quem define e direciona os animais para o local correto, evitando desperdícios e garantindo o máximo aproveitamento das gramíneas. “O produto de quem planta soja é o grão, e o de quem planta pasto é a folha. Não se desperdiça grãos como acontece com as folhas”, diz Ernesto. “Se tem pasto rapado ou passado na fazenda, é porque o gado está controlando e não os gestores.”

foto: Divulgação

O MELHOR DOS MUNDOS Há anos Ernesto roda o País difundindo e defendendo os benefícios da produção de leite a pasto para a pecuária nacional, e o impacto da tecnologia de cerca

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elétrica para a gestão das pastagens. O veterinário faz questão de dizer que nada tem contra os sistemas produtivos com o gado confinado, com a alimentação baseada em ração, mas acha inadmissível o Brasil desperdiçar pasto. “Mesmo em fazendas tecnificadas encontramos situações de baixa eficiência de pastejo”, diz. “Em muitos casos, essa falha do pasto mal manejado acaba sendo corrigida com suplementação.” Muitas fazendas brasileiras têm como modelo de produção os sistemas de confinamento utilizados em diversas partes do mundo, principalmente nos Estados Unidos, Canadá e alguns países da Europa. São projetos com vacas de raças de


origem europeia, de alto potencial produtivo e criadas em galpões, geralmente free stall ou compost barn, e que exigem cuidados especiais em relação a conforto, sobretudo o térmico. Essa escolha, claro, é definida de acordo com o plano de negócio de cada empresa, com os objetivos de cada empreendimento. O Grupo Sekita (São Gotardo, MG), por exemplo, que está na segunda temporada da série Top Farmers da PLANT PROJECT, passou a investir em um rebanho leiteiro muito mais por conta dos dejetos que coletaria dos animais, com o objetivo de reduzir os custos de fertilizantes em suas atividades agrícolas, do que pela produção de leite em si. No ano passado, a empresa coletou quase 25,3 milhões de litros, e apareceu no Levantamento Top 100 Milkpoint como terceira maior produtora de leite do Brasil. Esse é um grande diferencial do desenvolvimento da pecuária de leite no País: há condições para se aproveitar o que há de melhor nos principais sistemas de produção do mundo. Desde os confinamentos dos Estados Unidos, o maior produtor global, até o pastejo intensivo da Nova Zelândia, o país que mais exporta leite no mundo. O modelo neozelandês, inclusive, já vem sendo replicado em fazendas brasileiras, seja trazido pelos nativos que vieram investir aqui, seja adotado pelos produtores nacionais. “O Brasil

pode utilizar os dois modelos, pois temos grãos, clima tropical e muitas áreas. Rodando pelo País, encontramos fazendas com galpões melhores do que os dos norte-americanos, mas não tão bem-estruturados como os da Nova Zelândia”, compara Ernesto. Para o veterinário, a produção de leite a pasto no Brasil poderia ser tão eficiente quanto no país da Oceania, ou até mais, considerando as diferenças entre um país tropical e outro de clima temperado. “Temos mais tempo de luz do sol do que eles, e em todo o País, uma condição melhor de produzir comida para o gado. Sabemos tudo sobre pastejo, sabemos corrigir solo, melhorar plantas e animais, só não estamos tendo sucesso nesse manejo”, diz Ernesto. A análise ganha destaque diante do quadro atual em relação ao custo de produção, com o aumento dos preços dos grãos. De acordo com levantamento do Centro de Inteligência do Leite da Embrapa Gado de Leite, o índice de custo de produção de leite (ICPLeite/

Embrapa) mostra alta de 39% nos últimos 12 meses, contados a partir de junho, quando o estudo foi concluído. Nesse mesmo período, o custo do concentrado (ração) aumentou 68%. SUSTENTABILIDADE O manejo correto e eficiente das pastagens na pecuária leiteira tem ainda um benefício ambiental. O motivo mais evidente é o aumento da produtividade, com mais animais na mesma área e, consequentemente, maior volume de leite produzido por hectare. Ou seja, menor necessidade de abertura de novas áreas para expansão da atividade. A associação co m outras tecnologias pode trazer ainda ganhos mais expressivos. “Quando se tem um pasto bem manejado, o número de raízes é muito grande e o acúmulo de carbono no solo torna-se muito significativo, e profundo”, afirma André Novo, da Embrapa. “No ILPF [Integração LavouraPecuária-Floresta], por exemplo, melhora muito.” Muito tem se falado sobre PLANT PROJECT Nº26

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Ag Pecuária

com o estudo Retomada Verde Inclusiva, realizado pelo Instituto ClimaiInfo, com apoio do Observatório do Clima e GT Infraestrutura, a degradação dos pastos em todo o País representa prejuízos de R$ 9,5 bilhões. Este é o valor que seria necessário para recuperar, até 2030, os cerca de 72 milhões de hectares de pastagens em estado agudo de degradação ou que precisarão de medidas de recuperação nos próximos três anos. Ernesto Coser Netto, da Datamars, acredita que todos esses benefícios do processo de recuperação de pastagens poderiam ser mais bem aproveitados se a prevenção se tornasse uma prioridade. “E se evitássemos que ocorresse a degradação dos pastos?”, questiona.

Pastagem plantada em fazenda de pecuária leiteira: País ainda tem mais de 70 milhões de hectares degradados

foto: Wenderson Araújo/CNA

a recuperação de áreas de pastagens degradadas como uma forma de aumentar os níveis de sustentabilidade da agropecuária nacional. E alguns estudos já demonstram que há mudanças positivas em relação a esse tema. O Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG) realizou um estudo que mostra redução de 26,8 milhões de hectares de pastagens degradadas, entre 2010 e 2018, em áreas onde foi adotado o Plano ABC (Plano Nacional de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono). Esses dados referem-se à pecuária como um todo, envolvendo leite e corte. A recuperação de pastagens também pode ser avaliada em ganhos financeiros. De acordo

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BIOLÓGICOS EM SÉRIE A holandesa Koppert completa dez anos de atuação no Brasil, uma trajetória que começou com uma ousadia e mudou o mercado de biodefensivos no País

foto: Koppert/Bolly Vieira

Por Luiz Fernando Sá

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Negócios

Ag

O cantor Léo Chaves e uma placa com microbiológicos da Koppert: campanha marca 10 anos de Brasil PLANT PROJECT Nº26

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Ag Negócios

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brincadeira foi transmitida ao vivo, pelos canais da fabricante de insumos biológicos Koppert, durante uma live especial realizada no fim de junho passado. A estrela da noite, o cantor Léo Chaves, ainda estava nos bastidores quando foi sugerido que Gustavo Herrmann, diretor comercial da empresa, assumisse o microfone e soltasse a voz. O executivo, ciente dos seus dotes artísticos, declinou da proposta, originada da grande semelhança física entre ele e o artista. A imagem de Léo Chaves está, desde o início de julho, espalhada pelo Brasil em outdoors, anúncios impressos e digitais associada à marca Koppert. Ele é o protagonista da primeira grande campanha institucional da companhia holandesa no País. Foi criada para celebrar os dez anos de atividade da marca por aqui. Uma história de empreendedorismo e propósito, que poderia ser contada em uma série. Fosse um ator, Léo Chaves poderia também fazer o papel de Gustavo, que, como os astros da música sertaneja, tem um parceiro afinado de negócios, o diretor industrial da Koppert, Danilo Pedrazzoli. Hoje os dois dividem as responsabilidades pelos negócios da companhia no Cone Sul das Américas, que envolve Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina – Danilo cuida das áreas de Produção nas fábricas, além da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e a área Regulatória. Gustavo é o encarregado da área Comercial. Danilo faz o trabalho antes da porteira, rodando entre as duas fábricas na

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região de Piracicaba (SP). Gustavo tem a missão de abrir as porteiras para o exército biológico da empresa e vai mais longe na estrada, pessoalmente ou através do time de representantes da empresa. Sua trajetória como parceiros há mais de duas décadas se confunde com o crescimento e a profissionalização do setor de insumos biológicos no Brasil. Seu papel nessa história, como empreendedores e como executivos da Koppert, é decisivo para tirar da obscuridade bacilos, fungos e insetos que atuam na proteção de cultivos e colocá-los nas rodas de conversa e nas planilhas agronômicas de milhares de produtores. Acompanhe os episódios dessa jornada.

- episódio 1 -

PROVA DE CONCEITO A dupla Danilo e Gustavo foi formada nos corredores (e nas repúblicas) da Esalq-USP, em Piracicaba (SP). Ali, mais de duas décadas atrás, compartilhavam a visão de que havia uma lacuna entre o conhecimento acadêmico acumulado sobre a atuação de insumos micro e macrobiológicos na proteção de cultivos e seu uso nas lavouras. As pesquisas iam de vento em popa. Mas não resultavam em produtos para serem levados ao campo. “Havia uma massa crítica em torno do assunto, mas não havia resultados práticos. O mercado era muito incipiente comercialmente, a escala, muito pequena”, conta Gustavo. Dispostos a mudar esse quadro,


foto: Koppert/Bolly Vieira

- episódio 2 -

A VIAGEM Eles sabiam a resposta, mas ela estava distante de Piracicaba. No final de 2010, foram bater na porta da Koppert, empresa holandesa líder global em defensivos biológicos. Levaram uma ideia ousada: transformar o Brasil em plataforma para o desenvolvimento de uma nova plataforma de desenvolvimento de produtos voltados para a agricultura tropical extensiva. “Seria um mercado novo para eles”, recorda Danilo. “Até então eram 100% focados em culturas de alto valor agregado e em ambientes protegidos, como estufas.” Os brasileiros propuseram juntar o conhecimento agronômico e de mercado que possuíam à tecnologia de produção dos holandeses para criar uma linha de insumos para proteção de cultivos com foco nas grandes lavouras de commodities.

foto: Koppert/Bolly Vieira

os dois decidiram agir. Em 2000, fundaram, em um apartamento de república, a Bug Agentes Biológicos. Encubada na Esalq, a pequena empresa de tecnologia em macrobiológicos surgiu com uma proposta inovadora e chegou a ser reconhecida por publicações como a americana Fast Company. Mas, para Danilo e Gustavo, a baixa capacidade de investimento e o foco em um nicho específico, com um único produto, poderiam comprometer o seu futuro. E eles queriam mais. Com experiência em controle biológico há 20 anos, eles acreditavam que faltava algo para o setor de fato se tornar relevante no Brasil: uma empresa grande para que a gente tenha capacidade de investimento, tecnologia e portfólio. Em 2009, venderam sua participação na Bug para sócios e fundos de investimentos. “Então nos perguntamos: ‘vamos alçar um voo mais alto?’”, diz Danilo.

Gravação da campanha em campo: crescimento entre 20 e 30% ao ano

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foto: Divulgação Koppert

A conversa terminou em uma sociedade em que a dupla tinha uma participação minoritária, mas com autonomia para determinar o foco no desenvolvimento dos produtos locais. Uma fábrica e um departamento de pesquisa e desenvolvimento eram condições para o acordo. “No começo era um piloto. Nossa missão era adaptar e desenvolver tecnologias para o mercado brasileiro.”

- episódio 3 -

DECISÕES DIFÍCEIS Plano bem-sucedido, era hora de transformá-lo em realidade. Em 2011, a Koppert Brasil sai do papel, diante de um cenário repleto de desafios. O primeiro era a própria biodiversidade brasileira, com um universo de pragas a ser controlado muito maior do que em outros mercados em que a empresa já operava. “Por isso, desde o dia 1 investimos tudo o que pudemos em pesquisa e desenvolvimento”, diz Gustavo. O segundo era uma questão cultural, dentro e fora das 64

fazendas. Sem tradição no uso dos biológicos – uma exceção parcial seria a cultura da cana, que já aplicava, embora de forma ainda tímida, conceitos do manejo integrado de pragas –, produtores brasileiros ainda não buscavam informações sobre o assunto, que consideravam exclusivo de quem fazia cultivo orgânico. Mesmo na área industrial e acadêmica, encontrar gente especializada para fazer desenvolvimento de produtos era uma tarefa ingrata. “Uma dor da indústria é que esse pessoal, quando havia, era caro e tinha dificuldades em desenvolver processos com foco em produtos”, explica. Foi uma época de decisões difíceis, onerosas, mas que ao longo do tempo se mostraram acertadas. “Investimos muito em equipe e logística”, diz. “Primeiro nos perguntamos quantas pessoas precisávamos para atender com qualidade ao produtor brasileiro, onde quer que ele estivesse.” E capacitá-los para a difícil missão de convencer agricultores a começarem a usar

uma tecnologia que, diferentemente dos defensivos químicos, não apresenta resultados visíveis a olho nu, mas gera benefícios que vão além do combate a uma praga específica. “Para uma empresa nova, era difícil de se pagar. Mas vem mudando”, diz Gustavo, que hoje conta com um time de 120 técnicos em campo, além do reforço das revendas que comercializam a marca Koppert. Logística foi um desafio à parte, já que os produtos da empresa são organismos vivos, que precisam chegar intactos às fazendas dos clientes. Não havia no mercado de insumo nenhuma experiência anterior com a distribuição em cadeia fria. Então foi preciso criá-la, com uma frota própria de caminhões refrigerados e instalações adequadas na rede de distribuidores. “Tomamos a decisão de 100% da nossa cadeia ser refrigerada. Ninguém mais conseguiu até hoje. Quando 100% dos produtos chegam vivos no campo, geramos valor para o cliente final.”


Negócios

A jovem Koppert Brasil trabalhou internamente, mas também atuou para mudar a percepção do setor junto ao mercado. A empresa foi uma das líderes da reivindicação para que fosse mudada a classificação dos produtos biológicos junto aos órgãos reguladores. Até então, eles eram registrados como fertilizantes. Isso dava agilidade na liberação dos produtos, mas os distanciava da visão de que sua atuação era na proteção de cultivos. “Ao conseguirmos essa mudança, demos uma nova sinalização para o mercado”, explica Danilo. A mensagem era de que os biológicos deveriam fazer parte do arsenal de defesa dos produtores, atuando em conjunto com os químicos no manejo integrado de pragas (MIP), uma alternativa que a imensa maioria não considerava anteriormente. Uma frase bastante repetida na empresa resume como eles entendem essa convivência: Biológico até onde é possível, químico quando necessário.

- episódio 4 –

APETITE ABERTO “Foram três a quatro anos que fizeram com que a gente se firmasse como pioneiros em biológicos de alta performance.” Assim Gustavo Herrmann sintetiza essa primeira fase da Koppert Brasil. Atraindo cérebros e investindo em desenvolvimento, a empresa consolidou algumas iniciativas que estavam dispersas

em laboratórios em vários cantos do Brasil. Desde o início, a dupla de Piracicaba mostrou que tinha apetite. “Entre crescimento orgânico ou através de aquisições, decidimos ir pelos dois caminhos”, diz Gustavo. Logo no primeiro ano de operação no Brasil, a Koppert abocanhou a Itaforte, empresa paulista que já contava com três produtos registrados e que deu condições para que a área comercial começasse a gerar caixa – até hoje esses produtos, depois aperfeiçoados, são os carros-chefes da companhia. Outras pequenas aquisições foram feitas ao longo dos anos, mas nenhuma tão simbólica como a compra da Bug, seis anos depois. O negócio teve significado especial para os dois. Além de retomarem a empresa que fundaram, trouxeram para a Koppert aquela que viria a ser a base de sua linha de produtos macrobiológicos. Repetiam, assim, a estratégia que haviam feito, com sucesso, com a Itaforte nos microbiológicos. “Sempre soubemos que era preciso ter os dois pilares para oferecer soluções completas para os clientes.” As aquisições trouxeram um efeito colateral positivo: o crescimento orgânico das equipes de campo. “O biológico precisa de mais gente na ponta que o químico, porque se o agricultor não souber como aplicar direito, não vai colher o resultado”, afirma Gustavo. A criação das equipes

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Gustavo Herrmann (no alto), Danilo Pedrazzoli e o laboratório da empresa: proposta ousada ao grupo holandês

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O fundador Jan Koppert (à esq. na foto) e a sede da empresa: aposta no Brasil

no Brasil possibilitou, segundo Danilo, novos desenvolvimentos. Produtos adquiridos junto com as empresas foram melhorados, para que se adaptassem não só às exigências regulatórias como às de mercado. E outros foram desenvolvidos já com um olhar maior na eficácia no campo e até no perfil mais imediatista do produtor na busca por resultados. Um exemplo é o Boveril, bioinseticida que tem eficiência agronômica muito similar à dos químicos. “O agricultor aplica e em poucos dias consegue ver o resultado”, diz.

- episódio 5 –

O INIMIGO DÁ UMA FORÇA Falar de biodefensivos já foi conversa complicada com o agricultor, principalmente quando se tratava de produção de commodities em larga escala – o pessoal de hortifrútis já era mais familiarizado com o tema. Há dez anos, estratégias de MIP eram pouco difundidas e o mundo invisível dos agentes

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biológicos totalmente desconhecido na grande maioria das propriedades. Investir na qualificação da equipe foi uma estratégia que deu certo. “Investimos na capacitação e acompanhamento dos nossos clientes e crescemos rapidamente, quase o dobro do mercado”, afirma Gustavo. No meio do caminho, no entanto, um evento inesperado acabou dando uma força para o setor. Era 2013 e os agricultores de várias regiões do País passaram a perder o sono por conta de uma lagarta voraz: a Helicoverpa armigera. Ela alastrou-se pelas lavouras, sobretudo as de milho, soja e algodão, causando prejuízos na casa de R$ 1 bilhão. “Houve pânico generalizado”, afirma o executivo. Com a dificuldade de controlá-la com químicos, já que não havia um produto eficiente, a opção biológica entrou na mira dos produtores. “Isso abriu os olhos para o manejo integrado e começaram a demandar soluções. Ganhamos muito com isso, pois estávamos preparados para produzir em escala.” Foi o empurrão que faltava para uma decolagem. “O que não vem por amor, vem pela dor. A Helicoverpa mudou a mentalidade do produtor. Ele passou a não confiar só em uma tecnologia. O uso da biotecnologia também cresceu muito”, diz Gustavo. Ao quebrar a desconfiança inicial, a indústria dos


biodefensivos prosperou explorando o outro lado do agricultor brasileiro: aberto à inovação, à introdução de novas tecnologias. “O que a gente tem é de conscientizá-lo sobre como ele vai colher resultados, pois sai de uma geração do químico, que é de ver o bicho morto, para um sistema de manejo mais preventivo do que curativo. Isso demanda agronomia mais tecnificada. A indústria de produção de cultivos está toda caminhando pra isso.”

- episódio 6 –

A FILIAL MUDA A MATRIZ A Koppert foi fundada há 55 anos na Holanda por Jan Koppert, produtor de pepinos que, em virtude de reações alérgicas decorrentes do uso de produtos químicos em sua plantação, foi proibido pelos médicos de continuar na atividade. Como alternativa, ele foi buscar na natureza soluções para combater doenças e pragas. O resultado deu tão certo que em pouco tempo virou um negócio com 28 subsidiárias e distribuição para mais de 100 países. A operação brasileira é recente, mas não é exagero dizer que, nesse pouco tempo, causou transformações profundas em toda a organização. Primeiro,

por abrir as porteiras das grandes culturas e da agricultura tropical para a empresa. Mais recentemente, entre 2016 e 2017, esse fato resultou em uma grande reorganização corporativa, com criação de divisões distintas para atender mercados específicos. A divisão Horti cuida dos cultivos cobertos pela Koppert desde sua fundação, em 1967. Já a Agri ficou com os negócios voltados para o emergente público da agricultura extensiva. Para entender o peso do Brasil nessa mudança, basta conferir os fatos. A empresa tem fábricas de macrobiológicos em seis países e de microbiológicos em apenas dois. A Koppert Brasil tem unidades industriais nas duas frentes. Na divisão Horti, a receita vinda do Brasil perde apenas para a da Holanda. Já na divisão Agri, o mercado brasileiro representa 65% do faturamento global. “E a gente ainda tem um potencial gigante, o setor de proteção de cultivos no Brasil é o maior do mundo, com um mercado anual de US$ 12 bilhões”, afirma Danilo. “Se a gente aumentar a nossa participação dentro desse bolo, vamos ter um papel muito grande dentro do grupo Koppert.” Entender o potencial

também não é difícil. A Koppert tem hoje 19% de market share dentro do mercado brasileiro de biológicos. Mas os biodefensivos ainda respondem por apenas 1% do total de mercado de proteção de cultivos no Brasil. Mas essa participação cresce de forma acelerada, de 20 a 30% ao ano, enquanto o mercado de químicos anda de lado. “Em dez anos, podemos chegar a 30% do mercado de proteção”, estima Danilo. “A indústria química tem poucas moléculas para enfrentar os desafios que virão. Já os biológicos têm o mundo a ser descoberto. Se tivermos essa mesma fatia quando os biológicos corresponderem a 20% do total, vamos estar bem na fita.”

- episódio 7 –

TENDÊNCIAS EM CAMPO A onda se formou e a Koppert Brasil quer estar pronta a surfá-la. Todos os anos a empresa reserva entre 10 e 15% de seu faturamento para P&D. Mas seu principal trunfo foi ter identificado com antecedência uma transformação geracional que vinha lentamente acontecendo no campo – e que se acelerou com a chegada da pandemia de Covid-19. “A tendência que a gente não contava é o ESG”, afirma Gustavo. PLANT PROJECT Nº26

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“Há uma comoção global em torno da sustentabilidade chegando ao produtor brasileiro. A pandemia está trazendo para nós. Isso está entrando na cabeça do produtor. O filho e o neto sentam para conversar e o questionam. Nosso cliente, que há cinco anos não falava em biológicos, está sendo obrigado a falar desse assunto.” Com isso, segundo a dupla da Koppert, houve uma aceleração “tremenda” na procura por ferramentas sustentáveis. “Quem plantou no passado está colhendo agora”, diz Danilo. Outras tendências que brotam nas lavouras já estão no radar da Koppert. Uma delas é o redimensionamento do mercado de proteção de cultivos. A cada safra e a cada região, novos desafios devem surgir, exigindo soluções pontuais, em escala menor. Assim, as empresas do setor, inclusive as globais, terão de buscar cada vez mais o desenvolvimento de produtos específicos. Isso deve mudar a lógica dos investimentos em P&D. Não fará mais sentido gastar US$ 200 milhões para se chegar a uma molécula que será eficaz para 68

um mercado de US$ 100 milhões. “As empresas de biológicos têm uma grande vantagem nesse sentido porque o investimento para se chegar a um produto é menor”, afirma Danilo. Nas grandes indústrias de base química, a escala gigantesca era uma regra, na produção e na distribuição. Já os biológicos, por serem perecíveis, não permitem estocagem – e agora isso pode significar um trunfo. “Conseguimos produzir aquilo que o mercado demanda a cada safra, fazendo um planejamento que não onera o distribuidor.” À medida que os produtores mudam seus hábitos, as grandes companhias de insumos químicos ampliam suas apostas também nos biodefensivos. A Koppert, maior nesse segmento, desperta grande interesse dos gigantes. Mas não se intimida com a chegada deles no seu terreno. “Eles puxam a régua pra cima, é melhor competir com eles”, analisa Gustavo. A visão de concorrência, para a Koppert, não passa pelas outras empresas, mas pelos agricultores. “De cada dez, sete não usam. Eles são os nossos concorrentes. Temos de chegar neles”, justifica.

- episódio 8 -

CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS Fechada a primeira década, como será a próxima? A comemoração de hoje é pretexto para se pensar na estratégia para manter o ritmo de crescimento. Com menos ativos e mais concorrência, as aquisições devem ser mais raras. O investimento, assim, será em desenvolver mais e produzir mais. Segundo Danilo, há uma clara sinalização da aplicação de mais recursos no Brasil. Um dos objetivos é quintuplicar a capacidade de produção por aqui nos próximos dez anos. “Acumulamos conhecimento que nos deu o norte de como caminhar e investir. E esse conhecimento nos traz a certeza de que o mercado não vai parar de crescer”, afirma. Uma espécie de marco dessa nova fase é o investimento no São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio), primeiro centro de pesquisa em controle biológico aplicado em agricultura tropical do mundo. A Koppert foi convidada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia


Negócios

de São Paulo a liderar, do lado privado, a iniciativa de criar um laboratório com o objetivo de desenvolver um novo modelo de manejo integrado de pragas e de doenças que afetam a agricultura tropical. Do lado do governo do estado, Fapesp e Esalq completam a parceria, que segue os moldes utilizados pelas universidades e empresas americanas para a exploração comercial das inovações surgidas a partir dela. Já na sua formatação o SPARCBio quebra paradigmas. Pela primeira vez uma empresa privada constrói uma instalação própria dentro do campus da Esalq. Ali, cerca de 50 pesquisadores, de diversas universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, estarão envolvidos em pesquisas voltadas à prospecção de novos agentes de controle biológico. Dois produtos específicos já estão em desenvolvimento, um microbiológico para controle de ferrugem-asiática e um macro para controle de percevejo. Perto da Esalq, no hub AgTech Garage, também em Piracicaba, a Koppert montou outro ponto de observação do futuro, o Gazebo. Trata-se de um espaço (por enquanto virtual) para relacionamento com startups, que antes batiam diretamente à porta da empresa para apresentar suas soluções. “Tínhamos necessidade de dar conta de assimilar tudo o que

Ag

estava acontecendo à nossa volta, fazer provas de conceito, provas de valor e testar as soluções que fizerem sentido para nós”, diz Danilo. Através do Gazebo, a Koppert já se aproximou de duas startups, a E-trap, que produz armadilhas e sensores para monitoramento de pragas, e a Agrobee, conhecida como uber das abelhas. “Queremos ter outras, tantas quanto necessário para participar da revolução tecnológica.” Um próximo passo nessa estratégia será lançar, ainda neste semestre, um fundo de investimentos do Gazebo, para financiar empresas iniciantes. A ideia é que seja aberto à participação de outros investidores. Estar aberto a possibilidades, afinal, é uma necessidade para quem quer se estabelecer em um mundo em transformação. Uma das mais recentes aquisições da Koppert foi uma empresa de prestação de serviços de drones, a Geocom. Gustavo e Danilo entenderam que, para oferecer uma solução completa aos agricultores, precisavam dominar os serviços de monitoramento e liberação de macrobiológicos nas lavouras e identificaram que fazia sentido adquirir a empresa que usavam como prestadora de serviços. “Assim, atendemos o cliente do começo ao fim”, diz Gustavo. “Chegamos na série A da proteção de sistemas. Agora é ter uma solução para cada problema que o produtor tiver.” PLANT PROJECT Nº26

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A INOVAÇÃO SOBRE RODAS Equipamentos desenvolvidos pela Grunner aumentam a produtividade no campo e reduzem o impacto ambiental, gerando benefícios para os produtores e toda a sociedade

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Algumas empresas são conhecidas no mercado pela capacidade para inovar. Outras, por desenvolver produtos de alto valor tecnológico. Um terceiro grupo se destaca na área ambiental, mantendo a sustentabilidade como o foco de suas operações. Há ainda aquelas que são admiradas por oferecer a melhor experiência possível para o cliente, ajudando-os a tornar as suas operações mais rentáveis e eficientes. Existe, porém, um time seleto de companhias que são capazes de reunir todos os atributos listados acima. A Grunner, empresa de tecnologia para o agronegócio, é uma delas. Criada pelos irmãos Henrique e Mateus Belei, tradicionais produtores de cana-de-açúcar de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, a Grunner é resultado de uma grande inovação. Incomodados com o chamado pisoteio nas linhas de cana, que causava prejuízos constantes em seus canaviais, eles resolveram adaptar um caminhão para executar a operação de transbordo na colheita e aplicação de insumos. A estratégia funcionou. Além de aumentar a produtividade da fazenda, a invenção reduziu custos e comprovou ser importante aliada da preservação ambiental. “Tudo aconteceu muito rápido”, diz Henrique Belei. “O equipamento trouxe benefícios significativos e acabou gerando um negócio próprio.” Os inovadores equipamentos da Grunner são dotados de tecnologia de georreferenciamento e direção autônoma, além de bitolas ajustáveis que preservam as linhas da plantação. Em outras palavras: eles não apenas substituem os tratores, com vantagens claras, como tornam toda a operação agrícola mais eficiente. O crescimento da Grunner demonstra a força da inovação tecnológica para a consolidação de um

novo negócio. Formalizada há apenas três anos, a Grunner rapidamente conquistou importantes mercados agrícolas – atualmente, está presente em lavouras de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Segundo projeções da empresa, o número de equipamentos em operação deverá mais do que dobrar no ano que vem. Detalhe interessante: as vendas em 2021 também dobraram em relação a 2020. O que explica o avanço tão veloz? “Somos uma empresa de tecnologia que resolve um problema concreto no campo”, diz André Amaral, gerente de operações comerciais da Grunner. O executivo destaca que inovação é sempre bem-vinda, mas ela precisa estar associada a ganhos para o cliente. “A maioria das novas tecnologias resulta em um custo de produção maior”, afirma ele. “Estamos na vanguarda tecnológica porque, além de nossos equipamentos embarcarem muita inovação, deixamos mais dinheiro nas mãos de nossos clientes.” Diversos indicadores demonstram que os equipamentos da Grunner, de fato, aceleram a diminuição de custos. Na comparação com os tratores convencionais, os equipamentos da empresa reduzem de 15 a 20% o tamanho das frotas. Ou seja, se uma lavoura precisa de 20 tratores para realizar as suas atividades, ela poderá substituí-los por 16 Grunners que farão o mesmo trabalho – mas, ressalte-se, de maneira mais eficaz. Não é só. O custo de manutenção de um trator utilizado na operação de transbordo é, em média, de R$ 25 mil por ano. No caso do Grunner, o montante cai para R$ 15 mil, o que representa uma expressiva redução de 40%. Os ganhos de produtividade são igualmente relevantes. Ao eliminar o pisoteio da linha de cana, os equipamentos da Grunner asseguram produtividade 21% maior. Graças a esse PLANT PROJECT Nº26

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índice, é possível aumentar a longevidade do canavial em pelo menos um ano por ciclo, ou seja, de cinco para seis cortes. Basta fazer as contas para dimensionar a importância de números como esses. Uma usina com moagem de 3,5 milhões de toneladas de cana por safra – o padrão médio no Brasil – que utiliza equipamentos Grunner em sua frota de transbordo obtém, ao longo do ciclo de seis anos do canavial, a expressiva economia de R$ 21 milhões. A cifra inclui também os resultados positivos gerados pela redução de consumo de combustível, o que introduz mais uma vantagem trazida pela tecnologia: a vocação ambiental. “Com o Grunner, o cliente consegue reduzir em 40% o consumo de óleo diesel por tonelada de cana”, diz André Amaral. Numa usina que produz 4 milhões de toneladas, é possível diminuir o consumo de diesel em 600 mil litros por ano. A empresa estima que, nas três últimas safras, a frota total de equipamentos Grunner em 72

operação permitiu a economia de 4,2 milhões de litros de óleo diesel. “Em um mundo cada vez mais preocupado em cortar as emissões de poluentes, números como esse são bastante emblemáticos”, reforça o executivo. Não custa lembrar: a queda do consumo de combustível fóssil leva a menos emissões de CO2 e, portanto, menor impacto ambiental. “Somos uma empresa realmente sustentável”, diz Amaral. Conquistas como essas não seriam tão relevantes se o cliente não estivesse no centro das atenções da Grunner. A empresa montou uma verdadeira operação de guerra para oferecer a melhor experiência possível aos produtores. Graças à parceria exclusiva com a Mercedes-Benz – os caminhões da marca alemã recebem o protocolo de tecnologia que dá origem aos equipamentos Grunner –, os produtores contam com o apoio irrestrito da rede de concessionárias da montadora alemã. Além disso, a empresa mantém bases espalhadas

pelo Brasil – chamadas de Espaço Grunner - para atender rapidamente demandas relativas à manutenção dos veículos. “O pós-venda é o calcanhar de Aquiles de qualquer empresa de máquinas agrícolas”, diz Amaral. “Nesse aspecto, podemos dizer que elevamos o nível de atendimento no Brasil.” A Grunner conta com um time formado por técnicos que visitam as fazendas regularmente para acompanhar a performance dos equipamentos. Se há uma emergência, profissionais são imediatamente encaminhados para a fazenda. “E isso sem custo algum”, aponta Amaral. Mas não é só. Se necessário, é feito o treinamento da equipe do cliente para obter melhor resultado operacional dos equipamentos ou até mesmo a avaliação das lavouras, para oferecer contribuições na sistematização dessas operações. Quando inovação, práticas sustentáveis e respeito ao cliente se unem, o resultado é uma empresa que nasceu para fazer a diferença no agronegócio brasileiro.


"Para que insistir no atraso, quando estamos sentados em cima do futuro? Em cima da maior reserva de carbono e biodiversidade do planeta?"

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foto: Shutterstock

Ideias e debates com credibilidade

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O AGRO E O PARAÍSO RESTAURÁVEL POR FERNANDO SAMPAIO* O satélite MOD17, da Nasa, usa sensores de espectrorradiômetro para captar a energia absorvida ou transmitida pela Terra. Em 2019, a partir dessas informações, cientistas produziram um cartograma da produção primária bruta composta cumulativa (Gross Primary Productivity) da biosfera terrestre. É uma ideia de como a energia do sol é usada pelos seres vivos do planeta. O cartograma distorce as proporções de cada país conforme seu GPP. Eis aí o Brasil imenso, coração pulsante da Mãe Terra, em franco contraste com projeções cartográficas historicamente eurocêntricas e que tendem a supervalorizar as proporções do hemisfério norte. A imagem é o ponto de partida do livro Brasil, Paraíso Restaurável, escrito por Jorge Caldeira em colaboração com as pesquisadoras Julia Marisa Sekula e Luana Schabib. A premissa do livro é simples, porém transformadora. Estamos no alvorecer de uma nova economia. Uma economia baseada na restauração de uma harmonia perdida entre homem e natureza, traduzida pela descarbonização da economia, sobretudo na geração de energia. O autor e as autoras trazem dados e informações econômicas e exemplos dessa transformação em outros países, mas também incluindo na obra um resgate de sabedoria ancestral dessa harmonia perdida. Jorge Caldeira é doutor em Ciência Política, mestre em sociologia e bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Começou historiador e fez-se escritor. Foi autor de obras como Mauá: Empresário do Império, O Banqueiro do Sertão e História da Riqueza no Brasil. No seu História do Brasil com Empreendedores, Caldeira desmistifica o es-

tereótipo retratado por Caio Prado Jr. e Celso Furtado de um Brasil colonial baseado nos latifúndios escravagistas exportadores que dominou por muito tempo o imaginário social brasileiro. Ao contrário, ele demonstra a partir de dados da época o tamanho da economia local, mesmo com escassez de moeda corrente. A exploração de oportunidades no sertão sempre foi um espaço ocupado por pioneiros, empreendedores e um formidável fator de mobilidade social. Para mim, há ainda um assunto fundamental deixado praticamente de lado em Paraíso Restaurável. Embora toque no tema desmatamento, a nova obra de Caldeira foca quase que exclusivamente na questão energética, deixando de lado todo o histórico de uso da terra no Brasil, hoje mais relevante para a descarbonização de nossa economia do que a geração de energia. Resta a esperança de que essa lacuna seja objeto, quiçá, de um volume II da obra. No último 3 de junho, Fernando Schüler, curador do Fronteiras do Pensamento, conduziu um debate formidável com o escritor, acessível no canal do YouTube, e que deveria acender um grande alerta para o agronegócio. Considerando a relevância do tema para o setor, que precisa urgentemente tomar decisões estratégicas em relação ao seu futuro e, por que não, ao do país, o timing do debate não poderia ser mais adequado. Caldeira compara este momento ao que foi a abolição da escravidão no Brasil do fim do Império. Uma nova ordem econômica e social se impunha, enquanto uma parcela reacionária recusava-se a abandonar um modelo imoral e falido de produção. Na série de artigos Arrabalde, escritos para a revista Piauí, João Moreira Salles revisita todo um histórico de ocupação


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da Amazônia e pinta um retrato social e ambiental devastador desse Norte brasileiro hoje, explicitado em indicadores sociais pífios. A Amazônia hoje é um dos piores lugares para se viver no Brasil. O modelo de ocupação e “desenvolvimento” fomentado pelo governo brasileiro hoje é o mesmo de décadas atrás, e que se provou ineficaz. Atualmente ele não só é ineficaz como nos joga para escanteio na geopolítica global e nessa nova ordem econômica. A conclusão de Moreira Salles e Jorge Caldeira é a mesma. Para que insistir no atraso, quando estamos sentados em cima do futuro? Em cima da maior reserva de carbono e biodiversidade do planeta? Para Caldeira, o Brasil não só se tornou irrelevante internacionalmente como nos perdemos aqui no debate estéril de esquerda e direita, uma situação que ele batiza de “Cadillac de Havana”. Estamos entre a esquerda que sonha com la vieja Havana e com uma direita que quer ser um Cadillac, mas que acaba sendo ela também símbolo do atraso. Ignacy Sachs já previa há décadas que o Brasil poderia ser uma potência baseada em biomassa, biodiversidade e biotecnologia. O Brasil desenvolveu a agricultura tropical de baixo carbono

e teve a coragem de adotar o Código Florestal fazendo de seus produtores grandes conservacionistas. Tornou-se importante player no mercado global. O setor do agronegócio, como maior parte interessada, deveria liderar o Brasil nessa nova economia mundial. Para isso deveria enfrentar o debate sobre o desmatamento, sobre a proteção de povos indígenas, sobre a transição da Amazônia e de outros biomas para novos modelos de economia, a eficiência no uso da terra e a pobreza rural. Por miopia ou vergonha, nossas lideranças (com poucas mas notáveis exceções) assistem a um futuro possível ser sequestrado por uma agenda que não só é prejudicial aos seus interesses como flerta abertamente com o crime em alguns casos. É tempo de ter coragem e visão para reagir. Em artigo recente intitulado “Saudades do Brasil”, Fernando Gabeira refletindo sobre a reunião do G7 diz que a nossa irrelevância hoje, explicitada pelas tragédias sanitária e ambiental, é uma escolha. Uma escolha que nos faz momentaneamente se esquecer do potencial que temos. E conclui: “Um país dessa grandeza não pode se deixar sepultar pelo atraso, não tem o direito de se tornar apenas aquele que poderia ter sido”.

*Diretor Executivo na Estratégia Produzir, Conservar, Incluir – Mato Grosso

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Fo DIGA-ME POR ONDE ANDAS QUE TE DIREI QUEM ÉS POR RICARDO CAMPO*

A agricultura está vivendo uma nova revolução, na qual a ciência dos dados e o mundo digital aceleram a eficiência no campo com aumento da produtividade e redução da utilização dos recursos naturais. Além de resultados agronômicos, as novas tecnologias permitem também uma produção mais sustentável e alinhada com os anseios da sociedade. Isso porque a adoção de novas tecnologias é um caminho que vem se intensificando para minimizar perdas, reduzir resíduos derivados da atividade e aumentar a produtividade de forma ambiental, social e economicamente viável. A rastreabilidade é um tema atual e relevante, já que o novo cenário da agricultura 4.0 capacita consumidores com informações sobre histórico de alimentos e segurança no ponto de compra, auxiliando na melhor tomada de decisão. Além disso, o mercado digital agrícola integrará sistemas em toda a cadeia de suprimentos, permitindo um melhor compartilhamento de informações entre agroindústria, distribuidores, varejistas e consumidores. Nesse contexto, para atender às demandas dos consumidores e integrar agentes, a rastreabilidade se destaca como um elemento-chave que une a agropecuária à tecnologia da informação. Com o uso de diferentes recursos, a rastreabilidade envolve a capacidade de rastrear um produto e seu histórico ao longo de toda ou parte de uma cadeia de produção, desde a colheita até o transporte, armazenamento, processamento, distribuição e vendas. E logo mais, com interações via internet das coisas (IOTs), a rastreabilidade chegará ao ponto de indicar padrões de consumo com dados obtidos de dentro das residências. A rastreabilidade, que em alguns paí-

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ses já é prática obrigatória para determinados produtos agropecuários em função da sanidade e da garantia da origem, também pode gerar ganhos ao negócio com planejamento da distribuição, redução de desperdícios e adição de valor na entrega aos consumidores, seja pela qualidade e maior frescor dos alimentos, pelo preço justo a se pagar no varejo, seja pela transparência na cadeia produtiva. Produtores com suas lavouras, startups com invenções. Cada um com seus desafios, mas ambos empreendedores engajados em produzir mais e melhores alimentos. E a rastreabilidade permitindo que isso seja transmitido para a ponta, para quem vai comprar ou consumir. Tecnologia gerando transparência e valor para um setor que ainda tem muito espaço para consolidar inovações. Mas será que o consumidor consegue perceber tudo isso? Será que enxerga valor nos produtos que já são rastreados? Por onde andei e os rastros que deixei Na cadeia produtiva de alimentos, é possível olhar de forma mais específica para a rastreabilidade na definição do Codex Alimentarius da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) como sendo a capacidade de seguir o movimento de um alimento através dos estágios específicos de produção, processamento e distribuição. A rastreabilidade representa, ainda, a capacidade de identificar a fazenda onde um alimento foi produzido/cultivado e com quais fontes de insumos. A partir do momento em que os produtos agropecuários saem das propriedades onde foram originados e seguem adiante pelo fluxo do sistema agroindustrial, pode haver adição de valor na trans-


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formação a que são submetidos, mas também pela forma como passam a ser rastreados. Nesse ponto, a rastreabilidade e outras tecnologias podem gerar valor com informação, determinando de onde um produto veio e por onde passou até chegar às mãos do consumidor. E já é possível identificar no mercado brasileiro casos que mostram como isso se materializa, como nos exemplos da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro e nos projetos do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) com pecuaristas, processadores e varejistas. As tecnologias da informação e da comunicação (TIC) permitem que consumidores conheçam melhor o que consomem, acompanhem a reputação das marcas, avaliem empresas concorrentes, tenham mais informações sobre características, qualidade e relação custo/benefício dos produtos e serviços à sua disposição. Com a crescente demanda por rastreabilidade, vem a reboque um pacote tecnológico que passa desde sistemas de gerenciamentos de armazéns, códigos de barras, QR codes, etiquetas inteligentes ou por radiofrequência (RFID), chegando a soluções mobile como apps para celulares e embalagens interativas. Por conceito, todas essas inovações podem até ser de difícil compreensão por parte dos consumidores, mas tecnologias como o blockchain possibilitam a rastreabilidade de ponta a ponta, estabelecendo uma linguagem tecnológica segura e padronizada para a cadeia alimentar, ao mesmo tempo que permite que os consumidores acessem a história e trajetória dos alimentos em seus rótulos por meio de seus smartphones. A rastreabilidade envolve um complexo fluxo de dados, no entanto, alguns exemplos de mercado já começam a mostrar como é possível entregar produtos com mais transparência e rapidez no acesso à informação. Como no caso da BRF, em parceria com a rede varejista Carrefour e a big tech IBM, que desenvolveu projeto para utilização de block-

chain para embalagens inteligentes para produtos de origem suína. Block party! O blockchain está impulsionando mudanças de processos na cadeia produtiva para facilitar o acesso à informação sobre a produção dos alimentos assim como a sua origem, da fazenda à mesa, em segundos, a fim de evitar a falsificação e ajudar a cadeia produtiva a atender os clientes nas exigências de informação com transparência. Uma realidade que antes poderia parecer distante dos consumidores, mas que já se concretiza em soluções como as desenvolvidas pelas startups brasileiras Ecotrace, com soluções para rastreio da cadeia da carne, e pela Arabyka, startup que firmou parceria para o desenvolvimento de app com a Syngenta para rastreabilidade e origem na cafeicultura. Além da natureza transacional com o uso do blockchain, ainda há muita oportunidade para uso da rastreabilidade e geração de valor por agentes do pós-porteira. Nicho que já vem sendo ocupado pela startup Safetrace, que possui patente para o Método de Rastreabilidade de Cortes Cárneos, e da empresa de base tecnológica PariPassu (Genesis Group), uma das parceiras do programa Rama da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para monitoramento e rastreamento do nível de defensivos químicos na categoria de hortifrútis. Toda nova tecnologia demanda tempo e adoção em massa para que possa gerar escala e compartilhar o seu valor ao mercado como um todo. Além dos esforços de produtores, startups e varejistas, uma iniciativa de big players também tem ajudado a puxar esse movimento do blockchain: a Covantis. Esforço cooperado entre tradings agrícolas – ADM, Bunge, Cargill, Cofco, LDC e Viterra/Glencore –, essa plataforma integrada tem como objetivo minimizar riscos operacionais, modernizar e aumentar a eficiência para todos os elos da cadeia de venda e transporte de PLANT PROJECT Nº26

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Fo commodities. Curiosamente, e felizmente, o Brasil foi escolhido como país para iniciar projeto-piloto em grãos e oleaginosas em fevereiro de 2021. Apesar de representar o interesse das tradings, já é um grande passo para rastreabilidade, tech driven, para todo o setor. Informação na origem de tudo Depois de ter lido aproximadamente umas mil palavras desse artigo (dado aproximado que o editor de textos arredondou), imagine se você tivesse interesse ou necessidade em descobrir a fundo a origem desse conteúdo ou até mesmo chegar até mim, como autor destas linhas, para uma troca saudável de ideias ou argumentação contrária? Isso seria relativamente fácil e já deixo aqui o convite para uma conexão e boa prosa via redes sociais. E mesmo que isso só seja fruto da minha criatividade para manter a sua leitura, felizmente com o meu texto não corro o risco de impactar a sua saúde ou

a segurança de sua comunidade. Mas, no caso de produtos do agro, pode não ser bem assim. O impacto de uma crise associada a contaminações de alimentos, ou práticas inadequadas de produção, pode ser bem maior do que apenas perdas financeiras e gerar danos irreparáveis à reputação de uma empresa e a marcas rurais. Boas práticas agrícolas e foco em produção sustentável deveriam ser um direcionador para todo o mercado. Mas, para aqueles que fizerem isso de fato, a rastreabilidade é ferramenta para transmitir isso como uma informação transparente e acessível, com uso de tecnologia para geração de valor. Quem tem informação tem poder. E, na balança do mercado, consumidores têm poder e estão em busca de mais informação. Se produtor, startup, trader ou processador, no fim da linha somos todos consumidores e a rastreabilidade está aí para gerar benefícios aos nossos interesses de vida ou de negócios.

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foto: Shutterstock

*Ricardo Campo é coordenador de inovação da Raízen e gestor do Pulse Hub. É técnico em artes gráficas pelo Senai Fundação Zerrenner, graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Mackenzie, especialista em Marketing de Varejo pelo Senac e possui MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV)


Inspeção de ovos em Granja da Globoaves, em São Paulo: Insumo fundamental para a produção de vacinas

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foto: Bruno Felin / WRI Brasil

As regiões produtoras do mundo

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As regiões produtoras do mundo

ONDE A CIÊNCIA SE CRIA Granjas exclusivas, localizadas no interior de São Paulo, são o ponto de partida da matéria-prima para fabricação da ButanVac, a primeira vacina contra Covid-19 totalmente produzida no Brasil. Essa autonomia é uma vantagem que até abre perspectivas para exportação

foto: Divulgação Instituto Butantan

Por Romualdo Venâncio

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Controle de qualidade: todos os ovos passam por um exame visual chamado ovoscopia antes de saírem das granjas PLANT PROJECT Nº26

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foto: Divulgação Instituto Butantan

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oi dada a largada para os ensaios clínicos da ButanVac em pessoas voluntárias. Os testes da nova vacina, desenvolvida pelo Instituto Butantan contra a Covid-19, aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início de julho, começaram a ser aplicados pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP). Também serão feitos pela Faculdade de Medicina da USP, localizada na capital paulista. São esses ensaios que mostrarão a efetividade do produto e em quantas doses será feita a imunização. O primeiro lote, com 18 milhões de doses da vacina, começou a ser produzido já no final de abril. Essa boa notícia para a população brasileira que aguarda sua vez de se vacinar – e quer ver a imunização avançar mais rápido – tem relação direta com o agronegócio. Contribuir com a ciência é uma fronteira. A matéria-prima para a fabricação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) é 100% nacional, vem de ovos

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produzidos em granjas instaladas no interior de São Paulo, exclusivamente dedicadas a este fim, o que garante mais autonomia. O IFA para a ButanVac é obtido por meio de um processo semelhante ao da vacina contra a influenza (combate os vírus H1N1, H3N2 e B). Em um ovo com 10 a 11 dias de vida embrionária, insere-se uma determinada quantidade do patógeno, que infecta as células do embrião e se multiplica. A seguir é retirado o líquido alantoico que envolve esse embrião, já carregado de uma concentração viral. Após uma série de procedimentos, ele se tornará, de fato, o IFA. “Hoje, recebemos 500 mil ovos por dia para atender as duas linhas de produção, e esse material segue especificações bem rígidas quanto ao controle das aves, das granjas e dos incubatórios”, afirma Douglas Macedo, gerente de Produção da Fábrica Influenza e ButanVac. O Butantan surpreendeu seus fornecedores com o aumento da demanda para atender


Butantan

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O Instituto Butantan recebe 500 mil ovos por dia para abastecer a produção de vacinas contra influenza e ButanVac

os dois projetos. Apenas para um deles, a Globoaves, a demanda aumentou em mais de 20 vezes. “O processo da vacina da gripe começa em setembro e vai até abril, e vínhamos fornecendo pequenos volumes, entre 5 mil e 10 mil ovos por dia. Daí, este ano, veio a solicitação de 20 milhões de ovos, volume que entregamos entre abril e junho. Foi um misto de surpresa e orgulho”, diz Roberto Kaefer, diretorpresidente da empresa, que abastece o Butantan há 15 anos. Para suprir essa necessidade diária, o Instituto conta com mais duas fornecedoras: Pluma Agroavícola e Novogen Avicultura. Esse meio milhão de ovos rende 6 mil litros do líquido alontoico, volume que passa por diluição e sobe para 8 mil litros. No final do processo, o rendimento é de 3 litros de um material extremamente concentrado. “Esse material também passa por outros procedimentos, inclusive diluição, e conseguimos chegar ao final do lote produtivo com algo entre 180 e 200 litros do IFA”, diz Macedo. Em uma conta mais simples, a expectativa é de que cada ovo entregue ao Butantan renda duas doses da nova vacina contra a Covid-19, ou seja, o total de ovos entregues diariamente pode render 1 milhão de doses. CONTROLE RIGOROSO As granjas são exclusivas para atender o Instituto

Butantan exatamente porque há exigências bem particulares em relação aos ovos. “Esse controle envolve as condições de alojamento das aves e do incubatório, as linhagens utilizadas, o tamanho e o peso dos ovos, tudo é pensado para a produção das vacinas”, comenta Macedo. Essa questão ganha ainda mais relevância para garantir o padrão do material biológico vindo de três empresas diferentes. Há especificações inclusive em relação a nutrientes e medicamentos que devem ou não ser utilizados no manejo dos animais, pois podem impactar no rendimento da fabricação do IFA. Na opinião de Kaefer, não há setor mais monitorado do que esse dos ovos controlados. Segundo o executivo, além do monitoramento nas duas pontas do processo – na própria empresa e no Butantan –, há inspeções feitas por técnicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA-SP) e do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Eles vêm até as granjas retirar material para análises, é algo muito sério”, acrescenta. O zelo para manter as instalações livres de qualquer tipo de contaminação envolve até proteção externa. “Todo o cercamento da nossa granja em Itirapina (SP) é feito com uma lâmina de 70 cm para impedir o acesso de roedores.” A segurança em relação ao

Roberto Kaefer, da Globoaves: "Não há setor mais monitorado do que esse dos ovos controlados"

Douglas Macedo, do Butantan: "A exportação é uma possibilidade que se abre quando a população brasileira estiver vacinada" PLANT PROJECT Nº26

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foto: Divulgação Globoaves

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manejo nutricional das aves vem de outra parceria de 15 anos da Globoaves, esta com a DSM. A companhia global, com foco em inovações tecnológicas em nutrição, é responsável pelas soluções que contribuem para garantir a qualidade final do produto. Níveis adequados de minerais e vitaminas, por exemplo, asseguram a melhor composição da casca e otimizam a formação vascular do embrião, essencial para sua viabilidade na primeira semana de incubação. “Além de produzirmos esses e outros ingredientes, temos a capacidade de misturá-los da forma que melhor se adéque às necessidades de nossos clientes”, afirma Rodolfo Pereyra, diretor de Negócios para Nutrição e Saúde Animal no Brasil, Paraguai e Uruguai da DSM. Antes de saírem das granjas, 84

todos os ovos passam pela ovoscopia, uma inspeção visual. O exame é realizado dentro de uma sala escura, com a passagem de uma lâmpada acesa sobre os ovos para avaliar a condição de vascularização, a presença de sujeira ou trincas, conferir se há ou não o embrião, se a câmara de ar está posicionada corretamente. “Quando chegam aqui, fazemos essa mesma avaliação em uma amostragem de 5% da carga total. É uma checagem que ajuda a verificar também a condição do transporte”, diz Macedo. A logística, aliás, é outro ponto fundamental no controle de qualidade dos ovos. As empresas fornecedoras fazem um cálculo de trás para a frente, contando a partir do dia e da hora em que será feita a inserção

do vírus no ovo. “Eles começam a gerenciar o tempo para saber em qual dia vão incubar o ovo e quando vão tirá-lo do incubatório e colocá-lo no caminhão”, comenta o gerente do Instituto Butantan. “Por isso, qualquer oscilação que tenhamos em nossa programação, preciso avisá-los com 15 dias de antecedência.” O transporte é feito em veículos adequados para garantir segurança e conforto da carga. “Em vez de câmaras frias, os caminhões têm calor, com temperaturas entre 30 e 40 °C. E há todo um controle a ser acompanhado pelo motorista, um relatório completo referente às partes interna e externa, do início ao fim do trajeto”, explica Kaefer. A escolha da localização das granjas no interior de São Paulo é estratégica para ampliar


Avaliação na cabine de luz para checar se há ovos trincados

a segurança e reduzir riscos nessa entrega. Macedo afirma que os motoristas costumam sair bem cedo das unidades aviárias, geralmente de madrugada, para que a viagem seja feita de forma bastante tranquila. “Caso venha muito rápido ou ocorram grandes turbulências durante o caminho, pode afetar o embrião, causar algum estresse que prejudica o rendimento.” Tudo o que sobra dos ovos utilizados para a fabricação do IFA das vacinas passa por um processo de descontaminação e é descartado de maneira adequada. Segundo Macedo, esse material é transformado em pó em outra fábrica, anexa a essa unidade de produção das vacinas, e depois encaminhado a uma empresa especializada no gerenciamento desse tipo de resíduo.

exportação, tanto do IFA quanto da vacina pronta. “Essa é uma possibilidade que se abre quando a população brasileira estiver vacinada.” Surge aí mais uma oportunidade de mostrar a importância do agronegócio nacional, de suas cadeias produtivas e do universo das inovações científicas. Pereyra, da DSM, comenta que este é um momento especial dentro de outro bem complicado. A empresa não tem uma relação direta com o consumidor final, mas está no meio de uma cadeia produtiva que fornece alimento para a população, um dos motivos pelos quais ela não parou durante a pandemia. “Acionamos nosso sistema de emergência, dos escritórios até as plantas fabris. Fizemos

Para Rodolfo Pereyra, da DSM, a ButanVac reforça a importância da relação entre o agronegócio e as inovações científicas. Abaixo: escolha da genética e da nutrição das aves atende exigências específicas da produção das vacinas

foto: Divulgação Globoaves

PREVENÇÃO DE LONGO PRAZO Diversas discussões científicas sinalizam que ainda conviveremos com a vacinação contra a Covid-19 por um bom tempo, seja como dose de reforço, seja de forma sazonal. “Até porque há países em processo de iniciar a imunização. Então, o vírus está circulando por aí ainda muito ativo”, comenta Macedo. Até por conta dessa necessidade além das fronteiras do Brasil que o projeto da ButanVac foi pensado considerando a PLANT PROJECT Nº26

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ETAPAS DE PRODUÇÃO DO IFA – VACINA BUTANVAC 1. Recebimento e descarregamento dos ovos 2. Controle da qualidade dos ovos 3. Inoculação do vírus e incubação 4. Coleta do líquido alantoico 5. Processo de purificação do produto 6. Inativação 7. Filtração e acondicionamento em câmara fria 8. Envio para o prédio de formulação e envase Fonte: Portal do Governo do Estado de São Paulo

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revezamento de turmas, isolamento quando necessário, e conseguimos nos dar bem por causa do engajamento de todas as partes”, afirma. Diversos grupos da sociedade não puderam mesmo interromper suas atividades, para que o País continuasse a rodar. É exatamente o caso do agronegócio, que assegura a chegada da comida à mesa da população brasileira – e de vários outros países – e tem também muita gente na linha de frente. “Ainda há uma boa parte da população que não está vacinada, e as pessoas precisam sair para que o negócio não pare em muitos segmentos. Estão fazendo um sacrifício, se expondo para manter o mínimo funcionando, e devem ser ressaltadas”, acrescenta Macedo, do Instituto Butantan.


Cão da raça Pastor Maremano Abruzês: O melhor amigo da ovinocultura

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A grande feira mundial do estilo e do consumo

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Maremano em ação na Cabanha Hasam, de Gramado (RS) 88


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O VALENTE GUARDA-NOTURNO DOS REBANHOS Por que o cão Pastor Maremano Abruzês se tornou o xodó dos ovinocultores brasileiros Por Irineu Guarnier Filho | Fotos Isadora Guarnier

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Rústico, forte e musculoso: peso de adulto pode chegar a 45 kg

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esde que o homem domesticou animais para seu sustento, há milênios, a pecuária extensiva tem sido constantemente perturbada por predadores de todos os tipos. Ovinos sempre foram presas fáceis para lobos, ursos e felinos – como a onça e a jaguatirica, no Brasil. Além disso, há o abigeato, que causa enormes prejuízos às propriedades rurais brasileiras desde que o furto de animais deixou de ser um acontecimento eventual para se transformar numa atividade sistemática de quadrilhas especializadas. A melhor solução para enfrentar predadores e ladrões foi encontrada pelos

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pecuaristas no próprio reino animal: cães pastores. A figura do pastor de ovelhas conduzindo o rebanho em companhia de seus cães atravessou os séculos e chegou aos dias atuais. Por meio de seleção genética, raças caninas foram desenvolvidas em várias partes do mundo com finalidades específicas de pastoreio (caso do Border Collie, por exemplo) ou de guarda, para proteger os rebanhos do ataque de predadores. São funções completamente diferentes – e não é aconselhável que se exija de um cão de pastoreio habilidades de guardião ou que se destine um

cão de guarda ao trabalho de pastoreio. Cada raça tem seu papel muito bem definido no trato com os rebanhos. Um animal que reúna as duas características é raro e valioso. É esse um dos motivos pelos quais os cães da raça Pastor Maremano Abruzês (PMA) têm sido cada vez mais vistos em companhia de criadores de ovinos por todo o Brasil, sobretudo nos estados do Sul. Uma das raças caninas de guarda mais antigas do mundo, com mais de 2 mil anos de história documentada, o PMA já era utilizado nos tempos do Império Romano. Com suas origens estabelecidas na região


Ovinocultura

de Abruzo, mas difundido por criadores de Maremma, na Itália, o enorme cão branco das montanhas frias tornou-se desde cedo um atento vigilante e um corajoso defensor dos rebanhos contra todos os tipos de predadores, inclusive o homem, porém dócil e amigável com seus tutores. Cachorro autônomo, teimoso, pouco obediente a comandos e de difícil adestramento, o PMA trabalha de forma independente – ele sabe o que tem de fazer e executa o seu trabalho com muita competência. Um pouco sonolento durante o dia (mas nunca desatento do que acontece à sua volta), é à noite, quando os rebanhos estão mais vulneráveis, que o PMA se mostra mais ativo. Forte e musculoso, seu peso pode chegar aos 45 quilos, com até 70 centímetros de altura na cernelha, e tem um latido grave e potente que assusta os invasores. É rústico, muito resistente ao frio e à chuva, mas também se adapta bem ao clima mais quente, por causa da pelagem clara que o protege dos raios solares. Convive com o rebanho ovino ou bovino que vigia em igualdade de condições e deve ter pouco contato com o homem para desempenhar melhor o seu árduo trabalho. TRABALHO EM DUPLA Introduzido no Brasil há cerca de 25 anos por criadores paulistas, que importaram os primeiros exemplares da Itália, o PMA virou xodó dos ovinocultores do Sul do

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país nos últimos anos, e pode ser visto em muitas fazendas gaúchas. O produtor rural Ramiro Cerutti de Oliveira, de Cruz Alta, na região noroeste do estado, aderiu ao PMA em 2016, para proteger seu rebanho de mais de 500 ovinos Île-de-France do abigeato, depois que ladrões levaram 55 animais da Cabanha da Divisa numa única noite. Começou com um casal. Gostou tanto da performance dos cachorrões brancos de origem italiana que hoje tem oito. Tornou-se também criador de PMA para comercialização. Em cinco anos, Cerutti observou que os cães trabalham melhor em duplas: enquanto um se deita ao lado do rebanho, o outro circula pela propriedade. A intervalos mais ou menos regulares, trocam de papel. “Desde que os maremanos vieram para cá, não tivemos mais problemas com predadores. Nem com os predadores de duas patas, os abigeatários”, brinca. “O roubo de animais caiu 80%.” O ideal, acrescenta o produtor, é trabalhar com pares de cães. “Não é conversa de vendedor, mas sempre aconselho meus clientes a levarem dois cachorros. Não sei se os bichos combinam entre si o que fazer”, brinca, “mas o fato é que, assim, o trabalho deles rende mais”. Quem também se deixou seduzir pela eficiência do PMA como cão vigia de rebanhos foi o pecuarista André Felker, de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, que comprou as PLANT PROJECT Nº26

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primeiras quatro fêmeas em 2017, para proteger seu recém-formado rebanho de 350 ovinos da raça Poll Dorset. “Tivemos problemas logo na primeira parição dos cordeiros: ataques de sorro e de pumas. Mas funcionou. Depois disso, teve ano que vizinhos perderam metade dos cordeiros nascidos por causa dos predadores e nós não sofremos nenhuma perda”, diz. NÃO É UM PET Zootecnista com pósgraduação em Comportamento Animal, Roberta Farias Silveira, de Pelotas, no Rio Grande do Sul, começou a estudar os cães PMA em 2015, no Uruguai. Autora do livro Cães de Guarda de Rebanhos Ovinos, ela presta consultoria a fazendeiros interessados em proteger seus rebanhos da predação e do abigeato e faz sucesso nas redes sociais com o perfil Maremano Sul. Roberta está convencida de que o PMA é o cão de guarda mais bem adaptado às condições brasileiras. Mas, em suas pesquisas, descobriu que só a carga genética não torna um maremano um bom guardião de rebanhos – é preciso cuidar, 92

também, de sua formação, que se completa por volta de 1 ano de idade. Nesse sentido, a zootecnista alerta que o cão de guarda deve ser visto como uma ferramenta de trabalho na propriedade, e não como uma animal de estimação. Quanto menos contato com as pessoas da propriedade, melhor. Os filhotes devem ser inseridos no rebanho a partir dos 3 meses de vida – e ser impedidos de se aproximar das casas. As ovelhas passam a ser a sua família, a qual ele deve proteger. “Os cães devem se alimentar junto com o rebanho. Nada de levá-los para casa e fazer carinhos. Não se pode ter pena por causa da chuva e do frio”, ensina. Pode parecer duro, mas, como explica Roberta, se o produtor quiser um vigilante eficiente para o seu rebanho, precisa abrir mão de sentimentalismos. “O cão é destinado às ovelhas.” Um bom cão de guarda é o resultado da combinação de três fatores: genética, formação e conduta do seu tutor, resume a autora. O ovinocultor Felker concorda, e aconselha os novos criadores: “Não tratem os maremanos como pet e os mantenham com o


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rebanho desde que nascem. As nossas cadelas parem no campo. São animais rústicos e assim devem ser criados. Isso não significa descuidar de vacinas e de uma boa alimentação. O instinto da raça cuida do resto”. Mas, lindos e dóceis como são, sobretudo quando filhotes, muitos moradores da cidade não resistem aos encantos dos PMA e os transformam em… pets – que podem custar entre R$ 500 e R$ 3 mil, dependendo do criatório. Grupos de tutores de maremanos

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urbanos afirmam, nas redes sociais, que eles também podem ser fofos cães de companhia, desde que haja algum espaço para se exercitarem. Nada contra, dizem os criadores. Mas essa não é a finalidade para a qual eles foram selecionados ao longo dos séculos. O cão que convive com pessoas dentro ou em volta da casa não se adaptará à espartana lida campeira. A vida mansa pode anular completamente o instinto milenar de guardião de rebanhos que o consagrou.

CURIOSIDADES SOBRE O PMA Em seu livro Cães de Guarda de Rebanhos Ovinos, a zootecnista Roberta Farias Silveira, que estuda a raça Pastor Maremano Abruzês desde 2015, resume observações de sua tese de mestrado que podem ser úteis para quem pretende criar esses animais. Por exemplo: • “O período crítico para a formação de um bom vínculo com o rebanho é entre 8 e 16 semanas de idade, período no qual o cachorro deve ser continuamente colocado no meio das ovelhas. A partir de 16 semanas de idade é sempre mais difícil que este vínculo se estabeleça, uma vez que a ‘janela de socialização’ fecha.” • “O período juvenil começa em torno de 12 semanas, com a primeira longa exploração fora da toca, e termina com o início da maturidade sexual, em geral cerca dos 6 meses. […] A dentição permanente surge em

torno das 16 semanas, estando em geral completa no fim deste período. […] As curvas de crescimento começam a estabilizar; termina a fase de crescimento rápido, embora o crescimento continue até perto dos 2 anos, idade na qual, em geral, os cachorros terminam o seu desenvolvimento físico.” • “Em relação à sua pelagem, foi cientificamente descoberto que o pelo deste cão não é branco, mas simplesmente transparente. A percepção da cor branca é o resultado do reflexo das ondas visuais através de espaços vazios, sem pelos.

[…] A função específica é conduzir, através do pelo, o calor na pele nos períodos de frio severo e contra isolando, através do ar contido nas cavidades dos pelos, do calor excessivo, quando for o caso. […] Este tipo de pelagem característica está presente apenas em animais expostos a altas amplitudes térmicas.” • “A razão pela qual a cor selecionada para esta raça é branca é porque o branco é prático: facilita o controle da raça e também é da mesma cor da lã das ovelhas dos Abruzos e, portanto, mais aceita por elas.” PLANT PROJECT Nº26

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Vem aí um Agroflix? Produções sobre agronegócio ainda não ganham espaço no universo do streaming

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Um campo para o melhor da cultura

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foto: Shutterstock

Um campo para o melhor da cultura

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ONDE ESTÁ O AGRO NO STREAMING? Embora o campo tenha um papel importante em movimentos cinematográficos brasileiros, as boas histórias do agro não aparecem nas principais plataformas de conteúdo. Mas elas estão sendo contadas Por André Sollitto

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Q uem navega pelos serviços de streaming em busca de um filme que retrata a vida no campo e o trabalho do agronegócio vai ter alguma dificuldade para encontrar boas opções. Pior: vai ficar com a impressão de que o setor é destrutivo e está contribuindo para a devastação do planeta. Onde estão as boas histórias do agro? À primeira vista, pode parecer que o cinema nacional, ao contrário de outras manifestações artísticas brasileiras, como a música e a literatura, simplesmente não busca inspiração no campo. O que é estranho, já que a cultura do campo faz sucesso. Na música, por exemplo, o sertanejo domina as paradas: em março de 2021, 56 das 100 músicas mais tocadas nas rádios eram sertanejas, em suas mais variadas vertentes. Na literatura, um dos maiores fenômenos recentes de público e crítica, como Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, olha para o trabalho no campo e dá voz a duas irmãs, descendentes de escravizados libertos que continuam trabalhando na lavoura. Nem sempre a situação foi essa. O Cinema Novo, principal movimento da sétima arte aqui no País que se desenvolveu nas décadas de 1960 e 1970, foi buscar boas histórias que dialogavam com a realidade brasileira daquele tempo justamente no campo. “Nesse momento, uma grande faixa da população brasileira era analfabeta. “O cinema tinha uma função educativa muito importante. O governo de Getúlio Vargas havia percebido isso e criava curtas de caráter educativo”, afirma Mariana Lucas Setúbal, professora de documentário da Faap. “O Cinema Novo vai utilizar essa função, mas será marcado pelo tempo histórico

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de grandes efervescências: Revolução Cubana, Guerra do Vietnã, independência de países da África... Então, a questão do campo está muito presente e é necessária para entender os filmes desse período.” Basta olhar para obras fundadoras do Cinema Novo, que lidam com a população rural e os problemas enfrentados por ela de alguma forma. É o caso do documentário Aruanda, de Linduarte Noronha, sobre os quilombos e o Nordeste canavieiro; Os Fuzis, de Ruy Guerra, de 1964; a adaptação de Vidas Secas, o clássico romance de Graciliano Ramos, dirigida por Nelson Pereira dos Santos, em 1963; e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Essas produções, segundo Mariana, trabalham com estereótipos sociais. “Os personagens são representantes de classe. Muitas vezes não têm nem nome”, diz. Isso até Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, importante documentário que narra, de forma semidocumental, a vida do líder camponês João Pedro Teixeira. “Foi um marco de transição que abandonou a postura anterior e passou a se debruçar sobre os personagens”, afirma Mariana. Mas, à medida que a sociedade se transformava e a população deixava o campo e seguia em busca de melhores oportunidades na cidade, o cinema também passou a buscar inspiração em personagens e histórias ligadas ao cenário urbano. “Antes, havia um contingente populacional significativo que morava no campo. Após o governo militar, a situação se inverteu”, diz Mariana. A violência urbana e as populações à margem das grandes metrópoles passaram a dominar uma


parte da produção cinematográfica nacional. E, nesse cenário, a distância entre o campo e a cidade aumentou também de forma cultural. A população urbana perdeu um pouco da dimensão e da realidade do trabalho feito pelos produtores rurais. A partir dos anos 2000, produções como Food, Inc., que faz uma investigação da cadeia de produção de alimentos nos Estados Unidos, e Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade, sobre a produção agropecuária, se tornaram populares por revelar algumas das piores práticas do setor em tom de

denúncia. São essas obras que o espectador encontra nos serviços de streaming e fica com uma péssima impressão do agronegócio. Isso não quer dizer que as boas histórias do agro brasileiro não estejam sendo contadas. Elas estão, mas sob alguns enfoques específicos. Um deles é a produção da comida. A primeira edição do Matula Film Festival, realizada de forma on-line em maio deste ano, reuniu filmes que abordam métodos e tradições alimentares do Brasil e do mundo. Na programação estavam O Mineiro e o Queijo, de Helvécio Ratton, sobre a

produção de queijo em Minas Gerais; Walachai, de Rejane Zilles, sobre uma pequena comunidade agrícola no Sul do País que fala um antigo dialeto alemão, mesmo sem ter nenhuma relação direta com a Alemanha; e o grego Tomates, Molho e Wagner, da diretora Marianna Economou, sobre a história de dois primos que querem invadir o mercado mundial com seus tomates orgânicos. “Nessas produções, a questão do campo aparece atrelada a um espaço de guardião de certa tradição popular que foi perdida com o avanço da modernização e da industrialização”, afirma Marianna. Outro enfoque importante é o da preservação ambiental. Existem festivais específicos se dedicando ao tema, como a Mostra Ecofalante, que neste ano chega à 10ª edição e acontece entre agosto e setembro. Muitas das produções selecionadas abordam a questão indígena e o desmatamento da Amazônia com um olhar menos sensacionalista que os filmes disponíveis nas plataformas de streaming mais populares. “Os documentários contemporâneos trazem muito das demandas de contar a história de uma indústria mais responsável, mais saudável, de uma economia cíclica”, afirma Marianna. Ainda assim, faltam produções que mostrem o lado do produtor. A pandemia facilitou, de certa forma, o acesso a esses festivais. PLANT PROJECT Nº26

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Mas há um problema crônico de distribuição dos filmes no Brasil e da preservação da memória cinematográfica. As plataformas, em geral, buscam apenas o que vende. Então é fácil encontrar os grandes blockbusters brasileiros, mas mesmo obras clássicas são difíceis de encontrar. A história do nosso cinema dá pistas de como a situação chegou a esse ponto. Durante o governo militar, o projeto da Embrafilme ajudou a dar fôlego à produção e todo tipo de filme foi feito, de pornochanchadas a obras mais sérias, como Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman, lançado em 1981, quando o regime já perdia força.

Quando Fernando Collor assume o governo, acaba com a Embrafilme e a produção sofre um baque. “Dos 140 filmes que eram feitos em média por ano, o cinema nacional lançou apenas dois em 1992”, afirma Marianna. A situação demora a ganhar fôlego novamente e hoje enfrenta outras dificuldades causadas não apenas pela pandemia como também pelo esvaziamento das políticas de incentivo. Por isso, encontrar as boas histórias do agro e do campo brasileiro é uma tarefa complicada. Preparamos uma lista com alguns títulos disponíveis para começar essa jornada.

CINCO OBRAS EM STREAMING Vidas Secas Globoplay A clássica adaptação da obra de Graciliano Ramos feita pelo diretor Nelson Pereira dos Santos acompanha uma família pobre que vive em meio à seca no Nordeste e precisa lutar todos os dias por comida e trabalho. Deus e o Diabo na Terra do Sol Telecine Play Uma das principais obras do movimen100

to conhecido como Cinema Novo, o filme de Glauber Rocha mostra a disputa de um sertanejo contra os latifundiários da região. Inspirado em faroestes, foi o representante do Brasil no Festival de Cannes de 1964. Aruanda YouTube Documentário de Linduarte Noronha faz um registro da vida dentro do quilombo Olho d’Água

da Serra do Talhado, na Paraíba, e retrata a produção canavieira na região. O filme de 1959 foi marco importante do estilo documental brasileiro. Querência Netflix Obra de Helvécio Marins Jr. lançada em 2018 faz parte de uma nova leva de produções que se debruçam sobre as tradições e a vida no campo. Na trama, um vaqueiro que usa o

tempo livre para fazer o que ama: ser locutor de rodeios. O Mineiro e o Queijo Vivo Play (para alugar) Como o nome já indica, este filme de Helvécio Ratton lançado em 2011 se propõe a registrar a produção artesanal de queijos em Minas Gerais, um patrimônio nacional, e como mais de 30 mil famílias vivem dessa tradição até hoje.


Robô colhedor de morangos da dinamarquesa Agrobot: Máquinas autônomas começam a substituir os humanos nas lavouras

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As inovações para o futuro da produção

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As inovações para o futuro da produção

O robô Mirã, fruto de parceria da Embrapa com a USP: análise do solo direto no campo 102


A ERA DOS AGROBOTS Primeiro foram os drones. Agora é a vez dos robôs terrestres invadirem as lavouras

foto: Embrapa/Joana Silva

Por Ronaldo Luiz

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uem vê lama não vê tecnologia. Quem vê drones voando sobre as lavouras enxerga apenas o princípio de uma invasão. Se as máquinas voadoras se tornaram ícones da era da agricultura digital, talvez seja a hora de se acostumar com outras máquinas autônomas percorrendo os campos e executando, com precisão, tarefas que até há pouco tempo imaginávamos ser exclusivas dos humanos. É preciso ser delicado para colher um morango? Somente olhos treinados podem identificar, em um pomar, a maçã que está pronta para ser sacada? Analisar o solo exige a coleta de amostras e seu envio a um laboratório? Não mais. Inovações como essa já estão em uso ou em testes, com protótipos rodando em áreas rurais de vários locais do mundo. A robótica agrícola vem avançando de modo significativo a cada ano. A despeito de ser uma área que demanda investimentos elevados, sobretudo a médio e longo prazos, os robôs terrestres na agricultura já são uma realidade em muitos países da Europa, Ásia e Estados Unidos (veja

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quadro). As aplicações mais comuns, até o momento, são para controle de ervas daninhas, colheitas automatizadas, análise de solo, capinação, pulverização de insumos agrícolas, entre outras. As inovações, em grande parte, são estimuladas pela necessidade de incrementar a produção agrícola em ambientes com pouca disponibilidade de mão de obra nas áreas rurais. Trabalhos repetitivos, insalubres, excessivamente pesados e mal remunerados são bem menos atraentes a jovens de nações desenvolvidas que os postos oferecidos nas cidades pelo setor de serviços e, com isso, as fazendas vinham perdendo produtividade e competitividade. Nesses casos que os robôs acabam se tornando uma alternativa. Além disso, com a gradativa popularização da tecnologia, a expectativa é de que os robôs agrícolas possam não apenas contribuir para poupar as pessoas de atividades braçais como também possam entregar maior precisão, segurança e velocidade às tarefas


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O FarmDroid, desenvolvido na Dinamarca: painéis solares para operação autônoma 24 horas

de campo, atuando de modo decisivo para tornar mais eficiente a gestão operacional, reduzindo custos, diminuindo desperdícios, aumentando produtividade, com impactos positivos para o resultado completo do negócio. ROBÔS CAIPIRAS Aqui no Brasil, com mão de obra abundante, a ideia de inserir robôs nas lavouras pode gerar um debate, legítimo, sobre os aspectos sociais envolvidos em uma possível redução dos postos de trabalho. Talvez por isso mesmo os principais ramos de pesquisa da robótica agrícola se debrucem sobre a automatização de áreas em que esse impacto é praticamente inexistente. Como não poderia deixar de ser, o principal expoente nas pesquisas desse ramo no País é a Embrapa. Em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) – campus de São Carlos –, cientistas da unidade de Instrumentação da empresa de pesquisa agrícola desenvolveram o Mirã, um robô automatizado que usa a tecnologia de raios laser para analisar dados do solo direto no campo. Em uma plataforma robótica, sobre quatro rodas, os pesquisadores conseguiram desenvolver e embarcar uma técnica avançada, que produz luz com características específicas, capaz de coletar,

analisar e transmitir remotamente dados da composição física e química do solo, como a do potássio (K). A tecnologia é multiúso e faz aquisição de dados georreferenciados e gera um mapeamento bidimensional das propriedades do solo de uma região. Para realizar a complexa tarefa, o Mirã leva a bordo uma tecnologia chamada espectroscopia de emissão óptica com plasma induzido por laser (Libs), a mesma utilizada pela Agência Espacial Norte Americana (Nasa) nos veículos Curiosity e Perseverance, enviados a Marte para prospectar a presença de água no planeta. O módulo Libs, projetado especificamente para ser montado sobre a plataforma, é composto de laser, telescópio e sensores ópticos associados. A Libs é uma técnica óptica usada para obter informação da composição química elementar de uma amostra. A leitura é realizada após um disparo de laser, que transforma uma parte do solo em plasma, o qual emite uma luz que é captada por um espectrômetro. “Quando excitado, cada elemento emite uma radiação num comprimento de onda específico. Esses espectros são lidos pelo equipamento, que desse modo identifica os elementos químicos presentes”, explica a física Débora Milori, responsável pelo

projeto na Embrapa Instrumentação. Segundo o professor Marcelo Becker, pesquisador da Escola de Engenharia da USP de São Carlos, que também atuou no desenvolvimento do Mirã, o robô é um modelo prático, utilizado para provar a viabilidade do conceito e validá-lo em baixa escala, mas que já sinaliza os benefícios de sua adoção na agricultura de precisão, com ganhos de produtividade, redução de custos e de forma sustentável, porque não deixa resíduos químicos. “O produtor rural poderá obter informações estratégicas das condições do solo direto no campo, sem precisar de análises de fora da propriedade”, ressalta Becker, acrescentando que o Mirã também permite o embarque de sensores para diagnóstico de doenças e pragas. PPP TECNOLÓGICA No Brasil, é claro, o desenvolvimento dessa área passa por mais investimentos em pesquisa e por um intercâmbio mais ativo entre os desenvolvedores de tecnologia, o produtor rural e os profissionais do campo, com destaque para os engenheiros agrônomos. “Isso é fundamental, porque senão teremos que importar soluções, que na maioria das vezes terão que ser adaptadas, já que nosso modelo de agricultura é diferente, PLANT PROJECT Nº26

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O robô que inspeciona silos (dir.) e os especialistas Horn, da Auros; Lomaski, da AgVenture; e Delgado, do IICA (de cima para baixo)

de características tropicais”, afirma Becker. Outro ponto relevante, segundo ele, é a busca de parcerias públicoprivadas (PPPs) que possam viabilizar não só a parte da pesquisa em si como também a transformação da tecnologia em produtos comerciais, fato que, ainda, por exemplo, não aconteceu com o Mirã. Considerado um dos cientistas mais influentes no mundo, de acordo com levantamento da Universidade de Stanford (EUA) publicado no Journal Plos Biology, Jayme Garcia Arnal Barbedo, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas (SP), acredita que o desenvolvimento da robótica terrestre na agricultura brasileira ocorrerá, em primeiro plano, em culturas que ocupam áreas menores e de maior valor agregado, como, por exemplo, os hortifrútis. Segundo Barbedo, grandes fazendas de grãos já estão bem automatizadas, com maquinários agrícolas altamente tecnológicos, e, nas tarefas onde pode haver encaixe para um robô, a questão de o custo da mão de obra ainda ser mais em conta se sobressai. “Há um componente financeiro-social nesse raciocínio de decisão para efetivação de uma troca.” AGTECHS EM AÇÃO As agtechs, empresas de

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tecnologia da informação que desenvolvem produtos e serviços para o agro, também são um outro elo da cadeia produtiva que vem enveredando pela criação de soluções robóticas para o setor. “Não restam dúvidas de que o futuro do agronegócio está totalmente atrelado à TI, já que esta é a ferramenta-base das soluções que vêm revolucionando o setor, e o melhor caminho para verticalização da produção e de garantia de maior produtividade e rendimento”, diz Felipe Matos, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). No Rio Grande do Sul, a AurosRobotics está desenvolvendo um robô autônomo para a área da fruticultura, inicialmente para maçã. Ainda em fase de prototipagem, segundo Alexandre Horn, diretor da empresa, o equipamento deve atuar na colheita dos frutos, mas retirando do pé os que estejam maduros, conforme parâmetros de um software de inteligência artificial embarcado no dispositivo robótico. Outra jovem empresa gaúcha, a Instor Projetos e Robótica, desenvolveu, em parceria com a Saur Equipamentos, um robô para classificação de amostras de grãos no ato da entrega dos carregamentos que chegam das


lavouras para os armazéns. Este já está disponível comercialmente. “Combinado ao braço robótico, que dispensa a necessidade de operador em todo o processo, há um sistema inteligente de processamento de imagem, que aponta as características das amostras em relação a variáveis, como, por exemplo, umidade, impurezas etc.”, diz Miguel Serrano, diretor de projetos da Instor. Já o hub AgVenture, uma das aceleradoras credenciadas no programa de Inteligência Artificial do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), quer atuar como intermediadora de parcerias entre desenvolvedores de robótica agrícola de Israel – país de destaque quando se fala em agricultura digital – com parceiros brasileiros. “Estamos lançando neste segundo semestre um programa com este objetivo. Temos convênios com instituições como, por exemplo, a Fundação

Procafé, de Minas Gerais, para a realização de projetospiloto de testagem de tecnologias internacionais no Brasil”, menciona Alain Marques, diretor de investimentos do AgVenture. Locado em Israel, Ricardo Lomaski, parceiro de negócios do AgVenture, é o encarregado de filtrar as soluções em robótica agrícola desenvolvidas por lá e que possam ter encaixe no agro brasileiro. Segundo ele, os mais promissores são robôs para colheita de frutas, ordenha de leite, gerenciamento de granjas, entre outros. SALVA VIDAS Os usos são inimagináveis e devem ser estimulados, sempre com a preocupação de que a convivência deles com o trabalho humano seja prioridade. Um exemplo de como os robôs podem ser úteis nas fazendas, e não uma ameaça a empregos, foi o equipamento criado por dois

estudantes de engenharia da Universidade de Nebraska – Omaha, nos EUA. Eles criaram um robô que pode evitar acidentes dentro de silos de armazenamento. Infelizmente, esse tipo de ocorrência não é exatamente incomum. No ano passado, 35 agricultores norteamericanos ficaram presos debaixo de toneladas de grãos. Vinte deles morreram. O robozinho desenvolvido pelos estudantes chama-se Grain Weevil, tem o tamanho de uma pequena mesa de centro e conta com brocas de plástico giratórias na parte inferior, que ajudam a mover os grãos para os lados. Com comandos via controle remoto, ele inspeciona toda a área do depósito, quebra as crostas de grãos aglomerados e nivela a superfície se ela estiver irregular. Uma tarefa que antes exigia que um trabalhador se expusesse a um ambiente de risco pode ser executada, assim, por uma máquina amiga do homem. PLANT PROJECT Nº26

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“Dois terços dos empregos poderão ser automatizados” O avanço da robótica agrícola, certamente, acentuará as mudanças no perfil da mão de obra no campo, bem como trará impactos, sobretudo para os pequenos produtores rurais. Para entender melhor este cenário, PLANT conversou com Gabriel Delgado, representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no Brasil, organismo que tem forte atuação nas questões relacionadas às relações de trabalho na agricultura. Confira:

Em diferentes ritmos, de acordo com cada país, cada realidade, a robotização avança na agricultura. Isso resultará em menos postos de trabalho no campo? Quando consideramos os processos envolvidos nas etapas do trabalho, de fato, a robótica pode substituir mão de obra e isso acontece também em outras indústrias. Vi recentemente um estudo da Federação Internacional de Robótica (IRF) que mostra que a média mundial de robôs para cada 10 mil trabalhadores é de 99. Claro que as variações são enormes. Em Singapura é de 831; na Alemanha, 338; nos Estados Unidos, 217; e no Brasil, apenas de 12. Ou seja, com o desenvolvimento tecnológico, esses números ainda vão crescer muito e, consequentemente, os 108

impactos no trabalho serão grandes. Por outro lado, outro estudo, do Centro para a Performance Econômica da London School of Economics em 17 países, mostrou que o aumento do uso de robôs teve impacto positivo no PIB e na produtividade do trabalho entre 1993 e 2007. Então, temos uma questão econômica e um desafio social. Há uma grande discussão internacional sobre as muitas indústrias em que as tarefas de rotina provavelmente serão substituídas por robôs. Na indústria agropecuária e dos sistemas alimentares em geral, a reinserção desses trabalhadores pode acontecer em diversos outros planos, como nos sistemas de controle ou em processos que sejam criados para agregar valor à produção.

Os robôs ficarão encarregados de tarefas, digamos, mais rústicas, livrando as pessoas dessas funções. O caminho será o de capacitar as pessoas para outras atividades? Será muito difícil substituir as tarefas criativas por robôs. Eu acho que a reinserção laboral das pessoas é muito importante e a capacitação é, certamente, um caminho, mas não acho que seja o único. Talvez tenhamos que fazer uma avaliação mais profunda dos trabalhadores envolvidos em todos os processos, porque percebe-se que as indústrias podem reinserir trabalhadores comprometidos e destacados, por mais que façam tarefas rotineiras, em outras áreas das empresas, principalmente se, com sua atitude e compromisso, agregam valor.


É verdade que a robótica, para além deste problema da substituição, que realmente pode surgir, também pode levar os seres humanos a deixarem de fazer trabalhos insalubres. Parece um dilema: continuar com mão de obra insalubre ou robotizar trabalhos insalubres e substituir mão de obra. Se a tecnologia já permite que nós, seres humanos, deixemos de fazer trabalhos desumanos, por que não pensar que pode haver outra reinserção laboral mais humana para essas pessoas e permitir que as transformações tecnológicas facilitem, de alguma maneira, o desenvolvimento econômico, social e humano de nosso planeta? Acho que será necessário eleger caminhos mais complexos, como o da reinserção das pessoas em novos processos e novos trabalhos, inclusive nas mesmas companhias. É preciso incentivar processos de investimentos para que a economia cresça e possamos criar empregos. Agora temos os empregos verdes. Espera-se que, depois da pandemia, os empregos terão que ser cada vez mais ambientalmente amigáveis. Já em 2012, o Radar: Tecnologia, Produção e Comércio Exterior, do Ipea, apontou que a agricultura e, sobretudo, a

pecuária são os setores com o maior potencial para empregos verdes. Na época, o estudo indicava que mais de 85% dos postos nessa área têm a possibilidade de minimizar os impactos no meio ambiente de alguma forma. Eu sou otimista com o uso da tecnologia e creio que o Estado tem que entrar de forma muito sólida nos programas sociais para não interromper processos tecnológicos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), no relatório “O Futuro do Trabalho”, divulgado em 2019, afirma que até dois terços dos empregos do mundo poderão ser parciais ou totalmente automatizados nas próximas décadas, portanto a inteligência artificial, automação e robótica levarão a uma perda de empregos, mas esses mesmos avanços tecnológicos, juntamente com a economia verde, vão criar milhões de empregos se as novas oportunidades forem aproveitadas. A robotização poderá ser acessada e trazer benefícios ao pequeno agricultor também? Creio que muitas das novas tecnologias têm economia de escala. Por isso, é tão importante apostar que os pequenos produtores possam, através de diferentes sistemas de trabalho conjunto, como o

cooperativismo, levar a cabo mudanças em seus processos produtivos que permitam que eles possam competir em escala, qualidade, preço e cuidado com o meio ambiente. No entanto, com relação aos pequenos agricultores, antes de pensar nas externalidades positivas que a tecnologia pode gerar, temos ainda uma importante lição de casa, que é conectar o campo, para que esses produtores possam ter acesso à internet que permita que eles alcancem os mercados. A inteligência artificial já está mudando a forma de produzir e, com a chegada do 5G, as mudanças serão aceleradas. O grande desafio é fazer com que os benefícios dos usos de inovações, das ciências e das tecnologias no campo cheguem aos pequenos agricultores de forma a evitar que algo positivo, como a incorporação de tecnologias com potencial para aumentar a produtividade, aumente também a desigualdade no campo. Dois elementos são essenciais para que a tecnologia seja motivo de prosperidade no campo e não de aumento da desigualdade: a conectividade e, aí sim, a capacitação com assistência técnica e extensão rural. A incorporação plena de habilidades digitais é fundamental para a transformação positiva. PLANT PROJECT Nº26

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Tecnologia

ELES ESTÃO CHEGANDO... ALGUNS ROBÔS QUE JÁ CIRCULAM NAS LAVOURAS MUNDO AFORA

POINTER – Da empresa Earth Rover (Inglaterra), aplica insumos agrícolas, especialmente defensivos com maior precisão.

AGROBOT – Sensores, alimentados com inteligência artificial, aprenderam a identificar morangos maduros e a guiar os braços mecânicos com a sutiliza necessária para colher cada um deles sem machucar. A inovação é espanhola.

E-TRACT – Desenvolvido pelos Laboratórios IMS e Bordeaux Science Agro e as empresas Larrère e Elatec, da França, veículo autônomo atua na identificação e controle de plantas daninhas.

FARMDROID – Startup dinamarquesa criou a semeadora e pulverizadora autônoma, movida por energia solar. Opera sem interrupção por 24 horas, fazendo a dispersão de sementes a partir de coordenadas geográficas individuais.

TEVEL – Robô aéreo para colheita de frutas, com base em inteligência artificial. Produzido pela Tevel Aerobotics Technologies (Israel).

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BAKUS – Robô faz preparo do solo e pulverização de precisão. Protótipo da Vitibot (França).

SPOUTNIC – Gerencia a granja, incentivando a movimentação das aves, fator que influencia na fertilidade e na redução da postura de ovos no solo. Produto da empresa Tibot Technologies (França).


OPORTUNIDADE RENOVÁVEL Em sua 14ª edição, evento Santander ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference destaca os desafios do açúcar e etanol em nível global Por Ronaldo Luiz

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Eventos

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abertura do Santander ISO DATAGRO New York Sugar & Ethanol Conference, tradicional evento de amplitude global do setor, que neste ano foi realizado em formato on-line, reuniu, no dia 18 de maio, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari; o vicepresidente executivo do Santander, Mario Opice Leão; o diretor da Organização Internacional do Açúcar, José Orive; e o diretor da Aliança Americana do Açúcar, Jack Roney. Em sua fala, Opice Leão afirmou ser uma satisfação para o Santander ser o anfitrião desta 14a. edição. O executivo fez questão de ressaltar o apoio do banco ao RenovaBio, especialmente nos processos de escrituração e negociações dos Créditos de Descarbonização (CBios), destacando que a Política Nacional de Biocombustíveis é exemplo real da sinergia entre o agronegócio e sustentabilidade. Neste aspecto, o executivo salientou, ainda, que o Santander vem avançando, por exemplo, em operações com títulos verdes [green bonds]. Já o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, acentuou que o Santander tem sido um grande parceiro do setor sucroenergético nacional, sendo agente112

financeiro-chave para a evolução do RenovaBio. Em sua exposição, Nastari pontuou o açúcar – de todas as matériasprimas, com destaque para cana e beterraba, como elemento fundamental para a dieta global, além, claro, de frisar as oportunidades para o etanol e toda a gama de possibilidades a partir da biomassa da cana, com foco na geração de energia renovável. Nastari lembrou ainda de estudos que mostram o grau maior de sustentabilidade do etanol combustível, no tocante a emissões, na comparação com veículos elétricos, e reafirmou o importante papel que outros grandes produtores de cana, entre os quais, Índia e Tailândia, também terão neste desafio de mostrar, globalmente, os resultados ambientais e energéticos que o biocombustível proveniente entrega. As discussões do Santander ISO DATAGRO, que se estenderam por dois dias, contaram com a participação de representantes da comunidade global do setor de açúcar e etanol, entre produtores, traders, corretores, investidores, executivos da indústria etc. Confira mais destaques:


Patrocínio

:: ÍNDIA DE OLHO NO ETANOL A produção de etanol na Índia deverá crescer, enquanto a de açúcar diminuir, afirmou o presidente da Godavari Biorefineries, Samir Somaiya. Segundo ele, o plano do governo indiano de elevar a mistura de etanol na gasolina reduzirá o excedente de açúcar exportável do país em dois a três anos. Até 2025, a Índia pretende atingir uma mistura de 20% de etanol na gasolina. Contudo, o executivo disse que não enxerga grande potencial para importação de etanol, ressaltando que o objetivo do governo indiano é aumentar a mistura fomentando a produção local do biocombustível. :: MAIS AÇÚCAR NA TAILÂNDIA A analista sênior da tailandesa Mitr Phol Sugar Corp, Sasathorn Sanguandeekul, disse que a produção de cana-de-açúcar no país deverá se situar entre 85 a 90 milhões de toneladas no ciclo 2021/22, contra 66 milhões da temporada passada. Segundo a executiva, as exportações tailandesas de açúcar devem subir para entre 5 e 6 milhões de toneladas, posicionando novamente a Tailândia como player competitivo no mercado indonésio, que nos últimos anos recorreu às importações do Brasil e da Índia. :: UE DEVE IMPORTAR MENOS AÇÚCAR A produção de açúcar na União Europeia (UE), predominantemente de beterraba, tem potencial para atingir 14,7 milhões de toneladas na safra 2021/22, alta de 800 mil t, afirmou o economista

sênior da Organização Internacional do Açúcar, Peter De Klerk. De acordo com o representante da entidade, tanto as importações quanto as exportações de açúcar da UE deverão recuar para 1,45 milhão de toneladas e 700 mil t no ciclo 2021/22, respectivamente. :: USINAS BRASILEIRAS PRODUZEM MAIS ETANOL As usinas brasileiras provavelmente estão reduzindo temporariamente os volumes de produção de açúcar como forma de aumentar a fabricação de etanol para atender à crescente demanda, em meio a altos preços do biocombustível no País, disse Nastari. Segundo o presidente da DATAGRO, os retornos financeiros das vendas de etanol anidro, que é misturado à gasolina, superaram os de açúcar, levando algumas usinas a ajustar a estratégia de produção para o momento. :: AÇÚCAR NO MUNDO Orive, por sua vez, destacou que a pandemia impactou o mercado mundial de açúcar. De acordo com o dirigente, o adoçante registrou déficit significativo no ano comercial 2020/21. Contudo, a perspectiva é de recuperação com o relaxamento das restrições sociais em importantes países consumidores e o avanço da vacinação contra a doença. Segundo ele, a previsão é de que a produção global de açúcar caia pelo terceiro ano consecutivo, atingindo 169 milhões de toneladas. PLANT PROJECT Nº26

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M MARKETS

DATAGRO Markets

CRISE HÍDRICA RESSALTA IMPORTÂNCIA DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA DE ENERGIA DE BIOMASSA E RESÍDUOS P o r P l i ni o Na s ta ri

O suprimento de energia é a base da economia e, por isso, é fundamental que esteja disponível com custo competitivo e qualidade para garantir o desenvolvimento econômico e a própria vida da população. A preocupação surge pelo forte indício de que o suprimento de energia elétrica no Brasil deve ser desafiador em 2021. A elevada participação da geração hidroelétrica, que é uma grande vantagem ambiental, traz vulnerabilidade em períodos de estiagem. Desde 2020, o Brasil tem sofrido o efeito da anomalia climática La Niña, que reduz a precipitação nas regiões Sul e Sudeste, onde estão localizados os maiores reservatórios e a maior capacidade de geração. Nossa principal bacia hidrográfica, a do Rio Paraná, está no pior nível em décadas de Energia Natural Afluente (ENA), que representa a energia capaz de ser produzida

pelo volume armazenado nos reservatórios. Em junho, esse nível atingiu 60,1% da Média de Longo Termo (MLT), enquanto o normal seria estar em 100,28% nesse período. Com o fim do período de chuvas, aumenta a preocupação em relação à perda de controle hídrico. Isso fez com que o governo tomasse medidas para preservar o nível dos reservatórios, sendo a primeira adotada em 28 de maio pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), ao autorizar a flexibilização das restrições hídricas das usinas de Jupiá, Porto Primavera, Ilha Solteira, Três Irmãos, Xingó, Furnas e Mascarenhas de Moraes. Essas medidas visam garantir a governabilidade das cascatas hidráulicas, preservando o uso da água. Além disso, o CMSE recomendou à Agência Nacional de Águas (ANA) o reconhecimento de escassez hídrica na bacia do Rio Paraná. Com esse cenário, cresce

a necessidade de serem ligadas termoelétricas movidas a energia fóssil, muitas vezes a um custo de mais de R$ 1.000 por MWh, encarecendo o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que é referência para o mercado à vista, e a conta de luz nos segmentos residencial, comercial e industrial. Essa situação é um alerta para nos mostrar que estamos atrasados no desenvolvimento da geração térmica a partir de biomassa e de resíduos, que, ao contrário das térmicas fósseis, é renovável e, quase sempre, mais econômica. Um bom exemplo é a geração de bioeletricidade a partir de resíduos da cana-de-açúcar. A cana é a segunda fonte primaria de energia em nossa matriz, respondendo por 18% do total, atrás apenas do petróleo e derivados, com 33,4%, e à frente da energia hidráulica (12,5%) e do gás natural (12%). Mas o uso dos resíduos da cana para a geração

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Plinio Nastari é presidente da Datagro e do Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia (Ibio). No período de nov/16 a ago/20 foi o representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).


M MARKETS

elétrica ainda pode avançar mais. Na safra 2020/21, operaram 326 usinas de cana no País, sendo 267 no Centro-Sul e 59 no Norte-Nordeste. Desse total, apenas 179 usinas exportaram energia para o Sistema Interligado Nacional, sendo 156 no Centro-Sul e 23 no Norte-Nordeste. Combinadas, possuem uma capacidade de geração de 10.078,8 MW. Em 2020, as usinas de cana foram responsáveis por suprir 30,59 mil gigawatts-hora (GWh), ou 4% de toda a geração de energia do País, sendo a quarta maior fonte de energia. As hidrelétricas geraram 518,47 mil GWh, ou 68% do total, seguidas por termoelétricas a energia fóssil (carvão, gás, óleo combustível e óleo diesel), com 96,41 mil GWh (12,6%), e energia eólica, com 75,04 mil GWh (9,8%). Além disso, a geração potencial a partir de resíduos, dada a nossa pujante base agroindustrial, é enorme e estimada em mais de 140 mil GWh. A vantagem das térmicas movidas a biomassa e resíduos é que geram energia de base, e não intermitente.

A eletricidade de biomassa, em particular na região Centro-Sul, é gerada durante os meses de inverno quando os reservatórios estão no seu período mais crítico. Dessa forma, compensam a queda sazonal na geração hidroelétrica aumentando a base do sistema sem a necessidade de ampliação de sua capacidade e a construção de mais reservatórios. A geração é distribuída, próxima ao consumo das cidades, diminuindo a necessidade de investimentos e as perdas com transmissão, estimadas em 12 a 14%. Seu custo tem sido estimado em cerca de R$ 400 por MWh, bem menor do que o das térmicas movidas a energia fóssil. Embora menos competitiva do que a energia eólica, a geração térmica de biomassa e resíduos viabiliza a geração de energia hidroelétrica muito mais barata nos períodos de abundância hídrica, evitando que seja desperdiçada água nos vertedouros, além de reduzir o custo com o tratamento de efluentes e resíduos urbanos e industriais com

importante impacto de sustentabilidade. O reconhecimento dos atributos diferenciados de cada fonte de energia é fundamental para o adequado direcionamento do planejamento de expansão da geração elétrica. A energia mais cara é a que não temos. Nesse sentido, a geração térmica renovável de biomassa – cana, madeira e resíduos – é a galinha dos ovos de ouro que precisa ser devidamente reconhecida e estimulada.

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Leia este código com a câmera do celular, inicie o app e use sua câmera no ícone do Legado para vê-lo brotar e crescer.

É O LEGADO DA BASF.

Norma Gatto

Rondonópolis - MT

Um Legado não se constrói sozinho. É o sonho de um que, para se tornar realidade, envolve muitos. Fazer parte disso é o que inspira a BASF a buscar as melhores tecnologias, desenvolver as soluções ideais e oferecer serviços para todo o tipo de desafio. Porque, cada passo que o Legado de produtores como a Norma, o Maurício e o Elton avança, também nos leva muito mais longe.

Maurício De Bortoli Cruz Alta - RS

Elton Zanella

Campos de Júlio - MT

BASF na Agricultura. Juntos pelo seu Legado.

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